Este documento é um livro de poemas e contos do autor Deraldo Campos Portela publicado em 2012. O livro contém vários poemas curtos sobre temas como amor, vida e Deus, além de pequenos contos sobre personagens e lugares da Bahia. Um dos contos descreve a eleição e posse de um governador popular da Bahia chamado Cosme de Farias.
10. muitos cometem versos em sua juventude
outros acham que podem fazer prosa
alguns se tornam reincidentes
poucos se arrependem
todos devem ser perdoados
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11.
12. meus versos são meus
e do meu amor
e dos meus amigos
e do mundo inteiro
tu se não gostares
não fiques zangado
são versos apenas
que uma vez gerados
tive que dizer
não pretendem nada
não sabem o que são
mas eu gosto deles
e hei de ama-los mesmo
quando todos digam
que não têm valor
pois são versos meus
e do meu amor
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13.
14. Estão ficando cada vez mais distantes as eleições diretas
para governador no Brasil. Menos nesta Bahia de tantos
mistérios e privilégios onde a 15 de março deste ano elegemos
o nosso governo. ARENA, MDB e as outras correntes,
surpreendemo-nos unidos em uma verdadeira coligação
popular. Todas as mãos foram ávidas para a urna que recebeu o
candidato único: Cosme de Farias.
Assim como ele fazia com a gente, a gente fez com ele:
arrebatamos o homem das mãos das autoridades. Elevado
sobre nossas cabeças no Terreiro de Jesus, aclamado com
gritos e palmas, risos e lágrimas, preces e exclamações, ao som
do Hino Nacional, foi proclamado governador.
São Pedro, São Domingos e São Francisco tocavam
seus sinos.
Carregado por braços negros, brancos, caboclos e de
outras tonalidades, o Major passou mais uma vez pelo coração
da cidade.
Passou pela catedral onde o Arcebispo sagrou-o com
água sobre a fronte.
Passou pela Praça da Sé buscando a Misericórdia que o
acolheu como velho conhecido. Ele andava sempre pelos
caminhos da misericórdia. A igreja cantou louvores do alto de
sua torre e o velho Fórum fechou a cara para não chorar de
emoção.
Na Praça Municipal as bandeiras estavam no alto dos
mastros.
A Prefeitura sorriu orgulhosa e cúmplice. Aquela
consagração tinha sido um pouco conquistada do alto dos seus
degraus.
ALadeira da Praça cantou o Hino ao Dois de Julho.
Na Baixa dos Sapateiros apareceu um anjinho perdido no
seu berço branco e no anoitecer. Naquela hora já deviam estar
fechadas as portas da casa onde dormem os anjinhos seu
Morte e Vida de um Governador
1972
05
15.
16. derradeiro sono. “Vem cá meu anjo, - disse o Major – eu também
vou para lá. Na morada dos anjos hoje me esperam de portas
abertas.Tu entras comigo.”
Por onde passava o Major ia fechando o comércio. Mas
as Sete Portas se abriram para quem procurou perdoar setenta
vezes sete.
Na Estação Rodoviária o guarda conservou o sinal
vermelho. Imóvel e silencioso no seu posto ele dava sinal de
emoção. Os motoristas de táxi, de pé junto aos seus carros
dispostos lado à lado, faróis acesos, iluminaram a passagem.
Por todas as ruas da Bahia, na boca, no pensamento e no
coração do povo, o Major foi passando.
A Baixa de Quintas estava preta de gente e a ladeira
branca de lenços agitados. Ele foi subindo. No alto a grande
mansão o esperava.
Ao chegar passou em revista uma tropa da Polícia Militar
e foi saudado com clarins.
Dentro e fora dos vastos portões, mais vasto era o povo
que não se continha. Outra vez com grande clamor, lenços e
camisas como bandeiras desfraldadas, foi conduzido para sua
nova residência.
Não quis ocupar os aposentos superiores. Para ficar mais
perto da gente, acomodou-se no seio da BoaTerra.
No seu primeiro decreto, extinguiu o analfabetismo. Da
exposição de motivos constou que a instrução é um caminho
para a verdade e só a verdade liberta definitivamente o homem.
Foi um governador muito popular e muito forte. O pai dele
é ainda mais forte e popular. É aquele que de modo semelhante
foi por nós coroado rei, levado em passeata pelo coração da
cidade, conduzido para o alto de uma colina, erguido sobre a
multidão de nossas cabeças, semeado no chão. E já no terceiro
dia vimos o esplendor e a força do seu governo. Cosme
costumava chama-lo Senhor do Bomfim. Outros por aqui o
chamam Oxalá. E ainda outros,Amor.
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17.
18. gostaria de ser engraxate
pra limpar os sapatos bem limpos
dos filhos de Deus
gostaria de ser alfaiate
pra cuidar de vestir bem vestidos
os filhos de Deus
gostaria de ser sanfoneiro
pra tocar dia e noite nas festas
dos filhos de Deus
gostaria de ser um carteiro
pra gritar pelas casas “correio!”
aos filhos de Deus
gostaria de ser um marido
pra encher uma casa espaçosa
de filhos de Deus
gostaria de ser um doutor
pra curar das doenças ligeiro
os filhos de Deus
gostaria de ser sacerdote
pra fazer todo mundo lembrado
que é filho de Deus
VOCAÇÃO
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19.
20. Alfredo da Luz
Apresentação do livro escrito por Nádia Santos
Esta é a história de um homem que sabia sorrir com
pouco dinheiro no bolso. Onde se vê que a tristeza pode virar
alegria como uma noite escura pode se transformar num dia
luminoso. Andava ligeiro. Parece que tinha pressa de viver,
ciente de que não ia durar muito tempo. Alfredo Bispo dos
Santos, conhecido como Alfredo da Luz por ser eletricista,
iluminava a cidade com seu jeito de ser.
Gostava de música. Tocava percussão na filarmônica e
construiu um pequeno trio elétrico que levou grandes fuzarcas
para as ruas.
De herança deixou para os filhos a tarefa de continuar
alegrando a gente. Um deles é sax tenor, outro é sax alto, tem
também um trompete, um baixo si bemol, um baixo eletrônico e
uma filha que gosta de escrever, a autora deste livro.
Alfredo gastou o coração gostando das coisas e das
pessoas. Vai ver foi por isso que morreu de coração. De tanto
gostar da vida.
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21.
22. se eu morresse aqui na pensão
queria um discurso de Jorge Montalvão
tocassem depois meu disco
que eu daria
em breve testamento
a Amauri ou Sarmento
Luiz Rabelo podia arranjar
quem dialogasse com ele
uns salmos bem tristes
com velas acesas
e voz apagada
no meio da noite
quando os bondes deixassem de passar
que mãe olhasse uma estrela
na varanda lá de casa
sentada com seu terço
e pensasse que tudo estava bem
ÚLTIMOS DESEJOS
1951
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Quero também um canto de Incelência
para abrir meu caminho nessa viagem.
(1997)
23.
24. e sorrisse de mansinho
uma estrela qualquer
lá no cemitério
se houvesse de alguém jogar a pá de terra
a primeira
na tampa do caixão
pois que jogasse ela
a menina do laboratório
mas só se não ficasse triste
com o barulho que a terra ia fazer
meu corpo à terra que é boa
mas Deus é muito mais
perdoa
minha alma a Deus pois
e a todos que ficassem
flores
lírios do campo
para olhar de vez em quando
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25.
26. 17
Alcoólicos Anônimos
Venho mais uma vez a uma reunião de Alcoólicos
Anônimos. Da primeira vez senti vontade de chorar. As pessoas
contando uma vida de sofrimentos, dizendo coisas assim: “Minha
mulher e meus filhos perderam o respeito por mim, meus amigos se
afastaram, todos procuravam me evitar.” Essas pessoas
reconheciam que a origem desses males era a bebida. Queriam
parar de beber e não conseguiam.
