Art upgrading the use of recycled aggregates collins (1998)
Aplicações dos resíduos de construção e demolição ( thais, mestranda)
1. ENTECA 2011
VIII Encontro Tecnológico da Engenharia Civil e Arquitetura
8 - 10 Novembro 2011 ISSN 1808-3625
APLICAÇÕES DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
1
Thais Davantel de Barros Sapatini
Bruno Luiz Domingos De Angelis 2
Generoso De Angelis Neto 3
Viviane Aparecida Jusinskas Savano4
RESUMO
Este artigo traz um breve estudo teórico sobre os resíduos de construção e demolição no Brasil,
aborda inicialmente um histórico sobre os resíduos, sua classificação e a problemática desse tipo de
resíduo, bem como dados sobre sua geração A partir desse ponto, passa a ter informações sobre
algumas formas de sua reutilização e reciclagem e principalmente sobre sua utilização como
agregados para a produção de concretos.
______________________________________________________________________________________
1
Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-
PEU, ThaisDB02@hotmail.com
2
Profa. Dro Bruno Luiz Domingos De Angelis, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de
Agronomia- DEA, blangelis@uem.br
3
Prof. Dro Generoso De Angelis Neto ., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de
Arquitetura e Urbanismo-DAU, ganeto@uem.br
4
Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-
PEU, vivianesavano@hotmail.com
2. 1. INTRODUÇÃO
A construção civil é hoje, uma das atividades da sociedade que mais interfere no meio
ambiente. Matérias primas são extraídas, energia é consumida durante a construção, resíduos são
devolvidos ao ambiente natural, e emissões tóxicas são geradas e expelidas na atmosfera, A
maneira como esta atividade vem sendo exercida atualmente, resulta em uma destruição cada vez
mais acelerada dos recursos naturais disponíveis. Este quadro só poderá se modificar à medida que
houver maior conscientização de todos os agentes envolvidos nesta atividade, e que a pesquisa
constante indicar novos caminhos para o desenvolvimento de novos métodos e materiais de
construção.
O local para onde estão indo os resíduos (aterros e lixões), bem como o que está sendo feito
com os mesmos é de suma importância para a sociedade pois se continuarmos a não nos preocupar
com este fator, as cidades se tornarão cada vez mais poluídas a um ponto onde não se terá mais
controle.
Diversas são as formas de geração desses Resíduos, que denominaremos de RCD, eles são
gerados pelas obras de reforma, neste caso não depende do processo produtivo e sim do processo
de demolição e também no processo produtivo da construção civil, o que já faz parte dos
desperdícios do processo construtivo, envolvendo a questão da mão de obra. Esses desperdícios
poderiam ser minimizados se houvesse um processo tecnológico envolvido no processo
construtivo, muito se tem feito neste sentido, mas a um passo muito lento. Uma outra maneira de
minimizar este efeito seria também a reutilização ou a reciclagem desses resíduos.
A grande dificuldade para a reciclagem dos RCD é que esses resíduos apresentam uma
heterogeneidade muito grande de componentes envolvidos no entulho gerado, o que torna a sua
composição muita complexa para utilização como agregados graúdos e miúdos. Isso faz com que
o mesmo seja objeto de muitas pesquisas nos dias de hoje.
Dados de algumas Prefeituras e trabalhos já realizados anteriormente mostram esta situação.
De acordo com Pinto (1999) o Brasil gera 0,52 ton de entulho por habitante por ano, o que
representa de 54 a 61% da massa dos resíduos sólidos urbanos, um número relativamente alto.
A importância da reutilização e/ou a reciclagem dos RCD, é que o mesmo se torna
produtivo para a própria indústria da construção civil, fechando o ciclo de vida da destinação final
dos RCD e se tornando um problema ambiental a menos para a sociedade.
Considerando este contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar as diversas
maneiras de aplicação dos RCD que já existem no mercado e que estão sendo objetos de estudo no
meio científico.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Histórico
A primeira utilização significativa dos resíduos de construção e demolição veio com o fim
da segunda guerra mundial. Naquele período milhares de escombros ficaram espalhados pelas
cidades. A necessidade de se obter matéria prima para a reconstrução dos centros urbanos e a falta
de local de armazenamento desses escombros fizeram com que esses resíduos fossem então
reutilizados.
