SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 7
Mitsa Karen Toledo Christino Danielli
Pós-graduanda em docência no Ensino Superior (Verbo Educacional, PE – 2014)
Graduada em Letras, habilitada em docência de Língua Portuguesa e Língua Inglesa,
Literatura e Redação (UniSeb, SP – 2012)
Atualmente leciona Português para o ensino fundamental – séries finais.
A INTERPRETAÇÃO DE TEXTO COMO FERRAMENTA
DE LEITURA DO MUNDO
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo mostrar que a prática da leitura pode mudar
nossa percepção de mundo, visto que desde o momento em que começamos a
"compreender" as coisas que nos cercam, sempre motivados pelo constante
desejo de decifrar e interpretar o sentido das mesmas, de perceber o mundo
sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que
vivemos, no contato com um livro, vendo uma propaganda, enfim, em todos
estes casos estamos, de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos
damos conta. Através da prática da interpretação de texto pode-se desenvolver
outras habilidades no leitor, como a resolução de problemas, concentração,
raciocínio e outras.
Palavras-chave: leitura; interpretação; textos
INTRODUÇÃO
Ler não é somente decodificar símbolos, mas é, de fato, interpretar e
compreender o que se lê. A leitura só acontece quando o leitor apreende o
sentido do texto, quando além dos símbolos o leitor percebe o significado do
que aquele conjunto quer dizer.
No processo de leitura, é claro, existem requisitos prévios para que o leitor
consiga realmente ler: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e
regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e
conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal
do leitor. Para que a leitura seja satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do
que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em
interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo.
Hoje fala-se muito em conhecimento de mundo para realizar uma interpretação
textual, e portanto há que se levar em conta o tipo de texto adequado ao leitor,
já que a compreensão da leitura depende do caráter subjetivo que essa
atividade assume.
Para Leonardo Boff (1984, p.23)
“cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés
pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para
entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus
olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre
um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é
co-autor.”
A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já
dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além
dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios
necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura.
Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas
passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto,
levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções,
expectativas, seus preconceitos etc. É por isso que consegue ser tocado pela
leitura.
O ideal é que o leitor mergulhe no texto e se confunda com ele, em busca de
seu sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes (1984, p.21), quando compara
o leitor a uma aranha:
“[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento
perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se
desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas
secreções construtivas de sua teia.”
Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e válida:
o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac (1996, p.11), "o verbo ler não
suporta o imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura se resume
a simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura,
Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler,
o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler.
Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e
valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa
a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por
sua vez, não deseja desprender-se.
A LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Quando falamos em leitura na escola, logo pensamos na “sala de leitura” ou na
biblioteca. Começamos a planejar períodos para que os alunos possam
escolher livros, levar para casa, ler e devolver à escola. Assumimos o
compromisso, claro, de ouvir esse aluno contar como foi a leitura, o que
aprendeu, e quando possível solicitamos um resumo, que é para termos
certeza que ele leu e entendeu. Será que que entendeu mesmo?
Para Paulo Freire (1994 p.45) muita de nossa insistência, enquanto
professores, para que os estudantes “leiam”, num semestre, vários capítulos de
livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler.
O autor relata ainda, que parece importante, contudo, para se evitar uma
compreensão errônea de sua afirmação, sublinhar que a crítica à
