O documento discute a importância da formação reflexiva de professores para o desenvolvimento de competências que promovam a aprendizagem significativa dos alunos, como a capacidade de adaptar ações educativas às necessidades emergentes e propiciar que os alunos pensem por si mesmos. Também enfatiza que a avaliação deve considerar não apenas resultados, mas o progresso individual de cada aluno.
1. A formação do professor, a prática reflexiva e o
desenvolvimento de competências para ensinar
Para se alcançar um salto de qualidade na educação, é preciso buscar não só o desenvolvimento e
enriquecimento de competências, mas principalmente uma mudança significativa na formação e identidade
profissional dos que se dedicam ao oficio de professor.
O século XXI, aponta uma visão educacional que apresenta grandes mudanças na educação no mundo
globalizado, fornecendo indicadores de que o ofício de professor requer muitos conhecimentos, uma grande
quantidade de idéias, de habilidade nos procedimentos, nas estratégias de ensinar, de lidar com os alunos
e excelentes atitudes, valores, hábitos e condições pessoais para o ensino. Assim é o conhecimento
verdadeiro: saber, fazer, ser. Já sabemos que não tem sentido perguntas tais como: arte ou ofício?, vocação
ou profissão?, teoria ou prática?. Teoria, experiência, arte, tecnologia, valores e atitudes, todos são
ingredientes necessários que, em cada pessoa, são combinados de diferentes modos.
Uma concepção moderna da tarefa do professor requer não apenas ampliar certas formulas pré
estabelecidas, como também um exercício profissional competente que inclui autonomia, capacidade de
decisão e criatividade.
A formação profissional implica em entender a aprendizagem como um processo contínuo e requer uma
análise cuidadosa desse aprender em suas etapas, evolução e concretizações, para redimensionar
conceitos alicerçados na busca da compreensão de novas idéias e valores.
A educação de professores, seu desempenho e o trato do conhecimento é de fundamental importância ao
delineamento de novos rumos na prática pedagógica. O estudo do professor no seu cotidiano como ser
histórico e socialmente contextualizado, pode auxiliar na definição de uma nova ordem pedagógica e na
intervenção da realidade no que se refere à sua prática e à sua formação. Quanto maior e mais rica for sua
história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades do desempenho de uma prática educacional
significativa.
Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas é ajudar a pessoa a
tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade. É oferecer várias ferramentas para que a
pessoa possa escolher, entre muitos caminhos , aquele que for compatível com os seus valores, sua visão
de mundo e com circunstancias adversas que cada um irá encontrar.
Um “profes s or reflexivo” não para de refletir a partir do momento em que cons egue s obreviver na s ala de
aula, no momento em que consegue entender melhor sua tarefa e em que sua angústia diminui.Ele continua
progredindo em sua profissão mesmo quando não passa por dificuldades e nem por situações de crise, por
prazer ou porque não o pode evitar, pois a reflexão transformou-se um uma forma de identidade e de
satisfação profissionais. Ele conquista métodos e ferramentas conceituais baseados em diversos saberes
e, se for possível, conquista-os mediante interação com outros profissionais. Essa reflexão constrói novos
conhecimentos, os quais, com certeza, são reinvestidos na ação. Um profissional reflexivo não se limita ao
que aprendeu no período de formação inicial, nem ao que descobriu em seus primeiros anos de prática.
Ele reexamina constantemente seus objetivos, seus procedimentos, suas evidencias e seus saberes. Ele
ingressa em um ciclo permanente de aperfeiçoamento, já que teoriza sua própria prática, seja consigo
mesmo, seja com uma equipe pedagógica. O professor faz perguntas, tenta compreender seus fracassos,
projeta-se no futuro, decide proceder de forma diferente quando ocorrer uma situação semelhante ou
quando o ano seguinte se iniciar, estabelece objetivos mais claros, explicita suas expectativas e seus
procedimentos. A prática reflexiva é um trabalho que, para se tornar regular, exige uma postura e uma
identidade particulares. (PERRENOUD, 2002 b,43).
O professor que quer trabalhar construtivamente com seus alunos avalia suas características e suas
necessidades concretas. Ele preocupa-se em escutar o que os alunos oferecem: seu pensamento, suas
idéias prévias e suas hipóteses. Em cada situação concreta, considera o que a criança é capaz de fazer
por sua conta e o que é capaz de fazer com ajuda. A partir dos resultados obtidos, decide a próxima
atividade e as formas concretas de organizá-las, considerando interesses, motivações e curiosidades dos
alunos. Isso leva a negociar o currículo, partindo de seus objetivos educativos e da realidade concreta de
seus alunos. Dessa forma, o professor não só avalia seus alunos, mas também analisa a atividade proposta,
identificando o sentido de sua aplicação, a motivação e o estímulo ao pensamento.
