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Curso de Biologia
Prof. Gerardo Furtado
Aula 14
capacidade de um organismo sobreviver e se
manter em equilíbrio depende de sua habilidade em
responder a variações do ambiente interno e externo.
Variações dentro do organismo ou oriundas do meio
externo, que possam ser detectadas, são chamadas de
estímulos. Nos animais menos complexos as respostas aos
estímulos são limitadas e mais simples. Nos animais mais
complexos são mais elaboradas, devido à complexidade do
sistema nervoso (e endócrino) que controlam estas
respostas, captando-as, analisando-as e estabelecendo as
melhores ações possíveis para as dadas condições.
TECIDO NERVOSO
A célula chave no sistema nervoso é o neurônio ou
célula nervosa, especializada em enviar e receber
informações. O neurônio atua através da produção e
transmissão de sinais eletroquímicos, chamados impulsos
nervosos. Outros tipos de células, únicas no sistema
nervoso são as células gliais, que protegem e dão suporte ao
neurônio.
O Neurônio
O neurônio é formado por um corpo celular, que
contém o núcleo e outras organelas, o qual apresenta dois
tipos característicos de projeções: os axônios e os dendritos.
Dentritos são processos celulares, tipicamente
curtos, altamente ramificados, especializados em recebere m
informações e enviarem estímulos para o corpo celular.
Este integra os sinais recebidos, podendo receber impulsos
diretamente. Os impulsos nervosos são conduzidos do
corpo celular para outros neurônios, músculos ou glândulas
através de outro prolongamento, o axônio, que pode ter até
1 metro ou mais de comprimento. Na porção terminal, o
axônio ramifica-se formando o telodendro, que termina em
estruturas minúsculas chamadas botões sinápticos. Estas
estruturas liberam neurotransmissores, substâncias
químicas que transmitem sinais de um neurônio para outro.
Ao longo do percurso, umaxônio pode emitir ramificações.
Os axônios de muitos neurônios fora do Sistema
Nervoso Central (SNC) recebem dois tipos de cobertura:
uma camada celular externa ou neurilema e uma interna, a
bainha de mielina. Ambas são formadas pelas células de
Schwann, células gliais encontradas fora do SNC. A bainha
de mielina é formada pelo enrolamento da membrana
plasmática da célula de Schwann ao longo do axônio. A
mielina é uma substância branca, rica em lipídios, sendo
um isolante, o que influencia a transmissão dos impulsos
nervosos. Entre as células de Schwann sucessivas, ocorrem
estreitamentos, os nódulos de Ranvier, pontos nos quais os
axônios não estão isolados.
A
Tecido Nervoso e Drogas Psicotrópicas
2
O nervo é uma estrutura filamentosa formada de centenas e às vezes milhares de axônios mantidos juntos por tecido
conjuntivo. Os corpos celulares destes axônios são freqüentemente mantidos juntos em uma massa de corpos celulares
conhecidas como gânglios.
Transmissão do Impulso
Quando um neurônio recebe um estímulo, se este é forte o suficiente, ocorre a produção de um impulso nervoso. O
impulso nervoso corresponde a uma onda de despolarização que caminha rapidamente no axônio, geralmente dos dendritos até
os botões sinápticos.
No neurônio não estimulado ou em repouso, a superfície interna da membrana plasmática possui excesso de cargas
negativas quando comparada com o fluido tecidual adjacente, e a DDP é de –65mVolts em média. A membrana plasmática
esta assim polarizada. No neurônio em repouso, a diferença de potencial através da membrana plasmática é chamada de
potencial de membrana ou potencial de repouso.
A membrana plasmática alcança seu potencial de repouso pela atividade eficiente da bomba de sódio/potássio, ou
Na+
K+
ATPase, que transporta sódio e potássio para o exterior e o interior do neurônio. A proteína transportadora de Na+
e K+
é
na realidade uma enzima, ATPase, que hidrolisa a molécula de ATP, "liberando" a energia necessária para o transporte destes
íons através da membrana. Para cada ATP hidrolisado, três íons Na+
são bombeados fora da célula para cada dois íons K+
bombeados para dentro. Ambos os íons Na+
e K+
podem se difundir de volta através da membrana, através de canais protéicos,
a favor de seu gradiente de concentração. Todavia, pelos tipos de canais existentes e abertos, a membrana é mais permeável ao
K+
do que ao Na+
. Assim, grande amostra de K+
pode sair, e somente pequena amostra de Na+
volta para dentro. Como
resultado, mais cargas positivas são mantidas fora da membrana que dentro.
Proteínas negativamente carregadas e outras moléculas grandes contribuem para as cargas negativas relativas ao lado
interno da membrana plasmática, pois não se difunde para fora da célula. Num certo ponto, a carga positiva externa torna-se
tão alta que não é mais possível a saída de K+
. Neste ponto o neurônio alcançou seu potencial de repouso, cerca de -70
milivolts.
Despolarização Local Produzida Pelo Estímulo Excitatório
Qualquer estímulo (químico, elétrico ou mecânico) que faça o neurônio ficar mais permeável ao sódio ou potássio,
pode mudar o potencial de repouso (-70mV). Estas mudanças locais são chamadas potenciais locais.
