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Três conselhos aos jovens que desejam mudar o mundo
Postado em 13 de Dezembro, 2013.
Autor Peter Boettke
No dia 19 de junho, eu tive a oportunidade fazer u
ma palestra para os membros do programa Koch Assoc
iate, em Washington D.C.. O programa oferece a rec
ém-formados a oportunidade de trabalhar por um ano
na rede dos think-tanks, além de passar por uma s
érie de programas de treinamento desenvolvidos pel
a Koch Foundation. O programa tem obtido um enorme
sucesso.
Minha palestra era sobre como pensar a respeito do
problema da “transição” e sobre como se fazer uma
“análise da transição”. Eu me inspirei basicament
e em minhas experiências na Europa central e orien
tal, e na antiga União Soviética, bem como em trab
alhos mais recentes sobre a economia do desenvolvi
mento em geral (América Latina e África) e também
nos esforços de ‘reconstrução’ após guerras e desa
stres naturais.
Entretanto, antes da minha palestra, eu dei três c
onselhos gerais, direcionados aos jovens de mentes
sérias, inteligentes e impressionáveis que deseja
m mudar o mundo:
1. Não confunda comprometimento com dogmatismo
A ciência, argumentei, progride através do comprom
etimento dos cientistas com as proposições. Essa é
uma afirmação tipicamente polanyiana, mas essenci
al. Muitas pessoas que não estão envolvidas com a
ciência (inclusive os filósofos da ciência) não tê
m idéia alguma sobre como a ciência progride e afi
rmam que seria tudo baseado em subverters-se a si
mesmo. Obviamente, a autocrítica é importante, mas
não é dessa maneira que a ciência progride. A ciê
ncia progride pela pesquisa insistente que alguns
cientistas fazem usando certas idéias, e estes con
frontam a busca insistente de outros cientistas do
mesmo campo. A ciência deve causar dor quanto as
proposições estão erradas. Mas, para algo DOER, a
pessoa a quem as provas mostram estar errada preci
sa ter acreditado sinceramente estar com a razão.
A ousadia de uma conjectura está correlacionada po
sitivamente com o nível de comprometimento que o c
ientista possui com a proposição. Queremos conject
uras corajosas submetidas à refutação, não as frac
as. Isso significa que os cientistas terão opiniõe
s fortes e isso, freqüentemente, é confundido com
o dogmatismo, coisa que não é. Na verdade, como já
escrevi anteriormente, o dogmatismo não é um prob
lema de nível individual, mas um problema de nível
disciplinar. Enquanto houver uma competição abert
a nos campos de pesquisa, o dogmatismo não causará
estragos no avanço científico/intelectual. Eu dir
ia que afirmar o contrário é, na realidade, não co
mpreender como a ciência progride e como os melhor
es cientistas da história humana trabalharam de fa
to. Assim, o dogmatismo sistemático deve sempre se
r rejeitado porque pode matar o progresso científico.
2. Não confunda a falsa humildade com a verdadeira
humildade.
Nesta era pós-moderna, é comum as pessoas afirmare
m que nós não sabemos nada. Eu não sei, você não s
abe, nenhum de nós sabe. E nós somos todos super b
acanas por não sabermos nada! Não, não é legal não
saber nada. Na verdade, é muito ruim não saber ce
rtas coisas. Sentimos uma alegria verdadeira ao co
mpreender as coisas e, se você quiser pensar seria
mente sobre questões importantes, comece por tenta
r compreender as coisas, ao invés de afirmar que n
ão sabe de nada. Além disso, o progresso do conhec
imento pode não ser uma simples passagem linear do
desconhecido para o conhecido, mas também não é u
m tiro no escuro. A expressão é: “quanto mais sabe
mos, mais sabemos que não sabemos”. A esfera do co
nhecimento expande-se, e à medida que o conhecimen
to cresce, a esfera cresce – ou seja, a área do qu
e é conhecido se expande, mas à medida em que a es
fera se expande, a superfície (ou a consciência) d
o desconhecido também cresce. Essa é a humildade q
ue aprendemos a partir do conhecimento científico
e não a falsa humildade segundo a qual nenhum de n
ós sabe nada. Não, a maioria das opiniões sobre as
políticas econômicas está errada e nós sabemos di
sso porque essas opiniões não são baseadas nem na
lógica, nem em provas.