Um dia porém ouviram falar de Alcoólicos Anônimos,
compareceram a uma reunião e decidiram fazer a experiência.
Pouco a pouco, caindo e levantando, as melhoras foram
aparecendo. Os amigos foram se aproximando, a família voltou a
trata-los com respeito e carinho, a autoconfiança reapareceu. Foi
uma alegria profunda como se ganhassem a liberdade depois de
muito tempo de prisão. Isso acontece aqui e em muitas outras salas
de AA no mundo inteiro.
Como médico tenho atendido a pessoas que procuram um
remédio contra o álcool e tenho dito que não conheço outro remédio
ou tratamento tão eficaz como o convívio comAlcoólicosAnônimos.
É um remédio que não custa dinheiro, onde o médico é o próprio
doente que com seu esforço, a invocação de um Poder Superior e a
solidariedade dos companheiros, alcança o domínio sobre uma
tendência perigosa.
A maior parte das pessoas bebem quando querem e podem
parar de beber quando percebem que chegou a hora. Mas há
pessoas que não podem fazer isso. Quando começam a beber não
sabem como parar. Não são viciados, são doentes e é para essas
pessoas que se formaram as fraternidades dos Alcoólicos
Anônimos.
Sei bem que quase todos aqui sabem tudo isso, mas não faz
mal repetir. Repetir uma verdade é uma das formas de faze-la
entrar em nosso coração.
Quanto a mim, venho para trazer um voto de confiança,
encontrar amigos e renovar a minha reserva de esperanças.
27.
28. meu sangue é morno
não matarei ninguém
meu sangue é morno
ninguém me matará
eu sou sozinho
não sei amar
existe algum caminho
que seja o meu caminho?
qualquer caminho é um caminho
pois todos os caminhos são do Senhor
em todos ele está
ou para ser pisado
ou para ser amado companheiro
se uma mulher andar comigo
e em nosso amor
na alegria e na luz
em nosso amor
no medo e na esperança
em nosso amor
no sangue e na agonia
e em nosso amor
amar comigo a vida as coisas as pessoas
buscar comigo a Fonte do Amor
então eu serei único
insubstituível
serei amado assim como eu a amo
irremediavelmente
se não
serei como um irmãozinho de todo mundo
ou como um vagabundo
MONÓLOGO DE FORMATURA - 1953
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30. Internato – 1955
Depois da colação de grau não tive forças para me
instalar no interior, longe dos mestres, dos colegas, dos
cursos de aperfeiçoamento, e da possibilidade de contar
com o recurso dos exames complementares. Após uma
tentativa pouco satisfatória, um caminho de repente se
abriu como um presente caído do céu. Fui aceito para fazer o
Internato no Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina.
Lá encontrei a complementação profissional que me faltava e a
amizade de um grupo de colegas que me acolheram como um
membro da família, eu que era o único diplomado por uma
faculdade diferente. Para Sônia, Cecchi, Isoldi, Laurival, Liogi,
Mandia e Pessanha escrevi umas quadrinhas, misturando
verdades e bobagens que não guardei na memória. Ao receber
o título de Médico Interno disse também algumas palavras de
agradecimento e de louvor à Escola, palavras que também se
perderam.
Agora quando faço este livrinho de retalhos não quero
deixar de me referir ao Internato, uma experiência muito rica e
agradável, externando mais uma vez contentamento e gratidão
por esse episódio tão valioso e marcante da minha formação
médica.
Das quadrinhas mencionadas, lembro estas duas:
Irará é minha terra
São Paulo é grande lição
Irará está no mapa
São Paulo no coração
eu vim de lá do norte
eu vim lá da Bahia
vim aprender medicina
vim ensinar geografia
21
31.
32. eu vim de São Paulo esta terra da gente
saltei na Bahia eu sou como um peixe
eu sou como um peixe que salta no rio
que salta no rio
que nuvem tão branca que mar bem pintado
em céu tão azul de praia de renda
que azul tão puro que palmas que abanam
tão puro e tão doce milhares de brisas
no berço do dia que verde que brilho
tão puro e magoado que branco que anil
com o sol no poente eu sou como um peixe
que terra tão clara que salta no rio
BAHIA - 1956
Quando voltei do internato vim pelo Rio São Francisco. Tomei o trem em São
Paulo, passei por Belo Horizonte e fui até Pirapora esperar o vapor. Em
Pirapora me hospedei com a família de comadre Esmeralda, a zeladora da
Casa dos Médicos Internos que ficava na Rua Pedro de Toledo. Embarquei
no vapor São Francisco que lentamente foi descendo o rio, passando por
Januaria, Bom Jesus da Lapa e Barra do Rio Grande até me deixar em
Juazeiro. Durante a viagem observei grupos de pequenos peixes prateados
que pulavam fora dagua descrevendo um atrás do outro um arco perfeito
para mergulhar mais adiante. Os peixinhos estavam brincando de sair de
casa e entrar em casa. De Juazeiro o trem me levou Bahia a dentro até a
estação de Água Fria onde peguei vinte quilômetros de carona no carro do
prefeitoAmaro Medeiros até Irará.
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33.
34. que casas tão velhas que tanto passeiam
que casas tão novas no Farol da Barra
que ruas sem rumo em bandos bonitos
sem régua sem prumo as filhas da terra
que torres pra o céu eu penso naquela
que esquinas cheirosas que acho a mais bela
de coisas gostosas eu sou como um peixe
eu sou como um peixe que salta no rio
que salta no rio
cheguei cinco vezes
que riso tão fácil voltando do sul
que andar descansado cheguei de avião
que tanta fartura de trem de navio
no cais do mercado de pura alegria
chegando à Bahia
saveiro de perto
eu sou como um peixe
trabalho de mouro
que salta no rio
saveiro de longe
enfeite de mar
que terra tão quente
esta terra da gente
eu tomo um sorvete
de côco e mangaba
eu sou como um peixe
que salta no rio
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35.
36. Dez anos de Formatura – 1963
Para não morrer de tristeza os homens se reúnem. Aqui
estamos nós. Ninguém pode ficar sozinho por muito tempo. É
preciso beijar os nossos filhos, abraçar o amor que Deus nos deu,
sorrir e dialogar com os amigos num encontro de dez anos depois.
Somos colegas, nos consideramos iguais, irmãos, daí a
nossa alegria. Haja esta relação entre os homens e o mundo será
feliz.
Às vezes a gente pensa que ficando ricos seremos felizes.
Mas só se todo mundo ficasse rico também. A riqueza tem uma
tendência muito forte à distribuição. Quem se recusa a dividi-la
normalmente, arrisca-se a ficar louco e será forçado a dividi-la com
os psiquiatras.
No plano das comunidades a mesma coisa. Os paises mais
fortes sentem que ajudar os mais fracos é uma necessidade mutua
de sobrevivência. Democracia ou comunismo, de um jeito ou de
outro, somos solicitados à fraternidade. As maldades orientais e
ocidentais podem ser diferentes, mas a bondade lá e cá é uma só: o
desejo de organizar uma comunidade feliz.
Voltando ao nosso pequeno mundo de colegas, faço um
pedido: vamos ter cuidado com a amizade que nos une; o nosso
amor é frágil e inconstante, é poeira apenas do Amor Autêntico que
mesmo sem saber estamos sempre a procurar. Quando
escolhemos a medicina estávamos em busca do amor, pois ela é
uma das profissões que mais revelam a preocupação constante
dos homens com o bem estar das pessoas.
