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06
Produção de cana-de-açúcar para a
alimentação de bovinos
Mauro Wagner de Oliveira
CECA/UFAL
Christiano Nascif
SENAR-MG
Manoel Gomes Pereira
Thiago Camacho Rodrigues
PDPL/Viçosa-MG
Terezinha Bezerra Albino Oliveira
CECA/UFAL
Rogério Jacinto Gomes
EMATER-MG
Dalmo de Freitas Santos
CECA/UFAL
10.37885/210805744
Alimentos e Alimentação Animal
82
Palavras-chave: Pecuária, Agricultura Familiar, Forragicultura, Sustentabilidade, Cicla-
gem de Nutrientes.
RESUMO
A cana-de-açúcar cultivada na maioria das pequenas propriedades rurais, especial-
mente nas de agricultura familiar, é destinada principalmente aos bovinos, sendo tam-
bém usada para monogástricos e alimentação humana. A facilidade do cultivo, a alta
produção de forragem por unidade de área e manutenção da qualidade bromatológica,
durante os meses mais secos do ano, são algumas características que contribuem para
o grande uso desta gramínea na alimentação de bovinos nas pequenas propriedades
rurais. Em grande parte destas propriedades, o cultivo da cana-de-açúcar é realizado
nas áreas menos férteis e de mecanização mais difícil. Nestas, o corte e o transporte
da cana-de-açúcar demandam grande quantidade de horas de recursos humanos e,
estes constituem isoladamente o item de maior percentual de custo e de desgaste físico
dos agricultores nessa cultura. Em canaviais mais produtivos, o rendimento do corte é
maior e tanto o desgaste do agricultor quanto os custos são proporcionalmente menores.
Neste capítulo, são descritas técnicas gerenciais e agrícolas adotadas pelos autores na
implantação e condução de canaviais de alta produtividade, destinados à alimentação
de bovinos, em pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil. São discutidas
as características bromatológicas da cana-de-açúcar, avaliação da fertilidade do solo,
calagem, gessagem, adubação verde, plantio de variedades mais produtivas, adubação
química, uso de dejetos de bovinos e de cama de aviário na adubação das rebrotas,
avaliação do estado nutricional do canavial, balanço de nutrientes no sistema solo-planta
e produção e qualidade da forragem.
Alimentos e Alimentação Animal
83
INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar tem sido uma forrageira bastante utilizada nas pequenas proprie-
dades rurais do centro-sul do Brasil, principalmente durante os meses mais secos do ano.
Dentre os principais fatores que contribuem para o uso da cana-de-açúcar na alimentação
de bovinos podem-se citar: grande produção de forragem por unidade de área; facilidade
de cultivo, pois quando está madura, mantém sua qualidade bromatológica; tem baixo custo
relativo por unidade de matéria seca produzida; é semi-perene; apresenta maior flexibilida-
de quanto às épocas de plantio e de corte, em comparação com as culturas anuais, o que
facilita o gerenciamento da atividade; podendo ser uma das fontes de energia de menor
custo. Devido a essas características essa forrageira é um volumoso de grande interesse,
tanto para a alimentação de novilhas quanto para vacas de pequena à média produtividade
(OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2021).
Outra característica vantajosa da cana-de-açúcar é ausência de período crítico de
deficiência hídrica tão definido como o do milho, cultura mais utilizada para a produção
de forragem de alto valor bromatológico. A planta do milho é muito sensível ao déficit de
água no solo, principalmente na fase de enchimento de grãos, e, às vezes, os veranicos
que acontecem no centro-sul do Brasil, no final de dezembro - início de janeiro, influenciam
negativamente na produtividade e no valor bromatológico da forragem de milho destinada à
ensilagem, uma vez que o percentual de grãos na massa a ser ensilada será menor. Em anos
que ocorrem déficits hídricos mais acentuados na cultura do milho, a cana-de-açúcar é ain-
da mais utilizada como forrageira substituta na alimentação do rebanho bovino (OLIVEIRA
et al., 2007; SILVA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019).
A forma mais comum de utilizar a cana-de-açúcar na alimentação dos bovinos nas
pequenas propriedades rurais é o corte diário, com posterior picagem e fornecimento aos
animais. O deslocamento até ao canavial, o corte diário e o transporte da cana-de-açúcar
até ao local de picagem, geralmente é feito com carroça à tração animal ou cangalhas, bem
como a distribuição nos cochos de alimentação dos animais demandam grande quantidade
de horas de recursos humanos e estes constituem isoladamente o item de maior percentual
de custo e de desgaste físico dos agricultores que usam a cana como forrageira. Assim, é
necessário um bom planejamento na instalação do canavial de forma a se ter alta produtivi-
dade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subsequentes. Outro item
de grande importância para aumentar o rendimento do trabalhador no corte, e evitar picadas
de animais peçonhentos é manter a cultura da cana-de-açúcar livre de plantas daninhas.
Quando a cultura é mantida livre de plantas daninhas até aos 40 dias após início da rebrota,
o próprio sombreamento da cana-de-açúcar controla a emergência e o desenvolvimento de
plantas invasoras (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). Na Figura 1, é mostrado
Alimentos e Alimentação Animal
84
um contraste entre um canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas
daninhas, e outro de baixa produtividade e controle deficiente de plantas daninhas.
Figura 1. Contraste entre canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas daninhas, e o de baixa
produtividade e controle deficiente de plantas daninhas.
CARACTERÍSTICAS BROMATOLÓGICAS DA CANA-DE-AÇÚCAR
A cana-de-açúcar é constituída basicamente de carboidratos estruturais: celulose,
hemicelulose, pectina e lignina (que compõem a parede celular) e o conteúdo celular (prin-
cipalmente os açúcares e, em menor quantidade, minerais e proteínas). A cana-de-açúcar
quando colhida madura tem altos teores de açúcares e moderado teor de fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN), constituída pela celulose, hemicelulose e lignina. A utilização dos
constituintes da cana-de-açúcar pelos bovinos é contrastante, uma vez que os açúcares
são rapidamente fermentados no rúmen e, consequentemente, de fácil aproveitamento pelo
animal. A pectina mesmo sendo um componente estrutural da parede celular também é de
digestão rápida. Por outro lado, a celulose, a hemicelulose e a lignina têm digestão mais
lenta e dependem totalmente da atividade enzimática dos microrganismos do trato gastroin-
testinal dos ruminantes (VAN SOEST, 1994; COSTA et al., 2004; MEDEIROS et al., 2015;
BORGES et al., 2016).
O teor de FDN da cana-de-açúcar se equipara ao de uma boa silagem de milho,
cerca de 55%, contudo, a digestibilidade da FDN da cana é aproximadamente metade da
Alimentos e Alimentação Animal
85
digestibilidade da FDN da silagem de milho. Para a silagem do milho têm sido relatados
valores de digestibilidade da FDN de 42%, enquanto para a digestibilidade da FDN da cana-
-de-açúcar esses valores são de aproximadamente 23,0% (CORREA et al., 2003). A baixa
digestibilidade da FDN da cana-de-açúcar está relacionada à alta concentração de lignina
e à sua ligação com a hemicelulose e celulose, o que dificulta a ação dos microrganismos
do rúmen sobre estes carboidratos estruturais. Essa baixa digestibilidade da FDN da ca-
na-de-açúcar é um dos fatores que interferem negativamente no desempenho de animais
alimentados exclusivamente com cana (SILVA et al., 2007).
Na Figura 2, é mostrada a partição da matéria natural da cana-de-açúcar. Quando a
cana-de-açúcar está madura os colmos representam, em média, de 83 a 87% da matéria
natural, assim, em uma tonelada de forragem tem-se de 830 a 870 kg de colmos indus-
trializáveis e, de 130 a 170 kg de folhas verdes + folhas secas + ponteiros. Geralmente a
cana-de-açúcar é cortada nos meses mais secos do ano e tem 28 a 33% de matéria seca,
sendo que os carboidratos solúveis, incluindo os açúcares, constituem 40 a 43% desta ma-
téria seca. Por exemplo, considerando uma cana-de-açúcar com 30% de matéria seca: em
100 kg de cana-de-açúcar, têm-se 30 kg de matéria seca e 12,0 a 12,9 kg de carboidratos
solúveis (OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008).
Figura 2. Valores médios da partição da matéria natural da cana-de-açúcar, quando madura.
Conforme mostrado na Figura 2, os colmos industrializáveis são de 83 a 87% da matéria
natural da biomassa aérea da cana-de-açúcar. Desta forma, há grande influência dos colmos
industrializáveis na digestibilidade da biomassa aérea da cana-de-açúcar. A cana-de-açú-
car é uma forrageira que apresenta baixos teores de proteína, variando de 1,5 a 4,4% na
matéria seca (15 a 44 g de proteína bruta por kg de matéria seca), sendo mais comuns, em
canaviais bem nutridos, teores de proteína da ordem de 3%. Uma alternativa para elevar os
teores de proteína bruta da cana-de-açúcar seria aumentar a dose de adubação nitrogenada.
Entretanto, em estudos conduzidos pelos autores deste capítulo, em Mercês-MG, com as
variedades de cana-de-açúcar RB835486, RB855536 e RB867515, verificou-se que, mes-
mo sob alta adubação nitrogenada (300 kg de N ha–1
) e fornecimento adequado dos outros
nutrientes, o teor de proteína bruta da biomassa aérea (colmos industrializáveis + folhas
secas + folhas verdes + ponteiros) destas variedades de cana-de-açúcar aumentou pouco,
Alimentos e Alimentação Animal
86
não ultrapassando a 4,4%. Teores máximos desta mesma ordem de grandeza são citados
por Salas et al. (1992), com doses de adubação nitrogenada também de 300 kg de N ha–1
.
Nussio et al. (2008) ao citarem a composição química de amostras de cana-de-açúcar ana-
lisadas no Laboratório de Bromatologia da ESALQ/USP, relatam valor máximo de 4,43% de
proteína bruta na biomassa aérea da cana-de-açúcar. Tanto nos estudos conduzidos em
Mercês-MG, quanto nos relatados por Salas et al. (1992), a produtividade do canavial é que
foi muito influenciada pelo aumento da adubação nitrogenada.
Outra limitação bromatológica da cana-de-açúcar são os baixos teores de minerais
principalmente fósforo, cálcio e enxofre. Devido a esses baixos teores de proteína e minerais
é necessária a suplementação com minerais e fontes de nitrogênio, sendo usual a utiliza-
ção da mistura de ureia + sulfato de amônio numa relação de 9:1, empregando-se, após
período de adaptação dos animais, 1,0 kg da mistura para cada 100 kg de biomassa aérea
da cana-de-açúcar picada (cana + ureia a 1,0%). A adição de uma fonte de enxofre melho-
ra a síntese de proteína microbiana no rúmen, especialmente os aminoácidos sulfurados
metionina, cistina e cisteína, aumentando o fluxo de proteína microbiana e o suprimento de
aminoácidos no intestino delgado, repercutindo em melhor desempenho animal.
A cana-de-açúcar adicionada de ureia pode ser usada com sucesso na recria, em
vacas não lactantes, em vacas em lactação com menor demanda nutricional e em baixas
inclusões na dieta de vacas de maior produtividade. A complementação da cana com uma
fonte de nitrogênio não proteico, como a ureia, mantém as características de uma dieta de
baixo custo e possibilita a melhora acentuada nos teores de proteína dessa gramínea. Em di-
versos estudos foi constatado que, em função de suas características, alimentos utilizados
na formulação de dietas à base de cana-de-açúcar deveriam ser ricos em proteína não
degradável no rúmen e apresentar amido com baixa degradabilidade ruminal.
A inclusão de fontes de proteína não degradável no rúmen resulta em maior consumo
voluntário de matéria seca, maior digestibilidade da matéria seca e, consequentemente, maior
desempenho animal. O fornecimento de ureia visa atender diretamente à necessidade da
microflora ruminal por nitrogênio, enquanto fontes de proteína não degradável têm a função
de atender às necessidades de proteína do animal. Como suplementação proteica, é comum
a utilização de farelos cujo teor de proteína bruta pode variar de 13%, a exemplo do farelo
de arroz, com 46%, como no caso do farelo de soja (CORREA et al., 2003; NUSSIO et al.,
2008; VALADARES FILHO et al., 2008; BORGES et al., 2016).
PLANEJAMENTO E CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL
Na implantação e condução do canavial nas pequenas propriedades rurais podem-se
utilizar diversas tecnologias, mas as escolhidas e recomendadas são as que maximizam o
Alimentos e Alimentação Animal
87
uso dos insumos, da terra e dos recursos humanos, com consequentes reduções de custos
operacionais e com incrementos na produtividade do sistema de produção, dessa forma,
contribuindo para a preservação do meio ambiente (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2019). Os autores têm orientado os pequenos produtores rurais a adotarem práticas que re-
cuperem e mantenham a fertilidade dos solos, reciclem nutrientes, diminuam a compactação
e o selamento da camada superficial do solo, associadas às outras práticas que permitam
alta produtividade na cana-planta e pequenos decréscimos nos ciclos posteriores (OLIVEIRA
et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018a; OLIVEIRA et al., 2021).
Dentre as práticas recomendadas para a melhoria das propriedades físicas do terreno
está o rompimento das camadas adensadas ou compactadas do solo. Este rompimento ou
descompactação resulta em menor resistência ao aprofundamento do sistema radicular e,
por outro lado, aumenta a condutividade hidráulica e a capacidade de retenção de água no
solo, facilita as trocas gasosas, resultando em maior eficiência na absorção e utilização dos
nutrientes (MARSCHNER, 1995; OLIVEIRA et al., 2019). Como exemplo, cita-se na Tabela
1 os resultados de características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho distroférrico
(“Latossolo Roxo distrófico”), em uma área de solo não compactado, comparativo ao de uma
área compactada. A cana-de-açúcar cultivada no solo compactado apresentava-se com defi-
ciência hídrica apenas três a quatro dias após a ocorrência de chuva (VITTI e MAZZA, 2002).
Observa-se pela análise da Tabela 1 que, embora os valores de densidade tenham se
modificados apenas de 1,0 g cm–3
para 1,17 g cm–3
(17%), a macroporosidade do solo foi
reduzida, de 14% e 24% no solo sem compactação, para 6% e 14% no solo compactado,
respectivamente para as profundidades de 0 a 10 cm e 10 a 30 cm. Para a macroporosidade
a redução foi da ordem de 50%, o que determinou reduções muito semelhantes na água
disponível, uma vez que quantidades de água ao redor de 340 a 400 L/m3
(34 a 40 mm/10
cm de solo) na área sem compactação, reduziram-se para 165 a 256 L/m3
(16,5 a 25,6 mm/
10 cm de solo) no solo compactado (VITTI e MAZZA, 2002).
Tabela 1. Características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho Distroférrico, em áreas de solo compactado ou sem
compactação: alterações na macroporosidade, na capacidade de campo (C.C.), no ponto de murcha permanente (PMP)
e água disponível (A.D.) para a cana-de-açúcar.
Profundidade Densidade % de argila C.C. PMP A.D.
(cm) (g/cm
3
) no solo Macro Micro Total
10 1,00 60 14 48 62 595 251 344
30 0,97 63 24 46 70 683 281 402
10 1,17 61 6 51 57 468 303 165
30 1,12 62 14 46 60 519 263 256
.----------------------------------------------------------------- Solo compactado ---------------------------------------------------.
Porosidade (%)
litros de água/m
3
de solo
.----------------------------------------------------------- Solo sem compactação -----------------------------------------------.
Fonte: Vitti e Mazza (2002).
Alimentos e Alimentação Animal
88
Outro efeito negativo da compactação, além de diminuir a água disponível devido a
redução da macroporosidade, é o aumento da resistência do solo ao desenvolvimento do
sistema radicular da cana-de-açúcar, que repercutirá negativamente tanto na absorção de
água quanto na absorção de nutrientes, conforme citado anteriormente. Dessa forma, a com-
pactação ou adensamento na camada de 0 a 35-40 cm, que é a camada com maior fertilida-
de, interfere negativamente na eficiência de aproveitamento dos nutrientes fornecidos pelos
corretivos e fertilizantes. Vitti e Mazza (2002) ressaltam ainda que o grau de influência da
compactação na produtividade da lavoura apresenta elevada correlação com o ano agrícola,
em função da distribuição das chuvas. Em anos agrícolas com boa distribuição de chuvas,
ocorre redução da resistência oferecida pelo solo ao desenvolvimento do sistema radicular.
Por outro lado, nos anos com distribuição irregular de chuvas, aumenta a dependência da
água disponível, retida a baixas tensões e relacionada à macroporosidade do solo (VITTI e
MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2020).
Há relatos na literatura mostrando alta correlação entre a evapotranspiração e a quan-
tidade de luz interceptada pela planta, bem como entre a evapotranspiração e a fixação do
CO2
atmosférico e com a expansão das células. A pressão de água contra a parede celular
(“pressão de tugor”) é a força que expande as células em crescimento. Boyer (1970), num
estudo clássico com plantas de milho, mostrou que quando o potencial hídrico da folha
diminuiu de -0,30 MPa para -1,0 MPa a fixação do CO2
atmosférico reduziu em 25%. Para
melhor entendimento dessas tensões hídricas podemos citar, comparativamente, a pressão
de calibração de um pneu de automóvel. Quando o pneu é calibrado a 30 libras por polegada
quadrada, esta pressão equivale a 0,21 MPa. A fixação do CO2
atmosférico pelas folhas do
milho no potencial hídrico de -0,30 MPa foi de 50 mg de CO2
/dm2
por hora, valor de mesma
ordem de grandeza dos observados para a cana-de-açúcar, na fase máxima de crescimen-
to, sob suprimento adequado de água, nutrientes, luz e temperatura oscilando em torno de
30°C. Em relação a expansão das células da folha do milho, Boyer (1970) constatou redução
exponencial quando o potencial hídrico da folha diminui de -0,20 MPa para -1,0 MPa, sendo
que no potencial hídrico de -1,0 MPa não houve expansão das células da folha do milho.
Na Figura 3, é mostrada a disponibilidade de água no solo em função da força (tensão)
com que essa água é retida pelas partículas do solo. Os valores apresentados são valores
médios e podem variar em função do tipo de solo e da planta cultivada. A água higroscópi-
ca é aquela fortemente retida nas partículas do solo com uma tensão superior a -3,1 MPa,
sendo removida apenas quando o solo é seco a 105 °C. A água capilar é a retida nos poros
capilares e microcapilares. Nesta faixa de retenção, há dois extremos importantes para as
plantas cultivadas: a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente. A capacidade
de campo é a quantidade máxima de água que um solo pode reter depois que toda a água
Alimentos e Alimentação Animal
89
gravitacional percolou. O ponto de murcha permanente é quando as plantas não conse-
guem absorver mais a água do solo, devido à alta tensão que é retida pelas partículas do
solo. A água gravitacional é retida passageiramente no solo, pois devido a força da gravidade
irá percolar no solo, indo para os lençóis freáticos (MARENCO e LOPES, 2013).
Figura 3. Disponibilidade de água no solo em função da força (tensão) que é retida pelas partículas do solo.
Fonte: Adaptado de Marenco e Lopes (2013).
A redução da macroporosidade causa, além dos malefícios citados anteriormente,
grande alteração na difusão de gases no solo e, em caso de compactação severa, pratica-
mente não há ar entre as partículas do solo, prevalecendo então condições de anaerobio-
se, extremamente prejudiciais ao crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar e à
absorção de nutrientes (DEMATTÊ, 2020). Nessas condições de deficiência de oxigênio no
sistema radicular, a síntese de fitohormônios como a citocinina e giberelina também diminui.
Marschner (1995) relata estudo no qual foi avaliado a influência da pressão parcial de oxigê-
nio no entorno das raízes de plantas de cevada, sobre a absorção do fósforo e do potássio.
Foi considerado como 100% o valor de absorção de fósforo e potássio na pressão parcial
de oxigênio de 20,0%. Verificaram-se reduções na absorção do P e do K de 25% e 44%,
respectivamente, quando a pressão parcial de oxigênio reduziu para 5,0%. Estas reduções
na absorção do P e do K foram ainda maiores na pressão parcial de oxigênio de 0,5%: 63%
para o fósforo e 70% para o potássio.
Geralmente, há camadas adensadas ou compactadas em áreas de implantação de
canavial com histórico de muito trânsito de máquinas e implementos agrícolas ou nas áreas
anteriormente sob pastagens. Estas camadas adensadas ou compactadas precisam ser
rompidas. Às vezes o pequeno produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior
Alimentos e Alimentação Animal
90
potência, com o subsolador, assim quando não for possível a subsolagem, recomenda-se
uma aração mais profunda do terreno, com arado de disco, por ocasião do preparo do solo.
Na Tabela 2, estão citados os principais itens de custos para a implantação de um
hectare de cana-de-açúcar na região centro-sul do Brasil. Os itens listados referem-se ao
plantio de “cana-de-ano e meio”, precedida pelo cultivo de crotalária juncea. Contudo, como
será discutido mais à frente, em algumas situações o pequeno produtor rural talvez tenha
que fazer o plantio da “cana de ano”. Na atualidade, o custo médio de implantação de 1,0
hectare de canavial oscila ao redor de R$7.000,00, sendo os itens de maior dispêndio as
mudas de cana, os fertilizantes e os corretivos de acidez do solo, que juntos totalizam cerca
de 55% dos custos da implantação do canavial.
Tabela 2. Principais itens de custos para a implantação de um hectare de cana-de-açúcar sugerido pelos autores para
pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil.
(R$) (R$) %
A)  Consumo
Calcário t
Gesso t
Semente de crotalária juncea kg/ha
Adubos kg
Mudas de cana t
Inseticida químico L ou kg
Herbicidas L ou kg
Formicida L ou kg
Inseticida biológico L
Subtotal (A)
B)   Serviço
Aluguel da terra ha
Análise de solos amostra
Aração h/m
Semeadura da crotalária juncea h/m
Incorporação da crotalária ao solo
Sulcagem para o plantio da cana h/m
Aplicação do adubo no sulco de plantio h/m ou d/H
Distribuição e picagem das mudas d/H
Aplicação de inseticida sobre as mudas h/h ou d/H
Cobertura das mudas h/m ou d/H
Aplicação de herbicidas h/m ou d/H
Aplicação de formicida d/H
Aplicação do inseticida d/H
Subtotal (B)
Custo Total de Implantação do canavial (A+B)
Item de custo
Unidade
1
Preço Unitário Quantidade Preço Total Participação
1
- t: tonelada, kg/ha: quilogramas por hectare, L: Litros, kg: Quilograma, h/m: horas máquina, d/H: dias trabalho por homem,
amostra: valor do serviço para análise química do solo.
A área a ser plantada com a cana-de-açúcar irá depender da produtividade esperada
e da demanda de forragem do produtor. Na Tabela 3, é apresentada uma simulação da
produtividade do canavial em 14 cenários, que combinam altas e médias produtividades
no ciclo de cana-planta, associadas aos baixos, médios ou aos altos decréscimos de pro-
dutividade ao longo de sete ciclos (sete cortes). Pela análise desta tabela, observa-se que,
para alimentar um rebanho equivalente a 25 animais adultos, durante 365 dias, consumindo
20 kg de matéria natural por animal/dia, são necessários 1,63 hectare de um canavial que
apresenta alta produtividade na cana-planta e cerca de 10% de decréscimo nos ciclos sub-
sequentes (Cenário 1).