Trabalhar com aprendizagem envolve um contínuo movimento de reflexão. Para que os professores
possam ensinar seus alunos é preciso rever seu próprio modo de aprender e de construir a experiência.
2. O professor reflexivo aceita fazer parte do problema. Ele reflete sobre sua própria relação com o saber, com
as pessoas, com o poder, com as instituições, com as tecnologias e com a cooperação, assim como reflete
sobre sua forma de superar limites ou de tornar mais eficazes seus gestos técnicos.
Uma prática reflexiva profissional nunca é totalmente solitária. Ela deve basear -se em conversas informais,
em momentos organizados de profissionalização interativa, em prática de análise do trabalho, de trocas
sobre os problemas profissionais, de reflexão sobre a qualidade e de avaliação do que é feito, buscando o
desenvolvimento de competências.
O reconhecimento de uma competência não passa apenas pela identificação de situações a serem
controladas, de problemas e serem resolvidos, de decisões a serem tomadas, mas também pela
explicitação dos saberes, das capacidades, dos esquemas de pensamentos e das orientações éticas
necessárias. Atualmente, define-se uma competência como a aptidão para enfrentar uma família de
situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos
cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de
percepção, de avaliação e de raciocínio . (PERRENOUD, 2002, a 19).
E necessário o desenvolvimento de práticas reflexivas por parte do professor a fim de que este possa
propiciar o desenvolvimento de competências em seus alunos. O exercício de competências exige um alto
nível de elaboração mental. Esse fato está ligado a dificuldades presentes no que diz respeito à criação de
situações-problema que proporcionem uma verdadeira aprendizagem. Muitas vezes, as situações criadas
em sala de aula promovem mera reprodução de conteúdos, e não uma aprendizagem significativa. As
competências básicas que cabem ao professor desenvolver devem objetivar a transformação de uma ação
educacional previamente estabelecida em uma intervenção adaptada, frente a uma necessidade emergente
no contexto educacional.
A prática reflexiva deve estar baseada nas competências profissionais. Entre as competências ligadas às
transformações do oficio de professor, podemos citar: a organização e estimulação se situações de
aprendizagem, o gerenciamento e a progressão das aprendizagens, a evolução dos dispositivos de
diferenciação, o envolvimento dos alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, o trabalho em equipe,
a participação na gestão da escola, o envolvimento dos pais, a utili zação de novas tecnologias, o
enfrentamento dos deveres e dos dilemas éticos da profissão e o gerenciamento de uma formação
contínua.
É possível perceber, de forma ainda mais nítida, que a prática reflexiva e o envolvimento crítico não podem
ser considerados peças relacionadas e nem mesmo andares acrescentados ao edifício das competências.
Ao contrário disso, são fios condutores do conjunto da formação, são posturas que devem ser adotadas,
desejadas e desenvolvidas pelo conjunto do formadores e das unidades de formação, conforme as múltiplas
modalidades. Na verdade, as competências profissionais só são construídas em função de uma prática
reflexiva e engajada, que se instala desde o início dos estudos.
Em outros termos, esses dois componentes, os quais, até agora, foram apresentados como objetivos de
formação, também são suas principais alavancas: se adotarem uma postura reflexiva e um envolvimento
crítico, os alunos aproveitarão melhor essa formação alternada. (PERRENOUD, 2002 b, 197)
É no momento da ação educativa que o educador expressa sua sabedoria por meio da transformação de
seu conhecimento em prática. A capacidade de adaptar suas ações em situações que propiciem a
aprendizagem demonstra as competências do professor. Por esse motivo, o desenvolvimento de
competências no aluno permite que este se torne capaz de aprender a pensar por si, a criar suas próprias
respostas para as questões apresentadas pelo professor, e não a reproduzi -las simplesmente.
A visão educacional compreende um aspecto transformador, uma vez que exige uma postura crítica por
parte do professor de forma a promover a reflexão. O professor-educador deve assumir a responsabilidade
ética de ser um multiplicador de novas idéias, possibilitando qualidade e condições de desenvolvimento de
seus alunos, assumindo sua tarefa pessoal de expandir a própria consciência, compreendendo os caminhos
invisíveis de como pensar seu trabalho e que direções pode tomar.
Os professores devem dispor de todos os dados que permitam conhecer em todo o momento que atividades
cada aluno necessita para a sua formação. Os dados devem se referir ao processo seguido pelo aluno: no
começo, durante e no final deverão determinar que necessidades têm e quais medidas educativas são
necessárias oferecer. É preciso que o professor faça um registro das incidências de cada aluno em relação
ao processo, aos resultados obtidos e ás medidas utilizadas. E este registro deve contemplar a informação
quanto ao percurso, o grau de realização dos objetivos previstos e o grau de aprendizagem adquirido em
cada conteúdo.
