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SPO 9102 – Sociologia
Professor: Jacques Mick
Apresentação da estratégia didática e da motivação
para os estudos de Sociologia
Estratégia didática e
orientações para estudo
• Diálogo entre as observações do livro didático e as ideias
de Anthony Giddens (“Sociologia”).
• Comece a estudar cada Unidade pela leitura
complementar: os capítulos do livro de Giddens, nas
Unidades 1, 2 e 4.
• Somente depois disso, leia o livro didático.
• As atividades de aprendizagem vão explorar a
complementação entre o que o livro didático diz e o que
Giddens escreve.
Conteúdos das videoaulas:
 Videoaula 2 – Introdução à obra de Karl Marx.
 Videoaula 3 – Introdução à obra de Émile Durkheim.
 Videoaula 4 – Introdução à obra de Max Weber.
 Videoaula 5 – Sociologia e problemas contemporâneos.
 Videoaula 1: Sociologia e modernização.
O surgimento da Sociologia
 A Sociologia surge no final do século 19.
 Objetivo: propor respostas a um conjunto de
transformações que configuraram a sociedade moderna,
de base industrial e capitalista, sobretudo a partir do século
18.
 Novas formas de produção e de estruturação das relações
sociais.
 Novas formas institucionais e políticas.
 Novos valores e identidades.
 Resultados de embates entre grupos favoráveis e
contrários às mudanças.
O surgimento da Sociologia
 Há relação íntima entre a explicação sobre a origem do
capitalismo ou a natureza da sociedade moderna e
industrial e o fortalecimento da Sociologia.
 As ideias sobre a sociedade não podem ser desvinculadas
das próprias condições sociais da época e dos desafios
postos a quem se propõe a refletir sobre ela.
 Três matrizes de pensamento: Karl Marx (1818–1883),
Émile Durkheim (1858–1917), Max Weber (1864–1920).
Finalidades do conhecimento
sociológico
 Transformar a realidade (Marx).
 Realizar diagnósticos precisos dos problemas para
resguardar o equilíbrio e a ordem social (Durkheim).
 Compreender a realidade com mais acuidade e
objetividade para, sem tomar partido, disponibilizar
conhecimento para a tomada de decisões políticas
(Weber).
A imaginação sociológica
 Aprender a pensar sociologicamente significa cultivar a
imaginação.
 A “imaginação sociológica” é “[...] uma qualidade de
espírito que lhes ajude a usar a informação e a
desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que
está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo
dentro deles mesmos”. (MILLS, 1965, p. 11).
A imaginação sociológica
 O indivíduo só pode compreender sua experiência e avaliar
seu próprio destino localizando-se dentro de seu período.
 Só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se
cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas
mesmas circunstâncias em que ele.
A imaginação sociológica
 O indivíduo “[...] contribui, por menos que seja, para o
condicionamento dessa sociedade e para o curso de sua
história, ao mesmo tempo em que é condicionado pela
sociedade e pelo seu processo histórico. A imaginação
sociológica nos permite compreender a história e a biografia
e as relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa é a
sua tarefa e a sua promessa”. (MILLS, 1965, p. 12).
A imaginação sociológica
 A imaginação sociológica é uma forma da
autoconsciência de ser um estrangeiro permanente
na sua sociedade.
 “As decisões anteriores, que pareciam sólidas,
passam a ser, então, como produtos de uma mente
inexplicavelmente fechada. Sua capacidade de
surpresa volta a existir. Adquirem uma nova forma
de pensar, experimentam uma transavaliação de
valores: numa palavra, pela sua reflexão e pela sua
sensibilidade, compreendem o sentido cultural das
Ciências Sociais”. (MILLS, 1965, p. 14).
Emile Durkheim (1858–1917)
• Da divisão do trabalho social (1893).
• As regras do método sociológico (1895).
• O suicídio (1897).
• As formas elementares da vida religiosa (1912).
• Educação e sociologia (1922).
• Sociologia e filosofia (1924).
• Lições de sociologia (1950).
Principais obras
O conceito de fatos sociais
“É fato social toda maneira de agir, fixada ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na
extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo,
possui uma existência própria, independente das suas
manifestações individuais”. (DURKHEIM, 2003, p. 13).
“Eles não poderiam [os fatos sociais] se confundir com os
fenômenos orgânicos, já que consistem em
representações e em ações; nem com os fenômenos
psíquicos, os quais só tem existência na consciência
individual e através dela”. (DURKHEIM, 2003, p. 4).
O conceito de fatos sociais:
“Não estou obrigado a falar a mesma língua que meus
compatriotas, nem a empregar as mesmas moedas
legais; mas é impossível agir de outra forma. Minha
tentativa fracassaria lamentavelmente, se procurasse
escapar desta necessidade. Se sou um industrial nada
me impede de utilizar processos e técnicas do século
passado; mas, se o fizer, terei a ruína como um resultado
inevitável”. (DURKHEIM, 1981, p. 47).
• Os indivíduos, ao nascerem, já encontravam a
sociedade pronta e constituída, restando a eles
adaptarem-se.
Os fatos sociais
1) Coerção social: a força que os fatos
exercem sobre os indivíduos, levando-os a
conformarem-se às regras da sociedade em
que vivem.
