Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Revista Nova Millennium - Edição Zero
1. Representatividade
Importa Sim!
Câmara Brasileira do Livro
investe em eventos para
atrair público leitor
Saiba por que a literatura se
tornou peça tão importante
para sua disseminação
A amazonense Lendari é
a primeira editora de sua
região a estar na Bienal
Rocco aproveita o lançamento
da oitava obra de J.K. Rowling
para dedicar parte de seu
estande ao bruxinho
Fanáticos HP:
E MUITO MAIS...
3. 3
S
abendo que o público jovem/adulto fã de
literatura não possui um veículo impres-
so que escreva o que ele quer ler, a Nova
Millennium nasceu com o objetivo de in-
formar e, ao mesmo tempo, levar o leitor à reflexão.
Apesar de você estar recebendo este exemplar na
Bienal Internacional do Livro de São Paulo, ele não
tem só um apanhado do que acontecerá durante os
dias do evento, tem informação, diversão e, claro,
dicas de livros!
Neste número inaugural da Nova Millennium, a
Câmara Brasileira do Livro é o abre-alas. A institui-
ção contará os detalhes de suas ações para trazer o
brasileiro ao mundo da leitura (pg. 6). O Anhembi
é enorme e está lotado de estandes, mas não é só
disso que falaremos. Saiba mais sobre como as fanfics
ultrapassaram as barreiras da internet e acabaram
virando livros de sucesso, na entrevista com a Babi
Dewet (pg. 26) e no artigo sobre livros eróticos,
tendo como carro-chefe a trilogia 50 tons (pg. 30).
Mas também não deixe de conferir nossos destaques,
artigos e a grande matéria sobre representatividade.
Que este seja a primeira de muitas edições da
Nova Millennium. E bom evento para nós!
Kamila Ferreira
EDITORIAL
4. 4
10
Lendari entra
para a história
da Bienal de SP
A amazonense é a
primeira editora do Norte
a estar na Bienal
12
Empíreo inova e
transforma seu
estande em uma
sala de leitura
A editora paulistana
oferece até cafezinho para
conquistar leitores
6
A leitura
pede passagem
CBL investe em eventos
para trazer o cidadão para
o mundo dos livros
26
O poder da literatura
fictícia na Web
Babi Dewet: das fanfics
ao seu primeiro
lançamento na Bienal
30
Por que livros
eróticos chamam
tanto a atenção das
mulheres e coíbem
os homens?
Liderado por E.L. James,
o gênero tirou muitas
mulheres da monotonia
24
Uma breve
viagem no tempo
Você sabe a diferença
entre Romance de Época
e Romance Histórico?
SUMÁRIO
5. 5
14
Fanáticos por
Harry Potter
O bruxinho marca
presença no estande
da Rocco
16
Empoderamento e
Representatividade
ganham espaço na
literatura
A importância da
representatividade
na literatura
32
Agências Literárias:
um novo modelo
de gerenciamento
de carreiras de
novos autores
O mais novo ramo do
mercado editorial
34
Livros Infantis
VS Tecnologia
Cada vez mais as crianças
estão divididas entre
smartphones e livros
EXPEDIENTE
REDAÇÃO
Publisher
Ana Paula Miranda
Editora-Chefe
Kamila Ferreira
Social Media
Angela Rocha
Reportagem
Ana Paula Miranda
Kamila Ferreira
Angela Rocha
Redatora
Kamila Ferreira
Assistente de Redação
Angela Rocha
Revisora
Kamila Ferreira
COLABORARAM
NESTA EDIÇÃO
Fotografia
Ana Paula Miranda
Kamila Ferreira
Angela Rocha
Marcelo Braga
Projeto Gráfico,
Diagramação e
Ilustração
Dan Sousa
Impressão
Laser Press Gráfica
e Editora LTDA.
Contato
/RevistaNovaMillennium
@novamillennium
@novamillennium
revistanovamillennium
@gmail.com
5
6. 6
A
Câmara Brasileira do Livro
é responsável pela organi-
zação de eventos impor-
tantes para a literatura e
tem como plataforma colocar o livro
como ponto central em todo pais.
A quarta edição da Pesquisa
Retratos da Literatura no Brasil,
promovida pela CBL, Sindicato
Nacional dos Editores do Brasil
(SNEL), Associação Brasileira de
Editores de Livros Escolares (ABRE-
LIVROS) e realizada pelo Instituto
Pró-Livro, foi divulgada em maio
deste ano e tem como objetivo cen-
tral conhecer o comportamento do
leitor medindo a intensidade, forma,
representações e as condições de
leitura e acesso ao livro – impresso e
digital – pela população brasileira.
O levantamento mostrou que
houve um crescimento no número
de leitores em relação ao mesmo pe-
ríodo da edição anterior. A pesquisa
ouviu 5.012 pessoas – alfabetizadas
ou não – e seguiu os mesmos mol-
des das pesquisas passadas*.
O estudo é separado em dois
grupos: leitor, aquele que leu –
inteiro ou em partes – pelo menos
um livro nos três meses antecesso-
res à ela e o não leitor, aquele que
declarou não ter lido nenhum livro
nos três meses anteriores. Sabendo
disso, a Retratos da Literatura no
Brasil mostra uma melhora no perfil
do leitor brasileiro.
Concluiu-se que 56% da popu-
lação acima dos 5 anos de idade leu
pelo menos um livro nos últimos três
meses (antecessores a pesquisa). Em
2011, quando foi realizada a última
edição, o índice era de 50%. A
Retratos ainda mostra que houve um
aumento nos índices de leitura per
capita. Se em 2011, um brasileiro lia
quatro livros por ano, em 2015, o
índice chegou a 4,96.
Câmara Brasileira do Livro aposta em eventos
culturais para atrair o cidadão à literatura
Nova diretoria da CBL quer que a leitura se
torne parte do cotidiano do cidadão brasileiro
Por Ana Paula Miranda
A
leitura
pede
passagem:
6
*Pesquisa completa no site do Instituto Pró-Livro.
7. 7
Vera Esaú, gerente de comunica-
ção da CBL, comemora esse aumen-
to de público. Para ela, o mercado
editorial está em transformação. Atu-
almente o público possui muito mais
opções, podendo consumir obras
não apenas em formato físico, mas
também digital ou auditivo. Tam-
bém há autores que auto-publicam
suas obras e o surgimento de editoras
independentes, quebrando assim
aquela ideia de editoras tradicionais e
livros apenas impressos.
“Hoje nós temos muitos mode-
los de negócio que ajudam a leitura,
seja no papel, celular, tablet ou
computador. Acreditamos sim, que
apesar da defasagem da educação,
as pessoas estão lendo, sim, e mais,
se não necessariamente livros, estão
consumindo conteúdo”.
As feiras literárias são os
maiores exemplos positivos no setor
editorial. Elas atraem uma grande
quantidade de público e contribuem
para a formação de novos leitores.
Independentemente de compras, es-
sas iniciativas fomentam o mercado.
Há tempos a Bienal Interna-
cional do Livro de São Paulo, por
exemplo, vem mudando seu formato
com o intuito de ser um evento mais
cultural, deixando de ser apenas
uma feira de livros. Com palestras,
shows e diversas atividades, a atração
chama atenção do público e torna o
evento mais agradável. Esaú explica
que essa mudança aconteceu para
mostrar que “além do mundo de
livros que você pode ter, há um
evento multicultural”. Isso acontece,
pois, segundo ela, um livro contém
temáticas variadas, então, porque
não aproveitar em um evento maior?
A 24ª Bienal Internacional do
Livro de São Paulo tem como tema
“Histórias em Todos os Sentidos”,
justamente com objetivo de convi-
dar o visitante a conhecer diversos
lados de uma história. Dividida em
ambientes, o evento receberá pales-
tras, contação de história, shows de
músicas, cordéis e até culinária. Em
todas as atrações, a estrela principal
era o livro. A organização acredita
que, dessa forma, atrairá um público
diferente e com mais interesse.
