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Domingo, 8 de janeiro de 2012 • 2ª edição                                                           O GLOBO                                                                                     RIO      ●
                                                                                                                                                                                                             23

                                                                            PERFIL • GERALDINHO CARNEIRO, poeta


O ritmo
                                                                                                                                                                                                   Felipe Hanower




acelerado do
poeta mineiro
À beira dos 60 anos, Geraldo Carneiro se
dedica a novos roteiros nas madrugadas
           Cora Rónai               sentimentos paradoxais: amor,
        cora@oglobo.com.br          admiração, inveja. Era de um
                                    carinho extraordinário, me en-
● 2011 foi um ano movimenta-        sinou a fazer coisas impublicá-
do para o poeta Geraldo Car-        veis! Lamento ter tido em rela-
neiro. Ele traduziu o que defi-     ção a ele aquela tendência par-
ne como uma versão redux de         ricida que as gerações mais
Romeu e Julieta, chamada “RJ        novas têm em relação às gera-
de Shakespeare”, que estreia        ções anteriores. Lamento não
esta semana em São Paulo de-        ter convivido com ele da forma
pois de uma vitoriosa carreira      amorosa que ele propunha. Eu
carioca; escreveu para a TV         mantinha um olhar crítico, ia à
Globo, com Alcides Nogueira,        casa dele, ficamos amigos, mas
a novela “O astro”, baseada na      nunca chegamos a ser real-
obra de Janete Clair; a pedido      mente íntimos.
de Daniel Filho, fez as introdu-       O convívio entre Geraldo e o
ções para os 16 episódios de        Vinícius pequeno foi afetado
“As brasileiras”; apresentou-       pelo trabalho na novela, mas
se com a atriz Mariana Xime-        de forma positiva: como atra-




              “
nes pelo Brasil afora, numa sé-     vessa as madrugadas escre-
rie de palestras que vão virar      vendo, ele pode observar a
DVD; adap-                                             evolução do
tou “Gota                                              filho num
d’água”, a                                             horário em
peça de                                                que poucos
Paulo Pon-                                             pais estão
tes e Chico                                            acordados.
Buarque,                                               E n t re u m a
para o cine-     Tenho me cansado                      cena e outra
ma, a pedi-                                            de “O as-
do de Ro-        tanto de trabalhar,                   tro”, acom-
b e r t o Ta l -                                       panhava as
ma; lançou       que tenho sonhado                     mamadas e
seu segun-
do CD, “Go-
                 muito com aquelas                     resmungos
                                                       noturnos do
zos d’alma”,     coisas de um ser                      seu bebezi-
pela Biscoi-                                           nho. No mo-
to Fino; e       humano padrão                         mento, as
começou al-                                            madrugadas
guns proje-                                            estão me-
tos que serão terminados em         nos longas, mas não menos
2012, entre eles o roteiro cine-    produtivas. Vinicius dorme,
matográfico de “A casa dos          enquanto o pai trabalha em
budas ditosos”, a quatro mãos       novos roteiros e escreve sobre
com o autor e grande amigo          os 60 anos que fará em junho.
João Ubaldo Ribeiro, e “Dis-        Idade que, como sabem todos
curso do amor rasgado”, livro       que chegaram lá, parece muito
em que celebra seus 30 anos         distante até o momento em
de convívio com Shakespeare,        que bate à porta.
e que será publicado pela No-          —- Todo mundo conta que,
va Fronteira. Tudo isso fora o      quando vai para a fila especial,
varejo de canções e poemas,         acha que os outros vão ficar in-
que brotam naturalmente,            dignados. Mas que nada. To-
sem esperar ocasião.                dos acham perfeitamente natu-
   É muita coisa para um poeta      ral aquele cara lá... (risos) Es-
só, mas o tempo e o trabalho        tou me enchendo de trabalho         GERALDO CARNEIRO, que completa 60 anos em 2012: “Estou me enchendo de trabalho para afastar o espectro que ronda os sexagenários”
fazem bem a Geraldo Carneiro,       para afastar o espectro que
casado desde 2008 com sua           ronda os sexagenários. Aliás,                                                                                                              mas tomara que haja uma con-
linda musa Ana Paula Pedro.