• Sanções que o individuo está sujeito quando
contra eles tenta se rebelar. As sanções
podem ser legais (leis) ou espontâneas.
• Importância do processo educativo
(conformação dos indivíduos à sociedade).
Os fatos sociais
2) Exterioridade: eles existem e atuam
independentemente de sua vontade ou
adesão consciente dos indivíduos. Há uma
separação entre coisas e ideias. As coisas
são exteriores e não estão sujeitas à nossa
vontade ou às nossas ideias. Diferencia
consciência individual e consciência coletiva.
Os fatos sociais
3) Generalidade: é social todo fato que é
geral, que se repete em todos os indivíduos
ou na maioria deles. Fatos individuais ou que
acontecem esporadicamente não seriam
objeto de estudo da Sociologia, mas da
Psicologia. Quando os indivíduos pensam e
agem em torno de ideias ou representações
coletivas, eles o fazem não como indivíduos
isolados mas como membros de um todo
cultural mais amplo.
Heranças do positivismo
• A objetividade do fato social é obtida com a
neutralidade do pesquisador em relação aos
fatos sociais. É preciso que o cientista deixe
de lado suas prenoções, isto é, seus
sentimentos e valores pessoais. Os
fenômenos morais como as leis e a religião
poderiam ser objetos de uma Ciência Social
se forem examinados corretamente (isto é,
cientificamente).
Heranças do positivismo
• Método das ciências naturais: o sociólogo
deveria encarar os fatos sociais como
“coisas”, isto é, objetos que, sendo
exteriores, devem ser medidos, observados
e comparados independentemente do que os
indivíduos pensem ou declarem a seu
respeito.
• Distingue categorias do senso
comum/conceitos científicos.
Tipos de organização
Durkheim argumentou que o advento da era industrial
significava o surgimento de um novo tipo de
solidariedade: a solidariedade orgânica, no lugar da
solidariedade mecânica.
A solidariedade mecânica é caracterizada por uma
organização constituída por um sistema de coesão social
mais simples e rudimentar, enquanto na solidariedade
orgânica ocorre a divisão diferenciada do trabalho,
formada por sistema de segmentos diferentes, no qual
cada um tem um papel a desempenhar.
A solidariedade orgânica
Na solidariedade orgânica, os indivíduos são agrupados
não mais pelas relações de descendência, mas segundo
à natureza particular da atividade social em que estão
envolvidos.
Não é mais a consanguinidade que marca o lugar de
cada um, mas a função que preenche; o aumento da
especialização é um critério para o desenvolvimento da
personalidade individual e progresso social.
O valor moral da divisão do trabalho está em que é por
meio dela que o indivíduo toma consciência do seu
estado de dependência com relação à sociedade.
Karl Marx (1818–1883)
Videoaula 3
Da juventude (1841–1847):
• Introdução à crítica da filosofia do direito de
Hegel (1843).
• A Sagrada Família (1844).
• A Ideologia Alemã (1845).
• A Miséria da Filosofia (1847).
• Manifesto Comunista (1848).
Principais obras
Da vida adulta:
• Contribuição à Critica da Economia Política
(1859).
• O Capital (1867).
Principais obras
Influências sobre Marx
• A filosofia de Hegel, de quem absorveu e
reformulou o método dialético.
• O pensamento socialista francês do século
XIX, de Claude Henri Saint-Simon, Charles
Fourier e Pierre J. Proudhon.
• Os economistas clássicos ingleses, em
especial Adam Smith e David Ricardo, os
quais foram criticados por Marx.
Conceitos principais
Alienação, capitalismo, classes sociais,
trabalho, valor, modo de produção, relações de
produção, força de trabalho, mais-valia,
materialismo histórico e dialético.
A emergência do capitalismo
O capitalismo surge na história quando, por
circunstâncias diversas, uma enorme quantidade
de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos
indivíduos, interessados sempre em obter mais
lucros [...] Na produção artesanal da Idade Média
até o Renascimento, o trabalhador mantinha em
sua casa os instrumentos de produção. Aos
poucos, estes passaram às mãos de indivíduos
enriquecidos, que organizaram oficinas.
A emergência do capitalismo
A Revolução Industrial introduziu inovações
técnicas na produção que aceleraram o processo
de separação entre trabalhador e instrumentos: as
máquinas, mais caras, ficaram acessíveis somente
aos mais ricos. Os artesãos isolados não podiam
competir com o dinamismo das nascentes
indústrias. Com isso, multiplicou-se o número de
operários, isto é, trabalhadores “livres”
expropriados.
Produção estrutura a sociedade
• A estrutura de uma sociedade depende da forma como
os homens organizam a produção social de bens.
• A produção social, segundo Marx, engloba dois fatores
básicos: as forças produtivas e as relações de
produção.
• As forças produtivas constituem as condições materiais
de toda a produção. Os objetos e instrumentos de
trabalho variam conforme as necessidades e
finalidades sociais a que se destinam, conforme as
sociedades e as épocas.
• As relações de produção são as formas como os
homens se organizam para executar a atividade
produtiva.