Outra novidade para esse ano
foram os roteiros criados no site
do evento. Após ouvir reclamações
do público sobre a Bienal anterior,
a CBL resolveu criar um sistema
de senhas distribuídas com antece-
dência para as maiores sessões de Vera Esaú
Acreditamos sim,
que apesar da
defasagem da
educação, as
pessoas estão
lendo, sim, e
mais, se não
necessariamente
livros, estão
consumindo
conteúdo
7
8. 8
Fenômenos desde 2015, os
youtubers vêm tomando espaço nas
prateleiras de livrarias e lares. Nomes
como PC Siqueira, Jout Jout, Felipe
Neto, Maju Trindade e Kéfera não
saem das conversas dos jovens e
ganham espaço em grandes eventos
como Bienais. A curitibana e dona
do canal 5incoMinutos, Kéfera Bu-
chmann foi a autora mais vendida
durante a Bienal do Rio de Janeiro,
em 2015, o que faz com que
muitos autores e livreiros “torçam
o nariz” questionando se são livros
de qualidade ou não. A gerente de
comunicação da CBL, Vera Esaú, é
incisiva quando diz que esses livros
são importantes e ajudam a trazer
novos leitores. “São livros com frases
curtas, com ‘bobagens’, mas o jovem
lê esse, depois lê o de outra youtuber
e assim começa a pegar gosto pela
leitura. Por que não? A comunicação
hoje é essa, tudo acontece muito
rápido, é o momento de aproveitar
isso e trazer os jovens para a leitura.
Tudo é válido, pois a CBL acredita
que nenhum desses novos formatos
tirará o brilho dos livros impressos.
Eles coexistem”.
8
YOUTUBERS
autógrafos e roteiros para os fãs de
um determinado estilo. Pelo site
ou aplicativo, o usuário terá mais
conforto para escolher os eventos
dos quais quer participar. Ainda
pensando no bem-estar do público,
a Bienal conta com um pavilhão a
mais, visando um fluxo mais con-
fortável entre um estande e outro.
Os ônibus gratuitos partem do
Terminal Tiete – todos os dias – e
do Terminal Barra Funda – somente
nos fins de semana – facilitando o
trânsito e a chegada do visitante.
Há tempos, os eventos literários
deixaram de ser feiras de compra
e venda e passaram a ser mais
interativos. As editoras passaram a
valorizar mais os autores nacionais
e eles sempre estão à disposição de
encontrar seus leitores para conver-
sas sobre as obras.
9. 9
Fundada em 1946, a Câmara Brasileira do Livro (CBL)
completa 70 anos de atividades em 2016.
A CBL tem como missão atender aos objetivos de ampliar
o mercado editorial brasileiro por meio da democratização
do acesso ao livro e da promoção de ações para difundir
e estimular a leitura.
Segue trabalhando com o firme propósito para que o livro,
em todos os seus formatos, esteja cada vez mais presente
na vida dos brasileiros, como o mais poderoso instrumento
para ampliar o conhecimento e desenvolver indivíduos!
SETENTA ANOS
DEDICADOS
À PROMOÇÃO
DO LIVRO E
AO INCENTIVO
À LEITURA.
câmara brasileira do Livrocbloficial@cbl_oficialcamaradolivro
10. 10
A
história da Lendari começa
em 2012, quando o escritor
Mário Bentes lança seu
livro “A Terra Por Onde
Caminho” em uma editora de
auto-publicação. Porém, após ter
problemas com a empresa, optou por
estudar o mercado realizando cursos
como Administração de Editoras,
Tratamento de Originais, Edição
e Mercado Editorial. Durante um
ano o autor viajou de Brasília a São
Paulo, para concluir sua formação no
segmento editorial. Na Bienal de São
Paulo de 2014, ele participou como
autor independente e consolidou sua
rede de contatos, abrindo as portas
de sua própria editora.
Bentes, agora editor-executivo da
Lendari, apostou na literatura fantás-
tica cult, que além de ser o gênero de
preferência do autor, está muito em
alta no mercado editorial.
Para a Bienal de SP 2016, a
Lendari traz três lançamentos: “A
Rainha de Maio”, de Jan Santos;
“Quase Fim”; de Leila Plácido e
“Minhas Conversas com o Diabo -
Livro Um”, de Mário Bentes, além da
antologia “Quando a Selva Sussurra”,
uma coletânea de contos amazônicos.
Este último foi lançado em 2015 e
o próprio Mário foi o organizador e
autor de dois textos.
O editor-executivo afirma que a
logística é muito diferente para trazer
uma editora do que apenas trazer seu
nome de autor independente. “Foi
mais difícil porque a logística para
quatro livros é muito maior. Fora
que, como independente, você carre-
ga apenas o seu nome, mas quando é
uma marca institucional, você precisa
ter uma cara.” Ele conta que o cui-
dado é maior porque duas obras são
autorais (A Rainha de Maio e Quase
Fim) e a antologia foi escrita por 13
autores, portanto, ele é responsável
por divulgar todos esses nomes.
Também foram necessárias parcerias
com empresas que são responsáveis
por montar e personalizar o estande,
auxiliando na divulgação da editora
durante o evento.
Lendari entra
para a história
da Bienal de SP
por ser a primeira
(e única) representante
da região Norte
Sediada em Manaus, a editora foi fundada em
2014 e vem para a capital paulista com o intuito
de apresentar seu selo ao público
Por Kamila Ferreira
11. 11
Além da logística, há também a
parte financeira. Por ser uma marca
nova, a Lendari montará seu estande na
Travessa Literária, onde os espaços são
pequenos, com tamanho e preço fixos.
Mário conta que o foco da Bienal
de SP 2016 seria na divulgação de
“Quando a Selva Sussurra” que, além
de ser o primeiro título publicado
pela editora, tem o objetivo de ser
o carro-chefe da marca. Entretanto,
como a Lendari já possui uma boa
estrutura, com três títulos, ele resol-
veu que apresentará todo o acervo
durante o evento. Ele ainda diz que a
Travessa Literária é importante tanto
para o autor independente como
para as pequenas editoras, mas, como
o espaço é limitado, a ideia é que nas
próximas edições seja montado um
estande maior, capaz de receber o
público com mais conforto.
O caminho da editora até a
Bienal não foi fácil. Mário criou
um crowdfunding (financiamento
coletivo) para poder imprimir os
três lançamentos da Lendari, mas o
valor solicitado não foi alcançado,
nem o montante obtido revelado.
Bentes escolheu reverter a quantia
para financiar os e-books, que serão
lançados no fim deste ano. Para que
os títulos fossem impressos, ele e os
demais autores utilizaram recursos
próprios, além de outros tipos de
arrecadação, como Jan Santos, que
organizou uma feijoada para garantir
que as cópias de A Rainha de Maio
fossem impressas.
A Lendari está na Travessa Literá-
ria, no estande L079.
O termo Lendari é uma
homenagem à produtora de
filmes Legendary Pictures, mas
ele pronunciava “Lêndari”. As
pessoas começaram a falar
a marca de modo que “da”
passou a ser a sílaba tônica e o
nome acabou pegando.
12. 12
Em sua primeira
participação na Bienal
de SP 2016, Empíreo
inova e transforma seu
estande em uma sala
de leitura
A editora trará para o evento uma extensão de sua filosofia,
onde autores, leitores e funcionários são uma família
Por Kamila Ferreira
13. 13
A
Empíreo nasceu em 2013,
pelas mãos do publisher*
Filipe Larêdo, que tinha o
desejo de publicar livros da
maneira que ele gostaria que fossem
publicados, com qualidade escrita
e gráfica impecáveis. Para a Bienal
de SP 2016, a editora resolveu fazer
diferente: transformará seu estande
em uma sala de leitura, com o
objetivo de acolher os leitores, assim
como já faz com os autores, em um
ambiente personalizado e confortá-
vel, onde será possível desde tomar
um café a conversar com o autor do
seu livro favorito.
