SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 6
22
Jun
09

Síndrome da Alienação Parental

post info
By Tiffany Stica
Categories: Ana Maria Braga, comportamento de mãe, desabafo de mãe, educação,
família and reportagens
2 Comments

 Pais separados, famílias desestruturadas, filhos divididos, revoltados e inseguros.

Quem não viveu um caso assim na sua própria família, certamente conhece um amigo
(a), um vizinho ou parente próximo que teve sua família, digamos assim, “dividida ao
meio” após separação e divórcio dos pais. Essa realidade, hoje, é muito frequente no
Brasil. Não tenho dados em mãos, mas observo ao meu redor, em reportagens, relatos
de conhecidos e trago uma bagagem familiar e profissional que me permite falar sobre o
assunto com certa propriedade.

A criação e o desenvolvimento das relações de afeto e respeito por um filho e pelo ex-
cônjuge podem existir e se manter saudáveis mesmo com o rompimento da relação
do casal, mas para isso é preciso amadurecimento, coerência e bom senso por parte
do pais e claro, amor incondiscional pelo filho, que é em todos os casos o maior
beneficiário da atenção e do sucesso que os pais conseguem ter e manter através de bons
relacionamentos e atitudes equilibradas… ou, a maior vítima, no caso de insucesso desta
relação.
Quando um dos pais (leia-se pai, mãe e até avós) acusa o outro de atitudes, palavras e
conduta negativa visando minar a relação deste com a criança, ele não está apenas
sendo cruel, agindo de má fé, ele está praticando o que, há poucos anos denominou-se
Alienação Parental, “quando um dos pais tenta destruir a imagem do outro na
cabeça da criança”. Segundo a advogada e psicóloga Alexandra Ullmman, entrevistada
pelo Programa Mais Você, “é importante entender que essa aplicação da alienação
parental vem em degraus, começa simplesmente no ato de “esquecer” de dar o recado
que o pai ligou, dizer que não pode atender o telefone”.
“A Alienação Parental, descrita em meados da década de 80 pelo psiquiatra infantil
norte-americano, Richard Gardner, revela-se como uma situação na qual um genitor
procura afastar seu filho ou filha do outro genitor intencionalmente”.
Logo abaixo colo vídeo desta entrevista com a psicóloga Alexandra Ullmman e uma
jovem cuja mãe é um exemplo clássico deste tipo de relação negativa. O programa
apresentado por Ana Maria Braga foi ao ar em 29 de maio deste ano e na ocasião me
chamou bastante a atenção, pois eu trabalhei presenciando casos assim junto a
Defensoria Pública do Paraná, alguns anos atrás e mais ainda porque sou filha de casal
separado (que numa história de amizade e cumplicidade, reatou casamento e reconstruiu
a família, um exemplo). Enfim… segue o vídeo:
E por que venho hoje abordar esse assunto tão pesado e sério para uma segunda-feira?
Porque me preocupo demais com a forma com que as famílias estão se ruindo hoje em
dia, me choco com as atitudes mesquinhas e insensatas de pais jovens ou mais maduros
que, por egoísmo e total despreparo, transmitem para o coração puro dos filhos (em
geral muito pequenos e incapazes de julgar por si só) a frustração de uma relação que
não teve êxito, a mágoa da separação, de eventual traição conjugal e/ou apenas pela
mágoa do desamor.

Lembrei dessa reflexão após assistir a reportagem do Fantástico, revista eletrônica da
Rede Globo, exibido ontem à noite, 21 de junho. A matéria trazia como título “pai usa
filho para tentar reduzir a pensão alimentícia” e mostrava uma série de ligações
telefônicas entre o pai, separado há 1 ano da ex-companheira, e o inocente filho de 9
anos. Os telefonemas mostram que depois de tirar as fotografias da casa requisitadas
pelo pai, durante a noite e madrugada, o menino de 9 anos ainda participasse de mais
um plano secreto, pegar os extratos bancários da mãe, sem que ela percebesse. Parece
ficção, claro, foi o que eu pensei na hora também! Mas é vida real e infelizmente
apenas um exemplo dos inúmeros casos de manipulação da inocência de um filho em
favor de disputas legais para obter a guarda do filho, pensão alimentícia, afastamento do
pai/visita com acompanhamento de assistentes sociais e afins. Uma lástima porque
mesmo que o casamento não tenha dado certo ou mesmo que nem tenha havido uma
união estável do casal, de qualquer modo o bem mais precioso é a vida do filho,
consequentemente, uma vida feliz, estável, equilibrada e saudável sob aspecto físico e
emocional também.