O estudo do modo de produção
• As relações de produção são consideradas
as mais importantes relações sociais.
• Para Marx, as formas de família, as leis, a
religião, as ideias políticas, os valores
sociais são aspectos cuja explicação,
depende, em princípio, do estudo do modo
de produção.
Alienação
• Separação do trabalhador dos meios de
produção.
• Perda do controle sobre o produto de seu
trabalho.
• Na esfera política, Marx demonstrou que, na
sociedade burguesa, o Estado representa a
classe dominante e age conforme os
interesses desta.
Videoaula 4
Max Weber (1864–1920)
Principais obras
• A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904).
• Economia e sociedade (1922, obra póstuma).
• Sobre a teoria das ciências sociais (a partir de
conferência proferida em 1919).
• Ciência e Política: duas vocações (a partir de
conferência proferida em 1919).
Contexto de sua produção
• França e Inglaterra tinham como pensamento
dominante o positivismo.
• O pensamento que prevaleceu, na Alemanha, foi o
idealismo de Kant e Hegel, que influenciou Georg
Simmel, Werner Sombart e Max Weber.
• A filosofia kantiana e a hegeliana preocupavam-se
menos com o objeto do conhecimento e mais com a
maneira como a razão podia decifrá-lo. Para a filosofia
alemã, o conhecimento é o produto da relação da
razão como objetos do mundo.
Contexto de sua produção
• Nova concepção de objetividade: os acontecimentos
não são apenas vividos, mas também pensados e,
consequentemente, a ciência não pode apreendê-los
apenas pela sua exterioridade, mas também pela
maneira como são interiorizados.
• Weber questiona tanto a concepção materialista da
história quanto o determinismo metodológico.
• Seus trabalhos abriram as portas para as
particularidades históricas da sociedade e para a
descoberta do papel da subjetividade na ação e na
pesquisa social.
Weber e a sociedade
• Weber critica a crença segundo a qual o alvo das
ciências da cultura poderia ser a elaboração de um
sistema fechado de conceitos, assim como a visão
segundo a qual o objetivo do trabalho científico
deveria consistir na redução da realidade empírica a
leis.
• Deu importância à pesquisa histórica e ao caráter
particular e específico de cada formação social. Para
a explicação causal de um fenômeno cultural, o
conhecimento das leis da causalidade se constituiria
como um “meio” de estudo e não como um “fim”.
Weber e a sociedade
• O conceito e as leis sociais não são espelhos da
realidade (conceito ≠ realidade).
• Método compreensivo: compreender/interpretar o
sentido que as ações de um indivíduo revelam e não
apenas o aspecto exterior dessas ações.
Conceitos centrais
Ação social, sentido, compreensão, agente
individual, tipo ideal, relação social, legitimação
e dominação.
Uma ação com sentido
• Para Weber, a ordem social não difere nem se opõe
aos indivíduos como força exterior a eles, tal como
pensava Durkheim. Normas sociais se tornam
concretas quando se manifestam em cada indivíduo
sob a forma de motivação.
• É o indivíduo que, através dos valores sociais e de
sua motivação, produz o sentido da ação social.
Tipos de ações sociais
• Ação racional com relação a um objetivo.
• Ação racional com relação a um valor.
• Ação afetiva ou emocional.
• Ação tradicional.
Dominação
Definição: “Possibilidade de impor ao
comportamento de terceiros a vontade própria”.
(WEBER, v. 2, 1999, p. 188).
Tipos de dominação:
Para Weber, todas as áreas da ação social são
influenciadas por complexos de dominação, não
baseados puramente em interesses econômicos.
De qualquer forma, “[...] o modo como os meios
econômicos são empregados para conservar a
dominação influencia, decisivamente, o caráter da
estrutura de dominação”. (WEBER, v. 2, 1999, p. 188)
Os três tipos puros de dominação, segundo Weber
(1999): dominação legal, dominação tradicional e
dominação carismática.
Dominação Legal → Racional
(regras racionais)
• Tipo mais puro = dominação burocrática.
• Quadro administrativo composto de funcionários
qualificados.
• Não se obedece à pessoa, mas à regra instituída.
• Condições de serviço = contrato conforme regras fixas.
• Tipo de funcionário = com formação profissional, em
virtude do dever objetivo do cargo.
• Objetivo: proceder sem influência de motivos pessoais
e sentimentais.
Exemplos
• Estrutura moderna do Estado.
• Empresa capitalista privada.
• Associação com fins utilitários (ou que disponha de
um quadro administrativo hierarquicamente calculado).
Dominação Tradicional →
Autoritária
• Tipo mais puro = dominação patriarcal.
• Obedece à pessoa em virtude da fidelidade, tradição.
• No quadro administrativo conta com dependentes
pessoais (familiares ou funcionários domésticos) ou por
pessoas ligadas por um vínculo de fidelidade.
• Não há seleção profissional para o funcionário.
• Relações reguladas pela tradição, pelo privilégio, pelas
relações de fidelidade feudal ou patrimonial, pela boa
vontade.
Dominação Carismática →
Pessoal
• Tipos mais puros: profeta, herói, guerreiro,
demagogo.
