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" aqui em Salvador, a cidade do axé
a cidade do terror" Complete Control pelo Camisa de Venus

Deve ser uma coisa extremamente estranha para um americano observar o rock n
roll em um pais como o Brasil.Mais estranho ainda ver suas ramificações e sua
disseminação em lugares tão pouco prováveis como na Bahia. O livro escrito por
Ednilson Sacramento, "Rock Baiano- historia de uma cultura subterrânea", é o
primeiro(que eu saiba) a se propor a contar a historia de um ritmo(cultura?, estilo
de vida?, nada disso?), estranho numa terra estranha. Estranha e hostil.
Logo na introdução, Ednilson, se refere as reações que a dedicação a tal tema
suscita nesta terra: perda de tempo com a xérox da xérox?, Desperdício de papel?
Para a maioria certamente, mas para uma minoria extremamente apaixonada, se
trata de um "labor of love" ou seja um trabalho de e por amor.
E Ednilson, traça um painel e um relato, no mínimo emocionante, de uma cultura
subterrânea, fora das atenções centrais da cultura oficial da Bahia, que vai
frequentemente na contramão do que se convencionou chamar de "baianidade",
alem de alargar a perspectiva cultural do fenômeno, abrindo espaço também para
outras manifestações artísticas fundamentais que compõem o espectro do rock, tais
como programas de rádios, imprensa, grafitti, e fanzines.Segundo ele mesmo diz,
não existiu a intenção de sua parte de ter feito a biblia do rock baiano. Foram entre
10 a 12 anos de pesquisas, leituras, e muita vivencia com o rock local.Mais 11 anos
foram necessários para que o livro fosse lançado.Obstinação, determinação e
muita, mas muita paixão pelo assunto, o tal "labor of love".
Como explicar a sobrevivência do rock"n"roll na Bahia, resistente desde o fim dos
anos 50, quando através do cinema(agente imperialista?) a baianada tomou
contato com o rock?n?roll, quando no Cine Excelsior passou ?Sementes da
Violência?, e desde, segundo consta, Raul Seixas trocou cigarros por discos de rock
com americanos lotados no consulado dos USA, do qual era vizinho. A partir daí,
Raulzito se encontraria com Valdir Serrao( o Big Ben), outro que tinha travado
contato com o rock, mas este de forma totalmente intuitiva.Ednilson da uma geral
do momento em diante em que Raul e Big Ben passam a andar juntos e
praticamente forjam do nada o rock na Bahia. Fundam o Elvis Rock Club, no bairro
da Calçada, e a essa altura do campeonato envolvidos com uma turma (Thildo
Gama, David Barouh e outros) que foi pioneira do rock na Bahia, formariam
conjuntos(não se chamavam bandas então) como Os Relâmpagos do Rock, The
Black Cats, Os Cinco Loucos, e outros. Já a partir de 1963/64 o estouro dos Beatles
ia tomando conta do mundo, e a Bahia sentia os reflexos, com conjuntos como Os
Sombras, Quadrante 6, e outros se apresentando na TV Itapoan no programa
"Poder Jovem", tocando em bailes e shows no Cine Roma, Clube Mesbla,e dando
rolé na Praça da Sé. O rock foi continuado na Bahia durante o restante dos anos 60
pela Jovem Guarda, o movimento capitaneado por Roberto Carlos, que a partir do
programa de televisão homônimo, que realmente popularizou o rock no Brasil.
Bandas locais como Os Mustangs se destacavam em bailes estilo Jovem Guarda.
Note-se que desde sempre o rock?n?roll nunca foi a musica considerada de bom
gosto pela elite intelectual brasileira, sempre teve a bossa nova e a depois a MPB
para arrebanhar nossos melhores rebentos.Alias a Tropicália foi forjada pela MPB ou
pelo rock?
Raul, o maior e mais importante nome do rock"n"roll a sair da Bahia( prestem bem
atenção aos adjetivos), se mandou para o Sul Maravilha, uma vez que, fazer e
viver de rock na Bahia era(era?) impossível. Raul ressurgiria para a Bahia em
1972 ,com umas das mais impactantes performances ja feitas em terra brasilis, em
pleno Festival Internacional da Canção, com Let Me Sing Let Me Sing. Mas há muito
já deixara a Bahia para trás e o rock baiano, da qual era um dos seus principais
agitadores.
Durante os anos 70 o rock baiano viveria sob uma influencia distante da psicodelia
e da contra-cultura tardia. A Bahia, muito por causa da Tropicália, viveria seus
"Summers of Love" , num misto de Hendrix, Caetano e Arempebe, uma
peculiaridade geográfica que se tornou Meca hippie. Bandas como Os Cremes,
Banda do Companheiro Mágico e principalmente o Mar Revolto tentavam emular de
alguma forma aqueles tempos. A primeira metade dos 70 foram "dias estranhos".