Abaixo a matéria do Fasntástico na íntegra. São vídeos mais ou menos longos (de 4 a 6
minutos), mas se houver tempo, merecem ser vistos, pois a polêmica merece reflexão.
Na Câmara dos Deputados, em Brasília, um Projeto de Lei quer transformar a
Alienação Parental em crime.
“Essa lei pode ajudar e muito para que o juiz possa tomar providências efetivas em
beneficio do menor”, diz o relator do projeto, Deputado Federal Regis de Oliveira.
O referido Projeto sugere que a criança vítima da alienação paternal seja avaliada
psicologicamente por um perito e, quando houver necessidade, seja afastada do
“agressor/manipulador” para que se preserve sua integridade emocional. Ainda de
acordo com o Projeto, pai e mãe comprovadamente culpados podem perder a
guarda dos filhos e sofrer de 6 a 24 meses de prisão.
No entanto, cá entre nós, eu penso que apenas uma avaliação com perito especializado
pode não atestar a veracidade da situação vivida pela criança. Explico: frequentemente
crianças são submetidas a um universo irreal de mentiras e fatos distorcidos, tanto
por parte da mãe, da avó que muitas vezes cria “um neto abandonado” e/ou pelo
pai, crescendo sem a noção do que é certo ou errado, pois obviamente seus valores
morais são os que esse “pai/mãe” manipulador conhece, portanto na hora de uma
avaliação, de uma conversa com qualquer pessoa que seja, pode – infelizmente –
mentir sobre sua real situação. E mais, não são raras as vezes em que fazem isso
por medo, coagidas e ameaçadas. Não me estendo a respeito desses detalhes, pois a
minha formação não é da área de Serviço Social, Psicologia ou Direito de Família, mas
friso essa questão por ter acompanhado de perto o trabalho de assistentes sociais,
advogados e psicólogos que precisavam doar-se e esforçar-se com muita determinação
para ouvir, analisar e traduzir sinais de dissimulação e abuso em diversos casos jurídicos
que presenciei no período em que trabalhei na Defensoria Pública do Paraná, em
Curitiba. Resta a mim torcer pelo êxito dos profissionais e pela “mão na consciência
desses pais separados e em crise”. E como filha de advogada, clamar para que o nosso
Sistema Judiciário seja revisto e volte a agir com integridade, diginifcando os bons
profissionais que, acredito, ainda são maioria.
Segundo Alexandra Ullman - aqui entre nós, preciso apontar esse dado porque é
absurdo – é comum ver casos de mães que inventam que seus parceiros abusaram
sexualmente dos filhos. “É mais comum do que imaginamos. A mãe diz que o pai
abusou da criança, apenas com o objetivo de separá-los” para sempre. Mas, gente, aí eu
páro e pergunto: que mãe monstra, perturbada ao extremo é esta que cria uma
memória tão dramática, forja um crime, um abuso e incute isso na cabeça do filho,
forjando provas e muitas vezes testemunhas, só para afastar o pai sem pensar no trauma
e nas consequencias que isso trará à vida do filho? O que fará, no futuro, essa mãe para
lidar com os distúrbios psicossociais severos aos quais ela fomentou no filho? Insano,
eu sei.
Por fim, este vídeo que finaliza o post é um trecho do Documentário “A morte
Inventada”, idealizado por um pai que sofreu com os “diz que-me-diz que” da ex-
companheira, vivendo por anos afastado das filhas. E levanta a polêmica da Alienação
Parental apontando diversos relatos que poderiam ser meus ou seus. Relatos de uma
triste realidade.