Ao final da Segunda Guerra, a quantidade de entulho nas cidades alemãs era de 400 a 600
milhões de m3 , as estações de reciclagem produziram cerca de 11,5 milhões de m3 de agregado
reciclado de alvenaria e 175000 unidades habitacionais foram construídas ( LEITE , 2001).
Com base nesse fato, Levy e Helene, (1997a), afirmam que 1946 marcou o desenvolvimento
da reciclagem de resíduos de construção e demolição na construção.
2
3. Segundo Cincotto (1983), foi a partir de 1968, através de Simpósios realizados sobre o tema
reaproveitamento de materiais de construção civil e com a criação de Comitês de entidades
normatizadoras, como o Comitê E-38, com objetivos relacionados desenvolvimento de métodos de
recuperação de materiais e energia criado pela ASTM, o Comitê E-37- DRC, voltados para
resíduos de demolição, criado pela Rilem e o Comitê de pesquisas em materiais residuais e
subprodutos para a construção de rodovias, a partir de 1974, que se evidenciaram as pesquisas
referente ao tema.
Na década de 80, surgiram estudos sobre a resistência do concreto feito a partir de concreto
e agregados reciclados com Hansen e Narud (1983) que apresentaram trabalho sobre o assunto no
2 RILEM – Simpósio Internacional sobre demolição e reuso de concreto e alvenaria em Tókio -
Japão. ( ZORDAN 1997).
No Brasil, o assunto começou a ser tema de pesquisa com Pinto na década de 80, mais
precisamente em 1986 quando seu estudo consistiu em utilizar o reciclado para a produção de
argamassa. Também foram realizados estudos em 1997 em pavimentos por Bodi, em argamassa,
por Zordan e em concretos por Levy.
A reciclagem teve inicio, porém, em 1991 na cidade de Belo Horizonte e hoje já existem
diversas unidades de reciclagens no país.
Apesar disso tudo, apenas em 1999 a relevância do assunto foi confirmada por Pinto que
afirmou os RCD poderiam corresponder a 50% da massa dos resíduos sólidos municipais.
Em 2002 foi homologada a Resolução Conama 307 que definiria então a responsabilidades
pelos RCD e partir daí surgiram muitos estudos e Normas técnicas referente à reutilização desses
resíduos . A seguir algumas Normas Brasileira existentes.
2.2. Resíduos de Construção e Demolição
Os RCD, assim denominados os resíduos de construção e demolição são os resíduos gerados
por atividades relacionadas à construção civil, tais como: construção, reformas, reparos e
demolições.
Sendo gerados em quantidade significativa, os RCD agravam os problemas municipais de
coleta, transporte e disposição final dos resíduos sólidos, ocorrendo frequentemente a disposição
ilegal dos resíduos em locais não adequados, tais como ruas, calçadas, terrenos baldios, encostas,
leitos de córregos e rios e áreas com importância ambiental, tornando o problema ambiental,
econômico, de saúde pública entre outros para as cidades.
2.3. Classificação dos RCD
Os RCD fazem parte dos Resíduos sólidos urbanos (RSU), definidos pela NBR 10004/2004,
e dessa forma são divididos da seguinte forma:
Classe I – Perigosos - apresentam risco à saúde pública ou a o meio ambiente,
3
4. caracterizando-se por possuir uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade;
Classe II A- não inertes – podem ter propriedades como: combustibilidade, biodegrabilidade
ou solubilidade, porém, não se enquadram como Resíduo I ou III;
Classe II B– inertes – Não tem constituinte algum solubilizado em concentração superior ao
padrão de potabilidade de água.
Os Resíduos Sólidos de Construção e demolição (RCD) são os mais representativos e com
maior volume dentre os resíduos classificados como Classe III- inertes, por exemplo: rochas, tijolos,
vidros, entulhos, etc.