Para que o projeto desse certo,
a editora fechou parceria com o
ateliê Oito Mãos, uma empresa
que constrói móveis com madeira
recuperada, de maneira sustentável,
transformando o estande em uma
sala de leitura e ao mesmo tempo
em vitrine do ateliê. E todos os
móveis que compõem a decoração
do estande estarão à venda. Além
disso, o estande possui uma vitrola
que toca um repertório de músicas
calmas e tem até cafezinho, para
aqueles que não conseguem largar a
bebida enquanto leem.
Na sala de leitura serão
promovidos diversos encontros
para a leitura de trechos de alguns
lançamentos da marca. A ideia é
convidar o público para conhecer
a marca e fazer com que os leitores
abracem a Empíreo.
Valores não foram revelados,
mas Larêdo afirma que o que deve-
ria ser cansativo acabou se tornan-
do divertido, mostrando como a
Empíreo é mais que uma corpora-
ção: é uma família. “Foi trabalhoso
porque demandou energia e custos,
só que a nossa equipe é muito
unida, o que não é diferente com
nossos autores, portanto consegui-
mos dividir bem as tarefas, além de
termos conseguido parcerias com
outras empresas como a Primavera
Editorial, além da já citada Oito
Mãos.” Podemos concluir então,
que a sala de leitura funcionará
como um reflexo da editora.
A Empíreo está no estande
G073.
No livro Paraíso, de Dante Alighie-
ri, a palavra empíreo aparece
com o significado de “o mais
alto grau dos céus, onde tudo é
perfeito”, ou seja, Larêdo conce-
beu a Empíreo com o objetivo de
publicar obras com a mais alta
qualidade, desde os textos es-
colhidos até a parte gráfica, tudo
isso dentro dos limites financei-
ros que a empresa possui - e o
mercado permite.
*Publisher é o profissional que define qual será a linha editorial que a casa seguirá,
além de analisar o mercado, o perfil editorial e o que será publicado.
14. 14
ESPECIAL
A editora Rocco dedicou um
espaço super especial aos
fãs do bruxo Harry Potter na
24ª Bienal Internacional do
Livro de São Paulo
Por Angela Rocha
14
15. 15
N
o ano em que o fenômeno
Harry Potter ganha sua
oitava história — Harry
Potter and the cursed Child
(Harry Potter e a Criança Amaldi-
çoada em português), disponível
nas livrarias do Brasil no dia 31 de
outubro —, a editora Rocco reser-
vou um estande em homenagem a
esse grande sucesso e organizou um
encontro dedicado aos fãs do bruxo,
o “Encontro Fanáticos Rocco”*,
no espaço Ignácio Loyola Brandão,
estande N010, com bate-papo,
brincadeiras e brindes.
Para decorar o estande, a editora
resolveu reproduzir a plataforma
King’s Cross, para que os leitores
possam tirar fotos segurando o
cachecol das escolas Grifinória,
Lufa-Lufa, Corvinal ou Sonserina,
até mesmo fingir atravessar a parede
para chegar a estação 9¾.
Ainda sobre o estande, o leitor
pode esperar uma decoração especial
com varinhas mágicas, um baú
cheio de cartas, bagagens, sapos,
corujas e aranhas (que remetem ao
personagem Ronald Weasley e seu
medo pelos aracnídeos).
O livro
“Harry Pot-
ter e a Criança
Amaldiçoada” é
inspirado no roteiro
da peça teatral ho-
mônima, escrita por J.K.
Rowling, Jack Thorne e John
Tiffany. O espetáculo que estreou
no dia 30 de julho, no Palace The-
ater, em Londres, já tem ingressos
esgotados até maio de 2017.
A trama foi dividida em duas
partes e se passa 19 anos após o tér-
mino do último livro “Harry Potter
e as Relíquias da Morte” (2007).
Nesta edição Harry estará na vida
adulta, trabalhando no Ministério
da Magia, casado com Gina Weasley
e juntos eles têm três filhos: Alvo
Severo, Tiago Sirius e Lílian Luna
(na versão original James Sirius,
Lily Luna e Albus Severus) sendo
que Alvo Severo é em homenagem a
Snape e Dumbledore.
Como nem todos poderão pres-
tigiar o espetáculo, ele foi adaptado
e seu e-book que sairá em
português pela Pottermo-
re (um projeto digital
de audiobook dos
sete livros de
Harry Potter),
junto com
a edição
impressa.
Todos os sete livros escritos pela
J.K. sobre Potter venderam mais
de 450 milhões de cópias, já foram
traduzidos para 79 idiomas e publi-
cados em 200 países ou territórios e
todos os filmes baseados nas histórias
arrecadaram mais de US$ 7 bilhões.
Desde que sua última obra
cinematográfica foi lançada, são
esperados novos contos e adaptações
para o cinema, e não é à toa que a
Rocco dedicou um espaço para o
bruxo. Além de Harry Potter and
the Cursed Child I e II, Rowling
também será roteirista na adaptação
do filme “Animais Fantásticos e
Onde Habitam”, uma ampliação do
mundo mágico para os cinemas.
Diferente da peça, que se passa
19 anos após o término do último
livro, “Animais Fantásticos…” volta
70 anos na história de Harry. A saga
incentivou diversos jovens e adultos
a lerem mais e até escreverem suas
obras e, mesmo depois de anos,
consegue fazer sucesso, deixando
os amantes de Harry Potter com o
coração aquecido.
15
*Estande Rocco L060
16. 16
N
o mundo de hoje, é impos-
sível não falar sobre repre-
sentatividade. Mas, por que
passou a ser tão importante
falar sobre ela?
Em uma sociedade que, em
pleno século XXI, ainda não deu
seu devido lugar às mulheres, aos
negros, às pessoas com deficiência e
à comunidade LGBT, cada vez mais
torna-se importante - e essencial
- discutir porque essas minorias -
que, juntas, são mais da metade
da população brasileira - ainda
precisam batalhar para conseguirem
seus direitos.
Graças à internet e as redes so-
ciais, ficou muito mais fácil a criação
de fóruns e grupos para discutir e
fomentar ações que promovam a
representatividade e o respeito à di-
versidade. Ainda assim, com tantos
espaços voltados para a discussão do
tema, a mídia tradicional parece ig-
norar que, sim, é preciso falar sobre
se sentir representado, principal-
mente em nossa sociedade patriarcal
e machista. Muitas pessoas que se
sentem parte das minorias encon-
traram na literatura uma maneira
de se sentirem representadas - e de
representar também.
E, tendo como plano de fundo
a diversidade, surgiram autores
Empoderamento e
Representatividade
ganham espaço na
literatura
Em tempos onde as
redes sociais se tornaram
palco para grandes
discussões sobre os
direitos das minorias, a
literatura abre espaço
para a diversidade
Por Ana Paula Miranda | Kamila Ferreira
16
17. como Conceição Evaristo, Ana
Maria Gonçalves, David Levithan,
Chimamanda Ngozi Adichie que
quebraram paradigmas ao criar
personagens que, ao não se encaixa-
rem nos já conhecidos estereótipos,
acabam sendo vistos justamente
por aqueles que mais necessitam se
sentir integrantes da sociedade.
Agora, responda rápido: quando
foi a última vez que você leu um
romance em que o(a) protagonista
era negro(a) (e não era escravo)? Ou
homossexual? Ou deficiente físico?
Demorou para responder? Pois é,
caso tenha se lembrado de algum.
Isso se você chegou a ler algum.
Pensando nisso, a Nova Millennium
conversou com alguns autores sobre
a importância de discutir o tema.
GirlPowerÉ possível que você nunca tenha
parado para pensar, mas dificilmen-
te encontramos protagonistas fora
do “padrão europeu de beleza”, afi-
nal, fomos criados acreditando que
esse é o modelo correto. As mulhe-
res precisam “se dar ao respeito”, ou
seja, servir sua família, ser submissa
ao homem e nunca, jamais, expor
suas opiniões. Esse comportamen-
to é visto constantemente nos
romances. Os chick-lits, em sua
maioria, contém uma perso-
nagem insegura, frágil e sempre
dependente de um olhar masculino
para melhorar sua auto-estima. Em
contrapartida, nos Romances de
Época, que são ambientados em um
período histórico - normalemente
em meados do século XIX - onde o
machismo imperava, suas persona-
gens são mais determinadas e pro-
curam quebrar padrões arraigados
na sociedade.