Que a alegria desta noite seja impulso para uma alegria
maior cada vez que nos reunirmos e para uma alegria completa na
reunião derradeira, quando descobriremos a verdade de todas as
coisas dentro de uma amizade definitiva e inviolável.
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37.
38. sou pobre
mas quero bem
sou triste
mas quero bem
sou sujo
mas quero bem
sou mudo
mas quero bem
a você
DECLARAÇÃO
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39.
40. Banco do Brasil
30 de novembro de 1964
Como prefeito do município, o meu voto na inauguração
desta agência bancária é que ela seja um instrumento de
libertação econômica para os pequenos proprietários da região.
Alegro-me em ver aqui novamente reunidos Água Fria,
Ouriçangas, Pedrão, Santanópolis e Irará e alegro-me mais
ainda porque ao nosso grupo junta-se Coração de Maria. A
semelhança de produção, costumes e interesses faz destes seis
municípios uma unidade regional cujo fortalecimento só pode
trazer vantagens recíprocas.
Aos novos bancários apresento as boas vindas. Que se
ambientem com rapidez em nosso meio e que isso seja motivo
de alegria para vocês e para nós.
Aos que colaboraram com a prefeitura na parte que lhe
coube da tarefa de construir este prédio, o nosso
agradecimento. Quero mencionar o esforço e a boa vontade do
Presidente da Câmara e dos Vereadores, dos Prefeitos da
região, do Secretário de Obras Públicas e de todos os
particulares que atendendo ao nosso apelo tornaram possível o
que a principio parecia tão difícil. Para sintetizar em um só nome
a participação dos nossos cidadãos, cito um nome: Djalma Reis.
Porque o trabalho foi de muitos hoje a alegria é maior.
Louvo a direção do Banco do Brasil ao reconhecer a
oportunidade de instalar a agência e tenho um louvor especial a
dois Elysios. Elysio Santana que considero a pessoa mais
interessada na vinda do Banco para Irará, demonstrando mais
31
41.
42. uma vez a preocupação que sempre tem pelo bem estar da
comunidade em que vive. E Elysio Dorea, agente instalador,
cavalheiro, buscando a perfeição em todos os detalhes. Ao seu
dinamismo devemos a satisfação de poder contar já na próxima
safra, com os benefícios do crédito agrícola. A sua permanência
como gerente é uma garantia de que a agência tenderá para
atingir a meta a que me referi de início: ser um instrumento de
libertação para que as pessoas trabalhando em melhores
condições, produzam mais, vejam e segurem com as mãos o
fruto do seu trabalho e possam ter o conforto físico necessário ao
pleno desenvolvimento de suas personalidades.
Na verdade todos nós, corruptos ou poetas, fomos feitos
segundo o mesmo modelo e por um caminho ou por outro,
queremos alcançar a perfeição.
No princípio Deus criou o céu e a terra. Depois disse:
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança e seja ele
senhor das águas, dos peixes, das aves, dos animais e de toda a
terra”.
Que esta agência bancária nos ajude a cumprir a ordem
de Deus. Que nos ajude a ser realmente senhores desta região e
a compreender que unidos a todos os outros homens, devemos
ser um dia, em verdade, senhores de toda aTerra.
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43.
44. a estrela é minha
que Deus me deu
a estrela brilha
de lá do céu
a estrela sabe
de meus penares
a estrela é linda
eu posso vê-la
a estrela é minha
e não posso tê-la
A ESTRELA
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45.
46. Maria Inês
15 dias atrás, ao inaugurar-se o prédio da Escola
Herculano Braz de Queiroz, na Picada, louvei o espírito de
improvisação do brasileiro, quando posto a serviço de sua terra,
na pessoa do patrono daquela escola. Hoje devo louvar a
honestidade, a perseverança, a franqueza, a lealdade, a
limpidez, a simplicidade, a coragem, a bondade, na pessoa
daquela que dá o nome a esta escola – Maria Inês de Campos
Genê – mestra de muitos cidadãos de nossa terra, que foi
também minha mestra para felicidade minha. Devemos-lhe não
somente instrução, mas também educação, exemplo de uma
vida bem vivida, dedicada ao trabalho e ao aperfeiçoamento de
seus alunos em todos os sentidos.
Foi para mim alegria, sancionar a lei que dá a
denominação desta escola, lei que foi iniciativa da Câmara de
Vereadores em hora de boa inspiração e a alegria se prolonga
até hoje, ao presidir a modesta solenidade de inauguração deste
prédio. Modesta homenagem, que bem merecia ser muito maior,
porém que sendo assim está louvando também a modéstia da
professora e sendo este prédio ao lado do Cruzeiro da
Queimada, está a lembrar que a sua vida sempre esteve sob a
benéfica influência de Jesus Cristo e que ela foi e ainda é como
uma vela que pouco a pouco vai sendo queimada para espalhar
onde esteja, a luz do saber que traz consigo.
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No ato da inauguração a Bandeira Brasileira foi hasteada pelo
Secretário de Obras Públicas do município, Eduardo Campos
Portela, que também foi aluno de Maria Inês, ao som do Hino
Nacional executado pela Filarmônica 25 de Dezembro.
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47.
48. escreva
pra me dizer que o dia é luminoso
que há riso de alegria e música de festa
porque vejo tudo escuro
e um silêncio pesado me domina
escreva
que só acredito em você
A CARTA
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49.
50. O oratório – 1967
Há cerca de 250 anos neste lugar foi construída uma
igreja em agradecimento a uma bondade de Nossa Senhora.
Depois, casa a casa, um povoado arrodeou-a e pediu-lhe um
nome de batismo. Assim nasceu o arraial da Purificação dos
Campos, que um dia foi vila, um dia foi cidade e hoje é esta praça
por lei municipal n° 71 de 17 de agosto de 1964.
Praça da Purificação dos Campos velando um oratório de
Maria onde está uma imagem que viu a cidade nascer.
O oratório fica entregue ao povo para lembrar a igreja que
já não existe, para lembrar o primeiro nome do lugar, para louvar
a primeira dona do lugar e para rezar pela purificação do lugar e
do mundo.
A cidade dominou vasta região e teve quatro filhos. Água
Fria, Ouriçangas, Pedrão e Santanópolis são agora quatro
cidades independentes cujos nomes ficam hoje gravados em
nossas ruas e praça.
O oratório é uma homenagem à Mãe desta cidade. Que
ele seja sempre um motivo de união e fraternidade para os
iraraenses e para todo mundo que por aqui passar.
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51.
52. mil andanças eu tivesse de fadigas
para ver o meu amor
mil festejos eu faria de alegria
para mim e meu amor
vivo pensando em meu amor
que longe vai
SAUDADE
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53.
54. Transmissão do cargo
07/04/1967
Ao terminar estes quatro anos de serviço público minhas
primeiras palavras são de agradecimento pela honra que me foi
concedida de ocupar o cargo de prefeito. Agradeço também aos
companheiros que se esforçaram quanto puderam para que a
tarefa fosse bem cumprida.
Quero depois fazer um pouco a defesa do meu governo
que enfrentou sérias dificuldades financeiras acentuadas pela
intervenção militar no governo federal.
De quatro anos destaco quatro obras:
1 –Ainstalação da agência do Banco do Brasil.
2 –Anova rede de energia elétrica.
3 – Melhoramentos no setor da educação.
4 –Atualização dos vencimentos dos funcionários.
Na instalação da agência bancária a prefeitura teve
participação decisiva porque quando foi exigido um prédio
adequado e não havia esse prédio nem dinheiro para construí-
lo, solicitamos autorização da Câmara Municipal e fizemos um
empréstimo popular, levantando fundos para a construção.
Estando já a obra adiantada, foi adquirida e concluída pelo
Banco e assim pudemos devolver ao povo o dinheiro
emprestado sem juros.