No seguimento da construção habitacional, nos casos de reformas, os serviços de
substituição de revestimentos cerâmicos, demolição de paredes, alterações elétricas e hidráulicas
são os maiores geradores de RCD. Já no caso de construções novas, o entulho provêm de restos de
materiais não utilizados no sistema construtivo adotado, desperdício de materiais e por falta de
planejamento com enfoque na preservação ambiental.
Considerando os fatores de disposição final indevida dos RCD, o Conselho Nacional do
Meio Ambiente – CONAMA, aprovou em 2002 a Resolução CONAMA n 307/ 2002, que
responsabiliza os geradores dos resíduos em relação a sua geração, acondicionamento e destinação
final e que define os resíduos de construção e demolição da seguinte maneira:
Resíduos da Construção Civil: São os provenientes de construções e reformas ,
reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e
da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral,
solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação
elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliças ou metralha.
Segundo essa Resolução a sua classificação é da seguinte forma:
I – Classe A – são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais
como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras
de infra –estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação: componentes
cerâmicos (tijolos, blocos , telhas, placas de revestimentos, gesso etc.), argamassa e
concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré- moldadas em concreto (
blocos, tubos, meios-fio etc.,)
II – Classe B- são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:
plásticos, papéis, papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
III – Classe C- são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação.
IV- Classe D- são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção tais
como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e
outros.
O art. 4º da Resolução enfatiza que o objetivo principal dos geradores de RCD deve ser a
não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação
final. Já o art. 5º especifica como instrumento para a implementação da gestão dos resíduos da
construção civil o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, realizado
por Municípios e Distrito Federal.
E por último, de acordo com a nova Lei dos Resíduos sólidos os RCD são denominados
segundo sua origem como os gerados nas construções , reformas, reparos e demolições de obras de
4
5. construção civil, incluindo os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis.
2.4. Geração e dados dos RCD
Em sua grande maioria os RCD são inertes, de baixa periculosidade, cujos impactos
ambientais originam-se basicamente do expressivo volume gerado e da sua disposição ilegal em
locais não adequados.
As áreas de disposição ilegal de RCD deterioram a região onde se situam e atraem a
disposição ilegal de outros tipos de resíduos sólidos, tais como lixos volumosos (móveis, geladeiras
televisões, por exemplo), galhadas ( resto de podas de árvore), lixo domiciliar e resíduos industriais.
Junto com o lixo domiciliar, que traz parcela de resíduos orgânicos, estas áreas podem se
transformar em locais com incidência de insetos e roedores (moscas, mosquitos, escorpiões e ratos),
trazendo riscos à saúde da população próxima.
As áreas de bota-fora de RCD próximas s talvegues, encostas, redes de drenagem e córregos
podem, por carreamento, provocar assoreamento dos rios e obstrução de redes de drenagem,
aumentando os custos com limpeza pública e os riscos de enchentes e de deslizamentos de encostas.
Com o crescimento gradativo dos aterros clandestinos em áreas de valor ambiental, nos
médios e grandes centros urbanos, tais como várzeas, vales e manguezais, ocorrem impactos no
ecossistema, e ainda estimula-se a ocupação irregular destas áreas por imóveis de população
carente. Por serem construídos sem embasamento técnico, tanto estes aterros quanto os imóveis
irregulares, poderão apresentar sérios problemas de recalque ou de enchentes, tendo os municípios
muitas vezes que arcar com ônus de realocação das famílias carentes.
Isto gera um ciclo vicioso para os municípios, pois uma vez que estas áreas perdem as
características naturais após a retirada dos imóveis irregulares, novas ocupações ilegais virão,
devido ao crescente déficit habitacional nas médias e grandes cidades brasileiras.
Também podemos destacar que mesmo os processos de coleta regulamentados, ou seja, as
empresas devidamente cadastradas junto ao poder público, causam grandes riscos à comunidade,
pois as caçambas de coleta, quando mal dispostas, provocam incovenientes no trânsito de pedestres
e veículos (ocupando vagas de estacionamento e /ou obstruindo o passeio), também durante o
trajeto entre a fonte geradora e o local de despejo, quando o acondicionamento do RCD dentro das
caçambas não respeita a capacidade da mesma, surge o risco de desprendimento de resíduos
podendo atingir outros veículos ou no mínimo sujando os logradouros públicos.
