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DIMENSÕES ÉTICAS DA EDUCAÇÃO: BREVES CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA
OBRA PEDADOGIA DAAUTONOMIA, DE PAULO FREIRE
ETHICAL DIMENSIONS OF EDUCATION: SHORT CONSIDERATIONS
THROUGH PEDAGOGY OF AUTONOMY, BY PAULO FREIRE
Selma Aparecida Cesarin1
“A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos
comportamentos grosseiramente imorais como na
perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de
que falo é a que se sabe afrontada na manifestação
discriminatória de raça, de gênero, de classe. É por esta
ética inseparável da prática educativa, não importa se
trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que
devemos lutar.” Paulo Freire
RESUMO: Neste artigo, procurou-se refletir sobre as dimensões éticas da educação. A rigor,
a educação só tem sentido se for absolutamente ética, ética essa que só se atinge por meio da
reflexão. Os tempos atuais não permitem mais que a educação seja entendida somente como o
espaço físico da escola, nem o aluno reduzido a mero receptáculo de informações técnicas. A
educação abrange ações coletivas e exige que as posturas éticas sejam defendidas e
disseminadas, já que o processo educativo está em todas as realidades em que a ação humana
se manifesta. Como afirma Paulo Freire, por ser especificamente humana, a prática docente é
profundamente formadora e, em consequência, tem de ser ética. E, como já defendia Kant, o
progresso moral só pode ser entendido como “progresso da razão”. Este progresso é infinito e
necessita que cada geração o cultive.
Palavras-chave: Ética e educação. Pedagogia da Autonomia. Educação e bioética. Moral e
Ética.
ABSTRACT: This article tries to show reflections about ethical dimensions of Education. In
reality, Education only has meaning if it is an ethical one, and this Ethics can only be achieved
through reflection. The present time does not allow that Education is comprehended only as
school plant, nor student as a simple box to receive technical information. Education involves
actions in group and demands that ethical attitudes are defended and disseminated, since
educational process is present in all human action realities. As Paulo Freire asserts, since
teaching practice is deeply a formation practice, consequently it must be ethical. And as
defended Kant, Morals progress can only be understood as a “rational progress”. This
progress is infinite and it needs each human generation keeps it up.
Keywords: Ethic and Education. Pedagogy of Autonomy. Education and Bioethic. Morals
and Ethics.
1
Mestre em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo; advogada; professora de Bioética, Ética, Direito,
Língua Portuguesa e Língua Inglesa.
INTRODUÇÃO
Para Aristóteles, Ética é a filosofia das coisas humanas, um saber que visa a orientar
racionalmente o agir humano.
A partir da certeza de que Educação é um fazer essencialmente humano (a rigor,
“educar a ação”) ela tem de ser ética, principalmente considerando-se que a formação do
sujeito ético depende da educação que ele receber em seu meio acadêmico/familiar/cultural, e
no constante processo de interação com esse meio.
Ao se falar em educar para a vida moral, fala-se em criar condições para que os
educandos venham a se tornar sujeitos autônomos, com capacidade de (re)pensar e decidir por
si próprios.
Entretanto, não se trata aqui de simples “autonomia”. A autonomia que a educação
deve incentivar e buscar tem de ser aquela em que haja a vontade do educando de respeitar e
reconhecer a importância do outro, de fazer escolhas éticas, buscando seu bem-estar e o da
coletividade, de ser capaz de não prejudicar e de realizar processos de alteridade com os
outros seres da raça humana. Assim, a sala de aula (e todo o ambiente educacional) deve ser
espaço para estimular a reflexão, a cooperação e o diálogo.
Paulo Freire (2007) esclarece que sejam os docentes formados ou estejam em
formação, devem ter plena consciência que formar um aluno é muito mais que treinar e
depositar conhecimentos simplesmente, é mais do que ensinar técnicas de desenvolvimento e,
para essa formação, necessita-se de ética e harmonia. Ele complementa, ainda, que ambas –
ética e harmonia – precisam estar vivas e presentes na prática educativa, sendo esta a
responsabilidade do professor.
2
ÉTICA E MORAL: DISTINÇÃO E DEFINIÇÕES
Questão sempre suscitada quando se fala em ética e moral é se há ou não distinção
entre elas. Autores e filósofos há que defendem a mesma definição para ambas. Outros
defendem haver diferenças cruciais entre uma e outra, posição que aqui se defende.
Segundo Russ (1999, p. 8-9), a etimologia em nada ajuda na tarefa de resolver este
impasse: ta êthé (em grego, os costumes) e mores (em latim, hábitos/costumes) possuem, com
efeito, acepções muito próximas uma da outra e, mesmo sendo o termo “ética” de origem
grega, e o termo “moral” de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos: à ideia de
costumes, de hábitos, de modos de agir, determinados pelos usos e costumes.
Contudo, apesar da semelhança – quase paridade – que a análise etimológica indica,
há de se fazer a distinção entre ética e moral. A primeira é mais teórica que a segunda. A ética
se esforça por desconstruir as regras de conduta que formam a moral, os juízos de bem e de
mal. O que a ética designa, então? Não uma moral, a saber, um conjunto de regras próprias de
uma cultura, mas sim uma doutrina que se situa além da moral, racionada sobre o bem e o
mal, os valores e os juízos morais. Em suma, a ética desconstrói as regras de conduta, desfaz
suas estruturas e desmonta sua edificação, para se esforçar em descer até os fundamentos
ocultos da obrigação. (RUSS, 1999, p. 9)
Assim, a diferença básica entre ética e moral consiste que na primeira há reflexão
crítica e escolha individual.
Ainda, segundo Boff (2003, p. 58), a ética é parte da filosofia, a moral é parte da vida
concreta; a ética é da ordem prática e não da teoria, à qual pertence a moral; a ética examina a
ação; a moral, o conhecimento.
Assim, é possível traçar o seguinte quadro quanto à distinção entre ética e moral:
3
MORAL ÉTICA
Valores humanos (não têm preço); Valores humanos (não têm preço);
Origem no latim more = costume humano; Origem no grego ethos = costume/conduta;
Valores morais – desenvolvidos pelos usos
e costumes de determinada sociedade;
Valores éticos – juízo crítico sobre valores
que frequentemente estão em
conflito e que implica opção;
Não há conflito; Pode haver conflito/dilema (di = dois /
lema = caminho);
Pode variar de sociedade para sociedade ou
de uma época para outra (na mesma
sociedade);
Varia de indivíduo para indivíduo;
De fora para dentro, isto é, da sociedade
para o indivíduo;
De dentro para fora, isto é, do indivíduo
para a sociedade;
Todo cidadão tem de respeitar porque
pertence à sociedade;
Não é a sociedade que escolhe, é o
indivíduo, ainda que leve em conta os
valores morais;
Não há reflexão crítica, há aceitação; há
introjecção; é social.
Pressupõe dilema, não há aceitação sem
reflexão crítica; é pessoal.
Fonte: desenvolvido pela autora, com base em notas de aula (anotações manuscritas). Mestrado em Bioética.