P.S. o post ficou pesado, o tema não é dos mais agradáveis, mas agradeço a quem leu e
vai levar adiante essa discussão. Como falei no início do meu texto, sou filha de uma
casal que se separou quando eu tinha 3 anos, vivi a maior parte dos anos dessa
separação com minha mãe (o mais habitual é mesmo a mãe obter a guarda), mas
também morei 1 ano com meu pai e meus 3 irmãos, numa ocasião de mudança de
cidade/trabalho para minha mãe (fase em que um apoiou o outro). Vivi e presenciei
muitos conflitos e discussões, mas tanto eu quanto meus irmãos, sempre,
inegavelmente, soubemos que éramos amados por nossos pais e que eles fariam tudo
por nós. Não à toa, feridas à parte, comuns a qualquer ser humano, nossos pais estão
casados (voltaram) e há anos recontruímos os moldes tradicionais de uma família bem
sucedida e unida, o que é o mais importante. Do que vivi, posso tirar a seguinte lição,
caso interesse a alguém: é possível, sabendo que você – FILHO – é prioridade, filtrar
qualquer reclamação ou queixa de seus pais sobre o outro, ignorar críticas e saborear
elogios. O tempo é nosso maior aliado e a maturidade fortalece o nosso entendimento
sobre o outro, conseguindo nos mostrar as necessidades, frustrações, ansiedades e
expectativas dos nossos pais como qualquer um, não como padrão de exemplo intocável
que nunca erra, mas como seres humanos passíveis de erros, mas no meu caso, cheios
de amor para dar aos filhos. Boa sorte pra você também!!


2 Responses to “Síndrome da Alienação Parental”
Feed for this Entry Trackback Address            View blog reactions
   1. 1 AIRTON MELO Jun 23rd, 2009 at 5:47 am
       EXELÊNTE A MATÉRIA COM A ANA MARIA BRAGA,QUE VEM
       TRAZENDO A LUZ A VERDADEIRA FACE DO QUE ACONTECE NUMA
       SEPARAÇÃO.TUDO O QUE FOI FALADO E EXEMPLIFICADO
       DURANTE A MATÉRIA ACONTECEU E AINDA HOJE ACONTECE
       COMIGO.É,PASSOU O FILME DOS ÚLTIMOS 14 ANOS DA MINHA
       VIDA. INFELIZMENTE AINDA NÃO CONSIGO VER MEU FILHO, MAIS
       CREIO QUE COM A EXPOSIÇÃO DESTES CASOS PELA MÍDIA, UMA
       DIA POSSO TORNAR A TER O CONVÍVIO COM ELE.
       ABSSS. AIRTON MELO.
       [Reply]
   2. 2 Isabel Jun 23rd, 2009 at 12:04 pm
       Olá, voltei a visitar o seu blog e fiquei impressionada com esse material que
       você escreveu. Não assisti a nenhuma das entrevistas que você cita, mas como
       filha de pais separados me identifiquei muito com o que relatou. Hoje meu pai é
       casado com outra pessoa e tem uma nova família, mas minha mãe continua
       sozinha e apesar de terem seguido adiante após a separação, sempre ouvi muita
       intriga, comentários ruins e queixas dos dois lados. Tive muita dificuldade para
       lidar com essas adversidades durante minha adolescencia, mas hoje não me
       importo mais. Tenho uma filha de 2 anos e sei que se um dia eu me separasse
       nunca faria com ela o que meus pais fizeram comigo, ainda que me amassem.
       Cobrar do filho que ele não se divirta quando sai com o pai nos finais de semana
       e querer que não goste de estar com ele, apontando defeitos e sufocando o filho
       com tantos comentários é algo venenoso que, ao que vejo, muitas mães fazem e
       não apenas a minha. Ela errou, mas foi e é uma ótima mãe, minha mãezinha e eu
       me espelho nela para as coisas que fez de bom.
       Parabéns pelo material. Espero que ajude outras pessoas a pelo menos desabafar
       sobre a relevância do tema.
       Isabel.
       [Reply]
Leave a Reply
                   Name

                   Mail (will not be published)