A rede elétrica foi colaboração do Estado através da
Coelba, mas foi preciso vencer muitas pequenas batalhas aqui e
principalmente em Salvador até que o convênio fosse assinado.
Por fim os trabalhos foram iniciados e a nova linha de
45
55.
56. transmissão e a rede de distribuição foram concluídas e
recentemente inauguradas.
No setor da educação tivemos a supervisão das classes
rurais, cursos de aperfeiçoamento para os professores leigos,
instalação do curso pedagógico para formação de professores
primários e a construção de seis prédios destinados as escolas
Celso Rodrigues, no Murici, Deus Menino em Boca de Várzea,
Herculano Braz, na Picada, Maria Inês, na Queimada, Mario
Campos em Bento Simões, e Rei Pelé aqui na cidade. Lembro
com prazer especial os prédios de Boca de Várzea e do Murici
construídos com ativa colaboração popular.
Encontrei 21 classes municipais, deixo 43. Deixo também
uma imensa tarefa a ser realizada. De toda parte chegam
pedidos de novas escolas e chegou também a seguinte carta:
“Fazenda Preguiça, 24 de fevereiro de 1967
Excelentíssimo Senhor Prefeito de Irará
Tenho a digna honra de comunicar a V. Exª. sobre os
bancos e a mesa que o senhor disse que ia arranjar para a
escola. Eu já estive lá duas vezes e não encontrei o senhor.
Então lhe peço que resolva este problema breve, porque tenho
34 alunos de freqüência e só tem dois bancos.As crianças estão
estudando em pé.
Atenciosamente,
Maria José Sena Cerqueira.”
A quarta realização que destaco é a atualização dos
vencimentos do funcionalismo, o salário móvel, vinculado ao
47
58. salário mínimo nacional. Agora quem ganha menos recebe um
salário e quem ganha mais, o prefeito, recebe três salários
incluída a verba de representação. Os professores leigos
infelizmente não foram contemplados nesse benefício.
Entretanto eles recebiam uma gratificação de 2.000 cruzeiros
mensais e passaram a ganhar 20 cruzeiros novos (10 vezes
mais), o que é insuficiente, mas é o que está dentro das
possibilidades do tesouro municipal. Foi a realização mais
dispendiosa e é a que menos aparece. Mas me deu muito prazer.
Nenhuma dessas quatro obras contudo é a mais
importante. Todos sabiam que o Dr. Deraldo não tinha
experiência política e de administração pública e que não tinha
tempo suficiente para bem cuidar das suas obrigações de
médico e professor, ao lhe acrescentarem o cargo de prefeito. O
que queriam, penso, era paz, companheirismo, conciliação, um
tratamento igual para todos e isso eu procurei realizar.
Aqui termino esta breve prestação de contas porque o dia
de hoje pertence mais aos novos governantes.
Através do voto um novo governo se instala. Nova
orientação, buscando entretanto o mesmo objetivo: dias
melhores para a comunidade.Alberto de Santana é uma pessoa
digna do cargo que hoje ocupa. Pertence a uma família de bela
tradição de serviços prestados ao município e ao país. Possui as
qualidades de honradez, liderança, experiência e sobretudo de
amor a esta terra para exercer a chefia da administração
municipal. Por isso, é com satisfação e esperança, que lhe
passo o honroso cargo, pondo a sua disposição os meus
préstimos de cidadão.
49
59.
60. não quero ver ninguém ficando triste
nada está perdido
tenho de você uma imagem tão bonita
sinto que você também gosta de mim
vamos proteger esse tesouro
nada mais que isto eu te proponho
nunca despertar de nosso sonho
O SONHO
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61.
62. Salve a Retreta
Salve a Retreta é o nome de um programa radiofônico onde
as filarmônicas da Bahia se apresentaram sucessivamente
para gravação e posterior divulgação pelo rádio.
Louvo a Argos Industrial de São Paulo e a Rádio Sociedade da
Bahia pela organização deste programa. Agradeço a todos que
contribuíram para a renovação da filarmônica, de modo especial a
Alberto Nogueira que reuniu os primeiros músicos e presidiu a
primeira diretoria; a Cristóvão Ferreira que comprou o tecido para a
farda e ao prefeito José Valverde que mandou costurar-la. Entre os
muitos colaboradores distingo ainda Everton Martins de Cerqueira,
Elpídio Marques de Oliveira, Joaquim Meneses, e Lourdes Portela
que por sua generosidade mereceram o título de sócios
beneméritos. E faço o elogio do corpo musical: o mestre Betinho, o
contra-mestre Zequinha e seus instrumentistas, sapateiros,
alfaiates, funileiros, lavradores, comerciários, eletricistas e
estudantes. Eles, por amor à música e ao companheirismo
compõem a nossa modesta e valorosa Filarmônica 25 de
Dezembro.
Há quem diga que as filarmônicas são expressão do
passado e tendem a desaparecer. Não concordo. Há quem diga
que o céu é um lugar paulificante onde os santos vestidos em
grandes camisolos brancos passam a eternidade de mãos postas
cantando benditos. Também não concordo. O que deve haver por lá
é muitas filarmônicas. Porque o Dono do céu já declarou que lá é o
lugar dos meninos e de quem se fizer semelhante a eles. E os
meninos gostam muito de filarmônica. Por isso, mesmo que vocês
todos gente grande de Irará, não estivessem aqui demonstrando
que a Vinte e Cinco é boa e lhes agrada, eu ficaria com os meninos
da cidade e do mundo, gritando bem alto e feliz: “Viva a
Filarmônica! Salve a Retreta!.”
53
63.
64. como os anjos em Belém um dia
se juntaram em coro de alegria
e cantaram hinos de louvor
ao nascimento do Deus de Amor
nós também nos reunimos
ao clarão da estrela do natal
pra cantar de mil maneiras
a canção da paz universal
Hino da Filarmônica 25 de Dezembro
55
65.
66. No dia 04 de novembro de 2006 foi sepultado no Jardim
da Saudade o corpo de Norberto deAquino, o Maestro Xaxá. Ele
foi regente da Banda de Música do Corpo de Bombeiros em
Salvador durante um longo e brilhante período.
Começou a sua música na Filarmônica Euterpe de Cruz
das Almas, onde nasceu em 1918. Em Salvador freqüentou o
Seminário de Música da Universidade Federal, tornou-se amigo
de Lindemberg Cardoso e destacou-se como arranjador,
regente e trombonista. Participou de famoso grupo musical de
lazer como instrumentista e diretor, animando as festas dos
grandes clubes da época, o Bahiano de Tênis, o Yacht e a
Associação Atlética. Dirigiu também a charanga do Bloco do
Jacu nos carnavais. Foi jurado em festivais de música popular na
Bahia e em Pernambuco e nos Festivais de Filarmônica do
Interior no Campo Grande. Em Feira de Santana e Cachoeira
ministrou cursos de aperfeiçoamento para regentes de
filarmônica.
Depois de reformado como Major Músico da PM, passou
a reger a Filarmônica 25 de Dezembro de Irará, imprimindo
notável qualidade de expressão aos seus músicos aplaudidos
em muitas cidades baianas e também em Estância, Aracaju,
Recife, Rio de Janeiro, na Universidade de Feira de Santana, na
reitoria da Universidade Federal da Bahia e no Teatro Castro
Alves.ACâmara Municipal de Irará concedeu-lhe a cidadania.
No funeral os músicos da Vinte e Cinco tocaram para ele
a cantata 156 de Bach e conduziram o seu corpo para a
sepultura. Um orador falou que Xaxá tomou conta
cuidadosamente da família e dos subordinados, foi simples e
solidário e alegrou e elevou o nosso espírito através da música.
