1. Anais
IX JornadaIX JornadaIX JornadaIX JornadaIX Jornada
Médico-Médico-Médico-Médico-Médico-Literária PLiterária PLiterária PLiterária PLiterária Paulistaaulistaaulistaaulistaaulista
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Regional do Estado de São Paulo
SOBRAMES-SP
Jundiaí - São Paulo - Brasil
27 a 30 de setembro de 2007
3. “““““A sabedoria consiste em comprA sabedoria consiste em comprA sabedoria consiste em comprA sabedoria consiste em comprA sabedoria consiste em compreendereendereendereendereender
que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.”que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.”que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.”que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.”que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.”
Ralph Waldo Emerson (1803-1882), poeta, ensaísta e filósofo norte-americano.
Tenho o prazer de apresentar os Anais da IX Jornada Médico-Literária Paulista, cujo
palco escolhido foi a aprazível cidade de Jundiaí. Aliás, local histórico para a nossa querida
Sobrames do estado de São Paulo, visto que, em 1991, há 16 anos,
ocorria aí mesmo a primeira da série.
Nossa entidade evoluiu ao longo do tempo, pois nossos costumeiros encontros
literários bienais, realizados pelo interior do estado, não eram, em suas primeiras versões,
registrados em livros. Além de nossa “imaturidade” administrativo-organizacional pela
pouca experiência de outrora, tínhamos parcos recursos humanos e insignificantes
condições financeiras do que ora dispomos, embora, atualmente,
ainda contamos com um restritíssimo e apertado orçamento.
Parece incrível acreditar, mas, à época, o microcomputador estava apenas
engatinhando(!), recurso então custoso, disponível a poucos privilegiados. A utilização do
microcomputador facilitou enormemente a vida e o trabalho, conquista essa que faz
recordar aforismos anacrônica e paradoxalmente seculares de Thomas Fuller (1654-1734),
escritor inglês: “a ação é o verdadeiro fruto do conhecimento”
e “nada é bom ou mau se não for por comparação”.
A confecção dos Anais das jornadas da Sobrames – SP, onde se registram os
trabalhos, seus respectivos autores, assim como os participantes, tornou-se factível com o
tempo e com o tirocínio de seus sucessivos administradores, possibilitando que os eventos
fossem devidamente guardados e melhor preservados das intempéries,
assim como da traição da memória.
Nesta IX Jornada Médico-Literária Paulista inscreveram-se previamente 18 autores
além de acompanhantes, totalizando 27 participantes. Neste livro encontram-se em suas 110
páginas, 27 textos em versos e 34 em prosas. Os participantes deste evento tiveram a
oportunidade ímpar de escutar diretamente dos autores, de viva voz, a apresentação de seus
trabalhos e prelibar seus conteúdos, além de fazerem perguntas
ou comentários que julgassem necessários.
Para aqueles que não tiveram a prazerosa oportunidade de participar desta jornada,
estes Anais registram mais um empreendimento da nossa querida Sobrames paulista. Por
fim, mas não menos importante, torna-se oportuno consignar nossos calorosos
agradecimentos aos diletos confrades Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes
Salun, que, de forma amistosa e carinhosa, não mediram esforços ao longo de nove meses
de trabalho, para que tudo pudesse ser feito da melhor forma possível.
Eis aqui o supra-sumo sobriamente exornado da IX Jornada Médico-Literária
Paulista, onde, em suas linhas se depreende o talento dos escritores e, nas entrelinhas, se
encontra tacitamente um singelo testemunho das virtudes de seus organizadores.
Helio Begliomini
Presidente de Sobrames – SP (2007-2008).
AprAprAprAprApresentaçãoesentaçãoesentaçãoesentaçãoesentação
4. 5
A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo,
foi fundada em 16 de setembro de 1988 e congrega mais de cem membros
titulares, acadêmicos, colaboradores, eméritos, honorários e beneméritos.
Basicamente a sociedade é constituída por médicos escritormédicos escritormédicos escritormédicos escritormédicos escritoreseseseses de literatura
NÃO-CIENTÍFICA, além de escritores de outras formações profissionais
(advogados, engenheiros, jornalistas, dentistas, arquitetos, etc..).
PPPPPizzas Literáriasizzas Literáriasizzas Literáriasizzas Literáriasizzas Literárias
Em 1989 surgiu a idéia de se reunir os colegas ao redor de uma mesa de pizza,
como acontecera por ocasião da fundação da entidade. A reunião mensal tornou-se
uma tradição e foi intitulada “Pizza Literária”. Desde então é realizada em uma
pizzaria de São Paulo, com uma freqüência que costuma beirar trinta pessoas. Nesta,
além de se saborear uma deliciosa pizza, tomar um chope e bater papo com os
amigos, tem-se a oportunidade de ouvir os trabalhos dos colegas e também apresentar
os seus. Tem-se, também, a possibilidade de encontrar colegas de outras
especialidades e formados nas mais diversas faculdades, além de sócios não médicos
das mais variadas profissões. Todos com uma paixão em comum: a literatura. As
reuniões de 2007 têm acontecido na terceira quinta-feira de cada mês, na pizzaria
BONDE PAULISTA, na Rua Oscar Freire, 1597 – à partir de 19h30.
Jornadas e CongrJornadas e CongrJornadas e CongrJornadas e CongrJornadas e Congressosessosessosessosessos
A cada dois anos a Regional de São Paulo promove uma Jornada Médico-literária.
Estas já se realizaram em diversas cidades do interior paulista:
JundiaíJundiaíJundiaíJundiaíJundiaí – de 27 a 29 de setembro de 1991
Bragança PBragança PBragança PBragança PBragança Paulistaaulistaaulistaaulistaaulista – de 28 a 30 de maio de 1993
SantosSantosSantosSantosSantos – de 24 a 26 de novembro de 1995
Campos do JorCampos do JorCampos do JorCampos do JorCampos do Jordãodãodãodãodão – de 28 a 30 de agosto de 1997
Águas de São PÁguas de São PÁguas de São PÁguas de São PÁguas de São Pedredredredredrooooo – de 16 a 19 de setembro de 1999
BotucatuBotucatuBotucatuBotucatuBotucatu – de 27 a 30 de setembro de 2001
Campos do JorCampos do JorCampos do JorCampos do JorCampos do Jordãodãodãodãodão – de 25 a 28 de setembro de 2003
SerSerSerSerSerra Negrara Negrara Negrara Negrara Negra - de 22 a 25 de setembro de 2005.
Nos anos pares é realizado um Congresso Nacional da SOBRAMES. Em 1994 e
1998, este ocorreu em São Paulo, organizado por nossa regional. O XXI Congresso
Brasileiro aconteceu de 20 a 23 de abril de 2006, na cidade de Maceió – AL.
A cidade de Fortaleza sediará o próximo congresso, em 2008.
Sociedade BrasileiraSociedade BrasileiraSociedade BrasileiraSociedade BrasileiraSociedade Brasileira
de Médicos Escritorde Médicos Escritorde Médicos Escritorde Médicos Escritorde Médicos Escritoreseseseses
Regional do Estado de São Paulo
5. 6
Eventos internacionaisEventos internacionaisEventos internacionaisEventos internacionaisEventos internacionais
Além da existência de regionais da SOBRAMES na maioria dos estados
brasileiros, seus membros também participam em algumas associações em outros
países, como é o caso da LISAME - Liga Sul Americana de Médicos Escritores,
com sede em Buenos Aires – Argentina; UMEM – União Mundial de Escritores
Médicos, com sede em Lisboa – Portugal, cujo congresso se realizou em Viana de
Castelo - Portugal, de 27 de setembro a 3 de outubro de 2004, contando com
representação da SOBRAMES paulista; UMEAL – União de Médicos Escritores e
Artistas de Língua Lusófona, com sede em Lisboa – Portugal, dentre outras.
PublicaçõesPublicaçõesPublicaçõesPublicaçõesPublicações
JornalJornalJornalJornalJornal - Desde 1992 a SOBRAMES-SP publica o informativo mensal “O
Bandeirante” que é distribuído aos membros da regional paulista, diversos
confrades de outras regionais, além de entidades culturais no Brasil e no exterior.
Por vários anos publicou o suplemento literário, as “Páginas Sobrâmicas”, trazendo
textos literários dos membros da Regional de São Paulo. À partir de 2001 a
publicação ganhou o título de “Suplemento Literário”, e continua sendo
publicado mensalmente, como encarte do jornal “O Bandeirante”.
Desde janeiro de 2007 o jornal “O Bandeirante” passou a ser distribuído pela
internet, para mais de 1000 destinatários no Brasil e no Exterior.
ColetâneasColetâneasColetâneasColetâneasColetâneas - A Sociedade já editou nove coletâneas com trabalhos dos membros:
“Por um Lugar ao Sol” (1990)
“A Pizza Literária” (1993)
“A Pizza Literária - segunda fornada” (1995)
“Criação” (1996)
“A Pizza Literária - quinta fornada” (1998)
“A Pizza Literária - sexta fornada” (2000)
“A Pizza Literária – sétima fornada” (2002)
“A Pizza Literária – oitava fornada” (2004)
“A Pizza Literária – nona fornada” (2006).
AntologiasAntologiasAntologiasAntologiasAntologias - Em 1999, editou-se a “I Antologia Paulista”, contendo todos os
trabalhos das “Páginas Sobrâmicas” nos seus dois primeiros anos de publicação
(abril 1997 a março de 1999). Em 2000 foi publicada a II Antologia Paulista, desta
vez com trabalhos inéditos dos sócios. A série de antologias continuou e já conta
com cinco volumes, tendo os demais sido publicados em 2001, 2003 e 2005. Em
setembro de 2007 está sendo lançada a VI Antologia Paulista.
Concursos literáriosConcursos literáriosConcursos literáriosConcursos literáriosConcursos literários
Em 1997, foi instituído o concurso para A Melhor Poesia do Ano, Prêmio
“Bernardo de Oliveira Martins” e, a partir de 1999, o concurso para A Melhor
Prosa do Ano, Prêmio “Flerts Nebó”, dos quais participam todos os membros da
SOBRAMES-SP que apresentam seu textos nas Pizzas Literárias. Estes certames
visam dar estímulo à criatividade dos autores membros da SOBRAMES, tendo em
vista a característica meramente diletante de seus participantes. Trimestralmente
acontece um desafio literário intitulado SUPERPIZZA, onde os escritores são
convidados a produzir um texto em prosa ou verso sobre um tema sugerido.
Em janeiro de 2007 foram introduzidos dois novos concursos que têm como
objetivo incentivar os integrantes da sociedade a participar de suas atividades.
Trata-se do “Prêmio Rodolpho Civile”, de Assiduidade
e o “Prêmio Aldo Mileto” de Melhor Desempenho.
6. 7
DirDirDirDirDiretoriaetoriaetoriaetoriaetoria
A cada dois anos a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do
Estado de São Paulo elege em assembléia uma nova diretoria.
Na atual gestão (biênio 2006/2007) a diretoria está assim composta:
PPPPPrrrrresidente:esidente:esidente:esidente:esidente: Helio Begliomini;
VVVVVice-price-price-price-price-presidente:esidente:esidente:esidente:esidente: Josyanne Rita de Arruda Franco;
PPPPPrimeirrimeirrimeirrimeirrimeiro-secro-secro-secro-secro-secretário:etário:etário:etário:etário: Maria do Céu Coutinho Louzã;
Segundo-secrSegundo-secrSegundo-secrSegundo-secrSegundo-secretário:etário:etário:etário:etário: Evanir da Silva Carvalho;
PPPPPrimeirrimeirrimeirrimeirrimeiro-tesouro-tesouro-tesouro-tesouro-tesoureireireireireiro:o:o:o:o: Marcos Gimenes Salun;
Segundo-tesourSegundo-tesourSegundo-tesourSegundo-tesourSegundo-tesoureireireireireiro:o:o:o:o: Lígia Terezinha Pezzuto;
Conselho FConselho FConselho FConselho FConselho Fiscal Efetivos:iscal Efetivos:iscal Efetivos:iscal Efetivos:iscal Efetivos: Flerts Nebó, Arary da Cruz Tiriba, Luiz Jorge Ferreira;
Conselho FConselho FConselho FConselho FConselho Fiscal Suplentes:iscal Suplentes:iscal Suplentes:iscal Suplentes:iscal Suplentes: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Geováh Paulo da Cruz,
Helmut Adolpho Mataré.