                   Website
Submit



« 3,2,1 Vamos! Estréia Abby Cadabby no Discovery Kids Brasil
Falando em folclore… cantigas de roda e canções de ninar »


POSTS FRESQUINHOS
    •      Em campanha, o melhor de Botafogo!
    •      Essa é pra rir um pouco… moda para carioquinhas.
    •      Falando em folclore… cantigas de roda e canções de ninar
    •      Síndrome da Alienação Parental
    •      3,2,1 Vamos! Estréia Abby Cadabby no Discovery Kids Brasil
    •      Junho. Um show de cultura caipira
    •      Quinta-feira, dia de Cinematerna
    •      Não dá pra vacilar. Tem que vacinar
    •      Hipoglós em minha vida, de mãe para filha.
    •      Salão do livro em sábado nublado
    •      Relógio biológico feminino, pode ser comparado?
    •      Bebê no balde!
    •      Salão do livro infantojuvenil, Rio
    •      Maria Mariana e seu livro renderam na rede

    •

Weitere ähnliche Inhalte

Ähnlich wie Síndrome da Alienação Parental: quando um dos pais manipula a criança contra o outro

Cartilha alienacao parental
Cartilha alienacao parentalCartilha alienacao parental
Cartilha alienacao parentalCristiane Lara
 
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordado
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordadoSEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordado
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordadoDboraSilva685094
 
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - Bartolomeu
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - BartolomeuEloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - Bartolomeu
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - BartolomeuPaulo Sérgio
 
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)jagbra
 
Gravidez na adolescência
Gravidez na adolescênciaGravidez na adolescência
Gravidez na adolescênciaAndré Torres
 
Guia -separação do casal
Guia -separação do casal Guia -separação do casal
Guia -separação do casal Ana Campelos
 
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinos
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinosO nao de_eloa-jagarcia-amigaohinos
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinosamigaohinos
 

Ähnlich wie Síndrome da Alienação Parental: quando um dos pais manipula a criança contra o outro (20)

Cartilha alienacao parental
Cartilha alienacao parentalCartilha alienacao parental
Cartilha alienacao parental
 
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordado
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordadoSEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordado
SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA - um tema pouco abordado
 
Cartilha Alienação Parental
Cartilha Alienação ParentalCartilha Alienação Parental
Cartilha Alienação Parental
 
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - Bartolomeu
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - BartolomeuEloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - Bartolomeu
Eloá Prado - Maio Laranja - 8º Ano - Bartolomeu
 
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)
Alienação Parental (trabalho Ana Jesus)
 
Gravidez na adolescência
Gravidez na adolescênciaGravidez na adolescência
Gravidez na adolescência
 
Inf+éncia violentada
Inf+éncia violentadaInf+éncia violentada
Inf+éncia violentada
 
Guia -separação do casal
Guia -separação do casal Guia -separação do casal
Guia -separação do casal
 
Infancia violentada
Infancia violentadaInfancia violentada
Infancia violentada
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 
O não de eloa
O não de eloaO não de eloa
O não de eloa
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 
O nao de Eloá
O nao de EloáO nao de Eloá
O nao de Eloá
 
O não de Eloá!
O não de Eloá!O não de Eloá!
O não de Eloá!
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 
Jornalzinho do ponci nº 2
Jornalzinho do ponci  nº 2Jornalzinho do ponci  nº 2
Jornalzinho do ponci nº 2
 
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinos
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinosO nao de_eloa-jagarcia-amigaohinos
O nao de_eloa-jagarcia-amigaohinos
 
O nao de_eloa
O nao de_eloaO nao de_eloa
O nao de_eloa
 

Síndrome da Alienação Parental: quando um dos pais manipula a criança contra o outro