Se pensarmos por um minuto a respeito de nossos pr
oblemas em relação à economia, poderemos ser capaz
es de esclarecer isso. Primeiro, o mundo econômico
que ocupamos é um fenômeno complexo que abrange u
ma intricada rede de interconexões, dependências h
istóricas e está mergulhado, como disse Keynes, na
s “forças obscuras do tempo e da ignorância.” Essa
é a situação econômica em que o ator econômico se
encontra. Mas isso não é um problema para os econ
omistas que, apesar disso, estão estudando os prob
lemas e buscam compreender as estratégias de compe
tição e os mecanismos institucionais que emergem p
ara auxiliar nesse confronto com o tempo e a ignor
ância. Em outras palavras, o conhecimento do econo
mista é diferente do conhecimento do ator econômic
o. Nós, como economistas, temos acesso ao conhecim
ento que atores dentro da economia não têm. Essa é
uma idéia importante, enfatizada por Hayek, mas à
s vezes esquecida pelos subjetivistas extremos. De
fato pode haver uma ciência objetiva voltada para
o estudo das percepções subjetivas das oportunida
des de trocas e produção que visem o lucro – a teo
ria empresarial do processo de mercado. O conhecim
ento da teoria do processo mercadológico não signi
fica que você poderia ser um empresário, quanto ma
is ser alguém que regulasse esses processos. Isso
significa que você consegue compreender a “explica
ção do princípio” que fundamenta a ordem produzida
no processo mercadológico. O conhecimento é doce.
Não vamos azedá-lo.
3. Diga a verdade aos poderosos. Não crie estratégi
as com o poder.
A principal questão para os indivíduos que desejam
mudar o mundo é compreender que o problema não sã
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ra do governo e não quem o governa. Você deve se c
oncentrar na mudança e na busca por regras que ger
em incentivos compatíveis com o “jogo” que você de
seja promover.
Com relação a isso, a utilização de idéias econômi
cas compreensíveis e inofensivas pode torná-lo bas
tante popular no circuito de palestras, mas não lh
e ajudará a mudar o mundo. Mais uma vez, deixe-me
repetir: a ciência deve doer. Além disso, desenvol
ver estratégias para diluir uma mensagem econômica
a fim de que ela seja adotada por aqueles que est
ão no poder também não funciona. Os especialistas
na diluição de idéias econômicas podem atingir alt
os postos políticos, mas não promoverão a verdade
econômica ou política.
Eu disse à platéia que, em minha opinião, os livro
s mais importantes que deveriam ler nesse verão sã
o: Free Markets Under Siege, de Richard Epstein e
Politically Impossible? De W. H. Hutt. Epstein enf
atiza os frutos mais imediatos das políticas públi
cas, dizendo que se nos concentrássemos apenas nos
problemas econômicos mais simples e, ao contrário
dos políticos, os compreendêssemos corretamente,
ajudaríamos milhões de pessoas em todo o mundo – t
arifas mais baixas, impostos menores, a eliminação
de algumas regulamentações, a eliminação dos cont
roles sobre preços e salários etc. Questões fáceis
de ser solucionadas. Existem questões complicadas
nas políticas públicas econômicas; mas em 90% dos
problemas que enfrentamos, são as questões facilm
ente solucionáveis que distorcem tudo e que prejud
icam a vida de tantas pessoas. Pense na crise atua
l dos alimentos e examine o aumento das políticas
protecionistas em todo o mundo, que impedem os gan
hos comerciais de saná-la. Mais uma vez, são quest
ões fáceis de ser solucionadas.
Hutt, por sua vez, enfatiza que é responsabilidade
dos economistas dizer a verdade, como eles a vêem
, aos donos do poder, e nunca abrir mão de sua men
sagem. A razão é que se os economistas diluem suas
mensagens, os políticos as diluirão ainda mais no
processo político e, quando aquela idéia se torna
r uma política verdadeira, será irreconhecível ao
economista. Essa diluição, ao invés de dar voz à e
conomia, a cala completamente, e com o consentimen
to dos próprios economistas. Então, diga a verdade
ao poder e danem-se as conseqüências relacionadas
à sua popularidade no mundo político.
* Publicado originalmente em 10/07/2008.