Ele reclama em tom de troça
                                    que palavra horrível, implica
                                    uma série de trocadilhos... Mas
                                                                                                      POEMAS INÉDITOS DE GERALDINHO                                            tinuidade nesses processos.
                                                                                                                                                                                  — Isso, claro, se a profecia
da decrepitude física e metafí-     não posso me queixar. Estou                                                                                                                dos maias não se concretizar e o
sica, mas mudou espantosa-          num momento apaziguado e fe-                                                          Aniversário                                          mundo não acabar em 2012...
mente pouco desde que come-         liz. Há guerras dentro de mim,                                                                                                                —- Ah, os maias não têm
çou a aparecer, ainda adoles-       mas são guerras de aperfeiçoa-        um dia não é feito só de sol                    Para Ana P. P.                                       muito prestígio profético aqui
cente, no cenário da música         mento, não guerras de destrui-        há de haver nele alguma coisa maior,                                                                 no Rio, não. Cesar Maia, Rodri-
brasileira.                         ção. E tenho me cansado tanto         senão é só uma jornada, é nada                  o sol girou mais uma vez na sua órbita               go Maia... o DEM está por bai-
                                    de trabalhar, que tenho sonha-        mais uma circunvolução do Sol                   e eu desorbitado por teu amor,                       xo. (risos)

Ano intenso                         do muito com aquelas coisas
                                    de um ser humano padrão,
                                                                          em torno da Terra, ou vice-versa,
                                                                          a desconversa do não-ser
                                                                                                                          meu sol minha estrela do sul,
                                                                                                                          não tenho joias para depor a teus pés
                                                                                                                                                                               Mineiro com
também em casa                      aquele ser humano que quer se
                                    alimentar e dormir, em suma,
                                                                          que contradiz o sol e o girassol
                                                                          um dia é mais:
                                                                                                                          a não ser metáforas
                                                                                                                          que às vezes nem são minhas,
                                                                                                                                                                               jeito de carioca
                                    certos prazeres da existência         é alguma coisa que se tece e se desfaz          saem do lago escuro onde as palavras
● No front doméstico, o ano         aos quais eu nunca tinha pres-        feita de sempre e nunca mais                    se lembram das coisas ancestrais.
não foi menos intenso. Em fe-       tado atenção, e que, por força        a ponte entre o horizonte e um talvez cais      enquanto houver memória eu sonharei                  ● Geraldo Carneiro não espera
vereiro, nasceu o primeiro ne-      das circunstâncias, estão me          a luz que se acende ou não                      com tua flor                                         um mundo muito diferente pa-
