O documento descreve o encontro de Jesus com uma mulher samaritana no poço de Jacó. Quando Jesus pede água à mulher, ela se surpreende por ele, um judeu, estar falando com uma samaritana. Jesus fala com ela sobre a água viva que ele pode oferecer. Ele revela detalhes sobre a vida dela que a levam a crer que ele é um profeta.
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Rastros de luz 06
1. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
Jovem. Ao encontro de Jesus!
de
Luzum olhar na história
rastros 2017
nº 6
maio
Despretensioso convite para o
retorno às coisas simples, belas
e profundas do Evangelho.
eles
receberam...
não o
2. 3
Jesussai da
Jesus, juntamente com seus
discípulos, estava nas terras
da Judéia. Às multidões que
acorriam em busca do Mestre,
Jesus falava do reino de
Deus, maravilhoso país moral,
cujas leis emanariam dos
próprios corações, criando
as harmonias perfeitas dos
ritmos humanos.
Judéia
3. 4 5RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
jMateus, 4:12
12. Jesus, ao ouvir que João fora preso, partiu para a
Galileia.
Mateus, 1:14
14. Depois de João ser preso, Jesus foi para a Galileia.
João, 4:1-3
1. Quando, pois, o Senhor soube que os fariseus tinham
ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e mergulhava mais
discípulos que João,
2. (embora Jesus mesmo não batizasse, mas sim seus
discípulos),
3. deixou a Judéia e foi de novo para a Galileia.
*
Jesus, juntamente com seus discípulos, estava nas terras
da Judéia. Às multidões que acorriam em busca do Mestre,
Jesus falava do reino de Deus, maravilhoso país moral, cujas
leis emanariam dos próprios corações, criando as harmonias
perfeitas dos ritmos humanos.
4. 6 7RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Encerrou-se o ciclo dos profetas, porque já está falando,
nas montanhas que descem de Jerusalém a Jericó, o
Desejado das Nações.
Todos os oprimidos, todos os pobres, todos os doentes,
todos os amargurados, todos os insatisfeitos, todos os
sonhadores, todos o s que aspiram à beleza incomparável
da vida moral, ouvem e compreendem essa palavra, que
fala de um Deus que é Pai e cujos benefícios jorram do céu
pelo milagre da fraternidade humana.
Deus é pai e todos somos irmãos. E, porque amamos
o Pai, amamos nossos irmãos, que, como nós, dEle
procedem.
Desse amor, que impõe deveres, procedem as justas
linhas da liberdade.
Amor. Essa é a palavra nova que deflui das sentenças,
das parábolas, das comparações e das hipérboles
utilizadas pelo Mestre para dar a compreender, às massas
humildes, uma revolução que será permanente na história
da humanidade, criando, no mundo das consciências, a
antecipação do “reino de Deus”.
*
Entre Jericó e Betânia, Jesus cura e ensina.
E como é diferente suas ações, sua fala, da dos escribas
e dos doutores!
A estes, interessa tão só o formalismo legal, o
cumprimento das normas que vieram de Moisés e
ganharam uma importância maior desde quando, em
oposição às tendências gregas de Antioco, ao tempo dos
Macabeus, foi mister engrandecer, em ressaltantes relevos,
as tradições nacionais.
Saber quando começou e quando terminou o sábado;
estabelecer o tamanho e o peso dos objetos que se podem
transportar nesse dia; resolver se os doentes podem ser
curados e os pobres socorridos dentro das vinte e quatro
horas do descanso semanal; verificar a qualidade da água
que se deve empregas nas limpezas purificadoras; tais
eram as grandes preocupações daqueles legalistas, que
não já ouviam a ressonância do coração humano.
A contrário, Jesus falava de coisas graves e profundas,
Para um mundo que, guardadas as proporções, apresentava tanta semelhança com estes
atormentados dias do século XXI, as suas palavras, indo diretamente às almas de todos os aflitos,
significavam as mais felizes promessas de paz. Não era a paz romana, levando, no tropel dos exércitos, a
impositiva lembrança aterradora do senado dos quirites (era o nome antigo dado aos cidadãos da Roma
Antiga): a paz opressiva dos mais fortes, sobre as querelas dos mais fracos.
Ao ditado popular, que devia ter curso, “se queres a paz, prepara a guerra”, doutrina inspirada nos
terrores recíprocos dos trogloditas, Jesus opunha a lição da serena e grandiosa coragem: se queres a
paz, prepara a paz.
Era o alvorecer de uma nova humanidade.
5. 8 9RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
penetrando as mais íntimas angústias e
as mais secretas aspirações das almas.
Todas as palavras mortas, que
perderam o sentido através dos tempos,
tornam-se palavras vivas em seus
lábios, porque jorram iluminadas por
novo espírito.
A Justiça vivifica-se pela Misericórdia;
a Lei resplandece em Humanidade; o
Sacrifício revaloriza-se no Perdão; Israel
dilata-se em Universalidade; o Homem
liberta-se pela Fraternidade; e Deus
revela-se em Paternidade.
Os pequeninos e os pobres encontram
um lugar ao sol. Até maus se beneficiam
do Sol. A paz descerá sobre o mundo
pelo milagre do próprio homem,
animado de boa vontade para com o seu
semelhante.
*
Sobre as montanhas da Judéia,
brilhava a luz do mundo. Bem o sabia
João, o Batista, de quem o evangelista
João diria sobre sua missão: “Ele veio
para testemunho, para que testificasse
da luz, para que todos cressem nele.
Não era ele a luz, mas para que
testificasse da luz”. (João, 1: 7 a 14)
Realmente, ali bem perto estava
aquele que era “a luz verdadeira, que
ilumina a todo homem que vem ao
mundo. Estava no mundo e o mundo foi
feito por ele...”
Em redor das turbas simples e
sinceras, rondavam, porém, os fariseus,
os espiões dos saduceus, os escribas
sardônicos, os poderosos descontentes,
os nacionalistas exagerados e jacobinos,
os avarentos, os luxuriantes, os céticos,
os comodistas, e os feitos que Jesus
praticava não conseguiam mover-lhes os
corações.
Tudo, até hoje, tudo o que pertence ainda ao velho mundo, ao mundo pagão, ao mundo
farisaico, ao mundo de Pilatos e de Caifás; tudo o que, decorridos mais de 20 séculos, ainda
exprime o que há de sepulcral nas cidades extintas: persiste em não receber a luz, em não
reconhecê-la.
Mas, agora, como sempre, está nascendo o renascendo, no seio dos povos e no íntimo de
cada ser humano, um mundo novo, e se repetirá até à consumação dos tempos.
E, por isso, nunca será tarde para os que desejarem erguer-se das tumbas dos velhos
preconceitos, da escuridão da
ignorância, dos limites do orgulho e do
egoísmo.
E haverá sempre ocasião para os que
resolverem, sinceramente, nascer de
novo para um mundo novo...
*
Nos subterrâneos de Masqueros,
Masqueros
6. 10 11RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
abriam-se galerias tenebrosas.
Labirintos em declives, conduzindo a
masmorras abobadadas, em que se
rasgavam aberturas estreitas para
passagem de exígua réstia de luz, ou a
cárceres cegos, de escuridão absoluta.
Foi num destes que encerraram João
Batista, pelas mãos do despotismo e da
intolerância (leia Fascículo nº 3).
*
Para eximir-se às intrigas e falsidades
dos fariseus, a cujos ouvidos chegavam
as notícias de seus milagres, e,
principalmente agora, que João Batista
fora preso, o Mestre resolvera deixar
a Judéia, voltando à região tranquila
do lago, onde pensava deixar os
fundamentos definitivos da Boa Nova.
*
Os dois evangelhos sinóticos (*)
assinalam a partida de Jesus da Judéia
dando, como motivo (Mateus) ou como
referência de tempo (Marcos) a prisão
do Batista.
João é mais minucioso. Dá-nos
também outras razões. Jesus veio a
saber que os fariseus começavam a
impressionar-se com o fato de que
ia mais gente a Jesus, do que fora a
João, para ser mergulhada, batizada.
O evangelista frisa que, pessoalmente,
Jesus não batizava, mas apenas seus
discípulos. Tendo conhecimento do
inquérito que os fariseus haviam
realizado contra João, quis evitar o
mesmo aborrecimento e resolveu
abandonar a Judéia, refugiando-se na
Galileia onde não corria perigo, por estar
longe das autoridades.
(*) Evangelhos Sinópticos (português
europeu) ou Evangelhos Sinóticos
(português brasileiro) é um termo que
designa os Evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas por conterem uma grande
quantidade de histórias em comum,
na mesma sequência, e algumas
vezes, utilizando exatamente a mesma
estrutura de palavras.
Quanto ao quarto Evangelho
canônico, o Evangelho de João, relata
a história de Jesus de um modo
substancialmente diferente, pelo que
não se enquadra nos sinóticos.
Desta maneira, temos 4 evangelhos
canônicos, dos quais três são sinóticos.