Passei a acompanhar o rock nesta época antes mesmo da adolescência (11 anos).
Ouvia o programa do Big Ben na radio Bahia( que ficava perto do campo da Graça),
e ia comprar discos promocionais que o mesmo vendia por de baixo do pano. Uma
vez comprei na mão dele um Doors( o péssimo Full Circle, sem Morrison!), e um
colega meu levou o espetacular School?s Out de Alice Cooper, fiquei anos achando
que Doors era aquilo . As rádios Cruzeiro e Bahia( ambas AM), tocavam no meio da
sua programação hits do rock?n?roll( Beatles, Credence, Stones) , mas o programa
do Big Ben tocava Hendrix, Sly & The Family Stone, J. Gueils Band, misturado com
outras coisas sem muito critério(ie suas próprias musicas). Aos 13 comecei a ir em
shows na Concha Acústica e logo aos 14 ia ao ICBA. Vi shows dos sudestinos Terço,
Made In Brasil, do expatriado Raul e do local Mar Revolto. Se a diferença entre a
copia com a matriz era gritante, a copia da copia era foda( de ruim). Só Raul era
que fazia frente, Raul fazia agente acreditar num tal de rock brasileiro.
Importante notar, que ate então, não se configurava na Bahia uma cena rock, as
informações, que agora aparecem de forma organizada e de forma cronológica, não
estavam disponíveis, nem articuladas, nos períodos mencionados ate então, e
muito menos os movimentos do rock baiano eram articulados, com uma geração
sucedendo a outra.Pelo contrario um movimento começava, depois acabava, depois
surgia outro do nada, sem ter a menor noticia que tinha existido banda tal, com tal
estilo em outra época. E? por isso que o rock baiano sempre foi ciclotimico , indo
pra frente, depois para trás, e frequentemente para lugar nenhum. Apenas para
constar( e isto não resolve o NOSSO problema), este é um problema da questão
cultural brasileira como um todo, apenas aplique o grau adequado para cada setor
cultural correspondente.
Nesta altura chegamos ao ponto crucial do livro de Ednilson, a década de 80 e a
explosão do Rock Brasil e da construção de uma incipiente cena rock na Bahia,
devido ao advento do punk. Ednilson cobre exaustivamente o período com a
explosão do Camisa de Vênus que gerou uma cena que traria na sua esteira um
movimente punk(!!!) na Bahia, mas que teve sua gestação e doutrinação a partir
do momento que Marcelo Nova , o maior(eu disse o maior) colecionador e
conhecedor de rock?n?roll da Bahia ever,fechou uma loja de discos chamada Nektar
e foi trabalhar como programador de musica internacional na Aratu FM. Radio FM
era uma puta novidade na Bahia, com audiência elitizada, uma coisa de ponta. Em
pouco tempo Marcelo estava colocando Zepellin, Lennon e Hendrix na
programação. Nesta época, Marcelo, segundo o próprio Kid Vinil(vejam o DVD
Botinada), foi o primeiro cara a programar punk rock numa radio brasileira.
Naquela época, Marcelo, um dos caras mais antenados(desculpem, foi mal) em
rock, começou a travar contato com o punk rock que estava começando lá fora.
Esqueçam as referências de hoje .Não tinha internet, nem MTV, muito menos You
Tube. Ninguém sabia que porra era aquela.As noticias demoravam meses, as vezes
1 ano para chegar. Ao mesmo tempo Marcelo convencera seu chefe na Aratu,
Linsmar Lins, a fazer um programa especial sobre bandas de rock, o Rock Special.
No inicio apenas um programa didático sobre bandas consagradas de Rock, como
Zepellin, Hendrix, contando a historia de forma cronológica, o Rock Special cresceu
de tal forma a sua audiência, que Marcelo em pouco tempo estava tocando bandas
totalmente desconhecidas e da vanguarda do punk e da New Wave , mudando a
dinâmica da cidade.Ao mesmo tempo, já incorporando o espírito do faça você
mesmo do punk, começava a formar o Camisa de Vênus.Marcelo, com o Rock
Special, educou e doutrinou toda uma geração de rock baiano.Quando o Camisa
veio, as pessoas, que sexta a noite paravam mesmo para ouvir um programa de
radio(vejam só), já sabiam do que se tratava. Tiveram acesso a informação de
ponta por parte de um agendador cultural( copiraite Marcos Rodrigues!), que
conspirou e montou uma cena de um posto privilegiado, onde pela primeira vez na
Bahia, o rock era o prato principal. O discurso anti baianidade do Camisa é por
demais conhecido de todos, só que a agressividade e a articulação de Marcelo
pegou o status quo de surpresa.Um dos principais méritos de Marcelo foi evidenciar
a faceta urbana da cidade da Bahia, de forma contundente, explodindo os clichês
sobre uma pretensa ?baianidade? dos soteros, que viveriam num eterno estado de
graça num paraíso tropical em permanente estado de festa. Não eram questões
novas, alias elas iriam recrudecer no futuro. Por uma única vez, o rock foi
protagonista da questão cultural, e para surpresa total de muitos, ditou a pauta
cultural.