to, Santiago, filho do filho mais   parecendo espetaculares. Jan-         o abismo entre a lucidez e a treva              plantada em meu jardim de sonhos                     ra o bebê Vinícius. O maior te-
velho, Joaquim (30 anos); e,        tar, dormir, uma vida pacífica...     o mar que nos envolve em sua trama              e toda vez que eu souber recolher                    mor atual, o de um apocalipse
quatro meses depois, veio ao        quem diria!                           a falta que nos move e nos incita               a teia cotidiana dos meus dias                       ecológico, não o assusta: ele
mundo Vinícius, o filho mais           Geraldo Carneiro nasceu em         a procurar aquilo que (a despeito               em forma de sono                                     se agarra a uma “teoria ridícu-
novo. (Antonio, o do meio,          Belo Horizonte, mas mudou-se          do silêncio) ainda grita                        tenho a esperança de encontrar-te                    la” que, dada a devida licença
tem 14 anos). Como costuma          para o Rio aos 3 anos, quando                                                         sorrindo à beira-mar                                 poética, é até engraçada:
acontecer com bebês, ainda          o pai, secretário de Juscelino                                                        num país chamado eternidade                             — Wall Street fica ao nível
mais quando são dados a riso-       Kubistchek, veio para a então                                                                                                              do mar. Quando o mar subir
nhos, Vinícius é o rei da casa.     capital. Pelo apartamento da                                                                                                               dez centímetros e molhar o sa-
   — O Vinícius é um carnava-       família, em Copacabana, polí-                                                                                                              patinho daqueles executivos
lesco, vai no colo de todo mun-     ticos, músicos e escritores cir-    anos, Geraldo não permitiu. E     sabe de nada”. “Choro de na-      preâmbulo do apocalipse. De-       — aqueles sapatos caros, que
do, acha a maior graça, gosta       culavam com a mesma desen-          foi embora para Roma, traba-      da” só foi gravada com a letra    pois, em 64, veio a ditadura       eles compram em Londres —
de tudo. Parece o velho Vini-       voltura, o que acabou marcan-       lhar com Astor Piazzola num       original no ano passado, por      militar, vivemos momentos          eles param instantaneamente
cius. Quando nós escolhemos         do a sua infância e a dos ir-       musical sobre Evita Peron que     Danilo Caymmi, para o CD          muito difíceis. Agora, embora      de mexer com as empresas po-
esse nome para ele, fiquei rin-     mãos, o músico Nando e a his-       acabou não saindo. Enquanto       “Gozos d’alma”.                   as pessoas não se dêem conta,      luidoras. Então, você tem um
do durante um mês, porque           toriadora Elizabeth.                estava por lá, recebeu uma           De “Choro de nada” até hoje    estamos vivendo um momen-          controle quase imediato da si-
nunca imaginei que um ser tão          A música, quase uma segun-       cartinha gentil de Eduardo,       foram mais de 200 canções,        to particularmente feliz. Há       tuação, graças aos sapatos
pequenininho pudesse ter o          da natureza, começou cedo.          que contava que a canção ha-      em parcerias com o irmão          uma distensão social, uma to-      londrinos de Wall Street. Não é
mesmo nome daquele outro            Seu primeiro parceiro, ainda na     via sido gravada — sem entrar     Nando, com Egberto Gismonti,      lerância, uma aceitação da al-     uma boa teoria?
Vinicius, que foi tão importan-     adolescência, foi Eduardo Sou-      em detalhes. Na volta ao Rio,     com Astor Piazzolla, com John     teridade... Há conquistas do          Do ponto de vista científico,
te na minha vida. Ele gravou        to Neto. Os dois compuseram         meses depois, é que desco-        Neschling, com Francis Hime,      século XX que entraram com         certamente não, mas como