marginalização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição
pouco responsável com relação à necessidade que temos, educadores e
educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo
do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual
sem a qual inviabilizaremos a nossa prática enquanto professores e
estudantes.
Freire (1994 p. 56) descreve: inicialmente parece interessante reafirmar que
sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de
conhecimento, por isso mesmo, com um ato criador. Para mim seria impossível
enganjar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos
la-le-li-lo-lu.
Nota-se que a partir desta análise não se pode reduzir a alfabetização ao
ensino puro das palavras, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o
alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras vazias dos alfabetizandos.
Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da
alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito.
O fato de ele necessitar de ajuda do educador, como ocorre em qualquer
relação pedagógica, não significa que a ajuda do educador deva a sua
criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e
na leitura dessa linguagem.
Na prática, o que se observa é que a escola não vem desenvolvendo as
atividades de leitura dentro dessa perspectiva ampla. Sendo função básica da
escola ensinar a ler e a escrever, ela vem privilegiando a leitura do escrito em
detrimento da “leitura do mundo”, que a criança já faz e traz para a escola.
Além de negligenciar a importância da interdependência entre essas duas
leituras, ela vem em relação à leitura do escrito, enfatizando somente o
trabalho de levar a criança a adquirir os mecanismos básicos da grafia que lhe
permitem o acesso ao mundo do escrito. Embora seja um aspecto relevante do
processo de alfabetização, merecendo atenção especial e sistemática do
professor, a leitura não deve restringir-se ao ato mecânico de conhecimento,
reprodução de palavras e frases, assim como não deve favorecer uma leitura
passiva do texto.
COMO DIRECIONAR ATIVIDADES DELEITURA NA ESCOLA
Num processo natural de aprendizagem, o aluno pode avançar (muitas vezes
com esforço) em seus conhecimentos através das possibilidades que a leitura
dos textos, em suas também variadas possibilidades, lhe estarão propiciando.
Se o professor sonda, acompanha, propõe diversificados textos e com
dificuldades diferentes para o aluno ir ampliando seus horizontes de
expectativas não só antes conteúdos, temas, conceitos ou histórias que tais
textos veiculam, veriam possibilidades de conhecer diversas maneiras de se
interpretar, representar, ou captar o mundo pelas palavras. Aí, a fantasia, o
sonho, o fato, o conceito, o som, o ritmo, a imagem… há diversos tipos de
textos. Há diversos tipos de leitores; há diversos tipos de leitura… é preciso ler
muito, comentar muito…
Um trabalho desenvolvido no sentido de formar leitores, de acordo com Yasuda
(1991 p. 102), exige avaliação complexa, plural, em longo prazo. Cada texto,
cada leitor ou grupo de leitores poderá sugerir pistas de que aspectos e como
avaliar. Essa avaliação deve levar em conta, por exemplo, a capacidade do
aluno de estabelecer relações entre as conversões próprias dos textos lidos
com as de futuras leituras. O aluno poderá perceber, então, como diferentes
linguagens podem se relacionar com a obra de arte literária. Principalmente,
essa avaliação não pode perder de vista o processo de construção da
linguagem do e pelo aluno.
A formação de um leitor competente é também a formação de ser sensível,
inteligente e aberto para aprendizado constante que se pode fazer com a
leitura na escola. E é, portanto, na prática que esse resultado poderá ser
construído.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. Escrever a leitura. In: O rumor da língua. Trad. de A.
Gonçalves, Lisboa, Edições 70, 1984.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. 36
ed., Petrópolis: Rio de Janeiro, Vozes, 2000;
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam.
26ª Ed. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1994.
______. Pedagogia do oprimido. 14ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
______. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários da autonomia. 21ª.
São Paulo: Paz e Terra.
INEP. Letramento em Leitura. Disponível em
<http://www.inep.gov.br/internacional/pisa >. Acesso em: 1º agosto 2013;
PENNAC, Daniel. Como um romance. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1996;
PCN. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Secretaria de
Educação Fundamental.Brasília,1997;
YASUDA, A. M. B. G.; TEIXEIRA, M. J. C. “A circulação do paradidático no
cotidiano escolar”. In: BRANDÃO, H; MICHELETTI, G. Aprender a ensinar com
livros didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 1991.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt? (20)