Disciplina: Fundamentos da Bioética (professor William Saad Hossne, 2007).
Segundo Russ (1999, p. 11), uma pessoa é moral quando age em conformidade com os
costumes e valores consagrados na sociedade na qual vive; valores esses que podem até vir a
ser questionados pela ética, e é uma pessoa ética quando se orienta por princípios e
convicções, assumidos mediante reflexão crítica pessoal. Portanto, uma pessoa pode ser moral
(segue os costumes, mesmo que só por conveniência), mas não necessariamente ética (não
obedece a convicções e princípios).
EDUCAÇÃO: DIMENSÕES ÉTICAS E PROCESSO REFLEXIVO
Considerando-se que o ser humano não nasce ético, torna-se ético, o papel da
educação nesta formação é crucial. E considerando-se, ainda, que o cotidiano mundial é hoje
marcado por conflitos de toda ordem, que cada vez mais oprimem os educadores/educandos
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em formação, é preciso que esses educadores e as entidades educativas, apesar das
dificuldades, pautem suas ações por princípios éticos e vejam a sala de aula como espaço
privilegiado para aprofundar e vivenciar o agir ético (Paviani, 2005), já que a dimensão ética
da educação é inegável.
As condições atuais de vida, a velocidade das informações, a efemeridade das
relações, e o aparente descaso com valores e virtudes, entre eles, o próprio desvalor dado à
vida humana, que é tida como se nada fosse, parecem fazer com que tudo caminhe para um
retorno à filosofia ética, devido à própria necessidade de sobrevivência do ser humano num
mundo muito mais que possível: num mundo desejável.
Esse retorno e o resgate do ser humano ético deve se dar pelos instrumentos da
Educação e, no Brasil, como no resto do mundo, nas últimas décadas, tem havido intensa
preocupação com a educação em e para valores, que surge como inspiração para muitas
iniciativas, seja na esfera da produção acadêmica, seja no âmbito das práticas pedagógicas.
A necessidade da ética nas relações cotidianas não permite mais uma atitude que
privilegia o indivíduo em detrimento à coletividade: os problemas de ordem ética se iniciam
muito cedo e percorrem os caminhos do processo ensino-aprendizagem, com ênfase na forma
como o educando vivencia esse processo, com orientação do professor/formador que, segundo
Paulo Freire, precisa conhecer um saber necessário ao professor: que ensinar não é somente
transferir conhecimento, mas ensinar precisa ser um processo apreendido por ele e pelos
educandos nas suas razões ontológicas, políticas, éticas, epistemológicas, pedagógicas, que
precisa ser constantemente testemunhado, vivido.
A educação encontra-se hoje em profunda crise, que provém dos questionamentos
lançados à própria Educação e seu papel na formação do indivíduo/cidadão e da sociedade.
Nesse momento de crise, a reflexão crítica é o caminho para que se façam as escolhas
certas, norteadas pela ética e, nesse patamar, os princípios e referenciais da Bioética são
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instrumento primordial.
Ao se preocupar com a justiça, a beneficência, a não-maleficência, a autonomia, a
afetividade, a dignidade, a solidariedade, a vulnerabilidade, a responsabilidade, a qualidade de
vida, a confidencialidade... educador e educando exercem, enquanto se relacionam, o poder de
escolha em prol do bem-estar da coletividade e da sua melhor formação.
Um dos alicerces da Bioética é, sem dúvida, as relações: relações entre pessoas, entre
organismos, entre entidades, entre vidas... e a necessidade da ética nas relações cotidianas e
no processo ensino-aprendizagem não permite mais uma atitude que privilegia o indivíduo em
detrimento da coletividade.
A Educação não tem apenas a dimensão instrumental e técnica que muitos lhe
atribuem. Em sua dimensão (bio)ética, ela é fundamentalmente criadora de valores que podem
tornar os seres humanos melhores e, assim, mais capazes de ser e de fazer os outros felizes.
Portanto, deve-se estimular a solidariedade, o respeito à liberdade e à autonomia, o sentido de
justiça, o bom senso e a afetividade.
NATUREZA ÉTICA DA PRÁTICA EDUCATIVA
Segundo Paulo Freire (2007, p. 72), “A prática docente, especificamente humana, é
profundamente formadora, por isso, ética”.
Não há como negar que à educação cabe sensibilizar as atuais e as novas gerações para
o problema da ética como fundamento da vida humana e ajudá-las a formar competências
para que possam participar ativamente desse processo de formação. Entendido aqui que esta
não é só uma tarefa da Escola, mas de toda a sociedade.
Para Goergen (1979):
[...] encontramo-nos no limiar do surgimento de uma nova
consciência, principalmente face às perspectivas que a ciência e a
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tecnologia abrem à intervenção nos segredos da vida. O projeto
moderno pode tomar novos rumos e a discussão do tema da ética é de
imensa atualidade. A educação, por sua vez, estaria relacionada a este
contexto como estimuladora desta nova consciência.
A assertiva de Lepargneur (2005, p. 387) de que “o futuro de um país se prepara na
educação” é inquestionável. E é nessa preparação que o papel da (bio)ética é fundamental, já
que a noção de ética remete a alternativas e escolhas que decidem o destino do ser humano.
Considerando-se a importância da formação para a construção de um destino
individual e coletivo de qualidade e com base nas ações e decisões éticas, a educação atual
não pode ser reduzida à informação factual: ela, por si só, já envolve capacitação de escolha e
juízos e assim deve se apresentar para o educando: como um caminho que leve à reflexão e
indique – mas não imponha, as escolhas éticas possíveis e desejáveis.
Assim, Educação e (bio)ética constituem hoje dois fatores insubstituíveis e
obrigatórios para a universalização da cultura e do humanismo.
Freire deixa claro que a ética a qual se refere é a ética universal e diz que “a melhor
maneira de por ela lutar é vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em
nossas relações com eles.” (FREIRE, 2007, p. 17)
É necessário que educadores e educandos se conscientizem de sua presença no mundo,
como seres formadores desse mundo. Essa consciência leva a refletir e pensar a vida como
possibilidade “de ser mais e melhor” e Paulo Freire anuncia a solidariedade como forma de
luta capaz de promover e instaurar a “ética universal do ser humano”, o que vai permear,
também, o processo educativo. (FREIRE, 2007, passim)
Os inúmeros desafios do futuro tornam a educação verdadeiro trunfo para a construção
dos ideais de paz, de liberdade, de justiça, de preservação do mundo no qual se vive.
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Assim se posicionou Paulo Freire, em sua Pedagogia da Autonomia, ao defender que a
luta dos professores pela dignidade de sua função não só é democraticamente importante, bem
como pode ser interpretada como prática ética.
Trata-se, acima de tudo, de aprender a conviver, conhecendo aqueles com quem se
convive, respeitando-os em todas as escolhas de suas vidas sem “manifestação discriminatória
de raça, de gênero, de classe” (Freire, 2007, p.16), praticando a afetividade e a empatia.