uma música minha quando eu          juntos “Choro de nada”; Vini-       briu que a mudança de verso       com Wagner Tiso. E, desde en-     força pelo século XXI. Veja a      pouca gente se entende mesmo
ainda era menino, acabei es-        cius de Moraes gostou, decidiu      havia, afinal, sido feita.        tão, os seus versos foram dei-    Primavera Árabe, que coisa         sobre as causas e as conse-
crevendo a primeira biografia       gravar, mas achava que preci-          Mas a história dessa músi-     xados em paz.                     maravilhosa, quem teria ima-       quências do aquecimento glo-
dele e fomos muito amigos,          sava mudar um verso. O final        ca, até hoje uma das suas le-        Vendo o mundo da sua in-       ginado isso? Claro que tudo é      bal, ela é, provavelmente, uma
ainda que no começo eu o            original era “Retomo o rumo de      tras mais conhecidas, não aca-    fância e juventude pelos olhos    muito precário e pode acabar       teoria tão boa quanto outra
olhasse com um certo cuida-         casa / Com um sorriso nos           ba aí. Passaram-se três ou qua-   de hoje, Geraldo Carneiro não     da noite para o dia, e os dinos-   qualquer. De qualquer forma,
do, porque o achava licencio-       olhos / Você não sabe de tudo /     tro anos, e Tom Jobim também      alimenta falsas ilusões. O pla-   sauros vão para as cucuias.        ela mostra uma das facetas
so, libertário demais. Eu me        Você não sabe de nada”. Vini-       quis gravá-la, junto com Miú-     neta era mais instável e, com        Nós, os novos dinossauros,      mais divertidas do poeta: seu
sentia meio careta ao lado de-      cius queria “Retomo o rumo de       cha... mais uma vez trocando o    certeza, bem mais explosivo:      podemos ter o mesmo desti-         talento extraordinário para a
le, e olha que para eu me sentir    casa / Com a alma reconforta-       verso da discórdia! Dessa vez        — Você se dá conta de que,     no. Mas é bom não perder de        conversa fiada, para o bate-pa-
meio careta nos anos 70 era         da / Você não sabe de tudo /        ficou “Retomo o rumo de casa      quando nós éramos crianças,       vista as coisas boas quando        po sem compromisso que, viva
complicado... Ele era muito         Você não sabe de nada”.             / Na noite desconsolada / Você    o mundo podia ter acabado? A      estão acontecendo. O mundo         ele!, sempre foi a marca regis-
doido. O Vinicius me inspirava         Com a arrogância dos 18          não sabe de tudo / Você não       crise dos mísseis, em 62, foi o   é cheio de descontinuidades,       trada dos bons cariocas. ■

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O ritmo acelerado do poeta mineiro Geraldo Carneiro

  • 1. Domingo, 8 de janeiro de 2012 • 2ª edição O GLOBO RIO ● 23 PERFIL • GERALDINHO CARNEIRO, poeta O ritmo Felipe Hanower acelerado do poeta mineiro À beira dos 60 anos, Geraldo Carneiro se dedica a novos roteiros nas madrugadas Cora Rónai sentimentos paradoxais: amor, cora@oglobo.com.br admiração, inveja. Era de um carinho extraordinário, me en- ● 2011 foi um ano movimenta- sinou a fazer coisas impublicá- do para o poeta Geraldo Car- veis! Lamento ter tido em rela- neiro. Ele traduziu o que defi- ção a ele aquela tendência par- ne como uma versão redux de ricida que as gerações mais Romeu e Julieta, chamada “RJ novas têm em relação às gera- de Shakespeare”, que estreia ções anteriores. Lamento não esta semana em São Paulo de- ter convivido com ele da forma pois de uma vitoriosa carreira amorosa que ele propunha. Eu carioca; escreveu para a TV mantinha um olhar crítico, ia à Globo, com Alcides Nogueira, casa dele, ficamos amigos, mas a novela “O astro”, baseada na nunca chegamos a ser real- obra de Janete Clair; a pedido mente íntimos. de Daniel Filho, fez as introdu- O convívio entre Geraldo e o ções para os 16 episódios de Vinícius pequeno foi afetado “As brasileiras”; apresentou- pelo trabalho na novela, mas se com a atriz Mariana Xime- de forma positiva: como atra- “ nes pelo Brasil afora, numa sé- vessa as madrugadas escre- rie de palestras que vão virar vendo, ele pode observar a DVD; adap- evolução do tou “Gota filho num d’água”, a horário em peça de que poucos Paulo Pon- pais estão tes e Chico acordados. Buarque, E n t re u m a para o cine- Tenho me cansado cena e outra ma, a pedi- de “O as- do de Ro- tanto de trabalhar, tro”, acom- b