Como participarComo participarComo participarComo participarComo participar
Podem tornar-se membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores todos os
médicos, de qualquer especialidade, e todos os acadêmicos de medicina, em qualquer ano
do curso, mediante simples solicitação de sua inscrição, e bastando que sejam também
escritores de literatura NÃO-CIENTÍFICA, em qualquer gênero literário (romance,
crônica, conto, poesia, ensaios, etc.). Também podem tornar-se membros da
SOBRAMES-SP os ESCRITORES de qualquer outra formação profissional, apresentados
por outros membros da sociedade. A solicitação será aprovada mediante análise da
diretoria e existência de quorum na forma de seu estatuto. Os membros contribuem
financeiramente com uma anuidade de pequeno valor. Os custos de algumas atividades
da SOBRAMES-SP são pagos pelos participantes, como por exemplo,
despesas de hospedagem em congressos e jornadas e despesas de consumo nas
reuniões denominadas Pizzas Literárias.
Associe-seAssocie-seAssocie-seAssocie-seAssocie-se
Para obter outras informações sobre a SOBRAMES-SP ou para tornar-se membro,
envie correspondência para e-mail SOBRAMES@UOL.COM.BRSOBRAMES@UOL.COM.BRSOBRAMES@UOL.COM.BRSOBRAMES@UOL.COM.BRSOBRAMES@UOL.COM.BR.....
Pelo correio você poderá obter ficha de inscrição escrevendo para:
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Av.Prof.Sylla Mattos, 652 - apto. 12
Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP
CEP 04182-010
8. 9
IndiceIndiceIndiceIndiceIndice
Evanil PEvanil PEvanil PEvanil PEvanil Piririririres de Camposes de Camposes de Camposes de Camposes de Campos
Mistérios da Alma
Observações sobre o impressionismo
2727272727
Guaracy LourGuaracy LourGuaracy LourGuaracy LourGuaracy Lourenço da Costaenço da Costaenço da Costaenço da Costaenço da Costa
Eu receitei um desmaio
O Direito apregoa: a Vida é o Bem Maior
O início da vida do Ser Humano
Relato verdadeiro: minha viagem no tempo
4343434343
Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini
Dignidade, Ética e manipulação da Vida Humana
Misamply e Lolobay
Quimeras do tempo
Transcurso
4949494949
Geováh PGeováh PGeováh PGeováh PGeováh Paulo Da Cruzaulo Da Cruzaulo Da Cruzaulo Da Cruzaulo Da Cruz
A nanopoesia
Assombração
No meu tempo é que era bom
Pentafonia em Rô
3535353535
Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
A bondade universal
O argentino pitateado
2323232323
Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó
Ciúmes
O conto
Os folgados
Só
3030303030
José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo
Ao final, Criador... És?
Do laringo, ambu e assemelhados.
Reflexões a partir de um suicidado
5656565656
Aida Lúcia Pullin DalAida Lúcia Pullin DalAida Lúcia Pullin DalAida Lúcia Pullin DalAida Lúcia Pullin Dal
Sasso BegliominiSasso BegliominiSasso BegliominiSasso BegliominiSasso Begliomini
O jantar
O piano
O tempo
Oração a Deus Pai
1313131313
Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves
Síndico do Amor
Louvação à Bahia
Esperança
Elucubrações sobre a natureza divinal
1818181818
9. 10
MarMarMarMarMarcos Gimenes Saluncos Gimenes Saluncos Gimenes Saluncos Gimenes Saluncos Gimenes Salun
Cada coisa em seu lugar
Novo dia
Para uma palavra qualquer
Quinze poetrix
8282828282
Nelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson Jacintho
A alma do poeta
Erro de cálculo
O médico na feira
Que saudade
9595959595
RRRRRodolpho Civileodolpho Civileodolpho Civileodolpho Civileodolpho Civile
O milagre brasileiro
O Otelo do Bexiga
101101101101101
Zilda CormackZilda CormackZilda CormackZilda CormackZilda Cormack
Arestas
Costumes modernos
Espirradeira
O perú de Natal
105105105105105
LLLLLuiz Joruiz Joruiz Joruiz Joruiz Jorge Fge Fge Fge Fge Ferererererrrrrreiraeiraeiraeiraeira
Água lavada
Flap
Flip
Super-homem
7272727272
Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
Alameda dos ciprestes
Dormindo sob o arco-íris
Fantasia
Tercetos para Bilac
6666666666
Maria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho Louzã
O jardineiro e a paineira
Solidão
9090909090
Manlio Mario MarManlio Mario MarManlio Mario MarManlio Mario MarManlio Mario Marco Napolico Napolico Napolico Napolico Napoli
Diagnósticos e prognósticos
Prodígios dos pés da bailarina
7878787878
José RJosé RJosé RJosé RJosé Rodrigues Louzãodrigues Louzãodrigues Louzãodrigues Louzãodrigues Louzã
Alvorecer
Jundiaí
Os meus quadros
Um barulho estranho
6060606060
10. 11
IX JornadaIX JornadaIX JornadaIX JornadaIX Jornada
Médico-literária PMédico-literária PMédico-literária PMédico-literária PMédico-literária Paulistaaulistaaulistaaulistaaulista
Obras LiteráriasObras LiteráriasObras LiteráriasObras LiteráriasObras Literárias
Bem-vindos!Bem-vindos!Bem-vindos!Bem-vindos!Bem-vindos!
Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
Que bom é estarmos juntos
Tornando inesquecíveis nossas lembranças
Enchendo o ar de risos
E as mãos atadas com a esperança.
É tempo de sermos bem mais que amigos
Em torno à mesa, paz e bonança.
Na prosa e verso dizendo beleza
Na confraria que é nossa aliança.
A primavera há pouco chegou
Derramando flores aqui e ali
Trazendo ternura em letra e arte
Aos pés desta serra, em Jundiaí.
Que todos os dias nos sejam perfume
E cada noite nos seja estrelada,
Luzindo a lua e os vaga-lumes
Na alegria da IX Jornada.
11. 13
Aida Lúcia PullinAida Lúcia PullinAida Lúcia PullinAida Lúcia PullinAida Lúcia Pullin
Dal Sasso BegliominiDal Sasso BegliominiDal Sasso BegliominiDal Sasso BegliominiDal Sasso Begliomini
Engenheira
São Paulo - SP
O jantarO jantarO jantarO jantarO jantar
No ar uma mistura de madeira queimada e uma leve essência de canela e
cravo. O aconchego do interior contrastava com a noite fria e escura vista através da
vidraça. O vinho pela metade em taças enormes estava sendo degustado de forma
que durasse o suficiente para eternizar aqueles momentos.
A conversa fluía com tanta facilidade, fruto de uma intimidade adquirida ao
longo dos anos de convivência. Viagens inesquecíveis eram relembradas, momentos
familiares importantes eram comentados, os amigos eram enumerados.
A comida fora só um detalhe a mais. Pasta al dente escondida numa enorme
salsa de camarões, vôngoles, tomatinhos pouco apurados, partidos ao meio e salpicada
por pedacinhos de alhos bem crocantes, em vez de queijo ralado umas boas colheradas
de salsinha picada.
Ao fundo, suavemente não querendo incomodar uma seleção de bossa nova
como que cantada ao pé do ouvido.
O olhar de um encontrava o do outro e uma química perfeita os envolvia,
pequenas delicadezas eram trocadas enquanto que o roçar das mãos, em uma
demonstração clara de carinho produziam sensações conhecidas e aqueciam mais
ainda aquela sala já quente pelo calor da lareira.
O riso rolava solto, principalmente após as taças de vinho. Estavam apaixonados
e tudo naquele momento levava a aflorar ainda mais esse sentimento.
O chocolate quente derretido do petit gateau contrastava com o gelado do
sorvete de creme acompanhado de grandes morangos vermelhos, produzindo uma
sensação gustativa fantástica.
Para finalizar um pequeno cálice de Amarula. O café expresso e a conta.
Prepararam-se para sair recolhendo e colocando os casacos esquecidos na
cadeira ao lado.
Abraçados, aconchegados, saciados e felizes se foram.
12. 14
O pianoO pianoO pianoO pianoO piano
Existem objetos na vida das pessoas que não valem somente o quanto pesam.
Quem tem um piano, sabe exatamente o que estou falando.
Desde que me conheço por gente, e olha que já posso contabilizar algumas boas
décadas, o piano de tonalidade escura, quase negra, bem polido, austero, envolto
numa certa áurea de tradição sempre esteve presente num canto nobre da sala de
nossa casa.
Ele fora adquirido anos antes por minha mãe com muito sacrifício, tão logo ela
se formou em engenharia e conseguiu seu primeiro emprego como professora da
Escola Politécnica. Ainda criança, ao redor dos cinco anos fui introduzida no universo
da musica, sendo alfabetizada nessa área por uma professora que morava algumas
casas abaixo da nossa. Lá ia eu pequenina, aprender a tocar as teclas desse instrumento
tão maravilhoso. Dessa época me recordo muito bem de ter conseguido aprender o
“Peixe vivo”, canção popular, que muitos anos após vim, a saber, ser uma das preferidas
de Juscelino Kubitchek. Minha mãe tocava piano muito bem e algumas vezes
pedíamos algumas músicas que no nosso universo infantil eram as mais apreciadas.
Uma que recordo ser a nossa preferida era a que tinha uma arvore de natal na capa
da partitura. Só que queríamos que ela tocasse a capa e não a partitura.
O piano também era associado a alguns momentos doces, como quando sentada
praticando alguns exercícios, escutava a buzina do carro de meu pai e sabia que tinha
voltado do mercado e com certeza traria o chocolate “Diamante Negro” que eu tanto
gostava.
Um pouquinho maior fui ter aulas de piano no colégio das freiras onde cursei
o primário e era semi-interna. Ate hoje não entendo por que as minhas outras irmãs
também não foram introduzidas ao estudo da musica. Nessa fase, alem das aulas
práticas, tinha aulas de solfejo que eu executava, sem entender exatamente porque
era necessário ficar levantando e abaixando a mão ao ritmo de um compasso
finalizando com um suave toque na mesa.
Era comum no colégio as apresentações musicais para os familiares. Começava
com uma bandinha que eu e minhas irmãs menores participávamos, ora tocando,
reco-reco, ora triangulo, ou outro instrumento que emitisse algum som diferente.
Nunca me esqueço que minha mãe nos levava ao cabeleireiro e fazíamos uns penteados
estranhos, altos e cheios de laquê. O ponto alto porem eram as apresentações de
piano. Na hora em que eu tocava o piano, alem da ansiedade e medo de errar uma
tecla, havia aquela emoção forte de estar conseguindo extrair através dos dedos nas
teclas duras do piano, sons melodiosos e harmônicos.
Um pouco depois durante a época do ginásio, ainda tive algumas professoras
de piano que vinham em casa dar aulas. Mas naquela fase os interesses eram outros e
eu fui aos poucos perdendo a motivação, em parte pela rebeldia típica dos adolescentes
e também por que fui percebendo que só conseguia tocar músicas com partituras na
frente. Na verdade o que eu mais queria era sentar no piano e tocar as músicas
13. 15
populares da época. Em geral as partituras eram defasadas anos em relação às músicas
que eu queria tocar e eu percebi que não conseguia tirá-las de ouvido. Tocava as
clássicas, mas sem me dar conta, fui me afastando do piano ate chegar um tempo em
que parei de tocar.
O piano continuava no canto da sala. Triste, pois a exceção de minha mãe
ninguém se interessava por ele. Após uma longa reforma na casa, ele foi transferido
para um salão e dominava com a sua austeridade o ambiente informal e sempre
cheio de jovens que vinham para os nossos bailes e festas.
Anos se passaram, os filhos saíram de casa, a família aumentou com a vinda dos
novos filhos, netos, tantos móveis trocados, sofás reestofados e ele lá.
Engraçado como ele se incorporou no espírito da família, apesar da falta de
cultura musical da nova geração.
Minha mãe a questão de alguns anos teve que se mudar para um apartamento.
Surgiu o dilema, o que fazer com o piano? Ela não mais tocava, devido ao estado
avançado de sua doença. Minhas irmãs e irmão também não. Mas, tal qual um membro
da família, ele não podia ser desprezado e muito menos entregue a alguém que não
lhe desse o devido valor.
Movida por um sentimento forte, quem sabe saudosismo da infância, lembranças
de momentos felizes vividos junto aos meus pais, avó e irmãos e que deixaram
um doce gosto de saudade levei o piano para casa. Coloquei o também num ponto
nobre da sala e quando o olho, não posso deixar de admirá-lo por tudo que ele já
presenciou e viveu no seio de nossa família.
Não me considero a dona dele, mas sim a guardiã de uma relíquia de família,
que espero algum dia seja levada por alguns dos netos ou quem sabe bisnetos que
venham se identificar com a música.
14. 16
O tempoO tempoO tempoO tempoO tempo
Do tempo se colhe o ontem, o hoje e o amanhã.
O ontem é uma caixa fechada,
Cuja chave no tempo se perdeu
Nela os caminhos foram traçados,
Reflexos de ações, reações e soluções.
