Este painel apresenta três pesquisas sobre formação de professores de línguas estrangeiras sob diferentes perspectivas. A primeira pesquisa analisa a formação continuada como espaço de compartilhamento de experiências. A segunda pesquisa investiga a constituição identitária de professores de inglês com foco na avaliação. A terceira pesquisa analisa como instrumentos de reflexão podem elucidar fatores que interferem na prática docente e desenvolver o pensamento reflexivo de professores.
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Compartilhar, pensar e ressignificar formação de professores de línguas estrangeiras sob três perspectivas
1. COMPARTILHAR, PENSAR E
RESSIGNIFICAR: FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS SOB TRÊS
PERSPECTIVAS
Hilda Simone Henriques Coelho (IFMG/OP)
Vanderlice dos Santos Andrade Sól (IFMG/OP)
Shirlene Bemfica de Oliveira (IFMG/OP)
XV ENDIPE - ENCONTRO NACIONAL DE
DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO
2. Este painel tem como objetivo apresentar
três pesquisas que investigam a formação de
professores envolvidos em um processo de
prática reflexiva sob diferentes abordagens e
perspectivas de pesquisas.
FORMAÇÃO CONTINUADA: ESPAÇO DE CAPACITAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE EXPERIÊNCIAS E EMOÇÕES
Hilda Simone H. Coelho (IFMG- Campus Ouro Preto)
Doutoranda - POSLIN/FALE/UFMG
CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA DE PROFESSORES DE INGLÊS: A
AVALIAÇÃO COMO FOCO
Vanderlice dos Santos Andrade Sól (IFMG- Campus Ouro Preto)
Doutoranda - POSLIN/FALE/UFMG
MODELOS MENTAIS EM INTERAÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DO
PENSAMENTO REFLEXIVO
Shirlene Bemfica de Oliveira (IFMG – Campus Ouro Preto)
Doutora - POSLIN/FALE/UFMG
3. MODELOS MENTAIS EM INTERAÇÃO: O
DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO
REFLEXIVO
A PESQUISA: Doutorado em Estudos Lingüísticos
ORIENTADORA: Profa. Dra. Deise Prina Dutra
PESQUISADORA: Shirlene Bemfica de Oliveira
2010
4. INTRODUÇÃO
Compreensão dos fatores que subjazem as práticas dos
professores.
Fatores cognitivos implícitos no uso da linguagem no contexto
da sala de aula.
Temos como hipótese de que, por meio dos instrumentos de
reflexão, alcançaremos a compreensão do processo
interacional e poderemos elucidar os fatores que interferem
nas práticas de sucesso ou nas dificuldades dos professores
em termos de interação.
Essa reflexão pode nos levar a compreender os modelos
mentais construídos sobre interação de forma a reconhecê-la,
construí-la, gerenciá-la em sala de aula, assim como falar
sobre ela e entender as variações desses modelos de acordo
com a competência interativa do indivíduo, considerando sua
idade, sua cultura, e outros aspectos (MOREIRA, 1997).
5. PESQUISA QUALITATIVA
Estudo de caso
PARTICIPANTES:
Professora participante do Projeto de
Educação Continuada de Professores de
Línguas Estrangeiras - EDUCONLE
Kênia
Pesquisadora
6. CONTEXTO:
EDUCONLE (Língua Inglesa)
Participação de professores de escolas públicas, professores
da universidade e alunos da graduação e pós-graduação.
Desenvolvimento profissional nos âmbitos linguístico e
metodológico.
Composto na época de cinco eixos: lingüístico,
metodológico / reflexivo, a vida escolar, oficinas para
resolução de problemas, pesquisa ação e etnografia
Trezentas horas (300 h) em dois anos
Pesquisas visam traçar o perfil do público atendido, avaliar
a influência do projeto na vida do professor participante,
procurando constatar movimentos de mudanças discursivas
ou da prática pedagógica, intervir na realidade e avaliar os
resultados dessa intervenção (Dutra e Mello, no prelo)
Sessões de visionamento
Escola pública estadual
7. FASE 1:
fichas de cadastro e narrativas
questionário
observação diagnóstica (2 meses) e filmagem de aulas (3 aulas)
FASE 2:
sessão para discussões
aulas filmadas
textos teóricos
construção e análise de mapas conceituais
FASE 3:
observação de ações (ao longo do processo)
filmagem de aulas (3 aulas no final do projeto)
questionário
mapas conceituais
COLETA DE DADOS
8. Fases Perguntas de pesquisa
Fase 1
Preliminar
1. Como a professora compreende o processo
interacional que promove em sala de aula antes da
fase colaborativa da pesquisa?