A reinserção dos RCD no processo produtivo da construção civil evita a extração de recursos
naturais não renováveis.
Por serem gerados em grandes quantidades, outro impacto ambiental oriundo dos RCD é a
aceleração do término da vida útil dos aterros municipais. Sendo basicamente minerais e inertes, os
RCD podem ser empregados pelos gestores destes aterros como material de cobrimento de camadas
do lixo urbano, evitando desta forma a exposição ao ar livre das frações orgânicas, que atraem
insetos, roedores e urubus. Os RCD também são utilizados para a construção de vias e áreas de
manobras para os veículos que transportam e despejam o lixo urbano no aterro. Este cobrimento de
vias e áreas de manobra, ficam incorporados ao aterro.
Empregando-se os RCD dentro dos aterros, os municípios economizam na aquisição de
agregados (areia e brita), o que a princípio faz dos RCD um material desejado pelos gestores dos
aterros. Contudo, os gestores não avaliam que a quantidade em excesso e o peso significativo dos
RCD encurtam a vida útil dos aterros, trazendo a longo prazo outros tipos de custos (procura de
novas áreas para aterro mais afastadas dos locais de geração, implantação de instalações em novos
aterros, aumento do custo de transporte, entre outros).
5
6. 2.5. Alternativas de Reutilização/Reciclagem de RCD
A implantação da Resolução nº 307 do CONAMA, inevitavelmente vem causar um impacto
no mercado da construção civil, principalmente nos grandes geradores, pois todos deverão se
adequar à nova situação, visando primeiramente a não geração de resíduos e também a reutilização
e a reciclagem dos mesmos.
É onerosa também a posição de co-responsável pelo entulho gerado, o que inevitavelmente
vem sobrecarregar ainda mais os elevados custos indiretos de produção que o setor tem encontrado.
Mas as alternativas para se adaptar a situação são muitas, e a viabilidade da reciclagem não
está longe de se tornar realidade. Basta analisarmos a composição básica do entulho, que é formada
basicamente de restos de concreto, produtos cerâmicos, argamassas de cimento, pedras britadas,
areia etc., produtos que podem ser moídos e reutilizados como agregados na fabricação de blocos de
concreto, na recuperação de pavimentos, como contra-pisos etc.
Os RCD têm uma composição muito variável, que se altera inclusive, segundo as condições
técnicas empregadas nas construções, que influenciarão diretamente na quantidade de resíduo
gerada. Segundo John e Agopyan 2001, dados estimativos apontam uma geração de RCC em torno
de 510Kg/hb. Ano.
O programa de fomento à pesquisa na área de habitação HABITARE, coordenado pela
FINEP ( Financiadora de Estudos e Projetos), é uma das mais importantes pesquisas feitas sobre
perdas na construção. Dela obteve-se o seguinte quadro:
Cimento Aço Blocos e Tijolos Areia Concreto usinado
Min 6 2 3 7 2
Max 638 23 48 311 23
Mediana 56 9 13 44 9
Quadro 1: Perdas de alguns materiais de construção civil em canteiros (%)
Fonte: JOHN, Vanderley M.,AGOPYAN, Vahan, ( 2001)
Quase a totalidade da fração cerâmica desses resíduos pode ser beneficiada como agregado
com diferentes aplicações. As frações compostas predominantemente de concretos estruturais e de
rochas naturais podem ser recicladas como agregados para a produção de concretos naturais. A
presença de fases mais porosas e de menor resistência mecânica, como argamassas e produtos de
cerâmica vermelha e de revestimento, provoca uma redução da resistência dos agregados e um
aumento da absorção de água.