• Devoção à pessoa do senhor e aos seus dotes
sobrenaturais (carisma).
• Tipo que manda = líder.
• Tipo que obedece = apóstolo.
• Quadro administrativo escolhido segundo carisma e
vocação pessoal, não devido à qualificação
profissional.
Videoaula 5
Problemas contemporâneos da sociologia
Dois objetivos
1. Identificar e refletir sobre algumas dimensões
significativas da vida social através das quais se
manifestam as grandes transformações do
capitalismo contemporâneo.
2. Problematizar o tema da globalização, identificando
perspectivas opostas para compreender este
fenômeno contemporâneo.
Fragilização do Estado-Nação
Transformações sociais, políticas, econômicas,
culturais provocadas por:
 duas guerras mundiais,
 expansão e consolidação da hegemonia do capital
financeiro sobre a atividade econômica;
 constituição de um mercado mundial;
 emergência e desmoronamento do socialismo e do
neoliberalismo;
 crise ecológica e
 aumento da pobreza
=> Enfraquecimento do Estado-Nação.
O sentido da globalização
Processos, estruturas econômicas, políticas, históricas,
culturais e sociais que se desenvolvem em escala
mundial adquirem preeminência sobre relações,
processos e estruturas que se desenvolvem em escala
nacional.
As agendas das ciências sociais modificam-se,
incorporando novas temáticas, incluindo:
• as ambientais;
• a crise da representação da sociedade civil;
• as conseqüências da globalização;
• os problemas tecnológicos e financeiros;
• a cidadania;
• as desigualdades sociais;
• o aumento do desemprego.
O sentido da globalização
Da sociedade nacional à global
O paradigma clássico fundado na reflexão sobre a
sociedade nacional passa a conviver com o conceito
de sociedade global.
A globalização pode ser definida como a “[...]
intensificação das relações sociais em escala mundial
que ligam localidades distantes de tal maneira que o
que acontece a nível local é modelado por eventos
ocorrendo a muita distancia e vice-versa”. (GIDDENS,
1991, p. 69).
A sociedade global
Alteram-se as condições históricas e teóricas, as
possibilidades e os significados do espaço e do tempo.
Esse contexto reabre questões epistemológicas
fundamentais e são elaboradas metáforas e conceitos
como:
• espaço-tempo;
• sincronia-diacronia;
• micro-macro;
• singular-universal;
• multinacional, mundial, planetário e global.
O capitalismo contemporâneo
“a) uma ordem econômica cuja natureza fortemente
competitiva e expansionista implica constante e
difusa inovação tecnológica;
b) uma economia razoavelmente distinta, ou insulada
das outras arenas sociais, em particular das
instituições políticas;
c) um insulamento do Estado e da economia, fundado
sobre a propriedade privada; e
d) condicionamento da autonomia do Estado pela sua
dependência da acumulação do capital, sobre a
qual seu controle esta longe de ser completo".
(GIDDENS, 1991, p. 62).
Separação tempo-espaço
Separação tempo-espaço: refere-se às complexas
relações entre envolvimentos locais (circunstâncias de co-
presença) e interação através de distâncias.
A separação tempo-espaço é a condição principal do
processo de desencaixe: ambos estão envolvidos e
condicionados nas e pelas dimensões institucionais da
modernidade.
Na era moderna, o nível de distanciamento tempo-espaço
é muito maior do que em qualquer período precedente, e
as relações entre formas sociais e eventos locais e
distantes se tornam correspondentemente alongadas.
Mecanismos de desencaixe
Mecanismos de desencaixe dos sistemas sociais:
eles retiram a atividade social de contextos localizados
e reorganizam as relações sociais por meio de grandes
distâncias tempo-espaciais.
Por desencaixe, Giddens designa o “[...] deslocamento
das relações sociais de contextos locais de interação e
sua reestruturação através de extensões indefinidas de
tempo-espaço”. (1991, p. 19).
Dois tipos de mecanismos de desencaixe envolvidos
no desenvolvimento das instituições sociais
contemporâneas: a criação de fichas simbólicas e o
estabelecimento de sistemas peritos.
Por fichas simbólicas, Giddens (1991, p. 30) designa
“[...] meios de intercâmbio que podem ser ‘circulados’
sem ter em vista as características específicas dos
indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer
conjuntura particular. Vários tipos de fichas simbólicas
podem ser distinguidos, tais como os meios de
legitimação política”.
Mecanismos de desencaixe
Por sistemas peritos, o autor se refere a:
“[...] sistemas de excelência técnica ou competência
profissional que organizam grandes áreas dos ambientes
material e social em que vivemos hoje”. (GIDDENS, p.
35).
“Os sistemas peritos são mecanismos de desencaixe
porque, em comum com as fichas simbólicas, eles
removem as relações sociais das imediações de
contexto. Ambos os tipos de mecanismo de desencaixe
pressupõem, embora também promovam, a separação
entre tempo-espaço como condição do distanciamento
tempo-espaço que eles realizam”. (GIDDENS, p. 36).
Sistemas peritos
Reflexividade do conhecimento
Apropriação reflexiva do conhecimento: a
produção de conhecimento sistemático sobre a
vida social torna-se integrante da reprodução
do sistema, deslocando a vida social da fixidez
da tradição.