Enquanto que os evangelhos sinóticos
apresentam Jesus como uma personagem humana destacando-se dos comuns
pelas suas ações milagrosas sendo a origem primária para informações históricas
sobre Jesus Cristo, já o Evangelho de João descreve um Jesus como um Messias,
com um carácter divino, que traz a redenção absoluta ao mundo. Aparentemente,
o evangelho de João sugere que ele tinha conhecimento dos Evangelhos Sinóticos,
e que nos tais já existia informação suficiente sobre a vida de Jesus como homem,
se incumbindo João de mostrar em seu Evangelho, os atributos de Jesus como
Messias, o Esperado.
(*) Evangelhos canônicos. Mateus, Marcos, Lucas e João são os autores dos únicos evangelhos aceitos pela
maioria das denominações cristãs como legítimos e que portanto integram o Novo Testamento da Bíblia. O cânon
do Novo Testamento começou a ser definido por volta de 150 d.C. durante a controvérsia marcionita e aparece
documentado pela primeira vez na forma atual em 367, em uma carta de Atanásio, bispo de Alexandria. O Terceiro
Sínodo de Cartago, em 397, ratificou o cânon já aceito previamente no Sínodo de Hipona Regia, realizado em 393,
em Hipona, onde hoje é a Argélia.
O evangelho de Marcos dá mostras de ser o livro mais antigo. O evangelho de João foi o último entre os
evangelhos a ser escrito e possui características particulares tanto do ponto de vista dos textos quanto da perspectiva
teológica do escrito.
8. 14 15RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
qJoão, 4: 1-26; 4-28-30; 4:39-42
Quando Jesus soube que os fariseus
tinham ouvido dizer que ele fazia mais
discípulos e batizava mais que João — ainda
que, de fato, Jesus mesmo não batizasse,
mas os seus discípulos — deixou a Judéia e
retornou à Galileia.
Era preciso passar pela Samaria.
Chegou, então, a uma cidade da Samaria,
chamada Sicar, perto da região que Jacó
tinha dado a seu filho José.
Ali se achava a fonte de Jacó.
Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se
junto à fonte. Era por volta da hora sexta.
Uma mulher da Samaria chegou para tirar
água. Jesus lhe disse: “Dá- me de beber!”
Seus discípulos tinham ido à cidade
comprar alimento.
Diz-lhe, então, a samaritana: “Como,
sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?” (Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.)
Jesus lhe respondeu: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te
daria água viva!”
Ela lhe disse: “Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? És,
porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus
animais?”
Jesus lhe respondeu: “Aquele que bebe desta água terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca
mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna”.
Disse-lhe a mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir mais aqui para tirá-la!”
Jesus disse: “Vai, chama teu marido e volta aqui”.
9. 16 17RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
A mulher lhe respondeu: “Não tenho
marido”.
Jesus lhe disse: “Falaste bem: ‘não
tenho marido’, pois tiveste cinco maridos
e o que agora tens não é teu marido;
nisso falaste a verdade”.
Disse-lhe a mulher: “Senhor, vejo que
és um profeta. . . Nossos pais adoraram
sobre esta montanha, mas vós dizeis: é
em Jerusalém que está o lugar onde é
preciso adorar”.
Jesus lhe disse: “Crê, mulher, vem a
hora em que nem sobre esta montanha
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não conheceis; nós
adoramos o que conhecemos, porque
a salvação vem dos judeus. Mas vem
a hora — e é agora — em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito e verdade, pois tais são os
adoradores que o Pai procura. Deus é
espírito e aqueles que o adoram devem
adorá-lo em espírito e verdade”.
A mulher lhe disse: “Sei que vem um
Messias (que se chama Cristo). Quando
ele vier, nos anunciará tudo”.
Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo
contigo”.
A mulher, então, deixou seu cântaro e
correu à cidade, dizendo a todos: “Vinde
ver um homem que me disse tudo o que
fiz. Não seria ele o Cristo?
“Eles saíram da cidade e foram ao
seu encontro.
Muitos samaritanos daquela cidade
creram nele, por causa da palavra da
mulher que dava testemunho: “Ele me
disse tudo o que fiz!”
Por isso, os samaritanos vieram até
ele, pedindo-lhe que permanecesse com
eles. E ele ficou ali dois dias.
Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: “Já
não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é
verdadeiramente o salvador do mundo”.
10. 18 19RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Desta vez, abandonando a estrada
mais usual das comunicações entre
os galileus e Jerusalém, cujo traçado
seguia de Jericó a Batanéia, pelo curso
do Jordão, galgara a serra de Efraim
e derivara pela encosta setentrional,
contornando o monte sagrado onde os
samaritanos adoravam a Jeová.
Vindo do vale do Jordão, para
chegar a Samaria, teve que penetrar
nos “ouadis” Aqrabeth ou Beit-Dedjan,
caminho muito mais árduo, porque O
obrigava a penosa subida por senda
pedregosa (e de pedras pontudas), até
atingir a planície de Mahné, onde se
situava Sicar (que não deve confundir-se
com Siquém, tantas vezes visitada pelos
patriarcas, conforme Gên.12:6; 33:18
etc .). Realmente o encontro não se deu
em Siquém, cidade abundante de água,
mas em Sicar (hoje el-Akar).
O poço de Jacó ficava a menos de
cinco minutos ao sul da cidadezinha,
ainda habitada na época de Jesus. Esse
poço captava uma fonte subterrânea;
daí empregar o evangelista,
indiferentemente, ora poço, ora fonte.
Era no mês de Kislev (dezembro/
janeiro), à hora sexta.
Quando Jesus chegou ao pé da fonte,
estava cansado da íngreme ladeira
que galgara, e sentou-se (literalmente
“deixou-se cair com toda sem cerimônia,
sobre a borda do poço ou ao lado dele).
João não deixa de anotar (sempre os
números!) a hora: era a hora “sexta”, ou
seja, cerca do meio-dia.
Bom lugar para um repouso, a essa
hora escaldante. Enquanto o Mestre
repousava, seus discípulos vão pouco
além, à cidade, para buscar alimentos.
*
11. 20 21RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Jesus preferiu fica só, aguardando.
Aos discípulos?
Não; o Mestre sabe que alguém
virá à cisterna, e esse “alguém” será o
instrumento do seu Anúncio na terra da
Samaria.
Desde muito, este povo separou-se
de seus irmãos da Judéia; e eis que dele
se aproxima o Conciliador, aquele que
pergunta aos corações: por que odiais?
Alguém virá ao poço de Jacó.
Algum personagem importante, cujo
prestígio empresta à sua palavra o valor
de grave testemunha?
Não; a pessoa que virá será humilde
e se nenhuma importância.
Mas, então, deve ser uma alma
santa, de imaculadas virtudes....
E, no entanto, assim não é. Trata-se,
pelo contrário, de uma alma pecadora,
carregada de culpas, uma criatura que
não tem a vida limpa...
*
Somos todos falíveis, todos
suscetíveis de cair muitas vezes, depois
de nos havermos levantado.
Jesus não veio alterar a natureza do
homem, revogar o nosso livre arbítrio,
criar uma humanidade diferente; veio
mostrar um caminho, ascender uma
luz. Dispensar-nos força e estímulo para
nossa jornada redentora.
Se alguém quiser vir após mim,
renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a
sua cruz, e siga-me. (Mateus 16 : 24)
Na caminhada de Jesus, encontramos
o fraco Pedro, o incrédulo Tomé, a
ambiciosa mulher de Zebedeu, o
comodista Nicodemos, o zombador
Natanael, a utilitária Marta, a maculada
Madalena, a esperta samaritana, todos
esses poderão animar a nossa fraqueza
e aplacar as nossas inquietações...
Jesus bem conhecia e bem conhece o
“barro humano”; bem sabia e bem sabe
dos conflitos desesperadores entre a
nossa carne e o nosso espírito.
Mais razão ao afirmar: Os sãos não
necessitam de médico, mas, sim, os
que estão doentes; eu não vim chamar
os justos, mas, sim, os pecadores ao
arrependimento.(Marcos 2 : 17)
E completa em outro momento:
Digo-lhes que assim haverá alegria no
céu por um pecador que se arrepende,
mais do que por noventa e nove justos
que não necessitam de arrependimento.
(Lucas 15 : 7)
Era a voz da esperança aos
esquecidos pelos religiosos, aos
apartados pelos preconceitos, aos que
padeciam conflitos, aos que haviam
se equivocado e cometidos erros, aos
caídos e deserdados.
Porque eu vim, não para julgar o
mundo, mas para salvar o mundo. (João 12
: 47)
Desde os tempos do Profeta Ezequiel,
sabia-se que a justiça divina era repleta
de amor e de misericórdia: Desejaria eu,
de qualquer maneira, a morte do ímpio?
diz o Senhor Deus; Não desejo antes
que se converta dos seus caminhos, e
viva? (Ezequiel, 18: 23)
O que o Meigo Rabi desejava era a
decisão, a determinação, a antevisão do
futuro a ser construído por cada um de
nós, uma vez fincados os alicerces do
reino de Deus em nossos corações.