Tabela 2 - Composições de Resíduos de Novas Construções
Resíduo de construção, em massa ( %)
Materiais Holanda(1) Japão(2) Brasil (3)
39
Cerâmica 12 29
17
Madeira 19
13
Concreto 17 4
‘14
Tijolos e elementos 1 Nd
silico calcáreo
Gesso/Argamassa 8 Nd 64
Outros 9 51 3
Fonte: 1-Bossink; Browers 1996,2-Hong Kong Polytechnic 1993apud levy 1197
3-Pinto 1986
6
7. Tabela 3 – Composição de Resíduos de demolições
Materiais Alemanha (1) Japão (2)
Resíduos de demolição em Resíduo de demolição em massa
produção
Cerâmica 1o 6,33
Madeira 3o 7,14
o
Concreto 2 54,26
Gesso/Argamassa 4o Nd
o
Outros 5 32,27
Fonte: Schultmann et al 1997 e Hong Kong Poltrechnic 1993 apud levy 1997
Do ponto de vista técnico as possibilidades de reciclagem dos resíduos variam de acordo
com a sua composição e é de suma importância a análise dessa composição para avaliar o destino a
ser dado a cada resíduo.
Ao analisar o emprego dos agregados reciclados, deve-se considerar que em geral a
qualidade destes é heterogênea e inferior aos agregados convencionais (IPT/CEMPRE, 2000). Para
aumentar o potencial da reciclagem, deve-se garantir a homogeneidade da composição e a pureza
dos materiais.
Basicamente as características mais importantes dos agregados reciclados são
- composição de mistura;
- resistência contra intempéries;
- tamanho e forma dos grão;
- resistência de carga;
- permeabilidade;
- ausência de contaminação (por óleos ou substâncias diversas).
Quanto melhores forem estas características, melhor será a quantidade dos agregados
reciclados, podendo estes serem empregados até em peças estruturais. Para este fim, os agregados
provenientes de demolição de peças de concreto são os mais adequados.
Mas, como o Brasil o beneficiamento dos RCD é em grande parte realizado pelos
municípios em instalações simples e, como quase não acontece a separação dos resíduos na fonte
(nos canteiros de obra, demolição ou reformas), os agregados reciclados não apresentam
homogeneidade de suas características físico-químicas, dificultando o seu emprego em concreto
estrutural. Como conseqüência, os principais empregos dos agregados reciclados no Brasil são
simplificados, e consomem grandes quantidades de materiais.
As aplicações mais usuais são:
- obras de pavimentação (pavimentação para tráfego leve, regularização e
cascalhamento de ruas de terra e calçadas);
- construção de estradas (base e sub-base, guias e sarjetas);
- obras de urbanização e de instalações esportivas;
- obras de drenagem;
- obras de edificações (blocos de concreto de vedação, argamassas e
contrapisos).
Também nestas aplicações não estruturais, o agregado reciclado será empregado conforme a
sua maior ou menor qualidade.
Um exemplo de reciclagem de RCD esta em São Bernardo do Campo, a empresa URBEM
tecnologia ambiental recebe diariamente 300 m3 de resíduo Classe A que transforma em areia,
brita, pedrisco, rachão e brita corrida, que são destinadas cada um a um tipo de uso de acordo com
tabela 3 a seguir.
7
8. Tabela 3: Usos recomendados para RCD reciclado
USOS RECOMENDADOS PARA RESÍDUOS RECICLADOS
Produto Características Uso recomendado
Areia reciclada Material com dimensão Argamassas de
máxima característica inferior assentamento de alvenaria
a 4,8 mm, isento de de vedação, contrapisos,
impurezas, proveniente da solo-cimento, blocos e
reciclagem de concreto e tijolos de vedação.
blocos de concreto.
Pedrisco Material com dimensão Fabricação de artefatos de
reciclado máxima característica de 6,3 concreto, como blocos de
mm, isento de impurezas, vedação, pisos
proveniente da reciclagem de intertravados, manilhas de
concreto e blocos de concreto. esgoto, entre outros.
Brita reciclada Material com dimensão Fabricação de concretos não
máxima característica inferior estruturais e obras de
a 39 mm, isento de impurezas, drenagens.
proveniente da reciclagem de
concreto e blocos de concreto.
Bica corrida Material proveniente da Obras de base e sub-base de
reciclagem de resíduos da pavimentos, reforço e
construção civil, livre de subleito de pavimentos,
impurezas, com dimensão além de regularização de
máxima característica de 63 vias não pavimentadas,
mm (ou a critério do cliente). aterros e acerto topográfico
de terrenos.