A construção de uma cena era fundamental para a sustentação do furacão que veio
depois, da explosão de bandas e da comoção que causou na cidade de Todos os
Santos. Lógico que os tempos conspiraram a favor, os meios de comunicação tinha
elegido o rock como bola da vez e o Rock Brasil em breve estouraria com a Blitz e
Ritchie. E principalmente uma certa juventude baiana estava esperando um
momento como aquele, e longe de ser marionete do Camisa, aproveitou o
momento e fez acontecer por conta e brilho próprio.Ai entram Gonorréia, Espírito
de Porco, Trem Fantasma, Delirium Tremens , mais uma pa de bandas.O Camisa
ainda demorou mais de 1 ano morando na cidade, depois de ter estourado
nacionalmente, o que o diferencia dos outros dois grandes do rock baiano, Raul e
Pitty, que já tinham saído da cidade quando estouraram. Então, na minha opinião,
se Raul foi indiscutivelmente o nosso maior rocker, Marcelo foi o principal
articulador e figura central do estabelecimento da ?cena rock? baiano.
Depois da saída do Camisa, a incipiente cena entrou num vácuo, que depois foi
preenchido por bandas importantíssimas como Via Sacra e Dever de Classe
(principalmente). Estamos ai em 86, o rock dava as cartas no hit parade nacional,
mas na Bahia rapidamente voltava a condição de marginal. Não obstante a cidade
fervilhava com bandas como Doutrina Decadente, AI 5, Razão Social, Jesus
Bastardus, ect, gangues de punks, a cena do PABX, a galera do Moto Lanches, ect.
Fanzines como o Espunk pipocavam. O grafiteiro(e artista plástico) Miguel Cordeiro
era Faustino, um acido critico da clase merdia baiana, que chegou ao ponto de
fazer o vestuto jornal A Tarde pedir a atenção das autoridades ao ?tal do Faustino?.
Só que o discurso punk trazia no seu radicalismo uma falta de consistência na sua
práxis, que esvaziava a cena rock, alem de expor a questão da cidade dividida, tão
bem focalizada por Ednilson. Os punks de verdade eram os de bairros proletários?
O que era ser punk? E o rock nisso, é arte pura ou engajada? A arte engajada é
melhor só por causa disto, independente da sua qualidade artística? Foi fácil para o
status quo empurrar o rock baiano para o subterrâneo de novo.
Mas a esta altura o estrago estava feito, a quantidade de publicações alternativas,
lojas alternativas e outras manifestações correlatas ao rock,pela primeira vez
configurava uma ?cena rock? na cidade da Bahia .
Com todos os seus defeitos, inconsistências e contradições , a "cena rock" da
cidade começou a se firmou. Porque o pior estava por vir. Passado o auge do Rock
Brasil, a cena baiana iria se defrontar com um monstro gestado pela política
cultural do estado associado a agentes de uma emergente industria cultural(donos
de blocos e gravadoras), a axé music. Nao vou discutir de quem é a culpa(alo Toni
Lopes!). Mas os agentes da axé music foram extremamente competentes em
capitalizar elementos da cultura popular baiana de carnaval, rentabilizando-o ao
zenith. E ai chegamos a parte final do livro de Ednilson, que fala de bandas que
estão ai ate hoje como o Cascadura, outras em estado de hibernação com a
brincando de deus, e outras já extintas, mas que foram determinantes para a cena
atual , como a mitológica Úteros Em Fúria. A Úteros, foi a inspiração maior para o
maior nome do rock do Brasil atualmente, Pitty. Acho, que esta cena , talvez tenha
escrito os momentos mais heróicos do Rock Baiano, porque, poucas vezes uma
geração de artistas foi ignorada de forma tão brutal como esta.Um exemplo de
amor ao rock, porque só gostando muito para aturar anos e anos de isolamento e
falta de reconhecimento. Então parabéns Ednilson, sua iniciativa, numa terra pobre
de pessoas fazedoras, é um exemplo, alem de esclarecer e possivelmente iluminar
alguns dos novos rockers da cidade. E mesmo contra sua vontade, é por enquanto
é a biblia do Rock Baiano. Keep on Rockin!