Alimentos e Alimentação Animal
91
Tabela 3. Simulação de área de um canavial necessário para alimentar o equivalente a 25 animais adultos, consumindo
20 kg de matéria natural por animal/dia e alimentados durante 365 dias por ano, em função da produtividade da cana-
planta e estabilidade de produção em sete cortes.
Área do Área
Cenários Decréscimo de 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º Média Canavial (%)
produtividade (ha)*
(%)
1 10,0 150 135 122 109 98 89 80 112 1,63 100
2 15,0 150 128 108 92 78 67 57 97 1,88 115
3 10,0 120 108 97 87 79 71 64 89 2,04 125
4 15,0 120 102 87 74 63 53 45 78 2,35 144
5 17,5 120 99 82 67 56 46 38 72 2,52 154
6 20,0 120 96 77 61 49 39 31 68 2,69 165
7 10,0 110 99 89 80 72 65 58 82 2,23 137
8 15,0 110 94 79 68 57 49 41 71 2,56 157
9 17,5 110 91 75 62 51 42 35 66 2,75 169
10 20,0 110 88 70 56 45 36 29 62 2,94 180
11 10,0 100 90 81 73 66 59 53 75 2,45 150
12 15,0 100 85 72 61 52 44 38 65 2,82 173
13 17,5 100 83 68 56 46 38 32 60 3,02 185
14 20,0 100 80 64 51 41 33 26 56 3,23 198
.---------------------- Cortes ---------------------.
.---------------- t de matéria natural por ha-------------.
Por outro lado, para um canavial de produtividade média na cana-planta e alto de-
créscimo nos ciclos subsequentes (Cenário 14) são necessários cerca de 3,3 hectares de
cana. Em canaviais com produtividade média inferior a 60 toneladas de matéria natural por
hectare, cerca de 50 t de colmos industrializáveis, pois, além de diminuir o rendimento da terra
e da mão-de-obra, o controle químico de plantas daninhas geralmente é pouco eficiente, uma
vez que a cultura não sombreia totalmente o solo, permitindo a emergência e o crescimento
de plantas invasoras. Então, por ocasião do corte manual desta cana, o trabalhador estará
mais exposto a picadas de cobras e escorpiões, conforme citado anteriormente.
ESCOLHA DA VARIEDADE DE CANA-DE-AÇÚCAR
A escolha correta da variedade é uma tecnologia muito importante e de baixo custo para
o produtor. Atualmente, dispõem-se de vários cultivares de cana com boas características
agronômicas e zootécnicas, tais como: alta resposta à melhoria da fertilidade do solo; cres-
cimento ereto e resistência ao tombamento, o que facilita a colheita; alta produtividade de
colmos e de sacarose; vigor das rebrotas; resistência às pragas e doenças; e, boa digestibili-
dade da matéria seca (MACEDO JÚNIOR et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES
FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2019). Na Tabela 4, são apresentadas algumas carac-
terísticas de sete variedades de cana-de-açúcar cultivadas no centro-sul do Brasil.
Alimentos e Alimentação Animal
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Tabela 4. Características agroindustriais, morfológicas e de tolerância às doenças, de sete variedades de cana-de-açúcar
cultivadas no centro-sul do Brasil.
RB835054 RB855536 RB867515 RB928064 RB975201 SP80-1816 SP80-3280
Produtividade
1
Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta
Maturação Precoce Média Média Tardia Tardia Média Média
Sacarose
2
Alto Alto Alto Médio Médio Alto Alto
Colheita
3
Abr-Nov Jun-Nov Jun-Set Set-Nov Ago - Nov Jun-Set Jun-Set
Solos
4
Média Média Baixa Alta Média Média Média
Rebrotas
5
Boa Excelente Boa Boa Boa Excelente Boa
Perfilhamento
6
Médio Excelente Médio Muito bom Médio Muito bom Muito bom
Tombamento
7
Frequente Pouco Pouco Pouco Frequente Pouco Raro
Despalha
8
Fácil Média Fácil Média Fácil Média Fácil
Joçal
9
Não Não Não Sim Não Sim Não
Florescimento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Ausente Presente
Chochamento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Pouco Sim
Sens. Herbic.
10
Alta Média Baixa Baixa Baixa Média Média
Carvão
11
Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Interm. Interm.
Ferrugem
11
Suscep. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist.
Estr. Verm.
11
Resist. Interm. Suscep. Resist. Interm. Resist. Resist.
Escaldadura
11
Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist.
Característica
------------------------------------------------Variedade --------------------------------------------------------
1
Produtividade: Produção, por hectare, de colmos industrializáveis e de biomassa (Alta, Média ou Baixa).
2
Sacarose: Teor de sacarose.
3
Colheita: Meses recomendados para a colheita da cana destinada à produção de açúcar mascavo e rapadura.
4
Solos: Exigência em fertilidade de solos (Alta, Média ou Baixa).
5
Rebrotas: vigor da brotação das rebrotas sob condições de pisoteio por máquinas ou veículos a tração animal. 6
Perfilhamento:
refere-se a velocidade de crescimento e sombreamento do solo minimizando a mato-competição. 7
Tombamento dos colmos: está
relacionado ao hábito de crescimento da planta o qual varia de ereto a decumbente; mesmo os cultivares de colmos eretos podem
vir a tombar em condições de elevada produtividade.
8
Despalha: Despalha das folhas secas ou aderência da bainha ao colmo.
9
Joçal: Presença ou não de joçal.
10
Sens. Herbic.; Sensibilidade a alguns herbicidas.
11
Doenças da parte aérea das plantas. Estr. Verm.: Estrias vermelhas. Resist.:Resistente; Interm.: Intermediária; Suscep.: Susceptível.
Fontes: Silveira, L. C. I. Informação pessoal, Oliveira et al. (2019).
Os autores deste capítulo têm recomendado aos pequenos produtores o plantio de
duas ou três variedades, bem adaptadas à região e ao sistema de produção adotado pelo
produtor, sempre implementando medidas para manter ou elevar a fertilidade do solo, bem
como realizar o corte da variedade de cana na época mais indicada. Definidas as varieda-
des a serem plantadas, é necessário certificar-se da qualidade das mudas, devendo ser
escolhidas preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, com idade
variando entre 8 e 10 meses, de primeiro ou no máximo segundo corte. É importante também
confirmar a sanidade da muda quanto a doenças, pragas e mistura de outros cultivares.
Das variedades citadas na Tabela 4, a RB855536, a RB867515 e a SP801816, junta-
mente com a RB835486, têm sido as mais estudadas na alimentação de bovinos. Alguns
produtores têm preferência pela SP801816 devido ao fato desta variedade tombar muito
pouco, mas a SP801816 se mantém ereta devido ao maior teor de lignina e ao maior per-
centual de casca em relação os colmos, uma vez que na maioria das lavouras, mesmo nas
mais nutridas, esta variedade tem colmos finos. A RB835486 é a variedade que apresentou
Alimentos e Alimentação Animal
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isoladamente, na quase totalidade dos estudos (RODRIGUES et al., 2001; MELO et al.,
2006; BONOMO et al., 2009), a maior digestibilidade da matéria seca e da fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN). Contudo, com muita frequência, nos canaviais mais produtivos, esta
variedade tomba, dificultando o corte manual. Como citado inicialmente, o corte manual da
cana-de-açúcar é uma das atividades mais onerosas e desgastantes no uso desta forrageira
para a alimentação animal. Além disso, a RB835486 é susceptível à ferrugem, devendo-se
evitar o plantio de cana de ano e o corte tardio, depois de agosto. Por esses motivos, a
RB855536 e a RB867515 têm sido as variedades mais recomendadas pelos autores para
o plantio em pequenas propriedades, visando a alimentação de bovinos.
Na Figura 4, é mostrada a taxa de acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro
variedades de cana-de-açúcar: RB835486, RB855536, RB8675115 e SP801816. O estudo,
conduzido em blocos ao acaso com cinco repetições, foi instalado em solo de textura média,
no município de Mercês, MG, com coordenadas -21,260232 de latitude, longitude - 43,298827
e altitude de 503 m. O solo tinha sido corrigido anteriormente com a aplicação de 6,0 t de
calcário dolomítico e 3,0 t de gesso agrícola por hectare, seguindo-se recomendações des-
critas por Oliveira et al. (2007) e Raij (2011b).
Em agosto do ano anterior ao plantio da cana-de-açúcar, foram coletadas amostras de
solo e verificou-se saturação por bases na camada de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm, respectiva-
mente, de 72% e 46%. Os teores de fósforo e de potássio na camada de 0 a 20 cm foram,
respectivamente, de 17 e 73 mg dm–3
. No início de outubro, logo após as primeiras chuvas,
o solo foi arado e gradeado e, posteriormente, semeou-se a crotalária juncea. No início de
fevereiro, quando a crotalária estava na fase de grãos farináceos, mas ainda sem viabilida-
de para germinação, incorporou-se a leguminosa ao solo com grade aradora. O acúmulo
de matéria seca na parte aérea da crotalária juncea oscilou em torno de 15 t ha–1
e o de
nitrogênio foi da ordem de 300 kg por hectare. Cerca de dez dias após a incorporação da
crotalária juncea, sulcou-se o solo e plantou-se a cana-de-açúcar. A adubação química,
constituída apenas de fósforo, foi aplicada no fundo do sulco de plantio, na dose de 100 kg
de fósforo por hectare (o equivalente a 229 kg de P2
O5
por hectare). O controle de plantas
daninhas foi químico, usando herbicida pré-emergente. No início de outubro, logo após
as primeiras chuvas, aplicou-se na entrelinha da cana-de-açúcar 200 kg de potássio por
hectare (o equivalente a 240 kg de K2
O por hectare). A adubação potássica foi aplicada em
setembro, apenas para favorecer o fluxo de caixa, uma vez que o cloreto de potássio pode
ser aplicado em cobertura, devido a sua alta solubilidade.
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94
Figura 4. Acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em
julho do ano subsequente. Estudo conduzido no município de Mercês, Zona da Mata Mineira.
0
10
20
30
40
50
60
F M A S D F A J
t
de
matéria
seca
por
hectare
RB867515 RB855536 SP801816 RB835486
As avaliações do acúmulo de matéria seca foram realizadas nos meses de abril, se-
tembro e dezembro do ano de plantio da cana-de-açúcar e, em fevereiro, abril e julho do
ano subsequente. Como mostrado na figura 4, a RB8555536 e a RB867515 produziram
cerca de 5 t de matéria seca a mais que RB835486 e a SP801816, o que corresponde a
aproximadamente 15 t de forragem por hectare. O percentual médio de colmos na forragem
dessas variedades foi de 85%, logo a RB8555536 e a RB857515 produziram 12 t de colmos
industrializáveis a mais que as outras duas variedades.
Outras variáveis, além da produtividade, têm sido consideradas na escolha das va-
riedades de cana-de-açúcar destinadas à alimentação de bovinos. Uma delas é a relação
entre a fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e a sacarose aparente no caldo dos col-
mos industrializáveis e, esta variável, é um indicador da qualidade bromatológica. No setor
sucroalcooleiro a sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis é designada
incorretamente de “Pol”. Conforme citado anteriormente, a FDN é constituída pela celulose,
hemicelulose e lignina. Assim, desconsiderando a pectina, molécula que une as células
vegetais, é solúvel no detergente neutro e tem alta digestibilidade no rúmen, a FDN é uma
medida da massa da parede celular das plantas em relação aos demais constituintes da cé-
lula. Outra variável muito utilizada na avaliação da qualidade bromatológica da cana-de-açú-
car é a relação entre FDN e os sólidos solúveis dos colmos industrializáveis, designado de
“Brix”. Brix (símbolo °Bx) é uma escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis
em uma solução açucarada. Esta escala é uma homenagem ao matemático e engenheiro
alemão Adolf Ferdinand Wenceslaus Brix (1798-1870), que a propôs.
Nas avaliações a seguir utilizaremos a expressão “Brix” e “sacarose aparente” para
nos referirmos, respectivamente, a concentração de sólidos solúveis e a concentração de
sacarose no caldo dos colmos industrializáveis da cana. A sacarose é aparente, porque na
análise realizada por polarimetria alguns compostos orgânicos presentes no caldo da cana
Alimentos e Alimentação Animal
95
podem desviar a luz polarizada no mesmo ângulo que a sacarose. Contudo, quando a análise
é realizada até 72 horas após o corte da cana, os resultados da análise do caldo da cana
por polarimetria tem acima de 95% de concordância com os determinados por cromatogra-
fia líquida de alta eficiência (“HPLC”, em inglês), o método é referência, mas de alto custo
analítico. Na Tabela 5 estão apresentados os teores de FDN, FDA, Brix, sacarose aparente
e relações FDN/ Brix e FDN/sacarose aparente das quatro variedades de cana-de-açúcar,
citadas na figura 4, no estudo conduzido em Mercês, MG.
Tabela 5. Teores de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) na matéria
seca da parte aérea, teores de sólidos solúveis (Brix) e sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis (Sac. Apar.)
das quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em julho do ano subsequente, no estudo conduzido
no município de Mercês, Zona da Mata Mineira.
.-- FDN --. .-- FDA --. Brix Sac. Apar. Pureza
RB835486 42,69 a 26,75 a 22,50 a 20,46 a 90,97 b 1,90 a 2,09 a
RB855536 46,28 a 29,01 a 22,41 a 20,30 a 90,60 b 2,07 a 2,28 b
RB867515 46,82 a 29,31 a 22,39 a 20,04 a 89,49 a 2,09 a 2,34 b
SP801816 53,56 b 33,31 b 22,38 a 20,15 a 90,05 a 2,39 b 2,66 c
Média geral 47,34 29,59 22,42 20,24 90,28 2,11 2,34
C.V. (%) 6,22 8,27 2,91 2,80 1,20 6,53 6,34
Variedade FDN/Brix FDN/Sac. Apar.
.-- % na MS cana --. .-- % no caldo dos colmos --.
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%.
Observa-se que a variedade SP801816 teve maior teor de FDN e FDA que as RB835486,
RB855536 e RB867515. Em relação ao Brix e a sacarose aparente no caldo, não houve
diferença entre as variedades, sendo que todas apresentaram alta concentração de Brix e
sacarose aparente, indicativo que estavam maduras. A pureza do caldo, valor percentual da
sacarose aparente em relação ao total de sólidos solúveis (sacarose aparente/Brix x 100),
situou-se acima de 90%, havendo diferença estatística entre as variedades, devido ao baixo
coeficiente de variação (1,20%), mas para a alimentação animal estas diferenças na pureza
do caldo podem ser desconsideradas.
A relação FDN/sacarose aparente da RB835486 foi a menor das quatro variedades,
reforçando resultados de estudo conduzidos por Rodrigues et al. (2001), Melo et al. (2006)
e Bonomo et al. (2009) nos quais a RB835486 se destacou isoladamente das demais va-
riedades quanto a menor relação FDN/ sacarose aparente. A relação FDN/sacarose apa-
rente expressa qual é a massa da parede celular de toda a forragem em relação a massa
de sacarose dos colmos industrializáveis, assim, quanto menor essa relação mais energia
facilmente digestível o animal consumirá. Além disso, há correlação negativa entre o teor
de FDN da forragem da cana-de-açúcar e consumo de forragem pelo bovino. Maior teor
de FDN na variedade de cana-de-açúcar resulta também em maior tempo de retenção da
Alimentos e Alimentação Animal
96
forragem no rúmen (maior tempo de passagem), menor ingestão de novos alimentos e,
consequentemente, menor produtividade animal.
Nos estudos conduzidos por Rodrigues et al. (2001), foi observado que a relação FDN/
sacarose aparente correlacionou-se negativamente (r= -0,85) com a digestibilidade in vitro da
matéria seca da parte aérea de 18 variedades de cana-de-açúcar, colhidas aos 12 meses de
idade. Thiago (2008) também observou que a digestibilidade in vitro da matéria seca da parte
aérea apresentou relação inversa com a FDN/sacarose aparente e FDN/Brix, tendo obtido
coeficiente de correlação de -0,6755 e -0,6940, respectivamente, ambos com significância a
0,1%. Na escolha de variedades com maior valor bromatológico, caso diversas variedades
de cana-de-açúcar apresentem relação FDN/Brix semelhantes, deve-se optar pelas varie-
dades com menor FDN. Assim, das variedades apresentadas na Tabela 4, a RB835486, a
RB855536 e a RB867515 seriam as escolhidas, lembrando, contudo, que a RB835486 tem
menor potencial produtivo, maior tombamento e susceptibilidade a doenças foliares.
IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL
Nas pequenas propriedades do centro-sul do Brasil os plantios de cana-de-açúcar, sem
irrigação, são realizados basicamente em duas épocas: início do período chuvoso (setembro
a outubro) e final do período chuvoso: fevereiro a março. O canavial implantado no início
do período chuvoso poderá ser colhido a partir de abril-maio do ano seguinte e, por isto, é
designado de “cana de ano”, mas, para o plantio de fevereiro a março a colheita ocorrerá
cerca de 15 a 18 meses após, sendo conhecida como “cana de ano e meio” (OLIVEIRA
et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021).
Os autores têm recomendado o plantio de “cana de ano” em solos mais férteis, de re-
levos mais suaves e menos erosivos, pois, há chuvas muito intensas nesse período. Devido
a cana-de-açúcar iniciar a fase de crescimento máximo a partir de janeiro, quando começa
a diminuir a disponibilidade hídrica e térmica, o suprimento de nutrientes não deverá ser um
fator limitante ao desenvolvimento da planta, para que possam ser obtidas produtividades
de biomassa superiores a 120 t de matéria natural por hectare. Entretanto, o plantio de
“cana de ano e meio” tem sido recomendado para os solos de relevos mais acidentados e
de menor fertilidade, uma vez que a cana permanecerá crescendo no campo por mais tem-
po e a fase de crescimento máximo, como mostrado na Figura 4, coincide com as épocas
de maior disponibilidade hídrica e luminosa, o que resulta tanto em maior recobrimento do
solo pela folhagem da cana-de-açúcar, quanto em maior taxa fotossintética e acúmulo de
matéria seca. Outras duas grandes vantagens do plantio da “cana de ano e meio” são, a
possibilidade do cultivo de crotalária juncea antecedendo ao plantio da cana e a obtenção
Alimentos e Alimentação Animal
97
de mudas pelo sistema do Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente, designado
de MEIOSI (OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021).
AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO, CALAGEM E GESSAGEM
A cana-de-açúcar, por produzir grande quantidade de massa, extrai e acumula, con-
sequentemente, grande quantidade de nutrientes do solo. Em avaliações realizadas pelos
autores em pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, verificou-se que para uma
produção de 120 toneladas de forragem por hectare, cerca de 100 t de colmos industriali-
záveis, o acúmulo de nutrientes na parte aérea da planta é da ordem de 150, 40, 180, 90,
50 e 40 kg de N, P, K, Ca, Mg e enxofre, respectivamente. No caso dos micronutrientes:
ferro, manganês, zinco, cobre e boro, os acúmulos na biomassa da parte aérea, também
para uma produção de 120 t, são por volta de 8,0; 3,0; 0,6; 0,4; e, 0,3 kg, respectivamente.
Devido a essa alta remoção de nutrientes, deve-se conhecer a capacidade de forne-
cimento de nutrientes pelo solo para, se necessário, complementá-la com adubações e, se
constatada a presença de elementos em níveis tóxicos, reduzir sua concentração pela cala-
gem e gessagem. Normalmente, avaliam-se a disponibilidade de nutrientes e a presença de
elementos em níveis tóxicos no solo pela análise química da camada arável, sendo também
de grande valia o histórico da área, sobretudo as adubações realizadas e, se houve ou não,
ocorrência de sintomas de deficiência ou de toxidez nos cultivos anteriores (OLIVEIRA et al.,
2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2019).
Usualmente, coletam-se amostras de solo das camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm de
profundidade. Os resultados da análise da camada de 0 a 20 cm têm sido utilizados para
calcular a adubação e a calagem e, os da camada de 20 a 40 cm, para os cálculos da ne-
cessidade de gessagem. Devido as áreas serem pequenas, os autores deste capítulo têm
orientado aos produtores a coletarem as amostras de solo usando cavadeira e pá reta, pois,
o uso da pá reta diminui a variabilidade dos índices de fertilidade do solo. Mais detalhes
sobre os procedimentos de amostragem, variabilidade amostral, secagem de amostras e
comparação entre extratores químicos podem ser obtidos em Oliveira et al. (2018b).
Os solos da região centro-sul são, em sua grande maioria, naturalmente ácidos, apre-
sentando baixa saturação por cátions básicos, como cálcio, magnésio e potássio. A defi-
ciência desses cátions básicos, associada aos altos teores de alumínio, ferro e manganês,
tem sido prejudicial ao crescimento do sistema radicular e, consequentemente, de toda a
cana-de-açúcar (OLIVEIRA et al., 2007). Por esses motivos, a calagem e a gessagem são
importantes práticas usualmente recomendadas pelos autores. Vários materiais têm sido
usados como corretivos da acidez de solos, sendo os mais empregados os calcários do-
lomíticos, porém, usam-se também os calcários calcíticos, magnesianos e os silicatos de
Alimentos e Alimentação Animal
98
cálcio e magnésio, designados de escórias de siderurgias. Nessas escórias, o teor de óxido
de magnésio oscila em torno de 8%, enquanto os calcários calcíticos possuem teores de
MgO inferiores a 5%, os magnesianos entre 6 e 12% e os dolomíticos acima de 12%. A efi-
ciência desses produtos na correção da acidez do solo depende, dentre outros fatores, da
sua granulometria, da distribuição uniforme no campo e da disponibilidade hídrica do solo
(OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2018a).
O método de análise de solo que utiliza o acetato de cálcio para a determinação do H+
+
Al+3
é muito usado no centro-sul do Brasil. Esse extrator subestima demasiadamente a
quantidade de H+
+ Al+3
, resultando em subestimativa da capacidade de troca catiônica a
pH 7,0 e, consequentemente, da dose de calcário a ser a aplicada (ERNANI e ALMEIDA,
1986; KAMINSKI et al. 2002; OLIVEIRA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2018a). Por esses
motivos, os autores têm recomendado elevar de 1,5 a 2,0 vezes a quantidade de calcário a
ser aplicado. Para a cana-de-açúcar cultivada nas pequenas propriedades, a recomenda-
ção é elevar a saturação por bases (V) a 60%. Raij (2011 b) cita seis estudos conduzidos
com cana-de-açúcar nos quais foram comparadas as doses recomendadas de calcário e
gesso com as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica. O preço do
calcário e do gesso equivaleu-se ao de 2,0 t de colmos industrializáveis, valor relativo muito
alto para calcário e o gesso. O resultado econômico, apresentado na Tabela 6, foi altamen-
te lucrativo para todos os casos, quando se compara as doses recomendadas de calcário
e gesso e as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica, reforçando
que as recomendações oficiais de calagem e gessagem estão subestimadas. Para alcançar
a produtividade máxima, as doses de calcário e de gesso devem ser duas vezes maiores
que as recomendadas (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2008; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al.,
2018a). A quantidade de calcário (QC) a ser usada, quando se emprega o método de satu-
ração por base, é calculada pela seguinte expressão (Eq.1):
QC (t ha–1
) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT (Eq. 1) , sendo V = saturação por bases atual do
solo; T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0; e PRNT = poder relativo de neutralização
total do corretivo utilizado.
