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 Mercado de Carbono
                  “A bola da vez para os países
                              em desenvolvimento”
                               André Saraiva;
                               Diretor executivo do PRAC, especializado em Consumo Responsável e Recuperação de Valores




Q
         ual o real potencial do Mercado de Crédito de Carbono?                               consta do Anexo I. Assim, não temos compromissos de reduzir
         Quando ouvirem a pergunta, recomendo muita atenção.                                  nossas emissões de GEE no primeiro período de compromisso,
         O assunto merece consideração especial por sua amplitude                             mas, que fique bem claro, temos, com certeza, absoluto papel
e seus benefícios diretos que podem trazer ao meio ambiente do                                a desempenhar nesse mercado, através do MDL – Mecanismo
planeta e aos países em desenvolvimento. No meu entendimento,                                 de Desenvolvimento Limpo que se tornou uma ferramenta de
essa história começa no Protocolo de Kyoto e envolve caminhos                                 flexibilização no Protocolo, desenvolvida para reduzir os custos dos
amplos, como o do CCX – Chicago Climate Exchange.                                             países do Anexo I no compromisso de atender aos seus objetivos e
Olhando atentamente para tudo o que se escreve e se fala sobre                                metas, tornando-se, assim, o único meio que permite a interação
o tema, vale ressaltar de forma clara o brilhante livro “Caminhos                             entre os países do Anexo I e os não listados no documento.
da Sustentabilidade no Brasil”, produzido pela Terra das Artes                                     Os países listados no Anexo I estão de olho em países em
Editora, apresentação de Stephan Schmidheiny e repleto de pessoas                             desenvolvimento capazes de produzir projetos que resultem
importantes no meio ambiental com seus respectivos pensamentos e                              em redução de emissões quantificadas e certificadas para
artigos, que reputo ser uma das mais belas publicações já efetuadas.                          comercializá-las junto aos países do Anexo I, computando esse
     Bom, vamos ao trabalho! Tudo começou no Protocolo                                        volume como quantidades reduzidas. Vale lembrar que, para
de Kyoto. Neste documento, os países listados no Anexo I (os                                  essa operação ter validade, nossos projetos precisam obter as tais
chamados desenvolvidos) terão de reduzir suas emissões de GEE –                               RCE – Reduções Certificadas de Emissão, que podem envolver
Gases de Efeito Estufa em 5,2%, com relação aos níveis declarados                             entidades privadas ou públicas. Os RCE deverão traduzir, de
em 1990, para a primeira etapa do compromisso (2008 e 2012).                                  forma clara, os seguintes ganhos reais: mitigação da mudança do
     Para que o assunto tomasse a proporção devida, era necessário                            clima e redução de gases de efeito estufa, bem como, promover
atender a duas premissas: que 55 países o ratificassem e que as                               uma redução de emissões que seja adicional, ou seja, uma
emissões desses países equivalessem a pelo menos 55% das                                      redução de emissões que não seria obtida no caso da inexistência
emissões de GEE em 1990. Nota importante: com a recusa dos                                    do projeto. Outra variável primordial a ser observada no RCE é
Estados Unidos em ratificarem o Protocolo em 2001, para que as                                que, além de caracterizar a qualidade da mercadoria a ser ofertada
condições fossem atendidas, era necessária a ratificação também                               e as reduções de emissões de GEE em toneladas equivalentes
da Rússia, o que só ocorreu no final de 2004, portanto, passando                              de COE, o projeto demonstre credibilidade e consistência do
a vigorar a partir de fevereiro de 2005.                                                      ponto de vista econômico, social e ambiental.
     Outra iniciativa criada na recusa americana em ratificar o                                    Concluindo, o MDL é complexo e extenso, justamente
Protocolo foi o CCX, mercado voluntário e auto-regulado onde                                  porque oferece benefícios claros e prazos extensos, reais e
as empresas se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE                                   mensuráveis. Assim, essa complexidade também permite acesso a
em 1% cumulativamente entre 2003 e 2006 (fase piloto), com                                    recursos de longo prazo, que em nosso país são escassos. Portanto,
relação aos níveis emitidos entre 1998-2001. Isto é, ao final de                              moral da historia: “O MDL deve ser visto com muita seriedade,
2006, as empresas deveriam ter reduzido suas emissões em 4%.                                  pois propicia projetos com tecnologias limpas e, ainda, pode
     E o Brasil nessa história? Nós não somos um país que                                     mudar o cenário dos investimentos em nosso querido Brasil”.
