1. A EVOLUÇÃO DO HOMEM
A concepção moderna da evolução nos diz que quanto mais variadas
são as funções de que um organismo é capaz, tanto mais complexa é a
sua estrutura. A comparação dos reinos mineral, vegetal, animal e
humano nos demonstra isso. É, pois, natural que o homem apresente
uma complexidade que não se encontre nos organismos menos
desenvolvidos. Mas a complexidade do organismo humano, tal qual nos
é revelada pela anatomia e pela fisiologia, é apenas uma pequena parte
da complexidade total do homem quando este é analisado sob o ponto
de vista espiritual.
Ao nascer um indivíduo, concorrem diversos elementos para a formação
dessa nova unidade humana, a que denominamos "homem". São eles:
1
o
) o Eu, a alma verdadeira do homem, do qual só uma parcela se pode
manifestar no corpo físico a cada encarnação. Esse Eu é a
Individualidade, o Eu interior, o Pensador.
2
o
) a porção de Individualidade que se manifesta numa encarnação,
numa determinada época, numa raça particular, num tal país, para
encontrar determinadas pessoas, etc., como homem ou mulher. Essa
porção da Individualidade é a Personalidade temporária adequada
àquela encarnação para cumprir parte do karma total da Individualidade.
3
o
) a Personalidade, por ocasião de cada nascimento, toma para si um
corpo mental, um corpo astral e um corpo físico.
2. 4
o
) cada um desses três corpos tem uma vida e uma "consciência" que
lhes são próprias, perfeitamente distintas da vida e da consciência da
Personalidade que os usa.
5
o
) o corpo físico, fornecido pelos pais, é o resultado de fatores
hereditários. Por ocasião da formação do embrião, alguns desses
fatores hereditários (gens paternos) são postos em ação de modo a
fornecer à nova Personalidade o veículo físico mais apropriado ao
resgate de uma parte do karma da Individualidade.
6
o
) os corpos astral e mental com que nasce uma criança são produtos
dos corpos astral e mental com que este indivíduo findou a encarnação
anterior.
O homem é, portanto, uma entidade muito complexa, uma resultante de
influências de forças de três mundos: o mental, o astral e o físico. Para
um estudo mais coerente, poderemos dispor tais forças em três grupos:
1
o
) a Individualidade que vive no corpo causal permanente (do plano
mental superior) e que recolhe as experiências de todas as suas
Personalidades.
2
o
) a Personalidade, uma representante mais ou menos parcial da
Individualidade.
3
o
) a "consciência" corporal de cada um dos três veículos - mental,
astral e físico - que a Personalidade ocupa a cada encarnação.
Consideremos, primeiramente, as três espécies de "consciência"
corporal.
3. O corpo físico tem uma consciência que, embora limitada, é suficiente
às finalidades de sua vida e funções. Esta consciência sabe como atrair
a atenção do ocupante do corpo quando é preciso. Se o corpo está
fatigado, ela incita o indivíduo ao repouso; se o corpo precisa de
alimentos e bebida, ela desperta nele a vontade de comer e beber. Não
é o Eu que tem a necessidade de comer, beber ou descansar, quando
essas funções físicas se efetuam, mas unicamente o corpo físico.
Quando o corpo físico dorme, isto é, quando o seu dono o abandona
temporariamente durante o sono, ele é capaz de repuxar as cobertas
para abrigar-se do frio, ou virar-se para dormir numa posição mais
confortável. Se sobrevem um acontecimento que lhe pareça ameaçar a
vida, faz logo o que pode, por mais fracos que sejam seus meios, com o
intuito de se proteger; quer se trate da detonação de uma arma de fogo
ou do estrondo de uma porta fechada com violência, ele recua
instintivamente. A sua consciência não é suficiente para distinguir entre
o perigo que revela a detonação de um tiro e a ausência de perigo
conseqüente do estrondo da porta.
Muitas destas manifestações da consciência do corpo físico são
demasiado simples, não necessitando de nenhuma intervenção por
parte da consciência do ocupante do corpo. Mas algumas vezes é
necessária tal intervenção, como quando se tem de cumprir um dever e
o corpo fatigado protesta, e temos de obrigá-lo ao trabalho. Ou quando
há um serviço perigoso a executar e a consciência do corpo físico,
receosa por sua vida, quer escapar, e deve ser mantida na tarefa pela
vontade do dono do corpo. É nas crianças que as manifestações da
consciência física são mais pronunciadas. Quando um bebê chora e
grita, é a consciência do corpo físico que manifesta suas objeções -
4. razoáveis sob o seu ponto de vista, mas muitas vezes não razoáveis
quanto ao nosso, mas não é a alma do bebê quem grita e chora.
As consciências dos corpos astral e mental se sustentam da vida da
Essência Elemental, que é uma fase da vida do Segundo Logos num
período de manifestação anterior à vida do próprio mineral. Ela está no
arco descendente da vida, descendo à matéria, para se tornar mais
tarde vida mineral, e mais tarde ainda, vida vegetal e animal. A sua
principal necessidade é sentir-se a viver do modo que for possível. Para
isso, precisa de variedade de vibrações, e quanto mais grosseiras, isto
é, mais tendentes para a materialidade, mais lhe agradam. É esta a "lei
em meus membros que combatem contra a lei de meu espírito", de que
fala São Paulo; "o pecado que habita em mim".