Ironicamente, em pleno século
XXI, mesmo com tantas discussões
sobre empoderamento, feminismo
e sororidade, ainda é possível ver
protagonistas com a mentalida-
de do período Vitoriano. Mas,
uma nova onda de autoras estão
quebrando esse ciclo vicioso de
submissão e repressão.
A escritora Larissa Siriani
começou sua carreira de maneira
independente em 2009, quando
ainda era mais difícil publicar um
livro. Depois de algumas tentativas
em pequenas editoras, ela fechou
contrato com a Verus, um selo do
Grupo Editorial Record. “Amor
Plus Size” está sendo lançado nesta
Bienal do Livro e conta a história
de Maitê, uma jovem que sofre
gordofobia no colégio. Larissa, que
se inspira em autoras como Meg
Cabot e Paula Pimenta, escreve para
um público mais jovem. Para ela,
Larissa Siriani
A partir do momento
em que você
enxerga a raiz do
problema, tratá-lo
se torna mais fácil
17
18. 18
esse padrão acontece justamente por
atitudes que são repetidas constan-
temente em nossa sociedade. “A
partir do momento em que você
enxerga a raiz do problema, tratá-lo
se torna mais fácil. Por que não ter
duas mulheres se ajudando em vez
de competindo? A inserção cada
vez mais constante de personagens
empoderadas ajuda a quebrar esses
padrões”, afirma a autora.
Thati Machado começou sua
carreira no extinto Orkut publi-
cando fanfics. Hoje faz sucesso nas
plataformas digitais e está lançando
seu livro “Poder Extra G” pela edito-
ra Astral Cultural. A obra fala sobre
Nina, uma jovem que está acima
do peso e, após sofrer uma grande
desilusão amorosa, resolve ir para
a Argentina por um mês, regado a
doce de leite e passeios. Thati criou
uma personagem propositalmente
“poderosa” para que outras pessoas
pudessem se identificar. Para ela
“quando colocamos mocinhas
estereotipadas em romances, por
exemplo, estamos dizendo para as
meninas fora desses padrões surreais
que isso não aconteceria com ela.
E a verdade é que as grandes his-
tórias de amor, as histórias de amor
da vida real, são protagonizadas por
pessoas como eu, você, nosso vizi-
nho, aquele primo distante…”.
Juntas, elas criaram o #GPo-
wer, em parceria com as autoras
Janaína Rico e Mila Wander, que
tem como o objetivo promover o
bem estar e a autoestima que foge
dos padrões já conhecidos entre as
leitoras. Mas como escrever sobre
um determinado assunto sem cair
nos famosos estereótipos? Para as
escritoras é importante estudar bem
sobre o tema e não ter medo de
inovar. “Quando você busca criar
algo único que você ainda não viu
em outros livros, é claro que você
corre riscos, mas você acaba saindo
de uma zona de segurança que pode
ser bastante entediante e repetitiva”,
afirma Thati.
É necessário entender que o
romance nem sempre vai ser relacio-
nado a um casal, mas sim uma des-
coberta pessoal da personagem, e é
aí que a representatividade aparece.
Ela é importante para que as pessoas
possam se inspirar e reconhecer seu
verdadeiro valor. Larissa pontua
que a falta de trabalhos tanto nos
meios literários, quanto em outros,
foi o que a motivou a falar sobre o
assunto. “A gente não pode cobrar
representatividade se nós mesmos
não abrirmos este espaço. Tem que
começar de algum lugar. Se todo
mundo for esperar o próximo fazer,
nunca vai haver espaço para todo
mundo”, finaliza a autora.
Thati Machado
A gente não pode co-
brar representatividade
se nós mesmos não
abrirmos este espaço.
Tem que começar de
algum lugar
18
19. Diversidade
literáriaJá parou para pensar que, nas
novelas e filmes, o gay é sempre
estereotipado? Ele é o escandaloso,
depravado, excêntrico… Mas, na
literatura, nem sempre ele (e ela
também) é lembrado. Ou por acaso
encontra-se com frequência livros em
que o homossexual é retratado como
ele mesmo - ou seja, livre dos incô-
modos e preconceituosos rótulos?
Mesmo estando em 2016, às
vezes parecemos estar na Idade Mé-
dia, tamanho é o número de agres-
sões contra gays, lésbicas, bissexu-
ais, transsexuais e travestis. Quem
não se lembra do emblemático caso
do casal gay que foi agredido com
uma lâmpada fluorescente em plena
Avenida Paulista? O crime acon-
teceu em 2010, mas volta e meia
é lembrado quando surgem novos
casos de homofobia.
Entretanto, se por um lado, há
preconceito, ignorância e homo-
fobia, por outro, a literatura abre
portas para que autores possam
contar suas histórias que, mesmo
tendo protagonistas gays, qualquer
pessoa pode se identificar, pois os
temas são os mesmos que existem
em romances hétero: amor, medo,
ódio, paixão, e assim por diante.
Robson Gabriel iniciou sua
carreira ainda muito jovem,
escrevendo fanfics relacionadas à
série “Os Instrumentos Mortais”.
Só aos vinte anos resolveu escrever
“Imperfeito”, primeiro na platafor-
ma Wattpad, só depois chegando à
Astral Cultural, que estará lançan-
do a obra nesta Bienal.
Imperfeito conta a história de
Daniel, um jovem que, durante a
festa de despedida do Ensino Mé-
dio, assumirá sua homossexualidade.
Agora na faculdade, ele está cheio de
dúvidas e angústias sobre como agir,
o que fazer. Tudo isso com apenas
18 anos. O autor contou à Nova
Millennium que se inspira quando
observa pessoas, sejam conhecidas
ou não. “Com Imperfeito, tive mui-
tos momentos de inspiração com
coisas que aconteceram comigo,
com amigos e com a incansável
onda de preconceito que estamos
lutando para quebrar.”
Além de Robson, outros autores
merecem destaque por escreverem
histórias com temática LGBT
que fogem dos rótulos, ao mesmo
tempo, encantando e emocionando
os leitores. São eles: Bill Konigs-
berg, autor de Apenas Um Garoto
(ed. Arqueiro) e a dupla Vinícius
Grossos e Augusto Alvarenga, que
escreveram 1 + 1 - A Matemática do
Amor (Faro Editorial).
Mas se já é difícil vermos his-
tórias onde a gorda e o gay figuram
em papel de destaque, o que dizer
então de pessoas com deficiência? E
de portadores do vitiligo?
Um dos poucos romances re-
centes que alcançou grande sucesso
tendo um deficiente físico (tetra-
plégico) como protagonista foi o
best-seller “Como Eu Era Antes de
Você”, da inglesa Jojo Moyes. Mas,
e no Brasil, quantos escritores se
aventuraram a escrever uma trama
em que um cadeirante (ou portador
de alguma dificuldade motora) tem
papel de destaque? Ou que, pelo
menos, ele termina a história de
maneira cabível, em vez de morrer
ou se recuperar milagrosamente?
Se quase não vemos portadores
de alguma deficiência em livros, que
dirá então de portadores do vitiligo?
Segundo o site da Sociedade Bra-
sileira de Dermatologia, a doença
“forma-se devido à diminuição ou
ausência de melanócitos (as células
responsáveis pela formação da me-
lanina, pigmento que dá cor à pele)
nos locais afetados. As causas da
doença ainda não estão claramente
Robson Gabriel
É só utilizando as
minorias e mostrando
que são tão normais
quanto os padrões,
que estes estereótipos
podem ser quebrados
19
20. 20
estabelecidas, mas fenômenos au-
toimunes parecem estar associados
ao vitiligo. Além disso, alterações
ou traumas emocionais podem estar
entre os fatores que desencadeiam
ou agravam a doença.”