Alimentos e Alimentação Animal
99
Tabela 6. Doses de calcário e de gesso calculadas com bases nas recomendações oficiais, comparativamente às doses
que permitiram alcançar a produtividade máxima econômica, considerando uma relação de troca de 2,0 t de colmos
industrializáveis para cada tonelada de calcário ou de gesso.
Tipo de PRNT do Dose de Dose de Aumento de produção Custo do calcário e
solo calcário calcário
1
gesso
1
Calcário Gesso em quatro anos do gesso
3
(%)
LVE 63 2,5 1,0 4,0 2,0 76 12
LVA 77 5,3 1,4 10,0 6,0 72 32
LR 73 4,1 0,0 0,0 0,0 12 0
LVA 69 1,6 0,0 3,0 4,0 44 14
LVA 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13
LVE 52 9,8 3,5 10,0 10,0 76 40
Dose adequada
2
.----------------- t por hectare ----------------. .- t de colmos industrializáveis por hectare -.
1
Dose de calcário e de gesso baseada nas recomendações oficiais; 2
Dose de calcário e de gesso para alcançar
a produtividade máxima; 3
Incluindo os custos de compra, transporte e aplicação.
Fonte: Raij (2008).
Em relação ao tipo de calcário, recomenda-se o dolomítico quando o teor de magné-
sio na camada de 0 a 20 cm for inferior a 0,40 cmolc
/dm3
de solo (OLIVEIRA et al., 2007;
OLIVEIRA et al., 2018a). No entanto, se o teor de magnésio na camada de 0 a 20 cm for
maior que 0,40 cmolc
/dm3
de solo, a orientação é para utilizar aquele corretivo que tenha o
menor preço por tonelada de PRNT na lavoura. Dessa forma, inclui-se um fator econômico
na tomada de decisão quanto ao tipo de calcário a ser empregado. Quanto ao gesso, seu
uso tem sido recomendado com base nos resultados da análise química da camada de
20 a 40 cm. O gesso tem sido aplicado quando os teores de cálcio são menores que 0,40
cmolc
/dm3
de solo ou a saturação por alumínio (m%) é maior que 20%. A dose usualmente
recomendada é de um terço da dose de calcário. Um exemplo: supondo-se que a quan-
tidade de calcário a ser aplicada é de 4,5 t/hectare, então a dose de gesso será de 1,5 t/
hectare. O calcário e o gesso são misturados para posterior aplicação ao solo. A aplicação
de gesso levará à melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável, efeito que
perdura por vários anos, por esse motivo não é necessária a reaplicação anual do gesso
(OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al., 2018a).
Quando o pequeno produtor rural tiver dificuldade para adquirir o gesso deve-se optar
pela aplicação do superfosfato simples como fonte de fósforo, uma vez que esse fertilizante
contém sulfato de cálcio. Em pesquisa conduzida por Morelli et al. (1992), estudou-se do-
ses de calcário e gesso, em cana-de-açúcar cultivada em solos de textura média e baixa
capacidade de troca catiônica, tendo-se constatado muito boa relação entre os teores de
cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular. Aos 27 meses após o início do estudo,
verificou-se no tratamento que recebeu a aplicação de 2,8 t de gesso por hectare a maior
produção de biomassa e de colmos industrializáveis. Pela análise do solo constatou-se re-
lação entre o cálcio trocável e o sistema radicular da cana: a 150 cm de profundidade o Ca+2
era de 0,60 cmolc
/dm3
e a massa de raízes de 1,1 g/ dm3
. Diversos autores têm relatado que,
em condições de baixa disponibilidade de cálcio no solo, as raízes da cana concentram-se
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100
na camada de 0 a 30 cm de profundidade; entretanto, no estudo conduzido por Morelli et al.
(1992), citados na Tabela 7, cerca de 50% da massa do sistema radicular encontrava-se
na camada de 51 a 150 cm.
Tabela 7. Teores de cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar, em solo que recebeu aplicação
de calcário e de gesso.
Camada Cálcio trocável Massa de raíz
(cm) .--- (cmolcdm
-3
) ---. .----- (g dm
-3
) ----.
0 a 25 2,10 4,4 29,93
26 a 50 1,37 3,0 20,41
51 a 75 0,90 2,4 16,33
76 a 100 0,82 2,0 13,61
101 a 125 0,70 1,8 12,24
126 a 150 0,60 1,1 7,48
% do sistema
radicular
Fonte: Adaptado de Morelli et al. (1992).
Nas pequenas propriedades, geralmente a distribuição da mistura calcário + gesso
é manual. Um método recomendado para esses pequenos produtores tem sido demarcar,
um quadrado ou retângulo com a própria mistura de calcário + gesso e, nessa área, aplicar
um volume correspondente à dose recomendada. Por exemplo: supondo-se que a dose re-
comendada tenha sido de 6.000 kg (4.500 kg de calcário + 1.500 kg de gesso, por hectare)
e a densidade da mistura calcário + gesso seja de 1,25 kg/L, então devem ser aplicados
4.800 L da mistura por hectare ou 0,48 L da mistura/m2
. Uma das opções para o pequeno
produtor distribuir manualmente o calcário + gesso, seria demarcar, com a própria mistura,
áreas de 25 m2
e, nelas, aplicar 12,0 L de calcário + gesso. Após a aplicação do calcário
+ gesso, geralmente faz-se uma aração e uma gradagem para a incorporação dos produ-
tos ao solo. Na grande maioria das pequenas propriedades rurais, tem-se recomendado a
subsolagem, para a descompactação dos solos ou rompimento de camadas compactadas,
após aração e gradagem (Figura 5).
Figura 5. Subsolador utilizado para romper camadas compactadas do solo em uma área destinada ao plantio da cana-
de-açúcar. A subsolagem foi realizada após a incorporação do calcário e do gesso.
Alimentos e Alimentação Animal
101
A recomendação de subsolagem é com base no histórico de uso da área, no trânsito
de máquinas, de implementos e de animais, na observação visual de presença de crostas
na superfície do terreno, presença de ervas indicadoras e sistema radicular superficial da
vegetação natural. Embora possa ser um ônus a mais para o pequeno produtor, a presen-
ça de camadas adensadas ou compactadas tem consequências maléficas na absorção de
água, nutrição mineral, no desenvolvimento da lavoura e na longevidade do canavial (VITTI
e MAZZA, 2022; OLIVEIRA et al, 2019). Conforme citado anteriormente, às vezes o pequeno
produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior potência, com o subsolador, assim
quando não for possível a subsolagem, recomenda-se uma aração mais profunda do terreno,
com arado de disco, por ocasião do preparo do solo.
Os teores de cálcio e de magnésio do solo diminuem ao longo dos ciclos da cana-
-de-açúcar, tanto pela remoção de bases pelas colheitas da cana quanto pela acidificação
causada pelos adubos nitrogenados. Os autores deste capítulo têm recomendado realizar
a calagem nas áreas de rebrota quando se constatar saturação por bases inferior a 50%
na camada de 0 a 20 cm. A aplicação do corretivo deverá ser em área total, procedendo
posteriormente uma leve incorporação do corretivo na entrelinha da cana-de-açúcar usando
grade ou uma capinadeira à tração animal.
ADUBAÇÃO VERDE EM ÁREAS DE PLANTIO DE “CANA DE ANO
MEIO”
No item “Implantação do canavial”, foi comentado que uma das vantagens do plantio da
“cana de ano e meio” é a possibilidade de uma adubação verde antecedendo ao plantio da
cana-de-açúcar. Dentre as principais características desejáveis de uma planta a ser utilizada
como adubo verde podem-se destacar: possibilidade de mecanização desde a semeadura
até a colheita de sementes; capacidade de se associar às bactérias fixadoras do nitrogênio
do ar atmosférico; crescimento rápido para controlar plantas daninhas; possuir mecanismos,
ou sintetizar compostos, que auxiliem no controle de pragas como, por exemplo, nematoides
e doenças; ausência de sementes dormentes; sistema radicular vigoroso e profundo que
auxilie na reciclagem de nutrientes das camadas mais profundas e na descompactação dos
solos, pois o uso intensivo do solo com práticas convencionais, como a excessiva mecani-
zação, tem reduzido a matéria orgânica e causado compactação desses solos (OLIVEIRA
et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al.; 2021).
Outro aspecto a ser considerado é o fornecimento de substrato orgânico e mineral para
os micro-organismos do solo, assim, a adubação verde também contribui para a melhoria da
qualidade biológica do terreno. Diversas leguminosas possuem essas características, mas, de
modo geral, há preferência pela crotalária juncea na região centro-sul do Brasil. Em estudos
Alimentos e Alimentação Animal
102
conduzidos pelos autores deste capítulo, na região da zona da Mata Mineira, a adubação
verde com crotalária juncea, antecedendo ao plantio da “cana de ano e meio”, resultou em
aumento de produção nos ciclos de cana-planta e primeira rebrota, que, somados, oscila-
ram de 23 a 31 t de forragem por hectare. Numa análise de vários anos, os custos dessa
adubação verde variaram, em preços equivalentes, de 7,5 a 14 t de forragem por hectare,
assim, o aumento de produtividade cobriu com folga os custos do cultivo da leguminosa.
Deve-se considerar ainda que, há estudos em que o aumento de produtividade da cana-de-
-açúcar devido a adubação verde com crotalária juncea foi maior: Mascarenhas et al. (1994),
em estudos conduzidos por vários anos em Sales Oliveira, estado de São Paulo, relatam
aumentos de produtividade de forragem variando em 32 a 50 t por hectare. Mais detalhes
sobre a adubação verde podem ser obtidos em Oliveira et al. (2021).
SULCAGEM, ADUBAÇÃO E PLANTIO DA CANA-DE-AÇÚCAR
A sulcagem do solo para o plantio da cana-de-açúcar é realizada após a aração e gra-
dagem do terreno para a incorporação do calcário e do gesso ou, depois da incorporação da
crotalária juncea, no caso do plantio da “cana de ano e meio”. Normalmente essa sulcagem
é realizada com sulcadores-adubadores que abrem o sulco e simultaneamente adubam.
Quando não se dispõem desse implemento, pode-se empregar o arado de aivecas ou de dis-
cos, utilizando apenas um disco, sulcando-se sempre que possível em nível. Uma alternativa
para o pequeno produtor rural é a sulcagem com arado a tração animal e, se for necessário,
faz-se manualmente um acerto no sulco usando enxada valetadeira. A sulcagem deverá ser
realizada o mais próximo possível da distribuição das mudas e do plantio, para conservar a
umidade do solo, em dias secos ou evitar o assoreamento dos sulcos, em dias chuvosos.
O espaçamento entre sulcos tem oscilado de 0,90 a 1,40 m, variando em função
da distância entre os pneus da carroça ou do implemento que transitará na lavoura, da
topografia, da fertilidade do solo e do tipo de cultivo. Em áreas mais férteis são adotados
espaçamentos mais largos para evitar que a cana afine e futuramente possa tombar com
os ventos. Entretanto, em solos de menor fertilidade e menos adubados, mais inclinados ou
quando são utilizados cultivares de menor capacidade de perfilhamento, devem-se adotar
espaçamentos mais estreitos para permitir melhor distribuição espacial das plantas, cobertura
mais uniforme do solo e aumento de produtividade (OLIVEIRA et al., 2019).
Os principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração
de macronutrientes nesses fertilizantes, estão listados na Tabela 8. Infelizmente, ainda se
expressam os valores de concentração de fósforo e de potássio dos fertilizantes em P2
O5
e
K2
O, um resquício da química do século 19, quando ainda se incineram os materiais para
a análise química.
Alimentos e Alimentação Animal
103
Tabela 8. Principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração de macronutrientes nesses
fertilizantes.
N P K Ca Mg S
Ureia 45,0 ------- ------- ------- ------- --------
Sulfato de amônio 21,0 ------- ------- ------- ------- 23,0
Nitrato de cálcio 13 a 15 ------- ------- 17 a 19 ------- --------
Nitrato de amônio 34,0 ------- ------- ------- ------- -------
Superfosfato simples ------- 7,8 a 9,2 18 a 20 ------- 12,0
Superfosfato triplo ------- 18,3 a 20,9 ------- 8 a 10 ------- 1 a 2
Fosfato monoamônio (MAP) 9 a 11 21,8 a 23,6 ------- ------- ------- --------
Fosfato diamônio (DAP) 16 a 18 18,3 a 20,0 ------- 20 a 22 ------- --------
Termosfosfato Yoorin ------- 7,8 a 8,7 ------- ------- --------
Cloreto de potássio ------- ------- 50 a 51 ------- ------- --------
Sulfato de potássio ------- ------- 41 a 43 ------- ------- 17 a 18
Adubo
-------------- Concentração de Nutrientes (%) ----------------
Nos adubos fosfatados citados na tabela, o fósforo está na forma de H3
PO4
porque a ro-
cha fosfatada, geralmente a hidroxiapatita [(Ca10
(OH)2
(PO4
)6
] ou a fluorapatita [(Ca10
F2
(PO4
)6
]
são solubilizadas com ácidos (sulfúrico ou fosfórico), originando o H3
PO4
e alguns outros
produtos, dentre eles o gesso agrícola. Para transformar os valores de P e K, citados na
Tabela 8, em P2
O5
e K2
O, é necessário multiplicar por 2,29 e 1,2, respectivamente.
Para a cana-planta recomendam-se apenas adubação fosfatada e potássica, pois,
em estudos conduzidos pelos autores do capítulo, constatou-se ausência de resposta da
cana à adubação nitrogenada. Essa baixa ou ausente resposta da cana-planta à adubação
é generalizada para os solos cultivados com cana-de-açúcar no Brasil (OLIVEIRA et al.,
2007). A ausência de resposta da cana-planta à adubação nitrogenada deve-se à mine-
ralização da matéria orgânica do solo e à maior eficiência nutricional do sistema radicular
da cana-planta, comparativamente às rebrotas (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2018a). Em relação à mineralização da matéria orgânica do solo, pode-se recorrer aos es-
tudos conduzidos nos tabuleiros costeiros de Pernambuco, nordeste do Brasil, por Salcedo
et al. (1985) para reforçar essa afirmação. Salcedo e colaboradores quantificaram a minera-
lização do carbono e do nitrogênio em um Podzólico vermelho-amarelo, latossólico arenoso,
ao longo do ciclo da cana-planta, amostrando o solo antes do plantio e, aos 3, 6, 11 e 16
meses após, nas profundidades de 0 a 20; 20 a 40 e de 40 a 60 cm.
Os teores de carbono total foram de 6,7; 4,1 e 3,4 g kg–1
, enquanto que, para o N total,
obtiveram-se valores de 0,7; 0,4 e 0,3 g kg–1
. Foi constatado que, as quantidades estimadas
do N potencialmente mineralizável foram de 139 e 132 kg por hectare, para as profundidades
de 0 a 20 e 20 a 60 cm respectivamente, com uma constante de mineralização de 0,074 por
semana. Salcedo et al. (1985) citam ainda que, apesar do solo estudado ser considerado de
baixa fertilidade, pelos resultados obtidos, pode-se afirmar que as quantidades de N orgânico
mineralizado seriam suficientes para satisfazer as necessidades da cana-planta.
Alimentos e Alimentação Animal
104
A absorção e o metabolismo do nitrogênio são muito influenciados pela disponibili-
dade endógena de fósforo (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al.,
2018). Em plantas com suprimento adequado de P ocorre aumento na absorção do nitrato
da solução do solo; há maior translocação de nitrato das raízes para a parte aérea, aumen-
tando o acúmulo de aminoácidos em folhas e raízes (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al.,
2007). Oliveira et al. (2007) citam pesquisas conduzidas no estado de Minas Gerais, nas
quais verificaram-se que o aumento da dose de adubação fosfatada, aplicada no sulco de
plantio, repercutiu em maiores acúmulos de N na biomassa da parte aérea da cana-planta,
tendo-se observado que, para cada quilograma de P aplicado, houve aumento de cerca de
um quilograma de N nessa biomassa. Esses resultados são decorrentes dos efeitos das
alterações causadas na absorção e no metabolismo do N, conforme citado por Rufty et al.
(1990) e Oliveira et al. (2018a).
Diferentemente da cana-planta, há alta resposta das rebrotas a adubação nitrogenada.
Assim, é necessário adubar as rebrotas com nitrogênio, podendo-se adotar o critério de adu-
bação de restituição do nitrogênio removido pela colheita da cana. Nos estudos conduzidos
pelos autores, os teores de proteína bruta de canaviais bem nutridos têm oscilado de 2,6 a
3,2% (26 a 32 g de proteína bruta por kg de matéria seca). Em média a proteína bruta tem
16% de nitrogênio, assim a remoção de N pela colheita da parte aérea da cana-de-açúcar
oscila de 4,16 a 5,12 g de N por kg de matéria seca de forragem. Supondo que uma rebrota
tenha produtividade de 135 t de forragem por hectare, com 30% de matéria seca, então ha-
verá remoção de nitrogênio variando de 168 a 207 kg de N por hectare. Nesse caso, poderia
ser recomendada adubação nitrogenada variando de 170 a 210 kg de N por hectare. Se a
fonte do adubo nitrogenado for ureia, há necessidade de enterrio no solo, para evitar perdas
por volatilização. Para fontes amoniacais ou nítricas, não há necessidade de incorporação
ao solo ou enterrio.
A recomendação de adubação fosfatada e potássica para a cana-planta é baseada
nos resultados da análise de solo, na camada de 0 a 20 cm, e na expectativa de produti-
vidade do canavial (Tabelas 9 a 13). A maior dose de fósforo deve ser aplicada no fundo
do sulco de plantio. Essa aplicação, a uma profundidade maior, aumenta a absorção do
nutriente pela cana, uma vez que a disponibilidade hídrica da subsuperfície varia menos
que na superfície. A mobilidade do fósforo no solo é pequena e sua difusão é influenciada
por diversos fatores, com destaque para: precipitação por cátions como o ferro, alumínio e
cálcio; conteúdo volumétrico de água no solo; adsorção do fósforo pelos coloides do solo;
complexidade da estrutura do meio; compactação do solo; distância a percorrer até atingir
as raízes e o teor do elemento no solo (NOVAIS e SMITH, 1999).
Alimentos e Alimentação Animal
105
Tabela 9. Classes de fertilidade do solo considerando os teores de argila, o fósforo e o potássio extraídos com Mehlich.
Baixo Médio Alto
0 a 150 Menor que 20 20 a 30 Acima de 30
150 a 350 Menor que 15 15 a 20 Acima de 20
350 a 600 Menor que 10 10 a 15 Acima de 15
600 a 1.000 Menor que 5 5 a 10 Acima de 10
Baixo Médio Alto
Menor que 40 41 a 90 Acima de 90
Teor de argila
(g kg
-1
)
Classificação do Fósforo Disponível
.------------- mg dm
-3
---------------.
Classificação do Potássio Disponível
.------------- mg dm
-3
---------------.
Em geral, são registrados valores muito baixos de transporte de fósforo, devido a sua
forte interação com os coloides do solo, principalmente em solos muito intemperizados e,
segundo Novais e Smith (1999), pode-se estimar que o transporte é em média de 0,013mm
por dia. Se houve aplicação de gesso no solo deve-se optar pelo uso de superfosfato triplo,
para diminuir os custos de implantação do canavial, uma vez que o kg de fósforo originário
do superfosfato triplo é mais barato que o do superfosfato simples.
Tabela 10. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído
com Mehlich e na expectativa de produção de forragem (matéria natural).
Baixa Média Alta
Menos de 100 80 ------- -------
100 a 150 90 70 50
150 a 180 100 80 60
Maior que 180 120 90 70
Expectativa de Produção de Forragem no
Ciclo de Cana-Planta (t ha
-1
)
Classe de Fertilidade do Solo
.---- Dose de P (kg ha
-1
)* -----.
* Para transformar P em P2
O5
, multiplica-se o valor desejado por 2,29.
O fósforo aplicado por ocasião do plantio da cana assegura, na maioria das vezes,
suprimento adequado do elemento para a cana-planta e para a primeira rebrota, devendo-
-se utilizar formulações contendo P na adubação das rebrotas posteriores. Antecedendo
a adubação fosfatada das rebrotas, deve-se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm, e,
caso a saturação por bases (V) seja inferior a 50%, recomenda-se, primeiramente, realizar
uma calagem para elevar V para 60%. A ausência de alumínio trocável na solução do solo
aumenta a eficiência da adubação fosfatada, especialmente por não haver formação de fos-
fato de alumínio, tanto no solo quanto dentro das raízes das plantas, uma vez que o fosfato
de alumínio é um composto de baixa solubilidade. Caso a saturação por bases seja maior
que 50% e o teor de P, extraído com Melhich, seja menor que 10 mg dm–3
, recomenda-se
a adubação fosfatada da rebrota.
Alimentos e Alimentação Animal
106
Tabela 11. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído
com resina de troca iônica e na expectativa de produção de forragem (matéria natural).
0 a 6 7 a 17 16 a 40 > 40
Menos de 100 80 44 30 20
100 a 150 90 55 40 26
Mais de 150 100 66 45 35
Expectativa de Produção de Forragem
no Ciclo de Cana-Planta (t ha
-1
)
Fósforo Extraído (mg dm
-3
)
.-------- Dose de P (kg ha
-1
)* ------.
Para transformar P em P2
O5
, multiplica-se o valor desejado por 2,29.
Fonte: adaptado de Raij (1997).
A dose de fósforo utilizada na adubação das rebrotas pode ser baseada na restituição
do P removido pela colheita; nesse caso, para cada t de matéria natural devem-se aplicar de
200 a 300 g de P. Caso, por exemplo, a produção de forragem (matéria natural) da rebrota
tenha sido de 135 t por hectare, devem ser aplicados de 27 a 40 kg de P por hectare. O adubo
fosfatado deverá ser aplicado juntamente com o N e o K. A adubação N-P-K das rebrotas
poderá ser realizada simultaneamente com a operação de cultivo da entrelinha. Em pequenas
propriedades, a sulcagem da entrelinha da cana com arado de tração animal para posterior
adubação tem apresentado bons resultados. O adubo N-P-K é aplicado no sulco aberto na
entrelinha da cana e, posteriormente, coberto com terra, usando-se novamente implemento
de tração animal.