             Quarta, 23 de abril de 2008, 07h57

             Ednilson, historiador do rock baiano
Paquito
De Salvador (BA)

Há duas quinzenas, escrevi sobre o livro de Ricardo Cury, Para colorir, que tem, como pano de
fundo e de maneira despretensiosa, a cena do rock baiano de meados dos anos 90 até hoje. O ciclo se
fecha, agora, com o livro Rock baiano - história de uma cultura subterrânea, de Ednilson
Sacramento, este sim, uma tentativa de contar esta história desde os seus primórdios, e que termina
onde o de Cury começa, no meio da década de 90. O livro demorou dez anos pra ser escrito e mais
seis pra ser lançado finalmente em surdina em 2006, por opção do próprio autor, que se sentiu
acanhado, pois achou que, devido ao tempo passado entre a feitura e o lançamento, já poderia tê-lo
reescrito, contando os novos capítulos de uma história tão singular quanto acidentada.

Por que, então, falar de um livro lançado há quase dois anos? Em primeiro lugar, Ednilson foi o
único, até agora, que teve a iniciativa de dar conta do movimento e movimentos do rock num lugar
que, aparentemente, nada teria a ver com uma atitude própria do estilo, o que, aliás, dá pano pra
manga e rende discussões infindáveis. Além disso, o autor, que teve uma formação ancorada no
movimento punk, nem por isso deixa de citar as bandas que não seguiam a mesma cartilha. Estão lá
o início de Raul Seixas e Valdir Serrão, o Big Ben, nos anos 60, o Mar revolto, dos anos 70, a
trajetória do Camisa de Vênus, "um capítulo à parte" nos anos 80 e, a partir daí, um detalhamento
impressionante das bandas e do circuito local - a "cultura subterrânea" a que o título se refere - num
período em que o rock brasileiro entrou na moda, mas na Bahia vicejou a indústria da música ligada
ao carnaval, que resultou no que passou a se chamar de "Axé-music". Na consolidação dessa
indústria, o rock ficou de fora e tornou-se, por isso, ensimesmado, raivoso e à margem.

Conversei com o próprio Ednilson na Associação Baiana de Cegos, onde é Diretor de Educação e
Cultura, pois, além de trabalhar em projetos sociais, ele perdeu a visão enquanto terminava a edição
do livro. Muito bem humorado e falante sem afetação, disse que realizou o sonho de fazer um
fanzine, escrevendo o livro, ou seja, o livro é um grande fanzine. "Escrevi o que vivi", falou,
referindo-se ao fato de ter se detido nos anos 80, quando fazia parte da cena na condição de "mais
que testemunha". Lembramos de que eu mesmo fui entrevistado por ele no início dos anos 90, pois
fui integrante de uma banda, Flores do mal, e que a situação estava se invertendo, pois era ele,
naquele momento, o entrevistado.

Sobre a cena hoje, ele admitiu que "se faz com mais riqueza de meios, tem mais tecnologia pra se
produzir e espaço pra ensaiar, o que não significa que a gente tenha uma cena de rock. No final dos
80, havia uma ambientação...". No entanto, não há ressentimento no discurso de Ednilson. Ele
admitiu as conquistas advindas do fato da Bahia ter se tornado um pólo produtor, por conta do
carnaval, e mantém-se conectado ao novo mundo marcado pela internet e cultura digital, pois usa um
programa que permite aos cegos utilizar o computador, inclusive, digitando textos. Ressaltou que o
livro foi escrito na raça, e gostaria de ter condições de reeditá-lo com mais tempo e recursos.

Ao final do encontro, pedi que autografasse o meu exemplar, no qual escreveu "os ventos sopram e
refrigeram, refresque o ar com poesia". No final, transcrevo a provocação contida nas últimas
palavras da introdução do livro: "No decorrer deste apanhado, procurei cercar-me da contribuição de
pesquisadores, críticos e estudiosos da música pop, o que não se deu em maior escala devido à falta
de tempo de alguns e à ausência de tantos, tornando-o, desde já, um relato incompleto. Talvez esse
desfalque tenha afetado um pouco a abordagem, mas ao mesmo tempo deve ter deixado lacunas e
discussões abertas para o florescer de novas pesquisas e consertos daquilo que não foi
suficientemente dissecado. Tantos irão se queixar da ausência de muitos grupos e muitos
reivindicarão uma maior atenção para o setor A ou B, mas quem sabe? Tais falhas lhes servirão de
incentivo para a confecção da sua própria história".