A Essência Elemental do desejo (Terceira Essência Elemental) gosta de
que o corpo astral seja excitado; apetece-lhe, em verdade, vê-lo levar
uma "vida excitante". Variedade, novidade, coisas sensacionais, eis o
de que a Terceira Essência Elemental - do desejo - necessita no arco
descendente da vida. Quanto à Essência Elemental Mental (Segunda
Essência Elemental), não aprecia que a mente se fixe num pensamento
único; é irrequieta e anseia por tantas vibrações mentais quantas possa
induzir o seu proprietário a dar-lhe, e daí a dificuldade que
experimentamos em nos concentrar, e a instabilidade da mente.
Mas o proprietário dos corpos astral e mental, o Eu, está no arco
ascendente da vida. Em várias Cadeias anteriores, ele viveu como
mineral, planta e animal. As experiências que as Essências Elementais
mental e do desejo preferem agora, no arco descendente em que se
encontram, não são precisamente as que ele, o Eu, que está no arco
5. ascendente, julga úteis ao seu atual trabalho na vida. Daí a guerra
contínua, pela supremacia, entre o Eu e seus veículos; guerra
pitorescamente descrita por São Paulo nos seguintes termos: "Não faço
o bem que quero, mas, sim, o mal que não quero".
A tarefa do homem no vida é, portanto, dominar os seus veículos e
aplicar a sua energia no cumprimento de seu karma e de seu dharma.
Ele poderá ser bem sucedido, ou não, segundo a força de vontade do
Eu e o seu conhecimento dos meios a empregar. Esse campo de
batalha é interior mas se manifesta exteriormente através dos
pensamentos, desejos e ações do indivíduo.
A Individualidade é o Eu, o Eu superior ou o Eu interior. Possui três
atributos fundamentais chamados Atma, o Espírito, do plano Nirvânico;
Buddhi, a Intuição, do plano Búdico; e Manas Superior, a Mente
Abstrata, do plano Mental superior. Os termos Vontade, Sabedoria e
Atividade também descrevem a triplicidade fundamental do Eu superior.
A Personalidade é o Eu inferior e compõe-se do Manas Inferior ou
Mente Concreta, da natureza astral ou do desejo, das funções físicas e
dos três veículos em que se manifestam tais atividades. O Eu superior
"faz descer" uma porção de si mesmo à encarnação, para o trabalho de
transformação de experiências em faculdades.
Tudo depende, então, da vontade de que dispõe o Eu, e que ele
manifesta no controle de seus veículos. Se a vontade do Eu dominar os
instintos de seus corpos mental, astral e físico, a encarnação atingirá
sua finalidade. Mas, se ao contrário, os instintos dos corpos imperarem,
tal encarnação terá sido um esforço quase inútil. Para a maioria dos
6. homens não há nem domínio completo nem escravidão total; de
algumas coisas conseguem domínio, de outras não.
As funções do corpo físico não são boas nem más; o corpo tem por
dever comer para viver e beber para satisfazer sua sede. O mal começa
quando uma função natural é intensificada, pela identificação da
natureza do desejo do homem com a função. Quando o corpo astral se
deleita com as sensações puramente animais oriundas da ingestão de
alimentos e bebidas, o corpo se torna guloso e ávido de estimulantes;
no começo o corpo astral decide quando os desejos podem ser
satisfeitos, mas depois de algum tempo o instinto físico faz do corpo
astral seu instrumento. É muito natural que um selvagem primitivo seja
um glutão e coma até se enfartar; porém, quando um ser civilizado
permite que uma função puramente física hipnotize o seu desejo
natural, neste momento ele desce ao nível do selvagem. Tal processo
de reversão está bem ilustrado no provérbio abaixo, que se aplica ao
fumo tanto quanto à bebida:
O homem principia por um trago.
Um trago atrai outro trago, E os tragos tragam o homem.
Mas, quando a vontade predomina, por meio das funções físicas o Eu
desenvolve qualidades permanentes de autodomínio e pureza. É muito
útil ao Eu o domínio do corpo físico, a fim de que o mecanismo deste
possa responder rápida e completamente ao seu controle, em suas
atividades vitais. Nutrição racional, boa saúde, exercício dos músculos e
dos membros por meio dos esportes, são úteis à transformação das
funções físicas em autodomínio e pureza.
7. De maneira exatamente semelhante, é natural que o corpo astral
deseje; é natural que o corpo astral proteste contra cheiros
desagradáveis e sons discordantes; é natural que ele sinta prazer num
meio harmonioso e de sons agradáveis. A natureza do desejo do corpo
astral proporciona um delicado instrumento de conhecimento. O mal
começa quando o instinto do corpo astral, ávido por satisfazer seus
desejos, domina e destrona temporariamente o Eu. Um desejo natural
torna-se, então, uma paixão imperiosa e o corpo astral escapa de
qualquer domínio. Quando um homem se encoleriza, manifesta não os
atributos de uma alma humana encarnada, mas os de um animal feroz,
e volve momentaneamente a um período anterior da sua evolução,
arrastado pelo corpo astral que não pode dominar.