Os professores, as administrações, os pais e os próprios alunos se referem á avaliação como instrumento
3. ou processo para avaliar o grau de alcance, de cada menino e menina, em relação a determinados objetivos
previstos nos diversos níveis escolares. Basicamente, a avaliação é considerada como um instrumento
sancionador e qualificador, em que o sujeito da avaliação é o aluno e somente o aluno, e o objeto da
avaliação são as aprendizagens realizadas segundo certos objetivos mínimos para todos. Mesmo assim, já
faz muito tempo que, a partir da literatura pedagógica, as declarações de princípios das reformas
educacionais empreendidas em diferentes paises e grupos de educadores mais inquietos se propõem
formas de entender a avaliação que não se limitam á valoração dos resultados obtidos pelos alunos. O
processo seguido pelos meninos e meninas, o progresso pessoal, o processo coletivo de
ensino/aprendizagem, etc, aparecem como elementos ou dimensões da avaliação.(ZABALA, 199 8, 195)
O aluno necessita de incentivos e estímulos para enfrentar o trabalho que lhe é proposto. É necessário que
o professor conheça, em primeiro lugar, a relação do aluno consigo mesmo e, em segundo lugar, em relação
aos demais. É imprescindível oferecer informações que o ajude a superar os desafios escolares.
A função social do ensino não consiste apenas em promover os mais aptos para a universidade, pois abarca
outras dimensões da personalidade. Quanto a formação integral é a finalidade principal d o ensino e seu
objetivo é o desenvolvimento de capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas, muitos pressupostos
da avaliação mudam. Em primeiro lugar, os conteúdos de aprendizagem a serem avaliados não serão
unicamente conteúdos associados ás necessidades do caminho para o vestibular. Será necessário, levar
em consideração os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que promovam as capacidades
motoras, de autonomia pessoal, de relação interpessoal e de inserção social. Desta maneira, o objet ivo do
ensino não centra sua atenção em certos parâmetros finalistas, mas nas possibilidades pessoais de cada
um dos alunos.
O aperfeiçoamento da prática educativa é o objetivo básico de todo educador como meio para que todos
os alunos consigam o maior grau de competências conforme suas possibilidades reais. O alcance do
objetivos por parte de cada aluno é um alvo que exige conhecer os resultados e os processos de
aprendizagem que os alunos seguem. Para melhorar a qualidade do ensino é preciso conhecer e avaliar a
intervenção pedagógica dos professores. Tanto os processos de aprendizagem como os de ensino são um
meio para ajudar os alunos em seu crescimento e, é um instrumento que permite ao professor melhorar
sua atuação em sala de aula. (ZABALA,1998)
A avaliação está presente em todo o processo educativo. Ao planejar seu trabalho ou selecionar recursos
e atividades o professor está avaliando a capacidade do aluno de fazer o que irá propor e da mesma forma,
estará avaliando a adequação de sua proposta aos interesses do aluno e aos resultados gerados.
O profissional da educação está entrando em contato com as dinâmicas que podem transformar a
educação. O professor tem a tarefa de mediar o processo ensino-aprendizagem e não deve propor
atividades com questões que buscam uma resposta singular e nega aos alunos a oportunidade de
construção do conhecimento. Essa construção faz com que os alunos sintam-se sujeitos de sua própria
historia e não meros repetidores e expectadores.
Os educadores devem participar da construção e do desenvolvimento de uma ação educativa consciente,
que promova no aluno suas potencialidades e capacidades de criar e soluções e respostas adequadas, ou
seja, uma consciência cidadã. Exercer este papel só é possível, se o professor for um profissional reflexivo,
agente de sua própria formação, e estimulador da formação do educando, mediando a construção do
conhecimento com atividades lúdicas desafiadoras, criativas e significativas, possibilitando aos alunos,
tornarem-se sujeitos participantes, autônomos e críticos em relação ao contexto em que estão inseridos.
Uma atitude reflexiva permanente possibilitara uma análise mais complexa do oficio de profissional da
educação, onde estabelecer uma relação critica com o saber é essencial para a construção da identidade
de formador competente.
Rosa Maria Gasparini Nazar é coordenadora do curso de Pedagogia da Unicastelo - campus Descalvado;
diretora de EE Nelson Fernandes de Santa Rita do Passa Quatro;
Colaboraram na pesquisa: Débora Maria Paschotto Sunega ; Karla Tatiane Horácio Caneo; Paula Cristina
Mosquino todas graduadas pela Unicastelo - campus Descalvado.
In: http://www.unicastelo.br/site/artigos/?id_noticia=238&categoria=52