Apresentação infográfico
Apresentação infográficoApresentação infográfico
Apresentação infográfico
 
Pronomes
PronomesPronomes
Pronomes
 
Substantivo
SubstantivoSubstantivo
Substantivo
 
SLIDES-FIGURAS-DE-LINGUAGEM-8º-ANO.pptx
SLIDES-FIGURAS-DE-LINGUAGEM-8º-ANO.pptxSLIDES-FIGURAS-DE-LINGUAGEM-8º-ANO.pptx
SLIDES-FIGURAS-DE-LINGUAGEM-8º-ANO.pptx
 
Anáfora e catáfora
Anáfora e catáforaAnáfora e catáfora
Anáfora e catáfora
 
Variação linguística no ENEM
Variação linguística no ENEMVariação linguística no ENEM
Variação linguística no ENEM
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de Linguagem
 
Repertório para redação
Repertório para redaçãoRepertório para redação
Repertório para redação
 
Critérios de correção redação vestibulares
Critérios de correção redação vestibularesCritérios de correção redação vestibulares
Critérios de correção redação vestibulares
 
Adjunto Adnominal
Adjunto AdnominalAdjunto Adnominal
Adjunto Adnominal
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 
Poema e poesia - 7º ano.pdf
Poema e poesia - 7º ano.pdfPoema e poesia - 7º ano.pdf
Poema e poesia - 7º ano.pdf
 
Terceira aplicação do enem 2014: Literatura
Terceira aplicação do enem 2014: LiteraturaTerceira aplicação do enem 2014: Literatura
Terceira aplicação do enem 2014: Literatura
 
Gênero textual - biografia
Gênero textual - biografiaGênero textual - biografia
Gênero textual - biografia
 
Pressuposto e subentendido
Pressuposto e subentendidoPressuposto e subentendido
Pressuposto e subentendido
 
Ironia e humor em textos variados 2
Ironia e humor em textos variados 2Ironia e humor em textos variados 2
Ironia e humor em textos variados 2
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Figuras de linguagem com exercícios
Figuras de linguagem com exercíciosFiguras de linguagem com exercícios
Figuras de linguagem com exercícios
 
Infográfico
InfográficoInfográfico
Infográfico
 
Funções da linguagem
Funções da linguagemFunções da linguagem
Funções da linguagem
 

Ähnlich wie A interpretação de texto como ferramenta de leitura do mundo

O PRAZER DA LEITURA SE ENSINA
O PRAZER DA LEITURA SE ENSINAO PRAZER DA LEITURA SE ENSINA
O PRAZER DA LEITURA SE ENSINAcefaprodematupa
 
Concepções de leitura e implicações para o ensino
Concepções de leitura e implicações para o ensinoConcepções de leitura e implicações para o ensino
Concepções de leitura e implicações para o ensinoJohnJeffersonAlves1
 
A leitura literária e a formação do
A leitura literária e a formação doA leitura literária e a formação do
A leitura literária e a formação doElis Silva
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrevermelodilva
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrevermelodilva
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrevermelodilva
 
3- O ensino da leitura e da escrita.pptx
3- O ensino da leitura e da escrita.pptx3- O ensino da leitura e da escrita.pptx
3- O ensino da leitura e da escrita.pptxnoadiasilva2
 
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivista
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivistaAprender a ler e a escrever uma proposta construtivista
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivistaDeusrieta M1)
 
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lerner
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lernerLer e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lerner
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lernerMonica Oliveira
 
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLA
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLALiteratura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLA
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLAMagno Oliveira
 
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITAA IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITAcefaprodematupa
 
Celoi fabbrin
Celoi fabbrin Celoi fabbrin
Celoi fabbrin equipetics
 
Elaine - parte 1 - 3set
Elaine - parte 1 - 3setElaine - parte 1 - 3set
Elaine - parte 1 - 3setRaquel Donega
 
Prática de metodologia do ensino de leitura
Prática de metodologia do ensino de leituraPrática de metodologia do ensino de leitura
Prática de metodologia do ensino de leituraJamille Rabelo
 

Ähnlich wie A interpretação de texto como ferramenta de leitura do mundo (20)

O PRAZER DA LEITURA SE ENSINA
O PRAZER DA LEITURA SE ENSINAO PRAZER DA LEITURA SE ENSINA
O PRAZER DA LEITURA SE ENSINA
 
Concepções de leitura e implicações para o ensino
Concepções de leitura e implicações para o ensinoConcepções de leitura e implicações para o ensino
Concepções de leitura e implicações para o ensino
 
Projeto jucelsa final
Projeto jucelsa finalProjeto jucelsa final
Projeto jucelsa final
 
Concepções de leitura e implicações pedagógicas
Concepções de leitura e implicações pedagógicasConcepções de leitura e implicações pedagógicas
Concepções de leitura e implicações pedagógicas
 
A leitura literária e a formação do
A leitura literária e a formação doA leitura literária e a formação do
A leitura literária e a formação do
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrever
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrever
 
Slide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escreverSlide blog nara ler e escrever
Slide blog nara ler e escrever
 
Monografia pedagógico
Monografia pedagógicoMonografia pedagógico
Monografia pedagógico
 