  • 1. 22 Jun 09 Síndrome da Alienação Parental post info By Tiffany Stica Categories: Ana Maria Braga, comportamento de mãe, desabafo de mãe, educação, família and reportagens 2 Comments Pais separados, famílias desestruturadas, filhos divididos, revoltados e inseguros. Quem não viveu um caso assim na sua própria família, certamente conhece um amigo (a), um vizinho ou parente próximo que teve sua família, digamos assim, “dividida ao meio” após separação e divórcio dos pais. Essa realidade, hoje, é muito frequente no Brasil. Não tenho dados em mãos, mas observo ao meu redor, em reportagens, relatos de conhecidos e trago uma bagagem familiar e profissional que me permite falar sobre o assunto com certa propriedade. A criação e o desenvolvimento das relações de afeto e respeito por um filho e pelo ex- cônjuge podem existir e se manter saudáveis mesmo com o rompimento da relação do casal, mas para isso é preciso amadurecimento, coerência e bom senso por parte do pais e claro, amor incondiscional pelo filho, que é em todos os casos o maior beneficiário da atenção e do sucesso que os pais conseguem ter e manter através de bons relacionamentos e atitudes equilibradas… ou, a maior vítima, no caso de insucesso desta relação. Quando um dos pais (leia-se pai, mãe e até avós) acusa o outro de atitudes, palavras e conduta negativa visando minar a relação deste com a criança, ele não está apenas sendo cruel, agindo de má fé, ele está praticando o que, há poucos anos denominou-se Alienação Parental, “quando um dos pais tenta destruir a imagem do outro na cabeça da criança”. Segundo a advogada e psicóloga Alexandra Ullmman, entrevistada pelo Programa Mais Você, “é importante entender que essa aplicação da alienação parental vem em degraus, começa simplesmente no ato de “esquecer” de dar o recado que o pai ligou, dizer que não pode atender o telefone”. “A Alienação Parental, descrita em meados da década de 80 pelo psiquiatra infantil norte-americano, Richard Gardner, revela-se como uma situação na qual um genitor procura afastar seu filho ou filha do outro genitor intencionalmente”. Logo abaixo colo vídeo desta entrevista com a psicóloga Alexandra Ullmman e uma jovem cuja mãe é um exemplo clássico deste tipo de relação negativa. O programa apresentado por Ana Maria Braga foi ao ar em 29 de maio deste ano e na ocasião me chamou bastante a atenção, pois eu trabalhei presenciando casos assim junto a Defensoria Pública do Paraná, alguns anos atrás e mais ainda porque sou filha de casal separado (que numa história de amizade e cumplicidade, reatou casamento e reconstruiu a família, um exemplo). Enfim… segue o vídeo:
  • 2. E por que venho hoje abordar esse assunto tão pesado e sério para uma segunda-feira? Porque me preocupo demais com a forma com que as famílias estão se ruindo hoje em dia, me choco com as atitudes mesquinhas e insensatas de pais jovens ou mais maduros que, por egoísmo e total despreparo, transmitem para o coração puro dos filhos (em geral muito pequenos e incapazes de julgar por si só) a frustração de uma relação que não teve êxito, a mágoa da separação, de eventual traição conjugal e/ou apenas pela mágoa do desamor. Lembrei dessa reflexão após assistir a reportagem do Fantástico, revista eletrônica da Rede Globo, exibido ontem à noite, 21 de junho. A matéria trazia como título “pai usa filho para tentar reduzir a pensão alimentícia” e mostrava uma série de ligações telefônicas entre o pai, separado há 1 ano da ex-companheira, e o inocente filho de 9 anos. Os telefonemas mostram que depois de tirar as fotografias da casa requisitadas pelo pai, durante a noite e madrugada, o menino de 9 anos ainda participasse de mais um plano secreto, pegar os extratos bancários da mãe, sem que ela percebesse. Parece ficção, claro, foi o que eu pensei na hora também! Mas é vida real e infelizmente apenas um exemplo dos inúmeros casos de manipulação da inocência de um filho