Como reverso deste quadro, os sentimentos de nosso corpo astral,
quando inteligentemente dirigidos, podem tornar-se extremamente
sensíveis e delicados, e podem ser transformados em revelações de
afeição e simpatia da alma. O corpo astral torna-se, então, um
instrumento delicado de que nos podemos servir, de modo a suscitar, no
mundo invisível que nos rodeia, vibrações de emoções inspiradoras e
purificadoras.
O que se disse acima acerca da essência elemental do desejo do corpo
astral, aplica-se, com mais razão ainda, à essência elemental mental. A
função do corpo mental é responder ao pensamento; e o pensamento,
quando exercitado pelo Eu, é um meio de descobrir o mundo em que
ele vive. O pensamento concreto pesa e mede o universo, e a função do
pensamento abstrato é transformar todas as experiências dos corpos
mental, astral e físico em conceitos eternos, suscetíveis de serem
incorporados à natureza da alma.
8. Mas os pensamentos desta espécie existem em pequeno número, e isto
por duas razões: em primeiro lugar, porque o corpo mental se liga
freqüentemente aos nossos pensamentos antigos, nossos "pré-
conceitos", persistindo em repeti-los, a despeito de nossos esforços
para dominá-los; em segundo lugar, porque o que pensamos é, regra
geral , mais reprodução de pensamentos alheios captados
inconscientemente do que criação nossa.
Ao segundo tipo pertencem os pensamentos que os outros indivíduos
espalham continuamente na atmosfera mental do mundo, e que,
chocando-se com o nosso corpo mental, despertam automaticamente
em nós, como resposta, pensamentos semelhantes. Quando tais
pensamentos buscam guarida em nós, precisamos selecioná-los,
acolhendo só os que são úteis ao trabalho de nossa alma e repelindo
firmemente todos os outros.
Você já pensou se o seu braço direito, por exemplo, passasse a agir
totalmente fora do seu controle? Ele poderia, então, roubar, matar,
agredir outras pessoas - e até seu próprio dono - sem que nada fosse
feito para detê-lo. Você já pensou como reagiria se seu braço direito
resolvesse, por conta própria, lhe dar um soco? E se, ao vestir uma
roupa para trabalhar, esta se recusasse a sair de casa, resolvendo ir
repousar?
Pois é exatamente isso que permitimos que nossos corpos, às vezes,
façam conosco. Permitimos que nossos corpos nos agridam,
descontrolados, e assistimos a isso passivamente. A preguiça, a ira, a
gula, o pensamento incontrolável e os excessos de quaisquer espécies
não são atributos do nosso Eu imortal, são atributos das essências
9. elementais, em processo involutivo, que constituem os nossos corpos,
os nossos veículos, as nossas "roupas", o nosso braço direito ...
Para o homem, a evolução passa, portanto, pelo adquirir um completo
domínio sobre seus corpos. A tarefa do homem na vida é descobrir o
que ele é, o que é o mundo e o que é o Logos "em que vivemos, nos
movemos e temos o nosso ser". Longos períodos de experiência e ação
são necessários antes que o homem comece a notar esta sabedoria de
Deus e a compreender o plano de Deus que é o evolução. Tal, no
entanto, é a sua tarefa eterna: conhecer nele e nos outros a centelha
divina. Toda a vida é uma oficina onde lhe ensinam a sua tarefa, e
numerosos são os instrutores que o vêm ajudar: são as religiões e as
filosofias de seu tempo. Todavia, o mais bem acolhido de seus
instrutores pode ser o seu Eu interior, a centelha divina que habita em
nós, o "filho no seio do Pai", que lhe pode revelar o plano de Deus com
tal fascinação para a mente, e com tal inspiração para o coração, que
ele jamais poderá encontrar satisfação em qualquer outra revelação
exterior.
10. elementais, em processo involutivo, que constituem os nossos corpos,
os nossos veículos, as nossas "roupas", o nosso braço direito ...
Para o homem, a evolução passa, portanto, pelo adquirir um completo
domínio sobre seus corpos. A tarefa do homem na vida é descobrir o
que ele é, o que é o mundo e o que é o Logos "em que vivemos, nos
movemos e temos o nosso ser". Longos períodos de experiência e ação
são necessários antes que o homem comece a notar esta sabedoria de
Deus e a compreender o plano de Deus que é o evolução. Tal, no
entanto, é a sua tarefa eterna: conhecer nele e nos outros a centelha
divina. Toda a vida é uma oficina onde lhe ensinam a sua tarefa, e
numerosos são os instrutores que o vêm ajudar: são as religiões e as
filosofias de seu tempo. Todavia, o mais bem acolhido de seus
instrutores pode ser o seu Eu interior, a centelha divina que habita em
nós, o "filho no seio do Pai", que lhe pode revelar o plano de Deus com
tal fascinação para a mente, e com tal inspiração para o coração, que
ele jamais poderá encontrar satisfação em qualquer outra revelação
exterior.