“A reflexividade é introduzida na própria base da
reprodução do sistema, de forma que o pensamento e
a ação estão constantemente refratados entre si [...] A
reflexividade da vida social moderna consiste no fato
de que as práticas sociais são constantemente
examinadas e reformadas à luz de informação
renovada sobre as próprias práticas, alterando assim
constitutivamente seu caráter”. (GIDDENS, 1991, p.
45).
Reflexividade do conhecimento
Uma síntese
Para Giddens, em suma, o dinamismo da vida
contemporânea deriva:
• da separação do tempo-espaço e de sua
recombinação em formas que permitem o
zoneamento tempo-espacial preciso da vida social;
• do desencaixe dos sistemas sociais (um fenômeno
intimamente vinculado aos fatores envolvidos na
separação tempo-espaço); e
• da ordenação e reordenação reflexiva das relações
sociais à luz das contínuas entradas de
conhecimento, afetando as ações de indivíduos e
grupos.

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  • 1. SPO 9102 – Sociologia Professor: Jacques Mick
  • 2. Apresentação da estratégia didática e da motivação para os estudos de Sociologia
  • 3. Estratégia didática e orientações para estudo • Diálogo entre as observações do livro didático e as ideias de Anthony Giddens (“Sociologia”). • Comece a estudar cada Unidade pela leitura complementar: os capítulos do livro de Giddens, nas Unidades 1, 2 e 4. • Somente depois disso, leia o livro didático. • As atividades de aprendizagem vão explorar a complementação entre o que o livro didático diz e o que Giddens escreve.
  • 4. Conteúdos das videoaulas:  Videoaula 2 – Introdução à obra de Karl Marx.  Videoaula 3 – Introdução à obra de Émile Durkheim.  Videoaula 4 – Introdução à obra de Max Weber.  Videoaula 5 – Sociologia e problemas contemporâneos.  Videoaula 1: Sociologia e modernização.
  • 5. O surgimento da Sociologia  A Sociologia surge no final do século 19.  Objetivo: propor respostas a um conjunto de transformações que configuraram a sociedade moderna, de base industrial e capitalista, sobretudo a partir do século 18.  Novas formas de produção e de estruturação das relações sociais.  Novas formas institucionais e políticas.  Novos valores e identidades.  Resultados de embates entre grupos favoráveis e contrários às mudanças.
  • 6. O surgimento da Sociologia  Há relação íntima entre a explicação sobre a origem do capitalismo ou a natureza da sociedade moderna e industrial e o fortalecimento da Sociologia.  As ideias sobre a sociedade não podem ser desvinculadas das próprias condições sociais da época e dos desafios postos a quem se propõe a refletir sobre ela.  Três matrizes de pensamento: Karl Marx (1818–1883), Émile Durkheim (1858–1917), Max Weber (1864–1920).
  • 7. Finalidades do conhecimento sociológico  Transformar a realidade (Marx).  Realizar diagnósticos precisos dos problemas para resguardar o equilíbrio e a ordem social (Durkheim).  Compreender a realidade com mais acuidade e objetividade para, sem tomar partido, disponibilizar conhecimento para a tomada de decisões políticas (Weber).
  • 8. A imaginação sociológica  Aprender a pensar sociologicamente significa cultivar a imaginação.  A “imaginação sociológica” é “[...] uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos”. (MILLS, 1965, p. 11).
  • 9. A imaginação sociológica  O indivíduo só pode compreender sua experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período.  Só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias em que ele.
  • 10. A imaginação sociológica  O indivíduo “[...] contribui, por menos que seja, para o condicionamento dessa sociedade e para o curso de sua história, ao mesmo tempo em que é condicionado pela sociedade e pelo seu processo histórico. A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa é a sua tarefa e a sua promessa”. (MILLS, 1965, p. 12).
  • 11. A imaginação sociológica  A imaginação sociológica é uma forma da autoconsciência de ser um estrangeiro permanente na sua sociedade.  “As decisões anteriores, que pareciam sólidas, passam a ser, então, como produtos de uma mente inexplicavelmente fechada. Sua capacidade de surpresa volta a existir. Adquirem uma nova forma de pensar, experimentam uma transavaliação de valores: numa palavra, pela sua reflexão e pela sua sensibilidade, compreendem o sentido cultural das Ciências Sociais”. (MILLS, 1965, p. 14).
  • 13. • Da divisão do trabalho social (1893). • As regras do método sociológico (1895). • O suicídio (1897). • As formas elementares da vida religiosa (1912). • Educação e sociologia (1922). • Sociologia e filosofia (1924). • Lições de sociologia (1950). Principais obras
  • 14. O conceito de fatos sociais “É fato social toda maneira de agir, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente das suas manifestações individuais”. (DURKHEIM, 2003, p. 13). “Eles não poderiam [os fatos sociais] se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em representações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, os quais só tem existência na consciência individual e através dela”. (DURKHEIM, 2003, p. 4).