em favor de disputas legais para obter a guarda do filho, pensão alimentícia, afastamento do pai/visita com acompanhamento de assistentes sociais e afins. Uma lástima porque mesmo que o casamento não tenha dado certo ou mesmo que nem tenha havido uma união estável do casal, de qualquer modo o bem mais precioso é a vida do filho, consequentemente, uma vida feliz, estável, equilibrada e saudável sob aspecto físico e emocional também. Abaixo a matéria do Fasntástico na íntegra. São vídeos mais ou menos longos (de 4 a 6 minutos), mas se houver tempo, merecem ser vistos, pois a polêmica merece reflexão.
  • 3. Na Câmara dos Deputados, em Brasília, um Projeto de Lei quer transformar a Alienação Parental em crime. “Essa lei pode ajudar e muito para que o juiz possa tomar providências efetivas em beneficio do menor”, diz o relator do projeto, Deputado Federal Regis de Oliveira. O referido Projeto sugere que a criança vítima da alienação paternal seja avaliada psicologicamente por um perito e, quando houver necessidade, seja afastada do “agressor/manipulador” para que se preserve sua integridade emocional. Ainda de acordo com o Projeto, pai e mãe comprovadamente culpados podem perder a guarda dos filhos e sofrer de 6 a 24 meses de prisão. No entanto, cá entre nós, eu penso que apenas uma avaliação com perito especializado pode não atestar a veracidade da situação vivida pela criança. Explico: frequentemente crianças são submetidas a um universo irreal de mentiras e fatos distorcidos, tanto por parte da mãe, da avó que muitas vezes cria “um neto abandonado” e/ou pelo pai, crescendo sem a noção do que é certo ou errado, pois obviamente seus valores morais são os que esse “pai/mãe” manipulador conhece, portanto na hora de uma avaliação, de uma conversa com qualquer pessoa que seja, pode – infelizmente – mentir sobre sua real situação. E mais, não são raras as vezes em que fazem isso por medo, coagidas e ameaçadas. Não me estendo a respeito desses detalhes, pois a minha formação não é da área de Serviço Social, Psicologia ou Direito de Família, mas friso essa questão por ter acompanhado de perto o trabalho de assistentes sociais, advogados e psicólogos que precisavam doar-se e esforçar-se com muita determinação para ouvir, analisar e traduzir sinais de dissimulação e abuso em diversos casos jurídicos que presenciei no período em que trabalhei na Defensoria Pública do Paraná, em Curitiba. Resta a mim torcer pelo êxito dos profissionais e pela “mão na consciência desses pais separados e em crise”. E como filha de advogada, clamar para que o nosso Sistema Judiciário seja revisto e volte a agir com integridade, diginifcando os bons profissionais que, acredito, ainda são maioria.
  • 4. Segundo Alexandra Ullman - aqui entre nós, preciso apontar esse dado porque é absurdo – é comum ver casos de mães que inventam que seus parceiros abusaram sexualmente dos filhos. “É mais comum do que imaginamos. A mãe diz que o pai abusou da criança, apenas com o objetivo de separá-los” para sempre. Mas, gente, aí eu páro e pergunto: que mãe monstra, perturbada ao extremo é esta que cria uma memória tão dramática, forja um crime, um abuso e incute isso na cabeça do filho, forjando provas e muitas vezes testemunhas, só para afastar o pai sem pensar no trauma e nas consequencias que isso trará à vida do filho? O que fará, no futuro, essa mãe para lidar com os distúrbios psicossociais severos aos quais ela fomentou no filho? Insano, eu sei. Por fim, este vídeo que finaliza o post é um trecho do Documentário “A morte Inventada”, idealizado por um pai que sofreu com os “diz que-me-diz que” da ex- companheira, vivendo por anos afastado das filhas. E levanta a polêmica da Alienação Parental apontando diversos relatos que poderiam ser meus ou seus. Relatos de uma triste realidade. P.S. o post ficou pesado, o tema não é dos mais agradáveis, mas agradeço a quem leu e vai levar adiante essa discussão. Como