A adubação potássica da cana é realizada no plantio e após cada corte da cana, devido
ao fato de o potássio se deslocar no perfil do solo. Essa adubação se baseia nos resultados
da análise de solo da camada de 0 a 20 cm e na produtividade que se deseja obter. Nas
Tabelas 12 e 13, são apresentadas as recomendações para adubação potássica da cana-
-planta e das rebrotas, tendo como extrator o Melhich ou a resina de troca iônica.
Tabela 12. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído
com Mehlich e na expectativa de produção de matéria natural.
Baixa Média Alta
Menos de 90 120 ------ -------
90 a 120 140 120 120
120 a 150 160 140 140
150 a 180 180 160 160
Mais de 180 200 180 180
Expectativa de Produção de Forragem no
Ciclo da Cana-Planta (t ha
-1
)
Classe de Fertilidade do Solo
.---- Dose de K (kg ha
-1
)* -----.
* Para transformar K em K2
O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
Fonte: Oliveira et al. (2007).
Alimentos e Alimentação Animal
107
Tabela 13. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído
com resina de troca iônica e na produtividade esperada.
0 a 0,7 0,8 a 1,5 1,6 a 3,0 3,1 a 6,0 > 6,0
Menos de 100 120 100 60 60 0
100 a 150 160 140 100 80 0
Mais de 150 200 160 120 100 0
Expectativa de Produção de Forragem
no Ciclo da Cana-Planta (t ha
-1
)
K Extraído com Resina (mmolc dm
-3
)
.-------------- Dose de K (kg ha
-1
)* --------------.
* Para transformar K em K2
O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
Fonte: adaptado de Raij, 1997.
A dose de K a ser aplicada nas rebrotas pode-se basear na restituição do potássio re-
movido pela colheita, à semelhança do sugerido para as adubações nitrogenada e fosfatada.
Esse método foi adotado pelos autores e tem sido recomendado com excelentes resultados
agronômicos e financeiros. Embora a absorção e a remoção de potássio variem entre os
cultivares de cana-de-açúcar, pode-se considerar que para cada t de forragem colhida (ma-
téria natural) há, em média, uma remoção de l,5 kg de potássio. Não há necessidade de se
parcelar o potássio utilizado nas adubações das rebrotas, devido às possíveis perdas por
lixiviação (OLIVEIRA et al., 2007). Nos estudos conduzidos pelos autores do capítulo, não
foram verificadas perdas de K por lixiviação, resultados confirmados por Sampaio e Salcedo
(1991) que também observaram que as perdas de K, por percolação abaixo de 100 cm de
profundidade, foram de 9,0 kg ha–1
, totalmente compensados pelo aporte de K provindos da
água da chuva, 18 kg por ha.
Em relação ao plantio da cana, recomenda-se densidade de gemas oscilando de 12
a 15 gemas por metro de sulco, gastando-se em média de 12 a 14 t de mudas por hectare.
Conforme citado anteriormente, as mudas de cana-de-açúcar devem ser de boa qualidade,
escolhendo-se preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, de
primeiro ou, no máximo, segundo corte. É importante também confirmar a sanidade da muda
quanto às doenças, pragas e mistura de outros cultivares. A disposição das canas dentro do
sulco deve, preferencialmente, ser orientada no sentido de pé com ponta cruzado com um
colmo ao lado do outro. Em seguida, picam-se os colmos em toletes de duas ou três gemas,
os quais são, posteriormente, cobertos com camada de terra variando de 5,0 a 8,0 cm, não
devendo ser superior a 10 cm de espessura. Normalmente, a prática cultural que sucede ao
plantio da cana-de-açúcar é a aplicação de herbicidas para o controle de plantas daninhas.
CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS
As plantas daninhas competem com a cultura da cana-de-açúcar, durante a fase
de crescimento, por água, luz, nutrientes, podendo exsudar compostos de ação fitotóxica
Alimentos e Alimentação Animal
108
(alelopatia) e hospedar pragas e doenças (SOUZA, 1985; PROCÓPIO et al., 2003, OLIVEIRA
et al., 2007). A cana-de-açúcar apresenta metabolismo C4
, o que a torna relativamente mais
competitiva na assimilação do CO2
atmosférico e no uso de nutrientes, porém diversas plantas
daninhas são da mesma família da cana e, portanto, apresentam o mesmo metabolismo.
Por ocasião da colheita, a presença de plantas daninhas continua a causar prejuízos, pois,
quando o corte da cana é realizado manualmente e sem a queima prévia, a presença de
mato diminui o rendimento do trabalhador e o torna mais vulnerável às picadas de cobras
e escorpiões. A longevidade do canavial, também, diminui quando não se realiza um con-
trole eficiente das plantas daninhas. Mantendo-se a cultura livre de matocompetição até o
fechamento das entrelinhas, o sombreamento do solo assegura, na maioria das vezes, uma
colheita da cana sem a presença de plantas daninhas.
Há várias formas de se controlar as plantas daninhas, entretanto, as associações mais
comuns são de métodos culturais, com os mecânicos e os químicos (PROCÓPIO et al.,
2003, OLIVEIRA et al., 2007). Os métodos culturais são práticas que visam tornar a cultura
da cana mais competitiva em relação às plantas daninhas e englobam a redução de espa-
çamentos de plantio; cultivos intercalares ou rotação de cultura com soja, amendoim, milho
e adubos verdes; e, o uso de variedades de alto perfilhamento que sombreiam o solo mais
rapidamente (PROCÓPIO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2007). Em pesquisas conduzidas
pelos autores deste capítulo, em áreas densamente infestadas com capim marmelada,
a semeadura de crotalária juncea por ocasião da reforma do canavial teve grande efeito
supressor, devido ao sombreamento causado no capim, reduzindo o número de sementes
produzidas pela gramínea.
O método químico tem sido o mais utilizado pelos pequenos produtores (Figura 6),
havendo no mercado herbicidas que são utilizados na pré-emergência do mato ou na pós-
-emergência, com as plantas daninhas em estágios iniciais ou muito desenvolvidas.
Alimentos e Alimentação Animal
109
Figura 6. O uso de herbicidas que mantém a cultura livre de matocompetição até o fechamento das entrelinhas, o que
assegura, na maioria das vezes, uma colheita da cana-de-açúcar sem a presença de plantas daninhas.
No controle mecânico utilizam-se arados e grades por ocasião da reforma do canavial
e este método é de grande eficiência, dependendo da umidade do solo, da radiação solar e
das espécies predominantes na área. Para o controle de mato na entrelinha da cana podem
ser usados cultivadores à tração animal. A capina manual, outrora utilizada como principal
método de controle, hoje se restringiu a catação e pequenas áreas. O cultivo mecânico
apresenta limitações especialmente por não controlar o mato da linha da cana e, mesmo
para o mato da entrelinha, sua eficiência pode ser grandemente diminuída, dependendo das
condições climáticas e das plantas infestantes, como algumas do gênero brachiaria, que se
multiplicam de forma vegetativa.
A seguir são descritas considerações sobre alguns herbicidas utilizados na cultura da
cana-de-açúcar e, na Tabela 14, consta o nome comercial de alguns desses herbicidas.
Ametryne: Recomendado para a fase pré ou pós-emergência inicial em aplicação iso-
lada ou em misturas com outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, clomazone, MSMA
e outros). Esse herbicida causa pequena toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. O período
efetivo de controle ou efeito residual é cerca de 70 a 100 dias. É eficaz no controle de capim
colchão (Digitaria horizontalis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de
galinha (Eleusine indica), beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão
preto (Bidens pilosa) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens
têm variado de 3,0 a 5,0 litros por hectare. As doses menores são para solos mais leves
ou aplicação em solo úmido, indicando-se as doses maiores para solos pesados ou aplica-
ção em solos secos.
Alimentos e Alimentação Animal
110
Tabela 14. Principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar e épocas de aplicação em relação à emergência
das plantas daninhas.
Mecanismo de ação Época de aplicação Herbicida (Marca comercial)
Oxyfluorfen Pré ou pós-emergência Goal
Sulfentrazona Pré-emergência Boral e Solara
Ametrina Pré ou pós-emergência Ametrina, Gesapax, Herbipax e Metrimex
Atrazina Pré ou pós-emergência Atrazinax, Gesaprim, Atrazina Nortox
Atrazina + Simazina Pré ou pós-emergência Extrazin, Triamex, Primatop e Herbimix
Diuron Pré ou pós-emergência Karmex, Diuron Nortox
Ametrina + Diuron Pré ou pós-emergência Ametron
Hexazinone + Diuron Pré ou pós-emergência Velpar K e Advance
Metribuzin Pré ou pós-emergência Sencor
Simazina Pré-emergência Gesatop
Tebuthiuron Pré-emergência Combine, Tebuthiuron
Alachor Pré-emergência Laço
Pendimethalin Pré-emergência Herbadox
Trifluralin Pré-emergência Trifluralina Nortox, Treflan e Premerlin
MSMA Pós- emergência Daconate, Dessecan
Flazasulfuron Pré ou pós-emergência Katana
Glifosato Pós- emergência Glifosato, Roundup, Trop
Halosulfurona Pós- emergência Sempra
Imazapic Pré ou pós-emergência Plateau
Imazapyr Pré ou pós-emergência Arsenal, Contain e Chopper
Trifloxysulfuron +ametrina Pós- emergência Krismar
Clomazone Pré-emergência Gamit
Isoxaflutole Pré-emergência Provence
Clomazone + Ametrina Pré-emergência Sinerge, Ranger
2,4 D Pré ou pós-emergência DMA
Dicamba Pré ou pós-emergência Banvel 480
Picloran + 2,4 D Pré ou pós-emergência Dontor
Destruidores de membrana
Inibidores de mitose e crescimento inicial
Inibidores da respiração
Inibidores da síntese de aminoácidos
Inibidores da síntese de pigmentos
Reguladores de crescimento
Inibidores de fotossíntese
2,4-D: Recomendado para aplicação em pós-emergência, misturado ou não com outros
herbicidas (Diuron, MSMA, tebuthiuron, ametryne e outros). O período efetivo de controle é
cerca de 25 a 40 dias. É eficaz somente no controle de dicotiledôneas. As dosagens variam
de 0,8 a 1,5 litro por hectare.
Diuron: Recomendado em pré ou em pós-emergência inicial do mato em aplicação
isolada ou em misturas com outros herbicidas (2,4-D, tebuthiuron, MSMA e outros). Apresenta
efeito residual de 150 a 180 dias. É eficaz no controle de capim colchão (Digitaria horizon-
talis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de galinha (Eleusine indica),
beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão preto (Bidens pilosa) e
carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens têm variado de 1,8 L/ha
(Diuron 500) a 3,2 L/ha (Karmex GRDA).
Em condições de muita umidade. Tem amplo espectro de controle e efeito residual de
90 a 120 dias. Para o Advance e o Velpar K as doses têm variado de 2,2 a 2,8 e, 1,5 a 2,7
kg/ha, respectivamente.
Alimentos e Alimentação Animal
111
MSMA: Recomendado em pós-emergência tardia do mato em jato dirigido. Causa
elevada toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. Tem sido muito utilizado em misturas com
outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, ametryne, Velpar K e outros). É eficaz no con-
trole de diversas gramíneas anuais e perenes, bem como da tiririca quando esta apresenta
cerca de 4 a 8 folhas. Para o MSMA 790, recomendam-se doses variando de 0,5 a 0,87 L/ha.
Tebuthiuron. Recomendado em pré-emergência, inclusive para aplicação em solo
seco. Em pós-emergência não há eficiência do produto. Sua persistência no solo é grande,
com efeito residual entre 12 a 15 meses. Não deve ser utilizado nas áreas que se pretende
reformar o canavial e realizar rotação de cultura com soja, amendoim e feijão. Apresenta
elevado espectro de controle, sendo eficiente para controle de diversas dicotiledôneas e
gramíneas, exceto o capim-colchão (Digitaria horizontalis).
Diuron + Hexazinone: São comercializados com os nomes de Advance e Velpar K. O
Advance é mais usado em cana-planta e o Velpar K nas rebrotas, sendo aplicados em pré
ou em pós-emergência inicial, em solo com umidade. Esses herbicidas causar toxicidade à
cultura, especialmente em solos arenosos.
ADUBAÇÃO DAS REBROTAS COM DEJETO DE BOVINOS OU CAMA
DE AVIÁRIO
Os dejetos de bovino e a cama de aviário são os resíduos orgânicos mais utilizadas na
adubação da cana-de-açúcar, nas pequenas propriedades rurais. A utilização desses adubos
orgânicos é uma forma de diminuir os custos de produção, reciclar nutrientes e melhorar as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A eficiência dos dejetos de bovino e a
cama de aviário na nutrição mineral da cana-de-açúcar depende da composição química
do dejeto, da quantidade aplicada e de fatores ambientais, especialmente da temperatura e
da umidade. A análise química dos dejetos de bovinos permite calcular a quantidade des-
ses resíduos que devem ser aplicados no solo, visando repor os nutrientes removidos pela
colheita da cana-de-açúcar.
Na Tabela 15, são mostrados os resultados das análises químicas de dejetos de vacas
leiteiras, de pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, alimentadas com diferentes
volumosos e quantidades de ração concentrada. Considerando apenas a remoção do nitro-
gênio, fósforo e potássio pela colheita de 150 toneladas de forragem (colmos + ponteiros
+ folhas) há remoção de nutrientes da ordem de 150, 45 e 225 kg de N, P e K, respectiva-
mente. A relação K/N da forragem é de 1,5, bem superior à dos dejetos de bovinos. Dessa
forma, se o canavial estiver sendo adubado com dejetos de bovinos há necessidade de
complementar a adubação com potássio, visando repor os nutrientes removidos com a
colheita da cana-de-açúcar.
Alimentos e Alimentação Animal
112
Tabela 15. Porcentagem de matéria seca no dejeto de vacas leiteiras (% de MS no dejeto) e de nitrogênio (N), fósforo
(P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) na matéria seca de dejetos de vacas leiteiras, alimentadas com
diferentes volumosos e quantidades de ração concentrada.
N P K Ca Mg S
Volumoso
Ração Concentrada
(kg/vaca/dia)
Pastagem 9 14,1 19,4 14,4 12,0 13,9 7,1 3,5 0,62
Silagem de milho 8 13,9 23,6 10,0 10,4 10,5 5,1 3,1 0,44
Silagem de milho 10 11,7 21,1 10,9 11,2 11,6 4,5 3,4 0,53
Silagem de milho 12 12,9 24,1 11,2 11,7 12,3 4,6 3,6 0,48
13,1 22,0 11,6 11,3 12,0 5,3 13,6 0,52
Alimentação
% de MS no
dejeto
Relação
K/N
.-------- g kg
-1
de matéria seca de dejetos --------.
Média
Em um estudo conduzido por Oliveira (OLIVEIRA, M.W., dados não publicados) em
pequena propriedade rural, no município de Mercês, Estado de Minas Gerais, avaliou-se o
uso de dejetos de vacas leiteiras na adubação da cana-de-açúcar, comparativamente à adu-
bação química. O solo, de textura média, recebeu aplicação de 6,0 t de calcário dolomítico
e 3,0 t de gesso, baseando-se na análise de solo e seguindo-se recomendação de Oliveira
et al. (2007) e Raij (2011a). Por ocasião do plantio da cana-de-açúcar, todas as parcelas
receberam aplicação de 100 kg de P e 250 kg de K por hectare, devido aos baixos teores
de fósforo e de potássio desse solo. O estudo iniciou-se após a colheita da cana-planta,
sendo constituído de duas fontes de nutrientes: 1) Dejetos de vacas leiteiras e, 2) Adubação
química com ureia e cloreto de potássio. O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos ao acaso, com sete repetições. Foram avaliados nos ciclos de primeira e segunda
rebrotas, o estado nutricional, a produção e a qualidade da forragem e a produção de colmos
industrializáveis da variedade de cana-de-açúcar RB867515.
Tanto na adubação da cana de primeira rebrota quanto na de segunda rebrota foram
aplicadas as mesmas quantidades de nutrientes: 220 kg de nitrogênio e 250 kg de potássio
ha–1
, independentemente de a adubação ser química ou orgânica. Na adubação química
foram utilizados ureia e cloreto de potássio, enquanto na adubação orgânica houve neces-
sidade de complementação com cloreto de potássio devido a relação N: K no dejeto ser
de 1,78: 1,0, quando a desejada é de 1,0:1,0 a 1,0:1,2 (OLIVEIRA et al., 2007). Em média,
cerca de 50% do potássio usada na adubação orgânica foi proveniente do fertilizante quími-
co. A quantidade de dejetos de vacas leiteiras aplicada oscilou em torno de 12 t de matéria
seca por hectare por ano.
Em relação ao estado nutricional das plantas, constatou-se que não houve efeito de
ciclo ou do tipo de adubação sobre os teores de macro e micronutrientes no terço do limbo
da folha +3. Por esse motivo, na Figura 7, estão apresentados os valores médios, dos dois
ciclos e dos dois tipos de adubação. Verificou-se que as plantas estavam bem nutridas, com
base nas faixas de concentração de nutrientes citadas Oliveira et al. (2007) e Raij (2011).
Alimentos e Alimentação Animal
113
Figura 7. Valores médios dos teores de macro e micronutrientes na folha +3 da cana-de-açúcar variedade RB867515,
comparativamente aos valores mínimos e máximos citados por autores brasileiros.
0
5
10
15
20
25
P Mg S Ca K N
Teor
de
nutrientes
na
folha
+3
(g
kg
-1
)
Teor Mínimo
Adubação química
Dejeto de vacas leiteiras
Teor Máximo
0
50
100
150
200
250
B Cu Fe Mn Zn
Teor
de
nutrientes
na
folha
+3
(mg
kg
-1
)
Teor Mínimo
Adubação química
Dejeto de vacas leiteiras
Teor Máximo
O acúmulo médio de matéria natural na biomassa aérea da cana-de-açúcar foi de 134 t
por hectare no ciclo de primeira rebrota e de 126 t no ciclo de segunda rebrota, não havendo
efeito significativo de ciclo. O percentual de colmos na matéria natural da biomassa aérea
foi cerca de 85% e o percentual de matéria seca na biomassa aérea oscilou em torno de
30%, porém, estes percentuais não foram influenciados por tipo de adubação e, ou ciclo da
cana-de-açúcar. Os ciclos e os tipos de adubação também não tiveram efeito na qualidade
bromatológica da forragem. Na biomassa seca da parte aérea, o teor médio de proteína foi
de 29,4 g por kg de matéria seca, enquanto que para a fibra insolúvel em detergente neutro
(FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) e lignina obtiveram-se médias de 466,
246 e 41 g por kg de matéria seca. Embora tenha sido avaliado apenas dois ciclos, pelos
resultados obtidos nesse estudo, pode-se concluir que a adubação com dejetos de vacas
leiteiras teve o mesmo efeito da adubação química no estado nutricional das plantas, na
produção e na qualidade da forragem da cana-de-açúcar.
A cama de aviário é mais uma alternativa de adubação orgânica para a cana-de-açúcar.
Nos últimos anos, esse resíduo teve demanda e preço diminuídos pela proibição do seu uso
na alimentação de bovinos. A concentração de nutrientes na cama de aviário é influenciada
pelo material usado para cobrir o piso do aviário de frangos de corte e, a grande maioria
dos avicultores da região da zona da Mata Mineira opta pelo uso de casca de arroz, casca
de café, capim napier, maravalha e sabugo de milho. Na Tabela 16, são apresentados os
teores de nutrientes de cinco camas de aviário, coletadas na região, depois de utilizadas
em um lote de frango de corte (48 dias em média), na densidade de 15 aves/m2
. Assim, a
cama de aviário pode ser um adubo orgânico alternativo à fertilização química, devendo-se,
à semelhança dos dejetos bovinos, complementar a adubação com potássio, visto que na
cama de aviário a relação média do K/N é de 0,80.
Alimentos e Alimentação Animal
114
Tabela 16. Nutrientes na matéria seca (g kg–1
de MS) de cinco camas de aviário, nas quais foram utilizados diferentes
materiais para cobrir o piso do aviário de frangos de corte.
Cama de aviário N P K Ca Mg S
Casca de arroz 34,7 a 15,9 b 26,8 b 25,7 a 6,2 a 16 ab
Casca de café 32,8 a 14,4 b 28,9 ab 25,0 a 5,5 b 15 b
Capim napier 34,8 a 15,1 b 23,3 c 25,5 a 6,0 a 15 b
Maravalha 30,9 a 13,7 b 24,4 c 25,8 a 5,7 b 14 b
Sabugo 34,2 a 18,6 a 29,7 a 28,3 a 6,7 a 18 a
Média 33,5 15,5 26,6 26,1 6,0 15,0
CV (%) 10,60 12,20 10,00 6,60 8,20 10,10
.-------------------- g kg
-1
de MS -----------------------.
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5%.
Fonte: SOUZA et al. (2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cana-de-açúcar é uma cultura de alto potencial produtivo que responde muito bem
à melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas do solo. Devido a esse alto po-
tencial produtivo, há grande remoção de nutrientes por ocasião da colheita e, devem ser
implementadas ações para assegurar a restituição deste elemento ao solo, com o objetivo
de manter ou elevar a fertilidade do terreno. As tecnologias recomendadas pelos autores
aos pequenos produtores rurais para a implantação e condução de canaviais têm resultado
em alta produtividade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subse-
quentes. Além disso, as técnicas propostas maximizaram o uso dos insumos, da terra e de
recursos humanos, com consequentes reduções de custos operacionais.
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ruminantes. Acta Scientiarium Animal Sciences, Maringá, v.31, n.1, p.54-59, 2009.
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Produção de cana de-açúcar para a alimentação de bovinos

  • 1. 06 Produção de cana-de-açúcar para a alimentação de bovinos Mauro Wagner de Oliveira CECA/UFAL Christiano Nascif SENAR-MG Manoel Gomes Pereira Thiago Camacho Rodrigues PDPL/Viçosa-MG Terezinha Bezerra Albino Oliveira CECA/UFAL Rogério Jacinto Gomes EMATER-MG Dalmo de Freitas Santos CECA/UFAL 10.37885/210805744
  • 2. Alimentos e Alimentação Animal 82 Palavras-chave: Pecuária, Agricultura Familiar, Forragicultura, Sustentabilidade, Cicla- gem de Nutrientes. RESUMO A cana-de-açúcar cultivada na maioria das pequenas propriedades rurais, especial- mente nas de agricultura familiar, é destinada principalmente aos bovinos, sendo tam- bém usada para monogástricos e alimentação humana. A facilidade do cultivo, a alta produção de forragem por unidade de área e manutenção da qualidade bromatológica, durante os meses mais secos do ano, são algumas características que contribuem para o grande uso desta gramínea na alimentação de bovinos nas pequenas propriedades rurais. Em grande parte destas propriedades, o cultivo da cana-de-açúcar é realizado nas áreas menos férteis e de mecanização mais difícil. Nestas, o corte e o transporte da cana-de-açúcar demandam grande quantidade de horas de recursos humanos e, estes constituem isoladamente o item de maior percentual de custo e de desgaste físico dos agricultores nessa cultura. Em canaviais mais produtivos, o rendimento do corte é maior e tanto o desgaste do agricultor quanto os custos são proporcionalmente menores. Neste capítulo, são descritas técnicas gerenciais e agrícolas adotadas pelos autores na implantação e condução de canaviais de alta produtividade, destinados à alimentação de bovinos, em pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil. São discutidas as características bromatológicas da cana-de-açúcar, avaliação da fertilidade do solo, calagem, gessagem, adubação verde, plantio de variedades mais produtivas, adubação química, uso de dejetos de bovinos e de cama de aviário na adubação das rebrotas, avaliação do estado nutricional do canavial, balanço de nutrientes no sistema solo-planta e produção e qualidade da forragem.