3- O ensino da leitura e da escrita.pptx
3- O ensino da leitura e da escrita.pptx3- O ensino da leitura e da escrita.pptx
3- O ensino da leitura e da escrita.pptx
 
La vem leitura
La vem leituraLa vem leitura
La vem leitura
 
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivista
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivistaAprender a ler e a escrever uma proposta construtivista
Aprender a ler e a escrever uma proposta construtivista
 
Leitura e escrita disléxicos
Leitura e escrita disléxicosLeitura e escrita disléxicos
Leitura e escrita disléxicos
 
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lerner
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lernerLer e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lerner
Ler e escrever na escola o real o possivel e o necessario delia lerner
 
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLA
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLALiteratura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLA
Literatura Infanto Juvenil - LITERATUA INFANTIL NA ESCOLA
 
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITAA IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA
 
Celoi fabbrin
Celoi fabbrin Celoi fabbrin
Celoi fabbrin
 
Elaine - parte 1 - 3set
Elaine - parte 1 - 3setElaine - parte 1 - 3set
Elaine - parte 1 - 3set
 
Prática de metodologia do ensino de leitura
Prática de metodologia do ensino de leituraPrática de metodologia do ensino de leitura
Prática de metodologia do ensino de leitura
 
Alto Rio Possmozer
Alto Rio PossmozerAlto Rio Possmozer
Alto Rio Possmozer
 

Kürzlich hochgeladen

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...PatriciaCaetano18
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Centro Jacques Delors
 
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...marcelafinkler
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasrfmbrandao
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Cabiamar
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Centro Jacques Delors
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...azulassessoria9
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa paraAndreaPassosMascaren
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...azulassessoria9
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docPauloHenriqueGarciaM
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedJaquelineBertagliaCe
 
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União EuropeiaApresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União EuropeiaCentro Jacques Delors
 
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...marcelafinkler
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxJustinoTeixeira1
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfAutonoma
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticash5kpmr7w7
 

Kürzlich hochgeladen (20)

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
 
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União EuropeiaApresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
 
