1. Formando os próprios talentos: 9 dicas para desenvolver
empreendedores
Mesmo que você não seja professor, mas líder de equipe, estas dicas também podem ser adaptadas para criar condições de aprendizado para sua equipe
A experiência da sala de aula é uma das atividades que mais valorizo no meio acadêmico. O
educador goza de uma oportunidade inigualável de compreender como as pessoas evoluem e
crescem. Podemos aprender bastante também. Na verdade, às vezes eu acho que mais
aprendo do que ensino. Compreender a natureza das pessoas, suas motivações intrínsecas, o
processo da descoberta e os desafios constantes que se apresentam na relação inter-pessoal
são altamente enriquecedoras.
Nos primeiros anos em sala de aula, sempre me preocupei com um processo de transmissão
eficaz do conhecimento na área da Administração Geral. Ensinar fundamentos da
administração ou as teorias gerais da administração era, para mim, dotar o aluno do
conhecimento necessário para ele compreender o papel do administrador nas empresas
modernas. Ao assumir a cadeira de empreendedorismo, percebi a diferença entre formar
administradores e formar empreendedores. Cada vez que tenho contato com as ideias e
atitudes de grandes empreendedores, me convenço mais ainda sobre o diferencial que
devemos proporcionar no meio acadêmico para o desenvolvimento de novos empreendedores.
O que venho constatando nestes últimos tempos é que os desafios para se formar
administradores se tornaram muito semelhantes aos de se formar empreendedores. Ao vermos
que, na prática, os dois perfis estão se aproximando muito na condução das empresas e na
economia, percebemos que, mais do que pensar nos conteúdos disciplinares, as escolas
devem pensar nas atitudes, comportamentos e competências que estes alunos precisam
desenvolver para enfrentar os desafios propostos pelas empresas.
A sala de aula não deixa de ser uma organização. É um laboratório onde se pode simular
alguns dos ambientes corporativos, é um micro-cosmo onde se pode testar e experimentar
técnicas que desenvolvem algumas habilidades específicas. Com o objetivo de contribuir com
esta abordagem, quero aproveitar este espaço para compartilhar um pouco da experiência que
adquiri ao longo dos últimos anos neste sentido. Mesmo que você não seja professor, mas líder
de equipe, estas dicas também podem ser adaptadas para criar condições de aprendizado
para sua equipe, afinal de contas, nem sempre contamos com as melhores pessoas, o que
significa que precisamos aprender a formar nossos próprios talentos:
1- Aprender a pensar. Primeiro explique. Quando as coisas parecerem ter ficado claras, crie
uma situação ambígua, explique e depois desminta com outra versão de outro autor. Deixe as
coisas um pouco confusas e faça questionamentos sobre quem está certo. Peça opiniões dos
alunos e levante alternativas para explicar a ambigüidade. No final da aula, esclareça tudo, no
máximo na aula seguinte. O significado do aprendizado é mais perene quando ele reflete sobre
o assunto de forma provocativa.
2- Saber questionar. Antes de começar uma aula teórica, avise-os que, ao final, sorteará 5
alunos para fazerem perguntas sobre a aula dada. Por isso, até o final da aula, cada aluno terá
que já ter formulado alguma pergunta. Dê preferência às perguntas que questionam o que foi
dito. Para o professor, o desafio é maior, pois ele precisa saber que hoje em dia ele não detém
o poder do conhecimento sozinho e pode até aprender com os alunos. O professor pode e
deve, em alguns momentos, se desvestir da aura de sabe-tudo, desde que tenha construído
um clima de confiança e respeito que lhe dê segurança para dar esta liberdade.
3- Trabalhar em grupo. Para ensinar a trabalhar em grupo, não basta dar trabalhos em grupo.
É preciso ensiná-los a fazer isso. Desde a distribuição de tarefas, a condução de uma reunião
de trabalho, resolução de conflitos, administração do tempo, entre outras técnicas.
Normalmente eu gasto uma aula inteira para dar estas dicas antes de passar o primeiro
trabalho e os resultados são surpreendentemente melhores.
2. 4- Processos de avaliação. Não avalie apenas o conhecimento. Eu já tive alunos que foram
mal na prova e acabei dando nota por sua capacidade de argüição que me convenceram que
ele mereceria passar. Professores que são inflexíveis neste quesito acabam pecando por
avaliar apenas um aspecto do aluno que é a absorção do conhecimento. Eu acredito que o
empreendedor não precisa apenas conhecer, mas deve provar que, de uma forma ou de outra
vai conseguir atingir os objetivos e superar os desafios. Todos os meus alunos sabem que sou
como uma águia no dia da prova. Não deixo escapar nada. Mas mesmo assim, incentivo eles a
me desafiarem a colar. O risco de colar na minha aula é altíssimo porque o flagrante dá uma
nota zero. Mas acabo premiando os que encararam o risco, me enfrentaram e conseguiram
colar sem eu perceber.
5- Formas de expressão. Nem todos os alunos são hábeis na comunicação escrita e por isso
vão mal nas provas. Existem alunos que preferem uma chamada oral do que uma prova
tradicional. Alguns alunos adoram seminários porque possuem uma fluência natural em
público, outros vão mais além e se entusiasmam cada vez que há um trabalho em grupo que
explora a dramatização. Comunicação oral, escrita ou corporal. Dê condições para que o aluno
use o melhor meio para ele expressar sua compreensão do aprendizado.