Fase 2
Colaborativa
2. De que forma a professora discute sobre o que é
interação baseando-se nos textos sugeridos pela
pesquisadora e pelos instrumentos geradores de
reflexão?
Fase 3
Coleta tardia
3. Em que medida a pesquisa influenciou ou
promoveu movimentos de mudança no uso da
linguagem em sala de aula e nas ações da
professora para promover diferentes padrões
interacionais?
4. De que modo os modelos mentais se
modificaram a partir das ações propostas?
9. REFERENCIAL TEÓRICO
Teoria dos Modelos Mentais (JOHNSON-LAIRD, 1983;
MOREIRA, 1997, VOSNIADOU, 1994)
Teoria da Aprendizagem Significativa (AUSUBEL, 1963;
IVIE, 1998; NOVAK, 1982)
Teoria Sociocultural (VYGOTSKY, 1984; 1987)
Formação de professores e educação continuada
(ALMEIDA FILHO, 2002; CELANI, 2002; DUTRA; MELLO,
2001; FREIRE, 1996; SCHÖN, 1983; VIEIRA-ABRAHÃO,
1996; WALLACE, 1998; ZEICHNER, 2001).
Processo Interacional
10. MODELOS DE ANÁLISE
Tensão Colaborativa (Oliveira, 2006)
O construto pode “consubstanciar movimentos discursivos
capazes de engendrar o debate colaborativo, promovendo a
integração teoria-prática por meio da ação colaborativa”
(Oliveira, 2006, p. 58).
11. MIASKOVSKY (2008)
contexto da produção,
conteúdo temático,
plano geral do texto,
análise do turno
argumentação.
“Esse modelo é uma forma de evidenciar as
seqüências temáticas em que a produção
de significado se organiza”.
12. A ANÁLISE DOS TURNOS E DA
ARGUMENTAÇÃO
Análise da conversação em três dimensões:
(i) pedidos de informação, solicitação ou
esclarecimento (enunciados geradores de tensão,
perguntas que podem desencadear o raciocínio, a
verbalização da prática e/ou a reflexão);
(ii) a diferenciação entre concordância e
discordância (momentos em que o enunciado
gerador de tensão desencadeia a concordância ou
a oposição do argumento proposto com réplicas
mínimas ou elaboradas);
(iii) a continuidade da conversa (se o fluxo da
conversa é continuado ou não e como ele é
construído com réplicas elaboradas ou mínimas)
14. 2. De que forma a professora
discute sobre o que é interação
baseando-se nos textos sugeridos
pela pesquisadora e pelos
instrumentos geradores de
reflexão?
15. SESSÃO DE DISCUSSÃO 1
Discutir o capítulo I “Classroom interaction
and language learning” do livro
Introducing classroom interaction de Amy
Tsui (1995)
Contrastar com as aulas planejadas e
aplicadas anteriormente.
16. O uso da linguagem em sala de
aula
TRECHO DO TEXTO TEÓRICO
Lee: I want to show you! Isn‟t it big?
Teacher: It is big, isn‟t it? What is it?
Lee: a conker.
Teacher: Yes.
Lee: Then that‟ll need opening up.
Teacher: It needs opening up. What does it need opening up for?
Lee: „cos the seed‟s inside.
Teacher: Yes, very good. What will the seed grow into?
Lee: a conker.
Teacher: No, it won‟t grow into a conker. It‟ll grow into a sort of tree,
won‟t it? Can you remember the –
Lee: Horse chestnut.
Teacher: Horse chestnut – good. Put your conker on the nature table
then.
(TSUI, 1995, p. 8)
17. Exemplo 1
P: O menino chegou na sala de aula com uma sementinha (+) o
menino chega pra você e te mostra uma sementinha o quê que
você fala com ele? Leitura do texto / pedido de
esclarecimento
K: (+++) eu posso falar that is good! não desenvolvimento do
raciocínio
P: ou um aluno chega lá com::: a bandeira dos Estados Unidos
(+) fala que ele ganhou réplica mínima
K: oh, that is very nice ! (+) eu tento fechar com eles o diálogo?
réplica mínima seguido de pedido de esclarecimento
P: não (+) por quê? O que o professor faz muitas das vezes é
MATAR o que esse aluno tá falando (+) porque ele quer é fazer
só aquela agenda que ele prepara (+) ele usa o termo agenda
(+) didática (+) as vezes o aluno chega igual tem um caso do
aluno que chegou e falou assim “Ô professora meu pai morreu”
só que ele falou em inglês “my father died” réplica elaborada
K: My father died espelhamento
P: aí a professora virou e falou “this is very good” (risos)
entendeu? (+) porque o professor tá tão acostumado com essa
agenda de conversa didática que ele esquece que o aluno as
vezes quer conversar simplemente réplica elaborada
18. TRECHO DO TEXTO TEÓRICO
Elizabeth: What are you doing that for?