  • 3. Alimentos e Alimentação Animal 83 INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar tem sido uma forrageira bastante utilizada nas pequenas proprie- dades rurais do centro-sul do Brasil, principalmente durante os meses mais secos do ano. Dentre os principais fatores que contribuem para o uso da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos podem-se citar: grande produção de forragem por unidade de área; facilidade de cultivo, pois quando está madura, mantém sua qualidade bromatológica; tem baixo custo relativo por unidade de matéria seca produzida; é semi-perene; apresenta maior flexibilida- de quanto às épocas de plantio e de corte, em comparação com as culturas anuais, o que facilita o gerenciamento da atividade; podendo ser uma das fontes de energia de menor custo. Devido a essas características essa forrageira é um volumoso de grande interesse, tanto para a alimentação de novilhas quanto para vacas de pequena à média produtividade (OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2021). Outra característica vantajosa da cana-de-açúcar é ausência de período crítico de deficiência hídrica tão definido como o do milho, cultura mais utilizada para a produção de forragem de alto valor bromatológico. A planta do milho é muito sensível ao déficit de água no solo, principalmente na fase de enchimento de grãos, e, às vezes, os veranicos que acontecem no centro-sul do Brasil, no final de dezembro - início de janeiro, influenciam negativamente na produtividade e no valor bromatológico da forragem de milho destinada à ensilagem, uma vez que o percentual de grãos na massa a ser ensilada será menor. Em anos que ocorrem déficits hídricos mais acentuados na cultura do milho, a cana-de-açúcar é ain- da mais utilizada como forrageira substituta na alimentação do rebanho bovino (OLIVEIRA et al., 2007; SILVA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). A forma mais comum de utilizar a cana-de-açúcar na alimentação dos bovinos nas pequenas propriedades rurais é o corte diário, com posterior picagem e fornecimento aos animais. O deslocamento até ao canavial, o corte diário e o transporte da cana-de-açúcar até ao local de picagem, geralmente é feito com carroça à tração animal ou cangalhas, bem como a distribuição nos cochos de alimentação dos animais demandam grande quantidade de horas de recursos humanos e estes constituem isoladamente o item de maior percentual de custo e de desgaste físico dos agricultores que usam a cana como forrageira. Assim, é necessário um bom planejamento na instalação do canavial de forma a se ter alta produtivi- dade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subsequentes. Outro item de grande importância para aumentar o rendimento do trabalhador no corte, e evitar picadas de animais peçonhentos é manter a cultura da cana-de-açúcar livre de plantas daninhas. Quando a cultura é mantida livre de plantas daninhas até aos 40 dias após início da rebrota, o próprio sombreamento da cana-de-açúcar controla a emergência e o desenvolvimento de plantas invasoras (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). Na Figura 1, é mostrado
  • 4. Alimentos e Alimentação Animal 84 um contraste entre um canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas daninhas, e outro de baixa produtividade e controle deficiente de plantas daninhas. Figura 1. Contraste entre canavial de alta produtividade, com excelente controle de plantas daninhas, e o de baixa produtividade e controle deficiente de plantas daninhas. CARACTERÍSTICAS BROMATOLÓGICAS DA CANA-DE-AÇÚCAR A cana-de-açúcar é constituída basicamente de carboidratos estruturais: celulose, hemicelulose, pectina e lignina (que compõem a parede celular) e o conteúdo celular (prin- cipalmente os açúcares e, em menor quantidade, minerais e proteínas). A cana-de-açúcar quando colhida madura tem altos teores de açúcares e moderado teor de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), constituída pela celulose, hemicelulose e lignina. A utilização dos constituintes da cana-de-açúcar pelos bovinos é contrastante, uma vez que os açúcares são rapidamente fermentados no rúmen e, consequentemente, de fácil aproveitamento pelo animal. A pectina mesmo sendo um componente estrutural da parede celular também é de digestão rápida. Por outro lado, a celulose, a hemicelulose e a lignina têm digestão mais lenta e dependem totalmente da atividade enzimática dos microrganismos do trato gastroin- testinal dos ruminantes (VAN SOEST, 1994; COSTA et al., 2004; MEDEIROS et al., 2015; BORGES et al., 2016). O teor de FDN da cana-de-açúcar se equipara ao de uma boa silagem de milho, cerca de 55%, contudo, a digestibilidade da FDN da cana é aproximadamente metade da
  • 5. Alimentos e Alimentação Animal 85 digestibilidade da FDN da silagem de milho. Para a silagem do milho têm sido relatados valores de digestibilidade da FDN de 42%, enquanto para a digestibilidade da FDN da cana- -de-açúcar esses valores são de aproximadamente 23,0% (CORREA et al., 2003). A baixa digestibilidade da FDN da cana-de-açúcar está relacionada à alta concentração de lignina e à sua ligação com a hemicelulose e celulose, o que dificulta a ação dos microrganismos do rúmen sobre estes carboidratos estruturais. Essa baixa digestibilidade da FDN da ca- na-de-açúcar é um dos fatores que interferem negativamente no desempenho de animais alimentados exclusivamente com cana (SILVA et al., 2007). Na Figura 2, é mostrada a partição da matéria natural da cana-de-açúcar. Quando a cana-de-açúcar está madura os colmos representam, em média, de 83 a 87% da matéria natural, assim, em uma tonelada de forragem tem-se de 830 a 870 kg de colmos indus- trializáveis e, de 130 a 170 kg de folhas verdes + folhas secas + ponteiros. Geralmente a cana-de-açúcar é cortada nos meses mais secos do ano e tem 28 a 33% de matéria seca, sendo que os carboidratos solúveis, incluindo os açúcares, constituem 40 a 43% desta ma- téria seca. Por exemplo, considerando uma cana-de-açúcar com 30% de matéria seca: em 100 kg de cana-de-açúcar, têm-se 30 kg de matéria seca e 12,0 a 12,9 kg de carboidratos solúveis (OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008). Figura 2. Valores médios da partição da matéria natural da cana-de-açúcar, quando madura. Conforme mostrado na Figura 2, os colmos industrializáveis são de 83 a 87% da matéria natural da biomassa aérea da cana-de-açúcar. Desta forma, há grande influência dos colmos industrializáveis na digestibilidade da biomassa aérea da cana-de-açúcar. A cana-de-açú- car é uma forrageira que apresenta baixos teores de proteína, variando de 1,5 a 4,4% na matéria seca (15 a 44 g de proteína bruta por kg de matéria seca), sendo mais comuns, em canaviais bem nutridos, teores de proteína da ordem de 3%. Uma alternativa para elevar os teores de proteína bruta da cana-de-açúcar seria aumentar a dose de adubação nitrogenada. Entretanto, em estudos conduzidos pelos autores deste capítulo, em Mercês-MG, com as variedades de cana-de-açúcar RB835486, RB855536 e RB867515, verificou-se que, mes- mo sob alta adubação nitrogenada (300 kg de N ha–1 ) e fornecimento adequado dos outros nutrientes, o teor de proteína bruta da biomassa aérea (colmos industrializáveis + folhas secas + folhas verdes + ponteiros) destas variedades de cana-de-açúcar aumentou pouco,
  • 6. Alimentos e Alimentação Animal 86 não ultrapassando a 4,4%. Teores máximos desta mesma ordem de grandeza são citados por Salas et al. (1992), com doses de adubação nitrogenada também de 300 kg de N ha–1 . Nussio et al. (2008) ao citarem a composição química de amostras de cana-de-açúcar ana- lisadas no Laboratório de Bromatologia da ESALQ/USP, relatam valor máximo de 4,43% de proteína bruta na biomassa aérea da cana-de-açúcar. Tanto nos estudos conduzidos em Mercês-MG, quanto nos relatados por Salas et al. (1992), a produtividade do canavial é que foi muito influenciada pelo aumento da adubação nitrogenada. Outra limitação bromatológica da cana-de-açúcar são os baixos teores de minerais principalmente fósforo, cálcio e enxofre. Devido a esses baixos teores de proteína e minerais é necessária a suplementação com minerais e fontes de nitrogênio, sendo usual a utiliza- ção da mistura de ureia + sulfato de amônio numa relação de 9:1, empregando-se, após período de adaptação dos animais, 1,0 kg da mistura para cada 100 kg de biomassa aérea da cana-de-açúcar picada (cana + ureia a 1,0%). A adição de uma fonte de enxofre melho- ra a síntese de proteína microbiana no rúmen, especialmente os aminoácidos sulfurados metionina, cistina e cisteína, aumentando o fluxo de proteína microbiana e o suprimento de aminoácidos no intestino delgado, repercutindo em melhor desempenho animal. A cana-de-açúcar adicionada de ureia pode ser usada com sucesso na recria, em vacas não lactantes, em vacas em lactação com menor demanda nutricional e em baixas inclusões na dieta de vacas de maior produtividade. A complementação da cana com uma fonte de nitrogênio não proteico, como a ureia, mantém as características de uma dieta de baixo custo e possibilita a melhora acentuada nos teores de proteína dessa gramínea. Em di- versos estudos foi constatado que, em função de suas características, alimentos utilizados na formulação de dietas à base de cana-de-açúcar deveriam ser ricos em proteína não degradável no rúmen e apresentar amido com baixa degradabilidade ruminal. A inclusão de fontes de proteína não degradável no rúmen resulta em maior consumo voluntário de matéria seca, maior digestibilidade da matéria seca e, consequentemente, maior desempenho animal. O fornecimento de ureia visa atender diretamente à necessidade da microflora ruminal por nitrogênio, enquanto fontes de proteína não degradável têm a função de atender às necessidades de proteína do animal. Como suplementação proteica, é comum a utilização de farelos cujo teor de proteína bruta pode variar de 13%, a exemplo do farelo de arroz, com 46%, como no caso do farelo de soja (CORREA et al., 2003; NUSSIO et al., 2008; VALADARES FILHO et al., 2008; BORGES et al., 2016). PLANEJAMENTO E CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL Na implantação e condução do canavial nas pequenas propriedades rurais podem-se utilizar diversas tecnologias, mas as escolhidas e recomendadas são as que maximizam o
  • 7. Alimentos e Alimentação Animal 87 uso dos insumos, da terra e dos recursos humanos, com consequentes reduções de custos operacionais e com incrementos na produtividade do sistema de produção, dessa forma, contribuindo para a preservação do meio ambiente (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). Os autores têm orientado os pequenos produtores rurais a adotarem práticas que re- cuperem e mantenham a fertilidade dos solos, reciclem nutrientes, diminuam a compactação e o selamento da camada superficial do solo, associadas às outras práticas que permitam alta produtividade na cana-planta e pequenos decréscimos nos ciclos posteriores (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018a; OLIVEIRA et al., 2021). Dentre as práticas recomendadas para a melhoria das propriedades físicas do terreno está o rompimento das camadas adensadas ou compactadas do solo. Este rompimento ou descompactação resulta em menor resistência ao aprofundamento do sistema radicular e, por outro lado, aumenta a condutividade hidráulica e a capacidade de retenção de água no solo, facilita as trocas gasosas, resultando em maior eficiência na absorção e utilização dos nutrientes (MARSCHNER, 1995; OLIVEIRA et al., 2019). Como exemplo, cita-se na Tabela 1 os resultados de características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho distroférrico (“Latossolo Roxo distrófico”), em uma área de solo não compactado, comparativo ao de uma área compactada. A cana-de-açúcar cultivada no solo compactado apresentava-se com defi- ciência hídrica apenas três a quatro dias após a ocorrência de chuva (VITTI e MAZZA, 2002). Observa-se pela análise da Tabela 1 que, embora os valores de densidade tenham se modificados apenas de 1,0 g cm–3 para 1,17 g cm–3 (17%), a macroporosidade do solo foi reduzida, de 14% e 24% no solo sem compactação, para 6% e 14% no solo compactado, respectivamente para as profundidades de 0 a 10 cm e 10 a 30 cm. Para a macroporosidade a redução foi da ordem de 50%, o que determinou reduções muito semelhantes na água disponível, uma vez que quantidades de água ao redor de 340 a 400 L/m3 (34 a 40 mm/10 cm de solo) na área sem compactação, reduziram-se para 165 a 256 L/m3 (16,5 a 25,6 mm/ 10 cm de solo) no solo compactado (VITTI e MAZZA, 2002). Tabela 1. Características físicas e hídricas de um Latossolo Vermelho Distroférrico, em áreas de solo compactado ou sem compactação: alterações na macroporosidade, na capacidade de campo (C.C.), no ponto de murcha permanente (PMP) e água disponível (A.D.) para a cana-de-açúcar. Profundidade Densidade % de argila C.C. PMP A.D. (cm) (g/cm 3 ) no solo Macro Micro Total 10 1,00 60 14 48 62 595 251 344 30 0,97 63 24 46 70 683 281 402 10 1,17 61 6 51 57 468 303 165 30 1,12 62 14 46 60 519 263 256 .----------------------------------------------------------------- Solo compactado ---------------------------------------------------. Porosidade (%) litros de água/m 3 de solo .----------------------------------------------------------- Solo sem compactação -----------------------------------------------. Fonte: Vitti e Mazza (2002).
  • 8. Alimentos e Alimentação Animal 88 Outro efeito negativo da compactação, além de diminuir a água disponível devido a redução da macroporosidade, é o aumento da resistência do solo ao desenvolvimento do sistema radicular da cana-de-açúcar, que repercutirá negativamente tanto na absorção de água quanto na absorção de nutrientes, conforme citado anteriormente. Dessa forma, a com- pactação ou adensamento na camada de 0 a 35-40 cm, que é a camada com maior fertilida- de, interfere negativamente na eficiência de aproveitamento dos nutrientes fornecidos pelos corretivos e fertilizantes. Vitti e Mazza (2002) ressaltam ainda que o grau de influência da compactação na produtividade da lavoura apresenta elevada correlação com o ano agrícola, em função da distribuição das chuvas. Em anos agrícolas com boa distribuição de chuvas, ocorre redução da resistência oferecida pelo solo ao desenvolvimento do sistema radicular. Por outro lado, nos anos com distribuição irregular de chuvas, aumenta a dependência da água disponível, retida a baixas tensões e relacionada à macroporosidade do solo (VITTI e MAZZA, 2002; DEMATTÊ, 2020). Há relatos na literatura mostrando alta correlação entre a evapotranspiração e a quan- tidade de luz interceptada pela planta, bem como entre a evapotranspiração e a fixação do CO2 atmosférico e com a expansão das células. A pressão de água contra a parede celular (“pressão de tugor”) é a força que expande as células em crescimento. Boyer (1970), num estudo clássico com plantas de milho, mostrou que quando o potencial hídrico da folha diminuiu de -0,30 MPa para -1,0 MPa a fixação do CO2 atmosférico reduziu em 25%. Para melhor entendimento dessas tensões hídricas podemos citar, comparativamente, a pressão de calibração de um pneu de automóvel. Quando o pneu é calibrado a 30 libras por polegada quadrada, esta pressão equivale a 0,21 MPa. A fixação do CO2 atmosférico pelas folhas do milho no potencial hídrico de -0,30 MPa foi de 50 mg de CO2 /dm2 por hora, valor de mesma ordem de grandeza dos observados para a cana-de-açúcar, na fase máxima de crescimen- to, sob suprimento adequado de água, nutrientes, luz e temperatura oscilando em torno de 30°C. Em relação a expansão das células da folha do milho, Boyer (1970) constatou redução exponencial quando o potencial hídrico da folha diminui de -0,20 MPa para -1,0 MPa, sendo que no potencial hídrico de -1,0 MPa não houve expansão das células da folha do milho. Na Figura 3, é mostrada a disponibilidade de água no solo em função da força (tensão) com que essa água é retida pelas partículas do solo. Os valores apresentados são valores médios e podem variar em função do tipo de solo e da planta cultivada. A água higroscópi- ca é aquela fortemente retida nas partículas do solo com uma tensão superior a -3,1 MPa, sendo removida apenas quando o solo é seco a 105 °C. A água capilar é a retida nos poros capilares e microcapilares. Nesta faixa de retenção, há dois extremos importantes para as plantas cultivadas: a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente. A capacidade de campo é a quantidade máxima de água que um solo pode reter depois que toda a água
  • 9. Alimentos e Alimentação Animal 89 gravitacional percolou. O ponto de murcha permanente é quando as plantas não conse- guem absorver mais a água do solo, devido à alta tensão que é retida pelas partículas do solo. A água gravitacional é retida passageiramente no solo, pois devido a força da gravidade irá percolar no solo, indo para os lençóis freáticos (MARENCO e LOPES, 2013). Figura 3. Disponibilidade de água no solo em função da força (tensão) que é retida pelas partículas do solo. Fonte: Adaptado de Marenco e Lopes (2013). A redução da macroporosidade causa, além dos malefícios citados anteriormente, grande alteração na difusão de gases no solo e, em caso de compactação severa, pratica- mente não há ar entre as partículas do solo, prevalecendo então condições de anaerobio- se, extremamente prejudiciais ao crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar e à absorção de nutrientes (DEMATTÊ, 2020). Nessas condições de deficiência de oxigênio no sistema radicular, a síntese de fitohormônios como a citocinina e giberelina também diminui. Marschner (1995) relata estudo no qual foi avaliado a influência da pressão parcial de oxigê- nio no entorno das raízes de plantas de cevada, sobre a absorção do fósforo e do potássio. Foi considerado como 100% o valor de absorção de fósforo e potássio na pressão parcial de oxigênio de 20,0%. Verificaram-se reduções na absorção do P e do K de 25% e 44%, respectivamente, quando a pressão parcial de oxigênio reduziu para 5,0%. Estas reduções na absorção do P e do K foram ainda maiores na pressão parcial de oxigênio de 0,5%: 63% para o fósforo e 70% para o potássio. Geralmente, há camadas adensadas ou compactadas em áreas de implantação de canavial com histórico de muito trânsito de máquinas e implementos agrícolas ou nas áreas anteriormente sob pastagens. Estas camadas adensadas ou compactadas precisam ser rompidas. Às vezes o pequeno produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior
  • 10. Alimentos e Alimentação Animal 90 potência, com o subsolador, assim quando não for possível a subsolagem, recomenda-se uma aração mais profunda do terreno, com arado de disco, por ocasião do preparo do solo. Na Tabela 2, estão citados os principais itens de custos para a implantação de um hectare de cana-de-açúcar na região centro-sul do Brasil. Os itens listados referem-se ao plantio de “cana-de-ano e meio”, precedida pelo cultivo de crotalária juncea. Contudo, como será discutido mais à frente, em algumas situações o pequeno produtor rural talvez tenha que fazer o plantio da “cana de ano”. Na atualidade, o custo médio de implantação de 1,0 hectare de canavial oscila ao redor de R$7.000,00, sendo os itens de maior dispêndio as mudas de cana, os fertilizantes e os corretivos de acidez do solo, que juntos totalizam cerca de 55% dos custos da implantação do canavial. Tabela 2. Principais itens de custos para a implantação de um hectare de cana-de-açúcar sugerido pelos autores para pequenas propriedades rurais do centro-sul do Brasil. (R$) (R$) % A)  Consumo Calcário t Gesso t Semente de crotalária juncea kg/ha Adubos kg Mudas de cana t Inseticida químico L ou kg Herbicidas L ou kg Formicida L ou kg Inseticida biológico L Subtotal (A) B)   Serviço Aluguel da terra ha Análise de solos amostra Aração h/m Semeadura da crotalária juncea h/m Incorporação da crotalária ao solo Sulcagem para o plantio da cana h/m Aplicação do adubo no sulco de plantio h/m ou d/H Distribuição e picagem das mudas d/H Aplicação de inseticida sobre as mudas h/h ou d/H Cobertura das mudas h/m ou d/H Aplicação de herbicidas h/m ou d/H Aplicação de formicida d/H Aplicação do inseticida d/H Subtotal (B) Custo Total de Implantação do canavial (A+B) Item de custo Unidade 1 Preço Unitário Quantidade Preço Total Participação 1 - t: tonelada, kg/ha: quilogramas por hectare, L: Litros, kg: Quilograma, h/m: horas máquina, d/H: dias trabalho por homem, amostra: valor do serviço para análise química do solo. A área a ser plantada com a cana-de-açúcar irá depender da produtividade esperada e da demanda de forragem do produtor. Na Tabela 3, é apresentada uma simulação da produtividade do canavial em 14 cenários, que combinam altas e médias produtividades no ciclo de cana-planta, associadas aos baixos, médios ou aos altos decréscimos de pro- dutividade ao longo de sete ciclos (sete cortes). Pela análise desta tabela, observa-se que, para alimentar um rebanho equivalente a 25 animais adultos, durante 365 dias, consumindo 20 kg de matéria natural por animal/dia, são necessários 1,63 hectare de um canavial que apresenta alta produtividade na cana-planta e cerca de 10% de decréscimo nos ciclos sub- sequentes (Cenário 1).
  • 11. Alimentos e Alimentação Animal 91 Tabela 3. Simulação de área de um canavial necessário para alimentar o equivalente a 25 animais adultos, consumindo 20 kg de matéria natural por animal/dia e alimentados durante 365 dias por ano, em função da produtividade da cana- planta e estabilidade de produção em sete cortes. Área do Área Cenários Decréscimo de 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º Média Canavial (%) produtividade (ha)* (%) 1 10,0 150 135 122 109 98 89 80 112 1,63 100 2 15,0 150 128 108 92 78 67 57 97 1,88 115 3 10,0 120 108 97 87 79 71 64 89 2,04 125 4 15,0 120 102 87 74 63 53 45 78 2,35 144 5 17,5 120 99 82 67 56 46 38 72 2,52 154 6 20,0 120 96 77 61 49 39 31 68 2,69 165 7 10,0 110 99 89 80 72 65 58 82 2,23 137 8 15,0 110 94 79 68 57 49 41 71 2,56 157 9 17,5 110 91 75 62 51 42 35 66 2,75 169 10 20,0 110 88 70 56 45 36 29 62 2,94 180 11 10,0 100 90 81 73 66 59 53 75 2,45 150 12 15,0 100 85 72 61 52 44 38 65 2,82 173 13 17,5 100 83 68 56 46 38 32 60 3,02 185 14 20,0 100 80 64 51 41 33 26 56 3,23 198 .---------------------- Cortes ---------------------. .---------------- t de matéria natural por ha-------------. Por outro lado, para um canavial de produtividade média na cana-planta e alto de- créscimo nos ciclos subsequentes (Cenário 14) são necessários cerca de 3,3 hectares de cana. Em canaviais com produtividade média inferior a 60 toneladas de matéria natural por hectare, cerca de 50 t de colmos industrializáveis, pois, além de diminuir o rendimento da terra e da mão-de-obra, o controle químico de plantas daninhas geralmente é pouco eficiente, uma vez que a cultura não sombreia totalmente o solo, permitindo a emergência e o crescimento de plantas invasoras. Então, por ocasião do corte manual desta cana, o trabalhador estará mais exposto a picadas de cobras e escorpiões, conforme citado anteriormente. ESCOLHA DA VARIEDADE DE CANA-DE-AÇÚCAR A escolha correta da variedade é uma tecnologia muito importante e de baixo custo para o produtor. Atualmente, dispõem-se de vários cultivares de cana com boas características agronômicas e zootécnicas, tais como: alta resposta à melhoria da fertilidade do solo; cres- cimento ereto e resistência ao tombamento, o que facilita a colheita; alta produtividade de colmos e de sacarose; vigor das rebrotas; resistência às pragas e doenças; e, boa digestibili- dade da matéria seca (MACEDO JÚNIOR et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2007; VALADARES FILHO et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2019). Na Tabela 4, são apresentadas algumas carac- terísticas de sete variedades de cana-de-açúcar cultivadas no centro-sul do Brasil.