Peter Boettke é economista da Universidade George
Mason e autor, entre outros livros, de "Living Eco
nomics: Yesterday, Today and Tomorrow"

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  • 1. Três conselhos aos jovens que desejam mudar o mundo Postado em 13 de Dezembro, 2013. Autor Peter Boettke No dia 19 de junho, eu tive a oportunidade fazer u ma palestra para os membros do programa Koch Assoc iate, em Washington D.C.. O programa oferece a rec ém-formados a oportunidade de trabalhar por um ano na rede dos think-tanks, além de passar por uma s érie de programas de treinamento desenvolvidos pel a Koch Foundation. O programa tem obtido um enorme sucesso. Minha palestra era sobre como pensar a respeito do problema da “transição” e sobre como se fazer uma “análise da transição”. Eu me inspirei basicament e em minhas experiências na Europa central e orien tal, e na antiga União Soviética, bem como em trab alhos mais recentes sobre a economia do desenvolvi mento em geral (América Latina e África) e também nos esforços de ‘reconstrução’ após guerras e desa stres naturais. Entretanto, antes da minha palestra, eu dei três c onselhos gerais, direcionados aos jovens de mentes sérias, inteligentes e impressionáveis que deseja m mudar o mundo: 1. Não confunda comprometimento com dogmatismo A ciência, argumentei, progride através do comprom etimento dos cientistas com as proposições. Essa é uma afirmação tipicamente polanyiana, mas essenci al. Muitas pessoas que não estão envolvidas com a ciência (inclusive os filósofos da ciência) não tê m idéia alguma sobre como a ciência progride e afi rmam que seria tudo baseado em subverters-se a si mesmo. Obviamente, a autocrítica é importante, mas não é dessa maneira que a ciência progride. A ciê ncia progride pela pesquisa insistente que alguns cientistas fazem usando certas idéias, e estes con frontam a busca insistente de outros cientistas do mesmo campo. A ciência deve causar dor quanto as proposições estão erradas. Mas, para algo DOER, a pessoa a quem as provas mostram estar errada preci sa ter acreditado sinceramente estar com a razão.
  • 2. A ousadia de uma conjectura está correlacionada po sitivamente com o nível de comprometimento que o c ientista possui com a proposição. Queremos conject uras corajosas submetidas à refutação, não as frac as. Isso significa que os cientistas terão opiniõe s fortes e isso, freqüentemente, é confundido com o dogmatismo, coisa que não é. Na verdade, como já escrevi anteriormente, o dogmatismo não é um prob lema de nível individual, mas um problema de nível disciplinar. Enquanto houver uma competição abert a nos campos de pesquisa, o dogmatismo não causará estragos no avanço científico/intelectual. Eu dir ia que afirmar o contrário é, na realidade, não co mpreender como a ciência progride e como os melhor es cientistas da história humana trabalharam de fa to. Assim, o dogmatismo sistemático deve sempre se r rejeitado porque pode matar o progresso científico. 2. Não confunda a falsa humildade com a verdadeira humildade. Nesta era pós-moderna, é comum as pessoas afirmare m que nós não sabemos nada. Eu não sei, você não s abe, nenhum de nós sabe. E nós somos todos super b acanas por não sabermos nada! Não, não é legal não saber nada. Na verdade, é muito ruim não saber ce rtas coisas. Sentimos uma alegria verdadeira ao co mpreender as coisas e, se você quiser pensar seria mente sobre questões importantes, comece por tenta r compreender as coisas, ao invés de afirmar que n ão sabe de nada. Além disso, o progresso do conhec imento pode não ser uma simples passagem linear do desconhecido para o conhecido, mas também não é u m tiro no escuro. A expressão é: “quanto mais sabe mos, mais sabemos que não sabemos”. A esfera do co nhecimento expande-se, e à medida que o conhecimen to cresce, a esfera cresce – ou seja, a área do qu e é conhecido se expande, mas à medida em que a es fera se expande, a superfície (ou a consciência) d o desconhecido também cresce. Essa é a humildade q ue aprendemos a partir do conhecimento científico e não a falsa humildade segundo a qual nenhum de n ós sabe nada. Não, a maioria das opiniões sobre as políticas econômicas está errada e nós sabemos di