Mother: I‟m gathering it up and putting it outside so that Daddy
can put it on the garden.
Elizabeth: Why does he have to put it on the garden?
Mother: To make the compost right.
Elizabeth: Does that make the grass grow?
Mother: Yes.
Elizabeth: Why does it?
Mother: You know how I tell you that you need to eat different
things like eggs and cabbage and rice pudding to make you grow
into a big girl.
Elizabeth: Yes.
Mother: Well, plants need different foods, too. And ash is one of
the things that‟s good for them.
(Tsui, 1995, p. 10)
19. Exemplo 2
P: que é a primeira coisa que ele fala (+) que::: essa
interação pode promover aprendizagem então olha só
você pode analisar duas conversas que você teve (+)
uma que foi o momento em que eles estavam batendo
papo em português e outra que é o momento em que
eles estavam fazendo, te fazendo as perguntas
naquele tipo de atividade eram perguntas pessoais não
era nada controlado réplica elaborada: organizador
comparativo
K: as perguntas/ sobre o Bruno (+) estavam falando
sobre o Bruno réplica mínima
P: é validação interlocutória
K: e eu coloquei aquela atividade no meu portifólio. Eles
fizeram os cartões (de conversação) e eu pedi pra eles
igual eu falei pra eles descreverem um amigo /eles
tinham que tentar/ descobrir quem era réplica
elaborada: descrição do evento
P: é e eles foram fazendo as perguntas réplica
mínima: complementação
20. K: é (+) aí depois eu pedi pra eles me perguntarem pra
saber (+) ah::: réplica mínima: complementação
P: e você não tinha as respostas prontas (+) porque você
não sabia o que eles iam perguntar réplica elaborada:
reflexão
K: entendi (+) mas a diferença do tipo de atividade que eu
fiz pra essa que tá aqui? pedido de esclarecimento:
enunciado gerador de tensão
P: é que ele até fala aqui ó (+) que o Lee começa com
algo que ele está interessado e quer compartilhar com o
professor que é o que fala aqui (+) aí o professor com
boa intenção tenta ajudar a criança a aumentar seu
conhecimento com relação a sementinha, lá né? Ou com
relação a como se formam as árvores e coisa e tal. No
entanto, o autor observa que ao fazer isso o professor tá
impondo né? Aquela agenda didática aquele formato de
fala que::: ao invés de tentar ver o quê que o aluno quis
dizer com aquilo e geralmente a gente faz isso réplica
elaborada: complementação
21. Exemplo 3
P: Como é que você lida com essas questões na sala de aula? pedido
de esclarecimento: enunciado gerador de tensão
K: eu dou muita corda pros meu alunos, né? minha aula é pra eles
(+) eu ouço até demais réplica mínima: complementação
P: mas você usa essas questões pra aula Pedido de esclarecimento:
enunciado gerador de tensão
K: tento usar (+) é isso que eu tô tentando (+) o que eu ainda não
estou conseguindo é tentar fazer com que essa contribuição que
eles estão dando ela, elas possam ser feitas em inglês porque
quando elas começam a acontecer réplica elaborada:
complementação
P: é em português validação interlocutória
K: é, é (+) mas eu percebo também que eu tenho que estar sempre
levando coisas que sejam do interesse deles (+) aí você consegue
puxar réplica elaborada: complementação (...) eu consigo
fazer eles me entenderem mas não falarem (+) tudo que eu falo e
gesticulo eu consigo fazer eles puxarem isso pra aula (+) igual
semana passada eu tava lá eles “não entendo nada (+) vocês
entendem muito bem” aí eu começo a reformular sabe? aí eles
vão soltando (+) aí vou falando um fala uma coisa outro fala
outra outro fala outra réplica elaborada: complementação
P: você volta pra eles a instrução réplica mínima:
complementação
K: volto pra eles a instrução aí falo “tá vendo como vocês
entenderam?”