O Maestro deve estar agora num lugar muito bom onde
espera por nós. Enquanto isso guardaremos a sua memória com
saudade e gratidão.
Maestro Xaxá
57
67.
68. 59
é a angústia de perder e procurar
que faz o júbilo do reencontro
o nosso amor tem mil abismos manchados de sangue
e mil e uma alegrias imaculadas
Luz e Sombra
69.
70. Câmara Municipal de Vereadores
Sessão inaugural de legislatura e posse do prefeito
01 de fevereiro de 1977
Ao encerrar esta sessão, agradeço ao nosso pároco
Mons. José da Rocha Bruno, a autorização para realizar
nesta igreja a cerimônia de instalação do novo governo
municipal. O fato de estarmos aqui reveste o ato de posse,
que se queria tão simples, de uma singular solenidade.
Este compromisso que prestamos diante de Deus e dos
homens é uma ação oportuna para assinalar a vigília da
Festa da Purificação. É preciso que tenhamos um desejo
intenso de purificação para que possamos cumprir com
fidelidade o juramento que acabamos de fazer.
Prometemos respeitar as leis e promover o bem da
comunidade. Teremos que conhecer e estudar todas as
leis? Temos que nos esforçar nesse sentido. Entretanto,
nas paredes deste templo ressoa uma voz que nos
tranqüiliza: - “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo.” Esta lei suprema que é a
Constituição do Mundo, pode nos orientar em qualquer
momento de dúvida.
Peço a Deus bênçãos para o novo governo e ao povo
peço ajuda, apoio, compreensão, sugestões, críticas e se
necessário o seu clamor e a sua revolta.
Está encerrada a sessão.
61
71.
72. sou meio mudo e meio morto
e além de mudo porco
e além de morto podre
em certas noites contudo
há uma pequena chama muito pura
e um pedaço de canção muito suave
que eu quero possuir
eu os alcanço
com duas lágrimas
e um sorriso manso
63
Confissão
73.
74. Hoje é a noite dos agricultores. E como já tivemos a noite
do Sindicato Rural, que é o sindicato dos proprietários rurais,
hoje é a noite do povo da roça, do povo que trabalha na roça,
mas não é, ou quase não é, proprietário. De quem só tem o dia e
a noite. Vende o dia e fica com a noite. Para o descanso, para a
festa e para o amor.
Hoje é uma noite de festa e uma noite de amor, do povo
da roça para Nossa Senhora.
É certo que os grandes proprietários também são filhos
de Deus. A abundancia dos bens materiais é, as vezes, indicada
como sinal de proteção divina. Entretanto, o Filho de Deus
nasceu, podemos dizer, no meio da roça, num lugar mais
destinado a animais do que a pessoas, mas que podia servir
também de abrigo aos trabalhadores mais humildes do campo.
Isso me parece um sinal de que, embora Deus goste de todo
mundo, ele gosta mais do povo da roça.
Os Reis Magos vieram ver o Menino e trouxeram
presentes de ouro e perfumes. É mais uma prova de que os ricos
e poderosos são filhos de Deus. Mas, os primeiros a ver e louvar
o Deus Menino, foram os pastores dos arredores de Belém, o
que mostra de novo a preferência de Deus pela gente mais
simples do campo.
Por isso, esta noite de agricultores é talvez a preferida de
Nossa Senhora. Porque faz lembrar a noite em que seu filho
nasceu.
Irará é uma cidade parecida com Belém. Uma cidade
pequena, cheirando a coisas do campo. E nesta noite, o povo
veio dos campos de Irará para prestar sua homenagem, como
outrora os pastores vieram dos campos de Belém.
Lucas 2,7 – porque não havia lugar para eles nas pousadas.
Novena da Purificação I
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75.
76. Quem mora em Irará, seja monsenhor ou doutor, está de
vez em quando ou quase sempre lidando com coisas da roça.
Por isso todos nós somos um pouco da roça.Até Nossa Senhora
aqui é Nossa Senhora da Purificação dos Campos.
Vamos, pois nesta noite dos agricultores, despertar o
espírito de gente da roça que existe em nós, esse espírito de
simplicidade, de justiça e de bondade, para pedir a Nossa
Senhora que esta festa seja para nós, uma verdadeira festa de
purificação.
Belém estava cheia de gente naquele tempo. E José não
encontrou um lugar apropriado para se hospedar com Maria. Em
Irará a cidade fica também cheia de gente no tempo da festa. E
mesmo tendo esta igreja toda arrumada e enfeitada, é preciso
nos prevenir para que não falte lugar para a dona da festa.
De nada adianta lavar, arrumar e enfeitar nestes nove
dias esta casa sagrada, se não for para dentro dela, lavar,
arrumar e enfeitar também os nossos corações.
Vamos, pois nos preparar para a festa, de jeito que ela
seja de fato uma festa para Nossa Senhora. E uma festa para
Nossa Senhora é quando ela encontra dentro de nós, um lugar
preparado para o nascimento do seuAmor.
67
77.
78. e todo ano chega o tempo bom
de esquecer as brigas e as intrigas
lembrar que somos muito parecidos
juntar as mãos em palmas e louvores
treinar os pés no balanço do samba
pulsar o sangue em ritmo de irmão
voltar cantando para a casa dela
pelos caminhos da purificação.
Dois de Fevereiro
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79.
80. Na cidade de Caná da Galiléia houve uma festa de
casamento. Jesus e sua mãe foram convidados. No meio da
festa faltou vinho. Maria disse a Jesus: “Meu filho, eles não têm
mais vinho”. Jesus respondeu: “Ainda não é chegada a minha
hora”. Ela não disse mais nada. Também não ficou zangada.
Conhecia bem o filho e sabia que maior do que a justiça de suas
palavras é a bondade do seu coração.
Sabia que para não ver o templo transformado em casa
de comércio, ele seria capaz de derrubar mesas e chicotear
pessoas, mas sabia também que por amor a essas mesmas
pessoas ele se deixaria mais tarde derrubar e chicotear também.
Sabia que ele falava que nem uma vírgula da lei deixaria
de ser cumprida, mas em seguida colheria espigas e curaria
doentes em dias de sábado, porque a lei foi feita para o homem e
não o homem para a lei.
Sabia que ele poderia chamar os homens de raça de
víboras, sepulcros caiados e dizer que é melhor amarrar uma
pedra no pescoço e se jogar no fundo do mar, mas que ao menor
sinal de arrependimento ele os perdoaria, como perdoou o
ladrão, a adúltera e muitos outros pecadores de toda espécie,
entre eles um amigo que o negou três vezes e a quem ensinou
que devemos perdoar setenta vezes sete.
Sabia que ele considerava a morte como a volta à casa
paterna, mas vendo que os homens não se lembram disso e têm
medo de morrer, ele ressuscitaria a filha do rico Jairo e o filho da
pobre viúva de Naim e ao sentir que até mesmo Marta e Maria
João 2,3 – Eles não têm mais vinho.
Novena da Purificação II
71
81.
82. não conseguiam entender o sentido da morte, ressuscitaria para
elas o irmão e para ele, Deus e homem, o amigo Lázaro.
Sabia também que uma espada de dor ia ferir seu
coração, mas que ao terceiro dia uma luz brilharia em seus olhos
e um sorriso em seus lábios.
Sabia de tudo isso e guardava todas essas coisas em seu
coração.
Ora, um filho tão amável que não queria que se
quebrasse uma vara rachada ou que se apagasse uma vela que
ainda tivesse um pouco de luz, como poderia deixar sem vinho a
festa do amigo?
Por isso não disse mais nada a Jesus. Procurou os
serventes e falou: “Façam o que ele disser.” E as talhas se
encheram de água e os copos, de vinho.