  • 12. Alimentos e Alimentação Animal 92 Tabela 4. Características agroindustriais, morfológicas e de tolerância às doenças, de sete variedades de cana-de-açúcar cultivadas no centro-sul do Brasil. RB835054 RB855536 RB867515 RB928064 RB975201 SP80-1816 SP80-3280 Produtividade 1 Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Maturação Precoce Média Média Tardia Tardia Média Média Sacarose 2 Alto Alto Alto Médio Médio Alto Alto Colheita 3 Abr-Nov Jun-Nov Jun-Set Set-Nov Ago - Nov Jun-Set Jun-Set Solos 4 Média Média Baixa Alta Média Média Média Rebrotas 5 Boa Excelente Boa Boa Boa Excelente Boa Perfilhamento 6 Médio Excelente Médio Muito bom Médio Muito bom Muito bom Tombamento 7 Frequente Pouco Pouco Pouco Frequente Pouco Raro Despalha 8 Fácil Média Fácil Média Fácil Média Fácil Joçal 9 Não Não Não Sim Não Sim Não Florescimento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Ausente Presente Chochamento Ausente Ausente Médio Ausente Ausente Pouco Sim Sens. Herbic. 10 Alta Média Baixa Baixa Baixa Média Média Carvão 11 Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Interm. Interm. Ferrugem 11 Suscep. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist. Estr. Verm. 11 Resist. Interm. Suscep. Resist. Interm. Resist. Resist. Escaldadura 11 Resist. Interm. Resist. Resist. Resist. Resist. Resist. Característica ------------------------------------------------Variedade -------------------------------------------------------- 1 Produtividade: Produção, por hectare, de colmos industrializáveis e de biomassa (Alta, Média ou Baixa). 2 Sacarose: Teor de sacarose. 3 Colheita: Meses recomendados para a colheita da cana destinada à produção de açúcar mascavo e rapadura. 4 Solos: Exigência em fertilidade de solos (Alta, Média ou Baixa). 5 Rebrotas: vigor da brotação das rebrotas sob condições de pisoteio por máquinas ou veículos a tração animal. 6 Perfilhamento: refere-se a velocidade de crescimento e sombreamento do solo minimizando a mato-competição. 7 Tombamento dos colmos: está relacionado ao hábito de crescimento da planta o qual varia de ereto a decumbente; mesmo os cultivares de colmos eretos podem vir a tombar em condições de elevada produtividade. 8 Despalha: Despalha das folhas secas ou aderência da bainha ao colmo. 9 Joçal: Presença ou não de joçal. 10 Sens. Herbic.; Sensibilidade a alguns herbicidas. 11 Doenças da parte aérea das plantas. Estr. Verm.: Estrias vermelhas. Resist.:Resistente; Interm.: Intermediária; Suscep.: Susceptível. Fontes: Silveira, L. C. I. Informação pessoal, Oliveira et al. (2019). Os autores deste capítulo têm recomendado aos pequenos produtores o plantio de duas ou três variedades, bem adaptadas à região e ao sistema de produção adotado pelo produtor, sempre implementando medidas para manter ou elevar a fertilidade do solo, bem como realizar o corte da variedade de cana na época mais indicada. Definidas as varieda- des a serem plantadas, é necessário certificar-se da qualidade das mudas, devendo ser escolhidas preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, com idade variando entre 8 e 10 meses, de primeiro ou no máximo segundo corte. É importante também confirmar a sanidade da muda quanto a doenças, pragas e mistura de outros cultivares. Das variedades citadas na Tabela 4, a RB855536, a RB867515 e a SP801816, junta- mente com a RB835486, têm sido as mais estudadas na alimentação de bovinos. Alguns produtores têm preferência pela SP801816 devido ao fato desta variedade tombar muito pouco, mas a SP801816 se mantém ereta devido ao maior teor de lignina e ao maior per- centual de casca em relação os colmos, uma vez que na maioria das lavouras, mesmo nas mais nutridas, esta variedade tem colmos finos. A RB835486 é a variedade que apresentou
  • 13. Alimentos e Alimentação Animal 93 isoladamente, na quase totalidade dos estudos (RODRIGUES et al., 2001; MELO et al., 2006; BONOMO et al., 2009), a maior digestibilidade da matéria seca e da fibra insolúvel em detergente neutro (FDN). Contudo, com muita frequência, nos canaviais mais produtivos, esta variedade tomba, dificultando o corte manual. Como citado inicialmente, o corte manual da cana-de-açúcar é uma das atividades mais onerosas e desgastantes no uso desta forrageira para a alimentação animal. Além disso, a RB835486 é susceptível à ferrugem, devendo-se evitar o plantio de cana de ano e o corte tardio, depois de agosto. Por esses motivos, a RB855536 e a RB867515 têm sido as variedades mais recomendadas pelos autores para o plantio em pequenas propriedades, visando a alimentação de bovinos. Na Figura 4, é mostrada a taxa de acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro variedades de cana-de-açúcar: RB835486, RB855536, RB8675115 e SP801816. O estudo, conduzido em blocos ao acaso com cinco repetições, foi instalado em solo de textura média, no município de Mercês, MG, com coordenadas -21,260232 de latitude, longitude - 43,298827 e altitude de 503 m. O solo tinha sido corrigido anteriormente com a aplicação de 6,0 t de calcário dolomítico e 3,0 t de gesso agrícola por hectare, seguindo-se recomendações des- critas por Oliveira et al. (2007) e Raij (2011b). Em agosto do ano anterior ao plantio da cana-de-açúcar, foram coletadas amostras de solo e verificou-se saturação por bases na camada de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm, respectiva- mente, de 72% e 46%. Os teores de fósforo e de potássio na camada de 0 a 20 cm foram, respectivamente, de 17 e 73 mg dm–3 . No início de outubro, logo após as primeiras chuvas, o solo foi arado e gradeado e, posteriormente, semeou-se a crotalária juncea. No início de fevereiro, quando a crotalária estava na fase de grãos farináceos, mas ainda sem viabilida- de para germinação, incorporou-se a leguminosa ao solo com grade aradora. O acúmulo de matéria seca na parte aérea da crotalária juncea oscilou em torno de 15 t ha–1 e o de nitrogênio foi da ordem de 300 kg por hectare. Cerca de dez dias após a incorporação da crotalária juncea, sulcou-se o solo e plantou-se a cana-de-açúcar. A adubação química, constituída apenas de fósforo, foi aplicada no fundo do sulco de plantio, na dose de 100 kg de fósforo por hectare (o equivalente a 229 kg de P2 O5 por hectare). O controle de plantas daninhas foi químico, usando herbicida pré-emergente. No início de outubro, logo após as primeiras chuvas, aplicou-se na entrelinha da cana-de-açúcar 200 kg de potássio por hectare (o equivalente a 240 kg de K2 O por hectare). A adubação potássica foi aplicada em setembro, apenas para favorecer o fluxo de caixa, uma vez que o cloreto de potássio pode ser aplicado em cobertura, devido a sua alta solubilidade.
  • 14. Alimentos e Alimentação Animal 94 Figura 4. Acúmulo de matéria seca na parte aérea de quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em julho do ano subsequente. Estudo conduzido no município de Mercês, Zona da Mata Mineira. 0 10 20 30 40 50 60 F M A S D F A J t de matéria seca por hectare RB867515 RB855536 SP801816 RB835486 As avaliações do acúmulo de matéria seca foram realizadas nos meses de abril, se- tembro e dezembro do ano de plantio da cana-de-açúcar e, em fevereiro, abril e julho do ano subsequente. Como mostrado na figura 4, a RB8555536 e a RB867515 produziram cerca de 5 t de matéria seca a mais que RB835486 e a SP801816, o que corresponde a aproximadamente 15 t de forragem por hectare. O percentual médio de colmos na forragem dessas variedades foi de 85%, logo a RB8555536 e a RB857515 produziram 12 t de colmos industrializáveis a mais que as outras duas variedades. Outras variáveis, além da produtividade, têm sido consideradas na escolha das va- riedades de cana-de-açúcar destinadas à alimentação de bovinos. Uma delas é a relação entre a fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e a sacarose aparente no caldo dos col- mos industrializáveis e, esta variável, é um indicador da qualidade bromatológica. No setor sucroalcooleiro a sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis é designada incorretamente de “Pol”. Conforme citado anteriormente, a FDN é constituída pela celulose, hemicelulose e lignina. Assim, desconsiderando a pectina, molécula que une as células vegetais, é solúvel no detergente neutro e tem alta digestibilidade no rúmen, a FDN é uma medida da massa da parede celular das plantas em relação aos demais constituintes da cé- lula. Outra variável muito utilizada na avaliação da qualidade bromatológica da cana-de-açú- car é a relação entre FDN e os sólidos solúveis dos colmos industrializáveis, designado de “Brix”. Brix (símbolo °Bx) é uma escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma solução açucarada. Esta escala é uma homenagem ao matemático e engenheiro alemão Adolf Ferdinand Wenceslaus Brix (1798-1870), que a propôs. Nas avaliações a seguir utilizaremos a expressão “Brix” e “sacarose aparente” para nos referirmos, respectivamente, a concentração de sólidos solúveis e a concentração de sacarose no caldo dos colmos industrializáveis da cana. A sacarose é aparente, porque na análise realizada por polarimetria alguns compostos orgânicos presentes no caldo da cana
  • 15. Alimentos e Alimentação Animal 95 podem desviar a luz polarizada no mesmo ângulo que a sacarose. Contudo, quando a análise é realizada até 72 horas após o corte da cana, os resultados da análise do caldo da cana por polarimetria tem acima de 95% de concordância com os determinados por cromatogra- fia líquida de alta eficiência (“HPLC”, em inglês), o método é referência, mas de alto custo analítico. Na Tabela 5 estão apresentados os teores de FDN, FDA, Brix, sacarose aparente e relações FDN/ Brix e FDN/sacarose aparente das quatro variedades de cana-de-açúcar, citadas na figura 4, no estudo conduzido em Mercês, MG. Tabela 5. Teores de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) na matéria seca da parte aérea, teores de sólidos solúveis (Brix) e sacarose aparente no caldo dos colmos industrializáveis (Sac. Apar.) das quatro variedades de cana, plantadas em fevereiro e colhidas em julho do ano subsequente, no estudo conduzido no município de Mercês, Zona da Mata Mineira. .-- FDN --. .-- FDA --. Brix Sac. Apar. Pureza RB835486 42,69 a 26,75 a 22,50 a 20,46 a 90,97 b 1,90 a 2,09 a RB855536 46,28 a 29,01 a 22,41 a 20,30 a 90,60 b 2,07 a 2,28 b RB867515 46,82 a 29,31 a 22,39 a 20,04 a 89,49 a 2,09 a 2,34 b SP801816 53,56 b 33,31 b 22,38 a 20,15 a 90,05 a 2,39 b 2,66 c Média geral 47,34 29,59 22,42 20,24 90,28 2,11 2,34 C.V. (%) 6,22 8,27 2,91 2,80 1,20 6,53 6,34 Variedade FDN/Brix FDN/Sac. Apar. .-- % na MS cana --. .-- % no caldo dos colmos --. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%. Observa-se que a variedade SP801816 teve maior teor de FDN e FDA que as RB835486, RB855536 e RB867515. Em relação ao Brix e a sacarose aparente no caldo, não houve diferença entre as variedades, sendo que todas apresentaram alta concentração de Brix e sacarose aparente, indicativo que estavam maduras. A pureza do caldo, valor percentual da sacarose aparente em relação ao total de sólidos solúveis (sacarose aparente/Brix x 100), situou-se acima de 90%, havendo diferença estatística entre as variedades, devido ao baixo coeficiente de variação (1,20%), mas para a alimentação animal estas diferenças na pureza do caldo podem ser desconsideradas. A relação FDN/sacarose aparente da RB835486 foi a menor das quatro variedades, reforçando resultados de estudo conduzidos por Rodrigues et al. (2001), Melo et al. (2006) e Bonomo et al. (2009) nos quais a RB835486 se destacou isoladamente das demais va- riedades quanto a menor relação FDN/ sacarose aparente. A relação FDN/sacarose apa- rente expressa qual é a massa da parede celular de toda a forragem em relação a massa de sacarose dos colmos industrializáveis, assim, quanto menor essa relação mais energia facilmente digestível o animal consumirá. Além disso, há correlação negativa entre o teor de FDN da forragem da cana-de-açúcar e consumo de forragem pelo bovino. Maior teor de FDN na variedade de cana-de-açúcar resulta também em maior tempo de retenção da
  • 16. Alimentos e Alimentação Animal 96 forragem no rúmen (maior tempo de passagem), menor ingestão de novos alimentos e, consequentemente, menor produtividade animal. Nos estudos conduzidos por Rodrigues et al. (2001), foi observado que a relação FDN/ sacarose aparente correlacionou-se negativamente (r= -0,85) com a digestibilidade in vitro da matéria seca da parte aérea de 18 variedades de cana-de-açúcar, colhidas aos 12 meses de idade. Thiago (2008) também observou que a digestibilidade in vitro da matéria seca da parte aérea apresentou relação inversa com a FDN/sacarose aparente e FDN/Brix, tendo obtido coeficiente de correlação de -0,6755 e -0,6940, respectivamente, ambos com significância a 0,1%. Na escolha de variedades com maior valor bromatológico, caso diversas variedades de cana-de-açúcar apresentem relação FDN/Brix semelhantes, deve-se optar pelas varie- dades com menor FDN. Assim, das variedades apresentadas na Tabela 4, a RB835486, a RB855536 e a RB867515 seriam as escolhidas, lembrando, contudo, que a RB835486 tem menor potencial produtivo, maior tombamento e susceptibilidade a doenças foliares. IMPLANTAÇÃO DO CANAVIAL Nas pequenas propriedades do centro-sul do Brasil os plantios de cana-de-açúcar, sem irrigação, são realizados basicamente em duas épocas: início do período chuvoso (setembro a outubro) e final do período chuvoso: fevereiro a março. O canavial implantado no início do período chuvoso poderá ser colhido a partir de abril-maio do ano seguinte e, por isto, é designado de “cana de ano”, mas, para o plantio de fevereiro a março a colheita ocorrerá cerca de 15 a 18 meses após, sendo conhecida como “cana de ano e meio” (OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021). Os autores têm recomendado o plantio de “cana de ano” em solos mais férteis, de re- levos mais suaves e menos erosivos, pois, há chuvas muito intensas nesse período. Devido a cana-de-açúcar iniciar a fase de crescimento máximo a partir de janeiro, quando começa a diminuir a disponibilidade hídrica e térmica, o suprimento de nutrientes não deverá ser um fator limitante ao desenvolvimento da planta, para que possam ser obtidas produtividades de biomassa superiores a 120 t de matéria natural por hectare. Entretanto, o plantio de “cana de ano e meio” tem sido recomendado para os solos de relevos mais acidentados e de menor fertilidade, uma vez que a cana permanecerá crescendo no campo por mais tem- po e a fase de crescimento máximo, como mostrado na Figura 4, coincide com as épocas de maior disponibilidade hídrica e luminosa, o que resulta tanto em maior recobrimento do solo pela folhagem da cana-de-açúcar, quanto em maior taxa fotossintética e acúmulo de matéria seca. Outras duas grandes vantagens do plantio da “cana de ano e meio” são, a possibilidade do cultivo de crotalária juncea antecedendo ao plantio da cana e a obtenção
  • 17. Alimentos e Alimentação Animal 97 de mudas pelo sistema do Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente, designado de MEIOSI (OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2021). AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO, CALAGEM E GESSAGEM A cana-de-açúcar, por produzir grande quantidade de massa, extrai e acumula, con- sequentemente, grande quantidade de nutrientes do solo. Em avaliações realizadas pelos autores em pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, verificou-se que para uma produção de 120 toneladas de forragem por hectare, cerca de 100 t de colmos industriali- záveis, o acúmulo de nutrientes na parte aérea da planta é da ordem de 150, 40, 180, 90, 50 e 40 kg de N, P, K, Ca, Mg e enxofre, respectivamente. No caso dos micronutrientes: ferro, manganês, zinco, cobre e boro, os acúmulos na biomassa da parte aérea, também para uma produção de 120 t, são por volta de 8,0; 3,0; 0,6; 0,4; e, 0,3 kg, respectivamente. Devido a essa alta remoção de nutrientes, deve-se conhecer a capacidade de forne- cimento de nutrientes pelo solo para, se necessário, complementá-la com adubações e, se constatada a presença de elementos em níveis tóxicos, reduzir sua concentração pela cala- gem e gessagem. Normalmente, avaliam-se a disponibilidade de nutrientes e a presença de elementos em níveis tóxicos no solo pela análise química da camada arável, sendo também de grande valia o histórico da área, sobretudo as adubações realizadas e, se houve ou não, ocorrência de sintomas de deficiência ou de toxidez nos cultivos anteriores (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2019). Usualmente, coletam-se amostras de solo das camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm de profundidade. Os resultados da análise da camada de 0 a 20 cm têm sido utilizados para calcular a adubação e a calagem e, os da camada de 20 a 40 cm, para os cálculos da ne- cessidade de gessagem. Devido as áreas serem pequenas, os autores deste capítulo têm orientado aos produtores a coletarem as amostras de solo usando cavadeira e pá reta, pois, o uso da pá reta diminui a variabilidade dos índices de fertilidade do solo. Mais detalhes sobre os procedimentos de amostragem, variabilidade amostral, secagem de amostras e comparação entre extratores químicos podem ser obtidos em Oliveira et al. (2018b). Os solos da região centro-sul são, em sua grande maioria, naturalmente ácidos, apre- sentando baixa saturação por cátions básicos, como cálcio, magnésio e potássio. A defi- ciência desses cátions básicos, associada aos altos teores de alumínio, ferro e manganês, tem sido prejudicial ao crescimento do sistema radicular e, consequentemente, de toda a cana-de-açúcar (OLIVEIRA et al., 2007). Por esses motivos, a calagem e a gessagem são importantes práticas usualmente recomendadas pelos autores. Vários materiais têm sido usados como corretivos da acidez de solos, sendo os mais empregados os calcários do- lomíticos, porém, usam-se também os calcários calcíticos, magnesianos e os silicatos de
  • 18. Alimentos e Alimentação Animal 98 cálcio e magnésio, designados de escórias de siderurgias. Nessas escórias, o teor de óxido de magnésio oscila em torno de 8%, enquanto os calcários calcíticos possuem teores de MgO inferiores a 5%, os magnesianos entre 6 e 12% e os dolomíticos acima de 12%. A efi- ciência desses produtos na correção da acidez do solo depende, dentre outros fatores, da sua granulometria, da distribuição uniforme no campo e da disponibilidade hídrica do solo (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011a; OLIVEIRA et al., 2018a). O método de análise de solo que utiliza o acetato de cálcio para a determinação do H+ + Al+3 é muito usado no centro-sul do Brasil. Esse extrator subestima demasiadamente a quantidade de H+ + Al+3 , resultando em subestimativa da capacidade de troca catiônica a pH 7,0 e, consequentemente, da dose de calcário a ser a aplicada (ERNANI e ALMEIDA, 1986; KAMINSKI et al. 2002; OLIVEIRA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2018a). Por esses motivos, os autores têm recomendado elevar de 1,5 a 2,0 vezes a quantidade de calcário a ser aplicado. Para a cana-de-açúcar cultivada nas pequenas propriedades, a recomenda- ção é elevar a saturação por bases (V) a 60%. Raij (2011 b) cita seis estudos conduzidos com cana-de-açúcar nos quais foram comparadas as doses recomendadas de calcário e gesso com as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica. O preço do calcário e do gesso equivaleu-se ao de 2,0 t de colmos industrializáveis, valor relativo muito alto para calcário e o gesso. O resultado econômico, apresentado na Tabela 6, foi altamen- te lucrativo para todos os casos, quando se compara as doses recomendadas de calcário e gesso e as doses desses insumos para a produtividade máxima econômica, reforçando que as recomendações oficiais de calagem e gessagem estão subestimadas. Para alcançar a produtividade máxima, as doses de calcário e de gesso devem ser duas vezes maiores que as recomendadas (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2008; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al., 2018a). A quantidade de calcário (QC) a ser usada, quando se emprega o método de satu- ração por base, é calculada pela seguinte expressão (Eq.1): QC (t ha–1 ) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT (Eq. 1) , sendo V = saturação por bases atual do solo; T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0; e PRNT = poder relativo de neutralização total do corretivo utilizado.