Ainda segundo a SBD, o vitiligo
não é contagioso, tampouco altera
a saúde física e mental do paciente,
mas, como a sociedade ainda não
aprendeu a conviver com os porta-
dores dessa doença, costuma olhar
com nojo e desdém e, claro, isso
impacta diretamente na auto-estima
e qualidade de vida da pessoa, o que
pode acarretar no desenvolvimento
de outros males.
Na contramão disso tudo,
Walter Tierno ousou e lançou este
ano “Como Tatuagem”, pela Verus.
Porém, até chegar a essa história, o
autor passou por diversas situações.
Ele começou sua carreira literária no
ano 2000, ao lançar uma HQ. Mas,
por ter cometido diversos erros, a
publicação foi um fiasco e ele só vol-
taria a escrever dez anos depois. Após
lançar “Cira e o Velho” (publicação
independente), “Anardeus - No
Calor da Destruição” (em 2013, pela
Giz Editorial) e “Amor de Todas as
Cores” e “De Pai para Filho” (dois
livros de colorir lançados em 2015
pela BestSeller, selo do Grupo Re-
cord), ele presenteia os leitores com
duas histórias de superação que, ao
se unirem, mostram ao público que
nada é impossível.
Como Tatuagem nos apresenta
Artur, um típico playboy. É rico,
superficial, egoísta, mimado, tem
tudo nas mãos, até que um grave
acidente interrompe sua vida. Para
ajudá-lo na recuperação, é contra-
tada a fisioterapeuta Lucia, que é
portadora do vitiligo e tem apenas a
mãe ao seu lado. Até que seu apoio
materno deixa de existir, e junto
com Artur, ela descobrirá o que é o
amor e tudo mais que envolve este
lindo sentimento.
Para escrever este livro, o autor
precisou pesquisar bastante. Sua
leitora beta, que ele identificou
como Carol, é portadora do vitiligo.
Também conversou com a fisiote-
rapeuta Mariana dal Chico, que lhe
explicou seu dia-a-dia, além de ter
abordado com detalhes a recupera-
ção de amputados.
É necessário discutir a repre-
sentatividade em todos os aspectos,
porque, desse modo é que os estere-
ótipos e rótulos são desconstruídos.
Quando um negro, uma gorda, um
gay ou uma cadeirante protagoni-
zam (ou tem papel de destaque) em
um livro, pode parecer um pequeno
passo, mas é um grande salto na
quebra de paradigmas.
Segundo Walter, a representa-
tividade deveria ser algo natural ao
escritor. “Eu acredito que, muito
mais importante que escritores
darem espaço a personagens repre-
sentativos, é aumentarmos o espaço
para a diversidade de escritores e
escritoras.”
Já para Robson Gabriel, é
complicado escrever sem cair nos
estereótipos, é necessário primeiro
desconstruir pensamentos e encon-
trar uma solução dentro do próprio
rótulo. “É só utilizando as minorias
e mostrando que são tão normais
quanto os padrões, que estes estereó-
tipos podem ser quebrados.”
Representa-
tividade
RacialO debate sobre a questão racial
acontece há séculos e é necessário
que isso aconteça desde cedo. A
educação é fundamental para acabar
com o racismo, afinal uma criança
não nasce preconceituosa, ela se tor-
na pelo que vê na sociedade. E para
que não existam adultos preconcei-
tuosos é imprescindível a existência
Walter Tierno
Muito mais importante
que escritores darem
espaço a personagens
representativos, é au-
mentarmos o espaço
para a diversidade de
escritores e escritoras
20
21. 21
de livros com personagens negros
nas livrarias, porém, esses ainda são
difíceis de encontrar.
Uma criança precisa exercer sua
capacidade imaginativa se colocando
no lugar dos protagonistas, isso faz
parte do desenvolvimento, mas como
os pequenos poderão se espelhar se
não temos muitos materiais na mídia
para eles? Isso sem contar com todos
os estereótipos raciais que ainda exis-
tem nos filmes, novelas e literatura.
José Manuel Alvarez começou
sua carreira em 2013, na plataforma
Wattpad, publicando semanalmente
seu romance Amor Infinito, sendo
posteriormente convidado a lançar a
obra pela editora Tribo das Letras.
A obra futurista conta a história
de almas gêmeas e reencarnações,
mas sem focar na religião, fugindo
da mesmice “onde a jovem pobre e
ingênua se apaixona por um CEO
da corporação onde trabalha” e com
muito mistério foi bem recebida pelos
leitores que comentavam ao final de
cada capítulo postado na plataforma.
Alvarez explica que quando
começou a escrever seu livro, tinha
certeza que haveria uma protago-
nista negra. “Eu optei por casais
mistos para reforçar esta minha
crença antiga de que não há limite
racial ou étnico para o amor. Acho
que isso deveria ser mais destacado
na nossa literatura. Escrever sobre
famílias negras e brancas juntas, não
destacadas em nichos, mas integra-
das” explica o autor.
Já o escritor Oswaldo de Camar-
go começou sua carreira cedo. Aos
16 anos já escrevia poemas rimados,
mas só aos 35 resolveu iniciar a
produção em prosa. Considera-se
um herdeiro de buscas culturais de
negros do país e propaga isso em
suas obras. Seu livro de contos “O
Carro do Êxito” é considerado uma
ficção mesclada com a realidade:
“me inspiro bastante na sociedade
negra paulistana, em meu pai, que
era analfabeto, em situações que
vejo e em pessoas que encontro nas
ruas” explica o autor.
Para Oswaldo, a falta de repre-
sentatividade acontece historica-
mente, desde a abolição até os dias
de hoje. “Para quebrar estereótipos
é preciso conhecer a história do
negro e saber interpretá-la. Não é só
a literatura que o negro escreve que
vai ajudar nisso, mas acredito na sua
importância.” Alvarez acredita que
o tema não pode perder força de
debate: “todos somos o povo brasi-
leiro, que não é uma ou outra etnia
separada, mas uma união de todas
elas. Quanto mais isso é destacado
e incluído nas artes e literatura,
maior será o crescimento enquanto
brasileiros, enquanto raça humana”,
finaliza o autor.
Pode parecer um desafio, mas
quebrar as barreiras desse mercado
despertando o interesse das pessoas
e ensinar a importância da repre-
sentatividade é o primeiro passo
para obras com mais pluralidade e
criatividade. Até porque falta muita
imaginação a quem só consegue
enxergar heróis de uma maneira só.
Para quebrar estereóti-
pos é preciso conhecer
a história do negro e
saber interpretá-la
Oswaldo de Camargo
Não há limite racial ou
étnico para o amor
José Manuel Alvarez
21
24. 24
D
istopias, terror, co-
médias, sobrenatural,
romances… A quan-
tidade de gêneros é
infinita para agradar a todos os tipos
de leitor. Com um livro é possível
conhecer outros lugares e épocas que
nunca imaginaríamos conhecer. Um
exemplo disso são os romances de
época. Responsáveis por nos mostrar
a sociedade no tempo da aristocra-
cia, esses romances estão ganhando
cada dia mais espaço nas prateleiras.
Você sabe a diferença entre Ro-
mance de Época e Romance Históri-
co? Pode parecer que não, mas há
uma diferença entre os gêneros.
Segundo a RWA (Romance
Writers Of America), todos os
romances têm uma história de amor
central e um final emocionalmente
satisfatório. Além disso, um roman-
ce pode ter qualquer tom ou estilo,
ser definido em qualquer lugar ou
tempo e ter diferentes níveis de sen-
sualidade. Sabendo disso, é preciso
entender quais conceitos separam os
dois gêneros.
O Romance Histórico surgiu
no início do século XIX, e tinha
como característica a reconstrução
dos costumes, falas e instituições do
passado. Seu enredo se concentra no
romance entre o herói e a heroína e
tem como pano de fundo uma mes-
cla entre fatos históricos e fictícios.