84 Revista Meio Ambiente Industrial   Novembro/Dezembro 2008

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  • 1. Tecnologia Mercado de Carbono “A bola da vez para os países em desenvolvimento” André Saraiva; Diretor executivo do PRAC, especializado em Consumo Responsável e Recuperação de Valores Q ual o real potencial do Mercado de Crédito de Carbono? consta do Anexo I. Assim, não temos compromissos de reduzir Quando ouvirem a pergunta, recomendo muita atenção. nossas emissões de GEE no primeiro período de compromisso, O assunto merece consideração especial por sua amplitude mas, que fique bem claro, temos, com certeza, absoluto papel e seus benefícios diretos que podem trazer ao meio ambiente do a desempenhar nesse mercado, através do MDL – Mecanismo planeta e aos países em desenvolvimento. No meu entendimento, de Desenvolvimento Limpo que se tornou uma ferramenta de essa história começa no Protocolo de Kyoto e envolve caminhos flexibilização no Protocolo, desenvolvida para reduzir os custos dos amplos, como o do CCX – Chicago Climate Exchange. países do Anexo I no compromisso de atender aos seus objetivos e Olhando atentamente para tudo o que se escreve e se fala sobre metas, tornando-se, assim, o único meio que permite a interação o tema, vale ressaltar de forma clara o brilhante livro “Caminhos entre os países do Anexo I e os não listados no documento. da Sustentabilidade no Brasil”, produzido pela Terra das Artes Os países listados no Anexo I estão de olho em países em Editora, apresentação de Stephan Schmidheiny e repleto de pessoas desenvolvimento capazes de produzir projetos que resultem importantes no meio ambiental com seus respectivos pensamentos e em redução de emissões quantificadas e certificadas para artigos, que reputo ser uma das mais belas publicações já efetuadas. comercializá-las junto aos países do Anexo I, computando esse Bom, vamos ao trabalho! Tudo começou no Protocolo volume como quantidades reduzidas. Vale lembrar que, para de Kyoto. Neste documento, os países listados no Anexo I (os essa operação ter validade, nossos projetos precisam obter as tais chamados desenvolvidos) terão de reduzir suas emissões de GEE – RCE – Reduções Certificadas de Emissão, que podem envolver Gases de Efeito Estufa em 5,2%, com relação aos níveis declarados entidades privadas ou públicas. Os RCE deverão traduzir, de em 1990, para a primeira etapa do compromisso (2008 e 2012). forma clara, os seguintes ganhos reais: mitigação da mudança do Para que o assunto tomasse a proporção devida, era necessário clima e redução de gases de efeito estufa, bem como, promover atender a duas premissas: que 55 países o ratificassem e que as uma redução de emissões que seja adicional, ou seja, uma emissões desses países equivalessem a pelo menos 55% das redução de emissões que não seria obtida no caso da inexistência emissões de GEE em 1990. Nota importante: com a recusa dos do projeto. Outra variável primordial a ser observada no RCE é Estados Unidos em ratificarem o Protocolo em 2001, para que as que, além de caracterizar a qualidade da mercadoria a ser ofertada condições fossem atendidas, era necessária a ratificação também e as reduções de emissões de GEE em toneladas equivalentes da Rússia, o que só ocorreu no final de 2004, portanto, passando de COE, o projeto demonstre credibilidade e consistência do a vigorar a partir de fevereiro de 2005. ponto de vista econômico, social e ambiental. Outra iniciativa criada na recusa americana em ratificar o Concluindo, o MDL é complexo e extenso, justamente Protocolo foi o CCX, mercado voluntário e auto-regulado onde porque oferece benefícios claros e prazos extensos, reais e as empresas se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE mensuráveis. Assim, essa complexidade também permite acesso a em 1% cumulativamente entre 2003 e 2006 (fase piloto), com recursos de longo prazo, que em nosso país são escassos. Portanto, relação aos níveis emitidos entre 1998-2001. Isto é, ao final de moral da historia: “O MDL deve ser visto com muita seriedade, 2006, as empresas deveriam ter reduzido suas emissões em 4%. pois propicia projetos com tecnologias limpas e, ainda, pode E o Brasil nessa história? Nós não somos um país que mudar o cenário dos investimentos em nosso querido Brasil”. 84 Revista Meio Ambiente Industrial Novembro/Dezembro 2008