e r t o Ta l - panhava as ma; lançou que tenho sonhado mamadas e seu segun- do CD, “Go- muito com aquelas resmungos noturnos do zos d’alma”, coisas de um ser seu bebezi- pela Biscoi- nho. No mo- to Fino; e humano padrão mento, as começou al- madrugadas guns proje- estão me- tos que serão terminados em nos longas, mas não menos 2012, entre eles o roteiro cine- produtivas. Vinicius dorme, matográfico de “A casa dos enquanto o pai trabalha em budas ditosos”, a quatro mãos novos roteiros e escreve sobre com o autor e grande amigo os 60 anos que fará em junho. João Ubaldo Ribeiro, e “Dis- Idade que, como sabem todos curso do amor rasgado”, livro que chegaram lá, parece muito em que celebra seus 30 anos distante até o momento em de convívio com Shakespeare, que bate à porta. e que será publicado pela No- —- Todo mundo conta que, va Fronteira. Tudo isso fora o quando vai para a fila especial, varejo de canções e poemas, acha que os outros vão ficar in- que brotam naturalmente, dignados. Mas que nada. To- sem esperar ocasião. dos acham perfeitamente natu- É muita coisa para um poeta ral aquele cara lá... (risos) Es- só, mas o tempo e o trabalho tou me enchendo de trabalho GERALDO CARNEIRO, que completa 60 anos em 2012: “Estou me enchendo de trabalho para afastar o espectro que ronda os sexagenários” fazem bem a Geraldo Carneiro, para afastar o espectro que casado desde 2008 com sua ronda os sexagenários. Aliás, mas tomara que haja uma con- linda musa Ana Paula Pedro. Ele reclama em tom de troça que palavra horrível, implica uma série de trocadilhos... Mas POEMAS INÉDITOS DE GERALDINHO tinuidade nesses processos. — Isso, claro, se a profecia da decrepitude física e metafí- não posso me queixar. Estou dos maias não se concretizar e o sica, mas mudou espantosa- num momento apaziguado e fe- Aniversário mundo não acabar em 2012... mente pouco desde que come- liz. Há guerras dentro de mim, —- Ah, os maias não têm çou a aparecer, ainda adoles- mas são guerras de aperfeiçoa- um dia não é feito só de sol Para Ana P. P. muito prestígio profético aqui cente, no cenário da música mento, não guerras de destrui- há de haver nele alguma coisa maior, no Rio, não. Cesar Maia, Rodri- brasileira. ção. E tenho me cansado tanto senão é só uma jornada, é nada o sol girou mais uma vez na sua órbita go Maia... o DEM está por bai- de trabalhar, que tenho sonha- mais uma circunvolução do Sol e eu desorbitado por teu amor, xo. (risos) Ano intenso do muito com aquelas coisas de um ser humano padrão, em torno da Terra, ou vice-versa, a desconversa do não-ser meu sol minha estrela do sul, não tenho joias para depor a teus pés Mineiro com também em casa aquele ser humano que quer se alimentar e dormir, em suma, que contradiz o sol e o girassol um dia é mais: a não ser metáforas que às vezes nem são minhas, jeito de carioca certos prazeres da existência é alguma coisa que se tece e se desfaz saem do lago escuro onde as palavras ● No front doméstico, o ano aos quais eu nunca tinha pres- feita de sempre e nunca mais se lembram das coisas ancestrais. não foi menos intenso. Em fe- tado atenção, e que, por força a ponte entre o horizonte e um talvez cais enquanto houver memória eu sonharei ● Geraldo Carneiro não espera vereiro, nasceu o primeiro ne- das circunstâncias, estão me a luz que se acende ou não com tua flor um mundo muito diferente pa- to, Santiago, filho do filho mais parecendo espetaculares. Jan- o abismo entre a lucidez e a treva plantada em meu jardim de sonhos ra o bebê Vinícius. O maior te- velho, Joaquim (30 anos); e, tar, dormir, uma vida pacífica... o mar que nos envolve em sua trama e toda vez que eu souber recolher mor atual, o de um apocalipse quatro meses depois, veio ao quem diria! a falta que nos move e nos incita a teia cotidiana dos meus dias ecológico, não o assusta: ele mundo Vinícius, o filho mais Geraldo Carneiro nasceu em a procurar aquilo que (a despeito em forma de sono se agarra a uma “teoria ridícu- novo. (Antonio, o do meio, Belo Horizonte, mas mudou-se do silêncio) ainda grita tenho a esperança de encontrar-te la” que, dada a devida licença tem 14 anos). Como costuma para o Rio aos 3 anos, quando sorrindo à beira-mar poética, é até engraçada: acontecer com bebês, ainda o pai, secretário de Juscelino num país chamado eternidade — Wall Street fica ao nível mais quando são dados a