  • 3. sso porque essas opiniões não são baseadas nem na lógica, nem em provas. Se pensarmos por um minuto a respeito de nossos pr oblemas em relação à economia, poderemos ser capaz es de esclarecer isso. Primeiro, o mundo econômico que ocupamos é um fenômeno complexo que abrange u ma intricada rede de interconexões, dependências h istóricas e está mergulhado, como disse Keynes, na s “forças obscuras do tempo e da ignorância.” Essa é a situação econômica em que o ator econômico se encontra. Mas isso não é um problema para os econ omistas que, apesar disso, estão estudando os prob lemas e buscam compreender as estratégias de compe tição e os mecanismos institucionais que emergem p ara auxiliar nesse confronto com o tempo e a ignor ância. Em outras palavras, o conhecimento do econo mista é diferente do conhecimento do ator econômic o. Nós, como economistas, temos acesso ao conhecim ento que atores dentro da economia não têm. Essa é uma idéia importante, enfatizada por Hayek, mas à s vezes esquecida pelos subjetivistas extremos. De fato pode haver uma ciência objetiva voltada para o estudo das percepções subjetivas das oportunida des de trocas e produção que visem o lucro – a teo ria empresarial do processo de mercado. O conhecim ento da teoria do processo mercadológico não signi fica que você poderia ser um empresário, quanto ma is ser alguém que regulasse esses processos. Isso significa que você consegue compreender a “explica ção do princípio” que fundamenta a ordem produzida no processo mercadológico. O conhecimento é doce. Não vamos azedá-lo. 3. Diga a verdade aos poderosos. Não crie estratégi as com o poder. A principal questão para os indivíduos que desejam mudar o mundo é compreender que o problema não sã o os diferentes partidos políticos, mas as diferen tes regras do jogo. O que mais importa é a estrutu ra do governo e não quem o governa. Você deve se c oncentrar na mudança e na busca por regras que ger em incentivos compatíveis com o “jogo” que você de seja promover.
  • 4. Com relação a isso, a utilização de idéias econômi cas compreensíveis e inofensivas pode torná-lo bas tante popular no circuito de palestras, mas não lh e ajudará a mudar o mundo. Mais uma vez, deixe-me repetir: a ciência deve doer. Além disso, desenvol ver estratégias para diluir uma mensagem econômica a fim de que ela seja adotada por aqueles que est ão no poder também não funciona. Os especialistas na diluição de idéias econômicas podem atingir alt os postos políticos, mas não promoverão a verdade econômica ou política. Eu disse à platéia que, em minha opinião, os livro s mais importantes que deveriam ler nesse verão sã o: Free Markets Under Siege, de Richard Epstein e Politically Impossible? De W. H. Hutt. Epstein enf atiza os frutos mais imediatos das políticas públi cas, dizendo que se nos concentrássemos apenas nos problemas econômicos mais simples e, ao contrário dos políticos, os compreendêssemos corretamente, ajudaríamos milhões de pessoas em todo o mundo – t arifas mais baixas, impostos menores, a eliminação de algumas regulamentações, a eliminação dos cont roles sobre preços e salários etc. Questões fáceis de ser solucionadas. Existem questões complicadas nas políticas públicas econômicas; mas em 90% dos problemas que enfrentamos, são as questões facilm ente solucionáveis que distorcem tudo e que prejud icam a vida de tantas pessoas. Pense na crise atua l dos alimentos e examine o aumento das políticas protecionistas em todo o mundo, que impedem os gan hos comerciais de saná-la. Mais uma vez, são quest ões fáceis de ser solucionadas. Hutt, por sua vez, enfatiza que é responsabilidade dos economistas dizer a verdade, como eles a vêem , aos donos do poder, e nunca abrir mão de sua men sagem. A razão é que se os economistas diluem suas mensagens, os políticos as diluirão ainda mais no processo político e, quando aquela idéia se torna r uma política verdadeira, será irreconhecível ao economista. Essa diluição, ao invés de dar voz à e conomia, a cala completamente, e com o consentimen to dos próprios economistas. Então, diga a verdade
  • 5. ao poder e danem-se as conseqüências relacionadas à sua popularidade no mundo político. * Publicado originalmente em 10/07/2008. Peter Boettke é economista da Universidade George Mason e autor, entre outros livros, de "Living Eco nomics: Yesterday, Today and Tomorrow"