Todo o “material de construção”
necessário para tal obra, Ele, o Sublime
Artífice nos disponibilizava com a Boa
Nova.
Ninguém, que lança mão do arado e
olha para trás, é apto para o reino de
Deus. (Lucas, 9: 62)
Para nossos dias atuais, fica o
exemplo e o testemunho histórico
daqueles que se decidiram por seguir
Jesus, pecadores que eram e se fizeram
construtores da nova humanidade.
Por nossa vez, não receemos o
engajamento no serviço do Bem, em
face de nosso passado, onde ficaram os
registros de erros.
*
A título de ilustração, leiamos
oportuna mensagem ditada pelo Espírito
Irmão X (Humberto de Campos),
através da mediunidade de Chico Xavier,
extraída do livro Contos desta e de
outra vida, intitulada:
O ANJO, O SANTO E O
PECADOR.
O Pecador escutava a orientação
de um Santo, que vivia, genuflexo, à
porta de templo antigo, quando, junto
aos dois, um Anjo surgiu na forma de
homem, travando-se breve conversação
entre eles.
O ANJO – Amigos, Deus seja louvado!
O SANTO – Louvado seja Deus!
O PECADOR – Louvado seja!
O ANJO (Dirigindo-se ao Santo) –
Vejo que permaneceis em oração e
animo-me a solicitar-vos apoio fraternal.
O SANTO – Espero o Altíssimo em
adoração, dia e noite.
O ANJO – Em nome d’Ele, rogo o
socorro de alguém para uma criança que
agoniza num lupanar.
O SANTO – Não posso abeirar-me de
lugares impuros...
O PECADOR – Sou um pobre
penitente e posso ajudar-vos, senhor.
O ANJO – Igualmente, agora,
desencarnou infortunado homicida,
entre as paredes do cárcere... Quem me
emprestará mãos amigas para dar-lhe
sepulcro?
O SANTO – Tenho horror aos
criminosos...
O PECADOR – Senhor, disponde de
mim.
O ANJO – Infeliz mulher embriagou–
se num bar próximo. Precisamos
removê-la, antes que a morte prematura
lhe arrebate o tesouro da existência.
O SANTO – Altos princípios não
me permitem respirar no clima das
prostitutas...
O PECADOR – Dai vossas ordens,
senhor!
O ANJO – Não longe daqui, triste
menina, abandonada pelo companheiro
a quem se confiou, pretende afogar-se...
É imperioso lhe estenda alguém braços
fortes para que se recupere, salvando-
se-lhe também o pequenino em vias de
nascer.
O SANTO – Não me compete buscar
os delinquentes senão para corrigi-los.
O PECADOR – Determinai, senhor,
como devo fazer.
O ANJO – Um irmão nosso, viciado
no furto, planeja assaltar, na presente
semana, o lar de viúva indefesa...
Necessitamos do concurso de quem
o dissuada de semelhante, propósito
12. 22 23RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
aconselhando-o com amor.
O SANTO – Como descer ao nível de um ladrão?
O PECADOR – Ensinai-me como devo falar com
ele.
Sem vacilar, o Anjo tomou o braço do Pecador
prestativo e ambos se afastaram, deixando o Santo
em meditação, chumbado ao solo.
Enovelaram-se anos e anos na roca do tempo,
que tudo alterara. O átrio mostrava-se diferente.
O santuário perdera o aspecto primitivo e a morte
despojara o Santo de seu corpo macerado por cilício
e jejum, mas o crente imaculado aí se mantinha em
Espírito, na postura de reverência.
Certo dia, sensibilizando mais intensamente as
antenas da prece, viu que alguém descia da Altura,
a estender-lhe o coração em brando sorriso.
O Santo reconheceu-o.
Era o Pecador, nimbado de luz.
- Que fizeste para adquirir tanta glória? –
perguntou-lhe, assombrado.
O ressurgido, afagando-lhe a cabeça, afirmou
simplesmente:
- Caminhei.
*
Voltemos ao Poço de Jacó.
*
Nesse interim, aproxima-se uma mulher da
região da Samaria, hoje denominada Sebastieh,
“samaritana”.
Não vinha da cidade de que ficava a 12 km de
Sicar.
Comum era o hábito de buscar água em
ânforas, nos poços. O poço de Jacob mede 39
metros de profundidade, e só quem possua uma
corda bastante longa poderá haurir água. Ora, os
viajantes não costumam carregar tais apetrechos,
pois ninguém recusa um pouco d’água a um
peregrino sedento.
Jesus solicita esse obséquio da samaritana. Acontece que, entre samaritanos e judeus havia animosidade de
longa data, recrudescida após o cativeiro, quando os companheiros de Zorobabel recusaram que os samaritanos
colaborassem na restauração do templo (Esdras.4:1-5). Mais tarde, o sacerdote Manassés, expulso de Jerusalém,
estabeleceu um templo no monte Garizim, servido por clero regular, rivalizando com Jerusalém (Ant.Jud.11.7,2) o
que fez mais tensas as relações. Os judeus equiparavam os samaritanos aos “filisteus”, a tal ponto que o Eclesiástico
(50:27-28) diz: “há duas nações que minha alma detesta, e a terceira nem é uma nação: os que moram na montanha
de Seir, os filisteus e o povo insensato que habita Siquém”. Os samaritanos de seu lado não poupavam os judeus
(Josefo, Ant. Jud.8.2, 2 e 20, 6, 1).
Tudo justifica, pois, a surpresa da samaritana, ao ouvir que Jesus falava com ela. Que era um galileu, manifestava-o
13. 24 25RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
seu sotaque (cfr.Mat.26:73) e as borlas
de seu manto (cfr.9:20 e Mr. 6:56).
Embora sem recusar a água, faz-lhe
sentir sua estranheza.
Jesus, que nela viu um espírito de
escol, capaz de penetrar os “mistérios
do Reino”, aproveita a circunstância para
esclarecê-la.
Começa o Rabbi dizendo “se souberas
o dom de Deus, tu Lhe pedirias de
beber, e Ele te daria a água viva”.
Evidente tratar-se de um simbolismo,
notável sobretudo numa região pobre
de água. A samaritana, porém, não
percebe o simbolismo (tal como ocorrera
com Nicodemos) e interpreta ao pé da
letra, embora lhe tenha dado, agora, o
título de Senhor, reconhecendo-Lhe a
superioridade incontestável.
Ao verificar que não era
compreendido, Jesus volta à prática
pedindo que ela chame seu marido,
ao que ela confessa não tê-lo. Jesus
confirma-o, declarando que já tivera
cinco, e que o atual lhe não pertencia.
Admirada, confessa a samaritana ver
nele um Profeta, com capacidade de
conhecer a vida intima das criaturas.
Tendo entrado no terreno religioso,
a samaritana aproveita para pedir que
Jesus dirima a questão, declarando
quem está certo: os judeus, que
celebram seu culto em Jerusalém, ou
os samaritanos, que o fazem no monte
Garizim, no local do templo construído
por Manassés em 400 A.C. , mas
destruído em 129 A.C. por João Hircan.
Ainda hoje os samaritanos celebram
sua páscoa nesse monte. A cena passa-
se no sopé do Garizim e do Hebal, onde
está o poço de Jacó.
Esse desvio teológico deve ter
aliviado a tensão da samaritana,
temerosa de maiores verificações em
sua vida particular. Jesus pede-lhe que
acredite nele, como profeta que ela
mesma reconhece, e passa a fazer-lhe
revelações.
Declara taxativamente que não tem
importância o lugar físico e geográfico
do culto ao Pai.
Mas, prossegue o Mestre, virá a hora
- e é agora - em que os verdadeiros
adoradores O cultuarão em espírito, pois
esta é a Vontade divina.
Jesus prega abertamente o
universalismo: o Pai comum de todos os
homens será adorado em qualquer lugar
físico, pois o verdadeiro templo de Deus
é nosso próprio espírito e nosso corpo
(cfr.Rom.8:9,11; 1 Cor.3;16,17 e 6:19;
2 Cor. 6:16; 2 Tim.1:14 e Tiago 4:5).
Não há mais necessidade de templos;
nada mais de liturgias, fórmulas
sacramentais e sacramentos, pompas e
solenidades: os verdadeiros adoradores
rejeitam tudo isso, e adoram em espírito
verdadeiro. Adorar a Deus em verdadeiro espírito,
é adorá-lo verdadeiramente. Ao passo que os
ritos, liturgias e gestos mágicos trazem o terrível
perigo de materializar, e, portanto, mecanizar,
o culto. E contra essa mecanização, sempre
protestaram os mestres (cfr. Oseas. 6:6; Amós,
5:20-26; Isaías, 1:11-17: Salmo 50:7-23), e o
próprio Jesus (Mat.15:8 e Marc.7:6).
A expressão de Jesus é clara: Deus é o espírito.