Assim, conforme redação do Relatório da UNESCO: Educação – um Tesouro a
descobrir: “ajudar a transformar a interdependência real em solidariedade desejada,
corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. Deve-se, para isso, preparar cada
indivíduo para compreender a si mesmo e ao outro, através dum melhor conhecimento do
mundo”.
Desta forma, para servir como agente instigador dessa transformação, os educadores
devem ter postura ética na vida, no pensar, falar, agir, ensinar e aprender.
Mas o papel do educador é complexo e delicado, e deve estar revestido de
características essenciais. Para Freire, ensinar exige rigor metódico; pesquisa; respeito pelos
saberes dos educandos; criticidade; estética e ética; corporificação das palavras pelo exemplo;
risco, aceitação do novo e rejeição de qualquer forma de discriminação; reflexão crítica sobre
a prática; reconhecimento e assunção da identidade cultural; consciência do inacabado;
respeito pela autonomia do educando; bom senso; humildade, tolerância e luta na defesa dos
direitos dos educadores; apreensão da realidade; alegria e esperança; convicção de que a
mudança é possível; curiosidade; segurança, competência profissional e generosidade;
comprometimento; compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo;
liberdade e autoridade; tomada consciente de decisões; saber escutar; reconhecimento de que
a educação é ideológica; disponibilidade para o diálogo e querer bem aos educandos.
Portanto, é primordial o cuidado amoroso, afetivo e solidário do educando. Assim,
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não é possível que o educador não se posicione. Segundo Paulo Freire:
Em tempo algum pude ser um observador "acinzentadamente" imparcial, o
que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética. Quem
observa o faz de certo ponto de vista, o que não situa o observador em erro.
O erro na verdade não é ter certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e
desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a
razão ética nem sempre esteja com ele. (FREIRE, 2007)
Resta claro, portanto, que se, como educadores/formadores, o que se quer é transmitir
valores às novas gerações, não é mais possível limitar o processo ensino-aprendizagem à
dimensão dos conteúdos intelectuais, transmitidos por intermédio da docência.
É necessário que se vá muito mais além: lidar verdadeiramente com a dimensão
(bio)ética desse processo é ação profunda e transformadora, já que se faz necessário que os
valores e as virtudes sejam muito mais do que só transmitidos: eles precisam ser vividos, por
meio das práticas educativas e no decorrer dos acontecimentos.
Os educadores/formadores necessitam viver os referenciais (bio)éticos com os alunos,
fazendo-se presentes na vida dos educandos, de forma construtiva, emancipadora, solidária,
afetiva – repleta de bem querer a esse educando, já que educar não é depositar conteúdo
técnico num ser em formação, é, antes, criar espaços para que o educando possa empreender
ele próprio a construção do seu ser, ou seja, a realização de suas potencialidades em termos
pessoais e sociais.
Nesse sentido, é esclarecedora a posição de Nascimento quando afirma:
A questão ética não se restringe ao plano da aceitação das normas
socialmente estabelecidas nem se reduz ao problema da criação dos
valores por uma liberdade solitária. Nasce na existência concreta de cada
um, da consciência dos valores envolvidos no reconhecimento da
inalienável dignidade da pessoa e do sentido da responsabilidade pessoal
diante do outro, cujo rosto é um apelo constante a ser respeitado e
promovido. (NASCIMENTO, 1984, p. 16).
É inegável, portanto, que a busca de uma educação e de educadores que realmente
trabalhem para a construção de uma sociedade mais digna, mais feliz, mais respeitável, e que
contribuam para que os educandos consigam ter uma vida melhor, que leve ao sucesso, com
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qualidade, criando sensibilidades que se impõem como novas temáticas para a educação é o
caminho essencial quando se fala na dimensão (bio)ética da educação.
Na verdade, a educação só tem sentido se for intrinsecamente ética, repleta de
atitudes éticas, cuja concretização deve se dar no indivíduo e, por extensão, na coletividade.
A educação nasce de um projeto social na medida em que este está impregnado de
ideias, valores e reflexões sobre as perspectivas futuras. Portanto, é evidente que a ética é
expressão autêntica de um projeto de homem e de sociedade.
Neste projeto, em momento algum o professor pode desprezar sua formação
científica, mas esta também tem de ser pautada na ética.
Paulo Freire (2007) faz questão de deixar claro que:
O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua
retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta.
Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência,
capacidade de viver e de aprender com o diferente, não permitir que o nosso
mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-
lo do que não fez, são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas
perseverantemente nos dedicar.
A situação atual, o repensar do papel de cada um na sociedade e na (trans)formação
de um mundo possível e desejável tem conduzido “os homens de bem” (Mattos, 2007) a
questionamentos profundos, difíceis e, muitas vezes, doloridos.
A reflexão ética é basilar neste momento crucial e um dos objetivos da Bioética é
fazer reflexões e levar a reflexões a fim de tornar possível o princípio da dignidade da vida,
pois a ética é condição essencial para a cidadania. Assim, a Bioética é valioso instrumento de
reflexão e ação para auxiliar o homem a enfrentar os questionamentos sobre o que o angustia.
O estudo e a concretização da dimensão (bio)ética da educação, apesar de parecer
limitada somente às atitudes no processo ensino-aprendizagem, trata-se de muito mais, pois
dessa dimensão micro deve-se caminhar e se expandir cada vez mais para a macro, norteando
o educando em todos os momentos e diretrizes de suas escolhas.
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Segundo Sime (1999, p. 272), uma proposta educativa que tenha como eixo central a
vida cotidiana e que queira recuperar o valor da vida, no sentido radical, tem de desenvolver
de forma criativa certos aspectos básicos. Para ele:
Deve haver pedagogia de indignação e que diga não à resignação. Não
queremos formar seres insensíveis, e sim capazes de indignar-se, de
escandalizar-se diante de todas as formas de violência. A atividade educativa
deve ser espaço onde expressamos e compartilhamos a indignação através
dos sentimentos de rebeldia contra o que está acontecendo.
Segundo análise de Sime, muitas vezes os processos educativos atuais se mostram
impermeáveis à realidade do contexto social nos quais se inserem e o cotidiano educacional
transforma-se em mundo à parte, que simplesmente ignora o cotidiano social. Mais do que
isso, em muitas ocasiões, sequer há espaço para que os diferentes sujeitos possam se expressar
e refletir sobre a estruturação do seu dia-a-dia, de suas famílias e comunidades. A rigor, as
práticas educativas e a vida parecem ser dois mundos que se ignoram. Romper com essa
desarticulação tem de ser inquietude básica da educação ética.
Deve-se deixar claro, aqui, que a indignação e a rebeldia não significam estímulo à
violência, à confusão ou ao início de conflitos materiais. Trata-se, isto sim, de superar toda
indiferença diante das violações dos direitos humanos que se multiplicam em nossas
sociedades e que também estão presentes nas práticas educativas, por meio de
questionamentos e de resolução de conflitos que conduzam cada vez mais à defesa e aplicação
dos referenciais da (bio)ética.
DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO VINCULADAAO SOCIAL
A dimensão ética da educação tem implicações sociais na cidadania e o componente
ético é fator chave nos processos educacionais. É necessário que se lute para que a educação
suscite valores de responsabilidade pessoal, consideração pelos outros e respeito mútuo face
às diferenças e divergências.
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A capacidade e a vontade de estabelecer princípios que orientem o agir cotidiano, seja
no âmbito individual, seja no âmbito coletivo, podem ser designadas como disposição ética. A
educação tem caráter ético na medida em que orienta a ação dos diferentes sujeitos numa
instituição educacional, pois por meio dela buscam-se soluções e alternativas para os
problemas da existência humana.
A dimensão ética da educação está vinculada ao social, significando os costumes
culturais, valores, tradições e tudo aquilo que se refere a determinado modo de viver em
coletividade, de viver o nós. Ela é a expressão do querer-viver global e irreprimível porque
expressa o desejo de continuidade de um conjunto social e a responsabilidade que se assume
em relação a essa continuidade. A ética remete ao equilíbrio e à relativização dos diferentes
valores que formam um conjunto social. Esse conjunto social necessita ser, literalmente,
“cuidado” e Leonardo Boff (2003, p. 50) defende que “a ética que cuida e ama é terapêutica
libertadora”.
Segundo Marilena Chauí:
A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a
vontade objetiva cultural. Realiza-se plenamente quando interiorizamos
nossa Cultura, de tal maneira que praticamos espontânea e livremente seus
costumes e valores, sem neles pensarmos, sem os discutirmos, sem deles
duvidarmos, porque são como nossa própria vontade os deseja.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conjunto das reflexões conduz à inquestionável assertiva de que a educação, em sua
dimensão ética, é instrumento transformador e norteador para que educadores e educandos
(re)pensem e (trans)formem não só o ambiente educacional, mas toda a coletividade, para que
se atinja o mundo desejável, com qualidade de vida e cidadania pautadas na ética.
E na construção de uma educação engajada, politizada, ética e, portanto, crítica, por
meio do processo ensino-aprendizagem, a afetividade ocupa papel de destaque.
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Nesse caminho, Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, é uma obra que condensa
os saberes necessários e indispensáveis a uma prática educativa coerente com os padrões
éticos que regem a sociedade.
Para que se conheça uma sociedade melhor, os educadores precisam se posicionar
criticamente, questionando, orientando e incentivando os educandos a refletir criticamente.
Entretanto, para assumir este compromisso, é primordial que o educador/formador o
faça com ética, amor e alegria por ensinar.
Além disso, a educação deve inspirar-se nos fundamentos da ética e se pautar com a
concretização dos referenciais da bioética nas relações, já que a Bioética aspira aos grandes
desafios que historicamente a humanidade sempre almejou: a dignidade humana, a qualidade
de vida, a justiça, a autonomia. Educar para a autonomia é ensinar a buscar a realização e não
a destruição. Este é o verdadeiro significado de uma educação voltada para a Bioética e cada
geração necessita fazer esse esforço.
A Bioética é eminentemente atual. Perdida a inocência da Ciência, ocupa hoje
importantíssimo lugar e se torna referência indispensável para diferentes áreas do saber,
“avassaladora”, lhe chamou Luís Archer, “uma generosa utopia para o século XXI”, definiu
Daniel Serrão. (CARVALHO; OSSWALD, p. 68, 2003)
A defesa de seus princípios e referenciais, por meio da Educação, tem o poder de
conduzir à “felicidade”, desejo último de qualquer ser humano e defendido, através dos
séculos, por filósofos, poetas, escritores, políticos, psicólogos, sociólogos...
Assim como Kant, é preciso que professemos uma fé incondicional no progresso da
humanidade em direção à perfeição moral: pois cultivar o que é racionalmente correto e
moralmente útil necessita ser repetido geração a geração.
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Na Educação, a Ética representa importante tema de estudo, vez que na atualidade o
grande problema das sociedades é o agir humano. A competição, a violência, a solidão, os
preconceitos, o valor da vida, a cidadania requerem reflexão orientada para a Ética.
E apesar de todos nós vivermos os efeitos do sistema de vida atual, que parece
desconhecer os princípios da Ética, é necessário que não se perca de vista o que salientou
brilhantemente Paulo Freire: “Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da
decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-
nos como sujeitos éticos”, nem esquecer “de sublinhar a nós mesmos, professores e
professoras, a nossa responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente”.
Mesmo com todos os empecilhos para se educar, ainda existem muitos professores
cumprindo com excelência o seu papel, com vocação, o que significa ter afetividade, gostar
do que faz, ter compromisso, competência e, primordialmente, acreditar que mesmo não
podendo transformar o mundo inteiro, a semente, a prática educativa crítica e construtiva,
poderá germinar, desde que plantada verdadeiramente em bons solos – nossos corações.
Assim, a educação, entendida como possibilidade de ação conjunta para melhorar a
sociedade em que se vive, não pode se eximir de refletir sobre seu papel de empreender
esforços para tudo que puder contribuir para melhorar o entendimento e a aplicabilidade dos
conceitos e reflexões possíveis a partir da ética.
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Maria Candau: "Educação e Direitos humanos: uma proposta de trabalho". Fundamentação
teórica da publicação Oficinas – Aprendendo e Ensinando Direitos Humanos. Programa
Nacional de Direitos Humanos. Secretaria de Segurança Pública da Paraíba. João Pessoa:
1999; p.13-25.
SUZAR, R. Autonomia? Como usar isso na Educação? Disponível em:
http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=12&texto=714. Acesso em 28:
jun. 2007.
16
VECCHIA, A. M. D. Educação e afetividade em Paulo Freire: pedagogia da autonomia.
Disponível em: http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/ed06_art03.php. Acesso
em: 10 jun. 2007.
WALKER, R. Kant: Kant e a lei moral. São Paulo: UNESP, 1999.
ZANCANARO, L. Bioética e Educação: um novo desafio para a Escola. O Mundo da
Saúde, São Paulo, ano 29 v.29 n.3 jul./set. 2005. 411-17.
