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Piligra (Lourival Pereira Jr)
Nascido em Itabuna. Professor universitário, possui Mestrado em filosofia pela UFPB (Universidade Federal das
Paraíba). Publicou “Fractais”, 1996.
Um Beija-flor
um beija-flor pousou na minha poesia
com sutileza como um anjo iluminado,
seu olhar divino me deixou impressionado
- doce metáfora de um verso à luz do dia...
o beija-flor ficou me olhando ali parado,
simples paisagem da mais pura fantasia,
seu olhar de flor brilhou com força e alegria
- jardim suspenso, no meu verso eternizado...
um beija-flor pousou seus pés de sutileza
na minha alma de poeta embrionário,
um filme lírico de amor e de beleza,
tela compondo, como um conto, o meu cenário...
- o beija-flor agora sonha que é um canário
e canta hinos pra alegrar minha tristeza!
Daniela Galdino
Natural de Itabuna. Graduou-se em Letras pela UESC. Concluiu o Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural pela
UEFS. Atualmente é professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Tem publicada a obra “Vinte Poemas
Caleidorcópicos” (Via Litterarum, 2004). Organizou os livros “Levando a raça a sério” (DP&A, 2005) e “Tessitura
azeviche: diálogos entre as literaturas africanas e afro-brasileira” (Editus, 2008).
Domingou
É calendário desfolhado
É indício violento
Cheiro agressivo de mulher
É flor volumosa
É rosa despetalada
Recomposição insistente às mãos
É meia-luz vibrante
É nuvem inteira
Partes justapostas em colchão
É estampido inaudível
É inverno abrasante
Ciranda azul de fervilhações
É esse corpo lavado
É pia batismal
Cristo falso em crucificação
É ponteiro amolecido
É palavra dilatada
Catálogo inventado de afãs
É terremoto recolhido
É verbo adiado
Teia indelicada de hesitações
É vida sintomática
É passeio abissal:
Domingou... domingou... domingou...
ECOLOGIA
Eu queria dormir
dentro
das árvores
e sonhar os seus sonhos,
viver os seus amores.
Eu queria morar
dentro
das árvores e viver a justiça
de suas raízes.
Eu queria morrer
dentro
das árvores
e participar da glória
de renascer no chão,
como semente.
Valdelice Pinheiro
Valdelice Soares Pinheiro nasceu em Itabuna, a 24 de janeiro de 1929.
DERAM UM FUZIL AO MENINO
Adeus luares de Maio.
Adeus tranças de Maria.
Nunca mais a inocência,
nunca mais a alegria,
nunca mais a grande música
no coração do menino.
Agora é o tambor da morte
rufando nos campos negros.
Agora são os pés violentos
ferindo a terra bendita.
A cantiga, onde ficou a cantiga?
No caderno de números,
o verso ficou sozinho.
Adeus ribeirinhos dourados.
Adeus estrelas tangíveis.
Adeus tudo que é de Deus.
DERAM UM FUZIL AO MENINO.
Firmino Rocha
Soneto do Rio Cachoeira
Havia céu e sol na correnteza,
Brilhinhos chuviscando a natureza.
Nos peraus e pedras negras havia
Uma lua, branca ave sem ser fria.
Não havia dúvida nem certeza
apenas rioflor, risos de pureza.
Certamente canção de noite e dia,
Certamente uma fábula que havia.
E olhos de outras águas, de lei renhida,
Rosto de sofrido sol, de sombria
Lua, decididamente haveria
De ver vidrinhos em antiga dança,
Prata da noite em superfície mansa
Reinventando os mistérios da vida.
Cyro de Mattos
Mither Amorim
Galope do Cachoeira
O rio que carrega o cheiro do meu povo
Nos prova que é forte pois traz sobre o peito
A mata incrustada nascendo em seu leito
Os peixes que teimam vingar contra o lodo
O rio que carrega o cheiro do meu povo
Foi chei de beré, lambarí, jundiá
E ainda permite quem queira provar
Por cima das águas o baile das garças
Ao menos com os olhos louvar a sua graça
Que corre e deságua na beira do mar.