Nessa amplitude de visão universalista, a
querela entre judeus e samaritanos toma a
proporção de minúscula discordância
de personalidades vaidosas, sem
importância alguma.
Diante do exposto, a samaritana
indaga a respeito do Messias aguardado
por eles como pelos judeus.
Nesse ponto, Jesus declara sem
rebuços: “sou Eu, quem fala contigo”.
Foi feita a revelação.
No início (vers 11) a samaritana o
Atual vista do alto do Monte Garizim
Atual vista do alto do Monte Hebal
14. 26 27RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
julga um grande homem (Senhor); mais tarde (vers.19), chega à conclusão de que se trata de um inspirado (Profeta); e
finalmente (vers.26) nele reconhece o ungido (Messias ou Cristo). Deu-lhe, pois, a explicação de Suas primeiras palavras:
“Se souberas quem fala contigo!!
*
Todo o episódio narrado no cap. 4.º de João, referente à samaritana, está repleto de lições maravilhosas.
Não quer isto dizer que se não tenha realizado
o fato relatado pelo evangelista. Absolutamente,
o fato realizou-se na esfera terrena. Realmente
os pormenores se verificaram, como em todas
as outras cenas apontadas pelos evangelistas.
Pretendem alguns que tudo seja simbolismo. Não
aceitamos.
Acreditamos firmemente que todas as cenas
narradas nos Evangelhos são reais, foram vividas
no plano terreno, material. Mas Jesus era tão
adiantado que saiba aproveitar todas as ocasiões
para dar lições. Encaminhava os acontecimentos de
forma a que deles, quem o pudesse, extrairia lições
para sempre. Daí ter falado sempre em parábolas,
enquanto outros ensinamentos eram vividos.
Também os evangelistas, mais tarde, souberam
escolher aquilo que deviam revelar, pois nem tudo
disseram do que fez Jesus em Sua passagem
pela Terra, pois “se o fizessem, o planeta não
comportaria os livros necessários para narrá-los”
(João, 21:25)
.
*
ESPANTO DOS DISCÍPULOS
João, 4:27; 4: 31-38
Naquele instante, chegaram os seus discípulos
e admiravam-se de que falasse com uma mulher;
nenhum deles, porém, lhe perguntou: “Que
procuras?” ou: “O que falas com ela?”
Enquanto isso, os discípulos rogavam-lhe: “Rabi,
come!”
Ele, porém, lhes disse: “Tenho para comer um
alimento que não conheceis”.
Os discípulos se perguntavam uns aos outros:
“Por acaso alguém lhe teria trazido algo para
comer?”
Jesus lhes disse: “Meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e consumar a
sua obra. Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses e
chegará a colheita’? Pois bem, eu vos digo: Erguei
vossos olhos e vede os campos: estão brancos
para a colheita. Já o ceifeiro recebe seu salário e
15. 28 29RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
recolhe fruto para a vida eterna, para
que o semeador se alegre juntamente
com o ceifeiro. Aqui, pois, se verifica o
provérbio: ‘um é o que semeia, outro o
que ceifa’. Eu vos enviei a ceifar onde
não trabalhastes; outros trabalharam e
vós entrastes no trabalho deles”.
*
Recordemos que, com Jesus, havia
apenas cinco discípulos: os irmãos
Pedro e André, João, Natanael e Filipe.
Não era o “colégio apostólico”, que não
fora ainda constituído. Acompanhavam
a Jesus sem compromisso formal,
tanta que voltaram a seus afazeres na
barca. Pouco mais tarde é que Jesus
os convoca oficialmente, para o serviço
ativo do “reino”.
A samaritana, impressionada com
as palavras de Jesus, corre a dizê-lo à
população, sempre com aquele típico
exagero feminino: “contou-me tudo o
que fiz. ...
Mas, depois que saíra esbaforida,
deixando até a ânfora ao pé do poço,
pois podia-lhe estorvar a caminhada,
vêm as explicações de Jesus aos
discípulos, espantados de vê-Lo a
entreter-se interessadamente com uma
mulher e, ainda por cima, “samaritana”
... Esse reparo não deve fazer-nos supor
que Jesus fosse um misógino, isto é, que
tivesse aversão ou horror às mulheres.
Nada disso: por onde ia, acompanhava-o
um grupo de mulheres para servi-Lo,
talvez até contando-se entre as que
O acompanhavam suas irmãs (Joana,
Maria e Salomé?). A admiração provém
do fato de Jesus, um Rabbi, entreter-se
publicamente com uma mulher do povo
e desconhecida. Também não se refere,
como dizem alguns comentadores, à
“má vida” da samaritana, que deles não
era conhecida; mesmo porque, embora
tivesse mudado “de marido”, não era
absolutamente o que pudesse chamar-
se mulher “pública”. Bem longe disso.
Mas os discípulos respeitaram a
atitude do Mestre, e nenhum deles
ousou, como anota o evangelista,
“interrogá-Lo” e, muito menos, criticá-
Lo (como é tão comum hoje em todos os
círculos espiritualistas: se um elemento
aborrece ou tem raiva de alguém, todos
acham muito natural; mas se gosta de
alguém, chovem as críticas e todos se
afastam; e no entanto, ele cumpre a
lei do amor! A humanidade ainda tem
muito o que aprender).
Embora houvesse pedido água,
por estar com sede, Jesus recusa
comer: não sente mais o vazio do
apetite material, pois a satisfação de
seu espírito se estendera a todos os
veículos, até mesmo no físico.
O Amor também alimenta! O desejo,
não: até aumenta o apetite. Mas o
Amor é saciedade e, por ser tal, satisfaz
totalmente.
Os discípulos não compreenderam
a causa. Alguém, talvez a própria
mulher, Lhe teria trazido de comer?
Jesus explica: o alimento principal do
Espírito é fazer a vontade Daquele que
O enviou. Mais tarde ensinaria “procurai
em primeiro lugar o reino de Deus e Sua
justiça e tudo o mais vos será dado por
acréscimo” ( Mt.6:33)
.
Depois vem uma lição de
profundidade, otimamente colhida no
panorama que se estendia a seus pés no
vale, talvez provocada pela observação
de um dos discípulos: “ainda quatro
meses e chegará a ceifa”.
A planície, contemplada do alto, devia
aparecer pejada de espigas nos trigais,
que começavam a amadurecer aos mais
ardorosos sóis da primavera, que já se preparava para o verão, num exuberante
junho palestinense. Note-se que, nessa região, ao invés de amarelecer como na
Europa, o trigo assume uma tonalidade branquiça.
“Olhem, pois, e vejam que já está esbranquiçando o trigo, que está quase
maduro”. E daí à lição do ceifador, que se empregava por tarefa para a colheita. Na
realidade, o provérbio “um semeia e outro colhe” provinha justamente do fato de
que, para as colheitas, eram contratados trabalhadores de fora, afim de que fosse
ela completada dentro do prazo oportuno, sem correr o risco de estragar-se no pé.
O ceifador colhe, mediante salário, o que o semeador plantou, e ajunta no
celeiro para o futuro. Assim na vida espiritual, a colheita é feita para a Vida
Imanente, no Reino dos Céus.
E Jesus termina: “eu vos enviei a colher num campo em que não trabalhastes:
vós entrastes no trabalho dos outros”. Referia-se à longa e penosa plantação
que durante séculos e milênios vinha sendo feita na Terra pelos Manifestantes
divinos, pelos Profetas, Mestres e Filósofos, por todos os homens de Deus que aqui
chegavam para preparar a humanidade para o grande passo.
16. 31
Jesus
E, levantando-se, expulsaram-
no para fora da cidade e o
conduziram até um cimo da
colina sobre a qual a cidade
estava construída, com a
intenção de precipitá-lo de
lá. Ele, porém, passando pelo
meio deles, prosseguia seu
caminho...
é expulso
de Nazaré
17. 32 33RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
jLucas, 4: 14-15)
Jesus voltou então para a Galileia,
com a força do Espírito, e sua fama
espalhou-se por toda a região
circunvizinha. Ensinava em suas
sinagogas e era glorificado por todos.
Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e,
segundo seu costume, entrou em dia de
sábado na sinagoga e levantou-se para
fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro
do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou
o lugar onde está escrito: O Espírito
do Senhor está sobre mim, porque ele
me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar a remissão
aos presos e aos cegos a recuperação
da vista, para restituir a liberdade aos
oprimidos e para proclamar um ano de
graça do Senhor.
Enrolou o livro, entregou-o ao
servente e sentou-se. Todos na sinagoga
olhavam-no, atentos. Então começou a
dizer-lhes: “Hoje se cumpriu aos vossos
ouvidos essa passagem da Escritura”.
Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca. E diziam: “Não é o filho de
José?”
Ele, porém, disse: “Certamente ireis citar-me o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em
Cafarnaum, faze-o também aqui em tua pátria”.