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DIMENSÕES ÉTICAS DA EDUCAÇÃO: BREVES CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA OBRA PEDADOGIA DA AUTONOMIA, DE PAULO FREIRE

  • 1. DIMENSÕES ÉTICAS DA EDUCAÇÃO: BREVES CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA OBRA PEDADOGIA DAAUTONOMIA, DE PAULO FREIRE ETHICAL DIMENSIONS OF EDUCATION: SHORT CONSIDERATIONS THROUGH PEDAGOGY OF AUTONOMY, BY PAULO FREIRE Selma Aparecida Cesarin1 “A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar.” Paulo Freire RESUMO: Neste artigo, procurou-se refletir sobre as dimensões éticas da educação. A rigor, a educação só tem sentido se for absolutamente ética, ética essa que só se atinge por meio da reflexão. Os tempos atuais não permitem mais que a educação seja entendida somente como o espaço físico da escola, nem o aluno reduzido a mero receptáculo de informações técnicas. A educação abrange ações coletivas e exige que as posturas éticas sejam defendidas e disseminadas, já que o processo educativo está em todas as realidades em que a ação humana se manifesta. Como afirma Paulo Freire, por ser especificamente humana, a prática docente é profundamente formadora e, em consequência, tem de ser ética. E, como já defendia Kant, o progresso moral só pode ser entendido como “progresso da razão”. Este progresso é infinito e necessita que cada geração o cultive. Palavras-chave: Ética e educação. Pedagogia da Autonomia. Educação e bioética. Moral e Ética. ABSTRACT: This article tries to show reflections about ethical dimensions of Education. In reality, Education only has meaning if it is an ethical one, and this Ethics can only be achieved through reflection. The present time does not allow that Education is comprehended only as school plant, nor student as a simple box to receive technical information. Education involves actions in group and demands that ethical attitudes are defended and disseminated, since educational process is present in all human action realities. As Paulo Freire asserts, since teaching practice is deeply a formation practice, consequently it must be ethical. And as defended Kant, Morals progress can only be understood as a “rational progress”. This progress is infinite and it needs each human generation keeps it up. Keywords: Ethic and Education. Pedagogy of Autonomy. Education and Bioethic. Morals and Ethics. 1 Mestre em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo; advogada; professora de Bioética, Ética, Direito, Língua Portuguesa e Língua Inglesa.
  • 2. INTRODUÇÃO Para Aristóteles, Ética é a filosofia das coisas humanas, um saber que visa a orientar racionalmente o agir humano. A partir da certeza de que Educação é um fazer essencialmente humano (a rigor, “educar a ação”) ela tem de ser ética, principalmente considerando-se que a formação do sujeito ético depende da educação que ele receber em seu meio acadêmico/familiar/cultural, e no constante processo de interação com esse meio. Ao se falar em educar para a vida moral, fala-se em criar condições para que os educandos venham a se tornar sujeitos autônomos, com capacidade de (re)pensar e decidir por si próprios. Entretanto, não se trata aqui de simples “autonomia”. A autonomia que a educação deve incentivar e buscar tem de ser aquela em que haja a vontade do educando de respeitar e reconhecer a importância do outro, de fazer escolhas éticas, buscando seu bem-estar e o da coletividade, de ser capaz de não prejudicar e de realizar processos de alteridade com os outros seres da raça humana. Assim, a sala de aula (e todo o ambiente educacional) deve ser espaço para estimular a reflexão, a cooperação e o diálogo. Paulo Freire (2007) esclarece que sejam os docentes formados ou estejam em formação, devem ter plena consciência que formar um aluno é muito mais que treinar e depositar conhecimentos simplesmente, é mais do que ensinar técnicas de desenvolvimento e, para essa formação, necessita-se de ética e harmonia. Ele complementa, ainda, que ambas – ética e harmonia – precisam estar vivas e presentes na prática educativa, sendo esta a responsabilidade do professor. 2
  • 3. ÉTICA E MORAL: DISTINÇÃO E DEFINIÇÕES Questão sempre suscitada quando se fala em ética e moral é se há ou não distinção entre elas. Autores e filósofos há que defendem a mesma definição para ambas. Outros defendem haver diferenças cruciais entre uma e outra, posição que aqui se defende. Segundo Russ (1999, p. 8-9), a etimologia em nada ajuda na tarefa de resolver este impasse: ta êthé (em grego, os costumes) e mores (em latim, hábitos/costumes) possuem, com efeito, acepções muito próximas uma da outra e, mesmo sendo o termo “ética” de origem grega, e o termo “moral” de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos: à ideia de costumes, de hábitos, de modos de agir, determinados pelos usos e costumes. Contudo, apesar da semelhança – quase paridade – que a análise etimológica indica, há de se fazer a distinção entre ética e moral. A primeira é mais teórica que a segunda. A ética se esforça por desconstruir as regras de conduta que formam a moral, os juízos de bem e de mal. O que a ética designa, então? Não uma moral, a saber, um conjunto de regras próprias de uma cultura, mas sim uma doutrina que se situa além da moral, racionada sobre o bem e o mal, os valores e os juízos morais. Em suma, a ética desconstrói as regras de conduta, desfaz suas estruturas e desmonta sua edificação, para se esforçar em descer até os fundamentos ocultos da obrigação. (RUSS, 1999, p. 9) Assim, a diferença básica entre ética e moral consiste que na primeira há reflexão crítica e escolha individual. Ainda, segundo Boff (2003, p. 58), a ética é parte da filosofia, a moral é parte da vida concreta; a ética é da ordem prática e não da teoria, à qual pertence a moral; a ética examina a ação; a moral, o conhecimento. Assim, é possível traçar o seguinte quadro quanto à distinção entre ética e moral: 3
  • 4. MORAL ÉTICA Valores humanos (não têm preço); Valores humanos (não têm preço); Origem no latim more = costume humano; Origem no grego ethos = costume/conduta; Valores morais – desenvolvidos pelos usos e costumes de determinada sociedade; Valores éticos – juízo crítico sobre valores que frequentemente estão em conflito e que implica opção; Não há conflito; Pode haver conflito/dilema (di = dois / lema = caminho); Pode variar de sociedade para sociedade ou de uma época para outra (na mesma sociedade); Varia de indivíduo para indivíduo; De fora para dentro, isto é, da sociedade para o indivíduo; De dentro para fora, isto é, do indivíduo para a sociedade; Todo cidadão tem de respeitar porque pertence à sociedade; Não é a sociedade que escolhe, é o indivíduo, ainda que leve em conta os valores morais; Não há reflexão crítica, há aceitação; há introjecção; é social. Pressupõe dilema, não há aceitação sem reflexão crítica; é pessoal. Fonte: desenvolvido pela autora, com base em notas de aula (anotações manuscritas). Mestrado em Bioética. Disciplina: Fundamentos da Bioética (professor William Saad Hossne, 2007). Segundo Russ (1999, p. 11), uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados na sociedade na qual vive; valores esses que podem até vir a ser questionados pela ética, e é uma pessoa ética quando se orienta por princípios e convicções, assumidos mediante reflexão crítica pessoal. Portanto, uma pessoa pode ser moral (segue os costumes, mesmo que só por conveniência), mas não necessariamente ética (não obedece a convicções e princípios). EDUCAÇÃO: DIMENSÕES ÉTICAS E PROCESSO REFLEXIVO Considerando-se que o ser humano não nasce ético, torna-se ético, o papel da educação nesta formação é crucial. E considerando-se, ainda, que o cotidiano mundial é hoje marcado por conflitos de toda ordem, que cada vez mais oprimem os educadores/educandos 4