O contato de Ednilson, pra quem desejar adquirir este livro, desde já, uma obra de referência sobre o
rock baiano, é ednaweb@terra.com.br.




Paquito é músico e produtor.


Fale com Paquito: anjo.paquito@terra.com.br
Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de
Terra Magazine.

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A explosão do punk e da cena rock na Bahia nos anos 80

  • 1. " aqui em Salvador, a cidade do axé a cidade do terror" Complete Control pelo Camisa de Venus Deve ser uma coisa extremamente estranha para um americano observar o rock n roll em um pais como o Brasil.Mais estranho ainda ver suas ramificações e sua disseminação em lugares tão pouco prováveis como na Bahia. O livro escrito por Ednilson Sacramento, "Rock Baiano- historia de uma cultura subterrânea", é o primeiro(que eu saiba) a se propor a contar a historia de um ritmo(cultura?, estilo de vida?, nada disso?), estranho numa terra estranha. Estranha e hostil. Logo na introdução, Ednilson, se refere as reações que a dedicação a tal tema suscita nesta terra: perda de tempo com a xérox da xérox?, Desperdício de papel? Para a maioria certamente, mas para uma minoria extremamente apaixonada, se trata de um "labor of love" ou seja um trabalho de e por amor. E Ednilson, traça um painel e um relato, no mínimo emocionante, de uma cultura subterrânea, fora das atenções centrais da cultura oficial da Bahia, que vai frequentemente na contramão do que se convencionou chamar de "baianidade", alem de alargar a perspectiva cultural do fenômeno, abrindo espaço também para outras manifestações artísticas fundamentais que compõem o espectro do rock, tais como programas de rádios, imprensa, grafitti, e fanzines.Segundo ele mesmo diz, não existiu a intenção de sua parte de ter feito a biblia do rock baiano. Foram entre 10 a 12 anos de pesquisas, leituras, e muita vivencia com o rock local.Mais 11 anos foram necessários para que o livro fosse lançado.Obstinação, determinação e muita, mas muita paixão pelo assunto, o tal "labor of love". Como explicar a sobrevivência do rock"n"roll na Bahia, resistente desde o fim dos anos 50, quando através do cinema(agente imperialista?) a baianada tomou contato com o rock?n?roll, quando no Cine Excelsior passou ?Sementes da Violência?, e desde, segundo consta, Raul Seixas trocou cigarros por discos de rock com americanos lotados no consulado dos USA, do qual era vizinho. A partir daí, Raulzito se encontraria com Valdir Serrao( o Big Ben), outro que tinha travado contato com o rock, mas este de forma totalmente intuitiva.Ednilson da uma geral do momento em diante em que Raul e Big Ben passam a andar juntos e praticamente forjam do nada o rock na Bahia. Fundam o Elvis Rock Club, no bairro da Calçada, e a essa altura do campeonato envolvidos com uma turma (Thildo Gama, David Barouh e outros) que foi pioneira do rock na Bahia, formariam conjuntos(não se chamavam bandas então) como Os Relâmpagos do Rock, The Black Cats, Os Cinco Loucos, e outros. Já a partir de 1963/64 o estouro dos Beatles ia tomando conta do mundo, e a Bahia sentia os reflexos, com conjuntos como Os Sombras, Quadrante 6, e outros se apresentando na TV Itapoan no programa "Poder Jovem", tocando em bailes e shows no Cine Roma, Clube Mesbla,e dando rolé na Praça da Sé. O rock foi continuado na Bahia durante o restante dos anos 60 pela Jovem Guarda, o movimento capitaneado por Roberto Carlos, que a partir do programa de televisão homônimo, que realmente popularizou o rock no Brasil. Bandas locais como Os Mustangs se destacavam em bailes estilo Jovem Guarda. Note-se que desde sempre o rock?n?roll nunca foi a musica considerada de bom gosto pela elite intelectual brasileira, sempre teve a bossa nova e a depois a MPB para arrebanhar nossos melhores rebentos.Alias a Tropicália foi forjada pela MPB ou pelo rock? Raul, o maior e mais importante nome do rock"n"roll a sair da Bahia( prestem bem atenção aos adjetivos), se mandou para o Sul Maravilha, uma vez que, fazer e viver de rock na Bahia era(era?) impossível. Raul ressurgiria para a Bahia em