6- Construindo o conhecimento. Em cursos noturnos é comum que uma boa parcela da
classe já esteja trabalhando. Muitas das idéias e conceitos trabalhados em classe são
aplicados ou aplicáveis nas empresas onde eles trabalham. O significado do conhecimento se
dá quando o aluno vê aplicabilidade no que lhe é passado. Para estes casos é conveniente que
o professor faça perguntas sobre a empresa dele, crie condições para que o próprio aluno peça
exemplos, sugira abordagens ‘e se...’. Discutir casos reais em empresas próximas da realidade
do aluno aumenta a sua afinidade com o tema, instigando a curiosidade e facilitando a
absorção.
7- Enxergar diferentes pontos de vista. Pegue um tema como por exemplo, o aborto.
Identifique na sala que é favorável ao aborto e quem é contra. Divida a classe de acordo com
estas opiniões e coloque cada parte em um lado da classe de frente para a outra. Peça então
que eles debatam entre si esta questão com o objetivo de convencer o outro time a aceitar sua
visão. O detalhe é que, antes de começar, você muda as regras. O time que defende o aborto
deve convencer o outro time que o aborto não é bom. Da mesma forma, o time que não é
favorável deve defender o valor contrário. Este exercício, mostra que existem diversos pontos
de vista sobre a mesma realidade. Nossa capacidade de relacionamento e criatividade cresce
na medida em que desenvolvemos a habilidade de se colocar no lugar do outro e entender a
situação sobre o seu ponto de vista.
8- Valorize as iniciativas. Quando você der um trabalho deixe bem claro que um dos critérios
que você vai usar será a capacidade do grupo de te surpreender. Isso vai lhes dar a liberdade
de usar a criatividade para buscar formas inusitadas para desenvolver o trabalho. Já tive
grupos que escreveram uma música para apresentar o trabalho. Outro grupo fez uma extensa,
rica e diversificada pesquisa bibliográfica, outro grupo trouxe especialistas no assunto para dar
uma palestra. Teve um grupo que chegou a decorar toda a sala de acordo com tema que ia
apresentar. Esta é uma liberdade que sempre vai dar margem para o risco de um ou mais
grupos se enveredar por caminhos criativos, mas sem conteúdo, mas não se preocupe, é o
preço que se paga para estimular o risco e a inventividade.
9- Minimize a importância da nota. O maestro Benjamin Zandler me deu esta idéia. No
começo das aulas diga a todos: ‘Estão todos aprovados. A nota final de todos é 7. Ninguém vai
ser reprovado por faltas. A partir de agora, ninguém mais precisa vir à aula. Eu não quero dar
aulas para quem está interessado em notas e faltas apenas. Quero que venham apenas os que
querem aprender algo e ser alguém na vida’ O seu sucesso agora será medido pelo número de
alunos que consegue manter nas aulas. O melhor é experimentar primeiro em uma turma de
pós graduação, a não ser que você acredite que os alunos da graduação já possuem
maturidade suficiente para esta proposta. O número de alunos nas minhas aulas diminui um
pouco, mas eu sei que quem está lá está disposto a aprender de verdade e as aulas são muito
3. bem aproveitadas. O meu desafio obviamente é muito maior, mas é o tipo de desafio que gosto
de assumir.
Estas são apenas algumas das coisas que costumo fazer como professor no ensino superior,
mas não é só isso. Eu gosto de experimentar coisas novas e algumas coisas acabam não
dando certo, mas se a sala de aula é uma simulação para o aluno, também o é para o
professor.
Eu escrevi aqui uma vez que empreendedores só podem ser liderados por empreendedores,
pois só eles compreendem a cabeça e o espírito empreendedor a ponto de explorá-los da
melhor forma possível. Agora eu digo que empreendedores só podem ser despertados por
empreendedores, pois só eles podem ajudá-los a desenvolver o potencial que todos possuem
em sua essência natural. É isso que eu pretendo fazer em sala de aula. Eu sei que todos os
meus alunos têm esta sementinha. Se eu consigo despertar mesmo que seja apenas alguns
deles em cada turma, já fico contente por estar concretizando minha missão.
Sobre o autor
Marcos Hashimoto
Consultor e palestrante em empreendedorismo, planos de negócios e intraempreendedorismo, professor da ESPM. Doutor em
Empreendedorismo pela EAESP/ FGV. Coordenou o Centro de Empreendedorismo do Insper, Pesquisador na Faculdade Campo Limpo
Paulista, autor do software SP Plan de Planos de Negócios, Autor dos livros'Espírito Empreendedor nas Organizações' 'Lições de
Empreendedorismo' e'Práticas de Empreendedorismo' . Professor visitante da Univ. do Texas em San Antonio e Universidad de Los
Andes na Colômbia. Colunista do site da Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios , colaborador do Instituto Empreender
Endeavor. Serviços de consultoria em Estratégia Empresarial, Liderança e Empreendedorismo Corporativo:
http://www.marcoshashimoto.com