Restando ao final
Simples lembranças de algo vivido,
Ou o que é pior, deixado de viver.
O hoje é o real
È o que efetivamente vivemos,
Para alguns é tão efêmero,
Para outros uma verdadeira eternidade,
Pode ser o início de tudo, o nascimento.
Ou o final derradeiro, a morte.
È o resultado dos atos do ontem,
Combinado com o que realizamos no agora.
Serão usados no amanhã
O futuro é arrojado,
Dele tudo se espera,
É nele que colocamos as mais altas expectativas
È nele que confiamos nossos sonhos
È para ele que rezamos todos os dias.
È dele que esperamos a felicidade
Passado, presente, futuro.
Três palavras simples,
Porém carregam com a força do seu sentido
A essência da vida
15. 17
Oração a Deus POração a Deus POração a Deus POração a Deus POração a Deus Paiaiaiaiai
Deus pai,Deus pai,Deus pai,Deus pai,Deus pai,
Por esse mundo tão conturbado,
Onde valores são ameaçados,
O bem e o mal são sinônimos
A humanidade ainda não percebeu
Que irmãos todos somos,
Dai-nos a vossa pazDai-nos a vossa pazDai-nos a vossa pazDai-nos a vossa pazDai-nos a vossa paz
Por este país,
Tão cheio de contrastes
Rico por natureza, pobre por opção,
Onde criancinhas são abandonadas,
Seviciadas, desnutridas e mal amadas.
PPPPPerererererdoai-nos por nossa omissãodoai-nos por nossa omissãodoai-nos por nossa omissãodoai-nos por nossa omissãodoai-nos por nossa omissão
Por esta cidade, metrópole do mundo,
Capital da solidão embora fervilhante de gente
Onde se vive com medo,
Carros blindados, vidros cerrados
RRRRRogai por nósogai por nósogai por nósogai por nósogai por nós
Por este bairro,
Favela de um lado, mansão do outro,
Jovens perdidos, drogados, em ambos os lados.
Reflexos de uma sociedade desestruturada
PPPPPrrrrrotejei-nos do malotejei-nos do malotejei-nos do malotejei-nos do malotejei-nos do mal
Por esta rua,
Pessoas ausentes, desconhecidas.
Muros altos, grades nas janelas,
Pseudo-segurança em guaritas precárias
TTTTTende piedade de nósende piedade de nósende piedade de nósende piedade de nósende piedade de nós
Por esta família,
Gerada com amor,
Alimentada na fé,
Educada na esperança de um mundo melhor,
Abençoai-nos com vossa graçaAbençoai-nos com vossa graçaAbençoai-nos com vossa graçaAbençoai-nos com vossa graçaAbençoai-nos com vossa graça
AmémAmémAmémAmémAmém
16. 18
Alcione de AlcântaraAlcione de AlcântaraAlcione de AlcântaraAlcione de AlcântaraAlcione de Alcântara
GonçalvesGonçalvesGonçalvesGonçalvesGonçalves
Médico psiquiatra
Tupã - SP
Elucubrações sobre a natureza divinal
Sabemos transpor montanhas mas não sabemos fazer impostores. É necessário
ser muito preciso, técnico e verossímil para poder enganar a todos. Só a precisão do
profissional pode levar a uma construção perfeita. A peça precisa ser burilada com
perfeição pelo seu arquiteto, para que suas formas e sua concepção, possam ganhar
contornos nítidos, e sua formosura depende, justamente, da junção de todos os
detalhes para que haja uma beleza harmônica, com leveza, singeleza e preciosismo.
Não se sabe se deva ou não ajuntar algo estranho, para que esta introdução possa vir
somar ao conjunto e acrescentar-lhe um tom exótico e ornamental. Da mesma forma
que LÚCIO COSTLÚCIO COSTLÚCIO COSTLÚCIO COSTLÚCIO COSTA e OSCAR NIEMEYERA e OSCAR NIEMEYERA e OSCAR NIEMEYERA e OSCAR NIEMEYERA e OSCAR NIEMEYER se juntaram para arquitetar o Plano
Piloto de BRABRABRABRABRASÍLIASÍLIASÍLIASÍLIASÍLIA, muitos mestres se associam para dar mais perfeição aos seus
projetos arquitetônicos. Não se sabe o modo como eles pressentem, mas, sempre
existe a possibilidade deles estarem sob a influência de uma percepção, palpite ou
presságio. Assim é que em determinadas obras, observam-se traços e características,
que destoam dos traços típicos, daquele que está gerenciando o projeto, e não se sabe
dar uma explicação plausível. Todos ficam estupefatos com certos detalhes, e a
explicação sempre será a de que uma intuição divina e espiritual atuou, dando aquele
toque especial ao projeto, modificando-o e, na maior parte das vezes, dá um toque de
singeleza e o faz destacar. Assim ficam marcadas certas obras, e, até mesmo nas fases
de execução, algo acontece que modifica o projeto original, parecendo um fato do
acaso, mas este “““““ACAACAACAACAACASO”SO”SO”SO”SO” foi proposital, justamente para chamar a atenção dos
incrédulos, tentando mostrar-lhes que a mão do ONIPOTENTEONIPOTENTEONIPOTENTEONIPOTENTEONIPOTENTE atua, quando menos
se espera.
Não penses que foi um simples acidente de decurso ou no percurso, mas o veja
como um fato modificador, algo que veio para dar um TOM DE DESTTOM DE DESTTOM DE DESTTOM DE DESTTOM DE DESTAQUEAQUEAQUEAQUEAQUE e
para ficar. Percebam que, sempre que isto acontecer, vai ficar uma MARCAMARCAMARCAMARCAMARCA, quer
queira ou não, pois alguém vai sempre se lembrar, que esta modificação não estava
prevista no projeto original. É a marca da espiritualidade, é o dom da mediunidade,
da sensibilização de todos aqueles que estão envolvidos na obra e que de um modo ou
de outro, vão contribuir para que algo ocorra.
17. 19
Tenha a certeza que: NADA ACONTECE AO ACANADA ACONTECE AO ACANADA ACONTECE AO ACANADA ACONTECE AO ACANADA ACONTECE AO ACASOSOSOSOSO. Haverá sempre a
mão de algo invisível, dirigindo os fatos que vão surgir, com uma precisão milimétrica.
É por isso que , muitas vezes, a modificação sai melhor do que aquilo que foi projetado,
e o construtor, não se dá conta desta ingerência dos planos espirituais, vindo lhes
trazer ajuda, melhorando o seu projeto ou, às vezes, buscando deixar um indício, de
que o ARQUITETO DO UNIVERSOARQUITETO DO UNIVERSOARQUITETO DO UNIVERSOARQUITETO DO UNIVERSOARQUITETO DO UNIVERSO,,,,, quer deixar suas marcas, para aqueles que
sabem detectar, que sabem distinguir, sabem ver e acreditam no fato presenciado.
Lembrem-se de TOMÉTOMÉTOMÉTOMÉTOMÉ! que mesmo integrando um grupo seleto e pequeno de
seguidores do CRISTOCRISTOCRISTOCRISTOCRISTO, não acreditou no que lhe disseram, sendo necessário a vinda
do MESTREMESTREMESTREMESTREMESTRE, para que ele constatasse a veracidade do fato. É por isto que, para os
seres humanos acreditarem, a espiritualidade amiga, deixa esses indícios, pois sabe
que o homem, revestido pela matéria, fica apegado a ela e a ela dá muito valor, às
vezes até um valor sobre humano, buscando atribuir principios que não são
verdadeiros, mas que justificam suas intenções, no sentido de explicar aquilo que
querem provar. Sempre isto ocorre: Todo aquele que quer demonstrar suas idéias,
busca qualquer meio, lícito ou ilícito, para explica-las e, assim, tentam convencer os
incrédulos ou a todos, de uma maneira até enganosa, falsa, irreverente e
sensacionalística. Não se sabe por que isto ocorre, mas, o que eles querem é ser
convicentes e, para tal, usam sofismas de uma forma eufemística para explicar estes
acontecimentos. Muitas vezes, o materialista é tocado por mãos divinas, para destoar
propositalmente e, assim, acordar aqueles que descuidaram de suas obrigações e
adormeceram, esquecendo de sua verdadeira missão; missão de investir e processar
aquilo que veio fazer, aquilo que precisa executar e transmitir como um exemplo
vivo, modificando o MEIOMEIOMEIOMEIOMEIO e transformando as MENTESMENTESMENTESMENTESMENTES, preparando-as para o
próximo milênio.
Assim atuam os nossos “INDUTORES”“INDUTORES”“INDUTORES”“INDUTORES”“INDUTORES”, na busca incessante de tocar os
incautos, transmitindo e induzindo-os a fazer o que não gostariam de fazer e, assim,
vai modificando, pouco a pouco, a geografia do conhecimento e a anatomia do saber.
Quanto mais pensamos mais extravasamos os nossos conhecimentos. É como uma
enorme caixa d’água que precisa de uma vazão cada vez maior, para poder jorrar seu
precioso líquido, que vai fecundar milhares de pomares, onde o botão precisa florescer,
desabrochar e onde a mão divina se socorre de uma pequenina abelha, que vai polinizá-
las, trazendo desta forma, belissimos exemplares que vão deixar boquiaberto todos
aqueles que jamais percebem essa influência divina. Sempre é assim, os que não
crêem, explicam estes fatos como um fato natural e corriqueiro. Mas, é a mão divina
que orienta, que dirige e arremata tudo o que vemos, tudo o que sentimos e tudo o
que presenciamos. Sejamos simplesmente observadores e veremos que a sublimidade
da NANANANANATUREZATUREZATUREZATUREZATUREZA é algo DIVINAL.DIVINAL.DIVINAL.DIVINAL.DIVINAL.
Tupã, 16 de Março de 1.997
18. 20
Esperança
Esperança é a última que morre!
Desilusão é a primeira que chega,
Para destruir nossos belos anseios.
Enquanto a primeira nos anima,
A segunda nos deprime e subestima.
A desilusão da esperança, neste mundo cão,
Que sufoca os desejos do homem em questão,
Deve ser combatida com firmeza e ação,
Com a esperança, que a desilusão, tropece e fique no chão
Deixando a esperança realizar seu desejo e ilusão.
Esperança é o verde clorofilado das folhas,
Que transforma a energia solar na fotossíntese,
Na troca bionica, de gazes oxigenados e carbonados,
Proporcionando a homeostase oxigenadora da natureza,
Assegurando ao homem o oxigênio, como elemento vital!
A desilusão, é o amarelo das folhas no outono,
Que ao perder a vitalidade, perde o verde da esperança,
Amarelando e estiolando, vão caindo no chão,
Proporcionando ao solo, proteção dos raios solares;
Assegurando ao homem, solo fértil e a Esperança da
Transformação.
Tupã, 18/10/2003 (09:30 às 09:55hs)
19. 21
Louvação à Bahia
Bahia dos meus amores
Bahia dos meus louvores
Bahia dos meus Santos
Bahia dos recantos
Bahia das festas de largos
Bahia dos meus Orixás
Bahia das baianas do Gantois
Bahia dos tabuleiros de Acarajés
Bahia das festas de Yemanjá
De Oxalá, o Senhor do Bonfim!
Bahia dos terreiros de Candomblé
Lembranças de Senhora da Federação
E de Menininha do Gantois
E um perfeito sincretismo
Entre os Santos e Orixás.
Tupã, 28 de Setembro de 1.996
20. 22
O síndico do amor
Aromas! fragâncias de rosas! delicadezas do vôo do colibri! uma efusão de
odores, sabores e pendores que enchem a infinitude da existência e procura no “ser”“ser”“ser”“ser”“ser”,
o real sentido de viver! Tombados, caídos, caixões deixados ao léu, ao vento das curvas
da vida, sublime sacrifício das tumbas dissolutas, ao longo do tempo, buscando o
objeto que preenche o espaço, deixado pelo vácuo da rápida e sofrida agonia. O
tempo presente, nos mostra bem claro, que a roda da vida circula e não para. Quem
fica esperando a caravana passar, acaba perdendo as oportunidades que a vida lhe
dá!. Levante amigo! Pegue a tua sina - e molde-a de modo que te aproximes do
diáfano véu que te separa das tuas verdadeiras virtudes,- impulsionadora do teu
progresso, da tua evolução e das tuas realizações neste plano existencial. Não te
amedrontes, não afines, não receies diante das dificuldades da vida, pois, elas são
necessárias para o burilamento do seu viver, como os dentes de uma engrenagem que
se associam e se encaixam, numa perfeita harmonia, para dar prosseguimento ao
movimento, produzindo uma força geratriz do progresso. Utilizes de tudo que esteja
ao teu alcance, desde uma pequenina e milimétrica peça, até uma gigantesca e pesada
máquina; tudo o que for necessário para se entrelaçar e formar uma corrente geradora
de vida, geradora do AMORAMORAMORAMORAMOR, combustível indispensável da psiquê humana. Amor
que deve ser administrado por nós mesmos, como um verdadeiro timoneiro, guiando
sua locomotiva através da estrada da vida, em busca da PERFEIÇÃOPERFEIÇÃOPERFEIÇÃOPERFEIÇÃOPERFEIÇÃO, do
ABSOLABSOLABSOLABSOLABSOLUTOUTOUTOUTOUTO e da DIVINDADEDIVINDADEDIVINDADEDIVINDADEDIVINDADE, para doar-se num verdadeiro holocausto e se
regozijando pelo simples fato de servir e defender os interesses do nosso próximo.