  • 2. 1972 ,com umas das mais impactantes performances ja feitas em terra brasilis, em pleno Festival Internacional da Canção, com Let Me Sing Let Me Sing. Mas há muito já deixara a Bahia para trás e o rock baiano, da qual era um dos seus principais agitadores. Durante os anos 70 o rock baiano viveria sob uma influencia distante da psicodelia e da contra-cultura tardia. A Bahia, muito por causa da Tropicália, viveria seus "Summers of Love" , num misto de Hendrix, Caetano e Arempebe, uma peculiaridade geográfica que se tornou Meca hippie. Bandas como Os Cremes, Banda do Companheiro Mágico e principalmente o Mar Revolto tentavam emular de alguma forma aqueles tempos. A primeira metade dos 70 foram "dias estranhos". Passei a acompanhar o rock nesta época antes mesmo da adolescência (11 anos). Ouvia o programa do Big Ben na radio Bahia( que ficava perto do campo da Graça), e ia comprar discos promocionais que o mesmo vendia por de baixo do pano. Uma vez comprei na mão dele um Doors( o péssimo Full Circle, sem Morrison!), e um colega meu levou o espetacular School?s Out de Alice Cooper, fiquei anos achando que Doors era aquilo . As rádios Cruzeiro e Bahia( ambas AM), tocavam no meio da sua programação hits do rock?n?roll( Beatles, Credence, Stones) , mas o programa do Big Ben tocava Hendrix, Sly & The Family Stone, J. Gueils Band, misturado com outras coisas sem muito critério(ie suas próprias musicas). Aos 13 comecei a ir em shows na Concha Acústica e logo aos 14 ia ao ICBA. Vi shows dos sudestinos Terço, Made In Brasil, do expatriado Raul e do local Mar Revolto. Se a diferença entre a copia com a matriz era gritante, a copia da copia era foda( de ruim). Só Raul era que fazia frente, Raul fazia agente acreditar num tal de rock brasileiro. Importante notar, que ate então, não se configurava na Bahia uma cena rock, as informações, que agora aparecem de forma organizada e de forma cronológica, não estavam disponíveis, nem articuladas, nos períodos mencionados ate então, e muito menos os movimentos do rock baiano eram articulados, com uma geração sucedendo a outra.Pelo contrario um movimento começava, depois acabava, depois surgia outro do nada, sem ter a menor noticia que tinha existido banda tal, com tal estilo em outra época. E? por isso que o rock baiano sempre foi ciclotimico , indo pra frente, depois para trás, e frequentemente para lugar nenhum. Apenas para constar( e isto não resolve o NOSSO problema), este é um problema da questão cultural brasileira como um todo, apenas aplique o grau adequado para cada setor cultural correspondente. Nesta altura chegamos ao ponto crucial do livro de Ednilson, a década de 80 e a explosão do Rock Brasil e da construção de uma incipiente cena rock na Bahia, devido ao advento do punk. Ednilson cobre exaustivamente o período com a explosão do Camisa de Vênus que gerou uma cena que traria na sua esteira um movimente punk(!!!) na Bahia, mas que teve sua gestação e doutrinação a partir do momento que Marcelo Nova , o maior(eu disse o maior) colecionador e conhecedor de rock?n?roll da Bahia ever,fechou uma loja de discos chamada Nektar e foi trabalhar como programador de musica internacional na Aratu FM. Radio FM era uma puta novidade na Bahia, com audiência elitizada, uma coisa de ponta. Em pouco tempo Marcelo estava colocando Zepellin, Lennon e Hendrix na programação. Nesta época, Marcelo, segundo o próprio Kid Vinil(vejam o DVD Botinada), foi o primeiro cara a programar punk rock numa radio brasileira. Naquela época, Marcelo, um dos caras mais antenados(desculpem, foi mal) em rock, começou a travar contato com o punk rock que estava começando lá fora. Esqueçam as referências de hoje .Não tinha internet, nem MTV, muito menos You Tube. Ninguém sabia que porra era aquela.As noticias demoravam meses, as vezes
  • 3. 1 ano para chegar. Ao mesmo tempo Marcelo convencera seu chefe na Aratu, Linsmar Lins, a fazer um programa especial sobre bandas de rock, o Rock Special. No inicio apenas um programa didático sobre bandas consagradas de Rock, como Zepellin, Hendrix, contando a historia de forma cronológica, o Rock Special cresceu de tal forma a sua audiência, que Marcelo em pouco tempo estava tocando bandas totalmente desconhecidas e da vanguarda do punk e da New Wave , mudando a dinâmica da cidade.Ao mesmo tempo, já incorporando o espírito do faça você mesmo do punk, começava a formar o Camisa de Vênus.Marcelo, com o Rock Special, educou e doutrinou toda uma geração de rock baiano.Quando o Camisa veio, as pessoas, que sexta a noite paravam mesmo para ouvir um programa de radio(vejam só), já sabiam do que se tratava. Tiveram acesso a informação de ponta por parte de um agendador cultural( copiraite Marcos Rodrigues!), que conspirou e montou uma cena de um posto privilegiado, onde pela primeira vez na Bahia, o rock era o prato principal. O