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'Etnografia JAfyarvía - O CaímBo de ZamBujeíro
Etnografia Algarvia - O Caimbo de Zambuieiro
José Carlos Vilhena Mesquita
Numa altura em que se assiste à modernização tecnológica da
nossa agricultura, há certos aspetos da nossa ancestral atividade
rural, e da sua consequente transformação em economia agrária,
que convém agora não olvidar. Dentre os aspetos que marcaram a
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lavoura, assume particular ^
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dos saberes e das práticas, dos
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OrgUlhOSa Odisseia do POVO Figueira algarvia, tradicional árvore de fruto da região
lusíada. A etnografia, agora designada por Antropologia Cultural, é
no fundo o estudo do povo na sua interação com o meio ambiente.
Daí que existam (ainda hoje) claras diferenças entre a cultura rural
e a cultura marítima, ou seja, entre as comunidades agrárias e as
piscatórias. Sendo que de premeio estejam as comunidades da
montanha, a quem ninguém liga importância por parecerem
semelhantes às rurais, isto é, dependem e desenvolvem atividades
ligadas à economia agrícola. Mas isso são questões que não
interessa agora revolver, até porque são bastante controversas.
Tudo isto para dizer, tão simplesmente, que a etnografia algarvia
é das mais ricas e diversificadas do país, porque envolve, numa
simbiose ímpar e incomparável, os três tipos^ de comunidades e os
montanhoso. Em todos esses
diferentes ambientes
1 *** emergiram e proliferaram
5 r ^ atividades muito peculiares.
' Não vou aqui nem agora
k ■/.v . - v ‘ ^ discorrer sobre tão vasta
^ temática. Isso levar-me-ia
: X muito mais longe do que oManuel Viegas Guerreiro, excursão de alunos ao Montemuro ^ 1
Página 1
Etnografia JAlgarvía - O Caímfio de Zamfrujeíro
espaço e a paciência de que agora disponho. Além disso pouco
mais poderia acrescentar àquilo que já se conhece pela mão dos
mestres da etnografia portuguesa, refiro-me a Consigleri Pedroso,
Adolfo Coelho, Teófilo Braga e Leite de Vasconcellos, sem
esquecer o meu saudoso amigo Manuel Viegas Guerreiro, que foi o
maior investigador da etnografia algarvia e o grande impulsionador
da Antropologia Cultural nas universidades portuguesas.
Hoje fico-me por um simples traço
da etnografia rural algarvia: o
Caimbo, que mais não é do que a
designação que no Algarve se
atribui à vara com que se procede
à varejadura do figo. Como hoje já
não se vareja o figo, e
inclusivamente já poucos
agricultores o colhem porque as
indústrias de outrora já não
existem, ocorreu-me lembrar este
simples artefacto a que os homens
do campo davam grande
importância, porque deveria ser
moldado num ramo de zambujeiro,
que alguns também designam por Leite de Vasconcelos, jovem, em trabalho de campo
oliveira-da-rocha, e que mais não é do que uma oliveira brava. O
termo zambujeiro foi importado da ilha da Madeira, por ser de lá que
vieram estas oliveiras bravas, cujo fruto costumavam misturar com
as azeitonas brancas para dar uma tonalidade mais esverdeada e
um sabor mais frutado ao azeite.
Saber colher um bom ramo de
zambujeiro, e dele moldar uma vara
longa e maleável, para com ela
bramir uma leve chicotada no pé do
figo, não era tarefa fácil nem ao
alcance de qualquer um, pois que
exigia conhecimento, treino e
destreza, quer no amanho da vara
quer no exercício da colheita do fruto.
Creio que, infelizmente, nenhum
desses rudimentares artefactos da
ancestral ruralidade algarvia
subsistirá ainda hoje, quiçá
esquecidos em qualquer adega ou
Oliveira do Algarve, implantada pelos árabes C3S3 d e arrUIDOS nUITia a ld e ia p e rd id a
Página 2
Etnografia SMgarvía - O Caímfio de ZamBujeíro
no barrocal do Algarve. Também não existem quaisquer exemplares
no Museu Etnográfico Regional do Algarve, sediado em Faro, que
me permitam trazer para aqui uma imagem fidedigna do seu valor
artístico e da sua importância na economia rural algarvia.
Resta-me acrescentar que o termo Caimbo empregava-se
também na Ilha do Corvo, nos Açores, para designar uma espécie
de marca de propriedade que se infligia no gado, a qual consistia
numa incisão transversal no bordo da orelha dos bovinos. Creio que
essa prática já hoje não se usa, e nem tão pouco se justifica.
Curiosamente o termo morreu pelo efeito da sua inaplicabilidade,
isto é, deixou de ser compatível com a realidade económica, social
e cultural que hoje vivemos. Por isso é que o trouxe hoje à ribalta da
memória, e por isso é que faz parte do património etnográfico
algarvio e açoriano.