Já o Romance de Época é um
subgênero do Romance Histórico.
Suas obras estão mais preocupadas
com os hábitos e costumes de uma
época e não com fatos históricos.
A maioria dos enredos mostra a
sociedade no período vitoriano,
valorizando costumes como etiqueta
social, moda, passeios, festas e
afins. Outros fatos presentes são a
fragilidade da mulher, casamento
por conveniência e diferenças entre
as classes sociais.
Autoras como Loretta Chase,
Lisa Kleypas, Tessa Dare, Patricia
Uma breve
viagem no
tempo
Através dos livros é possível viajar
no tempo, basta apenas encontrar
um local de tranquilidade e
deslocar-se sem fazer força.
Por Ana Paula Miranda
24
25. 25
Cabot e Julia Quinn ganharam mais
espaço em nossas livrarias há alguns
anos e não demorou muito para
surgirem autoras do gênero no país.
Em 2013, a Editora Arqueiro
publicou três Romances de Época
de uma única vez. Uma forma de
difundir o gênero e agradar aos
fãs já existentes. Com esse boom,
foi mais fácil para as autoras
nacionais demonstrarem seus
talentos e conhecimentos sobre
a vertente literária.
No Brasil, nomes como
Lucy Vargas, Roxane Norris,
Veridiana Maenaka e Babi A.
Sette são conhecidos e chamam
a atenção das leitoras.
Babi começou sua carreira
com o romance contemporâneo
Entre o Amor e o Silêncio, lan-
çado pelo selo Novos Talentos
da Literatura Brasileira, da Novo
Século Editora, e logo conquis-
tou a admiração de milhares
de leitoras que esgotaram os
exemplares em poucos
meses. Mesmo com
o sucesso da obra, a
autora resolveu mudar
totalmente o rumo de
sua carreira lançando
dois romances de época.
Os livros da série Flores
da Temporada foi lan-
çado pelo selo oficial da
mesma editora. Mas se
você pensa que a autora
resolveu mudar o estilo
por tendência, está mui-
to enganado.
Romance de Época
sempre foi o gênero
favorito dela, o que faci-
litou na hora de compor
as obras. “Tenho um pezinho no
século passado, me sinto mais à von-
tade em escrever romance de época
que outros gêneros”, afirma Babi em
entrevista à Nova Millennium.
Para a autora, se analisarmos his-
toricamente, a tendência demorou
para chegar no país. Ela comentou
também o trabalho redobrado que
tem ao compor um livro, já que as
pesquisas precisam ser muito mais
específicas e completas. “Durante
a escrita, normalmente vem uma
dúvida ou outra. Por exemplo, qual
a caneta usada na época, ou lampari-
nas e outros objetos, daí paro tudo e
recomeço a pesquisa. Mas o fato de
ler muito sobre o assunto me ajuda
a compor o livro”, explicou.
Para ela, a tendência é que
os Romances de Época cresçam
cada vez mais no país, incenti-
vando e trazendo nossos talentos
para nossa literatura. Fã das
redes sociais, Babi diz que não
imagina como seria a divulga-
ção sem o auxílio dos fãs. “As
redes sociais são importantes
em dois pontos: primeiro por
disponibilizar as informações e o
outro ponto é poder conectar as
pessoas com gostos em comum.
A leitura hoje é uma experiência
muito mais rica”.
Quando questionada sobre
eventos literários, ela
acredita ser indispen-
sável para estreitar
o laço autor x leitor.
“Os eventos literá-
rios são de extrema
importância para es-
treitar laços e troca de
experiências, além de
podermos conhecer
novas obras”, finaliza.
Babi autogra-
fará e divulgará os
livros da série Flores
da Temporada no
estande da Novo
Século Editora,
durante os finais de
semana do evento.
Os eventos
literários são de
extrema importân-
cia para estreitar
laços e troca de
experiências, além
de podermos co-
nhecer novas obras
Babi A. Sette
25
27. 27
Jovens escritoras
brasileiras que estão
encantando os leitores
com seus contos interativos
E
voluir é preciso, e a literatu-
ra todo ano nos presenteia
com novos talentos. A
preocupação com os que os
jovens vêm lendo aumenta a cada
dia, isso porque os livros estão sendo
trocados por mensagens de 140
caracteres, textos resumidos e vídeos
que explicam tudo sem a ajuda
da literatura tradicional. O que
prejudica não só as grandes livrarias
e escritores, mas também a nossa
cultura literária.
Quem não conhece alguma his-
tória que, antes de virar um livro de
sucesso, ou até mesmo uma trilogia,
era uma fanfic? Esse foi o caso do
livro After, da escritora Anna Todd,
que teve um bilhão de acessos em
sua história fictícia, na plataforma
de leitura Wattpad, e graças a isso
Por Angela Rocha
27
28. 28
sua história se tornou um livro –
que acabou virando uma série, com
cinco volumes.
Para quem não está familia-
rizado com o termo fanfic (ou fic
ou ainda fanfiction): são histórias
fictícias criadas por e para fãs. Como
a história de Todd, que foi baseada
na banda One Direction, que fez
muito sucesso no mundo e hoje deu
uma pausa na carreira; já seus livros
continuam sendo um sucesso.
Outra escritora desse universo
fictício que faz bastante sucesso, é
a escritora e blogueira Babi Dewet.
Uma carioca que atualmente vive
em São Paulo, formada em Cinema
e autora da trilogia “Sábado à Noite”
(SAN), lançada em 2012.
Babi escrevia para o site Fanfic
Addiction, uma plataforma online
para quem gosta de ler e escrever
histórias interativas. O site, na épo-
ca, tinha um grande número de fãs
do McFly, uma das bandas favoritas
de Dewet.
Sua fic Sábado à Noite não está
mais disponível no site Addiction,
porque, devido ao seu grande
número de acesso e sucesso com
os leitores, acabou sendo lançada
pela Editora Generale. Mas, ainda
podemos encontrar outras histórias
escritas por ela no site, como Por
Um Momento, Por um Outro Mo-
mento, Quero ser Famoso e Um Bem
Mal Entendido, que foi sua primeira
história escrita.
A primeira edição lançada de
SAN foi independente, feita com a
ajuda de alguns amigos, que saiu em
julho de 2010. Ela esteve na Bienal
do Livro de São Paulo do mesmo
ano, onde, sozinha, conseguiu
vender 200 livros. No ano seguinte,
Babi bateu a marca de mil livros
esgotados, e assinou com a editora
Évora para o lançamento da versão
definitiva da trilogia.
Depois de SAN ela recebeu um
convite para participar da criação
do livro “Um Ano Inesquecível”
(UAI), que foi lançado em
agosto de 2015, em parce-
ria com as blogueiras e
autoras Bruna Vieira,
Paula Pimenta e
Thalita Rebouças.
Este ano,
após a 24ª Bienal
Internacional de
São Paulo, Babi
estará em turnê
pelo Brasil para
divulgar o seu
mais novo livro
“Sonata em Punk
Rock”, da sua
trilogia Cidade
da Música.
E em entrevista exclusiva à Nova
Millennium, ela nos conta mais
sobre seu mundo literário.
Nova Millennium: Como
começou o seu envolvimento com
a escrita?
Babi Dewet: Sempre gostei de
ler e escrever porque minha mãe
me incentivava e enchia minha casa
de livros. Com 15 anos, descobri a
internet, Harry Potter e fanfics, daí
comecei a escrever para as outras
pessoas, o que acho que iniciou
minha carreira como escritora de
alguma forma.
Babi Dewet
Sempre gostei de ler
e escrever porque
minha mãe me
incentivava e enchia
minha casa de livros.
29. 29
NM: Alguém do mundo literá-
rio te inspirou?
Dewet: Definitivamente a JK
Rowling, o Pedro Bandeira e, mais tar-
de, o André Vianco, quando eu decidi
me publicar de forma independente.