discurso anti baianidade do Camisa é por demais conhecido de todos, só que a agressividade e a articulação de Marcelo pegou o status quo de surpresa.Um dos principais méritos de Marcelo foi evidenciar a faceta urbana da cidade da Bahia, de forma contundente, explodindo os clichês sobre uma pretensa ?baianidade? dos soteros, que viveriam num eterno estado de graça num paraíso tropical em permanente estado de festa. Não eram questões novas, alias elas iriam recrudecer no futuro. Por uma única vez, o rock foi protagonista da questão cultural, e para surpresa total de muitos, ditou a pauta cultural. A construção de uma cena era fundamental para a sustentação do furacão que veio depois, da explosão de bandas e da comoção que causou na cidade de Todos os Santos. Lógico que os tempos conspiraram a favor, os meios de comunicação tinha elegido o rock como bola da vez e o Rock Brasil em breve estouraria com a Blitz e Ritchie. E principalmente uma certa juventude baiana estava esperando um momento como aquele, e longe de ser marionete do Camisa, aproveitou o momento e fez acontecer por conta e brilho próprio.Ai entram Gonorréia, Espírito de Porco, Trem Fantasma, Delirium Tremens , mais uma pa de bandas.O Camisa ainda demorou mais de 1 ano morando na cidade, depois de ter estourado nacionalmente, o que o diferencia dos outros dois grandes do rock baiano, Raul e Pitty, que já tinham saído da cidade quando estouraram. Então, na minha opinião, se Raul foi indiscutivelmente o nosso maior rocker, Marcelo foi o principal articulador e figura central do estabelecimento da ?cena rock? baiano. Depois da saída do Camisa, a incipiente cena entrou num vácuo, que depois foi preenchido por bandas importantíssimas como Via Sacra e Dever de Classe (principalmente). Estamos ai em 86, o rock dava as cartas no hit parade nacional, mas na Bahia rapidamente voltava a condição de marginal. Não obstante a cidade fervilhava com bandas como Doutrina Decadente, AI 5, Razão Social, Jesus Bastardus, ect, gangues de punks, a cena do PABX, a galera do Moto Lanches, ect. Fanzines como o Espunk pipocavam. O grafiteiro(e artista plástico) Miguel Cordeiro era Faustino, um acido critico da clase merdia baiana, que chegou ao ponto de fazer o vestuto jornal A Tarde pedir a atenção das autoridades ao ?tal do Faustino?. Só que o discurso punk trazia no seu radicalismo uma falta de consistência na sua práxis, que esvaziava a cena rock, alem de expor a questão da cidade dividida, tão bem focalizada por Ednilson. Os punks de verdade eram os de bairros proletários? O que era ser punk? E o rock nisso, é arte pura ou engajada? A arte engajada é melhor só por causa disto, independente da sua qualidade artística? Foi fácil para o status quo empurrar o rock baiano para o subterrâneo de novo.
  • 4. Mas a esta altura o estrago estava feito, a quantidade de publicações alternativas, lojas alternativas e outras manifestações correlatas ao rock,pela primeira vez configurava uma ?cena rock? na cidade da Bahia . Com todos os seus defeitos, inconsistências e contradições , a "cena rock" da cidade começou a se firmou. Porque o pior estava por vir. Passado o auge do Rock Brasil, a cena baiana iria se defrontar com um monstro gestado pela política cultural do estado associado a agentes de uma emergente industria cultural(donos de blocos e gravadoras), a axé music. Nao vou discutir de quem é a culpa(alo Toni Lopes!). Mas os agentes da axé music foram extremamente competentes em capitalizar elementos da cultura popular baiana de carnaval, rentabilizando-o ao zenith. E ai chegamos a parte final do livro de Ednilson, que fala de bandas que estão ai ate hoje como o Cascadura, outras em estado de hibernação com a brincando de deus, e outras já extintas, mas que foram determinantes para a cena atual , como a mitológica Úteros Em Fúria. A Úteros, foi a inspiração maior para o maior nome do rock do Brasil atualmente, Pitty. Acho, que esta cena , talvez tenha escrito os momentos mais heróicos do Rock Baiano, porque, poucas vezes uma geração de artistas foi ignorada de forma tão brutal como esta.Um exemplo de amor ao rock, porque só gostando muito para aturar anos e anos de isolamento e falta de reconhecimento. Então parabéns Ednilson, sua iniciativa, numa terra pobre de pessoas fazedoras, é um exemplo, alem de esclarecer e possivelmente iluminar alguns dos novos rockers da cidade. E mesmo contra sua vontade, é por enquanto é a biblia do Rock Baiano. Keep on Rockin! Quarta, 