Este é o mais SUBLIMESUBLIMESUBLIMESUBLIMESUBLIME e PURO AMORPURO AMORPURO AMORPURO AMORPURO AMOR!
Tupã, 15 de Abril de 1.997
21. 23
A Bondade UniversalA Bondade UniversalA Bondade UniversalA Bondade UniversalA Bondade Universal
Não se trata de carolice, proximidade com alguma religião ou exercer a prática
nefasta do maniqueísmo. Mas há certos ícones na humanidade que, de forma alguma,
podem ser menosprezados.
Imaginem há dois mil anos, quando os homens, já sábios, eram regidos por
religiões de deuses temporais e passionais. Imaginem as sociedades que o monstrengo
do politeísmo gerava, com suas incúrias , com suas insensibilidades sociais. Era costume
apedrejar nas ruas, até a morte, prostitutas ou adúlteras. Na metrópole dominante,
as pessoas se reuniam em estádios, não para atividades lúdicas, e sim para verem
homens lutando até se matarem ou seres humanos serem devorados por feras; a
piedade então era considerada fraqueza.
Mesmo a bíblia que era o instrumento que mais perto de Deus colocava os
homens, naquela época, foi contaminada pela mão do homem e então, junto com
dádivas divinas como as tábuas dos 10 mandamentos e belas histórias como as de
José, que depois salvaria os judeus dos 7 anos de vacas magras, vemos também
indignidades como o incesto, quando filhas embriagavam o pai para dele conceberem,
sem uma única linha de censura ou crítica a tal atitude, vemos também crueldades
como a recomendação para que fossem assassinados os varões que cortassem a barba.
É neste contexto que surge Jesus Cristo, com a mais humanista das filosofias e
propõe uma nova religião prometendo a ressurreição da carne e a vida eterna, onde
seriam recompensados os humildes, os sensíveis, os amantes da humanidade, os
piedosos, os justos, enfim todas as pessoas de boa vontade.
Há muito a arqueologia procura indícios da existência de Jesus Cristo. Há um
único documento romano escrito em argila, que é uma carta dos poderosos de
Jerusalém, que cobravam providências contra um profeta de nome Jesus, que andava
pelas estradas da Galiléia, dizendo-se filho de Deus, curando enfermos e ressuscitando
mortos. Mesmo a existência de Pôncio Pilatos era posta em dúvida até há mais ou
menos três décadas, quando arqueólogos franceses encontraram na região, uma pedra
Carlos AugustoCarlos AugustoCarlos AugustoCarlos AugustoCarlos Augusto
FFFFFerererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
Médico psiquiatra
São Paulo - SP
22. 24
de inauguração de um templo que tinha o nome do tirano enviado a Jerusalém por
uma sociedade dominante e já decadente, afogada pela lascívia, luxúria e corrupção.
De seus seguidores, ignorantes pescadores da Galiléia, há farta documentação,
quando historiadores de vários países descrevem estes ex-ignorantes pregando a boa-
nova em várias línguas. Vemos referências na história grega, egípcia, romana, etc.
No entanto, a maior prova da existência de Jesus Cristo é que a coleção de
pensamentos revolucionários e humanistas não pode ter surgido de um grupo;
filosoficamente, é claro que apenas um único cérebro poderia ser responsável por
aquele tesouro, que libertou a humanidade de religiões que adoravam bois,
escaravelhos, belezas plásticas e que pregavam o ódio, o olho por olho, dente por
dente, a crueldade.
Claro que seu legado foi também desvirtuado pela mão do homem e as religiões
que seguem seus ensinamentos, todas têm muita sujeira cometidas em Seu nome,
varridas para debaixo dos tapetes da história, mas sem dúvida, a humanidade lucrou
muito com seu pensamento.
O ateísssimo pensador Augusto Comte, no seu ensaio “A teoria das funções” a
base do não menos ateu, positivismo, descreve a Bondade Universal como sendo o
impulso que estimula o homem para melhorar o meio onde vive para as próximas
gerações, e sem querer nada em troca. É apenas uma das funções altruísticas do
cérebro que estavam embotadas nos homens antes d´Ele que em troca de sua bondade
recebeu apenas uma cruz.
Para mim que sou um seguidor, ele foi, é e será a própria bondade universal
feito carne, isto é, Deus. Embora muitos não acreditem, mas tomam parte em sua
mesa, pois podem criticá-lo, injuriá-lo, ridicularizá-lo sem risco de morrer na mão de
terroristas religiosos.
Tenho certeza: o mundo seguirá temperado na piedade e solidariedade cristã e
meu Mestre, a seus desafetos, continuará eternamente oferecendo a outra face.
São Paulo, 16.08.07.
23. 25
O arO arO arO arO argentino pirateadogentino pirateadogentino pirateadogentino pirateadogentino pirateado
Castanhal, então uma pequena cidade próxima de Belém do Pará, foi a cidade
onde tive o privilégio de passar a minha infância; tínhamos todo o espaço do mundo
e as ruas da cidade se confundiam com os quintais das casas. A maior diversão da
cidade era o Cine Argus, onde, nas matinês de domingo, a molecada se reunia para
ver “Roy Rogers”, Zorro, Superman e outros. Mas, esta rotina era quebrada quando
visitava a cidade pequenos circos com seus palhaços, a pantomima, os malabaristas...
Aquele era um circo muito pobre que sequer tinha lona de cobertura, apenas a
que circundava o espaço das arquibancadas e do pequeno picadeiro, mas seu
apresentador tinha sotaque castelhano pois era argentino de Córdoba, coisa que, volta
e meia, repetia com orgulho. Galhardo, como dizia se chamar, era um homem muito
elegante, usava sempre uma calça de tropical “risca de giz”, com suspensórios que
evidenciava um pouco a sua visível, mas não muito protuberante barriga. Seu cabelo,
cintilante de brilhantina, parecia não ter um único fio fora do lugar e fazia dueto com
seu distintíssimo bigode. Enfim uma figura Argentina com sua elegância e glamour
em que os “hermanitos” platinos são mestres. Lolita, a mulher de Galhardo era uma
argentina de Buenos Aires, já quarentona, mas ainda belíssima, com seus olhos azuis
e sua pele que parecia pétalas de flores; era ela que se apresentava com dois cavalos,
que eram os únicos animais da troupe além de alguns cachorros que pulavam círculos
de fogo, estas coisas. Naquela época, circo que valia a pena tinha de ter apresentador
com sotaque castelhano.
Durante o dia, a molecada se reunia para ver a faina daquele pessoal, que
moravam em carroças, todas pintadas com cores aberrantes. Galhardo, junto com
sua linda mulher, sentavam-se na frente da carroça onde moravam, a que ostentava
melhor qualidade, e lá, rodeado pela molecada, parecia sentir prazer em contar os
“causos” argentinos para nós e fazer comparações entre aquele país e o Brasil, sempre
em detrimento de nossa pátria, mas ouvíamos embevecidos e maravilhados com o
sotaque elegante da língua de Cervantes. As vezes Galhardo se empolgava e dizia em
bom tom, que nada tinha no Brasil, que não tivesse algo melhor na Argentina. Nestes
momentos, Lolita, penalizada com nossa situação de vis moleques brasileiros, sempre
condescendia debilmente não concordando com o marido e finalizava com algo assim:
“Los cajuzes son unas delícias”
Naquela manhã, durante mais uma manhã de comparações latino americanas,
notei que uma abelha teimava em passear naquela engomadíssima cabeleira, peguei
um jornal dobrado e tentei afugentar o inseto, mas usei muita energia e , junto com a
abelha, a cabeleira do Argentino voou longe, revelando aquela cabeça chata e careca.
24. 26
Galhardo levantou-se bruscamente e, com seu movimento, também despregou o
elegantérrimo bigode, que caiu no colo de Lolita.
Galhardo ficou muito vermelho, pegou o chicotinho que Lolita usava em suas
apresentações e saiu correndo atrás de nós xingando e ameaçando. O belo sotaque
argentino desapareceu e o que ouvíamos eram brasileiríssimos xingamentos, ou
melhor, cearenses. Corríamos ouvindo: -”Venham cá filhos de uma moléstia”, -”Eu
arrebento vocês seus fio duma égua”, -”Me esperem seus cabras da peste” e por aí.
De noite, não tive coragem de ir ao espetáculo, mas, perto que estava, ainda
ouvi a abertura da apresentação com a vibrante voz de Galhardo, o mais argentino
dos cearenses: -”Respetable público que abrilhanta nuestra noite...”
25. 27
Mistérios da Alma
A alma humana cheia de mistérios,
E plena de sonhos se embevece.
Avança, ora recua e ora recusa.
No ciúme todo desejo até reluta
Acende e rejeita a ação mundana.
No amar toda a volúpia consente
Sensual no sexo, sonho se deleita.
Desperta o desejo na alma retido
No êxtase vive todo o ser criado.
Delira crédulo no ato consumado
Inebriado em precioso sexo findo
Que reflete no olhar calma afável.
Concebe no prazer, só cara afeição.
Absorve a dócil e a pura sensação
Dissimula sua visível e terna reação.
Na vida esboça sentir mui adorável.
Procura ansioso uno e sincero ideal
Desvenda no olhar sua lúcida visão
Recria na reta e na pia imaginação
Afugenta a tola e fútil alucinação.
Dissuade ferina e fecunda intenção.
Persuade a pura e a clara carência
Ao envolvê-la, só em criativa razão.
Alma cordial repousa no consciente
E relata à inquieta e à aflita mente
Que o tortuoso trajeto da vida breve
Nela caminha no tempo iluminada.
Mostrou que fértil quimera sonhada
Será na vida, à vontade eternizada.
Evanil PEvanil PEvanil PEvanil PEvanil Piririririreseseseses
de Camposde Camposde Camposde Camposde Campos
Médico infectologista
Botucatu - SP
26. 28
Observação sobre o impressionismo
Parnasiano em homenagem ao Monte Parnaso local de Apolo e das Musas: Sol,
Beleza e Artes, Medicina. O seu filho, pai da Ciência Médica; Esculápio praticou,
exerceu, curou e, inclusive, ressuscitou os mortos.
“Coletânea Poética” - refere-se aos expressivos escritores: Lamartine, V. Hugo,
Flaubert (Madame Bovary) e Baudelaire (As flores do Mal) sendo que Lamartine,
Leconte de Lisle, ex. (Claire de Lune), Musset e Gautier na poesia cultuaram a Arte
pela Arte.
No Brasil, Machado de Assis em Circulo Vicioso e, principalmente em Carolina
exaltou precioso e carinhoso soneto que enalteceu a nobreza emanada dos encantadores
versos alexandrinos dedicados à sua amada.
Além deles, também, cultivaram a língua escrita: Kant, (Critica da Razão Pura),
Byron, (Poemas), Schelley, (Triunfo da Vida), Shelling e Goethe (Fausto) entre outros.
Nessa ocasião, a musica clássica ou a literatura revelava as principais modificações
em suas características: Mozart, em A Flauta Mágica, imaginou em seu devaneio, os
duendes de Shakespeare e a filosofia do Bem e a Natureza que se locupletam na sua
admirável ópera; Beethoven inovou no piano e em seus harmoniosos e apolíneos
acordes que enobreceram e enfatizam a quinta e a nona Sinfonias.
Tchaikovsky não se incluía no movimento que relato, mas me impressiona desde
a infância pela delicadeza, pela beleza, pela mescla dos acordes que se enamoram no
devaneio místico, na expressão harmônica e maviosa, e nas suítes melodiosas que
preenchem as delicadas cordoalhas do coração e enaltecem no senso à sensível e
enamorada alma humana.
A filosofia de Schopenhauer atingiu, profundamente, a alma de Nietszche e,
ambos afetaram e influíram no pensamento de Wagner que, a partir dai criou sons
harmônicos múltiplos e variados aos utilizar os instrumentos, por exemplo; cordas,
sopro, percussão em vibrante e vigoroso uníssono.
As Musicas como: Tristão e Isolda, As Valquírias, Tannhauser enobrecem e
fecundam o âmago da alma.