NM: Você fez faculdade de cine-
ma, por que escolheu esse curso?
Dewet: Eu sempre gostei de
filmes, de roteiros, de produção e
tudo mais. Pelo fato de escrever mi-
nhas histórias pensando em formas
mais visuais, então a faculdade foi
importantíssima na minha formação
como escritora.
NM: Qual foi sua maior dificul-
dade para produzir seu primeiro livro?
Dewet: Primeiros livros são
normalmente mais difíceis. A gente
tem pouca experiência e precisa se
esforçar muito pra abrir algum lugar
no mercado literário. Meu primeiro
livro foi independente e, naquela
época, não existiam plataformas
como Amazon ou Wattpad, por
exemplo. Lancei por uma gráfica e
o processo foi incrível, mas não foi
fácil. Acredito que a parte de venda
e divulgação do independente seja a
maior dificuldade, normalmente.
NM: Sobre Um Ano Inesque-
cível, como foi a parceria com a
Paula Pimenta, Bruna Vieira e a
Thalita Rebouças?
Dewet: Foi incrível! A editora
que juntou todas nós e as três me
aceitaram superbem. Foi uma expe-
riência impagável!
NM: Alguma dica para quem
quer escrever um livro?
Dewet: Estudar o mercado
editorial, as editoras, livrarias,
gráficas, o processo de produção
do livro e tudo mais. Fazer cursos,
perguntar, conhecer novos autores
e editores, participar de eventos e
investir na sua carreira. Tudo isso
é necessário e faz com que o autor
novo não seja só mais um ou se
sinta um peixe fora d’água no meio
de todo mundo.
NM: Qual livro você recomenda
aos nossos leitores?
Dewet: Recomendo o livro Os
Sete, do André Vianco, que me
ensinou muito ao incluir cenários
comuns ao leitor brasileiro, entre
outros detalhes de narrativa.
NM: Sonata em Punk Rock
é o primeiro livro da série Cidade
da Música. Serão três volumes não
seriados. De onde veio esta ideia?
Dewet: A editora queria um
livro sobre música e jovens, daí
sentamos e discutimos essa ideia. Foi
algo conjunto, mas dentro da ideia
da Gutenberg mesmo. A editora já
sabia do meu estilo e queria algo que
pudesse dar continuidade a isso.
NM: Em SAN e no seu novo li-
vro vemos muito sobre música, ela te
ajuda bastante a escrever seus livros?
Dewet: Muito! Grande parte da
minha inspiração vem das músicas e
dos clipes e cenas que eu tento ima-
ginar que elas proporcionam. Acho
que normalmente músicas explicam
sentimentos muito melhor que
palavras, então unir isso aos livros
pra mim faz muito sentido.
NM: Você ainda tem contato
com fãs que liam SAN antes de virar
um livro?
Dewet: Com muitos! E é
incrível. Em todo evento tem algum
leitor que lia as fanfics desde o
início, e isso tem quase 10 anos! É
muito emocionante e eu me sinto
muito abençoada por isso.
NM: Quais são os seus planos?
Próximos projetos?
Dewet: Estou bem focada na
série Cidade da Música, então ainda
são meus próximos projetos e meus
objetivos pros próximos anos!
NM: Qual a importância da
Bienal pra você?
Dewet: Bienal é onde a gente
encontra leitores de várias partes do
país, onde conhecemos novos leito-
res, novos autores, editores e vemos
o mercado literário funcionar a todo
vapor na nossa frente. É incrível,
essencial e importantíssimo pra todo
mundo que gosta e se importa com
a literatura, inclusive nacional.
Babi Dewet
Grande parte da minha
inspiração vem das
músicas, dos clipes
e cenas que eu tento
imaginar que elas
proporcionam.
30. 30
D
esde o lançamento da
trilogia “50 Tons de Cinza”,
a literatura erótica está
no centro das atenções.
Polêmica e preconceito moralista
estão relacionados ao gênero desde
tempos imemoriais. Os três livros,
escritos por E.L. James, se tornaram
um fenômeno editorial.
O sucesso foi tanto, que em
2012, a autora foi considerada pela
revista Time uma das 100 pessoas
mais influentes do mundo e, em
2013, entrou para lista das 100
celebridades mais poderosas do
mundo, segundo a revista Forbes. A
trilogia teve mais de 15 milhões de
livros vendidos nos EUA em quinze
dias após o lançamento, superando
o recorde de “O código da Vinci” e
“Harry Potter”.
No mesmo ano de 2013, a Forbes
divulgou uma lista de autores bem
mais pagos do mundo e E.L. James
estava em primeiro lugar, tendo arre-
cadado 95 milhões de dólares entre
junho de 2012 e junho de 2013.
Mas ela não é a única. Outros
nomes, como a americana Sylvia Day,
autora da série “Crossfire”, a espanho-
la Megan Maxwell, reconhecida pela
trilogia “Peça-me o Que Quiser” e a
brasileira Josy Stoque, que escreveu o
best-seller “Não Espere Pelo Amanhã”
são exemplos de como o gênero está
cada vez mais consolidado pelo pú-
blico feminino. Mas nenhuma delas
revolucionou como E.L.
Livros eróticos existem há mais
tempo do que podemos imaginar,
entretanto, 50 tons conquistou um
novo público trazendo um novo
olhar sobre “amor é saber ouvir um
não”. E.L. parece ter feito a trilogia
especialmente para o público femi-
nino, e sua tática funcionou, ainda
mais na sociedade atual, em que as
mulheres conquistaram muito mais
direitos que não possuíam em outras
épocas, empoderamento e liberdade
são as palavras chave para que elas
possam mergulhar nessas histórias
com mais intensidade.
A trilogia conta a história de
Anastasia Steele, uma jovem de 22
anos, estudante de literatura inglesa,
que procura um emprego na área
editorial; além disso, ama passar ho-
ras na frente de um livro. Ana nunca
esteve em um relacionamento sério,
apesar de mexer com a libido de to-
dos os homens com quem convive,
como José, o amigo de faculdade, e
Por que
livros eróticos
chamam tanto a
atenção das mulheres
e coíbem os homens?
Não é só de best-sellers que a literatura erótica é feita,
porém E.L. James conseguiu chamar atenção mais do
que qualquer outro escritor
Por Angela Rocha
30
31. 31
Paul, filho do dono da Clayton’s, a
loja de material de construção onde
trabalhou por um tempo.
Steele divide um apartamento
com sua amiga Kate Kavanagh,
que está se esforçando para ser uma
grande jornalista. Kate consegue
agendar uma entrevista para o jornal
da faculdade com o requisitado
Christian Grey, um empresário
muito importante, que não gosta de
aparecer na mídia.
Com Christian sendo um dos
benfeitores da faculdade, acaba fi-
cando mais fácil para Kate conseguir
a entrevista, entretanto ela acaba
adoecendo, e então pede para Ana ir
em seu lugar. Como Ana não conse-
gue dizer não acaba cedendo, e indo
até a cidade para encontrar o CEO.
Ao chegar ao edifício, Ana fica
impressionada e deslumbrada pelo
lugar. Finalmente o conhece. Chris-
tian é um CEO poderoso, educado,
bonito e bem-sucedido, e essas
informações a deixam muito mais
nervosa. Por trás de todo esse poder
existe um homem com problemas
no passado.
Alguns dias depois, Ana en-
contra Christian na loja na qual ela
trabalha, e ainda muito intrigada,
pergunta se pode tirar umas fotos
dele para o jornal da faculdade. Ele
diz não ver problemas, e entrega
o seu cartão para Ana, explicando
que ficará na cidade da faculdade
durante o final de semana. E assim
começa a história de Anastasia Steele
e Christian Grey.
Estamos vivendo uma mudança
sobre o que pode ser considerado
amor, possivelmente o livro seja o
tipo de amor perfeito para alguns, e
banal para outros. Se tivessem sido
publicados em outra época, esses
livros fossem condenados em vários
países e até queimados.
