Este poema descreve a beleza exótica da escrava Bárbara, que apesar de sua condição cativa, cativa o sujeito poético. O retrato é mais espiritual do que físico, destacando sua graça, presença serena e delicadeza. Através de contrastes, o poema realça a superioridade da beleza de Bárbara em relação a outras mulheres e objetos de beleza como flores e estrelas.
1. TRABALHO DE GRUPO
CURSO PROFISSIONAL: Técnico de Apoio à Gestão Desportiva
COMPONENTE DE FORMAÇÃO: Sociocultural
CICLO DE FORMAÇÃO: 2011/2012
DISCIPLINA: Português
Aquela Cativa
Luís de Camões
André Fonseca nº2
Miguel Paiva nº15 10º PB
Rodrigo Pinto nº19
Projeto n.º 62668/2011/12 - C04 A1
2. Analise do poema:
Aquela cativa...
Aquela cativa, üa graça viva, Presença serena,
que me tem cativo, que neles lhe mora, que a tormenta amansa:
porque nela vivo, para ser senhora, nela enfim descansa,
já não quer que viva. de quem é cativa. toda a minha pena.
Eu nunca vi rosa, Pretos os cabelos, Esta é a cativa,
onde o povo vão que me tem cativo,
em suaves molhos,
perde opinião, E pois nela vivo,
que para meus olhos,
que os louros são belos. é força que viva
fosse mais fermosa. Pretidão de Amor,
Nem no campo flores, tão doce a figura,
nem no céu estrelas, que a neve lhe jura,
me parecem belas, que trocara a cor.
como os meus amores. Leda mansidão,
Rosto singular, que o siso acompanha:
olhos sossegados, bem parece estranha,
pretos e cansados, mas bárbora não.
mas não de matar.
3. O sujeito poético canta a beleza exótica da escrava
Bárbara, que, apesar de cativa, o cativara. O retrato, mais
moral do que físico, desenvolve-se mediante a dinâmica
dos contrastes: cativa – cativadora; cativa – senhora;
pretidão – brancura da neve; bárbara – delicada…
O retrato físico de Bárbara é bastante indefinido: bela
como a rosa, como as flores, como as estrelas, rosto
singular (exótico), olhos pretos, cabelos pretos. Mais
acentuado, embora ainda de linhas muito imprecisas, é o
retrato moral (espiritual): olhos sossegados (os olhos
caracterizam-na física e moralmente) e cansados mas não
de matar (não é uma mulher fatal), üa graça viva (o
determinante artigo indefinido a sugerir a delicadeza dessa
graça), senhora (em contraste com cativa), doce figura,
leda mansidão que o siso acompanha, estranha, mas
bárbara não (isto é, exótica, mas não de costumes
bárbaros – o sujeito poético usou o adjectivo bárbara,
jogando com o seu nome próprio Bárbara), presença
serena, cativa (aqui com valor de adjectivo, notando-se no
trocadilho: Esta é a cativa (submissa) que me tem cativo.
4. Esta figura de mulher oriental, exótica, indefinida, quase inefável, surge-nos assim
num retrato em que todo o sortilégio vem de qualidades espirituais: “doce figura”,
“presença serena”, “leda mansidão”. Estas qualidades sugerem um porte senhorial,
em oposição à sua condição de escrava (…parece estranha /, Mas bárbara não).
Embora o retrato de Bárbara, marcadamente espiritual, se revista de qualidades que
se enquadram dentro do tipo de mulher petrarquista, no entanto, a cor dos olhos e
dos cabelos (pretos) está longe de pertencer ao tipo de mulher cantada por Petrarca
(Laura).
A atracção exercida por Bárbara sobre o sujeito poético é salientada na primeira e na
última estrofes por uma série de trocadilhos: “Aquela cativa que me tem cativo, /
porque nela vivo já não quer que viva”; “Esta é a cativa que me tem cativo, / e, pois
nela vivo, / é força que viva.”
Para realçar a beleza de Bárbara, o sujeito poético, comparando-a com a rosa, as
flores, as estrelas, fá-la suplantar a beleza delas. Os adjectivos que caracterizam o
rosto e os olhos (“rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados”) apresentam-
na como uma mulher exótica, de olhos moderadamente românticos, sem serem
propriamente fatais (“olhos… pretos e cansados, mas não de matar”).
5. Mais claramente nos aparece como mulher clássica, inacessível (mulher deusa),
nestes versos: “Ua graça viva / que neles lhe mora, / para ser senhora de quem é
cativa”. A expressividade do determinante artigo indefinido ua, realçando uma graça
indefinível, misteriosa, embora viva; da forma verbal mora (aspecto durativo),
vincando a persistência dessa graça nos seus olhos; do paradoxo contido em ser
senhora de quem é cativa (pela sedução ela tornava-se senhora do seu senhor, dona
do seu dono).
O sujeito poético serve-se de uma serie de relações antitéticas para conseguir o
mesmo efeito: realçar a beleza de Bárbara: a beleza dos cabelos pretos suplanta a dos
louros; a sua pretidão é mais bela que a brancura da neve; ela parece estranha
(exótica) mas bárbara não (de notar como este adjectivo bárbara – não civilizada,
selvagem – se relaciona com o seu nome próprio Bárbara – um trocadilho implícito); a
sua presença serena acalma a tormenta e o sofrimento (pena) do sujeito poético.
Note-se na expressividade do adjectivo leda (“leda mansidão / que o siso
acompanha”): a mansidão acompanhada de siso poderia dar a ideia de uma mulher
apagada, sem vida, sisuda, mas uma leda mansidão aponta já não para uma mulher
sem vida, mas para uma “presença serena”, uma “doce figura” (doce e serena são
também adjectivos expressivos).
6. Este poema é constituído por cinco oitavas, com versos de cinco sílabas (redondilha
menor). A rima é interpolada e emparelhada, segundo o esquema rimático da
primeira estrofe, que se repete em todas as outras estrofes: ABBACDDC.
O ritmo ligeiro, próprio destes versos de redondilha menor, é adequado para exprimir
a alegria e alívio espiritual que causava ao sujeito poético aquela presença serena, a
doce figura daquela mulher oriental.