Esses eventuais estímulos incitaram e provocaram uma intensa e produtiva
reação, principalmente na criativa e revolucionaria França de Lamartine, Gauthier,
Leconte de Lisle e V. Hugo.
Atualmente, os restos mortais de V. Hugo repousam no Pantheon. No dia do
translado de seu corpo houve uma clamorosa e eufórica homenagem em Paris. Toda
sua produção discursou, dissertou e versou em representações literárias, teatrais pelas
ruas e praças durante o seu féretro ao berço do espírito e dos homens que exercitaram
a sabedoria.
27. 29
Na música, Debussy e Ravel iniciaram e estimularam o impressionismo na
literatura, mercê dos acordes modais em perfeita harmonia seqüencial e, de pureza
maviosa utilizadas em delicadas e poéticas composições musicais.
Debussy recorre aos sons que lembram os emitidos e encontrados na vida natural
em sua doçura e terna sintonia musical. Amava e sonhava na sensação dos sons que
tentava captar da natureza em sua fértil e criativa imaginação.
Além disso, Baudelaire e Edgar Poe difundiram, também, o Simbolismo na
literatura espiritual, mística mercê do impressionante e rigoroso idealismo de
Schopenhauer que se imiscuiu na musica de Wagner.
Nessa época, os Artistas impressionistas: Renoir, Degas, Cézanne, Pissarro, Monet,
Manet e outros obtiveram, de modo indireto, a influência real dos quadros de Ticiano,
que na pintura a óleo exaltou a real natureza como objetos, frutas, aves, animais;
enquanto que Delacroix filosófico, criativo em leveza espiritual reviveu em suas telas
(o inferno, a guerra, a volúpia, o olimpo, o evangelho)
Manet rico, nobre e seu amigo Zola conviviam nos salões requintados de Paris.
Assumiu após alguns anos de Viagem a visão da pura natureza e, suavemente, a
expressou em quadros: Campo de Trigo, Almoço na Relva e outros que enaltecem
suas ricas fases na pintura.
Revelaram percepções inclusive, sensoriais, dos fenômenos, dos efeitos das
variações dos templos, locais, do dia, do tempo, do colorido das flores, das reuniões
campestres, da dança, dos diversos encantos, das paisagens e ensaios pintados pela
observação minuciosa dos nuances captados nos momentos da visão interativa da
vida envolta no seio da natureza.
Renoir em o Sol Nascente revelou a sutileza do dia que floresce e emerge na luz
colocando-se no exato instante em posição privilegiada no seio da natureza e,
discretamente, voltando sua percepção visual ao nascedouro solar.
Degas descreveu em seus quadros as sutilezas dos delicados movimentos das
dançarinas de seu tempo, a exemplo de outros acima referidos que vivenciaram o
âmago do ambiente natural. Na escultura “A Bailarina” em gesto apolíneo, fronte
curta e retraída, sugerindo nossos ancestrais, atitude lasciva e sedutora, expressa e
revela a época em que ele viveu na França.
Monet pintou em diversos momentos do dia a Estação de São Lázaro expressando
as delicadas nuances provenientes dessa discreta e provocativa variável, que se podem
captar no transcorrer na manhã, no período vespertino e no crepúsculo do dia.
Concluo que a arte imita, concebe e reproduz a natureza.
28. 30
Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó
Médico reumatologista
São Paulo - SP
O contoO contoO contoO contoO conto
Dizem que quem conta um conto, aumenta um ponto. No conto que pretendo
contar, espero não aumentar nem um ponto.
Quando se comenta um conto, ponto por ponto, chega-se ao final do conto sem
que se acrescente um ponto. Esse é um ponto de vista que se deve ter em conta
quando alguém nos conta um conto.
Contar-se um conto sobre uma porção de contas é fazer-se de conta que se está
simplesmente contando o conto do... “faz de conta”.
Num canto de um ponto qualquer, alguém me contou um conto e agora vou
conta-lo a vocês. Não sei se o conto ou se o canto. Mas sei que se o cantar, não será um
conto, mas uma canção ou cantiga. Também numa canção se conta um conto, que
será lembrado, ponto por ponto ou sem pontuação.
Como não pontuo os meus contos, muitos ficam “por conta” como o que conto,
porque não encontram um ponto de apoio no que conto ou um ponto final.
Afinal de contas, contar um conto, sem que se lhe acrescente um ponto, de
pronto pode deixar de ser um conto bem contado ou por estar mal pontuado.
Contar um conto, sem lhe acrescentar um ponto, depende do ponto de vista do
contador.
O bom contador de contos é aquele que sabe contar e até mesmo recontar o
mesmo conto, sem que ninguém se desponte, porque, se o conto não tiver algo
contável, será melhor não conta-lo, pois seria um desaponto e aí todos dariam um
desconto, por ele ser um mau contador.
A verdade, porém, é que não sou um contador de contos e não passo de um
simples médico, que faz de conta que quer contar um conto, mas que tampouco sabe
contar os contos de réis que perdi, quando me passaram “o conto do vigário”.
Vejam vocês que contei uma porção de coisas sem ter contado nada... é porque,
no fundo, sou um mau contador de conto e ponto final!
Pronto!
29. 31
SóSóSóSóSó
No dia em que ela foi embora ...
Sem poder se quer me dizer ADEUS!!!
Minha vida desmoronou
Eu, em vã ... pedi perdão a Deus.
Ela era a razão de meu viver
Era a ilusão de toda minha vida
Foi uma AMARGURA... vê-la morrer
Toda minha paixão estava perdida
Eram sempre risos, eram flores,
Eram beijos, e carinhos... sem fim
Eram verdadeiros cantos de amores
Que estavam e viviam, sempre em mim...
Ela partiu, como se fosse num repente
Sofrera muito, enquanto esteve doente
Isto pesa muito, no fundo, na alma da gente
Perder-se assim, um amor tão ardente!
Agora vivo só, não vejo ninguém...
Tenho amigos queridos e em profusão
Mas agora não espero que alguém...
Possa colocar, algum calor em meu coração,
É triste a sina a de um homem isolado
Quanta amargura... Tenho no coração
Encontro-me só... choro..., abandonado...
Quando perdi toda minha paixão...
16/maio/2007
30. 32
Os folgadosOs folgadosOs folgadosOs folgadosOs folgados
Naquela casa sempre havia alguém que “vivia de expediente”.
Era uma maneira fácil de levar a vida, pois quando um deles arranjava
um “pato” ou algo não muito trabalhoso, mas que desse para ganhar alguma
grana já todos ficavam satisfeitos e o refrão deles estava baseado na seguinte
frase: “Preguiça, não me deixes; vontade de trabalhar, vai para longe de mim”.
Ainda se apoiavam num dizer caipira que era: “Quando sinto vontade de
trabalhar, sento num cantinho e espero a vontade passar”.
Ele arranjou uma namorada que estava fazendo um cursinho para entrar
na faculdade e sabia que o que ela iria fazer na profissão que escolhera daria
para que, ela trabalhando, ambos pudessem viver bem.
O pai dele trabalhara por alguns anos mudando constantemente de
emprego e como procurando sempre receber a parcela do décimo terceiro
salário e levantar 0 fundo de garantia que fora depositado assim como o
“seguro desemprego” que era pago pelo governo.
Depois do terceiro mês de viver a custa do governo procurava arrumar
algum bico, preferentemente na ocasião das festas da Páscoa e por’ vezes até
conseguia ficar até o movimento das festas natalinas e passagem do ano, quando
as lojas sempre necessitavam de mais mão de obra.
Não trabalhava com afinco, mas “enganava bem” fingindo ser esforçado...
Já não tinha amigos porque devia para todos e jamais pagara aos que lhe
haviam “emprestado” algum dinheiro.
Não “esmolava” porque isso era muito diferente, assim como também
não ficava pelas esquinas vendendo guarda chuvas ou aparelhos de “viva voz”
para celulares e muito menos “flanelinha” ou sacos para limpar 0 chão.
O problema era procurar sempre estar “bem vestido”, barbeado, sapatos
engraxados e se possível conseguir “entrar como convidado, do noivo ou da
noiva nos bufês onde se realizavam as festas matrimoniais”.
Procurava ensinar praticamente aos filhos como poderiam viver sem fazer
força, pois sempre dizia que:
- “Fazer força é coisa para guindaste”.
A mãe também procurava sempre estar na última moda, freqüentando as
reuniões da “alta sociedade” e participando das festas e atos beneficentes,
procurando não deixar de receber sua “pequena comissão”.
Conseguia ser convidada para bons jantares e, naturalmente, sempre
sobrava algum dinheiro das “arrecadações” feitas durante os mesmos, tendo
como motivo os auxílio às creches, aos amparos maternais ou aos asilos dos
velhinhos da terceira idade que necessitavam de apoio monetário.
Claro está que diante dessa “escola” do lar, os filhos conheciam todos os
grandes truques das malandragens e arranjavam namoradas que sempre estavam
dispostas a auxiliá-los porque tinham sido despedidos de empregos que nunca
31. 33
tinham tido, mas que sabiam que na próxima semana alguém lhes arranjaria
dinheiro, vales refeições ou vales transportes para poderem trocar por entradas
de cinema ou esquecia o troco recebido na compra das entradas ou guardavam
as gorgetas que diziam ter dado aos garçons ou ao guardadores de automóveis
que as noivas adiantavam para pagar os estacionamentos ou similares.
A família que usava o sobrenome de “Viveur”, dizia-se proprietária de
terras e rendas na França, mas as mesmas estavam em demanda com o governo
francês e suas “idas” ao consu1ado sempre representavam despesas que
procurava conseguir junto a incauto.
Pais e filhos não se faziam de rogados quando alguém do bairro onde
moravam promoviam qualquer “encontro” sobretudo se ne1es houvesse “comes”
e “bebes”. A vida ro1ava fácil para todos ali até que um dia a mãe de uma das
“namoradas” soube que ela estava grávida. Foi um Deus nos acuda e um
advogado chamou 0 futuro pai numa delegacia, porque a namorada era “de
menor”.
Imediatamente os “círcu1os” por e1es freqüentados ficaram sabendo de
como “levavam a vida” e por serem “sonegadores de impostos”, arrotando
terem dinheiro e não fazer a declaração do Imposto de Renda acabaram por
terminar seus dias na penitenciária por 1esarem aos demais com os quais
conviviam.
Há um ditado:- “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.
32. 34
CiúmesCiúmesCiúmesCiúmesCiúmes
Tenho um grave defeito
que vive dentro de mim.
Sei que não sou perfeito,
mas Deus me fez assim.
Sinto ciúmes de alguém,
que sei que não me ama.
Por isso sinto-me bem aquém
tendo a alma na lama.
Ciúmes, que coisa ingrata.
Sente-se e não se abafa,
é o ciúme que me delata...
É um mal sem fim,
é algo que nos mata,
sofrendo tanto assim.
33. 35
Geováh PGeováh PGeováh PGeováh PGeováh Paulo da Cruzaulo da Cruzaulo da Cruzaulo da Cruzaulo da Cruz
Médico oftalmologista
Ribeirão Preto - SP
Nanopoesia
A nanopoesia é uma criação, uma invenção, ou mais propriamente, uma
invencionice minha, surgida do desejo de apresentar algum trabalho no sarau literário
da 190ª
reunião da SOBRAMES (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores), no ano
passado. Como não tinha escrito nada em especial para aquela noite, ocorreu-me esta
idéia. Nascida assim despretensiosamente, espero que tenha vindo para ficar, e sem
cabotinismo, que possa mesmo tornar-se universal.
O radical grego “nano” significa diminuto, extremamente pequeno. Está em
moda na palavra nanotecnologia, e em medicina se usa em: nanocefalia, nanomelia,
nanismo. Não necessita tradução em outras línguas.
A nanopoesia é uma nova abordagem poética, com um mínimo possível de
palavras. É totalmente diferente das modalidades “Poetrix” e do “Haicai” japonês.
Permite com facilidade a abordagem de temas literários, filosóficos, românticos,
humorísticos, irônicos, etc. Facilita a criatividade. Nela o título é muito importante,
porque quase sempre é ele que dá sentido ao texto, ou o completa.
Eis a nanopoesia que inaugurou esta modalidade:
Monógo inclonclusivoMonógo inclonclusivoMonógo inclonclusivoMonógo inclonclusivoMonógo inclonclusivo
Pois é...
E daí?
AprAprAprAprApresento agora algumas outras:esento agora algumas outras:esento agora algumas outras:esento agora algumas outras:esento agora algumas outras:
CatarataCatarataCatarataCatarataCatarata
Não vê
O rio cair.
38 mortal38 mortal38 mortal38 mortal38 mortal
Seis tiros.
Ódio ou desperdício?