Mas em seguida acrescentou: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. De fato, eu vos digo que
havia em Israel muitas viúvas nos dias de Elias, quando por três anos e seis meses o céu permaneceu fechado e uma grande fome
devastou toda a região; Elias, no entanto, não foi enviado a nenhuma delas, exceto a uma viúva, em Sarepta, na região de Sidônia. Havia
igualmente muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu; todavia, nenhum deles foi purificado, a não ser o sírio Naamã”.
Diante dessas palavras, todos na sinagoga se enfureceram. E, levantando-se, expulsaram-no para fora da cidade e o conduziram até
um cimo da colina sobre a qual a cidade estava construída, com a intenção de precipitá-lo de lá. Ele, porém, passando pelo meio deles,
prosseguia seu caminho...
18. 34 35RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Jesus voltou à Galileia, depois
dos dois dias que passara com os
samaritanos. Era maio/junho de 29 AD.
Maria vibra de felicidade. Ali está
de novo, junto dela, o filho querido.
Volta com grande grupo de discípulos.
Vem precedido da fama de feitos
surpreendentes e de uma doutrina
arrebatadora.
Ao entardecer do dia seguinte, a
Sinagoga, mais do que nos sábados
anteriores, estava repleta. A notícias
da vista do Mestre a Nazaré circulara,
desde cedo, entre a gente do lugar.
Na Sinagoga repleta, Jesus entra com
serenidade austera e simples. Corre
largo murmúrio por toda a assembleia.
Convidado, Jesus ergue-se e caminha
para a mesa. O presidente entrega-lhe
o rolo de papiro. O Mestre desenrola-o
e ao acaso começa a ler a porção da
Haftora, de Isaías 61:1-2:
- O Espírito do Senhor é sobre mim,
pois que me ungiu para evangelizar
os pobres, enviou-me a curar os
quebrantados de coração, a apregoar
liberdade aos cativos, a libertar os
oprimidos, a anunciar o ano da graça do
Senhor.
E declarou: - Neste momento acaba
de se cumprir esta escritura.
E, como o silêncio era profundo e
comovido, a voz de Jesus começou a
vibrar, ensinando a doutrina do reino de
Deus.
Todo ele irradiava estranha
simpatia, sedução arrebatadora, e,
sobre as almas sedentas de verdade,
as suas palavras caíam como orvalho
matutino. A exposição era clara, de
luminosidade transparente; ritmava-
se numa embaladora harmonia e, ora
jogando com imagens acessíveis, ora
entretecendo parábolas fascinantes
de beleza, ia tornando tão evidente a
distinção entre o Bem e o Mal, que todos
se maravilhavam.
Todos? Todos. Muitos, porém, pelo que havia de
curioso, de singular, naquele Rabi, que não estudara
em parte alguma e falava como um doutor da
Lei. Entre esses, os escribas locais, confundidos e
humilhados, porque jamais haviam conseguido falar
assim, e os notáveis e ricos, os vaidosos do pequeno
burgo, os que não podiam se conformar com aquela
superior humildade e sabedoria da parte de um
moço que nascera ali e viram crescer.
*
O doente deseja o remédio, mas reclama do
amargo do mesmo.
O homem deseja um mundo de paz, mas pouco
contribui para isso.
O estudante almeja ser diplomado, mas pouco se
afeiçoa ao estudo regular.
Mas, mas e mas...
“Mas”: é uma conjunção adversativa, indica clara
oposição entre ideias. Transmite uma noção de
oposição ou limitação.
*
Na sua fala, Jesus proclama a universalidade de
sua doutrina. Deus é pai dos fenícios e dos sírios,
por consequência o povo judeu, que foi
apenas depositário das esperanças do
mundo, não é o único, o privilegiado.
Elias e Eliseu, ao beneficiarem uma
sidonita e um sírio, profetizaram,
anunciando aquele que, repelido na sua
pátria, dirigir-se-ia a todos os povos da
terra.
*
As pessoas se admiravam, se
comoviam e se encantavam com a
profundida, clareza e sabedoria dos
comentários de Jesus sobre o texto lido
no livro do profeta Elias, bem como
estavam fortemente impressionados
com as notícias dos ditos e feitos
extraordinários que Ele vinha
promovendo em toda a Galileia.
Era incontestável que através DEle se
realizava a profecia de Isaías, ao dizer
– sobre Cafarnaum – que na região de
Zabulão, e Neftali, caminho do mar,
além do Jordão, onde uma grande luz
seria vista pelo povo que jazia nas
trevas, região da morte, e a buscaria
para sempre, a fim de que não mais
voltasse a haver trevas.
Sabia-se ali, diante deles, estar o Sol
vitorioso.
Seu verbo conclamava uma
autoanálise, uma reflexão madura,
“que atirasse a primeira pedra quem
estivesse sem pecado”, uma mudança
de valores, uma retomada da própria
identidade, a fim de se identificar com
Deus.
Tudo era sublime e belo para se ouvir,
MAS... para se adentrar no reino de
Deus, era preciso reforma moral íntima
para melhor, renúncia, solidariedade,
fraternidade, amor...
“Se alguém quiser vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e
siga-me”.
*
- ... ninguém é profeta em sua terra!
E a clara oposição entre as novas
e boas ideias e as velhas crenças,
fortalecidos pelas próprias fraquezas
morais, pelas limitações de aspirações,
os nazareus se viram envolvidos entre
os apelos da Luz Maior e os interesses
mesquinhos e trevosos do status do
poder dominante de sacerdotes e
beneficiários da religião, tomados de
inveja e despeito.
As suas palavras, entretanto, feriam,
na visão dos “detentores da palavra
de Deus”, o nacionalismo religioso, o
preconceito judaico, a intransigência dos
que pretendiam trancar Deus infinito nas
fronteiras de Israel. Deus é para todos?
Como?
Contrariados alguns, inconformados
outros, começaram incitar os demais à
intolerância que lhes era característica.
Outros tantos cederam ao sombrio
propósito não só de expulsar o Sol
Imorredouro, mas, pasmem!, de matá-
lo, jogando-o do cimo da colina!
*
A tola pretensão de matar-se o
homem, imaginando que se mata a
ideia.
Jesus fez a predição: “Então, sereis
atribulados, e vos matarão. Sereis
odiados de todas as nações, por causa
do meu nome”.(Mateus 24:9)
Mesmo sem ser a história muito
precisa a esse respeito, mas consta,
sobre os apóstolos, que:
ANDRÉ - O lugar do seu martírio foi
em Acaia (província romana que, com
a Macedônia, formava a Grécia). Diz a
tradição que ele foi amarrado a uma
cruz em forma de xis (não foi pregado)
para que seu sofrimento se prolongasse.
BARTOLOMEU - Foi esfolado vivo e
crucificado de cabeça para baixo. Outros
dizem que teria sido golpeado até a
Sinagoga na Galileia típica do tempo de Jesus
19. 36 37RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
morte.
FILIPE - Diz-se que pregou na Frigia e
morreu como mártir em Hierápolis.
JUDAS TADEU - Diz a tradição que
pregou o Evangelho na Mesopotâmia,
Edessa, Arábia, Síria e também na
Pérsia, onde foi martirizado juntamente
com Simão, o Zelote.
MATEUS - Percorreu a Judéia, Etiópia
e Pérsia, pregando e ensinando. Há
várias versões sobre a sua morte. Teria
morrido como mártir na Etiópia.
MATIAS (substituto de Judas) - Diz-se que exerceu seu ministério na
Judéia e Macedônia. Teria sido martirizado na Etiópia.
PAULO - Segundo a tradição, decapitado em Roma, nos tempos de
Nero, no ano 67 ou 70.
PEDRO - Segunda a tradição, sua crucifixão verificou-se entre os
anos 64 e 67, em Roma, por ordem de Nero.
Pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por achar-se indigno
de morrer na mesma posição de Cristo.
SIMÃO (o Zelote) - Julga-se que morreu crucificado.
TIAGO (o maior) - Por ordem de Herodes Agripa, foi preso
e morto a espada em Jerusalém, entre os anos 42 e 44.
TIAGO (o menor) - Segundo a tradição, martirizado
provavelmente no ano 62.
TOMÉ (que só acreditava no que via) - Consta que seu
martírio se deu por ordem do rei de Milapura, na cidade
indiana de Madras, no ano 53 da era cristã.
Os “nazareus” modernos fizeram o mesmo com Joanna
D’Arc, Jun Huss, Martin Luther King Jr, Mohandas Karamchand
Gandhi e outros muitos.
Plínio Salgado, em seu livro Vida de Jesus, apresenta-nos
esse momento que agora comentamos, com a culminância
bem apropriada dos ânimos daquele povo.
Acompanhemos:
Toda a assembleia se levantou num turbilhão furioso, em
que o arrastar e o tombar de cadeiras se misturava aos gritos
selvagens. Agarrando Jesus pela túnica, os mais exaltados
arrastaram-no para fora da Sinagoga.
- Que faremos dele?
- Blasfemou! Blasfemou!
- Sim! Ao barranco! Ao barranco!
E, em voragem rodopiante e desgrenhada, conduziram
Jesus a alta montanha próxima dos estádios da cidade.