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  • 1. Piligra (Lourival Pereira Jr) Nascido em Itabuna. Professor universitário, possui Mestrado em filosofia pela UFPB (Universidade Federal das Paraíba). Publicou “Fractais”, 1996. Um Beija-flor um beija-flor pousou na minha poesia com sutileza como um anjo iluminado, seu olhar divino me deixou impressionado - doce metáfora de um verso à luz do dia... o beija-flor ficou me olhando ali parado, simples paisagem da mais pura fantasia, seu olhar de flor brilhou com força e alegria - jardim suspenso, no meu verso eternizado... um beija-flor pousou seus pés de sutileza na minha alma de poeta embrionário, um filme lírico de amor e de beleza, tela compondo, como um conto, o meu cenário... - o beija-flor agora sonha que é um canário e canta hinos pra alegrar minha tristeza! Daniela Galdino Natural de Itabuna. Graduou-se em Letras pela UESC. Concluiu o Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS. Atualmente é professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Tem publicada a obra “Vinte Poemas Caleidorcópicos” (Via Litterarum, 2004). Organizou os livros “Levando a raça a sério” (DP&A, 2005) e “Tessitura azeviche: diálogos entre as literaturas africanas e afro-brasileira” (Editus, 2008). Domingou É calendário desfolhado É indício violento Cheiro agressivo de mulher É flor volumosa É rosa despetalada Recomposição insistente às mãos É meia-luz vibrante É nuvem inteira Partes justapostas em colchão É estampido inaudível É inverno abrasante Ciranda azul de fervilhações
  • 2. É esse corpo lavado É pia batismal Cristo falso em crucificação É ponteiro amolecido É palavra dilatada Catálogo inventado de afãs É terremoto recolhido É verbo adiado Teia indelicada de hesitações É vida sintomática É passeio abissal: Domingou... domingou... domingou... ECOLOGIA Eu queria dormir dentro das árvores e sonhar os seus sonhos, viver os seus amores. Eu queria morar dentro das árvores e viver a justiça de suas raízes. Eu queria morrer dentro das árvores e participar da glória de renascer no chão, como semente. Valdelice Pinheiro Valdelice Soares Pinheiro nasceu em Itabuna, a 24 de janeiro de 1929. DERAM UM FUZIL AO MENINO Adeus luares de Maio. Adeus tranças de Maria. Nunca mais a inocência, nunca mais a alegria, nunca mais a grande música no coração do menino. Agora é o tambor da morte rufando nos campos negros.
  • 3. Agora são os pés violentos ferindo a terra bendita. A cantiga, onde ficou a cantiga? No caderno de números, o verso ficou sozinho. Adeus ribeirinhos dourados. Adeus estrelas tangíveis. Adeus tudo que é de Deus. DERAM UM FUZIL AO MENINO. Firmino Rocha Soneto do Rio Cachoeira Havia céu e sol na correnteza, Brilhinhos chuviscando a natureza. Nos peraus e pedras negras havia Uma lua, branca ave sem ser fria. Não havia dúvida nem certeza apenas rioflor, risos de pureza. Certamente canção de noite e dia, Certamente uma fábula que havia. E olhos de outras águas, de lei renhida, Rosto de sofrido sol, de sombria Lua, decididamente haveria De ver vidrinhos em antiga dança, Prata da noite em superfície mansa Reinventando os mistérios da vida. Cyro de Mattos Mither Amorim Galope do Cachoeira O rio que carrega o cheiro do meu povo Nos prova que é forte pois traz sobre o peito A mata incrustada nascendo em seu leito Os peixes que teimam vingar contra o lodo O rio que carrega o cheiro do meu povo Foi chei de beré, lambarí, jundiá E ainda permite quem queira provar Por cima das águas o baile das garças Ao menos com os olhos louvar a sua graça
  • 4. Que corre e deságua na beira do mar.