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
 

A interpretação de texto como ferramenta de leitura do mundo

  • 1. Mitsa Karen Toledo Christino Danielli Pós-graduanda em docência no Ensino Superior (Verbo Educacional, PE – 2014) Graduada em Letras, habilitada em docência de Língua Portuguesa e Língua Inglesa, Literatura e Redação (UniSeb, SP – 2012) Atualmente leciona Português para o ensino fundamental – séries finais.
  • 2. A INTERPRETAÇÃO DE TEXTO COMO FERRAMENTA DE LEITURA DO MUNDO RESUMO Este trabalho tem por objetivo mostrar que a prática da leitura pode mudar nossa percepção de mundo, visto que desde o momento em que começamos a "compreender" as coisas que nos cercam, sempre motivados pelo constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das mesmas, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, vendo uma propaganda, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos damos conta. Através da prática da interpretação de texto pode-se desenvolver outras habilidades no leitor, como a resolução de problemas, concentração, raciocínio e outras. Palavras-chave: leitura; interpretação; textos INTRODUÇÃO Ler não é somente decodificar símbolos, mas é, de fato, interpretar e compreender o que se lê. A leitura só acontece quando o leitor apreende o sentido do texto, quando além dos símbolos o leitor percebe o significado do que aquele conjunto quer dizer. No processo de leitura, é claro, existem requisitos prévios para que o leitor consiga realmente ler: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal
  • 3. do leitor. Para que a leitura seja satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo. Hoje fala-se muito em conhecimento de mundo para realizar uma interpretação textual, e portanto há que se levar em conta o tipo de texto adequado ao leitor, já que a compreensão da leitura depende do caráter subjetivo que essa atividade assume. Para Leonardo Boff (1984, p.23) “cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor.” A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos etc. É por isso que consegue ser tocado pela leitura. O ideal é que o leitor mergulhe no texto e se confunda com ele, em busca de seu sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes (1984, p.21), quando compara o leitor a uma aranha: “[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.”
  • 4. Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac (1996, p.11), "o verbo ler não suporta o imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se. A LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Quando falamos em leitura na escola, logo pensamos na “sala de leitura” ou na biblioteca. Começamos a planejar períodos para que os alunos possam escolher livros, levar para casa, ler e devolver à escola. Assumimos o compromisso, claro, de ouvir esse aluno contar como foi a leitura, o que aprendeu, e quando possível solicitamos um resumo, que é para termos certeza que ele leu e entendeu. Será que que entendeu mesmo? Para Paulo Freire (1994 p.45) muita de nossa insistência, enquanto professores, para que os estudantes “leiam”, num semestre, vários capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. O autor relata ainda, que parece importante, contudo, para se evitar uma compreensão errônea de sua afirmação, sublinhar que a crítica à marginalização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual
  • 5. sem a qual inviabilizaremos a nossa prática enquanto professores e estudantes. Freire (1994 p. 56) descreve: inicialmente parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, com um ato criador. Para mim seria impossível enganjar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Nota-se que a partir desta análise não se pode reduzir a alfabetização ao ensino puro das palavras, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras vazias dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar de ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa que a ajuda do educador deva a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura dessa linguagem. Na prática, o que se observa é que a escola não vem desenvolvendo as atividades de leitura dentro dessa perspectiva ampla. Sendo função básica da escola ensinar a ler e a escrever, ela vem privilegiando a leitura do escrito em detrimento da “leitura do mundo”, que a criança já faz e traz para a escola. Além de negligenciar a importância da interdependência entre essas duas leituras, ela vem em relação à leitura do escrito, enfatizando somente o trabalho de levar a criança a adquirir os mecanismos básicos da grafia que lhe permitem o acesso ao mundo do escrito. Embora seja um aspecto relevante do processo de alfabetização, merecendo atenção especial e sistemática do professor, a leitura não deve restringir-se ao ato mecânico de conhecimento, reprodução de palavras e frases, assim como não deve favorecer uma leitura passiva do texto. COMO DIRECIONAR ATIVIDADES DELEITURA NA ESCOLA
  • 6. Num processo natural de aprendizagem, o aluno pode avançar (muitas vezes com esforço) em seus conhecimentos através das possibilidades que a leitura dos textos, em suas também variadas possibilidades, lhe estarão propiciando. Se o professor sonda, acompanha, propõe diversificados textos e com dificuldades diferentes para o aluno ir ampliando seus horizontes de expectativas não só antes conteúdos, temas, conceitos ou histórias que tais textos veiculam, veriam possibilidades de conhecer diversas maneiras de se interpretar, representar, ou captar o mundo pelas palavras. Aí, a fantasia, o sonho, o fato, o conceito, o som, o ritmo, a imagem… há diversos tipos de textos. Há diversos tipos de leitores; há diversos tipos de leitura… é preciso ler muito, comentar muito… Um trabalho desenvolvido no sentido de formar leitores, de acordo com Yasuda (1991 p. 102), exige avaliação complexa, plural, em longo prazo. Cada texto, cada leitor ou grupo de leitores poderá sugerir pistas de que aspectos e como avaliar. Essa avaliação deve levar em conta, por exemplo, a capacidade do aluno de estabelecer relações entre as conversões próprias dos textos lidos com as de futuras leituras. O aluno poderá perceber, então, como diferentes linguagens podem se relacionar com a obra de arte literária. Principalmente, essa avaliação não pode perder de vista o processo de construção da linguagem do e pelo aluno. A formação de um leitor competente é também a formação de ser sensível, inteligente e aberto para aprendizado constante que se pode fazer com a leitura na escola. E é, portanto, na prática que esse resultado poderá ser construído. REFERÊNCIAS BARTHES, Roland. Escrever a leitura. In: O rumor da língua. Trad. de A. Gonçalves, Lisboa, Edições 70, 1984.
  • 7. BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. 36 ed., Petrópolis: Rio de Janeiro, Vozes, 2000; FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. 26ª Ed. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1994. ______. Pedagogia do oprimido. 14ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983. ______. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários da autonomia. 21ª. São Paulo: Paz e Terra. INEP. Letramento em Leitura. Disponível em <http://www.inep.gov.br/internacional/pisa >. Acesso em: 1º agosto 2013; PENNAC, Daniel. Como um romance. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1996; PCN. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental.Brasília,1997; YASUDA, A. M. B. G.; TEIXEIRA, M. J. C. “A circulação do paradidático no cotidiano escolar”. In: BRANDÃO, H; MICHELETTI, G. Aprender a ensinar com livros didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 1991.