Rachão Material com dimensão Obras de pavimentação,
máxima característica inferior drenagens e terraplenagem.
a 150 mm, isento de
impurezas, proveniente da
reciclagem de concreto e
blocos de concreto.
Fonte: Urbem Tecnologia Ambiental
As aplicações de agregados no Brasil ainda são restritas, pois aplicações potenciais não
foram pesquisadas com maior profundidade, trazendo dúvidas aos profissionais de construção civil
sobre especificações técnicas para a produção e para a aplicação do material. Empiricamente são
utilizados traços com limitação do teor de agregados reciclados, de forma a prevenir problemas ,
tais como retração por secagem e alta absorção (LIMA,1999).
2.6- Aspectos da reciclagem de RCD como concretos
Segundo Mesters e Kurkowski (1997), aplicações em concretos em larga escala só serão
conseguidos através de demolição seletiva bem controlada e através de técnicas de processamento
mineral que permita processar resíduos mais heterogêneos. A pesar disso, ainda há que haver
esforços por parte das Construtoras e órgão públicos, para que separem seus entulhos no canteiro de
obra, o que facilitaria e muito o trabalho das usinas de reciclagem, porém isso ocorre em uma
pequena escala hoje no Brasil.
8
9. De acordo com Mesters e Kurkowski (1997), os aspectos para uma reciclagem seriam então
os seguintes:
- Demolição seletiva ou desconstrução: Remoção ou desmontagem de diversos tipos de
componentes na demolição para reutilização ( telhas, vidros, caixilhos,...) seguida da demolição da
fases não desmontáveis separadamente, por exemplo, remoção inicial da alvenaria, segregação desta
fase ( transporte), para a seguir demolir e transportar para a reciclagem a estrutura de concreto.
Esse processo, por ser controlado, reduz a quantidade de contaminante presente no resíduo e
contribui para a melhoria de qualidade do RCD reciclado. Como desvantagem, pode-se citar
morosidade na execução, uso de equipamento especializado e custo, particularmente devido ao uso
de mão de obra intensiva (HENDRIKS,2000, FREIRE, BRITO, 2001).
- Homogeneização do agregado reciclado: A homogeneização de matérias-primas naturais é
técnica consagrada na indústria da mineração, sendo praticadas por indústria como a de cimento e a
de cerâmica. Ela pode ser adapatada para RCD.
O uso de homogeneização dos agregados reciclados não garante aplicações de maior valor
agregado Entretanto, a redução da variabilidade da composição e de outras propriedades pela
tendência de média dos valores é fundamental para a produção em larga escala ( ÂNGULO, et al.,
2002). Ela certamente vai exigir a formação de estoques maiores , que implica em custos em capital
imobilizado e em área.
- Determinação dos agregados, se miúdos ou graúdos, o que varia muito em cada pesquisa,
apesar de existirem normas para os agregados naturais e os utilizados para base de pavimentação.
Durante a fase de pesquisa foi possível observar que os autores dos estudos não seguem uma regra
geral para este item fazendo com que em cada uma os agregados graúdos e miúdos tenham uma
granulometria diferente, apesar de seguirem as normas. Uma sugestão e também que servirá de base
no presente estudo, é seguir fidedignamente a Norma Brasileira para agregado graúdos e miúdos
pois desta forma será possível fazer comparação entre os agregados naturais e reciclados.
Chen et al. (2003) citado por Vieira e Dal MOlin, 2004), desenvolveram um estudo de
concreto com agregado reciclado de tijolos e concretos, utilizando os agregados reciclados em lotes
separados de agregados graúdos reciclados, lavados e não lavados. Os resultados mostram que os
concretos obtidos a partir dos agregados graúdos lavados, obtiveram valores em torno de 90% da
resistência à compressão do valor de referência. Para os concretos de agregados reciclados não
lavados, os valores não passaram de 75%. Isso mostra a importância de como a seleção e
preparação dos resíduos a serem utilizados em produção de novos materiais deve ser feita com
controle de qualidade para que haja um desempenho melhor.