  • 5. em formação, é preciso que esses educadores e as entidades educativas, apesar das dificuldades, pautem suas ações por princípios éticos e vejam a sala de aula como espaço privilegiado para aprofundar e vivenciar o agir ético (Paviani, 2005), já que a dimensão ética da educação é inegável. As condições atuais de vida, a velocidade das informações, a efemeridade das relações, e o aparente descaso com valores e virtudes, entre eles, o próprio desvalor dado à vida humana, que é tida como se nada fosse, parecem fazer com que tudo caminhe para um retorno à filosofia ética, devido à própria necessidade de sobrevivência do ser humano num mundo muito mais que possível: num mundo desejável. Esse retorno e o resgate do ser humano ético deve se dar pelos instrumentos da Educação e, no Brasil, como no resto do mundo, nas últimas décadas, tem havido intensa preocupação com a educação em e para valores, que surge como inspiração para muitas iniciativas, seja na esfera da produção acadêmica, seja no âmbito das práticas pedagógicas. A necessidade da ética nas relações cotidianas não permite mais uma atitude que privilegia o indivíduo em detrimento à coletividade: os problemas de ordem ética se iniciam muito cedo e percorrem os caminhos do processo ensino-aprendizagem, com ênfase na forma como o educando vivencia esse processo, com orientação do professor/formador que, segundo Paulo Freire, precisa conhecer um saber necessário ao professor: que ensinar não é somente transferir conhecimento, mas ensinar precisa ser um processo apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões ontológicas, políticas, éticas, epistemológicas, pedagógicas, que precisa ser constantemente testemunhado, vivido. A educação encontra-se hoje em profunda crise, que provém dos questionamentos lançados à própria Educação e seu papel na formação do indivíduo/cidadão e da sociedade. Nesse momento de crise, a reflexão crítica é o caminho para que se façam as escolhas certas, norteadas pela ética e, nesse patamar, os princípios e referenciais da Bioética são 5
  • 6. instrumento primordial. Ao se preocupar com a justiça, a beneficência, a não-maleficência, a autonomia, a afetividade, a dignidade, a solidariedade, a vulnerabilidade, a responsabilidade, a qualidade de vida, a confidencialidade... educador e educando exercem, enquanto se relacionam, o poder de escolha em prol do bem-estar da coletividade e da sua melhor formação. Um dos alicerces da Bioética é, sem dúvida, as relações: relações entre pessoas, entre organismos, entre entidades, entre vidas... e a necessidade da ética nas relações cotidianas e no processo ensino-aprendizagem não permite mais uma atitude que privilegia o indivíduo em detrimento da coletividade. A Educação não tem apenas a dimensão instrumental e técnica que muitos lhe atribuem. Em sua dimensão (bio)ética, ela é fundamentalmente criadora de valores que podem tornar os seres humanos melhores e, assim, mais capazes de ser e de fazer os outros felizes. Portanto, deve-se estimular a solidariedade, o respeito à liberdade e à autonomia, o sentido de justiça, o bom senso e a afetividade. NATUREZA ÉTICA DA PRÁTICA EDUCATIVA Segundo Paulo Freire (2007, p. 72), “A prática docente, especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética”. Não há como negar que à educação cabe sensibilizar as atuais e as novas gerações para o problema da ética como fundamento da vida humana e ajudá-las a formar competências para que possam participar ativamente desse processo de formação. Entendido aqui que esta não é só uma tarefa da Escola, mas de toda a sociedade. Para Goergen (1979): [...] encontramo-nos no limiar do surgimento de uma nova consciência, principalmente face às perspectivas que a ciência e a 6
  • 7. tecnologia abrem à intervenção nos segredos da vida. O projeto moderno pode tomar novos rumos e a discussão do tema da ética é de imensa atualidade. A educação, por sua vez, estaria relacionada a este contexto como estimuladora desta nova consciência. A assertiva de Lepargneur (2005, p. 387) de que “o futuro de um país se prepara na educação” é inquestionável. E é nessa preparação que o papel da (bio)ética é fundamental, já que a noção de ética remete a alternativas e escolhas que decidem o destino do ser humano. Considerando-se a importância da formação para a construção de um destino individual e coletivo de qualidade e com base nas ações e decisões éticas, a educação atual não pode ser reduzida à informação factual: ela, por si só, já envolve capacitação de escolha e juízos e assim deve se apresentar para o educando: como um caminho que leve à reflexão e indique – mas não imponha, as escolhas éticas possíveis e desejáveis. Assim, Educação e (bio)ética constituem hoje dois fatores insubstituíveis e obrigatórios para a universalização da cultura e do humanismo. Freire deixa claro que a ética a qual se refere é a ética universal e diz que “a melhor maneira de por ela lutar é vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas relações com eles.” (FREIRE, 2007, p. 17) É necessário que educadores e educandos se conscientizem de sua presença no mundo, como seres formadores desse mundo. Essa consciência leva a refletir e pensar a vida como possibilidade “de ser mais e melhor” e Paulo Freire anuncia a solidariedade como forma de luta capaz de promover e instaurar a “ética universal do ser humano”, o que vai permear, também, o processo educativo. (FREIRE, 2007, passim) Os inúmeros desafios do futuro tornam a educação verdadeiro trunfo para a construção dos ideais de paz, de liberdade, de justiça, de preservação do mundo no qual se vive. 7
  • 8. Assim se posicionou Paulo Freire, em sua Pedagogia da Autonomia, ao defender que a luta dos professores pela dignidade de sua função não só é democraticamente importante, bem como pode ser interpretada como prática ética. Trata-se, acima de tudo, de aprender a conviver, conhecendo aqueles com quem se convive, respeitando-os em todas as escolhas de suas vidas sem “manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe” (Freire, 2007, p.16), praticando a afetividade e a empatia. Assim, conforme redação do Relatório da UNESCO: Educação – um Tesouro a descobrir: “ajudar a transformar a interdependência real em solidariedade desejada, corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. Deve-se, para isso, preparar cada indivíduo para compreender a si mesmo e ao outro, através dum melhor conhecimento do mundo”. Desta forma, para servir como agente instigador dessa transformação, os educadores devem ter postura ética na vida, no pensar, falar, agir, ensinar e aprender. Mas o papel do educador é complexo e delicado, e deve estar revestido de características essenciais. Para Freire, ensinar exige rigor metódico; pesquisa; respeito pelos saberes dos educandos; criticidade; estética e ética; corporificação das palavras pelo exemplo; risco, aceitação do novo e rejeição de qualquer forma de discriminação; reflexão crítica sobre a prática; reconhecimento e assunção da identidade cultural; consciência do inacabado; respeito pela autonomia do educando; bom senso; humildade, tolerância e luta na defesa dos direitos dos educadores; apreensão da realidade; alegria e esperança; convicção de que a mudança é possível; curiosidade; segurança, competência profissional e generosidade; comprometimento; compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo; liberdade e autoridade; tomada consciente de decisões; saber escutar; reconhecimento de que a educação é ideológica; disponibilidade para o diálogo e querer bem aos educandos. Portanto, é primordial o cuidado amoroso, afetivo e solidário do educando. Assim, 8