Cercada pelos parentes, Maria soluçava, presenciando
o crime inominável que os conterrâneos praticavam contra
seu filho. Seu espanto não tinha limites. Entre aqueles
desesperados, via muitos a quem tratara sempre com
bondade; alguns que lhe deviam obséquios.
Iam matar-lhe o filho. Ali mesmo, na sua própria terra.
Tudo quanto ela temera que ocorresse em cidades longínquas
e estranhas, ia ocorrer ali, perto dela, dentro dos muros de
Nazaré!
- Faze agora um milagre! Faze!
- Vê se te livras de nós, intrujão!
- Salva-te, profeta!
Chegaram ao topo do abismo.
E Jesus fez o milagre, reclamado pela sua terra.
No instante em que os braços robustos iam precipitá-lo, eis
que se paralisam inteiriçados. Toda a multidão jaz imóvel, os
olhos pregados nele, sem poder articular mais um só grito.
20. 38 39RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
E Jesus, devagar, sereno, grandioso,
caminhou entre os seus conterrâneos, e
entrou de novo na cidade.
*
As estrelas brilhavam quando o
Mestre partiu, seguido pelos discípulos,
sob os olhos comovidos de Maria.
Desapareceu na estrada que deriva para
a planície do Esdrelon.
*
E Nazaré arrependeu-se pelos séculos
do porvir.
*
Leiamos comentários a respeito, na
palavra de Amélia Rodrigues, em seu
livro: O trigo de Deus, cap. 8:
NÃO O RECEBERAM
Lucas, 4 : 16 a 30 e Mateus, 13 : 55 e 56.
Ao tempo de Jesus, Nazaré era uma
aldeia perdida nas encostas dos montes
de calcário, na região da Baixa Galileia.
Parecia uma pérola, que esplendia entre
pedras brutas, cercada de flores miúdas
quase que permanentes.
Fundada, fazia mais de dois mil
anos, antes de Jesus, não tinha
qualquer importância, porque nenhuma
estrada significativa a atravessava,
exceto quando se seguia a rota algo
escarpada na direção do Egito, caminho
certamente percorrido por Maria, José e
o Filho, quando da fuga para liberar-se
do ódio de Herodes.
Nazaré se tornaria conhecida depois
dEle.
Não é o lugar que torna notável o
homem, mas este que, extraordinário,
dignifica o lugar de sua origem
elevando-o ao estado de grandeza, de
notoriedade.
Nazaré situa-se em uma bacia, a quase quatrocentos metros acima do nível do mar
Mediterrâneo.
O seu é um clima privilegiado e o vale de Jezrael é sempre fértil e verde, havendo merecido
do historiador Flávio Josefo comentários entusiásticos e comovedores.
Ao oeste, podem-se ver o monte Carmelo e o mar; a leste está o vale do Jordão; ao sul,
a planície do Esdrelon, região onde está Meguido e na qual o rei Josias sofreu sua terrível
derrota; ali também lutaram os Macabeus, sonhando com a liberdade. Mais ao sul, encontra-se
o monte de Gelboé e, a nordeste, o lago de Tiberíades.
Saul fora derrotado pelos filisteus muito perto dali, nas cercanias de Gelboé, ficando
assinalado o seu fracasso face à desobediência à profecia de Samuel, o último dos Juizes, que
lhe viera falar através da mediunidade exuberante da pitonisa do Endor...
Não sendo uma aldeia importante,
esteve sujeita a Jafa, a Séforis, a
Quislot, e ficou quase esquecida.
A população da Galileia era
constituída por sírios, que vieram do
Norte, gentios, romanos do meado do
século I, a.C, gregos que fugiram das
conquistas de Alexandre Magno, e pelo
povo da região, que falavam o dialeto
arameu, uma linguagem pobre que se
arrimava às imagens vivas da Natureza,
sem dispor de um vocabulário próprio
para vestir as ideias.
21. 40 41RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Não seja, portanto, de estranhar,
que o Mestre usasse a mesma palavra
para definir, às vezes, coisas e
acontecimentos diferentes.
Por outro lado, era comum que
um mesmo vocábulo adquirisse um
significado mais genérico, o que,
certamente, criou dificuldades para
o entendimento das anotações
escriturísticas.
*
Em Nazaré haviam chegado as
notícias dos feitos que comoveram
Cafarnaum.
O jovem ali conhecido passara a
curar e o Seu magnetismo arrebatava
as multidões necessitadas que O
buscavam.
Nesse clima, Ele resolveu em um
sábado vir a Nazaré e visitar a sinagoga,
como era do Seu hábito.
A casa de orações se encontrava
repleta.
A Sua chegada houve uma comoção
geral.
A beleza que dEle se irradiava parecia
penetrar as almas, sensibilizando-as
com amor e ternura, ou despeito e
inveja.
Sempre acontecerá o mesmo
fenômeno com as pessoas de vida
pública, guias e líderes das massas...
NEle, no entanto, atingia-se o
máximo e isto se generalizava por onde
passasse à Sua grandeza.
Tomando da Tora, Ele leu o texto de
Isaías e referiu-se:
— O Espírito do Senhor está sobre
mim. Pelo que me unge, para anunciar
as boas novas aos pobres.
Silenciou. Logo após, disse:
— Hoje se cumpriu esta Escritura na
minha pessoa...
E prosseguiu comentando o texto em luz.
Houve silêncio e interesse.
Alguns presentes indagaram, comovidos: — Não é Ele o filho de José e de Maria, que
trabalhava na carpintaria, que todos conhecemos e não são os Seus irmãos e irmãs os
amigos com os quais convivemos?
Era, portanto, um momento singular, rico de expectativas e de carinho.
Ele prosseguiu integérrimo:
— Ninguém é profeta em sua terra, nem encontrará guarida na sua própria casa. E se lhe
dirá: — Médico, cura-te a ti mesmo.
“Quando os céus deixaram de fertilizar a terra com chuvas abençoadas, Elias não atendeu
a aflição das viúvas, exceto à de Sarepta, de Sidon... E quando Eliseu veio ao povo e os
leprosos o buscaram, ele não os limpou,
dando preferência ao sírio Naaman...
“Desse modo, foram maltratados
pelos familiares e coetâneos.”
A ira, a inveja e a revolta uniram-
se em desequilíbrio e expulsaram-nO,
levando-0 a uma encosta, pensando
em atirá-lo do alto, em expiação, qual o
fazem com o bode sacrificado na festa
do Yom Kippur.
Jesus olhou-os com infinita
compaixão, liberou-se de suas mãos e
atravessou o grupo furibundo, descendo
a Cafarnaum...
Nazaré possuía apenas uma fonte
de águas generosas e abundantes, e
talvez isso haja contribuído para que
permanecesse, até o século II, quase
desconhecida.
Graças a Jesus e às terras férteis
do vale do Esdrelon tornou-se famosa,
enriqueceu-se de cisternas cavadas no
calcário dos montes.
A pequena pérola cintilante, que era
Nazaré com os seus campos de papoulas
escarlates e amarelas ao vento, com
os cachos de mirra e ervas aromáticas,
conheceu Jesus na Sua infância e
juventude.
Ele correu por aquelas pradarias,
cabelos à brisa e olhar abrangendo os
montes altaneiros que a cercavam a
distância.
... Nunca mais Ele voltaria a Nazaré,
que significa lugar de sentinela.
Nazaré não O recebeu.
A inveja, a mágoa, o despeito dos
Seus, expulsaram-nO dali.
Outras Nazarés existem ainda hoje,
aguardando os cristãos decididos a fim
de os expulsarem dali.
Velha estrada na Galileia
22. 43
Textos de Amélia Rodrigues
e Emmanuel, abordando a
temática deste fascículo, que
nos convidam a amadurecida
meditação.
encarte
reflexãopara
23. 44 45RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Ao tempo de Jesus, Nazaré era uma aldeia muito modesta
com uma população reduzida entre cento e cinquenta a cento e
oitenta pessoas, distante seis quilômetros de Séforis, a nova capital
da Galileia, aproximadamente cinquenta e dois quilômetros de
Cafarnaum, onde passaria a residir por algum tempo.
Embora Ele houvesse vivido ali por quase trinta anos, fosse
conhecido e seguisse a tradição nazireia, resultado da sua educação
doméstica, quando foi anunciado o Seu retorno, os adversários
anteciparam-nO e mediante a urdidura das intrigas, da inveja e do
despeito geraram embaraços e dificultaram-Lhe o ministério.
A intriga é veneno destilado pelas almas doentes incapazes de
acompanhar a glória de outrem sem a presença da inveja e do
despeito.
Ele era puro e isso não se fazia aceito por aqueles que ainda se
encontravam nas agruras das imperfeições.
Era manso e a ferocidade dos mais primitivos levantava-se para
provocá-lO embora não encontrasse resposta equivalente.
Ele era nobre como a Vida e os atormentados que a perturbavam
não aceitavam a Sua superioridade.