O pastorO pastorO pastorO pastorO pastor, no bor, no bor, no bor, no bor, no bordeldeldeldeldel
Irmãs! Ao inferno, com o prazer
Alfabetização de Lula, em BrasíliaAlfabetização de Lula, em BrasíliaAlfabetização de Lula, em BrasíliaAlfabetização de Lula, em BrasíliaAlfabetização de Lula, em Brasília
Ivo viu a uva?
Não.
34. 36
FFFFFofoca na tabaofoca na tabaofoca na tabaofoca na tabaofoca na taba
- Uba, tuba.
- Caraguá, tá tuba.
Nor-destinoNor-destinoNor-destinoNor-destinoNor-destino
Emigrar.
Ou morrer.
AmarAmarAmarAmarAmar
Rende juros.
Te enriquece.
Fé de maisFé de maisFé de maisFé de maisFé de mais
Deus está morto.
Eternamente.
Abandono de consorteAbandono de consorteAbandono de consorteAbandono de consorteAbandono de consorte
Tragédia!!!
Ele/a voltou.
DilemaDilemaDilemaDilemaDilema
Avante!
Ou a ré?
VVVVVelhiceelhiceelhiceelhiceelhice
Pílulas, agulhas.
Rigidez.
SeSeSeSeSexxxxxo forteo forteo forteo forteo forte
É a mulher
Não sofre impotência
Mega sonhoMega sonhoMega sonhoMega sonhoMega sonho
Mega sena
Mega sina
ApocalipseApocalipseApocalipseApocalipseApocalipse
A porca Alice
Independência ou morte!Independência ou morte!Independência ou morte!Independência ou morte!Independência ou morte!
O brasil,
Ainda nãose decidiu.
A foiceA foiceA foiceA foiceA foice
Foi-se...
Fé de maisFé de maisFé de maisFé de maisFé de mais
Deus está morto.
Eternamente.
AmorAmorAmorAmorAmor
Chupe o picolé.
O palito me basta.
Os tempos mudaram...Os tempos mudaram...Os tempos mudaram...Os tempos mudaram...Os tempos mudaram...
-”Viado”!!!
- Obrigada... gostosão!
Curso da vidaCurso da vidaCurso da vidaCurso da vidaCurso da vida
No aqui.
No além.
BrasileirBrasileirBrasileirBrasileirBrasileirooooo
Compra ilusão:
A prestação.
Latim modernoLatim modernoLatim modernoLatim modernoLatim moderno
Very goodibus
Aos amigosAos amigosAos amigosAos amigosAos amigos
Obrigado por me engolirem
Mesmo indigesto.
35. 37
AssombraçãoAssombraçãoAssombraçãoAssombraçãoAssombração
Meu bisavô Genaro, nascido no Tirol italiano, alto, alourado, bonitão, pôs o pinto
a juros e “fez América”, casando-se com filha de fazendeiro. Mas, letrado num meio
de analfabetos, esperto e trabalhador, multiplicou o patrimônio e se tornou muito
rico. Chegou a ser tão importante que a missa não começava antes de ele e sua família
chegarem. Deixou fazenda para cada um dos numerosos filhos, e alguns cumpriram
o ditado: pai rico, filho nobre, neto pobre. O que o carcamano trabalhou, os filhos
aproveitaram. Vários eram boas-vidas. Um deles, irmão de minha avó, meu tio-avô
Pepino, diminutivo do diminutivo Giuseppino (Giuseppe=José), era renomado
mulherengo. Era bonitão como o pai, bem apessoado como se dizia, folgazão e vivia
para a alcova.
Na fazenda não havia mulher e filha de empregado que ele não assediasse, e em
geral não conquistasse. Tinha filhos bastardos por toda a região. Quando uma criança
não se parecia com o pai, dizia-se que era filho do Pepino. Muitos usavam um trocadilho,
dizendo que ele vivia de pepino duro. Por aquelas paragens ninguém gostava de
comer pepino, tal a má fama que o vegetal alcançou. A palavra pepino ficou
demonizada.
Logo após a imigração italiana, chegaram os japoneses. Foram todos para a
lavoura. Evoluíram, passando pela fase de meeiros, arrendatários que tomavam terras
em parceria e plantavam. Um deles foi parar na fazenda do tio Pepino. Lá morava
com sua jovem esposa e alguns filhos pequenos. Não se sabe como, algo completamente
fora dos padrões nipônicos, mas o fato é que tio Pepino seduziu a mulher do parceiro.
Tinha com ela encontros freqüentes no retiro afastado onde a japonesa residia, uma
casa de peões longe da sede, com um vasto quintal e pomar.
Certo vez o Dom Juan veio para mais uma rapidinha. Ele tinha um código
para avisá-la de que estaria no quintal, a espera dela. Relinchava igual a um burro,
depois assobiava como um pássaro preto, e novamente relinchava. Nunca havia
engano. Fosse qual fosse a hora, a japonesa ia para o quintal, para a moita de
bananeiras. As antigas casas de fazenda não tinham banheiro, e as de empregados,
nem ao menos latrinas. Usavam-se moitas mesmo. Era um costume trivial que dava
um álibi perfeito.
A japonesa costumava usar um longo quimono, muito prático para a ocasião.
Era noitinha, o céu estava nublado, tinha escurecido há pouco. Aí apareceu um vulto,
vestido com uma roupa comprida. Sem mais delongas, tio Pepino já foi atacando. Em
prudente silêncio agarrou o vulto por trás, já foi levantando a longa roupa e beijando
a nuca. O vulto atacado deu uns berros, desvencilhou-se dele, disparou pelo quintal
afora. Era o japonês, que chegou em casa esbaforido, gritando:
36. 38
-Chombraçom! Chombraçom! Chombraçom memo non?!! Dizem que o japonês
nunca mais foi ao quintal à noite, e acabou se mudando para bem longe.
No fim da vida, empobrecido, morando na cidade, vendendo bilhetes de loteria
para sobreviver, um tanto menos respeitável, meu tio era alvo do pessoal gozador:
- “Seu” Pepino, é verdade que o japonês “tava de caganeira” e borrou o senhor
todinho? Tio Pepino dava um risinho sardônico e saía de fininho.
37. 39
No meu tempo é que era bomNo meu tempo é que era bomNo meu tempo é que era bomNo meu tempo é que era bomNo meu tempo é que era bom
Nasci em 1933. Meu pai era dentista prático itinerante, e ganhava bem. Mesmo
assim, fui criado sem leite, até vir a morar na cidade. A fazenda mais próxima era
longe. Também me faltou carne. Não tínhamos acesso a estes insumos. Por perto não
haviam armazéns. As vezes comíamos um frango, ou carne de porco que se conseguia
comprar da vizinhança, guardada em banha, processamento equivalente ao confit
dos franceses. Isto quando o porco não tinha “canjica” (cisticerco de solitária). Carne
de vaca, só quando alguma morria de acidente e era sacrificada, vendendo-se ou
dando-se partes dela. Mesmo os ovos eram poucos. As galinhas poedeiras não eram
prolíficas. Minha irmã mais nova é alguns centímetros mais alta do que eu, que não
cresci por falta de proteínas. Acho um milagre que eu não tenha ficado imbecil, débil
mental. Minha primeira infância se passou numa região altamente carente de iodo, e
o bócio e outras manifestações de hipotiroidismo eram endêmicas. Ainda não havia a
obrigatoriedade de adicionar iodo ao sal de cozinha. Outra sorte tive em não ser
chagásico. Os jovens da minha geração morreram como moscas, antes dos trinta
anos, acometidos de cor bovis, coração dilatado, a insuficiência cardíaca distrófica.
Somos 10 irmãos porque os padres proibiam a contra-concepção.
Na minha primeira infância, minha mãe, professora rural numa região
pobrecíssima, iluminava nossa casa com candeia, alimentada com óleo de babaçu. Em
seguida, antes da guerra, usou lamparinas de querosene, um grande progresso!
Melhorou usando lampiões a querosene com camisinha de amianto. Fomos para a
cidade, e encontrei a mágica luz elétrica, feita de lâmpadas incandescentes, fracas
brasas penduradas num pendente. Depois de tanto progresso, hoje acho um exagero
estas modernosas luzes, tais como a fluorescente, a luminescência, led, cristal líquido,
luz de mercúrio, lâmpada de sódio, farol halogênico, fibra ótica, e em oftalmologia,
laser, luz coerente de rubi, argônio, xenônio.
Nos internatos que freqüentei, não havia câmara frigorífica, nem freesers. O
leite era cru, indigesto. Em casa, comprávamos a granel, medido diretamente de
latões, e de higiene discutível. Ainda não se pasteurizava. A carne não era resfriada.
Éramos sempre acometidos de gases, diarréias, vômitos, e gastroenterites infecciosas,
chamada prosaicamente de colerina (pequena cólera). A água não era tratada e tinha
ameba, coliformes fecais, bacilos disentéricos. Comíamos refeições elaboradas com
banha de porco, muitas vezes rançosa, por envelhecimento precoce. Não havia óleos
vegetais, e só muito mais tarde passamos a usá-los, primeiramente o óleo de caroço
de algodão, fedido, de sabor ruim, caro. O tomate era ácido e apodrecia facilmente.
De verduras, só havia couve, abóbora e algum insólito ora-pro-nobis. O abacaxi não
passava de ananás, despelava a língua. Só havia alguma manga comum, laranjas
azedas, bananas pedradas, goiaba bichada.
Minha mãe cozinhou por anos e anos com lenha e o café da manhã demorava
uma eternidade, sobretudo quando a madeira era verde ou úmida. Coitada, vivia
com os olhos vermelhos, irritados pela fumaça e pelas cinzas. Leite pela manhã não
bebíamos, porque não tínhamos geladeira; o leite do dia anterior azedava e o leiteiro
38. 40
só passava depois das 10. Privilegiados, tivemos geladeira (importada) quando eu já
era universitário.
Quando fui para o colégio, pegava uma jardineira pela manhã, viajava algumas
horas até um entroncamento rodoviário. Lá aguardava uma carona, quase sempre de
caminhão, porque havia poucos carros, e não conseguia conciliar horário com outras
jardineiras. Descia em outro entroncamento, e tentava nova carona, sempre de
caminhão. Chegava ao colégio já de noite. Hoje, de carro, em asfalto, faz-se a viagem
em menos de 2 horas.
Fora de casa, a comunicação era precária. As cartas não chegavam, e minha
cidade não era servida por telégrafo. O telegrama chegava da estação ferroviária mais
próxima trazido de charrete uma vez por semana, duas horas de viagem.
Na escola primária, cada qual usava sua pequena lousa de ardósia, que
chamávamos de pedra, onde fazíamos deveres de matemática, ditados, redações, provas
e testes, riscando-a com um estilete de sílex, e apagávamos com pano úmido. Caderno
era um luxo. Os lápis duravam até o toco, quando não havia mais jeito de pegá-los.
Um livro didático durava por gerações. As canetas-tinteiro vazavam tinta, gastavam a
pena, custavam caro.
Não existiam antibióticos, e éramos tomados de todos os tipos de infecção. As
dermatológicas eram um inferno: terçol, furúnculo, perebas, ectimas, piodermites,
abcessos, supurações. As internas, matavam, aleijavam, debilitavam. Minha irmã
morreu de croupe (difteria).
Os parasitos faziam a festa. Os externos, piolho, sarna, pulga, percevejo, eram
pragas comuns. Minha mãe vivia queimando colchões de capim mumbeca, infestados
por percevejos trazidos por hóspedes, ou empregadas. Eu vivia de cabeça raspada por
causa de piolho, sorte que minhas irmãs não podiam ter, e choravam quando minha
mãe se punha a catar-lhes lêndeas, coisa dolorida prá dedéu. Contra os vermes internos,
os helmintos, as medicações eram uma lástima. Lombrigueiros altamente tóxicos e
purgantes devastadores não passavam de medicina inócua. Verminoses, solitária,
amarelão. Éramos os jecas-tatu de Monteiro Lobato.
Se eu não tivesse freqüentado colégios de padres holandeses, onde havia biblioteca
muito acessível e adequada, e ler era um passatempo muito apreciado no internato,
certamente hoje seria um analfabeto funcional. Jornal ninguém recebia, as revistas
eram caras e raras. As assinaturas não compensavam. Os funcionários dos correios
roubavam todas. O rádio não estava ao alcance de todas as economias. Só tivemos
rádio quando eu já era adolescente, e não era costume ouvi-lo. As transmissões de
ondas curtas, todas emanadas do Rio de Janeiro, mais chiavam do que falavam ou
cantavam. No colégio tínhamos serviço de alto-falantes interno, que tocava todas as
tardes, e ouvíamos música comum censurada, alguma coisa de música clássica, e
outras sacras. Na minha cidade, afora uma banda musical e alguns pequenos conjuntos
populares, não se ouvia música.
