Este documento discute conceitos epistemológicos como senso comum, ciência e ideologia. Também aborda os atos de construção do conhecimento como ver, ouvir, ler e escrever. Finalmente, fornece orientações sobre processos de leitura crítica como fichamento e tomada de notas.
3. Senso comum - CIÊNCIA - Ideologia Senso comum: conhecimento acrítico, imediatista, crédulo. Ideologia: é intrinsecamente tendenciosa, fazendo uma leitura da realidade a partir de interesses determinados (políticos, sociais, econômicos). Nas ciência sociais, o fenômeno ideológico é intrínseco. A ciência, o fazer científico é também uma relação social, está inserido numa sociedade específica, serve a determinados interesses, reproduz uma leitura da realidade, que se tornou hegemônica. O cientificismo é a ideologia de que a ciência tem resposta para tudo, que é onipotente para explicar e resolver os problemas humanos.
4. EPISTEMOLOGIA: Etimologicamente significa discurso (logos) sobre a ciência (episteme); É o “estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar a sua origem lógica, o seu valor e a sua importância objetiva” (Lalande, 1993). Consiste no “estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais”. (Japiassu, 1986).
5. Ciência, filosofia, religião e arte Representam as quatro modalidades principais de interpretação da realidade e descrevem formas de acesso, de leitura, de conhecimento e relação com o mundo. O pensamento se define por três grandes formas: a arte, a ciência e a filosofia, que são formas de “enfrentar o caos” do mundo: a filosofia cria conceitos para dar consistência ao mundo; a ciência trabalha a partir de uma referência, de um plano de coordenadas, que definem estado de coisas, funções ou proposições referenciais sob a ação de observadores parciais; A arte traça um plano de composição, engendrando blocos de sensações (perceptos e afectos), sob a ação de figuras estéticas. Portanto, o pensamento envolve esses elementos heterogêneos, não é nunca apenas racionalidade instrumental
6. REALIDADE E IDEOLOGIA A realidade é algo dado, exterior ao sujeito, impondo-se objetivamente ou é uma construção (inter)subjetiva? Concepção crítica de realidade: a realidade é construída social, histórica e culturalmente. A ideologia apresenta a realidade sem historicidade, isto é, “apagando” os conflitos sócio-políticos que interferem nos atos de conhecimento da realidade. As noções de progresso científico, neutralidade, objetividade podem servir para uma justificação cientificista da realidade estabelecida.
7. Os atos epistemológicos da pesquisa: ver, ouvir, ler e escrever Atos de construção do conhecimento:
8.
9. No processo de construção da pesquisa, distinguir no campo regimes de luz/visibilidade do objeto de pesquisa.
22. A re/trans-criação do mundo pela escrita A poesia de Manoel de Barros: “Poesia é voar fora da asa”… “o esplendor da manhã não se abre com faca”… “um sapo engole as auroras”… “Não tem altura o silêncio das pedras”… “Ontem choveu no futuro”… (Fonte: O livro das ignorãças)
25. Estudar, ler, interpretar textos Pensar é “promover um passeio na alma” (Chauí). “Ler é aprender a pensar na esteira deixada pelo pensamento do outro. Ler é retomar a reflexão de outrem como matéria prima para o trabalho de nossa própria reflexão” (Chauí). Práticas enviesadas de leitura: ler de modo exterior; ler pinçando o que interessa; ler de maneira fragmentária. Ler é colher (legere): “é colher tudo quanto vem escrito”. Interpretar é eleger (ex-legere: escolher), decifrar o enigma do texto: o que diz o autor e, metodologicamente por que ele o faz deste modo (Bosi), é reconstruir o itinerário de construção do pensamento do outro. Seduções na leitura e na escrita: “os textos se querem ser lidos”. “O brio do texto (sem o qual, em suma, não há texto) seria a sua vontade de fruição” (Roland Barthes). “O leitor é produtor de jardins, Robinson de uma ilha a descobrir mas possuído também por seu próprio carnaval que introduz o múltiplo e a diferença no sistema escrito de uma sociedade e de um texto... Os leitores são viajantes; circulam nas terras alheias, nômades caçando por conta própria através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens do Egito para usufruí-los” (Michel de Certeau).
26. Estudar, ler, interpretar textos (II) A leitura é também leitura do mundo. O texto, aí, serve como mediador entre leitor e mundo. Estudar, numa acepção ampla, significa “o ato pelo qual cada pessoa humana enfrenta a realidade para compreendê-la e elucidá-la” (Luckesi), de modo direto e/ou indireto. Estudar é o ato de conhecer o mundo de forma crítica. A vida universitária é o lugar onde o leitor se apresenta como uma figura constante: leitura em casa, na sala de aula, na biblioteca. (Luckesi) Na leitura, é importante passar de uma posição de leitor-objeto para a de leitor-sujeito. O leitor como sujeito da leitura procura compreender ( e não memorizar) a mensagem, avalia o que lê e, mediante constante questionamento, dialoga com o autor do texto. Na postura de leitor-sujeito, passamos a ser leitor-autor: podemos não só receber mensagens, mas também criar novas interpretações e sentidos.
27. Processo de leitura crítica (LUCKESI, 1986) A leitura crítica de um texto propõe a sua leitura contextualizada, dialógica, envolvendo um conjunto de atividades: 1. Elementos subsidiários da leitura (referência bibliográfica, extensão da leitura, identificação do tipo de texto, dados biográficos do autor, estudo de componentes desconhecidos do texto); 2. Elementos da leitura propriamente dita: estudo temático do texto (identificação e análise do título do texto; identificação do tema abordado; identificação da problematização feita pelo autor em torno do tema; identificação do ponto de vista ou idéia central; identificação da argumentação); 3. Elementos de avaliação ( avaliação do texto lido levando em conta sua estrutura lógica, sua validade enquanto verdade e seu valor social) e proposição (de novos temas para a pesquisa, para o estudo, momento de criação do leitor).
28. Fichamento e tomada de notas A leitura dos textos deve ser acompanhada de tomada de notas no próprio texto (sublinhar o texto, criar sinais de identificação, siglas para destacar a importância das informações, palavras-resumo, etc.) e/ou em fichas de leitura. Fichar um texto é extrair os elementos essenciais da leitura: referência bibliográfica, proposta do autor, hipóteses, argumentação, conclusões e apreciação crítica. O fichamento não é apenas um resumo, é uma apropriação do texto segundo interesses de pesquisa do leitor. Serve para utilizar o texto lido em outras circunstâncias (apresentação de aulas, fonte para escrita de trabalhos e/ou pesquisas, etc.). Há várias formas de tomada de notas em ficha: 1. ficha bibliográfica. 2. fichas de leitura de livros ou artigos. 3. fichas temáticas (citação). 4. fichas de idéias e/ou de trabalho.