É para pensar em coisas como estas que fazemos a
novena de Nossa Senhora. Para tirar das talhas da purificação o
vinho da amizade. Para lembrar que Jesus transformou a água
em vinho e o vinho em sangue e ao derramar o sangue por nós,
deu outro grande e precioso sinal de união quando entregou sua
mãe para ser nossa mãe. “João, eis ai a tua mãe.”
Só depois de bem lembrados destas coisas é que
podemos cantar e dançar e deixar que o vinho alegre nosso
coração. Porque então estaremos certos de que somos uma só
família. Que podemos brigar o ano todo por isso ou por aquilo,
mas no dia Dois de Fevereiro vamos fazer um culto de
fraternidade e aclamar — como fizeram durante dois mil anos e
hão de fazer todas as gerações — e aclamar Maria a bem
aventurada, a compadecida, a nossa Mãe e Senhora da
Purificação do Campos de Irará.
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83.
84. sentado à mesa do rei
ele era um príncipe
à mesa do lavrador
um companheiro
comendo o pão com o mendigo
era um amigo
no dia em que ele morreu
pra sua satisfação
chegada a hora do almoço
sentou-se perto do rei
sentou-se junto ao mendigo
e ao lado do lavrador
como irmão.
Família Real
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85.
86. Inicialmente proponho substituir a expressão Lei Moral por Lei
Natural. E explico: A Lei Moral se modifica, a Lei Natural
permanece. O que consideramos moralmente correto aqui,
pode ser incorreto em outra região, em outra cultura. O
moralmente correto hoje, pode ser o incorreto de ontem ou de
amanhã.ALei Natural é imutável.
Mas o que é Lei Natural? – É um dom que existe dentro de
nós e que vamos descobrindo pouco a pouco, não somente
olhando para dentro de nós, mas procurando ler o livro aberto da
natureza, as rochas, as águas, as plantas, os animais, as
pessoas, meditando sobre os acontecimentos, as descobertas
dos pesquisadores, sobre a constituição, o desenvolvimento e a
reprodução dos seres vivos. A Reprodução do Homem e a Lei
Natural é o nosso tema.
A reprodução é um dos capítulos da lei e o instinto sexual
um dos seus artigos. A princípio esse instinto está adormecido,
mas chega o tempo em que desabrocha e pede satisfação.
Envolto numa atmosfera de prazer, tem a finalidade de
reproduzir a espécie e nos conduz para as alegrias e sofrimentos
da vida familiar.
A finalidade natural do sexo é portanto a reprodução. O
prazer é um acompanhante também natural. Quando colocamos
o prazer como finalidade e eliminamos deliberadamente a
Do Centro EspíritaACaminho da Luz recebi a proposta de
desenvolver o tema acima e apresenta-lo a um grupo de
pessoas sob a forma de exposição e debate.
A Lei Moral e a Reprodução
77
87.
88. possibilidade de reprodução, penso que não estamos
observando a lei, o que pode trazer conseqüências
desagradáveis.
A desobediência à Lei Natural é o que algumas religiões
chamam de pecado. No seu livro “Orações”, no capítulo “O
Hospital” o escritor cristão francês Michel Quoist diz o seguinte:
“A todo pecado, algum dia, em algum lugar do mundo,
corresponde um sofrimento.” Na minha interpretação, ele está
dizendo que o pecado produz sofrimento, para quem o pratica ou
para outra pessoa, hoje ou amanhã, aqui ou em outro lugar
qualquer,
Não quero dizer que toda relação sexual improdutiva
esteja fora da lei. O planejamento familiar me parece um
procedimento correto. A finalidade aqui é a construção de uma
família equilibrada. Num casal heterossexual a infertilidade ou a
menopausa nunca foram empecilho para a prática do sexo. O
que certamente fere a lei é quando interferimos no processo
reprodutivo já iniciado, interrompendo a gestação sem que para
isso haja motivo suficiente. Isto porque, quando a semente do
homem fertiliza o óvulo da mulher, começa a formação de uma
vida nova, que não pertence exclusivamente ao pai e à mãe. A
vida nova é principalmente do filho que se não for hostilizada, vai
florescer em mais um habitante do planeta. Estou me referindo
ao aborto provocado.
Um caso especial é quando o embrião se fixa na trompa,
que é um lugar inadequado para o seu desenvolvimento. Neste
caso a medicina tem o dever de impedir o crescimento da
gestação e estará apenas antecipando a morte prematura do
filho e protegendo a vida da mãe.
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89.
90. Outro ponto a analisar em nosso tema é a
homossexualidade. Quando duas pessoas do mesmo sexo
convivem sexualmente não é possível a reprodução. É uma
atração natural, porém equivocada. Um cochilo da natureza.
Atualmente vejo desenvolver-se o conceito que
considera o relacionamento homossexual como um
comportamento normal. Fala-se em respeitar a opção sexual
das pessoas. É bom respeitar a diversidade no sexo, tanto mais
porque não devemos falar em opção. Fazemos opção quando
escolhemos livremente entre duas ou mais possibilidades.
Quanto a sexo, creio que já nascemos com uma tendência
definida e, até onde estou informado, ainda não se conseguiu
uma maneira de modificar essa inclinação. Não há portanto
opção.
A abstinência, para homos ou héteros é uma limitação
que pode ser mortificante, mas pode também produzir
resultados bons e gratificantes quando o impulso for orientado
para uma finalidade importante.
ALei Natural desaconselha a relação homossexual? Será
ela um pecado que vai produzir sofrimento no tempo ou no
espaço? Uma relação homossexual harmoniosa não será uma
forma de a natureza tentar corrigir o seu engano, criando um
ambiente familiar propício para abrigar crianças sem lar? – Não
sei. O que sei é que tanto os homo como os heterossexuais
podem ser naturais ou extravagantes, amorosos ou agressivos,
legais ou pecadores.
Não pretendo que todas as declarações feitas aqui sejam
consideradas verdadeiras. Desde o início desta exposição, falo
81
91.
92. daquilo que penso atualmente sobre o tema que me foi proposto,
procurando despertar nos ouvintes a vontade de meditar sobre
ele, que sem dúvida atrai a atenção de muita gente.
Nenhum de nós é dono da verdade, embora estejamos
sempre a procura-la. – “O que é a verdade?” já Pilatos
perguntava a Jesus. Ela é talvez o tesouro escondido do
Evangelho que me parece não vamos encontrar nesta vida. Em
outra página entretanto o mesmo Evangelho nos dá uma
esperança quando diz que é preciso buscar o Reino de Deus e a
sua Justiça e o mais nos será dado. A nossa tarefa portanto é
apenas procurar. O mais, a posse do tesouro, só vamos
encontrar depois, num lugar muito agradável, onde estaremos
reunidos toda a humanidade e onde seremos possuidores de
toda sabedoria e de toda amizade para sempre.
Mas eu não vim aqui somente pra falar. Quero escutar e
conversar, porque sei que vocês também andam a procura de
um tesouro.
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93.
94. minha namorada mora no país dos desordeiros
me apedrejaram uma noite em que fui vê-la
minha namorada mora no país dos farofeiros
ganhei um revolver que me serviu de passaporte
minha namorada é a mais bonita do mundo
troquei o revolver por uma sanfona
minha namorada vai ficar contente
vai ser namorada de um sanfoneiro
A SANFONA
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95.
96. Homenagem aos idosos
Sessão Especial da Câmara Municipal de Irará
19/09/2005
Agradeço à presidente Maria Bacelar por me ter
distinguido com o convite para dizer aqui algumas palavras.Aela
que faz aniversário na próxima semana, desejo agora e sempre,
muitas alegrias.
