Acidente vascular cerebral, como o que atingiu o técnico do Vasco no domingo, mata uma pessoa a cada 12 segundos no mundo. Vários fatores podem contribuir
para o problema e um deles está ligado a arritmias no coração. Novas drogas são armas para evitá-lo
1. Saúde na mídia Brasília, 31 de agosto de 2011
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AVC na era da prevenção
SAÚDE
Esta semana, a forma hemorrágica do AVE atingiu o
técnico do Vasco da Gama, Ricardo Gomes, 46 anos.
Houve um rompimento de um dos vasos sanguíneos
do cérebro, causando uma hemorragia. Nesses casos,
as sequelas, como dificuldades motoras ou na fala, se
dão de acordo com a região afetada, que pode ser em
uma das áreas que compõem o encéfalo - cérebro, ce-
rebelo e tronco. O rápido socorro ao técnico foi fun-
damental para a possibilidade de controle do quadro.
Gomes está sedado, em coma induzido. Esse tipo de
rompimento de vasos representa um sexto dos casos
de AVE em geral.
Fatores genéticos, idade, pressão alta, diabetes, co-
lesterol alto, obesidade, sedentarismo e tabagismo
aumentam as chances de vir a ter a doença. Só o
cigarro eleva os riscos em seis vezes. Ainda não se
sabe a causa do acidente vascular do ex-jogador, mas
ele é hipertenso e fazia controle com medicamentos.
Acidente vascular cerebral, como o que atingiu o téc-
nico do Vasco no domingo, mata uma pessoa a cada Se o abandono do cigarro é um caminho para se evitar
12 segundos no mundo. Vários fatores podem con- um AVC, a arritmia cardíaca é mais difícil de ser evi-
tribuir para o problema e um deles está ligado a ar- tada. A mais comum delas, a fibrilação atrial, cria um
ritmias no coração. Novas drogas são armas para ambiente favorável ao surgimento de coágulos den-
evitá-lo tro do coração. Isso ocorre porque o sangue não cir-
cula como deveria e, ao ficar parado, endurece. Esses
» HUMBERTO SIQUEIRA coágulos saem do coração e podem chegar ao cé-
rebro, entupir um vaso sanguíneo e provocar um
» CRISTIANA ANDRADE acidente vascular. A fibrilação está presente em um
terço dos pacientes com AVC maiores de 60 anos.
Belo Horizonte - Num dia, uma pessoa normal, ati-
va, saudável. No outro, alguém dependente, in- Segundo o neurologista vascular responsável pelo
capacitado de falar, andar e ser, como sempre foi, ambulatório de AVC da Escola Paulista de Medicina
autossuficiente. As transformações na vida daqueles (Unifesp), Alexandre Pieri, os episódios originários
que sobrevivem a um acidente vascular encefálico da fibrilação atrial são mais graves e com maior chan-
(AVE), mais popularmente conhecido como aci- ce de recorrência. "Quando o AVC é originado por fi-
dente vascular cerebral (AVC), são drásticas. Ref- brilação atrial, 75% das vítimas ficam severamente
letem-se em toda a família. A prevenção, como dependentes de cuidados de terceiros, e o custo do tra-
sempre, é o melhor caminho, mas o problema - que tamento é três vezes maior. Por incrível que possa
pode se manifestar na forma hemorrágica ou is- parecer, muitos parentes de vítimas, ao serem en-
quêmica (veja quadro) - ainda mata uma pessoa a ca- trevistados, revelaram que achariam melhor e menos
da 12 segundos no mundo e uma a cada cinco minutos sofrido se a pessoa tivesse morrido", conta. O der-
no Brasil.
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rame é responsável por 40% das aposentadorias Cientes dessas limitações, laboratórios têm investido
precoces no país. em pesquisas para colocar no mercado novas sub-
stâncias, com a proposta de ser mais eficientes.
De acordo com Dalmo Moreira, chefe da Seção Mé- Exemplos disso são o etexilato de dabigatrana, de-
dica de Eletrofisiologia e Arritmia Cardíaca do Ins- senvolvido pelo laboratório Boehringer Ingelheim, e
tituto Dante Pazzanese de Cardiologia e professor da a rivaroxabana, da Bayer Health Care Phar-
Universidade de São Paulo (USP), há 1,5 milhão de maceuticals. Esses princípios ativos vinham sendo
pessoas diagnosticadas com fibrilação atrial no Bra- usados para combater a formação de coágulos depois
sil. Além disso, cerca de 25% dos pacientes não sen- de o paciente ser submetido a cirurgias de joelho e
tem nada e muitos ainda não procuraram um quadril e, após muitos estudos, foi comprovada sua
especialista. Entre os sintomas mais comuns da fi- atuação também para os casos de trombos gerados
brilação atrial estão palpitação, falta de ar, dor no pela fibrilação atrial.
peito, fadiga, desmaio súbito e tontura.