Em torno dos Seus passos a indiferença pelo próximo e o
esquecimento da fraternidade constituíam comportamento normal,
porque os infelizes eram invisíveis, quando não criavam situações
embaraçosas para os cômodos.
Mas ainda hoje é mais ou menos assim...
Quando Ele chegou com os Seus discípulos, após uma jornada
fatigante, a agressividade local era generalizada, demonstrando
quanto ressentimento havia na pequena e hostil população.
Havia inverno nos corações, enquanto a primavera estuava em a
Natureza.
Sopravam ventos brandos, levemente perfumados, acariciando as
almas em turbilhão.
Uns chamavam-nO discípulo de Belzebu para poder realizar o que diziam que Ele era capaz de fazer. Outros
acusavam-nO de feitiçaria, diversos gritavam que Ele era mistificador que ludibriava o povo ignorante e
supersticioso...
Os discípulos foram igualmente agredidos verbalmente e não foram poucas as discussões que, por pouco
não culminaram em pugilato.
Os mais jovens ficaram furiosos e enfrentaram a ironia e a crítica ácida, defendendo o Amigo.
Em
Nazaré
não o receberam...
24. 46 47RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Os mais experientes não ocultavam o desencanto, ainda mais diante da serenidade do
Rabi, que permanecia inalterado.
O Reino dos Céus não é imposto pela força. - Disse Ele, mansamente, como se nada de
mal estivesse acontecendo.
E porque a situação se houvesse tornado grave, a fim de evitar alguma pugna muito do
agrado dos desordeiros, Ele convidou os amigos, sem qualquer ressentimento, a retornar a
Cafarnaum...
Os Seus não O receberam, não O mereciam.
A flor delicada da verdade necessita da haste vigorosa para continuar exalando perfume
e transformar-se em fruto abençoado.
Os narizeus estavam tentando ferir a árvore frondosa da Verdade, a fim de que não
houvesse flor nem frutescência.
Na saída de Nazaré convulsionada pela insensatez dos Seus inimigos, houve o
enfrentamento com a Treva.
Nazaré, como a maioria das cidades, tinha os seus réprobos: aqueles que
haviam sido expulsos do Livro da Vida, portadores de lepra, de obsessão,
de cegueira, das mazelas da alma pela prostituição, alcoolismo, misérias
morais...
Tornara-se célebre um endemoniado agressivo que, normalmente era
expulso da pequenina urbe sob pedradas de crianças e de adultos, e sempre
retornava.
Relativamente jovem fora acometido de loucura, agredindo os pais e
familiares, todos quantos se lhe acercavam, sendo surrado muitas vezes até a
exaustão e jogado nos monturos...
Passado algum tempo, ei-lo de retorno, furioso e alucinado.
Vendo Jesus e os Seus a regular distância, pôs-se a blasfemar e a inquirir:
Jesus de Nazaré, por que me persegues? Que queres de mim?
Suavemente compadecido enquanto o tresvariado se agitava, Ele indagou
tocado pela misericórdia:
Quem és tu?
A voz roufenha e a baba abundante na boca, respondeu:
Sou Satanás que domino este homem e o martirizo.
Com dúlcida e enérgica melodia nos lábios, o Senhor respondeu:
Satanás, em nome de meu Pai, eu te ordeno: sai dele, deixa-o.
A voz, portadora de uma tonalidade especial, sem qualquer laivo de
brutalidade, produzindo um especial efeito no infeliz desencarnado, agitou
o enfermo, fê-lo convulsionar e deixou-o, tombando-o no solo, como se
estivesse numa crise epiléptica.
Apesar de acostumados com os sublimes fenômenos produzidos pelo
Mestre, os Seus discípulos, a princípio alarmados, foram tomados de jubilosa
surpresa.
E quando o Senhor auxiliou o paciente a levantar-se perfeitamente
recuperado, disse-lhe:
Vai e apresenta-te a todos, a fim de que eles saibam o que pode fazer
Aquele que vem em nome de Deus.
O recuperado sacudiu a poeira da roupa e avançou na direção da praça,
onde se amotinavam o povo e alguns fariseus, que o vendo, ficaram
estremunhados e agressivos.
Alguém gritou com voz estentórea:
Quem está de volta!
Com muita calma, o ex-alienado respondeu:
Sim, sou eu!
25. 48 49RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Continuas louco, desgraçado, ou alguém te curou?
Sem ressentimento e com alegria ripostou:
O Mestre recuperou-me...
Não terminou a frase e as gargalhadas de mofa abafaram-lhe a voz em gritaria infrene, com ameaças de
apedrejamento.
Foi então que o recuperado bradou mais forte:
Jesus salvou-me! Estou curado.
Seus olhos brilhantes e a sua serenidade impactaram os delinquentes que foram dominados por peculiar estupor.
Um fariseu soberbo e mendaz acercou-se-lhe com
empáfia e olhando-o com aparente serenidade, inquiriu-o:
Tu dizes que Jesus te curou? Mas Ele é servo de
Belzebu.
Ao que o recém-curado esclareceu com lógica
irretorquível:
Se Ele me curou por Belzebu, por que vós jamais
curastes alguém? Que me importa em nome de quem Ele
me recuperou. O que posso afirmar é que eu tinha um
demônio que me dominava e Ele me libertou. É, portanto,
melhor e mais poderoso do que vós.
E saiu cantando louvores, seguindo o Mestre.
*
Nunca faltarão inimigos para a Verdade.
Mesquinhos e ignorantes eles sempre se opõem ao
amor, mas acima deles e de suas misérias encontra-se a
inefável misericórdia de Jesus a todos e a eles também
socorrendo.
Nazaré não O recebeu, porque ninguém é profeta na
sua terra.
Nazaré se arrependeu na sucessão dos séculos...
Amélia Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 15 de junho
de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia
26. 50 51RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
O discípulo aplicado assevera: — De mim mesmo, nada
possuo de bom, mas Jesus me suprirá de recursos, segundo
as minhas necessidades. — Não disponho de perfeito
conhecimento do caminho, mas Jesus me conduzirá.
O aprendiz preguiçoso declara: — Não descreio da
bondade de Jesus, mas não tenho forças para o trabalho
cristão. — Sei que o caminho permanece em Jesus, mas o
mundo não me permite segui-lo.
O primeiro galga a montanha da decisão. Identifica as
próprias fraquezas, entretanto, confia no Divino Amigo e
delibera viver-lhe as lições.
O segundo estima o descanso no vale fundo da
experiência inferior. Reconhece as graças que o Mestre lhe
conferiu, todavia, prefere furtar-se a elas.
O primeiro fixou a mente na luz divina e segue adiante.
O segundo parou o pensamento nas próprias limitações.
O “mas” é a conjunção que, nos processos verbalistas,
habitualmente nos define a posição íntima perante o
Evangelho. Colocada à frente do Santo Nome, exprime-nos
a firmeza e a confiança, a fé e o valor, contudo, localizada
depois dele, situa-nos a indecisão e a ociosidade, a
impermeabilidade e a indiferença.
Três letras apenas denunciam-nos o rumo. — Assim
recomendam meus princípios, mas Jesus pede outra coisa.
— Assim aconselha Jesus, mas não posso fazê-lo.
Através de uma palavra pequena e simples, fazemos a
profissão de fé ou a confissão de ineficiência.
Lembremo-nos de que Paulo de Tarso, não obstante
apedrejado e perseguido, conseguiu afirmar, vitorioso, aos
filipenses: — “Tudo posso naquele que me fortalece.”
Emmanuel
(Livro: Pão nosso. Emmanuel, Cap. 79. Francisco Cândido Xavier)
O
“Tudo posso naquele que me fortalece.” — Paulo. (Filipenses 4, 4: 13.)
“Mas”e os Discípulos
27. 52 53RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Neste mundo, nada é mais maleável e frágil quanto a água. Contudo,
ninguém, por mais poderoso que seja, resiste à sua ação (corrosão, desgaste,
choque de ondas), ou pode viver sem ela. Não é bastante claro que a
flexibilidade é mais eficaz que a rigidez? Poucos agem de acordo com essa
convicção. - Lao-Tsé
Resiliência é um termo usado na linguagem acadêmica, que veio migrado da
física.
Significa a resistência de uma substância a fortes pressões, temperaturas
extremas e a quaisquer outros fatores externos, e que, ao final de tudo, o
estado inicial voltará a prevalecer.
A água é um exemplo clássico de alta resiliência. Tomemos o seu exemplo
para nossa melhor compreensão.
Esta substância é totalmente passiva quando as necessidades lhe pressionam
a mudar de forma ou de estado. Com o calor torna-se vapor; com a ausência
do mesmo se solidifica. Adapta-se ao meio. E basta novamente só um comando
para voltar a ser o que era antes. Sem problema! Temos tido nós essa
sabedoria, flexibilidade e renúncia?