22. CONCLUSÕES DESTA ANÁLISE
O Tema de Ação Colaborativa “O uso da linguagem
em sala de aula” foi importante para Kênia. O
movimento discursivo proporcionou a ela a
oportunidade de ler, discutir, compreender,
concordar, refutar, confrontar e pensar sobre seu
fazer docente. Nas palavras de Freire
“É pensando criticamente a prática de hoje ou de
ontem que se pode melhorar a próxima prática. O
próprio discurso teórico, necessário à reflexão
crítica, tem de ser de tal modo concreto que
quase se confunda com a prática. O seu
distanciamento epistemológico da prática,
enquanto objeto de análise, deve dela aproximá-
lo ao máximo” (FREIRE, 1996, p. 39).
23. CONCLUSÕES
A análise e discussão com um aporte
teórico serviram de ponto de ancoragem
para a construção de novos
conhecimentos.
A teoria pode ter ajudado Kênia a sair da
reflexão “ingênua” ou puramente
descritiva para a reflexão “epistemológica”
ou crítica que é alçada pela consciência
das ações e eventos, relacionando-os a
um contexto sócio-histórico-cultural
(FREIRE, 1996; HATTON; SMITH, 1995).
24. IMPLICAÇÕES
Modelo de formação = colaboração, investigação
da própria prática,
conhecimento e as experiências do professor =
ferramentas para análise das ações pedagógicas
EDUCONLE = contextos que contribuiu para o
processo de articulação entre a teoria e a prática
docente considerando os elementos
metodológicos, lingüísticos, sociais e pessoais
“sob o ponto de vista da integração, da parceria e
do trabalho conjunto” (OLIVEIRA, 2006, p. 177).
A professora apresentou movimentos de
mudanças na forma de definir interação e em
suas ações pedagógicas.
25. Referencial Teórico
BARTLETT, L. Teacher development through reflective teaching. In: RICHARDS, J. C.; NUNAN, D. Second language
teacher education. Cambridge: CUP, 1990, p. 202-214.
BOHN, H. I. Maneiras inovadoras de ensinar e aprender: A necessidade de des(re)construção de conceitos. In: LEFFA,
V. (Org.) O professor de línguas –Construindo a profissão. Pelotas: EDUCAT, 2001, P. 116-123.
DUTRA, D. P. MELLO, H. Pesquisas em linguagem: o que elas revelam sobre um projeto de educação continuada. (no
prelo)
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
HATTON, N. SMITH, D. Reflection in teacher education: towards definition and implementation. In: Teaching & Teacher
Education, v.11, n.1, pp. 33-49, 1995.
JOHNSON-LAIRD, P. N. Mental models. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983. 513p.
MIASKOVSKY, W. H. A produção criativa na atividade sessão reflexiva em contextos de educação bilíngüe. 2008. 266 f.
Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e estudos da linguagem) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 2008.
MOREIRA, M. A. Modelos Mentais. Trabalho apresentado no Encontro sobre Teoria e Pesquisa em Ensino de Ciência -
Linguagem, Cultura e Cognição, Faculdade de Educação da UFMG, Belo Horizonte, 5 a 7 de março de 1997.
Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/N3/moreira.htm Acesso 29 de maio de 2007.
NORMAN, D.A. Some observations on mental models. In: Gentner, D. and Stevens, A.L. (Eds.). Mental models.
Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1983. p. 6-14. Tradução disponível em:
http://www.geocities.com/modelos_mentais/menus.htm. Acesso: 29 de maio de 2007.
OLIVEIRA, A. L. A. M. Hermes e bonecas russas: Um estudo colaborativo para compreender a relação teoria-prática na
formação docente. 2006. 247 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - FALE. UFMG, Belo Horizonte, 2006.
ORSOLINI, M.; PONTECORVO, C. Children‟s talk in classroom discussions. In: Cognition and instruction. v. 9, p. 113-
136, 1992.
TSUI, A. B. M. Introducing classroom interaction. London: Penguin, 1995, 123 p.
VAN LIER, L. Interaction in the language curriculum: Awareness, autonomy & authenticity. London: Longman, 1996.
VOSNIADOU, S. Capturando e modelando os processos de mudança conceitual. In: Learning e Instruction. v. 4, pp.
45-69, 1994. Disponível em: http://www.geocities.com/modelos_mentais/menus.htm Acesso em 29 de maio de
2007.
VYGOTSY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.