Na minha formação artística por imagem, felizmente alcancei o cinema americano,
de onde recolhi o conhecimento de um outro mundo sociológico, geográfico, histórico,
musical, e tecnológico. Caso contrario, seria quase um botocudo.
39. 41
Nestes 70 anos conheci 8 moedas: mil reis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, URV, real,
além de dólar. Um inglês convive com a libra há uns 600 anos.
Existem outras centenas de coisas que eu poderia citar, mas que alongariam este
ensaio. As citadas já bastam para pintar um cenário. Negro e tétrico, por sinal...
Quando vim de Minas para São Paulo para fazer especialização em oftalmologia
na Santa Casa, a via Anhangüera ainda era toda de terra, esburacados 500 km de
extensão. Só tinha pavimento cimentado a partir de Jundiaí, e a coisa que mais me
encantou foi ver este pequeno trecho balizado com pequenos postes com “olho de
gato”, refletores de vidro que espelhavam a luz do ônibus e formava um lindo caminho
iluminado por reflexão. Me pareceu coisa do outro mundo... Fiquei deslumbrado.
Ah! Quase ia me esquecendo de dizer: - No meu tempo tudo era maravilhoso...
40. 42
PPPPPentafonia do Rôentafonia do Rôentafonia do Rôentafonia do Rôentafonia do Rô
RRRRRoteiroteiroteiroteiroteirooooo
Primeira: RiscoRiscoRiscoRiscoRisco
O roto réu riu da roupa rendada do rico e reto rei de Roma
Segunda: RRRRRevideevideevideevideevide
O real regente rompeu o rito e riu do recolhido rabo do reles roto
Terceira: RRRRResultadoesultadoesultadoesultadoesultado
Ao repto real os reinóis riram à rodo e o roto rival rilhou de raiva
Quarta: RRRRRenovoenovoenovoenovoenovo
O rato roeu a régia renda e rasgou o resto da roupa roto ruim
Quinta: Remateemateemateemateemate
Repita rápido! (Risos)
41. 43
Guaracy LourGuaracy LourGuaracy LourGuaracy LourGuaracy Lourençoençoençoençoenço
da Costada Costada Costada Costada Costa
Cirurgião Plástico e Advogado
Araraquara - SP
Eu receitei um desmaio...
Nestes dias, como tem acontecido todos os anos, estou sendo convidado para
ser Orientador de Monografias de meus alunos da Faculdade de Direito lá na UNIARA.
Todos os alunos, no último ano de seus cursos, precisam agora apresentar um trabalho
no segundo semestre para poderem ter direito à formatura. Nessas Monografias, eles
escolhem um tema, pesquisam sobre ele e escrevem um trabalho de pelo menos 35
folhas, tendo que pedir a algum dos professores para lhes dar o nome como
ORIENTADOR. A função do Orientador é dar as principais dicas do assunto escolhido
ao aluno para que ele possa escrever bem, fazer uma boa abordagem do tema e, no
mês de outubro a dezembro, fazer uma apresentação verbal diante de uma banca de
mestres do Direito cujas notas, para ele se formar, precisam atingir no mínimo a
média 5,0.
Neste ano de 2006, eu já fui convidado por 6 alunos do 5º Ano de Direito para
ser Orientador das Monografias deles, justamente porque os assuntos por eles
escolhidos estão relacionados com temas médicos, planos de saúde, incidentes nos
tratamentos, células-tronco, doenças transmissíveis, prontuários hospitalares, etc.
Estou lembrando que, em 1988, recebi um telefonema de um jovem universitário
chamado Messias, residente em Três de Maio, que é uma cidade Gaúcha. Ele foi
operado por mim quando era menininho em virtude de um defeito de nascença no
pipi. Ao telefonar-me, ele pediu que lhe desse algumas dicas sobre seu defeito e a
cirurgia porque ele queria fazer sua monografia justamente sobre defeitos de nascença
em geral. Localizei a ficha médica dele em meu consultório e verifiquei uma anotação
que fiz sobre o desmaio do pai dele ao presenciar o primeiro curativo que lhe fiz no
pipi todo inchado. No ato, sugeri a ele que colocasse, em sua monografia, esse lance
de desmaio dos pais, evidentemente sem mencionar que a coisa foi com ele e o pai
dele. Depois de pronta a monografia, ele a leu pra mim pelo telefone e me disse que
havia posto meu nome. Este foi meu primeiro caso em que atuei como Coordenador,
tendo sido, na realidade, legítimo TELE-ORIENTADOR da monografia do Messias.
Ao mencionar aqui o DESMAIO do pai do Messias, acabei lembrando-me de
um outro caso do passado que estou achando interessante escrever sobre ele nesta
42. 44
crônica e esclareço, desde já, que o nome técnico do desmaio é LIPOTÍMIA. Essa
palavra vem do Grego e significa, literalmente, que “a alma da pessoa foi dar uma
voltinha...”
A melhor experiência que tive como orientador de monografias foi no início de
1961, assim que concluí minha Pós-Graduação em Cirurgia Plástica com o Professor
Ivo Pitanguy, no Instituto de Aperfeiçoamento Médico da PUC do Rio de Janeiro. Fui
procurado por um aluno do 6º ano que me convidou para ser Orientador dele na
tese que ele estava montando para participar da Maratona Científica patrocinada
pelo MEC. Fui escolhido por ele porque a tese versava sobre os cortes na pele por
acidentes ou agressões e os cortes das cirurgias. Empenhei-me ao máximo para ajudá-
lo, tendo ido um monte de vezes à Biblioteca Nacional para coletar dados pra ele.
Exatamente no dia 8 de abril daquele ano foi marcada a apresentação ou defesa
da tese dele no Anfiteatro da Reitoria e era um sábado do mesmo modo que também
hoje é sábado. Eu vesti meu único terno e fui sentar-me à mesa examinadora ao lado
de quatro professores, sendo dois cirurgiões gerais, um anatomista e um patologista.
O patologista foi o primeiro examinador, o qual, pelo visto, quis logo massacrar
o jovem sextanista fazendo-lhe 5 perguntas de uma vez só, todas sobre a “fisiologia da
cicatrização”. O quase doutor ficou pálido na hora. Percebi que ele não estava preparado
para aquela questão. Eu estava com um lápis vermelho grosso na mão e escrevi
rapidamente num papel que estava à minha frente: “DESMAIAR!” e virei
discretamente pro lado dele, enquanto ele estava fazendo cara de pensamento.
Ele deu uma balançada no corpo e amontoou no chão, perto de onde eu estava.
Levantei-me rapidamente para socorrê-lo antes que outro o fizesse. Peguei o pulso
dele, ouvi o coração com a orelha no peito dele e falei: “A pulsação está boa, mas
vamos levá-lo rápido pro “Souza Aguiar” (pronto-socorro)”.
Ele escapou do debate e teve a chance de se apresentar novamente um mês
depois, tratando de se aperfeiçoar mais nos temas que o Patologista tinha preferência.
Na seqüência, ele foi aprovado com distinção. Fiquei convicto que “UM
ORIENTADOR DEVE REALMENTE ORIENTAR”... inclusive orientar a hora
oportuna de um desmaio salvador...
43. 45
O Direito apregoa:
“A vida é o BEM MAIOR”
Tudo aquilo que nós temos,
Podendo vender a alguém,
Tem nome, todos sabemos,
É denominado “BEM”
Ao declarar nosso imposto
Na Receita Federal,
Listamos, com muito gosto,
Tudo o que é bem material.
A tais bens nos apegamos,
Compõem da Vida a vitória;
Raramente nos lembramos
Ser a Vida a nossa glória.
O Advogado é bem certo,
Aprende e sabe de cor:
Afirma, de peito aberto,
Que A Vida é o BEM MAIOR. Com as Leis ele labora
Uma a uma é bem querida;
Ele sabe, em dia ou em hora,
Que há alguém zelando a Vida.
Esse Alguém, na Medicina,
Cuida do adulto e do menor,
Sabendo ser sua sina:
Zelar pelo BEM MAIOR.
Alguém estando lesado,
Cabe ao Médico tratar;
Devendo ser respeitado
Por aquele que o buscar.
A obrigação consagrada
É “de meio”, bem sabida:
Medicina dedicada
Se esforça em favor da VIDA.
44. 46
Relato verdadeiro:
Minha viagem no tempo
Desde meus tempos de moleque, meu tema predileto para filmes, romances ou
histórias de gibis eram aqueles que versavam sobre “Viagem no Tempo”, fosse para o
passado ou para o futuro. Modernamente, surgiram muitos filmes sobre “Viagem no
Tempo” e eu, logicamente, assisti a todos eles mais de uma vez. Houve um que assisti
5 vezes, que foi aquele denominado “O Feitiço do Tempo”.
Prezados e respeitáveis leitores: A partir do parágrafo seguinte, estarei copiando
literalmente algo que escrevi na manhã de sábado 20-9-1993, registrando, como num
diário, o fantástico e inesquecível fenômeno mental ou espiritual que havia acabado
de acontecer comigo. Eis o que registrei:
“Hoje é sábado, 20-9-1993. São quase seis e meia da manhã e eu acabei de me
levantar da cama com os olhos lacrimejando e minha mente plena de uma intensa
emoção, diferente das que já vivi nestes meus 59 anos de idade. Há poucos instantes,
sem nenhuma característica de sono, eu me vi entrando num corredor largo de uma
casa desconhecida, sendo um corredor desses que dá para entrar com um caminhão
pequeno, estando a casa à minha esquerda. A Cilene estava de mãos dadas comigo e
nós dois nos mantivemos em silêncio. Passamos em frente da porta de entrada da
casa, que ficava na lateral, dando para o corredor que mencionei. Dava para deduzir
que a casa tinha sua sala no meio, um quarto na frente e a copa-cozinha no fundo.
Prosseguimos andando e, em minha cabeça havia uma ansiedade extrema, associada
a uma convicção de que, passos adiante, algo especial iria acontecer ou alguém especial
eu iria encontrar. Ao final da lateral da casa, o corredor em que estávamos continuava
pelo quintal, cuja aparência sumiu de minha memória, pois mudei a direção de meus
passos para a esquerda, passando perto da porta dos fundos, a qual também não
despertou meu interesse. Naquela parte dos fundos da casa, havia uma faixa de piso
atijolado de cerca de dez metros de largura, o qual era longo, até atingir os fundos de
uma outra casa, cuja frente logicamente dava para a rua perpendicular àquela da
casa por onde havíamos entrado. Naquele instante, minha ansiedade aumentou
muitíssimo, havendo uma sensação fortíssima de que algo bom estava para acontecer.
Mais uns três ou quatro passos, eis que avistei, vindo em sentido oposto, em minha
direção, um menino de prováveis 6 anos de idade. Era um menino de feições bonitas,
estava sério e eu fiquei logo muito impressionado com o intenso brilho dos dois olhos
dele. Tornei meus passos mais vagarosos, mas prossegui em direção ao menino,
olhando pra ele e sentindo uma sensação estranhíssima de como se estivesse
caminhando em direção a mim mesmo. Larguei das mãos da Cilene e abri suavemente
os braços e senti uma felicidade intensa ao acontecer do menino abrir os braços
também. Curvei-me junto a ele e lhe perguntei: “Como é seu nome?” Os olhos dele
ficaram mais brilhantes e ele ficou mais bonito ao responder-me:
45. 47
“Eu me chamo Guaracy.” Dei-lhe um abraço ousado, ao qual fui correspondido
e a sensação que senti foi de que, indubitavelmente, eu estava abraçando a mim
mesmo 53 anos atrás no tempo. Em poucos instantes e subitamente, as imagens e o
cenário se desvaneceram, enquanto meus olhos derramavam as torrenciais lágrimas
que ainda estão umedecendo meu rosto enquanto escrevo todo esse fato ou fenômeno
vivido por mim. Dentro de mim, nesta hora, poucos instantes depois da fantástica
experiência, sinto-me convicto de que viajei no tempo e de um modo muito mais
emocionante do que as histórias que li e os filmes que assisti.”
Reina em meu pensamento, até hoje a gloriosa sensação que senti que ouso
afirmar ter sido uma “VIAGEM NO TEMPO”.
De vez em quando, fico pensando nos pontos misteriosos e que atrapalham
minha convicção: Primeiro, que aquela casa onde estive no “passado”, eu não me
lembro dela. Segundo, que não consigo entender o brilho intenso que havia nos
meus olhos quando criança e sei que, naquela idade, eu não era tão lindo como era a
criança que me convenceu ser eu mesmo. Terceiro, o que me atormenta às vezes é
que “se fiz mesmo a viagem ao passado e me encontrei, será que, quando eu tinha
seis anos, eu teria visto a mim mesmo com 59 anos no futuro? Eu penso, penso e não
consigo lembrar-me de tal encontro quando eu tinha 6 anos”.
