O documento discute a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner, que identificou oito tipos de inteligência e defende que cada pessoa tem habilidades diferentes. Isso tem implicações importantes para a educação, como a necessidade de métodos de ensino variados e adaptados aos diferentes estilos de aprendizagem dos alunos. O documento foca na aplicação dessa teoria para alunos com deficiência intelectual.
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Inteligências Múltiplas e Estilos de Aprendizagem
1. MOOC – Inclusão e Acesso às Tecnologias 2014
Módulo 3 – Desenho Universal de Aprendizagem
Inteligências Múltiplas e Estilos de Aprendizagem
A essência do conceito de inteligência entende-se, muitas vezes, como a capacidade
de adquirir e aplicar conhecimentos, uma faculdade do pensamento e da razão. Ao longo
da história evolucionista da inteligência, Gardner assumiu um papel de relevância uma
vez que elevou o conceito de inteligência, tornando-o mais abrangente e amplo. Gardner
expandiu os parâmetros do comportamento inteligente por forma a incluir diversas
competências humanas. Gardner, ao invés de procurar apenas um indicador quantificável
de inteligência valoriza a forma como cada cultura particular, valoriza os indivíduos e a
forma como os mesmos criam diferentes produtos ou servem a sua cultura (Silver, Strong
e Perini, 2010: pág. 11).
Gardner desenvolveu uma teoria tendo como princípio básico a sua intuição de que
diferentes tipos de mentes se enquadram em estados cognitivos finais, criando desta
forma um modelo que nos auxilia a explicar a forma como as diferentes competências se
desenvolvem.
Foi em 1983, com a sua obra “Frames od Mind”, que Gardner pluraliza este conceito
rompendo com dois constructos fundamentais que caracterizavam a teoria do Quociente
da Inteligência: i) a cognição humana é unitária; ii) os indivíduos podem ser
adequadamente descritos como possuindo uma inteligência única e quantificável. Deste
modo, e segundo Gardner, a inteligência é: i) a capacidade de resolver problemas da vida
real; ii) a capacidade de gerar novos problemas a resolver; iii) a capacidade de fazer algo
ou oferecer um serviço que é valorizado no contexto da cultura de cada um.
A teoria de Gardner traz à luz dos conhecimentos um novo paradigma que não pode
ser negligenciado pelos profissionais da educação, pais e outros agentes envolvidos no
processo do ensino:
a) a inteligência pode ser desenvolvida
b) a inteligência não é numericamente quantificável e evidencia-se no contexto de
um desempenho ou num processo de resolução de problemas
c)a inteligência é múltipla: manifesta-se de diferentes formas
d) a inteligência é medida em contexto /situações da vida real
e) a inteligência é usada para compreender as capacidades humanas e as muitas e
variadas formas sob as quais os alunos podem ser bem sucedidos
Gardner fracionou a inteligência em sete categorias distintas acrescentando uma
oitava, posteriormente, de acordo com Silver, Strong e Perini (2010; pág. 11) :
Inteligência verbo-linguística (VL) que se manifesta na capacidade de utilizar as
palavras com vista a uma variedade de fins, como argumentar, persuadir, contar
histórias, ensinar, etc. os indivíduos com uma inteligência verbo-linguista aprendem
melhor quando podem falar, ouvir, ler ou escrever.
2. Inteligência lógica-matemática (LM) que caracteriza os indivíduos possuidores de
um pensamento lógico-matemático, que enfatiza a realidade. São bons a detetar
padrões, estabelecer relações de causa efeito e estabelecer sequências.
Inteligência espacial (E) que se traduz na capacidade superior de percecionar, criar
e recriar imagens. Os indivíduos têm um aprofunda perceção de detalhes visuais e
conseguem, com frequência, converter palavras ou impressões em imagens,
possuindo um apurado sentido de orientação.
Inteligência musical (M) permite que o indivíduo produza melodia e ritmo e o
compreenda, aprecie e forme opiniões sobre a música. São pessoas capazes de cantar
de forma afinada, de manter o ritmo e analisar e criar composições musicais.
Inteligência corporal/cinestésica (C) está relacionada com o corpo e a capacidade
de o usar nas diferentes formas. Os indivíduos manuseiam objetos e realizam
movimentos corporais precisos com facilidade. Aprendem melhor executando,
movendo e agindo sobre as coisas.
Inteligência Interpessoal (IP) está patente nas pessoas sociáveis. Estabelecem boas
relações com os outros, são sensíveis às ligeiras variações nos estados de espírito,
atitudes e desejos dos outros. Apresentam um bom desempenho nos trabalhos de
equipa e aprendem melhor quando estão em interação com os outros.