23 de abril de 2008, 07h57 Ednilson, historiador do rock baiano Paquito De Salvador (BA) Há duas quinzenas, escrevi sobre o livro de Ricardo Cury, Para colorir, que tem, como pano de fundo e de maneira despretensiosa, a cena do rock baiano de meados dos anos 90 até hoje. O ciclo se fecha, agora, com o livro Rock baiano - história de uma cultura subterrânea, de Ednilson Sacramento, este sim, uma tentativa de contar esta história desde os seus primórdios, e que termina onde o de Cury começa, no meio da década de 90. O livro demorou dez anos pra ser escrito e mais seis pra ser lançado finalmente em surdina em 2006, por opção do próprio autor, que se sentiu acanhado, pois achou que, devido ao tempo passado entre a feitura e o lançamento, já poderia tê-lo reescrito, contando os novos capítulos de uma história tão singular quanto acidentada. Por que, então, falar de um livro lançado há quase dois anos? Em primeiro lugar, Ednilson foi o único, até agora, que teve a iniciativa de dar conta do movimento e movimentos do rock num lugar que, aparentemente, nada teria a ver com uma atitude própria do estilo, o que, aliás, dá pano pra manga e rende discussões infindáveis. Além disso, o autor, que teve uma formação ancorada no movimento punk, nem por isso deixa de citar as bandas que não seguiam a mesma cartilha. Estão lá o início de Raul Seixas e Valdir Serrão, o Big Ben, nos anos 60, o Mar revolto, dos anos 70, a trajetória do Camisa de Vênus, "um capítulo à parte" nos anos 80 e, a partir daí, um detalhamento impressionante das bandas e do circuito local - a "cultura subterrânea" a que o título se refere - num
  • 5. período em que o rock brasileiro entrou na moda, mas na Bahia vicejou a indústria da música ligada ao carnaval, que resultou no que passou a se chamar de "Axé-music". Na consolidação dessa indústria, o rock ficou de fora e tornou-se, por isso, ensimesmado, raivoso e à margem. Conversei com o próprio Ednilson na Associação Baiana de Cegos, onde é Diretor de Educação e Cultura, pois, além de trabalhar em projetos sociais, ele perdeu a visão enquanto terminava a edição do livro. Muito bem humorado e falante sem afetação, disse que realizou o sonho de fazer um fanzine, escrevendo o livro, ou seja, o livro é um grande fanzine. "Escrevi o que vivi", falou, referindo-se ao fato de ter se detido nos anos 80, quando fazia parte da cena na condição de "mais que testemunha". Lembramos de que eu mesmo fui entrevistado por ele no início dos anos 90, pois fui integrante de uma banda, Flores do mal, e que a situação estava se invertendo, pois era ele, naquele momento, o entrevistado. Sobre a cena hoje, ele admitiu que "se faz com mais riqueza de meios, tem mais tecnologia pra se produzir e espaço pra ensaiar, o que não significa que a gente tenha uma cena de rock. No final dos 80, havia uma ambientação...". No entanto, não há ressentimento no discurso de Ednilson. Ele admitiu as conquistas advindas do fato da Bahia ter se tornado um pólo produtor, por conta do carnaval, e mantém-se conectado ao novo mundo marcado pela internet e cultura digital, pois usa um programa que permite aos cegos utilizar o computador, inclusive, digitando textos. Ressaltou que o livro foi escrito na raça, e gostaria de ter condições de reeditá-lo com mais tempo e recursos. Ao final do encontro, pedi que autografasse o meu exemplar, no qual escreveu "os ventos sopram e refrigeram, refresque o ar com poesia". No final, transcrevo a provocação contida nas últimas palavras da introdução do livro: "No decorrer deste apanhado, procurei cercar-me da contribuição de pesquisadores, críticos e estudiosos da música pop, o que não se deu em maior escala devido à falta de tempo de alguns e à ausência de tantos, tornando-o, desde já, um relato incompleto. Talvez esse desfalque tenha afetado um pouco a abordagem, mas ao mesmo tempo deve ter deixado lacunas e discussões abertas para o florescer de novas pesquisas e consertos daquilo que não foi suficientemente dissecado. Tantos irão se queixar da ausência de muitos grupos e muitos reivindicarão uma maior atenção para o setor A ou B, mas quem sabe? Tais falhas lhes servirão de incentivo para a confecção da sua própria história". O contato de Ednilson, pra quem desejar adquirir este livro, desde já, uma obra de referência sobre o rock baiano, é ednaweb@terra.com.br. Paquito é músico e produtor. Fale com Paquito: anjo.paquito@terra.com.br Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.