Prezados leitores, a sensação que senti foi indescritível. Passaram-se quase 14
anos que tive a experiência descrita e confesso que tentei usar de todos os artifícios de
minha mente para repetir a façanha, mas não consegui.
E neste exato momento em que estou encerrando os presentes escritos, estou
revivendo a emoção que descrevi e estou chorando “saborosas” lágrimas e sentindo,
em meu peito, uma vibração especial que não conseguirei jamais descrevê-la, tal a sua
grandeza e seu brilho tão forte quanto os olhos do menino no momento em que me
disse ser eu mesmo!
46. 48
O início da VIDAO início da VIDAO início da VIDAO início da VIDAO início da VIDA
do Ser Humanodo Ser Humanodo Ser Humanodo Ser Humanodo Ser Humano
Medicina evoluindo
Nos anos, dias, momentos;
Tantas técnicas vêm vindo,
Vacinas, medicamentos.
Células-Tronco, transplantes,
Tudo pra VIDA é bendito;
Nos jornais, todos instantes,
Citam curas para o aflito.
No povo existe o descrente
Que duvida a cada dia;
Confundem a sua mente
As tristezas e a alegria.
Eis que a Biossegurança,
A Justiça e a Religião
Muita norma hoje se lança
Desnorteando o povão.
Uma dúvida gigante:
Da humana Fecundação
Há quem com ela garante
O início da Gestação.
Engano quem pensa assim,
Ovo não é Gestação;
Dias depois, ocorre enfim,
Se houver a Nidação:
O Ovo multiplicado
Chega à parede uterina;
Na parede penetrado
Pra ser Menino ou Menina.
Por aí é voz corrente
Que já tem VIDA a criança;
Sendo da Mãe dependente
Embrião é só esperança.
Nove meses decorridos,
Começa a VIDA num “show”;
Num “show” dos mais conhecidos:
Viva! O BEBÊ RESPIROU!”
FINAL DA POESIA:
Leia-se na Bíblia Sagrada - Gênesis 2:7
“E formou o Senhor Deus o homem do
pó da terra e soprou em seu nariz o
FÔLEGO DA VIDA; e o homem foi
feito ALMA VIVENTE.”
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Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini
Médico urologista
São Paulo - SP
Dignidade, Ética eDignidade, Ética eDignidade, Ética eDignidade, Ética eDignidade, Ética e
Manipulação da VManipulação da VManipulação da VManipulação da VManipulação da Vida Humanaida Humanaida Humanaida Humanaida Humana
Há exatos 60 anos o mundo condenava as barbaridades cometidas pelos médicos
alemães nos campos de concentração nazistas, provocando a edição, em 1948, do
Código de Nurenberg, embrião da normatização de diretrizes que envolvem pesquisas
em seres humanos, que por sua vez, seria aprimorada e consagrada na famosa
Declaração de Helsinque, em 1963.
Apesar do progresso científico, tecnológico e social, variegados setores da
sociedade atual, e de forma não desprezível, de biólogos, geneticistas, embriologistas,
bioéticos e médicos, continuam coisificando explícita ou camufladamente; ativa ou
passivamente a vida de seres humanos em seus primórdios.
Ontem dizimavam através de câmaras de gás, choque térmico, desnutrição...
Hoje, ocorrem na quietude das placas de Petri ou nos tubos de ensaio dos laboratórios.
Ontem seus protagonistas foram condenados. Hoje, ao contrário, estão às soltas, quando
não, exaltados e ovacionados pelos meios científicos e de comunicação de massa.
Parece incrível acreditar, mas, mais do que nunca, hoje em dia, a vida humana, que é
inequivocamente única, considerando cada ser como tal, está sendo banalizada,
sucateada, virando objeto descartável, quando não, em rendoso subproduto de compra
e venda.
O que mais aflige é a total ausência de escrúpulos que impera entre alguns
profissionais médicos e paramédicos e, em boa parcela da sociedade contemporânea!
Não obstante o conhecimento auferido nas últimas décadas, a vida parece cada
vez mais descaracterizada e desvalorizada, condições essas que não são apanágio de
iletrados e incautos. Ao contrário, não poupam cientistas, intelectuais e, tristemente,
professores universitários, que são por si mesmos, formadores de opinião.
Lembro-me de duas situações que muito me preocuparam, pois advieram de
afamados profissionais brasileiros. A primeira delas ocorreu há alguns anos atrás
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quando, pela primeira vez levantou-se, na Inglaterra, a questão da destinação dos
embriões excedentes em clínicas que desenvolviam programas de reprodução assistida.
Coloquei informalmente essa candente questão a um amigo, respeitado professor
universitário, que atuava no campo da reprodução assistida, e indaguei a ele como
estava conduzindo esse impasse em seu serviço. Eis que de chofre, sem o menor
temor e dando mostras de evasivas com seus ombros, disse-me: “esse não é um
problema para mim”. Em seguida, indicou com a mão como fazia. Despejava
simplesmente o tubo de ensaio com os embriões excedentes no gargalo da pia de seu
laboratório. Ato bárbaro e estarrecedor praticado por quem gozava de prestígio entre
seus pares!
O segundo exemplo ocorreu há pouco tempo, quando após uma excelente
conferência de um renomado profissional sobre atualização em reprodução assistida,
fiz-lhe, subseqüentemente aos aplausos que se lhe fizeram jus, uma singela e inesperada
pergunta: Quando você acredita que começa a vida?
Com certeza, essa não foi uma pergunta que ele gostaria de ter escutado e
muito menos de comentar. Talvez almejasse responder indagações tecnicistas que
enobreceriam ainda mais seu ego.
Contudo, essa questão é estrondosamente crucial. Na verdade, se os cientistas
que manipulam embriões humanos e favoráveis à clonagem terapêutica, admitissem
que a vida comece na fecundação, estariam se declarando, sem meias palavras, réus
criminosos de seus atos. Entretanto, sem tocar nesse intrigante assunto e sem nada
provar, defendem para si mesmos, querendo se convencer, conceitos com toda a carga
de eufemismos possíveis, tal qual o de pré-embrião, sinalizando que a vida humana
só iniciaria a partir de um imaginário 14o
dia após a fecundação. Ora, assim, dever-
se-ia considerar como anima nobile o embrião humano somente após essa idade. Mas
o que seria dele aquém desse limite: infra-humano... ?, sub-humano... ?, pré-humano...
? inumano...?
O genial Jérôme Lejeune (1926-1994), descobridor aos 32 anos de idade da
síndrome de Down sempre considerou que a vida inicia-se na fecundação: São dele
estas palavras::::: “A vida tem uma longa história, mas cada um de nós tem um início
muito preciso, que é o momento da concepção”.
Muito a propósito constitui-se de grande peso o brado geneticista e bioeticista
de Eliane Azevedo, professora emérita e ex-reitora da Universidade Federal da Bahia:
“O respeito à vida humana deve ser absoluto. Não arbitremos o vir-a-ser do embrião.
A pessoa humana no embrião é uma realidade, não uma probabilidade. Cada um de
nós foi um embrião. E se neste momento podemos defender o direito do embrião de
não ser levado às bancadas das experimentações, nem transformado em remédios, é
porque aqueles que conviveram conosco à época permitiram que de embrião de
ontem nos tornássemos adultos, legisladores e/ou cientistas, de hoje.”
Na verdade, faltam a certos profissionais que lidam com a vida humana,
particularmente em seus primórdios, coerência e lisura de raciocínio aplicadas ao
conhecimento biológico e embriológico que tanto ostentam possuir e ensinar. Caso
contrário, o embrião humano não diferiria daquele de uma vaca, de uma égua, de
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uma porca ou de uma cadela e, sua atuação limitar-se-ia aos patamares da clínica
veterinária, com todo o respeito que essa ciência merece, mas ancila incontestável da
medicina no que tange a uma hierarquia de valores, cujo paradigma-mor é a dignidade
que o anima nobile possui, condição primordial para diferenciá-lo dos demais viventes
da escala zoológica e vegetal.
Com certeza, uma razoável parcela dos que manipulam a vida humana em seus
primórdios não está muito interessada em reflexões filosóficas na busca da essência da
verdade que, desde eras prístinas, têm aguçado uma miríade de pensadores na história
da humanidade. Aliás, essas questões são por eles relativizadas e tergiversadas, pois
são regidos pelo antipricípio moral, ainda que de boa-fé, mas eivados de
maquiavelismo, onde se defende cegamente que “os fins justificam os meios”, quando,
ao invés, deveria ser claramente que “os fins não justificam os meios”.
Na medicina, no que se refere especificamente ao aborto provocado, à eutanásia
e, particularmente à reprodução assistida, constatam-se flagrantes exemplos de atitudes
e de conceitos de explícita incoerência que destoam da milenar missão hipocrática,
praticados e defendidos por inescrupulosos franco-atiradores alojados ou pretendentes
do pódio da fama, ou dissimulados sofismadores subsidiados pela avidez econômica.
Hoje em dia, alguns pesquisadores e políticos querem justificar nos meios de
comunicação, com todos as cores que o sensacionalismo e a pieguice possam lhes ser
úteis, a utilização de embriões humanos congelados e excedentes de clínicas de
reprodução assistida, como matéria-prima em pesquisas de clonagem terapêutica, a
fim de procurar a cura de enfermidades genéticas e degenerativas.
O direito à vida, desde os seus primórdios, é o primeiro dentre tantos outros
que qualquer ser humano deve ter salvaguardado. Não se atrela apenas à alçada das
religiões, da moral, da medicina ou da ética, mas se relaciona diretamente com a
cidadania. Portanto, sua defesa indefessa deve ser intransigente.
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Misamply e LolobayMisamply e LolobayMisamply e LolobayMisamply e LolobayMisamply e Lolobay*****
Há coisas na vida que nos deixam atônitos. Embora saibamos que um dia vão
acontecer nos surpreendemos da forma como ocorrem. Uma delas é a morte. Temos
ciência de que passaremos por ela, mas ignoramos o dia, a hora e a maneira.
Estava pensativo e fora de órbita quando li no mural de avisos do velório: Geraldo
Magela Tabarani dos Santos – sala 2.
Não conseguia acreditar que aquele meu amigo de há mais de trinta anos tinha
dado cabo à sua vida com um tiro a cabeça, da mesma maneira que sua filha há cerca
de três anos e meio.
Estava sempre bem-humorado e bem-disposto; era esportista, advogado, e
apresentava-se na reta final de conclusão de sua pós-graduação.
O Bruno, meu filho, tinha passado um fraterno, alegre e descontraído final de
semana com ele e seu filho Felipe, em seu sítio, em Taubaté, há apenas uma semana!
Minha esposa agradeceu-lhe, por telefone, a estadia e a atenção prestadas. E como de
praxe, ele esboçou cordialidade e amizade.
Em nossa convivência o Geraldo sempre demonstrou alegria, espontaneidade,
firmeza e altruísmo.
Não, não dava para acreditar no que eu estava sentindo e vendo. Ele era sempre
o mesmo amigo que conheci na Comunidade de Jovens do Tremembé. Participamos
de muitos encontros, passeios, festas, atividades sociais e religiosas.
Lembro-me no início de nossa juventude quando ele, que já tinha ar de machão,
foi surpreendido por mim com bobes na cabeça e com uma cueca de rendinhas, à
moda feminina. Daí, surgiram dois apelidos inventados respectiva e instantaneamente:
Geraldão das candongas com seu misamply e lolobay. E eles foram ditos inúmeras
vezes quando nos encontrávamos, nos mais diversos ambientes, ainda que a idade e o
tempo estivessem passando.
Realmente, não era possível imaginar o Geraldo, de aparência tão forte, ter
abdicado tragicamente do convívio de seus familiares e amigos!
Não faltaram especulações sobre os possíveis porquês: A ferida não cicatrizada
pela morte trágica e inexplicável de sua filha... a separação da esposa há alguns meses
atrás... a morte da mãe há dois meses... problemas no trabalho... depressão... perda
do prazer de viver... saudades incoercível de sua filha e mãe... Entretanto, quaisquer
que fossem os motivos tornava-se impensável admitir que ele tivesse tomado esta
sombria e irrevogável decisão.
Confesso que tive remorso e um sentimento de culpa me abateu por uma possível
omissão em tentar ajudá-lo. Mas ele não esboçava necessidades. Ao contrário, misturado
à sua alegria, era calculista e aparentava ser auto-suficiente. Quando sua filha morreu,
ele e a esposa, Ana Telma, resolveram doar os órgãos dela. Não me esqueço que
embora ele não pertencesse à área da saúde, conseguiu permissão para assistir o
transplante de coração, tendo sua filha como doadora. Quanta coragem e ousadia!