Para esta análise foram utilizados resíduos de uma obra de demolição da cidade de Maceió,
esses resíduos foram separados e triturados. Após isso eles foram discriminados em agregados
miúdos e agregados graúdos e também foram realizados ensaios de massa específica e absorção de
água. Os agregados reciclados possuem uma alta taxa de absorção e a massa específica menor do
que os agregados naturais.
Para a produção dos concretos foram definidas três relações entre água/cimento (0,40, 0,60 e
0,80) e três percentuais de substituição de agregados naturais pelos reciclados (0%, 50% e 100%).
Esses ensaios foram realizados tendo como parâmetro de referência um concreto obtido com
agregados naturais para assim ter como comparar os resultados.
Um outro estudo realizado por Vieira e Dal MOlin, 2004, em relação ao reaproveitamento
de RCD de concreto, para a verificar a viabilidade técnica da sua utilização com agregados
reciclados, mostra o seguinte. Os ensaios realizados foram o de resistência a compressão e ensaios
de durabilidade, esse último sendo dividido em potencial de corrosão e taxa de corrosão .
Em relação aos ensaios de resistência a compressão, os resultados mostraram que para
relações a/c menores houve uma redução apenas no concreto feito com 100% de substituição dos
agregados miúdos e graúdos utilizados em um mesmo traço. O melhor desempenho de atuação
9
10. conjunta de agregados miúdo e graúdo reciclados se deu nos concretos com 50% de substituição de
AGR e 100% de substituição de AMR e com 50% de ambos pois não houve perda de resistência.
Em relação aos ensaios de durabilidade, tanto para o potencial de corrosão quanto para a
taxa de corrosão o melhor desempenho do concreto se deu com substituições de 100% de AMR e
0% de AGR para todas as relações água cimento.
Como os resultados mostram os agregados reciclados possuem um grande potencial de
reaproveitamento para utilização na produção em concretos, o que torna viável a sua reutilização.
Claro que existem outros mercados para esse reaproveitamento como sua utilização em pavimentos,
porém só essa utilização não será suficiente para suprir a quantidade de RCD gerado.
Além disso, o artigo apresenta estudos anteriores que mostra que o custo desses agregados é
inferior aos agregados naturais, o que os torna também economicamente viável.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude do grande crescimento da indústria da construção civil, os resíduos de
construção e demolição surgiram como um causador de impacto ambiental, sanitário, visual,
econômico e social em potencial.
Devido a essa ascensão, o poder público decidiu então tomar atitude em relação ao
problema e criar normas e diretrizes para tal. Com essas novas normas as construtoras tiveram que
se adequar a esse novo modo de enxergar o problema e trazer soluções. Foi ai que nasceram então
diversas pesquisas para resolver essa problemática.
Estudos que mostraram ser possível a utilização desse resíduos para outros fins e em
especial como agregados graúdos e miúdos para a fabricação de concretos, blocos de vedação, sub-
base para pavimentação, painéis de vedação, etc.
È claro que apesar desses estudos, ainda há que se fazer muito em relação a este setor de
reciclagem, já que o mesmo enfrenta diversos problemas, dentre eles a própria sociedade que ainda
tem uma certa discriminação em relação a produtos reciclados na indústria da construção civil.
Hoje diversas cidades já compartilham da tecnologia da reciclagem desses resíduos para
utilização como agregados porém, hoje, em sua maioria essa parceria se dá através de serviços
prestados por empresas privadas.
È importante ressaltar ainda que, apesar de todos os benefícios que a reciclagem dos RCD
trazem a sociedade, deve-se atentar para outros impactos que os mesmos podem trazer consigo
como: não poder reciclar este produto novamente ou então os impactos que eles causam na sua
produção ( gasto de energia, poluição, etc.)
Deve-se analisar em qualquer estudo de um novo produto gerado com RCD, todos os
aspectos, técnicos, sociais, ambientais e econômicos para ai então obter um produto de boa
qualidade e tecnicamente sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CINCOTTO, M. A. (1983). Patologia das argamassas de revestimento: análise e
recomendações. São Paulo, IPT (Série Monografias 8).
FREIRE, L.; BRITO, J. Custos e benefícios da demolição seletiva. In: Construção
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