  • 9. não é possível que o educador não se posicione. Segundo Paulo Freire: Em tempo algum pude ser um observador "acinzentadamente" imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética. Quem observa o faz de certo ponto de vista, o que não situa o observador em erro. O erro na verdade não é ter certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele. (FREIRE, 2007) Resta claro, portanto, que se, como educadores/formadores, o que se quer é transmitir valores às novas gerações, não é mais possível limitar o processo ensino-aprendizagem à dimensão dos conteúdos intelectuais, transmitidos por intermédio da docência. É necessário que se vá muito mais além: lidar verdadeiramente com a dimensão (bio)ética desse processo é ação profunda e transformadora, já que se faz necessário que os valores e as virtudes sejam muito mais do que só transmitidos: eles precisam ser vividos, por meio das práticas educativas e no decorrer dos acontecimentos. Os educadores/formadores necessitam viver os referenciais (bio)éticos com os alunos, fazendo-se presentes na vida dos educandos, de forma construtiva, emancipadora, solidária, afetiva – repleta de bem querer a esse educando, já que educar não é depositar conteúdo técnico num ser em formação, é, antes, criar espaços para que o educando possa empreender ele próprio a construção do seu ser, ou seja, a realização de suas potencialidades em termos pessoais e sociais. Nesse sentido, é esclarecedora a posição de Nascimento quando afirma: A questão ética não se restringe ao plano da aceitação das normas socialmente estabelecidas nem se reduz ao problema da criação dos valores por uma liberdade solitária. Nasce na existência concreta de cada um, da consciência dos valores envolvidos no reconhecimento da inalienável dignidade da pessoa e do sentido da responsabilidade pessoal diante do outro, cujo rosto é um apelo constante a ser respeitado e promovido. (NASCIMENTO, 1984, p. 16). É inegável, portanto, que a busca de uma educação e de educadores que realmente trabalhem para a construção de uma sociedade mais digna, mais feliz, mais respeitável, e que contribuam para que os educandos consigam ter uma vida melhor, que leve ao sucesso, com 9
  • 10. qualidade, criando sensibilidades que se impõem como novas temáticas para a educação é o caminho essencial quando se fala na dimensão (bio)ética da educação. Na verdade, a educação só tem sentido se for intrinsecamente ética, repleta de atitudes éticas, cuja concretização deve se dar no indivíduo e, por extensão, na coletividade. A educação nasce de um projeto social na medida em que este está impregnado de ideias, valores e reflexões sobre as perspectivas futuras. Portanto, é evidente que a ética é expressão autêntica de um projeto de homem e de sociedade. Neste projeto, em momento algum o professor pode desprezar sua formação científica, mas esta também tem de ser pautada na ética. Paulo Freire (2007) faz questão de deixar claro que: O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta. Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de aprender com o diferente, não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá- lo do que não fez, são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar. A situação atual, o repensar do papel de cada um na sociedade e na (trans)formação de um mundo possível e desejável tem conduzido “os homens de bem” (Mattos, 2007) a questionamentos profundos, difíceis e, muitas vezes, doloridos. A reflexão ética é basilar neste momento crucial e um dos objetivos da Bioética é fazer reflexões e levar a reflexões a fim de tornar possível o princípio da dignidade da vida, pois a ética é condição essencial para a cidadania. Assim, a Bioética é valioso instrumento de reflexão e ação para auxiliar o homem a enfrentar os questionamentos sobre o que o angustia. O estudo e a concretização da dimensão (bio)ética da educação, apesar de parecer limitada somente às atitudes no processo ensino-aprendizagem, trata-se de muito mais, pois dessa dimensão micro deve-se caminhar e se expandir cada vez mais para a macro, norteando o educando em todos os momentos e diretrizes de suas escolhas. 10
  • 11. Segundo Sime (1999, p. 272), uma proposta educativa que tenha como eixo central a vida cotidiana e que queira recuperar o valor da vida, no sentido radical, tem de desenvolver de forma criativa certos aspectos básicos. Para ele: Deve haver pedagogia de indignação e que diga não à resignação. Não queremos formar seres insensíveis, e sim capazes de indignar-se, de escandalizar-se diante de todas as formas de violência. A atividade educativa deve ser espaço onde expressamos e compartilhamos a indignação através dos sentimentos de rebeldia contra o que está acontecendo. Segundo análise de Sime, muitas vezes os processos educativos atuais se mostram impermeáveis à realidade do contexto social nos quais se inserem e o cotidiano educacional transforma-se em mundo à parte, que simplesmente ignora o cotidiano social. Mais do que isso, em muitas ocasiões, sequer há espaço para que os diferentes sujeitos possam se expressar e refletir sobre a estruturação do seu dia-a-dia, de suas famílias e comunidades. A rigor, as práticas educativas e a vida parecem ser dois mundos que se ignoram. Romper com essa desarticulação tem de ser inquietude básica da educação ética. Deve-se deixar claro, aqui, que a indignação e a rebeldia não significam estímulo à violência, à confusão ou ao início de conflitos materiais. Trata-se, isto sim, de superar toda indiferença diante das violações dos direitos humanos que se multiplicam em nossas sociedades e que também estão presentes nas práticas educativas, por meio de questionamentos e de resolução de conflitos que conduzam cada vez mais à defesa e aplicação dos referenciais da (bio)ética. DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO VINCULADAAO SOCIAL A dimensão ética da educação tem implicações sociais na cidadania e o componente ético é fator chave nos processos educacionais. É necessário que se lute para que a educação suscite valores de responsabilidade pessoal, consideração pelos outros e respeito mútuo face às diferenças e divergências. 11
  • 12. A capacidade e a vontade de estabelecer princípios que orientem o agir cotidiano, seja no âmbito individual, seja no âmbito coletivo, podem ser designadas como disposição ética. A educação tem caráter ético na medida em que orienta a ação dos diferentes sujeitos numa instituição educacional, pois por meio dela buscam-se soluções e alternativas para os problemas da existência humana. A dimensão ética da educação está vinculada ao social, significando os costumes culturais, valores, tradições e tudo aquilo que se refere a determinado modo de viver em coletividade, de viver o nós. Ela é a expressão do querer-viver global e irreprimível porque expressa o desejo de continuidade de um conjunto social e a responsabilidade que se assume em relação a essa continuidade. A ética remete ao equilíbrio e à relativização dos diferentes valores que formam um conjunto social. Esse conjunto social necessita ser, literalmente, “cuidado” e Leonardo Boff (2003, p. 50) defende que “a ética que cuida e ama é terapêutica libertadora”. Segundo Marilena Chauí: A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. Realiza-se plenamente quando interiorizamos nossa Cultura, de tal maneira que praticamos espontânea e livremente seus costumes e valores, sem neles pensarmos, sem os discutirmos, sem deles duvidarmos, porque são como nossa própria vontade os deseja. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conjunto das reflexões conduz à inquestionável assertiva de que a educação, em sua dimensão ética, é instrumento transformador e norteador para que educadores e educandos (re)pensem e (trans)formem não só o ambiente educacional, mas toda a coletividade, para que se atinja o mundo desejável, com qualidade de vida e cidadania pautadas na ética. E na construção de uma educação engajada, politizada, ética e, portanto, crítica, por meio do processo ensino-aprendizagem, a afetividade ocupa papel de destaque. 12
