2. América Latina e o novo padrão de
poder mundial
Dois processos históricos convergiram e se associaram
na produção do espaço/tempo e estabeleceram-se
como dois eixos fundamentais do novo padrão de
poder:
1. Diferenciação entre conquistadores e conquistados
na ideia de raça – distinção na estrutura biológica
2. Articulação das formas históricas de controle do
trabalho, recursos e de seus produtos, em torno do
capital e do mercado mundial
3. Raça, uma categoria mental da
modernidade
Não se tem conhecimento de distinção por raça
conhecida antes da América
Talvez originado pelas diferenças fenótipas entre
conquistados e conquistadores
As relações sociais fundadas na indicação apenas na
procedência geográfica (índio, negro, português,
espanhol, europeu)
Depois, associada às hierarquias, lugares e papéis sociais
Os negros eram os explorados mais importantes
(economia dependia de seu trabalho)
4. Elaboração teórica da ideia de raça como naturalização
destas relações sociais
Desde então, o mais eficaz e durável instrumento de
dominação social universal
Assim, Raça se tornou o primeiro critério fundamental
para distribuição da população mundial nos níveis,
lugares e papéis na estrutura de poder da nova
sociedade
5. O Capitalismo: a nova estrutura de
controle do trabalho
Constituição histórica da América
formas de controle e de exploração do trabalho e de controle
da produção-apropriação-distribuição de produtos foram
articulados em torno da relação capital-salário e do mercado
mundial
1ª vez na história
padrão global de controle do trabalho, de seus recursos e de
seus produtos
Estabelecia-se uma nova estrutura relações de produção na
experiência histórica do mundo: o capitalismo mundial
6. Colonialidade do poder e
capitalismo mundial
Raça e Divisão territorial do trabalho associados para
dependência colonical
Divisão Racial do Trabalho
Nativos/Originários -> servos; nobreza fazia papel
intermediário
Negros -> escravos
Espanhóis/portugueses -> comerciantes, artesãos e
agricultores
Dominação/exploração -> raça trabalho
7. Colonialidade e eurocentrismo do
capitalismo mundial
Privilégio aos brancos para disputar o controle do
capital comercial mundial
Ouro, prata e outras mercadorias pelo trabalho gratuito
Controle do tráfico comercial mundial
Europa como sede central do processo de
marcantilização da força de trabalho, ou seja, do
desenvolvimento da relação capital-salário como
forma específica de controle do trabalho, de seus
recursos e de seus produtos
8. A classificação racial da população e a velha associação
das novas identidades raciais dos colonizados com as
formas de controle não pago, não assalariado, do
trabalho, desenvolveu entre os europeus ou brancos a
específica percepção de que o trabalho pago era
privilégio dos brancos.
Esta atitude perdura nos dias de hoje, em que os
menores salários são destinados às raças inferiores
pelo mesmo trabalho dos brancos, nos atuais centros
capitalistas.
9. Novo padrão de poder mundial e
nova inter-subjetividade mundial
A Europa não tinha apenas o controle do mercado
mundial, mas pôde impor seu domínio colonial sobre
todas as regiões e populações do planeta,
incorporando-as ao “sistema-mundo”
Categoria Oriente não teria sido elaboradas como
única com a dignidade suficiente para ser o Outro,
sendo inferior de Ocidente, sem que alguma
equivalente fosse criada para índios e negros.
10. Como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também
concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de
controle da subjetividade, da cultura, e em especial do
conhecimento, da produção do conhecimento
1. Expropriaram as populações mais aptas para o
desenvolvimento capitalista de suas populações;
2. Reprimiram as formas de produção de conhecimento dos
colonizados, seus padrões de produção de sentidos, seu
universo simbólico, seus padrões de expressão e de
subjetividade;
3. Forçaram os colonizados a aprenderem a cultura dos
dominadores: atividade material/tecnológica, religião, etc
11. A questão da modernidade
Os Europeus foram levados a sentir-se não só
superiores a todos, mas além disso, naturalmente
superiores
Os povos colonizados eram raças inferiores aos
europeus.
Assim, a modernidade, a racionalidade foram
imaginadas como experiências exclusivamente
europeus.
Criou-se a dualidade: oriente-ocidente; primitivo-
civilizado; irracional-racional; tradicional-moderno.
12. Curiosamente, a Europa não foi sempre o “berço” da
modernidade.