  • 19. Alimentos e Alimentação Animal 99 Tabela 6. Doses de calcário e de gesso calculadas com bases nas recomendações oficiais, comparativamente às doses que permitiram alcançar a produtividade máxima econômica, considerando uma relação de troca de 2,0 t de colmos industrializáveis para cada tonelada de calcário ou de gesso. Tipo de PRNT do Dose de Dose de Aumento de produção Custo do calcário e solo calcário calcário 1 gesso 1 Calcário Gesso em quatro anos do gesso 3 (%) LVE 63 2,5 1,0 4,0 2,0 76 12 LVA 77 5,3 1,4 10,0 6,0 72 32 LR 73 4,1 0,0 0,0 0,0 12 0 LVA 69 1,6 0,0 3,0 4,0 44 14 LVA 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13 LVE 52 9,8 3,5 10,0 10,0 76 40 Dose adequada 2 .----------------- t por hectare ----------------. .- t de colmos industrializáveis por hectare -. 1 Dose de calcário e de gesso baseada nas recomendações oficiais; 2 Dose de calcário e de gesso para alcançar a produtividade máxima; 3 Incluindo os custos de compra, transporte e aplicação. Fonte: Raij (2008). Em relação ao tipo de calcário, recomenda-se o dolomítico quando o teor de magné- sio na camada de 0 a 20 cm for inferior a 0,40 cmolc /dm3 de solo (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018a). No entanto, se o teor de magnésio na camada de 0 a 20 cm for maior que 0,40 cmolc /dm3 de solo, a orientação é para utilizar aquele corretivo que tenha o menor preço por tonelada de PRNT na lavoura. Dessa forma, inclui-se um fator econômico na tomada de decisão quanto ao tipo de calcário a ser empregado. Quanto ao gesso, seu uso tem sido recomendado com base nos resultados da análise química da camada de 20 a 40 cm. O gesso tem sido aplicado quando os teores de cálcio são menores que 0,40 cmolc /dm3 de solo ou a saturação por alumínio (m%) é maior que 20%. A dose usualmente recomendada é de um terço da dose de calcário. Um exemplo: supondo-se que a quan- tidade de calcário a ser aplicada é de 4,5 t/hectare, então a dose de gesso será de 1,5 t/ hectare. O calcário e o gesso são misturados para posterior aplicação ao solo. A aplicação de gesso levará à melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável, efeito que perdura por vários anos, por esse motivo não é necessária a reaplicação anual do gesso (OLIVEIRA et al., 2007; RAIJ, 2011b; OLIVEIRA et al., 2018a). Quando o pequeno produtor rural tiver dificuldade para adquirir o gesso deve-se optar pela aplicação do superfosfato simples como fonte de fósforo, uma vez que esse fertilizante contém sulfato de cálcio. Em pesquisa conduzida por Morelli et al. (1992), estudou-se do- ses de calcário e gesso, em cana-de-açúcar cultivada em solos de textura média e baixa capacidade de troca catiônica, tendo-se constatado muito boa relação entre os teores de cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular. Aos 27 meses após o início do estudo, verificou-se no tratamento que recebeu a aplicação de 2,8 t de gesso por hectare a maior produção de biomassa e de colmos industrializáveis. Pela análise do solo constatou-se re- lação entre o cálcio trocável e o sistema radicular da cana: a 150 cm de profundidade o Ca+2 era de 0,60 cmolc /dm3 e a massa de raízes de 1,1 g/ dm3 . Diversos autores têm relatado que, em condições de baixa disponibilidade de cálcio no solo, as raízes da cana concentram-se
  • 20. Alimentos e Alimentação Animal 100 na camada de 0 a 30 cm de profundidade; entretanto, no estudo conduzido por Morelli et al. (1992), citados na Tabela 7, cerca de 50% da massa do sistema radicular encontrava-se na camada de 51 a 150 cm. Tabela 7. Teores de cálcio no solo e o crescimento do sistema radicular da cana-de-açúcar, em solo que recebeu aplicação de calcário e de gesso. Camada Cálcio trocável Massa de raíz (cm) .--- (cmolcdm -3 ) ---. .----- (g dm -3 ) ----. 0 a 25 2,10 4,4 29,93 26 a 50 1,37 3,0 20,41 51 a 75 0,90 2,4 16,33 76 a 100 0,82 2,0 13,61 101 a 125 0,70 1,8 12,24 126 a 150 0,60 1,1 7,48 % do sistema radicular Fonte: Adaptado de Morelli et al. (1992). Nas pequenas propriedades, geralmente a distribuição da mistura calcário + gesso é manual. Um método recomendado para esses pequenos produtores tem sido demarcar, um quadrado ou retângulo com a própria mistura de calcário + gesso e, nessa área, aplicar um volume correspondente à dose recomendada. Por exemplo: supondo-se que a dose re- comendada tenha sido de 6.000 kg (4.500 kg de calcário + 1.500 kg de gesso, por hectare) e a densidade da mistura calcário + gesso seja de 1,25 kg/L, então devem ser aplicados 4.800 L da mistura por hectare ou 0,48 L da mistura/m2 . Uma das opções para o pequeno produtor distribuir manualmente o calcário + gesso, seria demarcar, com a própria mistura, áreas de 25 m2 e, nelas, aplicar 12,0 L de calcário + gesso. Após a aplicação do calcário + gesso, geralmente faz-se uma aração e uma gradagem para a incorporação dos produ- tos ao solo. Na grande maioria das pequenas propriedades rurais, tem-se recomendado a subsolagem, para a descompactação dos solos ou rompimento de camadas compactadas, após aração e gradagem (Figura 5). Figura 5. Subsolador utilizado para romper camadas compactadas do solo em uma área destinada ao plantio da cana- de-açúcar. A subsolagem foi realizada após a incorporação do calcário e do gesso.
  • 21. Alimentos e Alimentação Animal 101 A recomendação de subsolagem é com base no histórico de uso da área, no trânsito de máquinas, de implementos e de animais, na observação visual de presença de crostas na superfície do terreno, presença de ervas indicadoras e sistema radicular superficial da vegetação natural. Embora possa ser um ônus a mais para o pequeno produtor, a presen- ça de camadas adensadas ou compactadas tem consequências maléficas na absorção de água, nutrição mineral, no desenvolvimento da lavoura e na longevidade do canavial (VITTI e MAZZA, 2022; OLIVEIRA et al, 2019). Conforme citado anteriormente, às vezes o pequeno produtor tem dificuldade para alugar um trator de maior potência, com o subsolador, assim quando não for possível a subsolagem, recomenda-se uma aração mais profunda do terreno, com arado de disco, por ocasião do preparo do solo. Os teores de cálcio e de magnésio do solo diminuem ao longo dos ciclos da cana- -de-açúcar, tanto pela remoção de bases pelas colheitas da cana quanto pela acidificação causada pelos adubos nitrogenados. Os autores deste capítulo têm recomendado realizar a calagem nas áreas de rebrota quando se constatar saturação por bases inferior a 50% na camada de 0 a 20 cm. A aplicação do corretivo deverá ser em área total, procedendo posteriormente uma leve incorporação do corretivo na entrelinha da cana-de-açúcar usando grade ou uma capinadeira à tração animal. ADUBAÇÃO VERDE EM ÁREAS DE PLANTIO DE “CANA DE ANO MEIO” No item “Implantação do canavial”, foi comentado que uma das vantagens do plantio da “cana de ano e meio” é a possibilidade de uma adubação verde antecedendo ao plantio da cana-de-açúcar. Dentre as principais características desejáveis de uma planta a ser utilizada como adubo verde podem-se destacar: possibilidade de mecanização desde a semeadura até a colheita de sementes; capacidade de se associar às bactérias fixadoras do nitrogênio do ar atmosférico; crescimento rápido para controlar plantas daninhas; possuir mecanismos, ou sintetizar compostos, que auxiliem no controle de pragas como, por exemplo, nematoides e doenças; ausência de sementes dormentes; sistema radicular vigoroso e profundo que auxilie na reciclagem de nutrientes das camadas mais profundas e na descompactação dos solos, pois o uso intensivo do solo com práticas convencionais, como a excessiva mecani- zação, tem reduzido a matéria orgânica e causado compactação desses solos (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019; OLIVEIRA et al.; 2021). Outro aspecto a ser considerado é o fornecimento de substrato orgânico e mineral para os micro-organismos do solo, assim, a adubação verde também contribui para a melhoria da qualidade biológica do terreno. Diversas leguminosas possuem essas características, mas, de modo geral, há preferência pela crotalária juncea na região centro-sul do Brasil. Em estudos
  • 22. Alimentos e Alimentação Animal 102 conduzidos pelos autores deste capítulo, na região da zona da Mata Mineira, a adubação verde com crotalária juncea, antecedendo ao plantio da “cana de ano e meio”, resultou em aumento de produção nos ciclos de cana-planta e primeira rebrota, que, somados, oscila- ram de 23 a 31 t de forragem por hectare. Numa análise de vários anos, os custos dessa adubação verde variaram, em preços equivalentes, de 7,5 a 14 t de forragem por hectare, assim, o aumento de produtividade cobriu com folga os custos do cultivo da leguminosa. Deve-se considerar ainda que, há estudos em que o aumento de produtividade da cana-de- -açúcar devido a adubação verde com crotalária juncea foi maior: Mascarenhas et al. (1994), em estudos conduzidos por vários anos em Sales Oliveira, estado de São Paulo, relatam aumentos de produtividade de forragem variando em 32 a 50 t por hectare. Mais detalhes sobre a adubação verde podem ser obtidos em Oliveira et al. (2021). SULCAGEM, ADUBAÇÃO E PLANTIO DA CANA-DE-AÇÚCAR A sulcagem do solo para o plantio da cana-de-açúcar é realizada após a aração e gra- dagem do terreno para a incorporação do calcário e do gesso ou, depois da incorporação da crotalária juncea, no caso do plantio da “cana de ano e meio”. Normalmente essa sulcagem é realizada com sulcadores-adubadores que abrem o sulco e simultaneamente adubam. Quando não se dispõem desse implemento, pode-se empregar o arado de aivecas ou de dis- cos, utilizando apenas um disco, sulcando-se sempre que possível em nível. Uma alternativa para o pequeno produtor rural é a sulcagem com arado a tração animal e, se for necessário, faz-se manualmente um acerto no sulco usando enxada valetadeira. A sulcagem deverá ser realizada o mais próximo possível da distribuição das mudas e do plantio, para conservar a umidade do solo, em dias secos ou evitar o assoreamento dos sulcos, em dias chuvosos. O espaçamento entre sulcos tem oscilado de 0,90 a 1,40 m, variando em função da distância entre os pneus da carroça ou do implemento que transitará na lavoura, da topografia, da fertilidade do solo e do tipo de cultivo. Em áreas mais férteis são adotados espaçamentos mais largos para evitar que a cana afine e futuramente possa tombar com os ventos. Entretanto, em solos de menor fertilidade e menos adubados, mais inclinados ou quando são utilizados cultivares de menor capacidade de perfilhamento, devem-se adotar espaçamentos mais estreitos para permitir melhor distribuição espacial das plantas, cobertura mais uniforme do solo e aumento de produtividade (OLIVEIRA et al., 2019). Os principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração de macronutrientes nesses fertilizantes, estão listados na Tabela 8. Infelizmente, ainda se expressam os valores de concentração de fósforo e de potássio dos fertilizantes em P2 O5 e K2 O, um resquício da química do século 19, quando ainda se incineram os materiais para a análise química.
  • 23. Alimentos e Alimentação Animal 103 Tabela 8. Principais adubos químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar e a concentração de macronutrientes nesses fertilizantes. N P K Ca Mg S Ureia 45,0 ------- ------- ------- ------- -------- Sulfato de amônio 21,0 ------- ------- ------- ------- 23,0 Nitrato de cálcio 13 a 15 ------- ------- 17 a 19 ------- -------- Nitrato de amônio 34,0 ------- ------- ------- ------- ------- Superfosfato simples ------- 7,8 a 9,2 18 a 20 ------- 12,0 Superfosfato triplo ------- 18,3 a 20,9 ------- 8 a 10 ------- 1 a 2 Fosfato monoamônio (MAP) 9 a 11 21,8 a 23,6 ------- ------- ------- -------- Fosfato diamônio (DAP) 16 a 18 18,3 a 20,0 ------- 20 a 22 ------- -------- Termosfosfato Yoorin ------- 7,8 a 8,7 ------- ------- -------- Cloreto de potássio ------- ------- 50 a 51 ------- ------- -------- Sulfato de potássio ------- ------- 41 a 43 ------- ------- 17 a 18 Adubo -------------- Concentração de Nutrientes (%) ---------------- Nos adubos fosfatados citados na tabela, o fósforo está na forma de H3 PO4 porque a ro- cha fosfatada, geralmente a hidroxiapatita [(Ca10 (OH)2 (PO4 )6 ] ou a fluorapatita [(Ca10 F2 (PO4 )6 ] são solubilizadas com ácidos (sulfúrico ou fosfórico), originando o H3 PO4 e alguns outros produtos, dentre eles o gesso agrícola. Para transformar os valores de P e K, citados na Tabela 8, em P2 O5 e K2 O, é necessário multiplicar por 2,29 e 1,2, respectivamente. Para a cana-planta recomendam-se apenas adubação fosfatada e potássica, pois, em estudos conduzidos pelos autores do capítulo, constatou-se ausência de resposta da cana à adubação nitrogenada. Essa baixa ou ausente resposta da cana-planta à adubação é generalizada para os solos cultivados com cana-de-açúcar no Brasil (OLIVEIRA et al., 2007). A ausência de resposta da cana-planta à adubação nitrogenada deve-se à mine- ralização da matéria orgânica do solo e à maior eficiência nutricional do sistema radicular da cana-planta, comparativamente às rebrotas (OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018a). Em relação à mineralização da matéria orgânica do solo, pode-se recorrer aos es- tudos conduzidos nos tabuleiros costeiros de Pernambuco, nordeste do Brasil, por Salcedo et al. (1985) para reforçar essa afirmação. Salcedo e colaboradores quantificaram a minera- lização do carbono e do nitrogênio em um Podzólico vermelho-amarelo, latossólico arenoso, ao longo do ciclo da cana-planta, amostrando o solo antes do plantio e, aos 3, 6, 11 e 16 meses após, nas profundidades de 0 a 20; 20 a 40 e de 40 a 60 cm. Os teores de carbono total foram de 6,7; 4,1 e 3,4 g kg–1 , enquanto que, para o N total, obtiveram-se valores de 0,7; 0,4 e 0,3 g kg–1 . Foi constatado que, as quantidades estimadas do N potencialmente mineralizável foram de 139 e 132 kg por hectare, para as profundidades de 0 a 20 e 20 a 60 cm respectivamente, com uma constante de mineralização de 0,074 por semana. Salcedo et al. (1985) citam ainda que, apesar do solo estudado ser considerado de baixa fertilidade, pelos resultados obtidos, pode-se afirmar que as quantidades de N orgânico mineralizado seriam suficientes para satisfazer as necessidades da cana-planta.
  • 24. Alimentos e Alimentação Animal 104 A absorção e o metabolismo do nitrogênio são muito influenciados pela disponibili- dade endógena de fósforo (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2018). Em plantas com suprimento adequado de P ocorre aumento na absorção do nitrato da solução do solo; há maior translocação de nitrato das raízes para a parte aérea, aumen- tando o acúmulo de aminoácidos em folhas e raízes (RUFTY et al., 1990; OLIVEIRA et al., 2007). Oliveira et al. (2007) citam pesquisas conduzidas no estado de Minas Gerais, nas quais verificaram-se que o aumento da dose de adubação fosfatada, aplicada no sulco de plantio, repercutiu em maiores acúmulos de N na biomassa da parte aérea da cana-planta, tendo-se observado que, para cada quilograma de P aplicado, houve aumento de cerca de um quilograma de N nessa biomassa. Esses resultados são decorrentes dos efeitos das alterações causadas na absorção e no metabolismo do N, conforme citado por Rufty et al. (1990) e Oliveira et al. (2018a). Diferentemente da cana-planta, há alta resposta das rebrotas a adubação nitrogenada. Assim, é necessário adubar as rebrotas com nitrogênio, podendo-se adotar o critério de adu- bação de restituição do nitrogênio removido pela colheita da cana. Nos estudos conduzidos pelos autores, os teores de proteína bruta de canaviais bem nutridos têm oscilado de 2,6 a 3,2% (26 a 32 g de proteína bruta por kg de matéria seca). Em média a proteína bruta tem 16% de nitrogênio, assim a remoção de N pela colheita da parte aérea da cana-de-açúcar oscila de 4,16 a 5,12 g de N por kg de matéria seca de forragem. Supondo que uma rebrota tenha produtividade de 135 t de forragem por hectare, com 30% de matéria seca, então ha- verá remoção de nitrogênio variando de 168 a 207 kg de N por hectare. Nesse caso, poderia ser recomendada adubação nitrogenada variando de 170 a 210 kg de N por hectare. Se a fonte do adubo nitrogenado for ureia, há necessidade de enterrio no solo, para evitar perdas por volatilização. Para fontes amoniacais ou nítricas, não há necessidade de incorporação ao solo ou enterrio. A recomendação de adubação fosfatada e potássica para a cana-planta é baseada nos resultados da análise de solo, na camada de 0 a 20 cm, e na expectativa de produti- vidade do canavial (Tabelas 9 a 13). A maior dose de fósforo deve ser aplicada no fundo do sulco de plantio. Essa aplicação, a uma profundidade maior, aumenta a absorção do nutriente pela cana, uma vez que a disponibilidade hídrica da subsuperfície varia menos que na superfície. A mobilidade do fósforo no solo é pequena e sua difusão é influenciada por diversos fatores, com destaque para: precipitação por cátions como o ferro, alumínio e cálcio; conteúdo volumétrico de água no solo; adsorção do fósforo pelos coloides do solo; complexidade da estrutura do meio; compactação do solo; distância a percorrer até atingir as raízes e o teor do elemento no solo (NOVAIS e SMITH, 1999).
  • 25. Alimentos e Alimentação Animal 105 Tabela 9. Classes de fertilidade do solo considerando os teores de argila, o fósforo e o potássio extraídos com Mehlich. Baixo Médio Alto 0 a 150 Menor que 20 20 a 30 Acima de 30 150 a 350 Menor que 15 15 a 20 Acima de 20 350 a 600 Menor que 10 10 a 15 Acima de 15 600 a 1.000 Menor que 5 5 a 10 Acima de 10 Baixo Médio Alto Menor que 40 41 a 90 Acima de 90 Teor de argila (g kg -1 ) Classificação do Fósforo Disponível .------------- mg dm -3 ---------------. Classificação do Potássio Disponível .------------- mg dm -3 ---------------. Em geral, são registrados valores muito baixos de transporte de fósforo, devido a sua forte interação com os coloides do solo, principalmente em solos muito intemperizados e, segundo Novais e Smith (1999), pode-se estimar que o transporte é em média de 0,013mm por dia. Se houve aplicação de gesso no solo deve-se optar pelo uso de superfosfato triplo, para diminuir os custos de implantação do canavial, uma vez que o kg de fósforo originário do superfosfato triplo é mais barato que o do superfosfato simples. Tabela 10. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído com Mehlich e na expectativa de produção de forragem (matéria natural). Baixa Média Alta Menos de 100 80 ------- ------- 100 a 150 90 70 50 150 a 180 100 80 60 Maior que 180 120 90 70 Expectativa de Produção de Forragem no Ciclo de Cana-Planta (t ha -1 ) Classe de Fertilidade do Solo .---- Dose de P (kg ha -1 )* -----. * Para transformar P em P2 O5 , multiplica-se o valor desejado por 2,29. O fósforo aplicado por ocasião do plantio da cana assegura, na maioria das vezes, suprimento adequado do elemento para a cana-planta e para a primeira rebrota, devendo- -se utilizar formulações contendo P na adubação das rebrotas posteriores. Antecedendo a adubação fosfatada das rebrotas, deve-se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm, e, caso a saturação por bases (V) seja inferior a 50%, recomenda-se, primeiramente, realizar uma calagem para elevar V para 60%. A ausência de alumínio trocável na solução do solo aumenta a eficiência da adubação fosfatada, especialmente por não haver formação de fos- fato de alumínio, tanto no solo quanto dentro das raízes das plantas, uma vez que o fosfato de alumínio é um composto de baixa solubilidade. Caso a saturação por bases seja maior que 50% e o teor de P, extraído com Melhich, seja menor que 10 mg dm–3 , recomenda-se a adubação fosfatada da rebrota.
  • 26. Alimentos e Alimentação Animal 106 Tabela 11. Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana-planta, baseando-se na disponibilidade do fósforo extraído com resina de troca iônica e na expectativa de produção de forragem (matéria natural). 0 a 6 7 a 17 16 a 40 > 40 Menos de 100 80 44 30 20 100 a 150 90 55 40 26 Mais de 150 100 66 45 35 Expectativa de Produção de Forragem no Ciclo de Cana-Planta (t ha -1 ) Fósforo Extraído (mg dm -3 ) .-------- Dose de P (kg ha -1 )* ------. Para transformar P em P2 O5 , multiplica-se o valor desejado por 2,29. Fonte: adaptado de Raij (1997). A dose de fósforo utilizada na adubação das rebrotas pode ser baseada na restituição do P removido pela colheita; nesse caso, para cada t de matéria natural devem-se aplicar de 200 a 300 g de P. Caso, por exemplo, a produção de forragem (matéria natural) da rebrota tenha sido de 135 t por hectare, devem ser aplicados de 27 a 40 kg de P por hectare. O adubo fosfatado deverá ser aplicado juntamente com o N e o K. A adubação N-P-K das rebrotas poderá ser realizada simultaneamente com a operação de cultivo da entrelinha. Em pequenas propriedades, a sulcagem da entrelinha da cana com arado de tração animal para posterior adubação tem apresentado bons resultados. O adubo N-P-K é aplicado no sulco aberto na entrelinha da cana e, posteriormente, coberto com terra, usando-se novamente implemento de tração animal. A adubação potássica da cana é realizada no plantio e após cada corte da cana, devido ao fato de o potássio se deslocar no perfil do solo. Essa adubação se baseia nos resultados da análise de solo da camada de 0 a 20 cm e na produtividade que se deseja obter. Nas Tabelas 12 e 13, são apresentadas as recomendações para adubação potássica da cana- -planta e das rebrotas, tendo como extrator o Melhich ou a resina de troca iônica. Tabela 12. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído com Mehlich e na expectativa de produção de matéria natural. Baixa Média Alta Menos de 90 120 ------ ------- 90 a 120 140 120 120 120 a 150 160 140 140 150 a 180 180 160 160 Mais de 180 200 180 180 Expectativa de Produção de Forragem no Ciclo da Cana-Planta (t ha -1 ) Classe de Fertilidade do Solo .---- Dose de K (kg ha -1 )* -----. * Para transformar K em K2 O, multiplica-se o valor desejado por 1,20. Fonte: Oliveira et al. (2007).