  • 13. Nesse caminho, Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, é uma obra que condensa os saberes necessários e indispensáveis a uma prática educativa coerente com os padrões éticos que regem a sociedade. Para que se conheça uma sociedade melhor, os educadores precisam se posicionar criticamente, questionando, orientando e incentivando os educandos a refletir criticamente. Entretanto, para assumir este compromisso, é primordial que o educador/formador o faça com ética, amor e alegria por ensinar. Além disso, a educação deve inspirar-se nos fundamentos da ética e se pautar com a concretização dos referenciais da bioética nas relações, já que a Bioética aspira aos grandes desafios que historicamente a humanidade sempre almejou: a dignidade humana, a qualidade de vida, a justiça, a autonomia. Educar para a autonomia é ensinar a buscar a realização e não a destruição. Este é o verdadeiro significado de uma educação voltada para a Bioética e cada geração necessita fazer esse esforço. A Bioética é eminentemente atual. Perdida a inocência da Ciência, ocupa hoje importantíssimo lugar e se torna referência indispensável para diferentes áreas do saber, “avassaladora”, lhe chamou Luís Archer, “uma generosa utopia para o século XXI”, definiu Daniel Serrão. (CARVALHO; OSSWALD, p. 68, 2003) A defesa de seus princípios e referenciais, por meio da Educação, tem o poder de conduzir à “felicidade”, desejo último de qualquer ser humano e defendido, através dos séculos, por filósofos, poetas, escritores, políticos, psicólogos, sociólogos... Assim como Kant, é preciso que professemos uma fé incondicional no progresso da humanidade em direção à perfeição moral: pois cultivar o que é racionalmente correto e moralmente útil necessita ser repetido geração a geração. 13
  • 14. Na Educação, a Ética representa importante tema de estudo, vez que na atualidade o grande problema das sociedades é o agir humano. A competição, a violência, a solidão, os preconceitos, o valor da vida, a cidadania requerem reflexão orientada para a Ética. E apesar de todos nós vivermos os efeitos do sistema de vida atual, que parece desconhecer os princípios da Ética, é necessário que não se perca de vista o que salientou brilhantemente Paulo Freire: “Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo- nos como sujeitos éticos”, nem esquecer “de sublinhar a nós mesmos, professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente”. Mesmo com todos os empecilhos para se educar, ainda existem muitos professores cumprindo com excelência o seu papel, com vocação, o que significa ter afetividade, gostar do que faz, ter compromisso, competência e, primordialmente, acreditar que mesmo não podendo transformar o mundo inteiro, a semente, a prática educativa crítica e construtiva, poderá germinar, desde que plantada verdadeiramente em bons solos – nossos corações. Assim, a educação, entendida como possibilidade de ação conjunta para melhorar a sociedade em que se vive, não pode se eximir de refletir sobre seu papel de empreender esforços para tudo que puder contribuir para melhorar o entendimento e a aplicabilidade dos conceitos e reflexões possíveis a partir da ética. REFERÊNCIAS ALENCAR, S. Resumo Crítico do livro de Paulo Freire. In: O Recado da Pesquisa. Disponível em: http://www.orecado.cjb.net. Acesso em: 28 jun. 2007. BALDAIA, A. Reler a "Pedagogia da Autonomia": um testamento de Paulo Freire. Jornal A Página, nº. 76, ano 8, janeiro, 1999, p.5. Disponível em: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=601. Acesso em: 2 jun. 2007. 14
  • 15. BARCHIFONTAINE, C. P. Perspectivas da Bioética na América Latina e o pioneirismo no ensino de bioética no Centro Universitário São Camilo, SP. O Mundo da Saúde – São Paulo, ano 29, v.29, n.3, nov./dez. 2005; 392-401. BOFF, L. Ética e Moral: a busca de fundamentos. Petrópolis: Vozes; 2003. CARVALHO A. S.; OSSWALD, W. Publicações Portuguesas em Bioética. Rev. Bioética – São Paulo, vol. 11, n. 2, 2003; p. 61-71. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2005. EDUCAÇÃO, um tesouro a descobrir (Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI). São Paulo: Unesco/MEC/Cortez, 1998. Disponível em: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=528. Acesso em: 14 jun. 2007. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35. ed. reimp. São Paulo: Paz e Terra, 2007. GOERGEN, P. Pós-modernidade, ética e educação. Campinas: Autores Associados, Coleção Polêmicas de nosso tempo. In José Luis Sanfelice. Educ. Soc., vol. 22, n. 76, Campinas, oct. 2006. Disponível em: www.revista@cedes.unicamp.br. Acesso em 10 jun. 2007. LEPARGNEUR, H. Onze reflexões sobre Educação e Bioética. O mundo da Saúde – São Paulo, ano 29, v.29, n.3, nov./dez., 2005: 387-391. MARTINS, R. M. Formação para Vida. Disponível em: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=34698&cat=Artigos. Acesso em 12: jun. 2007. MATTOS, G. Homens de bem. Disponível em: http://www.klickeducacao.com.br/Klick_Portal/Obras_Literarias/Obras/121/Gregorio_de_Ma tos_homens_de_bem.pdf. Acesso em: 29 jun. 2007. 15
  • 16. NALLINI, J. R. Ética geral e profissional. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. OSSWALD, W. O ensino de Bioética fora do âmbito das faculdades de Medicina. Bioética – vol. 11, n. 2, 2003: 27-32. PAVIANI, J. A dimensão ética da educação. In: Marcon, T. (org.) Educação e universidade, praxis e emancipação. Passo Fundo: EDIUPF; 1998. PAVIANI, J. Investigação ética. Rio Grande do Sul: Faculdade de Educação da UFRGS, 2006. RUSS, J. Pensamento Ético Contemporâneo (Coleção Filosofia em questão) Trad. Constança Marcondes César. 2. ed. São Paulo: Paulus; 1999. SILVA, E. A ética reflete o agir humano. Mundo Jovem: um jornal de ideias. São Paulo; fev. 2005: 5. SIME, L. Educación, persona y proyecto histórico, In Magendzo, A. Educación en Derechos Humanos: apuntes para una nueva práctica. Chile: Corporación Nacional de Reparación y Reconciliación y PIIE, 1994. Conforme citação sobre as ideias de L. Sime, em artigo de Vera Maria Candau: "Educação e Direitos humanos: uma proposta de trabalho". Fundamentação teórica da publicação Oficinas – Aprendendo e Ensinando Direitos Humanos. Programa Nacional de Direitos Humanos. Secretaria de Segurança Pública da Paraíba. João Pessoa: 1999; p.13-25. SUZAR, R. Autonomia? Como usar isso na Educação? Disponível em: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=12&texto=714. Acesso em 28: jun. 2007. 16
  • 17. VECCHIA, A. M. D. Educação e afetividade em Paulo Freire: pedagogia da autonomia. Disponível em: http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/ed06_art03.php. Acesso em: 10 jun. 2007. WALKER, R. Kant: Kant e a lei moral. São Paulo: UNESP, 1999. ZANCANARO, L. Bioética e Educação: um novo desafio para a Escola. O Mundo da Saúde, São Paulo, ano 29 v.29 n.3 jul./set. 2005. 411-17. 17