falei no início do meu texto, sou filha de uma casal que se separou quando eu tinha 3 anos, vivi a maior parte dos anos dessa separação com minha mãe (o mais habitual é mesmo a mãe obter a guarda), mas também morei 1 ano com meu pai e meus 3 irmãos, numa ocasião de mudança de cidade/trabalho para minha mãe (fase em que um apoiou o outro). Vivi e presenciei muitos conflitos e discussões, mas tanto eu quanto meus irmãos, sempre, inegavelmente, soubemos que éramos amados por nossos pais e que eles fariam tudo por nós. Não à toa, feridas à parte, comuns a qualquer ser humano, nossos pais estão casados (voltaram) e há anos recontruímos os moldes tradicionais de uma família bem sucedida e unida, o que é o mais importante. Do que vivi, posso tirar a seguinte lição, caso interesse a alguém: é possível, sabendo que você – FILHO – é prioridade, filtrar qualquer reclamação ou queixa de seus pais sobre o outro, ignorar críticas e saborear
  • 5. elogios. O tempo é nosso maior aliado e a maturidade fortalece o nosso entendimento sobre o outro, conseguindo nos mostrar as necessidades, frustrações, ansiedades e expectativas dos nossos pais como qualquer um, não como padrão de exemplo intocável que nunca erra, mas como seres humanos passíveis de erros, mas no meu caso, cheios de amor para dar aos filhos. Boa sorte pra você também!! 2 Responses to “Síndrome da Alienação Parental” Feed for this Entry Trackback Address View blog reactions 1. 1 AIRTON MELO Jun 23rd, 2009 at 5:47 am EXELÊNTE A MATÉRIA COM A ANA MARIA BRAGA,QUE VEM TRAZENDO A LUZ A VERDADEIRA FACE DO QUE ACONTECE NUMA SEPARAÇÃO.TUDO O QUE FOI FALADO E EXEMPLIFICADO DURANTE A MATÉRIA ACONTECEU E AINDA HOJE ACONTECE COMIGO.É,PASSOU O FILME DOS ÚLTIMOS 14 ANOS DA MINHA VIDA. INFELIZMENTE AINDA NÃO CONSIGO VER MEU FILHO, MAIS CREIO QUE COM A EXPOSIÇÃO DESTES CASOS PELA MÍDIA, UMA DIA POSSO TORNAR A TER O CONVÍVIO COM ELE. ABSSS. AIRTON MELO. [Reply] 2. 2 Isabel Jun 23rd, 2009 at 12:04 pm Olá, voltei a visitar o seu blog e fiquei impressionada com esse material que você escreveu. Não assisti a nenhuma das entrevistas que você cita, mas como filha de pais separados me identifiquei muito com o que relatou. Hoje meu pai é casado com outra pessoa e tem uma nova família, mas minha mãe continua sozinha e apesar de terem seguido adiante após a separação, sempre ouvi muita intriga, comentários ruins e queixas dos dois lados. Tive muita dificuldade para lidar com essas adversidades durante minha adolescencia, mas hoje não me importo mais. Tenho uma filha de 2 anos e sei que se um dia eu me separasse nunca faria com ela o que meus pais fizeram comigo, ainda que me amassem. Cobrar do filho que ele não se divirta quando sai com o pai nos finais de semana e querer que não goste de estar com ele, apontando defeitos e sufocando o filho com tantos comentários é algo venenoso que, ao que vejo, muitas mães fazem e não apenas a minha. Ela errou, mas foi e é uma ótima mãe, minha mãezinha e eu me espelho nela para as coisas que fez de bom. Parabéns pelo material. Espero que ajude outras pessoas a pelo menos desabafar sobre a relevância do tema. Isabel. [Reply] Leave a Reply Name Mail (will not be published) Website
  • 6. Submit « 3,2,1 Vamos! Estréia Abby Cadabby no Discovery Kids Brasil Falando em folclore… cantigas de roda e canções de ninar » POSTS FRESQUINHOS • Em campanha, o melhor de Botafogo! • Essa é pra rir um pouco… moda para carioquinhas. • Falando em folclore… cantigas de roda e canções de ninar • Síndrome da Alienação Parental • 3,2,1 Vamos! Estréia Abby Cadabby no Discovery Kids Brasil • Junho. Um show de cultura caipira • Quinta-feira, dia de Cinematerna • Não dá pra vacilar. Tem que vacinar • Hipoglós em minha vida, de mãe para filha. • Salão do livro em sábado nublado • Relógio biológico feminino, pode ser comparado? • Bebê no balde! • Salão do livro infantojuvenil, Rio • Maria Mariana e seu livro renderam na rede •