3. Dácia Dácia , na geografia da Antiguidade, era a terra dos dácios, grande região da Europa Central limitada ao norte pelos Cárpatos, ao sul pelo Danúbio, ao oeste pelo Tisa (rio Tisa, na Hungria), e a leste pelo Tyras (rio Dniester ou Nistru, na actual Moldávia oriental). A Dácia corresponde assim à Roménia e à Moldávia actuais. De 85 a 89 d.C., os dácios entraram em guerra duas vezes com os romanos, no reinado de Duras ou Diurpaneus e no do grande Decebalus.
4. Dácios e Romanos Após dois graves reveses, os romanos, sob o comando de Tétio Juliano, obtiveram uma notável vantagem, mas foram obrigados a entrar em acordo de paz devido à derrota de Domiziano pelos marcomanos. Decebalus devolveu as armas que havia obtido e alguns dos prisioneiros. No entanto, os dácios foram de fato deixados independentes, como é visto pelo facto de que Domiziano concordou em adquirir imunidade pelo pagamento de um tributo anual.
5. Para pôr um fim a esse desonroso arranjo, ou talvez para restaurar as finanças do Império Romano com a captura do famoso Tesouro de Decebalus, Trajano resolveu conquistar a Dácia, ganhando assim controle sobre as minas de ouro dácias da Transilvânia. O resultado de sua primeira campanha (101-102) foi o cerco da capital Dácia Sarmizegetusa e a ocupação de parte do país. A segunda campanha (105-106) obteve o suicídio de Decebalus e a conquista do território que formaria a província romana Dácia Traiana. A história da guerra é apresentada por Dio Cassius, mas o melhor comentário sobre a mesma é a famosa Coluna de Trajano em Roma.
6. A Coluna de Trajano foi construída em 112-114, em Roma, no Fórum de Trajano, sobre o túmulo desse imperador, para comemorar a vitória dos Romanos contra os Dácios. Pertence àtipologia da arquitectura comemorativa romana e pensa-se que tenha sido inspirada nos obeliscos egípcios. É um monumento urbanístico, simultaneamente arquitectura e escultura, que teve a função de assinalar um momento histórico, conferindo-lhe um carácter documental e honorífico.
7. A sua construção foi concebida e dirigida pelo arquitecto Apolodoro de Damasco e demonstra o espírito histórico e triunfalista dos Romanos que, de um modo original, glorificaram o seu imperador. A coluna possui cerca de 37 metros. O seu fuste é oco - no interior existe uma escada em espiral, feita em mármore branco, que ascende até ao topo - e assenta sobre um tambor ou pedestal, de forma cúbica, também oco e decorado com relevos de troféus militares. Este tinha uma porta em bronze, no cima da qual existia uma inscrição dedicatória. Fazendo a transição entre o plinto e a coluna, existe um toro coberto de coroas de louro.
8. É decorada com um relevo historiado que se desenrola á volta da coluna e que conta os inúmeros acontecimentos das duas campanhas de Dácia, encobrindo ainda as 43 janelas que iluminam a escadaria interior. No topo da colunaexiste um capitel dórico monumental, que era encimado por uma águia de bronze, símbolo do Império. Mais tarde foi substituída por uma estátua em bronze de Trajano e actualmente possui uma estátua de S. Pedro, colocada em 1588.
9. A narrativa da coluna é feita através de diversas cenas em mármore que descrevem aspectos geográficos, logísticos e políticos da campanha. Mas o que sobressai de toda a representação é a magnanimidade do imperador, que acolhe os vencidos com generosidade. O imperador é mostrado como o grande protagonista que dirige e orienta os trabalhos, intervém nas batalhas e acode nas situações complicadas.
10. As cenas são realistas e tratadas de modo natural, sucedendo-se umas às outras, sem separações ou linhas divisórias. Esta narrativa apresenta um verdadeiro “horror ao vazio”, devido à sua densidade e grande número de personagens. O escultor trabalhou habilmente este relevo em friso com uma pequena profundidade no talhe, para que os efeitos de luz e sombra não prejudicassem a leitura das cenas quando vistas de baixo.
11. O relevo desta coluna é considerado uma das obras mais ambiciosas do mundo antigo, sendo muito maior e mais perfeccionista que o friso das Panateneias do Templo do Pártenon.
12. Inscrição Na base da coluna pode ler-se a seguinte inscrição: SENATVS·POPVLVSQVE·ROMANVS IMP·CAESARI·DIVI·NERVAE·F·NERVAE TRAIANO·AVG·GERM·DACICO·PONTIF MAXIMO·TRIB·POT·XVII·IMP·VI·COS·VI·P·P AD·DECLARANDVM·QVANTAE·ALTITVDINIS MONS·ET·LOCVS·TANT<IS·OPER>IBVS·SIT·EGESTVS Base da Coluna de Trajano por volta de 1860 O que pode ser traduzido como: O Senado e o Povo Romano (subentende-se dão ou dedicam esta coluna) ao imperador César, filho da divina Nerva, NervaTraianusAugustusGermanicusDacicus, Pontifex maximus no seu 17º ano no tribuno, tendo sido aclamado seis vezes Imperador, seis vezes Cônsul, Pater Patriae, para demonstrar a grande altura a que o monte se encontrava e foi removido para tais grandes trabalhos.
13. Propósito Pensava-se que a coluna tinha sido construída para propaganda, glorificando a capacidade militar do imperador. No entanto a estrutura era quase invisível, rodeada como estava de outras construções do Fórum de Trajano, e devido à dificuldade de seguir o friso de um lado ao outro, acredita-se agora que teria pouco valor propagandístico. Devido ao que é dito na inscrição, a coluna pode ter servido como guia de construção para o fórum. Depois da morte de Trajano em 117, o senado decidiu que as cinzas do seu corpo deviam ser enterradas na base da coluna onde a decoração inclui armamento dácio capturado. Tanto as suas cinzas como as da sua mulher Plotina foram colocadas lá dentro em urnas douradas. Actualmente as cinzas já lá não se encontram.