  • 27. Alimentos e Alimentação Animal 107 Tabela 13. Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, baseando-se na disponibilidade do potássio extraído com resina de troca iônica e na produtividade esperada. 0 a 0,7 0,8 a 1,5 1,6 a 3,0 3,1 a 6,0 > 6,0 Menos de 100 120 100 60 60 0 100 a 150 160 140 100 80 0 Mais de 150 200 160 120 100 0 Expectativa de Produção de Forragem no Ciclo da Cana-Planta (t ha -1 ) K Extraído com Resina (mmolc dm -3 ) .-------------- Dose de K (kg ha -1 )* --------------. * Para transformar K em K2 O, multiplica-se o valor desejado por 1,20. Fonte: adaptado de Raij, 1997. A dose de K a ser aplicada nas rebrotas pode-se basear na restituição do potássio re- movido pela colheita, à semelhança do sugerido para as adubações nitrogenada e fosfatada. Esse método foi adotado pelos autores e tem sido recomendado com excelentes resultados agronômicos e financeiros. Embora a absorção e a remoção de potássio variem entre os cultivares de cana-de-açúcar, pode-se considerar que para cada t de forragem colhida (ma- téria natural) há, em média, uma remoção de l,5 kg de potássio. Não há necessidade de se parcelar o potássio utilizado nas adubações das rebrotas, devido às possíveis perdas por lixiviação (OLIVEIRA et al., 2007). Nos estudos conduzidos pelos autores do capítulo, não foram verificadas perdas de K por lixiviação, resultados confirmados por Sampaio e Salcedo (1991) que também observaram que as perdas de K, por percolação abaixo de 100 cm de profundidade, foram de 9,0 kg ha–1 , totalmente compensados pelo aporte de K provindos da água da chuva, 18 kg por ha. Em relação ao plantio da cana, recomenda-se densidade de gemas oscilando de 12 a 15 gemas por metro de sulco, gastando-se em média de 12 a 14 t de mudas por hectare. Conforme citado anteriormente, as mudas de cana-de-açúcar devem ser de boa qualidade, escolhendo-se preferencialmente aquelas provenientes de viveiros, de boa sanidade, de primeiro ou, no máximo, segundo corte. É importante também confirmar a sanidade da muda quanto às doenças, pragas e mistura de outros cultivares. A disposição das canas dentro do sulco deve, preferencialmente, ser orientada no sentido de pé com ponta cruzado com um colmo ao lado do outro. Em seguida, picam-se os colmos em toletes de duas ou três gemas, os quais são, posteriormente, cobertos com camada de terra variando de 5,0 a 8,0 cm, não devendo ser superior a 10 cm de espessura. Normalmente, a prática cultural que sucede ao plantio da cana-de-açúcar é a aplicação de herbicidas para o controle de plantas daninhas. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS As plantas daninhas competem com a cultura da cana-de-açúcar, durante a fase de crescimento, por água, luz, nutrientes, podendo exsudar compostos de ação fitotóxica
  • 28. Alimentos e Alimentação Animal 108 (alelopatia) e hospedar pragas e doenças (SOUZA, 1985; PROCÓPIO et al., 2003, OLIVEIRA et al., 2007). A cana-de-açúcar apresenta metabolismo C4 , o que a torna relativamente mais competitiva na assimilação do CO2 atmosférico e no uso de nutrientes, porém diversas plantas daninhas são da mesma família da cana e, portanto, apresentam o mesmo metabolismo. Por ocasião da colheita, a presença de plantas daninhas continua a causar prejuízos, pois, quando o corte da cana é realizado manualmente e sem a queima prévia, a presença de mato diminui o rendimento do trabalhador e o torna mais vulnerável às picadas de cobras e escorpiões. A longevidade do canavial, também, diminui quando não se realiza um con- trole eficiente das plantas daninhas. Mantendo-se a cultura livre de matocompetição até o fechamento das entrelinhas, o sombreamento do solo assegura, na maioria das vezes, uma colheita da cana sem a presença de plantas daninhas. Há várias formas de se controlar as plantas daninhas, entretanto, as associações mais comuns são de métodos culturais, com os mecânicos e os químicos (PROCÓPIO et al., 2003, OLIVEIRA et al., 2007). Os métodos culturais são práticas que visam tornar a cultura da cana mais competitiva em relação às plantas daninhas e englobam a redução de espa- çamentos de plantio; cultivos intercalares ou rotação de cultura com soja, amendoim, milho e adubos verdes; e, o uso de variedades de alto perfilhamento que sombreiam o solo mais rapidamente (PROCÓPIO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2007). Em pesquisas conduzidas pelos autores deste capítulo, em áreas densamente infestadas com capim marmelada, a semeadura de crotalária juncea por ocasião da reforma do canavial teve grande efeito supressor, devido ao sombreamento causado no capim, reduzindo o número de sementes produzidas pela gramínea. O método químico tem sido o mais utilizado pelos pequenos produtores (Figura 6), havendo no mercado herbicidas que são utilizados na pré-emergência do mato ou na pós- -emergência, com as plantas daninhas em estágios iniciais ou muito desenvolvidas.
  • 29. Alimentos e Alimentação Animal 109 Figura 6. O uso de herbicidas que mantém a cultura livre de matocompetição até o fechamento das entrelinhas, o que assegura, na maioria das vezes, uma colheita da cana-de-açúcar sem a presença de plantas daninhas. No controle mecânico utilizam-se arados e grades por ocasião da reforma do canavial e este método é de grande eficiência, dependendo da umidade do solo, da radiação solar e das espécies predominantes na área. Para o controle de mato na entrelinha da cana podem ser usados cultivadores à tração animal. A capina manual, outrora utilizada como principal método de controle, hoje se restringiu a catação e pequenas áreas. O cultivo mecânico apresenta limitações especialmente por não controlar o mato da linha da cana e, mesmo para o mato da entrelinha, sua eficiência pode ser grandemente diminuída, dependendo das condições climáticas e das plantas infestantes, como algumas do gênero brachiaria, que se multiplicam de forma vegetativa. A seguir são descritas considerações sobre alguns herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar e, na Tabela 14, consta o nome comercial de alguns desses herbicidas. Ametryne: Recomendado para a fase pré ou pós-emergência inicial em aplicação iso- lada ou em misturas com outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, clomazone, MSMA e outros). Esse herbicida causa pequena toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. O período efetivo de controle ou efeito residual é cerca de 70 a 100 dias. É eficaz no controle de capim colchão (Digitaria horizontalis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de galinha (Eleusine indica), beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão preto (Bidens pilosa) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens têm variado de 3,0 a 5,0 litros por hectare. As doses menores são para solos mais leves ou aplicação em solo úmido, indicando-se as doses maiores para solos pesados ou aplica- ção em solos secos.
  • 30. Alimentos e Alimentação Animal 110 Tabela 14. Principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar e épocas de aplicação em relação à emergência das plantas daninhas. Mecanismo de ação Época de aplicação Herbicida (Marca comercial) Oxyfluorfen Pré ou pós-emergência Goal Sulfentrazona Pré-emergência Boral e Solara Ametrina Pré ou pós-emergência Ametrina, Gesapax, Herbipax e Metrimex Atrazina Pré ou pós-emergência Atrazinax, Gesaprim, Atrazina Nortox Atrazina + Simazina Pré ou pós-emergência Extrazin, Triamex, Primatop e Herbimix Diuron Pré ou pós-emergência Karmex, Diuron Nortox Ametrina + Diuron Pré ou pós-emergência Ametron Hexazinone + Diuron Pré ou pós-emergência Velpar K e Advance Metribuzin Pré ou pós-emergência Sencor Simazina Pré-emergência Gesatop Tebuthiuron Pré-emergência Combine, Tebuthiuron Alachor Pré-emergência Laço Pendimethalin Pré-emergência Herbadox Trifluralin Pré-emergência Trifluralina Nortox, Treflan e Premerlin MSMA Pós- emergência Daconate, Dessecan Flazasulfuron Pré ou pós-emergência Katana Glifosato Pós- emergência Glifosato, Roundup, Trop Halosulfurona Pós- emergência Sempra Imazapic Pré ou pós-emergência Plateau Imazapyr Pré ou pós-emergência Arsenal, Contain e Chopper Trifloxysulfuron +ametrina Pós- emergência Krismar Clomazone Pré-emergência Gamit Isoxaflutole Pré-emergência Provence Clomazone + Ametrina Pré-emergência Sinerge, Ranger 2,4 D Pré ou pós-emergência DMA Dicamba Pré ou pós-emergência Banvel 480 Picloran + 2,4 D Pré ou pós-emergência Dontor Destruidores de membrana Inibidores de mitose e crescimento inicial Inibidores da respiração Inibidores da síntese de aminoácidos Inibidores da síntese de pigmentos Reguladores de crescimento Inibidores de fotossíntese 2,4-D: Recomendado para aplicação em pós-emergência, misturado ou não com outros herbicidas (Diuron, MSMA, tebuthiuron, ametryne e outros). O período efetivo de controle é cerca de 25 a 40 dias. É eficaz somente no controle de dicotiledôneas. As dosagens variam de 0,8 a 1,5 litro por hectare. Diuron: Recomendado em pré ou em pós-emergência inicial do mato em aplicação isolada ou em misturas com outros herbicidas (2,4-D, tebuthiuron, MSMA e outros). Apresenta efeito residual de 150 a 180 dias. É eficaz no controle de capim colchão (Digitaria horizon- talis), capim marmelada (Brachiaria plantaginea), capim pé de galinha (Eleusine indica), beldroega (Portulaca oleracea), caruru (Amaranthus spp), picão preto (Bidens pilosa) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). As dosagens têm variado de 1,8 L/ha (Diuron 500) a 3,2 L/ha (Karmex GRDA). Em condições de muita umidade. Tem amplo espectro de controle e efeito residual de 90 a 120 dias. Para o Advance e o Velpar K as doses têm variado de 2,2 a 2,8 e, 1,5 a 2,7 kg/ha, respectivamente.
  • 31. Alimentos e Alimentação Animal 111 MSMA: Recomendado em pós-emergência tardia do mato em jato dirigido. Causa elevada toxicidade à cultura da cana-de-açúcar. Tem sido muito utilizado em misturas com outros herbicidas (diuron, 2,4-D, tebuthiuron, ametryne, Velpar K e outros). É eficaz no con- trole de diversas gramíneas anuais e perenes, bem como da tiririca quando esta apresenta cerca de 4 a 8 folhas. Para o MSMA 790, recomendam-se doses variando de 0,5 a 0,87 L/ha. Tebuthiuron. Recomendado em pré-emergência, inclusive para aplicação em solo seco. Em pós-emergência não há eficiência do produto. Sua persistência no solo é grande, com efeito residual entre 12 a 15 meses. Não deve ser utilizado nas áreas que se pretende reformar o canavial e realizar rotação de cultura com soja, amendoim e feijão. Apresenta elevado espectro de controle, sendo eficiente para controle de diversas dicotiledôneas e gramíneas, exceto o capim-colchão (Digitaria horizontalis). Diuron + Hexazinone: São comercializados com os nomes de Advance e Velpar K. O Advance é mais usado em cana-planta e o Velpar K nas rebrotas, sendo aplicados em pré ou em pós-emergência inicial, em solo com umidade. Esses herbicidas causar toxicidade à cultura, especialmente em solos arenosos. ADUBAÇÃO DAS REBROTAS COM DEJETO DE BOVINOS OU CAMA DE AVIÁRIO Os dejetos de bovino e a cama de aviário são os resíduos orgânicos mais utilizadas na adubação da cana-de-açúcar, nas pequenas propriedades rurais. A utilização desses adubos orgânicos é uma forma de diminuir os custos de produção, reciclar nutrientes e melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A eficiência dos dejetos de bovino e a cama de aviário na nutrição mineral da cana-de-açúcar depende da composição química do dejeto, da quantidade aplicada e de fatores ambientais, especialmente da temperatura e da umidade. A análise química dos dejetos de bovinos permite calcular a quantidade des- ses resíduos que devem ser aplicados no solo, visando repor os nutrientes removidos pela colheita da cana-de-açúcar. Na Tabela 15, são mostrados os resultados das análises químicas de dejetos de vacas leiteiras, de pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, alimentadas com diferentes volumosos e quantidades de ração concentrada. Considerando apenas a remoção do nitro- gênio, fósforo e potássio pela colheita de 150 toneladas de forragem (colmos + ponteiros + folhas) há remoção de nutrientes da ordem de 150, 45 e 225 kg de N, P e K, respectiva- mente. A relação K/N da forragem é de 1,5, bem superior à dos dejetos de bovinos. Dessa forma, se o canavial estiver sendo adubado com dejetos de bovinos há necessidade de complementar a adubação com potássio, visando repor os nutrientes removidos com a colheita da cana-de-açúcar.
  • 32. Alimentos e Alimentação Animal 112 Tabela 15. Porcentagem de matéria seca no dejeto de vacas leiteiras (% de MS no dejeto) e de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) na matéria seca de dejetos de vacas leiteiras, alimentadas com diferentes volumosos e quantidades de ração concentrada. N P K Ca Mg S Volumoso Ração Concentrada (kg/vaca/dia) Pastagem 9 14,1 19,4 14,4 12,0 13,9 7,1 3,5 0,62 Silagem de milho 8 13,9 23,6 10,0 10,4 10,5 5,1 3,1 0,44 Silagem de milho 10 11,7 21,1 10,9 11,2 11,6 4,5 3,4 0,53 Silagem de milho 12 12,9 24,1 11,2 11,7 12,3 4,6 3,6 0,48 13,1 22,0 11,6 11,3 12,0 5,3 13,6 0,52 Alimentação % de MS no dejeto Relação K/N .-------- g kg -1 de matéria seca de dejetos --------. Média Em um estudo conduzido por Oliveira (OLIVEIRA, M.W., dados não publicados) em pequena propriedade rural, no município de Mercês, Estado de Minas Gerais, avaliou-se o uso de dejetos de vacas leiteiras na adubação da cana-de-açúcar, comparativamente à adu- bação química. O solo, de textura média, recebeu aplicação de 6,0 t de calcário dolomítico e 3,0 t de gesso, baseando-se na análise de solo e seguindo-se recomendação de Oliveira et al. (2007) e Raij (2011a). Por ocasião do plantio da cana-de-açúcar, todas as parcelas receberam aplicação de 100 kg de P e 250 kg de K por hectare, devido aos baixos teores de fósforo e de potássio desse solo. O estudo iniciou-se após a colheita da cana-planta, sendo constituído de duas fontes de nutrientes: 1) Dejetos de vacas leiteiras e, 2) Adubação química com ureia e cloreto de potássio. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com sete repetições. Foram avaliados nos ciclos de primeira e segunda rebrotas, o estado nutricional, a produção e a qualidade da forragem e a produção de colmos industrializáveis da variedade de cana-de-açúcar RB867515. Tanto na adubação da cana de primeira rebrota quanto na de segunda rebrota foram aplicadas as mesmas quantidades de nutrientes: 220 kg de nitrogênio e 250 kg de potássio ha–1 , independentemente de a adubação ser química ou orgânica. Na adubação química foram utilizados ureia e cloreto de potássio, enquanto na adubação orgânica houve neces- sidade de complementação com cloreto de potássio devido a relação N: K no dejeto ser de 1,78: 1,0, quando a desejada é de 1,0:1,0 a 1,0:1,2 (OLIVEIRA et al., 2007). Em média, cerca de 50% do potássio usada na adubação orgânica foi proveniente do fertilizante quími- co. A quantidade de dejetos de vacas leiteiras aplicada oscilou em torno de 12 t de matéria seca por hectare por ano. Em relação ao estado nutricional das plantas, constatou-se que não houve efeito de ciclo ou do tipo de adubação sobre os teores de macro e micronutrientes no terço do limbo da folha +3. Por esse motivo, na Figura 7, estão apresentados os valores médios, dos dois ciclos e dos dois tipos de adubação. Verificou-se que as plantas estavam bem nutridas, com base nas faixas de concentração de nutrientes citadas Oliveira et al. (2007) e Raij (2011).
  • 33. Alimentos e Alimentação Animal 113 Figura 7. Valores médios dos teores de macro e micronutrientes na folha +3 da cana-de-açúcar variedade RB867515, comparativamente aos valores mínimos e máximos citados por autores brasileiros. 0 5 10 15 20 25 P Mg S Ca K N Teor de nutrientes na folha +3 (g kg -1 ) Teor Mínimo Adubação química Dejeto de vacas leiteiras Teor Máximo 0 50 100 150 200 250 B Cu Fe Mn Zn Teor de nutrientes na folha +3 (mg kg -1 ) Teor Mínimo Adubação química Dejeto de vacas leiteiras Teor Máximo O acúmulo médio de matéria natural na biomassa aérea da cana-de-açúcar foi de 134 t por hectare no ciclo de primeira rebrota e de 126 t no ciclo de segunda rebrota, não havendo efeito significativo de ciclo. O percentual de colmos na matéria natural da biomassa aérea foi cerca de 85% e o percentual de matéria seca na biomassa aérea oscilou em torno de 30%, porém, estes percentuais não foram influenciados por tipo de adubação e, ou ciclo da cana-de-açúcar. Os ciclos e os tipos de adubação também não tiveram efeito na qualidade bromatológica da forragem. Na biomassa seca da parte aérea, o teor médio de proteína foi de 29,4 g por kg de matéria seca, enquanto que para a fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) e lignina obtiveram-se médias de 466, 246 e 41 g por kg de matéria seca. Embora tenha sido avaliado apenas dois ciclos, pelos resultados obtidos nesse estudo, pode-se concluir que a adubação com dejetos de vacas leiteiras teve o mesmo efeito da adubação química no estado nutricional das plantas, na produção e na qualidade da forragem da cana-de-açúcar. A cama de aviário é mais uma alternativa de adubação orgânica para a cana-de-açúcar. Nos últimos anos, esse resíduo teve demanda e preço diminuídos pela proibição do seu uso na alimentação de bovinos. A concentração de nutrientes na cama de aviário é influenciada pelo material usado para cobrir o piso do aviário de frangos de corte e, a grande maioria dos avicultores da região da zona da Mata Mineira opta pelo uso de casca de arroz, casca de café, capim napier, maravalha e sabugo de milho. Na Tabela 16, são apresentados os teores de nutrientes de cinco camas de aviário, coletadas na região, depois de utilizadas em um lote de frango de corte (48 dias em média), na densidade de 15 aves/m2 . Assim, a cama de aviário pode ser um adubo orgânico alternativo à fertilização química, devendo-se, à semelhança dos dejetos bovinos, complementar a adubação com potássio, visto que na cama de aviário a relação média do K/N é de 0,80.
  • 34. Alimentos e Alimentação Animal 114 Tabela 16. Nutrientes na matéria seca (g kg–1 de MS) de cinco camas de aviário, nas quais foram utilizados diferentes materiais para cobrir o piso do aviário de frangos de corte. Cama de aviário N P K Ca Mg S Casca de arroz 34,7 a 15,9 b 26,8 b 25,7 a 6,2 a 16 ab Casca de café 32,8 a 14,4 b 28,9 ab 25,0 a 5,5 b 15 b Capim napier 34,8 a 15,1 b 23,3 c 25,5 a 6,0 a 15 b Maravalha 30,9 a 13,7 b 24,4 c 25,8 a 5,7 b 14 b Sabugo 34,2 a 18,6 a 29,7 a 28,3 a 6,7 a 18 a Média 33,5 15,5 26,6 26,1 6,0 15,0 CV (%) 10,60 12,20 10,00 6,60 8,20 10,10 .-------------------- g kg -1 de MS -----------------------. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. Fonte: SOUZA et al. (2012). CONSIDERAÇÕES FINAIS A cana-de-açúcar é uma cultura de alto potencial produtivo que responde muito bem à melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas do solo. Devido a esse alto po- tencial produtivo, há grande remoção de nutrientes por ocasião da colheita e, devem ser implementadas ações para assegurar a restituição deste elemento ao solo, com o objetivo de manter ou elevar a fertilidade do terreno. As tecnologias recomendadas pelos autores aos pequenos produtores rurais para a implantação e condução de canaviais têm resultado em alta produtividade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subse- quentes. Além disso, as técnicas propostas maximizaram o uso dos insumos, da terra e de recursos humanos, com consequentes reduções de custos operacionais. REFERÊNCIAS 1. BONOMO, P. et al. Potencial forrageiro de variedades de cana-de-açúcar para alimentação de ruminantes. Acta Scientiarium Animal Sciences, Maringá, v.31, n.1, p.54-59, 2009. 2. BORGES, A.L.C. et al. O uso da cana-de-açúcar com ureia na alimentação de bovinos. Ca- dernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. v.80., p.39-54. 2016. 3. BOYER, J. S. Leaf enlargament and metabolic rates in corn, soybean, and sunflower at various leaf water potencials. Plant Physiology, Bethesda, v.46, p.233-235, 1970. 4. CORREA, C.E.S. et al. Performance of holstein cows fed sugarcane or corn silages of diffe- rent grain textures. Scientia Agricola, Piracicaba, v.60, n.4, p.621-629, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-90162003000400003. 5. COSTA, N. de L. et al. Rendimento, composição química e valor nutritivo da forragem. In: COSTA, N. de L. (Ed.). Formação, manejo e recuperação de pastagens em Rondônia. Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2004. p.120-141.
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  • 36. Alimentos e Alimentação Animal 116 22. OLIVEIRA, M.W. et al. Biomass yield, nutritional status and industrial quality of sugarcane as a function of nitrogen and potassium fertilization. Australian Journal of Crop Science, v.12, n. 5, p. 834- 840. 2018c. Disponível em: https://search.informit.org/doi/10.3316/ infor- mit.733069745781164. 23. OLIVEIRA, M.W. et al. Doses de corretivos e alterações químicas em dois solos. I Congresso Brasileiro de Mamona. Campina Grande, Paraíba. 2004. CD Room. 24. OLIVEIRA, M.W. et al. Sugarcane Production Systems in Small Rural Properties. In: Multi- functionality and Impacts of Organic and Conventional Agriculture. 1ed. Londres: INTECH - OpenScience, 2019. Disponível em: https://www.intechopen.com/books/ multifunctionality- -and-impacts-of-organic-and-conventional-agriculture/sugarcane-production-systems-in-small- -rural-properties. 25. PROCÓPIO, S. O. et al. Manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar. Viçosa: Suprema, 2003. 150 p. 26. RAIJ, B. Fertilidade do Solo e Manejo de Nutrientes. 1. ed. Piracicaba - SP: IPNI - Interna- tional Plant Nutrition Institute, 2011a. 420 p. 27. RAIJ, B.V. Melhorando o ambiente radicular em subsuperfície. Informações Agronômicas, n. 153, POTAFOS, Piracicaba. p.8-18, 2011b. 28. RAIJ, B.V. Nova tabela de adubação e calagem para a cana-de-açúcar. In: SEMANA DA CA- NA-DE-AÇÚCAR DE PIRACICABA, 2., Piracicaba, 1997. Anais... Piracicaba, ESALQ/IAC,. p.40-42. 1997. 29. RAIJ, B.V. Gesso na agricultura. Campinas: Instituto Agronômico/ Fundação IAC, 2008. 233p. 30. RODRIGUES, A.A. et al. Qualidade de dezoito variedades de cana-de-açúcar como alimento para bovinos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38, 2001, Piracicaba. Anais... São Paulo: Sociedade Brasileira Zootecnia. 31. RUFTY, T. W. et al. Phosphorus Stress Effects on Assimilation of Nitrate. Plant Physiol., 1990, 94: 328-333. 32. SALAS, M. et al. Effect of variety, stage of maturity and nitrate fertilization on nutritive values of sugar canes. Animal feed Science and Technology, v.39, n.3-4, p. 265-277. 1992. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0377-8401(92)90046-9. 33. SALCEDO I. H. et al. Mineralização do carbono e do nitrogênio em solo cultivado com cana- -de-açúcar. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.9, p,33-38, 1985. 34. SAMPAIO, E.V.S.; SALCEDO, I. H. Dinâmica de nutrientes em cana-de-açúcar. V. Balanço de K em quatro ciclos de cultivo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.26, n.9, p.1323- 1335, 1991. 35. SILVA, E.A. et al. Utilização da cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes. Informe Agropecuário, v.28, n.239, p.101-119, 2007. 36. SOUZA, C.R. et al. Phosphorus transformation in poultry litter and litter-treated oxisol of Brazil assessed by 31 P-NMR and wet chemical fractionation. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.36, p.1516-1527, 2012.
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