riso- Kubistchek, veio para a então do mar. Quando o mar subir nhos, Vinícius é o rei da casa. capital. Pelo apartamento da dez centímetros e molhar o sa- — O Vinícius é um carnava- família, em Copacabana, polí- patinho daqueles executivos lesco, vai no colo de todo mun- ticos, músicos e escritores cir- anos, Geraldo não permitiu. E sabe de nada”. “Choro de na- preâmbulo do apocalipse. De- — aqueles sapatos caros, que do, acha a maior graça, gosta culavam com a mesma desen- foi embora para Roma, traba- da” só foi gravada com a letra pois, em 64, veio a ditadura eles compram em Londres — de tudo. Parece o velho Vini- voltura, o que acabou marcan- lhar com Astor Piazzola num original no ano passado, por militar, vivemos momentos eles param instantaneamente cius. Quando nós escolhemos do a sua infância e a dos ir- musical sobre Evita Peron que Danilo Caymmi, para o CD muito difíceis. Agora, embora de mexer com as empresas po- esse nome para ele, fiquei rin- mãos, o músico Nando e a his- acabou não saindo. Enquanto “Gozos d’alma”. as pessoas não se dêem conta, luidoras. Então, você tem um do durante um mês, porque toriadora Elizabeth. estava por lá, recebeu uma De “Choro de nada” até hoje estamos vivendo um momen- controle quase imediato da si- nunca imaginei que um ser tão A música, quase uma segun- cartinha gentil de Eduardo, foram mais de 200 canções, to particularmente feliz. Há tuação, graças aos sapatos pequenininho pudesse ter o da natureza, começou cedo. que contava que a canção ha- em parcerias com o irmão uma distensão social, uma to- londrinos de Wall Street. Não é mesmo nome daquele outro Seu primeiro parceiro, ainda na via sido gravada — sem entrar Nando, com Egberto Gismonti, lerância, uma aceitação da al- uma boa teoria? Vinicius, que foi tão importan- adolescência, foi Eduardo Sou- em detalhes. Na volta ao Rio, com Astor Piazzolla, com John teridade... Há conquistas do Do ponto de vista científico, te na minha vida. Ele gravou to Neto. Os dois compuseram meses depois, é que desco- Neschling, com Francis Hime, século XX que entraram com certamente não, mas como uma música minha quando eu juntos “Choro de nada”; Vini- briu que a mudança de verso com Wagner Tiso. E, desde en- força pelo século XXI. Veja a pouca gente se entende mesmo ainda era menino, acabei es- cius de Moraes gostou, decidiu havia, afinal, sido feita. tão, os seus versos foram dei- Primavera Árabe, que coisa sobre as causas e as conse- crevendo a primeira biografia gravar, mas achava que preci- Mas a história dessa músi- xados em paz. maravilhosa, quem teria ima- quências do aquecimento glo- dele e fomos muito amigos, sava mudar um verso. O final ca, até hoje uma das suas le- Vendo o mundo da sua in- ginado isso? Claro que tudo é bal, ela é, provavelmente, uma ainda que no começo eu o original era “Retomo o rumo de tras mais conhecidas, não aca- fância e juventude pelos olhos muito precário e pode acabar teoria tão boa quanto outra olhasse com um certo cuida- casa / Com um sorriso nos ba aí. Passaram-se três ou qua- de hoje, Geraldo Carneiro não da noite para o dia, e os dinos- qualquer. De qualquer forma, do, porque o achava licencio- olhos / Você não sabe de tudo / tro anos, e Tom Jobim também alimenta falsas ilusões. O pla- sauros vão para as cucuias. ela mostra uma das facetas so, libertário demais. Eu me Você não sabe de nada”. Vini- quis gravá-la, junto com Miú- neta era mais instável e, com Nós, os novos dinossauros, mais divertidas do poeta: seu sentia meio careta ao lado de- cius queria “Retomo o rumo de cha... mais uma vez trocando o certeza, bem mais explosivo: podemos ter o mesmo desti- talento extraordinário para a le, e olha que para eu me sentir casa / Com a alma reconforta- verso da discórdia! Dessa vez — Você se dá conta de que, no. Mas é bom não perder de conversa fiada, para o bate-pa- meio careta nos anos 70 era da / Você não sabe de tudo / ficou “Retomo o rumo de casa quando nós éramos crianças, vista as coisas boas quando po sem compromisso que, viva complicado... Ele era muito Você não sabe de nada”. / Na noite desconsolada / Você o mundo podia ter acabado? A estão acontecendo. O mundo ele!, sempre foi a marca regis- doido. O Vinicius me inspirava Com a arrogância dos 18 não sabe de tudo / Você não crise dos mísseis, em 62, foi o é cheio de descontinuidades, trada dos bons cariocas. ■