  • 15. O conceito de fatos sociais: “Não estou obrigado a falar a mesma língua que meus compatriotas, nem a empregar as mesmas moedas legais; mas é impossível agir de outra forma. Minha tentativa fracassaria lamentavelmente, se procurasse escapar desta necessidade. Se sou um industrial nada me impede de utilizar processos e técnicas do século passado; mas, se o fizer, terei a ruína como um resultado inevitável”. (DURKHEIM, 1981, p. 47). • Os indivíduos, ao nascerem, já encontravam a sociedade pronta e constituída, restando a eles adaptarem-se.
  • 16. Os fatos sociais 1) Coerção social: a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem. • Sanções que o individuo está sujeito quando contra eles tenta se rebelar. As sanções podem ser legais (leis) ou espontâneas. • Importância do processo educativo (conformação dos indivíduos à sociedade).
  • 17. Os fatos sociais 2) Exterioridade: eles existem e atuam independentemente de sua vontade ou adesão consciente dos indivíduos. Há uma separação entre coisas e ideias. As coisas são exteriores e não estão sujeitas à nossa vontade ou às nossas ideias. Diferencia consciência individual e consciência coletiva.
  • 18. Os fatos sociais 3) Generalidade: é social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou na maioria deles. Fatos individuais ou que acontecem esporadicamente não seriam objeto de estudo da Sociologia, mas da Psicologia. Quando os indivíduos pensam e agem em torno de ideias ou representações coletivas, eles o fazem não como indivíduos isolados mas como membros de um todo cultural mais amplo.
  • 19. Heranças do positivismo • A objetividade do fato social é obtida com a neutralidade do pesquisador em relação aos fatos sociais. É preciso que o cientista deixe de lado suas prenoções, isto é, seus sentimentos e valores pessoais. Os fenômenos morais como as leis e a religião poderiam ser objetos de uma Ciência Social se forem examinados corretamente (isto é, cientificamente).
  • 20. Heranças do positivismo • Método das ciências naturais: o sociólogo deveria encarar os fatos sociais como “coisas”, isto é, objetos que, sendo exteriores, devem ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensem ou declarem a seu respeito. • Distingue categorias do senso comum/conceitos científicos.
  • 21. Tipos de organização Durkheim argumentou que o advento da era industrial significava o surgimento de um novo tipo de solidariedade: a solidariedade orgânica, no lugar da solidariedade mecânica. A solidariedade mecânica é caracterizada por uma organização constituída por um sistema de coesão social mais simples e rudimentar, enquanto na solidariedade orgânica ocorre a divisão diferenciada do trabalho, formada por sistema de segmentos diferentes, no qual cada um tem um papel a desempenhar.
  • 22. A solidariedade orgânica Na solidariedade orgânica, os indivíduos são agrupados não mais pelas relações de descendência, mas segundo à natureza particular da atividade social em que estão envolvidos. Não é mais a consanguinidade que marca o lugar de cada um, mas a função que preenche; o aumento da especialização é um critério para o desenvolvimento da personalidade individual e progresso social. O valor moral da divisão do trabalho está em que é por meio dela que o indivíduo toma consciência do seu estado de dependência com relação à sociedade.
  • 24. Da juventude (1841–1847): • Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel (1843). • A Sagrada Família (1844). • A Ideologia Alemã (1845). • A Miséria da Filosofia (1847). • Manifesto Comunista (1848). Principais obras
  • 25. Da vida adulta: • Contribuição à Critica da Economia Política (1859). • O Capital (1867). Principais obras
  • 26. Influências sobre Marx • A filosofia de Hegel, de quem absorveu e reformulou o método dialético. • O pensamento socialista francês do século XIX, de Claude Henri Saint-Simon, Charles Fourier e Pierre J. Proudhon. • Os economistas clássicos ingleses, em especial Adam Smith e David Ricardo, os quais foram criticados por Marx.
  • 27. Conceitos principais Alienação, capitalismo, classes sociais, trabalho, valor, modo de produção, relações de produção, força de trabalho, mais-valia, materialismo histórico e dialético.
  • 28. A emergência do capitalismo O capitalismo surge na história quando, por circunstâncias diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos indivíduos, interessados sempre em obter mais lucros [...] Na produção artesanal da Idade Média até o Renascimento, o trabalhador mantinha em sua casa os instrumentos de produção. Aos poucos, estes passaram às mãos de indivíduos enriquecidos, que organizaram oficinas.
  • 29. A emergência do capitalismo A Revolução Industrial introduziu inovações técnicas na produção que aceleraram o processo de separação entre trabalhador e instrumentos: as máquinas, mais caras, ficaram acessíveis somente aos mais ricos. Os artesãos isolados não podiam competir com o dinamismo das nascentes indústrias. Com isso, multiplicou-se o número de operários, isto é, trabalhadores “livres” expropriados.
  • 30. Produção estrutura a sociedade • A estrutura de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a produção social de bens. • A produção social, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção. • As forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. Os objetos e instrumentos de trabalho variam conforme as necessidades e finalidades sociais a que se destinam, conforme as sociedades e as épocas. • As relações de produção são as formas como os homens se organizam para executar a atividade produtiva.
  • 31. O estudo do modo de produção • As relações de produção são consideradas as mais importantes relações sociais. • Para Marx, as formas de família, as leis, a religião, as ideias políticas, os valores sociais são aspectos cuja explicação, depende, em princípio, do estudo do modo de produção.