Muitos leram e viram pre-
conceito por parte da autora na
hora de descrever Anastasia como
a submissa, mas por quê? Se ela
não fosse a submissa, mas sim a
dominadora, obviamente, alguém
reclamaria. “Por que a dominadora?
Por que ela é louca?”
Christian além de dominador,
também é possessivo e ciumento.
Muitas leitoras amaram o modo
com que a história foi se passando,
de como fazia tudo por ela. Quem
não gostaria de ganhar presentes
caros, carros novos, joias, festas e
um homem louco por você? Muitas
sim… muitas não. Para cada pessoa
o amor se manifesta de uma forma,
cada um tem sua forma de se doar.
Há quem goste de ser dominado e
quem goste de dominar.
O primeiro livro do romance
virou filme, e a segunda parte irá
para as telas do cinema no ano de
2017. O trailer, liberado no dia 13
de setembro, foi o mais visto do ano
em apenas algumas horas.
Esse jogo de poder, domínio e
amor deixa muitas mulheres com
brilho nos olhos. Um conto de fadas
moderno que mexe com o lado mais
sedutor da mulher. Quem sabe?
Já Christian, pode ser conside-
rado sadomasoquista? Talvez seu
apetite seja pelos jogos sexuais, pelo
poder. Ele não gera prazer com dor.
Um sadomasoquista se excita ao ver
a dor nos outros e só para depois de
seu prazer total. O CEO, ao contrá-
rio, gosta de se sentir no poder, mas
sabe a diferença entre os dois. Ou
seja, ele só quer dominar, ter o poder
nas mãos, e não o sofrimento, que é
algo que ele carrega há muito tempo.
32. 32
Agências Literárias:
um novo modelo
de gerenciamento
de carreiras de
novos autores
Conversamos com Alba Marchesini, da Increasy
Consultoria Literária, e tiramos suas dúvidas sobre
essa nova forma de estar no mercado editorial
Por Ana Paula Miranda
33. 33
E
m apenas cinco minutos
navegando em alguma rede
social, é possível encontrar
reclamações sobre a com-
petitividade no mercado editorial.
Com o auxílio de plataformas
como Wattpad, Widbook e até
mesmo o KDP da Amazon, ficou
muito mais fácil ser um autor inde-
pendente e conquistar seu próprio
público, muitos inclusive conquis-
taram fama e contratos em grandes
editoras por seguir esse caminho,
como Anna Todd, FML Pepper,
Sophie Jackson, entre outros.
Para o sucesso, não existe uma
fórmula mágica, nem sempre os
mesmos caminhos que o autor A
seguiu trará frutos para o autor B.
Por isso é necessário conhecer bem
o mercado e entender o público
que você quer atingir. Pode parecer
fácil, mas nem sempre é.
O surgimento de Agências Lite-
rárias traz um alívio para os jovens
escritores que almejam ter suas
obras publicadas. E foi justamente
com o intuito de auxiliar os novos
profissionais que surgiu a Increasy.
O empreendimento é tocado por
cinco sócias que já trabalhavam
no ramo fazendo análises críticas,
de mercado e revisões e, por terem
conhecimento, procuram propor-
cionar ao escritor um suporte “não
apenas de melhoria no seu texto,
como adequação de linguagem e
gênero”, conta Alba Marchesini.
Após o autor finalizar sua
obra, as agências literárias também
trabalham junto a editoras para
acompanhar as vendas, ou seja, elas
preparam o profissional desde o
princípio até a obra chegar às lojas.
Porém, é necessário entender que
uma Consultoria Literária não é o
mesmo que Assessor de Imprensa,
ou seja, eles não trabalham com
divulgação na mídia.
É perceptível a importância do
trabalho de um agente literário ex-
periente, uma vez que ele apresente
um determinado livro no momento
certo – por exemplo, no ápice de
um gênero –, se torna um elemento
fundamental para que o contrato
aconteça. Outra vantagem é que,
caso o contrato seja aprovado, esse
profissional vai poder te auxiliar
com cláusulas abusivas e acompa-
nhar todo o processo de produção.
É comum ver pequenas editoras
com promoções incríveis para o lan-
çamento de uma obra, mas é neces-
sário tomar cuidado ao se arriscar
na carreira porque, em alguns casos,
o autor pode até ser enganado.
Uma vez lançado, o livro fará
parte da sua história para sempre.
Alba aconselha que não se aventure
sozinho, para ela é necessário ter
um bom network. “Procure um
profissional que tenha boas indi-
cações e independentemente de a
publicação ser paga ou não, nunca
se veja como um escritor pronto.
Escrever é a arte de estar sempre
em evolução” finaliza.
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M
uitos de
nós, que já
passamos
dos vinte
ou trinta anos, nos
lembramos com
saudosismo da infância.
Seja brincar de bola,
pipa, boneca ou assistir os desenhos
animados matinais, muitas crianças
dividiam seu tempo com os livros.
Seja para alfabetizar, para ter uma
boa noite de sono ou simplesmente
para se divertir, as crianças de nossa
época mergulhavam em diversas his-
tórias feitas especialmente para essa
faixa etária. Quem nunca se aventu-
rou com o Cachorrinho Samba, de
Maria José Dupré, ou sonhou estar
em alguma história de Ruth Rocha?
Porém, com o advento da tecno-
logia e a facilidade do brasileiro em
comprar um smartphone ou tablet,
as crianças, desde muito cedo, estão
sendo induzidas a trocar as tradicio-
nais brincadeiras pelo celular. E isso
é errado. É legal brincar no celular,
mas será mesmo que vale a pena
expor os pequenos a infinidade de
jogos e aplicativos?
Nossa sociedade se acostumou
ao imediatismo. A criança faz birra?
Dá o celular que ela fica quieta! E
assim, nossas crianças vão crescendo
mimadas e mais imediatistas ainda.
E o que os livros têm a ver com
isso? Tudo! Quando uma criança faz
birra (o que, na maioria das vezes, é
resultado de uma má criação ou má
influência), por que não dar um livro
ao invés do bendito aparelho celular?
Ou melhor, não precisa esperar a
criança abrir o berreiro, que tal você
ler a história para ela (caso ela ainda
não saiba ler) ou pedir para ela lhe
contar a história, incentivando não
só a leitura, mas também ampliando
o vocabulário.
Tudo isso passa pelo costume.
As crianças repetem o que os pais
fazem. Se os pais não desgrudam do
celular, é claro que elas vão querer
também (sem falar que, se não
desgruda do telefone, provavelmen-
te não dá a atenção adequada aos
filhos, mas isso é outra história…)
Que tal então, você começar a ler
com mais frequência?
Claro, você dirá que não tem
tempo, porque precisa cuidar da
casa e dos filhos e se você
for mulher, talvez dirá que
trabalha fora. Entendo,
realmente a tripla jornada
é algo complicado. Mas,
apenas tente. Leia no
transporte público, numa
fila, no ponto de ônibus,
na hora de almoço… as oportunida-
des são muitas.
E não é por falta de títulos e
autores, poderia citar milhares deles,
mas, que tal, além das já citadas Du-
pré e Ruth Rocha, arriscar uma obra
do americano Mac Bernett, autor de
“Os Dois Terríveis”, ou a sueca Astrid
Lindgren e sua Píppi Meialonga, a
russo-brasileira Tatiana Belinky e seus
mais de 250 títulos… Enfim, há uma
imensidão de autores recomendados
para crianças.
Porém, para isso, antes de pensar
em dar um smartphone ou tablet
para a criança se entreter, pense
em dar um livro: ele não é só uma
história escrita em um papel, é
uma oportunidade de viajar em um
mundo diferente – ou até mesmo a
chance de você pode criar seu pró-
prio mundo dentro da história.
Agora, pare e pense: que tal você
dar o exemplo e, antes de mais nada,
desgrudar por um momento do seu
próprio celular?
Como despertar o interesse
dos pequenos pela literatura
quando eles já nascem com
um smartphone na mão?
VS
Tecnologia
Livros
infantis
Por Kamila Ferreira