2. O Jantar dos Gouvarinho
O objetivo
Este jantar teve como objetivo juntar a aristocracia (nobreza) e a
alta burguesia, bem como a camada dirigente do país, e
“desmascarar” a sua ignorância. Permitiu, através das conversas,
observar a subvalorização dos valores sociais, o atraso intelectual do
país e a mediocridade mental de algumas figuras de alta burguesia e
da aristocracia.
3. O Jantar dos Gouvarinho
Relação com a intriga central
Sabendo que a intriga central se foca nos amores de Carlos Eduardo
e de Maria Eduarda, a relação do capítulo XII com esta mesma
intriga está no que acontece a seguir ao jantar: Carlos, depois de sair
da casa da tia da Condessa (onde o mantiveram “aprisionado”
durante a tarde), foi visitar Maria Eduarda, onde lhe declarou o seu
amor, que é, por sua vez, correspondido.
4. O Jantar dos Gouvarinho
Relação com a intriga central
Ambos se envolvem pela
primeira vez. Perante o desejo
de Maria Eduarda de viver num
lugar mais calmo, longe das
coscuvilhices e dos vizinhos,
Carlos compra a Quinta dos
Olivais a Craft – Afonso aprova
o investimento, desconhecendo,
contudo, o motivo do mesmo.
5. O Jantar dos Gouvarinho
Críticas à Sociedade Portuguesa
Durante o jantar, houve momentos onde se discutiu assuntos como a
escravatura ((Ega) – “A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar
bem e amar bem”; (Conde) – “Decerto o lugar da mulher era junto
ao berço, não na biblioteca”), onde se fez paradoxos e onde se
presenciou a reconciliação entre Carlos e a Condessa. Ao longo da
discussão dos vários temas, o carácter impiedoso e crítico, a
ignorância e a superficialidade nas opiniões foram aspetos que se
fizeram notar.
6. O Jantar dos Gouvarinho
Críticas à Sociedade Portuguesa
São aspetos como estes que sustentam a crítica que Eça faz à
sociedade portuguesa do século XIX, o qual a caracteriza como
fútil, superficial e ignorante. O facto de se prezar demasiado a
importação de modas estrangeiras também contribui para esta
crítica, uma vez que impede o progresso e a renovação das
mentalidades. Assim, constitui uma verdadeira caricatura da antiga
sociedade portuguesa que, apesar de os contextos serem diferentes,
está ainda conservada.
7. O Jantar dos Gouvarinho
Personagens intervenientes
Neste jantar, intervêm os
personagens Carlos da Maia, Sousa
Neto e sua mulher, João da Ega,
Conde e Condessa de Gouvarinho,
D. Maria da Cunha e a baronesa de
Alvim, de entre os quais se
destacam João da Ega, o Conde e
Condessa de Gouvarinho e Sousa
Neto.
8. O Jantar dos Gouvarinho
João da Ega
Apresentando uma função naturalista e
realista na obra, João da Ega era uma
personagem contraditória, a projeção
literária de Eça de Queirós. Por um
lado, mostra-se romântico e
sentimental. Por outro, crítico e
sarcástico. Excêntrico, exagerado, ateu,
leal aos seus amigos, diletante, amigo
inseparável de Carlos e um falhado
corrompido pela sociedade, usava "um
vidro entalado no olho", tinha "nariz
adunco, pescoço esganiçado, punhos
tísicos, pernas de cegonha". Era o
autêntico retrato de Eça.
9. O Jantar dos Gouvarinho
Conde de Gouvarinho
Conde de Gouvarinho era deputado.
Tinha um bigode encerado e uma pêra
curta. Era voltado para o passado. Tem
falhas de memória e revela uma enorme
falta de cultura. É fútil, vaidoso,
maçador e incompetente. Para além
disso, não compreende a ironia
sarcástica de Ega. Representa a
incompetência do poder político.
10. O Jantar dos Gouvarinho
Condessa de Gouvarinho
A Condessa de Gouvarinho tem cabelos
crespos e ruivos, nariz petulante, olhos
escuros e brilhantes, bem feita, pele
clara, fina e doce. É uma mulher fútil,
que despreza o marido pelo seu fraco
poder económico e que desenvolve uma
paixão por Carlos (até este se fartar
dela). É imoral, provocadora, sem
escrúpulos, sensual e anda sempre
vestida de forma exuberante.
Representa as mulheres adúlteras.
11. O Jantar dos Gouvarinho
Sousa Neto
Sousa Neto é representante da
instrução pública. É um homem
ignorante, defende a imitação do
estrangeiro e não tem opinião
própria. É uma personagem-tipo
da burocracia, mostra ineficácia
na Administração. É um
cavalheiro alto, grave de barba
rala e conheceu Pedro e Afonso
da Maia.
12. O Jantar dos Gouvarinho
Personagens-tipo
João da Ega, Conde e Condessa de Gouvarinho e Sousa Neto são
personagens-tipo, uma vez que representam as qualidades/defeitos
de uma classe social/profissão.
13. Características da linguagem
A Frase e a Linguagem
Uma das preocupações de Eça foi evitar as frases demasiado
expositivas, fastidiosas e pouco esclarecedoras dos românticos. Para
tal, faz uso da ordem direta da frase, para que a realidade possa ser
apresentada sem alterações. Pode comprovar-se tal facto na
passagem em que a condessa falou a Carlos acerca do seu romance
com a “brasileira”, deixando-o com a sensação de que já toda a gente
sabia:
“- Esperei meia hora; mas compreendi logo que estaria entretido
com a brasileira...”
14. Características da linguagem
A Frase e a Linguagem
Para evitar o uso constante dos verbos declarativos, Eça optou por
utilizar o discurso indireto livre, o que enriqueceu o texto, a nível de
vivacidade, sem que houvesse repetições. “Em silêncio, até a casa da
Gouvarinho, Carlos foi ruminando a sua cólera contra o Dâmaso. Aí
estava pois rasgada por aquele imbecil a penumbra suave e
favorável em que se abrigara o seu amor!”
15. Características da linguagem
O Adjetivo e o Advérbio
De modo a tornar a sua escrita mais expressiva, Eça apoia-se nos
adjetivos e advérbios de modo que transmitem ao leitor uma
sensação de visualização.
“A condessa baixara os olhos, partindo vagamente um bocadinho de
pão,…”
Outra característica literária presente nas obras de Eça é o uso de
adjetivação dupla e tripla.
“O conde interveio, afável e risonho…”
16. Características da linguagem
Recursos Estilísticos
A nível de recursos estilísticos, a prosa de Eça é enriquecida com
vários, sendo a ironia um dos mais destacados neste capítulo:
“- A senhora condessa tem então uma credulidade infantil. Estou a
ver que acredita que era uma vez uma filha d'um rei que tinha
uma estrela na testa...”