Naturalista (N) está presente nos indivíduos que estabelecem uma superior sintonia
com o mundo natural das plantas e dos animais, com a geografia natural, os objetos
naturais, como o sistema solar. Os indivíduos com uma inteligência dominante
naturalista apreciam o ar livre e reparam em padrões e características ecológicas.
Para Gardner as inteligências múltiplas não correspondem a categorias fixas. Todos
os indivíduos apresentam as mesmas e todos as usam em diferentes situações e contextos,
muito embora, seja frequente, haver uma competência superior numa ou duas destas
inteligências. Deste modo, todos nascem com as oito inteligências e todas elas são
modificáveis e ensináveis, apresentando pontos fortes e fracos.
O modelo de Garner tem muitas implicações para a educação. A teoria das
inteligências múltiplas veio chamar a atenção para o facto de que um ensino igual para
todos não vai ao encontro das especificidades de cada aluno, apelando à diferenciação
pedagógica.
As boas práticas de ensino terão de recorrer a métodos variados, uma vez que os
alunos não são todos iguais. Têm habilidades cognitivas diferentes e modos diferentes de
aprender. O ensino centrado no professor é um profundo erro! Deve-se centrar a educação
na criança. O professor deve tentar compreender quais os principais tipos de inteligência
dos seus alunos para mais facilmente possibilitar-lhes o acesso ao conhecimento, sem
contudo descurarem o resto das habilidades. As escolas deveriam, ao invés de oferecer
uma educação padronizada, devem tentar garantir que cada um receba a educação que
favoreça o seu potencial individual”.
O professor, à luz desta teoria, deverá ter em atenção o que é preconizado pelos
Princípios do Desenho Universal na Aprendizagem:
- oferecer múltiplos meios de representação;
-apresentar os conteúdos e informação através de diferentes e múltiplos media;
3. - permitir aos alunos uma abordagem pessoal às atividades de aprendizagem e demonstrar
o que sabem de diferentes maneiras;
- criar condições para os alunos se envolverem e manterem o interesse.
A teoria das inteligências múltiplas veio iluminar a pedagogia e mudar a nossa
forma de encarar o ensino. O professor tem de nortear o seu trabalho pelos princípios do
desenho universal da aprendizagem. O aluno é o centro do processo ensino-aprendizagem
e é nele que deveriam convergir as nossas atenções. Partindo do aluno, pelo aluno e para
o aluno, “maximizando as suas capacidades”. Ele deve saber quais são as habilidades de
cada aluno e identificar o estilo de aprendizagem e as inteligências múltiplas de cada um.
Os alunos com deficiência intelectual (o perfil de alunos com que lido na minha
atividade letiva) apresentam perfis cognitivos tão diferentes uns dos outros, pelo que o
nosso papel de educadores é tentar garantir que cada um receba a educação que favoreça
o seu potencial individual - otimizar o perfil cognitivo do aluno no seu todo. Não existem
características iguais em todos os indivíduos com deficiência intelectual.
Da aplicação do anteriormente exposto pretende-se que o ensino especial nesta
população prepare os alunos para a vida, privilegiando um currículo alternativo, com
menos exigência de raciocínios verbais e lógicos. São valorizadas outras áreas básicas
que encorajam os alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e efetuar
tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem e que
favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais.
Todos os alunos estudam fazendo uso de suas melhores inteligências tanto na sala
de aula como fora dela. Os professores exercem o seu papel em conformidade com os
pressupostos da educação inclusiva.
Para tal é necessário que o professor efetue uma avaliação inicial do potencial de
cada um para conhecer quais das 8 inteligências são as mais desenvolvidas em cada um,
procurar constantemente favorecer o desenvolvimento de combinações intelectuais
individuais. Os alunos com deficiência intelectual vão, aos poucos, desenvolvendo todas
as inteligências e uma reavaliação regular, permite ao professor aferir e refletir, bem como
planear melhor atividades que o ajudarão a melhor desenvolver determinadas
inteligências. Como princípio, nunca comparamos os alunos entre si mas com os
respetivos desempenhos anteriores de cada um.
A educação especial deve partir das áreas fortes do aluno, desenvolvendo um
ensino individualizado que põe o enfoque nos seus centros de interesse, sendo portanto
um ensino holístico e ecológico que potencia de forma mais eficaz as suas habilidades. O
perfil cognitivo destes alunos é único e cabe ao professor descobrir o seu estio de
aprendizagem (modo como um aluno processa a informação e se comporta em situações
de aprendizagem,). Partindo das suas áreas fortes, desenvolver-se-ão as outras áreas ou
inteligências.