"Viemos do nada para a eparina; depois, saímos dos
"O que pode ser feito em termos de diagnóstico mais medicamentos intravenosos para os subcutâneos; do
simples, para checar se o paciente tem a fibrilação, é paciente internado para a prevenção. Então, temos de
um eletrocardiograma", diz o cardiologista Ricardo avaliar o quão positivos são os novos tratamentos e
Pavanello, supervisor de cardiologia clínica do Hos- quão rápido eles podem inibir uma trombose e um
pital do Coração (Hcor), de São Paulo. Segundo ele, AVC", ponderou o médico Henri Bounameaux, da
um coágulo (trombo) por fibrilação atrial ocorre Faculdade de Medicina de Genebra, na Suíça, du-
quando o sangue não é ejetado corretamente do co- rante encontro de especialistas em trombose, ocor-
ração. "Esse descompasso ocorre no átrio (cavidade rido em junho, em Barcelona.
do coração que recebe o sangue), que normalmente
tem movimentos contínuos. Quando isso não ocorre, Comprovações
o trombo pode ser formado e ficar ali mesmo ou nas
auriculetas, que formam o átrio. A tendência é o coá- Os laboratórios fazem testes em vários países, com
gulo ir para o cérebro, mas pode ir também para um pacientes atendidos em centros de pesquisas co-
dedo ou uma perna", acrescenta Pavanello. nhecidos. No caso da rivaroxabana, as análises fo-
ram aplicadas a mais de 14 mil pacientes em 1,1 mil
Anticoagulantes centros de pesquisa de 45 países e o resultado atingiu
o objetivo de eficácia para a prevenção de AVC. O de-
O tratamento preventivo se dá com remédios an- sempenho da rivaroxabana, na dose de 20 mi-
ticoagulantes. A terapia padrão usada atualmente é à ligramas uma vez ao dia, foi superior ao da terapia
base de varfarina, droga lançada há 50 anos. Embora padrão (varfarina): com a dose ajustada em pacientes
seja até agora um dos tratamentos mais eficazes e portadores de fibrilação atrial, apresentou 21% de di-
aplicados, apresenta limitações. "O paciente não po- minuição do risco de ocorrência de um AVC e de em-
de comer alimentos verde-escuros, há interações bolia sistêmica. No Brasil, nos Estados Unidos e na
com vários medicamentos (alguns inibindo e outros Europa, a rivaroxabana já é usada para evitar trom-
potencializando seu efeito), demanda rigoroso mo- bose venosa profunda nos casos de cirurgias de
nitoramento cardíaco, às vezes a cada três dias, e até quadril e joelho; agora, ela está em fase de au-
da dosagem, pois a eficácia do medicamento num torização para o tratamento preventivo do AVC no
mesmo organismo varia a cada dia", explica Dalmo Brasil, o que deve ser liberado pela Agência Na-
Moreira. Por essas razões, muitas pessoas não se- cional de Vigilância Sanitária (Anvisa )em breve.
guem o tratamento indicado pelo médico.
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No caso da dabigatrana, sua eficácia foi comprovada anticoagulantes. Os demais não usam ou não têm
em um estudo feito em 44 países, envolvendo mais de diagnóstico, ou o médico diagnosticou mas não sabe
18 mil pacientes com fibrilação atrial sob risco de tratar. Somam-se a esses casos aquelas pessoas que
AVC. Eles receberam doses fixas de dabigatrana simplesmente não têm acesso à informação. Por is-
duas vezes ao dia ou, de forma não cega, varfarina em so, acredito que deva haver um programa de edu-
doses ajustadas para não permitir a coagulação. O cação continuada para os especialistas sobre
grupo com dabigatrana teve os riscos de AVC e em- doenças coronárias e também campanhas para a po-
bolia sistêmica reduzidos em 35% e a possibilidade pulação de maneira geral", acrescenta o
de um sangramento potencialmente fatal dentro da cardiologista Ricardo Pavanello, do Hcor. Na opi-
cabeça (tipo mais mortal) diminui 70%. A substância nião do neurologista do Instituto de Reabilitação
da Boehringer foi aprovada pela Anvisa nas do- Lucy Montoro, da USP, Ayrton Roberto Massaro, o
sagens de 110 e 150 miligramas. O medicamento já Brasil tem uma população que está envelhecendo e,
está disponível nas farmácias, a um custo mensal de por isso, o governo deveria adotar campanhas pre-
cerca de R$ 170. O SUS ainda não fornece o me- ventivas. "O Ministério da Saúde começa a pensar
dicamento. nas doenças dos idosos, nos fatores de risco, e a
atuar mais preventivamente. Tratar de coração é fa-
Falta informação lar em prevenção. A população quer viver mais, quer
ter mais qualidade de vida."
Um dos dados que alarmam os especialistas é a falta
de informação entre a população e entre médicos so-
bre a fibrilação atrial e também os riscos do acidente
vascular cerebral. "Entre os pacientes diag-
nosticados com fibrilação atrial, apenas dois tomam
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