- Fernando Pessoa mergulhou em tédio e angústia existencial devido à sua constante autoanálise e dúvidas sobre sua identidade.
- A morte de seu amigo Sá-Carneiro o deprimiu ainda mais e o impediu de alcançar a felicidade.
- Insatisfeito com o presente, Pessoa ansiava por sonhos e viagens que permitissem "coisas impossíveis", refletindo sua insatisfação permanente.
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
A fragmentação do eu
1. SÍNTESE
Português 12.º Ano – 2011/12
3.1.4. A fragmentação do eu / o tédio existencial
A tendência constante para a intelectualização conduz Pessoa a um permanente processo de autoanalise. A
dúvida e indefinição relativamente à sua identidade, a angústia do autodesconhecimento - "Por isso, alheio,
vou lendo / Como páginas meu ser" - levam o ortónimo a ser incapaz de viver a vida, mergulhando no tédio
e angústia existenciais, no desalento e no ceticismo mais profundos.
Vários acontecimentos na sua vida acentuam esse desencanto. A notícia da morte do seu grande amigo
Sá-Carneiro em Paris, em abril de 1916, por exemplo, abala-o profundamente, deprimindo-o ainda mais.
No entanto, Pessoa perseguiu insistentemente a felicidade que nunca atingiu, ou porque não encontrou
quem o entendesse, ou porque ele próprio não foi capaz de sair do turbilhão em que se enredou e de se
relacionar com os outros, de quem se sente irremediavelmente separado.
Insatisfeito com o presente e incapaz de o viver em plenitude, porque a fragmentação se instalou, Pessoa
anseia por vivencias, estados de ilusão, sonhos que possibilitem "coisas impossíveis". O desejo de viajar, de
ser o que não e, reflete a sua insatisfação permanente. Mesmo aquilo que esta próximo e" sentido como
longínquo. Vejamos os poemas:
"Viajar! Perder países!" - A permanente fragmentação do eu e reforçada pela metáfora que inicia o
poema:» a constante despersonalização;
•A inexistência de motivos para viver a vida;
•A solidão e a melancolia do sujeito poético.
"A aranha do meu destino" - Consciente de existir, o sujeito poético sente-se como uma presa de si
próprio:
•A metáfora da teia de aranha, como expressão do seu aprisionamento;
•O desconhecimento de si próprio;
•a consciência excessiva.
"Náusea. Vontade de nada." - O sujeito poético exprime:
•a desistência da vida;
•a incapacidade de agir;
•a imagem de um eu "espectador" da vida;
•o tédio de tudo.
"Tudo o que faço ou medito" - 0 sujeito poético confessa:
•a frustração resultante da dualidade "querer" / "fazer";
•o sentimento de náusea diante do que realiza;
•a contradição, o conflito interior entre a alma e o ser;
•a impossibilidade de concretizar os seus anseios.
Na poesia de Pessoa ortónimo proliferam, ainda, momentos em que o sujeito poético se assume como um
ser fragmentado - "Não sei quantas almas tenho. / Cada momento mudei. / Continuamente me estranho." -
um ser que se estranha a si próprio, contemplando-se de fora.
Aspetos temáticos Aspetos formais
• Arte poética pessoana marcada pela teoria do Fingimento
poético; » intelectualização das emoções, do sentir;
• obsessão pela autoanalise;
• sofrimento resultante da dor de pensar;
• distancia entre sonho e realidade; «desconhecimento de si
próprio;
• incapacidade de fruir a plenitude da vida;
• constante inadaptação a vida;
• ansiedade metafísica;
• evocação da infância como símbolo de uma felicidade mítica /
imaginaria e perdida;
• fragmentação do eu;
• tédio, angustia existencial, náusea, solidão interior,
melancolia.
• Linguagem simples e sóbria, a nível lexical e sintático;
• linguagem de fácil entendimento, mas rica de sugestões (o
inefável, as realidades imanentes, o êxtase);
• reminiscências da lírica tradicional popular - repetições,
rima interna, cruzada e emparelhada, métrica curta
(redondilha menor e maior), estrofes curtas (concisão da
quadra ou quintilha);
• suavidade rítmica e musical;
• uso de paradoxos2, que traduzema racionalidade excessiva;
• associações ousadas de vocábulos;
• recurso a imagens-simbolo.