A vida da gente é como o sol. Nasce na claridade leve da
manhã, cresce em luz e calor até o meio dia e vai declinando
para dormir na sombra da noite. Hoje parece que somos a
mesma pessoa de ontem, mas vamos mudando. Nossos
cabelos estão mais crescidos, aparece depois um fio branco. E
não é só o corpo que se modifica. Ontem gostamos de uma bola,
uma boneca, depois uma bicicleta, um time de futebol, uma
festa, uma viagem, uma música, um abraço e um beijo. Vamos
esquecendo uma coisa e querendo outra. Ficamos curiosos
para saber como é que chegamos a existir. Tanta beleza, tanta
perfeição, como é que tudo isso apareceu? E depois da morte, o
que nos espera? Vai acontecer ainda alguma coisa?
A morte. Vamos envelhecendo, vamos pensando nela.
Algumas pessoas dizem que não têm medo de morrer. Outros
dizem que desejam morrer. A maioria não esconde o medo que
sentem.
Vou contar uma estória: - Um velho morava sozinho numa
pequena casa. Um dia saiu para buscar lenha. Só muito longe
encontrou o que queria. Juntou um feixe, botou na cabeça e foi
voltando. No meio do caminho sentiu-se mal. Arriou a lenha no
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97.
98. chão, sentou na beira da estrada e falou baixinho: “Não sei se
agüento chegar em casa. Estou cansado de viver. Queria que a
morte viesse logo e me levasse.”
Mal acabou de falar, a Morte apareceu e disse: “Olhe eu
aqui. Vim para fazer a sua vontade. O que é que você quer?” Ele
se levantou assustado e respondeu: “Ah Dona Morte, que bom
que a senhora chegou. O que eu quero é que a senhora me
ajude a levar este feixe de lenha lá pra casa.”
A vida da gente é como o sol, que produz o dia e a noite.
Temos horas luminosas e horas escuras.Alegrias e tristezas. Na
velhice continuamos a viver situações de contraste. Podemos
ser reverenciados como nesta reunião e podemos ser
desprezados, como bananeira que já deu cacho ou como
crianças que não entendem direito os acontecimentos.
As vezes damos aos nossos velhos casa, comida, roupa
limpa e remédios, mas negamos carinho e amizade que são os
melhores alimento da velhice.
Hoje nos alegramos ao receber esta homenagem. É
muito bom. Pena que a reunião daqui a pouco vai acabar.
Acredito, entretanto, que vamos nos encontrar
novamente, num lugar ainda mais agradável, onde estará
presente toda a humanidade e onde encontraremos aquela
felicidade que estamos sempre a procurar seja através da
política, da religião ou de outras atividades.
Parabenizo os mais velhos. Desejo aos mais novos que
alcancem a velhice. Que ninguém tenha medo de morrer. E que
todos cultivem a esperança de uma vida eterna cheia de
sabedoria e amizade.
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100. tudo já foi dito e vivido
e eu só quero repetir alguma coisa
ou nada foi dito ainda do que importa
o essencial de cada um é único
e eu tenho que viver uma estrada virgem?
91
101.
102. O Conselho da Comunidade
O capítulo oitavo da Lei de Execução Penal trata do
Conselho da Comunidade. Diz que cada Comarca deve ter o seu
Conselho, composto por representantes de diversas classes,
destacando as classes dos advogados, assistentes sociais,
comerciantes e industriais.Anomeação dos conselheiros cabe a
um Juiz da Comarca e aos conselheiros compete visitar as
prisões, entrevistar presos e colaborar no atendimento de suas
necessidades.
Esse trabalho é útil sobretudo para os presos mais
carentes e a prioridade apresentada por eles é o andamento dos
seus processos. (Aqui reside um gargalo por onde devem
passar os processos da maioria de nossos prisioneiros, aqueles
que não tem recursos para contratar um advogado. Por isso,
devemos insistir na necessidade do fortalecimento e expansão
da Defensoria Pública). Em seguida vêm solicitações relativas a
saúde, alimentação, higiene e lazer, enfim tudo que possa
produzir um pouco de bem estar e contribuir para o processo de
recuperação. Na prática isso se traduz por fornecimento de
medicamentos, colchões, livros, revistas, baralhos etc. e pela
simples presença solidária dos conselheiros. Assim
participamos dos cuidados que devem ter as autoridades
responsáveis pela custódia, cujas possibilidades estão quase
sempre aquém do que é desejável. É um trabalho que faz bem
aos presos e aos conselheiros.
Falo do ponto de vista de uma comunidade pequena sem
esquecer que nas cidades maiores predomina absurdamente o
fator superlotação que assume a proporção de tortura
permanente e provoca episódios freqüentes de rebeliões,
93
103.
104. depredações, fugas e agressões, produzindo não raro, mortes.
E ficamos sem saber quais são os mais infelizes, se os que
mataram ou os que morreram. Estes pelo menos conseguem se
libertar da prisão humilhante e há uma grande esperança de
encontrar outra vida plena e compensadora.
A superlotação. Temos prisões onde todos não podem se
deitar ao mesmo tempo para dormir. É preciso que alguns
fiquem de pé ou agachados esperando a sua vez. E o mau cheiro
de suor. E a agonia de não ter o que fazer. O pensamento da fuga
é permanente e o suicídio chega a ser uma opção.
Aimprensa fala que mais da metade dos presos poderiam
estar legalmente soltos se seus processos fossem devidamente
apreciados, tendo em vista a conclusão com as respectivas
sentenças ou a obtenção de benefícios como o livramento
condicional. Seria bom portanto priorizar a agilização dos
processos sem descuidar a construção de novas prisões mais
adequadas à recuperação dos internados. É onde sentimos
novamente a deficiência na organização da Defensoria Pública
Nacional.
Há relatos de prisões bem organizadas que infelizmente
aparecem como exceções. Nessas, a ação dos Conselhos é
menos necessária. Nas piores somos dominados por um
sentimento de quase impotência. Em condições intermediárias,
nas quais se encontram grande parte de nossos
estabelecimentos penais, é onde o nosso trabalho pode ser mais
útil.
É verdade que o preso merece o seu castigo mas é
preciso lembrar que o castigo previsto na lei é a perda da
liberdade e não a tortura que produz revolta. Outro objetivo da
lei, também pouco lembrado, é a recuperação do preso para a
vida social. A maior parte do sentenciados, recuperados ou não,
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105. serão libertados após cumprir suas penas. É trabalho dos
conselheiros colaborar na recuperação para que as pessoas ao
sair da prisão estejam dispostas a vencer dificuldades,
tornando-se úteis a si próprias, às famílias e à sociedade.
Em toda parte há quem se interesse por esse tipo de
atividade. É bom que saibam que cada comarca pode ter o seu
Conselho, cuja ação é gratificante e deve durar até o dia em que
as prisões estejam devidamente humanizadas ou quem sabe
até quando não sejam mais necessárias.
106. quero sentir todas as tristezas do mundo
afogar-me na angústia universal
sepultar-me na amargura de cada coração desesperado
ninguém veja minha lágrima no turbilhão de lágrimas do povo
e meu corpo se desfaça em poeira de dor
sobre o deserto da miséria comum
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COMUNHÃO
107.
108. Cinquenta e Cinco Anos de Formatura
2008
Fomos diplomados há 55 anos. Foi ontem. Depois nos
dispersamos na geografia e nos diversos ramos da atividade
médica. Entretanto há uma força que nos une e nos conduz para
reuniões como esta. Será a vontade de reviver a juventude? De
encontrar um pouco da pujança, da alegria, da leveza daquele
tempo? O desejo de comentar com os colegas nossos primeiros
projetos e o que conseguimos realizar até agora? Não sei. O que
sei é que há um impulso que nos traz até aqui onde nos sentimos
muito a vontade, muito iguais, apesar de todas as diferenças. Sei
também que ainda vamos nos encontrar algumas vezes e que a
ultima reunião será num lugar muito agradável onde estaremos
presentes todos os 114 que nos formamos em 1953 e onde
seremos possuidores de toda sabedoria e de toda amizade para
sempre.