  • 32. Alienação • Separação do trabalhador dos meios de produção. • Perda do controle sobre o produto de seu trabalho. • Na esfera política, Marx demonstrou que, na sociedade burguesa, o Estado representa a classe dominante e age conforme os interesses desta.
  • 33. Videoaula 4 Max Weber (1864–1920)
  • 34. Principais obras • A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904). • Economia e sociedade (1922, obra póstuma). • Sobre a teoria das ciências sociais (a partir de conferência proferida em 1919). • Ciência e Política: duas vocações (a partir de conferência proferida em 1919).
  • 35. Contexto de sua produção • França e Inglaterra tinham como pensamento dominante o positivismo. • O pensamento que prevaleceu, na Alemanha, foi o idealismo de Kant e Hegel, que influenciou Georg Simmel, Werner Sombart e Max Weber. • A filosofia kantiana e a hegeliana preocupavam-se menos com o objeto do conhecimento e mais com a maneira como a razão podia decifrá-lo. Para a filosofia alemã, o conhecimento é o produto da relação da razão como objetos do mundo.
  • 36. Contexto de sua produção • Nova concepção de objetividade: os acontecimentos não são apenas vividos, mas também pensados e, consequentemente, a ciência não pode apreendê-los apenas pela sua exterioridade, mas também pela maneira como são interiorizados. • Weber questiona tanto a concepção materialista da história quanto o determinismo metodológico. • Seus trabalhos abriram as portas para as particularidades históricas da sociedade e para a descoberta do papel da subjetividade na ação e na pesquisa social.
  • 37. Weber e a sociedade • Weber critica a crença segundo a qual o alvo das ciências da cultura poderia ser a elaboração de um sistema fechado de conceitos, assim como a visão segundo a qual o objetivo do trabalho científico deveria consistir na redução da realidade empírica a leis. • Deu importância à pesquisa histórica e ao caráter particular e específico de cada formação social. Para a explicação causal de um fenômeno cultural, o conhecimento das leis da causalidade se constituiria como um “meio” de estudo e não como um “fim”.
  • 38. Weber e a sociedade • O conceito e as leis sociais não são espelhos da realidade (conceito ≠ realidade). • Método compreensivo: compreender/interpretar o sentido que as ações de um indivíduo revelam e não apenas o aspecto exterior dessas ações.
  • 39. Conceitos centrais Ação social, sentido, compreensão, agente individual, tipo ideal, relação social, legitimação e dominação.
  • 40. Uma ação com sentido • Para Weber, a ordem social não difere nem se opõe aos indivíduos como força exterior a eles, tal como pensava Durkheim. Normas sociais se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. • É o indivíduo que, através dos valores sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social.
  • 41. Tipos de ações sociais • Ação racional com relação a um objetivo. • Ação racional com relação a um valor. • Ação afetiva ou emocional. • Ação tradicional.
  • 42. Dominação Definição: “Possibilidade de impor ao comportamento de terceiros a vontade própria”. (WEBER, v. 2, 1999, p. 188).
  • 43. Tipos de dominação: Para Weber, todas as áreas da ação social são influenciadas por complexos de dominação, não baseados puramente em interesses econômicos. De qualquer forma, “[...] o modo como os meios econômicos são empregados para conservar a dominação influencia, decisivamente, o caráter da estrutura de dominação”. (WEBER, v. 2, 1999, p. 188) Os três tipos puros de dominação, segundo Weber (1999): dominação legal, dominação tradicional e dominação carismática.
  • 44. Dominação Legal → Racional (regras racionais) • Tipo mais puro = dominação burocrática. • Quadro administrativo composto de funcionários qualificados. • Não se obedece à pessoa, mas à regra instituída. • Condições de serviço = contrato conforme regras fixas. • Tipo de funcionário = com formação profissional, em virtude do dever objetivo do cargo. • Objetivo: proceder sem influência de motivos pessoais e sentimentais.
  • 45. Exemplos • Estrutura moderna do Estado. • Empresa capitalista privada. • Associação com fins utilitários (ou que disponha de um quadro administrativo hierarquicamente calculado).
  • 46. Dominação Tradicional → Autoritária • Tipo mais puro = dominação patriarcal. • Obedece à pessoa em virtude da fidelidade, tradição. • No quadro administrativo conta com dependentes pessoais (familiares ou funcionários domésticos) ou por pessoas ligadas por um vínculo de fidelidade. • Não há seleção profissional para o funcionário. • Relações reguladas pela tradição, pelo privilégio, pelas relações de fidelidade feudal ou patrimonial, pela boa vontade.
  • 47. Dominação Carismática → Pessoal • Tipos mais puros: profeta, herói, guerreiro, demagogo. • Devoção à pessoa do senhor e aos seus dotes sobrenaturais (carisma). • Tipo que manda = líder. • Tipo que obedece = apóstolo. • Quadro administrativo escolhido segundo carisma e vocação pessoal, não devido à qualificação profissional.