O Currículo desta população, para além de alternativo (áreas diferenciadas) deve
ser específico (o mais adequado possível a cada um dos alunos) e funcional (acontecer
em diferentes contextos educativos e naturalistas e não só na sala de aula). As atividades
educativas e as estratégias utilizadas para implementar o mesmo, devem visar o
4. desenvolvimento de competências importantes para que estes alunos sejam mais
autónomos e mais independentes, capazes de interagir na comunidade escolar, familiar e
social onde estão inseridos. Este tipo de currículos contribui exponencialmente para
autoestima e realização pessoal dos alunos.
Penso que os Currículos Funcionais vão ao encontro do que defende Gardner em
relação ao ambiente educacional destes alunos, uma vez que ele chama a atenção para o
facto de que, as escolas devem preparar os seus alunos para a vida.
Algumas estratégias para a Deficiência Intelectual:
Designar tarefas que solicitem o uso das melhores inteligências;
Organizar interações e atividades de modo a que cada aluno seja
constantemente, ou o mais frequentemente possível, confrontado com as
situações didáticas significativas e adequadas às suas características;
Usar modelos com forte componente visual e modelos;
Construir Currículos Específicos Individuais, alternativos e funcionais
abrangentes para ir ao encontro de diferentes áreas ou inteligências, mas
permitir que o aluno encontre a sua “vocação”. Mais tarde restringir a
variedade de conteúdos, e que “essa limitação deveria ser da escolha de cada
um, favorecendo o perfil intelectual individual”;
Concretizar (uma vez que a sua representação mental do mundo e dos objetos
nem sempre coincide com a nossa, a criança aprende melhor se partirmos de
situações concretas, suas conhecidas, estimulando o sentido quinestesico,
tanto quanto possível, por exemplo em atividades de psicomotricidade;
Usar um suporte comunicacional – gestual, tónico, mimico, ocular e
outros (associar a linguagem, a imagem e a ação);
Estruturar (a criança precisa de avançar em pequenas etapas, para que a
informação seguinte seja suportada pela anterior e assim possa estruturar a
informação total em conhecimento);
Repetir (como esquece com facilidade aquilo que aprende, para que a
aprendizagem seja concretizada com qualidade aceitável é preciso praticar
muito, comunicando também, por exemplo, aos pais o que foi abordado para
que haja uma consolidação de estratégias e um continuum);
Dar mais tempo para a aprendizagem (já que apresenta um ritmo mais lento
na aprendizagem, é preciso que tenha tempo suficiente para processar a
informação);
Generalizar (é preciso treinar a transferência de aprendizagens, possibilitando
o funcionamento do aluno em ambientes diversificados, por exemplo, ensinar
o aluno a deslocar-se para o local onde vai fazer a sua atividade profissional
ou para a estação de comboios ou de camionagem onde deve apanhar o
transporte para casa, ensinar-lhe o percurso e acompanhá-lo no meio de
transporte para fazer o treino, duas ou três vezes; até ele conseguir fazê-lo
sozinho sem supervisão, verificando-se então a transferência da aprendizagem
em contexto real);
Apresentar os materiais de formas variadas e criativas;
5. Recorrer a materiais e implementar atividades que estejam de acordo com os
interesses dos alunos, incluindo simulações e apelando à fantasia e/ ou
criatividade;
Despertar o interesse, a curiosidade e a atenção, introduzindo características
lúdicas.
Com esta população é imprescindível valorizarmos a nossa crença de que “Todos
poderão aprender se acolhermos os diferentes estilos de aprendizagem e as inteligências
múltiplas de cada aluno”. Os estilos de aprendizagem são o modo como cada um de nós
aprende melhor e as inteligências múltiplas constituem as habilidades que podemos
utilizar para aprender qualquer coisa e realizar nossos objetivos.
Exemplos:
PELO ESTILO A PESSOA APRENDE
Visual vendo, olhando, observando
Auditivo ouvindo
Cinestésico com estímulos táteis e movimentos corporais
Artístico por meio de pintura, desenho, pintura,
música, teatro etc.
Visual-auditivo 1 + 2
Ao utilizar todas as inteligências de cada aluno e possibilitar a reorganização
cerebral derivada das diferentes possibilidades de combinações dos vários tipos de
inteligências, o professor está ampliando ao mesmo tempo o seu repertório de estratégias
de ensino e o leque de participação positiva do aluno com deficiência intelectual no
processo de aprendizagem.
Bibliografia utilizada:
Silver, H; Strong, R ; Perini, M; (2010). Inteligências múltiplas e estilos de
aprendizagem: para que todos possam aprender. Porto: Porto Editora.