1. Antes das Américas, a área dessa modernidade era
islâmico-judaica (Crescente Fértil);
2. É a sociedade greco-romana que desenvolve cidades,
agricultura comercial, mineração, os têxteis, a filosofia, a
história e a Europa Ocidental estava dominada pelo
Feudalismo;
3. A mercantilização da força de trabalho se iniciou e se
desenvolveu até o norte;
4. Só a partir da derrota do Islão (VII - XIII) e do
deslocamento da hegemonia do mercado mundial que a
Europa, se torna “A Europa”
13. Por isso, a ideia de Europa hegemônica é recente
Ideia Ocidente-Oriente e tardia e parte da hegemonia
britânica
Haja vista o meridiano de Greenwich atravessa Londres e
não Sevilha ou Veneza.
Assim, a modernidade eurocêntrica seria uma
pretensão etnocentrista e além de tudo provinciana
14. Transmodernidade
Dussel (1995) propôs a categoria de transmodernidade
como alternativa a pretensão eurocêntrica de que a Europa
é a produtora original da modernidade.
Assim, a constituição do ego individual diferenciado é a
novidade que ocorre com a América e é a marca da
modernidade, que se desenvolve não só para a Europa, e
sim para todo o mundo que se configura a partir da
América.
É controverso em referenciar este fenômeno
exclusivamente ao período iniciado com a América
(Quijano)
15. Colonialidade do poder e
eurocentrismo
Perspectiva de conhecimento e um modo de produzir
conhecimento centralizado no capitalismo e na
Europa.
16. Capital e Capitalismo
Na Europa, a escravidão, servidão e produção mercantil
foral percebidas como uma sequência histórica prévia a
mercantilização da força de trabalho
São Pré Capital
Na América a escravidão foi estabelecida e organizada
como mercadoria para produzir mercadorias para o
mercado mundial, e assim servir aos propósitos do
capitalismo
A produção mercantil foi estabelecida para o capitalismo
Assim, todas estas formas de trabalho e de controle do
trabalho na América atuavam simultaneamente e
articulada em torno do eixo do capital e do mercado
mundial
17. Evolucionismo e dualismo
Os europeus encontraram uma gama de povos na América.
Astecas, maias, chimus, Aimarás, inchas etc
Reduziram a uma identidade: índios
Povos da África: achantes, iorubás, zulus, congos, bacongos, etc
Negros ou africanos
Cada povo perdeu sua singularidade e recebeu uma nova
identidade racial, colonial e negativa
Tornando-se raças inferiores -> Primitivos
América sendo a primeira identidade geocultural moderna e
mundial (Europa a 2ª, em detrimento da América)
Primitivo-civilizado; tradicional-moderno.
18. Homogeneidade/continuidade e
heterogeneidade/descontinuidade
O Capitalismo mundial está longe de ser uma totalidade
homogênea e contínua
Ao contrário, o padrão de poder mundial que se conhece
como capitalismo é uma estrutura de elementos
heterogêneos
Tanto em termos das formas de controle das relações de
produção ou em termo dos povos e histórias articuladas nele
A heterogeneidade é histórico-estrutural
As transformações no capitalismo foram desiguais ao longo
do tempo
19. Eurocentrismo e a “questão
nacional”: o Estado-nação
O Estado-nação é uma espécie de sociedade
individualizada entre as demais
Toda sociedade é uma estrutura de poder
Toda estrutura de poder é sempre a imposição de
alguns sobre os demais
Toda a homogeneização da população de um Estado-
nação moderno é parcial e temporal, e consiste na
comum participação democrática no controle das
instituições públicas e de seus mecanismos de
violência
20. Nos EUA os índios não foram incluídos nesta nova
sociedade do Estado-nação e a população abarcou
amenas franceses e britânicos
No cone Sul (América Latina) houve o mesmo
processo
Índios não foram integrados à sociedade colonial, e a
população negra escravizada foi mínima nesta região
América Latina
90% da população – negros, índios e mestiços
21. Atualmente pode-se distinguir 4 trajetórias históricas e
linhas ideológicas acerca do problema de Estado-nação na
América:
1. Processo de descolonização/democratização através de
revoluções raciais (México e Bolívia);
2. Homogeneização colonial (racial) através do genocídio
dos nativos (Chile, Uruguai, Aragentina);
3. Homogeneização cultural através do genocídio cultural
dos nativos, negros e mestiços (México, Peru, Equador,
Guatemala-América Central e Bolívia);
4. Ideologia da democracia racial (Brasil, Colômbia e
Venezuela).
22. Referências
QUIJANO, Anibal, Colonialidade do poder,
Eurocentrismo e América Latina. In: A Colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências sociais.
Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires:
CLACSO, 2005.
DUSSEL, Enrique. The invention of the Americas.
Nova Iorque: Continuum, 1995.