  • 49. Dois objetivos 1. Identificar e refletir sobre algumas dimensões significativas da vida social através das quais se manifestam as grandes transformações do capitalismo contemporâneo. 2. Problematizar o tema da globalização, identificando perspectivas opostas para compreender este fenômeno contemporâneo.
  • 50. Fragilização do Estado-Nação Transformações sociais, políticas, econômicas, culturais provocadas por:  duas guerras mundiais,  expansão e consolidação da hegemonia do capital financeiro sobre a atividade econômica;  constituição de um mercado mundial;  emergência e desmoronamento do socialismo e do neoliberalismo;  crise ecológica e  aumento da pobreza => Enfraquecimento do Estado-Nação.
  • 51. O sentido da globalização Processos, estruturas econômicas, políticas, históricas, culturais e sociais que se desenvolvem em escala mundial adquirem preeminência sobre relações, processos e estruturas que se desenvolvem em escala nacional.
  • 52. As agendas das ciências sociais modificam-se, incorporando novas temáticas, incluindo: • as ambientais; • a crise da representação da sociedade civil; • as conseqüências da globalização; • os problemas tecnológicos e financeiros; • a cidadania; • as desigualdades sociais; • o aumento do desemprego. O sentido da globalização
  • 53. Da sociedade nacional à global O paradigma clássico fundado na reflexão sobre a sociedade nacional passa a conviver com o conceito de sociedade global. A globalização pode ser definida como a “[...] intensificação das relações sociais em escala mundial que ligam localidades distantes de tal maneira que o que acontece a nível local é modelado por eventos ocorrendo a muita distancia e vice-versa”. (GIDDENS, 1991, p. 69).
  • 54. A sociedade global Alteram-se as condições históricas e teóricas, as possibilidades e os significados do espaço e do tempo. Esse contexto reabre questões epistemológicas fundamentais e são elaboradas metáforas e conceitos como: • espaço-tempo; • sincronia-diacronia; • micro-macro; • singular-universal; • multinacional, mundial, planetário e global.
  • 55. O capitalismo contemporâneo “a) uma ordem econômica cuja natureza fortemente competitiva e expansionista implica constante e difusa inovação tecnológica; b) uma economia razoavelmente distinta, ou insulada das outras arenas sociais, em particular das instituições políticas; c) um insulamento do Estado e da economia, fundado sobre a propriedade privada; e d) condicionamento da autonomia do Estado pela sua dependência da acumulação do capital, sobre a qual seu controle esta longe de ser completo". (GIDDENS, 1991, p. 62).
  • 56. Separação tempo-espaço Separação tempo-espaço: refere-se às complexas relações entre envolvimentos locais (circunstâncias de co- presença) e interação através de distâncias. A separação tempo-espaço é a condição principal do processo de desencaixe: ambos estão envolvidos e condicionados nas e pelas dimensões institucionais da modernidade. Na era moderna, o nível de distanciamento tempo-espaço é muito maior do que em qualquer período precedente, e as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente alongadas.
  • 57. Mecanismos de desencaixe Mecanismos de desencaixe dos sistemas sociais: eles retiram a atividade social de contextos localizados e reorganizam as relações sociais por meio de grandes distâncias tempo-espaciais. Por desencaixe, Giddens designa o “[...] deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço”. (1991, p. 19).
  • 58. Dois tipos de mecanismos de desencaixe envolvidos no desenvolvimento das instituições sociais contemporâneas: a criação de fichas simbólicas e o estabelecimento de sistemas peritos. Por fichas simbólicas, Giddens (1991, p. 30) designa “[...] meios de intercâmbio que podem ser ‘circulados’ sem ter em vista as características específicas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular. Vários tipos de fichas simbólicas podem ser distinguidos, tais como os meios de legitimação política”. Mecanismos de desencaixe
  • 59. Por sistemas peritos, o autor se refere a: “[...] sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje”. (GIDDENS, p. 35). “Os sistemas peritos são mecanismos de desencaixe porque, em comum com as fichas simbólicas, eles removem as relações sociais das imediações de contexto. Ambos os tipos de mecanismo de desencaixe pressupõem, embora também promovam, a separação entre tempo-espaço como condição do distanciamento tempo-espaço que eles realizam”. (GIDDENS, p. 36). Sistemas peritos
  • 60. Reflexividade do conhecimento Apropriação reflexiva do conhecimento: a produção de conhecimento sistemático sobre a vida social torna-se integrante da reprodução do sistema, deslocando a vida social da fixidez da tradição.
  • 61. “A reflexividade é introduzida na própria base da reprodução do sistema, de forma que o pensamento e a ação estão constantemente refratados entre si [...] A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre as próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter”. (GIDDENS, 1991, p. 45). Reflexividade do conhecimento
  • 62. Uma síntese Para Giddens, em suma, o dinamismo da vida contemporânea deriva: • da separação do tempo-espaço e de sua recombinação em formas que permitem o zoneamento tempo-espacial preciso da vida social; • do desencaixe dos sistemas sociais (um fenômeno intimamente vinculado aos fatores envolvidos na separação tempo-espaço); e • da ordenação e reordenação reflexiva das relações sociais à luz das contínuas entradas de conhecimento, afetando as ações de indivíduos e grupos.