A água também vai aonde deva ir. Viaja pelo mundo, sendo tomada por
correntes a lugares às vezes paradisíacos, e outras tantas para os confins
mais inóspitos da Terra. Mas se for necessário dar uma parada, pode ficar ali para sempre sem
reclamar. De uma grande onda havaiana, belíssima e imponente, ou uma majestosa cachoeira, a
um remoto e profundo iceberg.
Ela ainda também nos dá outro ensinamento: Se envolve com qualquer tipo de substância
mais não perde sua essência. Com certos até convive de perto mais não se mistura. O óleo bem
que tenta. Pela aparência pode até parecer que se perdeu, mais continua água. Juntos, mas não
misturados.
Esta é a força de resistência que observamos neste composto maravilhoso. Mesmo com
toda esta capacitação, ela não exige lugares de glória. Seja qual for o espaço que lhe estiver
reservado, pequeno ou grande, estreito ou largo, de difícil ou fácil acesso, ela irá se acomodar
com perfeição. Estará satisfeita, pois foi designada para isso mesmo.
Assim, pessoa resiliente é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser
humano para resistir aos embates da vida.
A análise dos comportamentos leva à ideia de que todo ser humano traz dentro de si essa
capacidade inata.
Sempre em
direção
à próxima
árvore
sobre resiliência
28. 54 55RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
Alguns a estimulam por si mesmos
sobrepujando guerras, maus tratos,
conflitos diversos. Outros precisam de
ajuda externa, seja de comunidades
religiosas ou não, da família ou de
terapeutas para ajudá-los a criar os
fatores de proteção que suavizam os
fatores de risco. Ou seja, são as forças
internas e externas que contribuem
para minorar esses fatores de risco.
E a essa força chama-se resiliência.
Assim, diz-se que um indivíduo é
resiliente quando consegue superar
(e não necessariamente eliminar) as
adversidades, encontrando forças para
superar e aprender com elas.
A forma como lidamos com os
agentes estressores é que determinaria
o grau de resiliência alcançado. O ser
resiliente não foge das opressões e
consegue neutralizar seus efeitos sem
que necessariamente as mesmas sejam
afastadas ou diminuídas.
Dá a volta por cima e segue adiante.
Ser resiliente também implica em
aceitar as coisas como são, se não
puderem ser modificadas. A angústia
leva algumas pessoas ao desespero
enquanto outras procuram consolo e
resposta para os acontecimentos.
Aprendemos com Lao-Tsé: O rio
atinge seus objetivos porque aprendeu a
contornar obstáculos.
Mediante a coragem de defrontar os
sofrimentos e os reveses e trabalhá-los
corajosamente com os instrumentos
da realidade, podemos modificar o
nosso estado íntimo de aceitação ou
não das circunstâncias, ensejando-
nos ressignificar as ocorrências e seus
efeitos em nós, mudando nossa forma
de pensar e de ser.
Quanto maior a lucidez da
consciência, melhor equipado o
indivíduo na superação da amargura, do
desespero, da infelicidade.
Um exemplo caracteriza bem o tema.
Terry Fox foi um atleta canadense e,
mais notavelmente, um ativista para o
tratamento de câncer em seu país.
Depois de perder uma de suas pernas
para um sarcoma, Terry Fox, decidiu
cruzar o país de costa a costa, para
arrecadar fundos para a pesquisa do
tratamento do câncer, pretendendo
um milhão de dólares canadianos. Ele
começou sua jornada em São João da
Terra Nova, em Terra Nova e Labrador,
na costa atlântica, em 12 de abril de
1980, e pretendia ir até Vancouver,
Colúmbia Britânica, na costa pacífica,
numa jornada que acabou conhecida
como Maratona da Esperança.
Terry Fox correu durante a Maratona
da Esperança, em média, o equivalente
a uma maratona – 42 quilômetros – por
dia. Após 143 dias consecutivos, e de
ter percorrido aproximadamente 5.300
quilômetros, Fox foi obrigado a parar
sua jornada, quando soube que seu
câncer havia se espalhado para seus
pulmões. Fox acabou morrendo alguns
meses depois, aos 22 anos de idade.
A Maratona da Esperança arrecadou
um total de 360 milhões de dólares
canadianos para pesquisa sobre o
tratamento de câncer.
Ato de coragem próprio de quem tem
objetivo de vida, propósito de viver,
resiliência.
Certa feita, questionado por um
repórter se a sua meta de cruzar a
pé todo o seu país não era ousada
demais em face de sua deficiência
física, respondeu-lhe que em momento
algum ele anunciara que tinha esse
compromisso (cruzar todo o seu país
caminhando uma maratona por dia).
Proponho-me sim, continuou ele com
outras palavras, ao me levantar cada
manhã, caminhar em direção a próxima
árvore ou ao próximo poste, e assim
sucessivamente, buscando vencer
o caminho parte por parte, poste
por poste, árvore por árvore. Se ao
29. 56 57RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
final de um dia caminhei 1, 30 ou 42
quilômetros, é consequência apenas,
pois, na manhã seguinte guardarei
o firme propósito de ir sempre em
direção à próxima e seguinte árvore.
Se caio, busco forças em Deus e me
levanto, continuando a marcha. Os
percalços, as dores, tolero-os e sigo
em frente sem destemor. E concluiu
dizendo: a vida para mim faz sentido,
pois eu tenho um propósito de viver
alcançável, já que o vejo sempre
próximo, e, se não conseguir chegar ao
grande final almejado, assim mesmo
terei chegado ao meu ponto máximo,
pois terei dedicado o meu máximo. A
determinação é minha força motriz.
Esforço e sofrimento que me custem, é
o preço da passagem para a viagem que
resolvi espontaneamente empreender.
A compreensão que o ser demonstra
em torno dos objetivos de sua
existência, facilita-lhe entender e
aceitar o sofrimento e a necessidade
de mais de empenhar em fortalecer
suas resistências e melhor exercitar sua
flexibilização sobre suas crenças, valores
e critérios de vida. Reconhece que a
única constante na vida é a mudança. E
que seja para melhor, então.
Essa aceitação e superação dos
desafios que a vida terrena nos oferece
é que demonstram atitudes resilientes.
Bem observado, veremos que a
resiliência pode nos levar a ser pessoas
bem realizadas e resolvidas.
Em síntese, resiliência é:
• Suportar com dignidade os
acidentes da vida.
• Enfrentar contrariedades e manter
a integridade.
• Ter plena consciência de que vida
é complexa e, como tal, possui fatos
imprevisíveis e inevitáveis.
• Desenvolver flexibilidade diante
das adversidades.
• Não culpar os outros pelas
derrotas, mas usá-las para expandir a
maturidade pessoal.
• Transformar o caos em
oportunidade criativa e crescer diante da
dor.
• Traçar ponte entre os projetos de
vida e a disciplina perseverante.
• Dar utilidade à própria vida.
• Simplificar o modo de viver.
• Valorizar o próximo.
• Redescobrir o valor do trabalho
também como fator de equilíbrio
emocional, da solidariedade como fonte
de bem-estar e refazimentos das forças
mantenedoras da vida, e da tolerância,
como rede de amortecimento das
atitudes insensatas ou desgostantes.
Por mais que os Céus demonstrem
a formação de forte chuva, e os raios
e trovões prenunciem momentos de
apreensão e possíveis estragos, anteveja
o após a tempestade, com atmosfera
mais limpa, os campos, as árvores e as
plantações, verdejantes e promissoras,
como se agora sorrissem em resposta
aos Céus, agradecendo.
Assim em nossos dias. Que a
esperança ocupe o nosso tempo e
a autoconfiança preencha nossos
sentimentos.
Deixemos nossas lembranças
reverem o Grande Poeta de Deus,
Trovador da Esperança, com sua ética
que era uma poesia e exalava como
perfume, com quem a natureza foi
destaque com seus exemplos vivos,
dando-nos elementos simples para
compreensão do mais complexo, o que
demarcou suas lições para ficarem entre
nós para sempre.
Ele apontou os lírios no campo, falou
de como eles crescem e não trabalham,
nem fiam; no entanto, afirmou, que nem
mesmo o Rei Salomão, em toda a sua
glória, se vestiu em beleza e graça como um deles.
Apontou as aves do céu, lembrando-nos, os que vivemos ansiosos pelo dia de
amanhã ou pelos prenúncios de problemas que talvez nem cheguem, que elas nem
semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; mas o Grande Zelador da Vida as
alimenta. E, com suavidade de Mestre sábio, nos deixa a pergunta no ar: Você não
tem muito mais valor do que elas?
Não estamos em desamparo perante o Grande Todo, o Rei de Jade, do taoísmo.
Confiemos, prossigamos, realizemos.
E, por fim, fala-nos também ao coração, Lao-Tsé:
Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.
Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.
(Texto extraído do Blog/site www.projeto-inove.com.br, com a devida
autorização)
30. 58 RASTROS DE LUZ | ELES NÃO O RECEBERAM...
de
Luzum olhar na história
rastros
PRÓXIMO FASCÍCULO:
O Divino ministério.
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Jesus Christ of Latter-day Saints
Livros: A Bíblia de Jerusalém, além dos
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