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109.
110. Pai
pedi um amigo ao Senhor
e quando o amigo chegou
não me lembrei que ele era um enviado do Senhor
estas coisas que são minhas
foram muitas pedidas ao Senhor
mas quando as tenho entre as mãos
não me lembro que são todas presentes do Senhor
por isso não mereço Senhor
que amanhã me mandeis a miséria
porque se assim fizerdes
como um meio encontrado para prender em vós meu pensamento
é bem possível que eu não vos reconheça a intenção
eu sempre me esqueço
não herdei nem um pouco da vossa memória fabulosa
porque dizer então que há um sangue que nos une?
porque me procurais?
quereis de mim o que?
porque não me abandona o vosso olhar um instante?
tendes sêde Senhor?
eu sou areia
mas nesta sêde de amor
sou vosso filho
101
111.
112. Conclusão de curso no Ginásio São Judas Tadeu
08/12/1959
Possuímos hoje a alegria desta festa. Trabalhamos
longamente para alcançá-la e amanhã começaremos outro
esforço visando novas conquistas. A cada dia porém, basta a
sua lida. O dia hoje é de festa.Aleluia.
Meus caros afilhados: quero muito que vocês sejam
felizes, mas assim como não podemos morar na alegria desta
festa, não lhes posso desejar uma vida de prazeres contínuos. O
prazer continuado me parece impossível e sem sentido. O ritmo
da vida é dia e noite, inverno e verão, tempestade e bonança.
Estamos em nosso dia de bonança.Aleluia.
A idade de vocês é a idade da insurreição. Vocês se
levantam contra as coisas estabelecidas, percebem talvez nelas
alguma falsidade e lutam por uma verdade nova. Desse conflito
entre a tradição defendida pelos mais velhos e o instinto de
renovação da juventude, surge a estrada por onde caminha a
humanidade em busca do seu destino.
Não sou velho nem muito novo. Quero que minha
mensagem esteja fora do conflito das idades. Mas vou seguir a
tradição dos paraninfos trazendo nesta noite alguns conselhos.
O primeiro é que sejam humildes e é como se eu dissesse
sejam irmãos. Irmãos de todo mundo. As letras que formam
estas palavras aprendi na escola.Avoz com que lhes falo veio do
pão que comi, de alguém que plantou o trigo, de alguém que
assou a massa fermentada, de alguém que serviu a mesa. A
roupa que me veste foi tecida por um, costurada por outro,
103
113.
114. lavada e passada por outros. Por isso, a honra desta paraninfia
eu devo em primeiro lugar a vocês, mas também à professora
que me ensinou a ler, ao lavrador, ao padeiro e ao alfaiate que
me prepararam para a festa.
Assim, o certificado que receberam. É fruto do esforço de
vocês, mas também do trabalho dos pais e professores e de
todos que contribuíram para instalação e manutenção do
Ginásio. Devemos um pouco de gratidão a Miúda que entregou a
correspondência do Ginásio, ao lavrador que comprou na loja do
Sr. Teófilo ou na venda do Sr. Manoelzinho e que não sabe que o
seu trabalho floresceu nesta noite de alegria para todos nós.
Sejamos pois humildes e seremos participantes da fraternidade
universal.
O segundo conselho é que sejam fieis à verdade. A
verdade é a preocupação constante do homem. Desde criança,
quando começa a falar, vai perguntando: “O que é isto?” “Pra
que é isto?” “Porque é assim?”Acriança pensa que o pai e a mãe
sabem toda a verdade. Depois cresce, amadurece, envelhece,
interessa-se por muitas coisas e se desinteressa dessas
mesmas coisas, mas nunca perde a vontade de saber o porque
verdadeiro desta vida. O curso ginasial com tantas matérias e
programas tão vastos, objeto da nossa crítica e reprovação, me
parece o resultado desse anseio do homem e do pressentimento
de que a vida é muito curta para alcançar a posse da verdade
total. Quando eu lhes dizia “não pesquem nas provas” é porque a
pesca é uma mentira e toda vez que mentimos estamos traindo o
nosso destino que é a busca da verdade.
E o terceiro e último conselho: Queiram bem. Deixem que
105
115.
116. o amor tome conta da vida de vocês. Vivemos em crise, inflação,
doença, miséria, desonestidade, injustiça. Parece que estamos
a beira de um abismo. Parece que tudo está perdido. Contudo,
nada está perdido.
Nada está perdido porque existem vocês, existe a
juventude que é capaz de amar e o amor pode tudo salvar.
Um homem santo falou certa vez assim: “Aprendam a
amar e façam depois tudo o que quiserem.” Ele sabia que quem
ama verdadeiramente, só pode fazer o bem. Queiram bem pois,
deixem que o amor tome conta da vida de vocês e façam o
mundo feliz.
Queiram bem um pouco também a este padrinho que
nestas palavras, como numa última aula, quis ensinar o que de
melhor sabia e sente que deve confessar afinal, que sabe muito
pouco e não tem a voz bastante firme para falar dessas coisas de
amor.
107
117.
118. eu vou ficar aqui
porque imaginar caminhos difíceis
que conduzam a palácios encantados?
sou uma semente que já foi plantada
aqui terei a terra, o sol, a água
aqui terei o sol, a fome, a sêde
aqui serei abôrto
uma vida esmagada
ou crescerei mansamente
a sorrir e a chorar
e um dia serei fruto
ao alcance de alguém que passar ( 1955 )
moro num campo de poucos espinhos
agonias lentas
e um tesouro escondido
que ainda hei de morrer de procurar
faz-me falta uma rosa
uma estrela
uma fonte de lágrimas
de luzes
para os meus olhos (1957 )
Irará
109
119.
120. ando por este chão de dores e de amores
e vai ficando cada vez mais leve
a minha bagagem de esperanças
se um dia eu me purificar em orvalho transparente
hei de viver o instante breve e luminoso
antes de me perder nesta terra da gente
e neste céu formoso
e assim talvez germine
uma semente nova (1976 )
111
121. Morte e Vida de um Governador .......................................................05
Vocação ..........................................................................................09
Alfredo da Luz .................................................................................11
Últimos Desejos ..............................................................................13
Alcoólicos Anônimos .......................................................................17
Monólogo de Formatura ..................................................................19
Internato ..........................................................................................21
Bahia ...............................................................................................23
Dez Anos de Formatura ..................................................................27
Declaração ......................................................................................29
Banco do Brasil ................................................................................31
A Estrela ..........................................................................................35
Maria Inês ........................................................................................37
A Carta ............................................................................................39
O Oratório .......................................................................................41
Saudade .........................................................................................43
Transmissão do Cargo ....................................................................45
O Sonho ..........................................................................................51
Salve a Retreta ................................................................................53
Hino da Filarmônica .........................................................................55
Maestro Xaxá ..................................................................................57
Luz e Sombra ..................................................................................59
Sessão da Câmara Municipal ..........................................................61
Confissão .......................................................................................63
Novena da Purificação I ..................................................................65
Dois de Fevereiro ...........................................................................69
Novena da Purificação II ................................................................71
Família Real ..................................................................................75
A Lei Moral e a Reprodução ............................................................77
A Sanfona .......................................................................................85
Homenagem aos Idosos .................................................................87
Pergunta .........................................................................................90
O Conselho da Comunidade ...........................................................93
Comunhão ......................................................................................97
Cinquenta e Cinco Anos de Formatura ............................................99
Pai .................................................................................................101
Ginásio São Judas ........................................................................103
Irará ..............................................................................................109
Índice