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Etnografia Algarvia, o caimbo de Zambujeiro

  • 1. 'Etnografia JAfyarvía - O CaímBo de ZamBujeíro Etnografia Algarvia - O Caimbo de Zambuieiro José Carlos Vilhena Mesquita Numa altura em que se assiste à modernização tecnológica da nossa agricultura, há certos aspetos da nossa ancestral atividade rural, e da sua consequente transformação em economia agrária, que convém agora não olvidar. Dentre os aspetos que marcaram a vida nos campos e a nossa jm W JBLH lavoura, assume particular ^ relevância a etnografia, ou seja, , ^ 0 estudo dos comportamentos, J À dos saberes e das práticas, dos ritos e das técnicas, que o ^ nosso povo usou, empregou e / criou para garantir a sua sobrevivência, ao longo dos vários séculos que compõem a OrgUlhOSa Odisseia do POVO Figueira algarvia, tradicional árvore de fruto da região lusíada. A etnografia, agora designada por Antropologia Cultural, é no fundo o estudo do povo na sua interação com o meio ambiente. Daí que existam (ainda hoje) claras diferenças entre a cultura rural e a cultura marítima, ou seja, entre as comunidades agrárias e as piscatórias. Sendo que de premeio estejam as comunidades da montanha, a quem ninguém liga importância por parecerem semelhantes às rurais, isto é, dependem e desenvolvem atividades ligadas à economia agrícola. Mas isso são questões que não interessa agora revolver, até porque são bastante controversas. Tudo isto para dizer, tão simplesmente, que a etnografia algarvia é das mais ricas e diversificadas do país, porque envolve, numa simbiose ímpar e incomparável, os três tipos^ de comunidades e os montanhoso. Em todos esses diferentes ambientes 1 *** emergiram e proliferaram 5 r ^ atividades muito peculiares. ' Não vou aqui nem agora k ■/.v . - v ‘ ^ discorrer sobre tão vasta ^ temática. Isso levar-me-ia : X muito mais longe do que oManuel Viegas Guerreiro, excursão de alunos ao Montemuro ^ 1 Página 1
  • 2. Etnografia JAlgarvía - O Caímfio de Zamfrujeíro espaço e a paciência de que agora disponho. Além disso pouco mais poderia acrescentar àquilo que já se conhece pela mão dos mestres da etnografia portuguesa, refiro-me a Consigleri Pedroso, Adolfo Coelho, Teófilo Braga e Leite de Vasconcellos, sem esquecer o meu saudoso amigo Manuel Viegas Guerreiro, que foi o maior investigador da etnografia algarvia e o grande impulsionador da Antropologia Cultural nas universidades portuguesas. Hoje fico-me por um simples traço da etnografia rural algarvia: o Caimbo, que mais não é do que a designação que no Algarve se atribui à vara com que se procede à varejadura do figo. Como hoje já não se vareja o figo, e inclusivamente já poucos agricultores o colhem porque as indústrias de outrora já não existem, ocorreu-me lembrar este simples artefacto a que os homens do campo davam grande importância, porque deveria ser moldado num ramo de zambujeiro, que alguns também designam por Leite de Vasconcelos, jovem, em trabalho de campo oliveira-da-rocha, e que mais não é do que uma oliveira brava. O termo zambujeiro foi importado da ilha da Madeira, por ser de lá que vieram estas oliveiras bravas, cujo fruto costumavam misturar com as azeitonas brancas para dar uma tonalidade mais esverdeada e um sabor mais frutado ao azeite. Saber colher um bom ramo de zambujeiro, e dele moldar uma vara longa e maleável, para com ela bramir uma leve chicotada no pé do figo, não era tarefa fácil nem ao alcance de qualquer um, pois que exigia conhecimento, treino e destreza, quer no amanho da vara quer no exercício da colheita do fruto. Creio que, infelizmente, nenhum desses rudimentares artefactos da ancestral ruralidade algarvia subsistirá ainda hoje, quiçá esquecidos em qualquer adega ou Oliveira do Algarve, implantada pelos árabes C3S3 d e arrUIDOS nUITia a ld e ia p e rd id a Página 2
  • 3. Etnografia SMgarvía - O Caímfio de ZamBujeíro no barrocal do Algarve. Também não existem quaisquer exemplares no Museu Etnográfico Regional do Algarve, sediado em Faro, que me permitam trazer para aqui uma imagem fidedigna do seu valor artístico e da sua importância na economia rural algarvia. Resta-me acrescentar que o termo Caimbo empregava-se também na Ilha do Corvo, nos Açores, para designar uma espécie de marca de propriedade que se infligia no gado, a qual consistia numa incisão transversal no bordo da orelha dos bovinos. Creio que essa prática já hoje não se usa, e nem tão pouco se justifica. Curiosamente o termo morreu pelo efeito da sua inaplicabilidade, isto é, deixou de ser compatível com a realidade económica, social e cultural que hoje vivemos. Por isso é que o trouxe hoje à ribalta da memória, e por isso é que faz parte do património etnográfico algarvio e açoriano. Página 3