Estímulos excitatórios abrem canais de sódio, formados por proteínas que estão embebidas na me mbrana, permitindo
a entrada do íon Na+
na célula. Esta passagem de Na+
para dentro da célula produz um potencial de membrana menos negativo
o que é conhecido como despolarização. Se a despolarização da membrana for de 15mV (o que significa uma alteração d o
potencial de repouso para -55mV), a despolarização será apenas local. Quando a despolarização ultrapassa -55mV, a
membrana alcança um ponto crítico chamado "nível de disparo", o que resulta uma onda de despolarização, que se espalha ao
longo do axônio. O gradiente eletroquímico estabelecido é chamado de impulso nervoso ou potencial de ação.
Quando o nível de disparo é alcançado, um potencial de ação explosivo ocorre; a membrana do neurônio rapidamente
alcança o potencial "zero" e sobe para +35mV. Ocorre u ma "inversão momentânea da polaridade", ou seja, o lado interno da
membrana torna-se positivo, comparado ao lado externo da membrana.
O potencial de ação pode ser assim resumido:
1) Um estímulo forte suficiente para causar uma mudança no potencial de repouso, produzindo o impulso nervoso.
2) O impulso nervoso move-se ao longo do axônio comvelocidade e amplitude constantes.
3) À medida que a onda de despolarização se desloca ao longo do axônio, o estado de polarização de repouso é rapidamente
restabelecido ou a membrana é repolarizada. Os canais de Na+
se fecham e não há mais entrada de Na+
na célula até a
repolarização da membrana - período refratário. Não é possível a transmissão seguida de outro potencial de ação porque os
canais de Na+
não podemser reabertos.
4) Simultaneamente ao fechamento dos canais de sódio ocorre a abertura dos canais de potássio, que saem. Há então uma
redução de íons positivos dentro da célula o que resulta emsua repolarização.
5) O potencial de repouso só será alcançado com o auxílio da bomba de sódio e potássio, que transporta ativamente o excesso
de sódio para fora do neurônio.
6) Esta transmissão ao longo dos axônios ocorre nos neurônios que não possuem bainha de mielina. Nos neurônios
mielinizados o potencial de ação ocorre ao nível dos nódulos de Ranvier, pontos em que a membrana plasmática faz contato
direto com o fluido intersticial. Assim, o potencial de ação "salta" de um nódulo de Ranvier para o seguinte - condução
saltatória - sendo umtipo de condução mais rápida e com menos gasto de energia.
Sinapses
Quando o potencial de ação chega ao fim do axônio, encontra fendas, as sinapses, separando um neurônio do outro ou
do efetor. O neurônio que transmite o impulso é chamado de neurônio pré-sináptico, enquanto o que recebe, de neurônio pós-
sináptico. Há dois tipos de sinapses: elétrica e química.
1 - Sinapse elétrica: o potencial de ação pode ser transmitido diretamente para outra célula, por meio de conexões célula-célula,
as "gap junctions". A transmissão do impulso nestas sinapses é muito rápida.
2 - Sinapse química: a fenda entre as duas células é de mais de 20nm e o impulso nervoso não consegue "saltar" a fenda para
chegar na outra célula. Assim, é necessário que compostos químicos, os neurotransmissores, conduzam a mensagem neural
3
através das sinapses. Após atravessar a fenda sináptica, os neurotransmissores ligam-se a receptores específicos na membrana
plasmática do neurônio pós-sináptico.
Neurotransmissores
Os neurotransmissores são constantemente sintetizados pelos neurônios, armazenados nas vesículas sinápticas. Com a
chegada do potencial de ação ao terminal sináptico, ocorre a abertura dos canais de cálcio, permitindo a entrada de íons Ca ++
no terminal. Os íons Ca++
induzem a "fusão" das vesículas de armazenamento com a membrana levando à liberação de
neurotransmissores para a fenda sináptica. Parte do neurotransmissor é recaptado pelo neurônio pós -sináptico, parte é inativado
por enzimas e parte se difunde pela fenda, ligando-se a receptores específicos. Alguns neurotransmissores podem elevar a
permeabilidade ao sódio na célula pós-sináptica, podendo produzir o potencial de ação, continuando a transmissão da
mensagem. Estes são os transmissores excitatórios. Outros transmissores podem levar a uma abertura nos canais de cloro, na
membrana pós-sináptica, tornando o citoplasma mais negativo que o fluido circulante. Isto é chamado de hiperpolarização e
nestas condições são poucas as possibilidades do surgimento de um potencial de ação e a sinapse é uma sinapse inibitória.
São exemplos de neurotransmissores a dopamina, serotonina, epinefrina, acetilcolina, GABA, endorfinas e uma série
de aminoácidos.
PSICOTRÓPICOS
Definição (Organização Mundial da Saúde - OMS, 1981): são aquelas que "agem no Sistema Nervoso Central (SNC)
produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto,
passíveis de auto-administração" (uso não terapeutico).
Psico vem de psique = alma; Trópico vemde tropismo = direção, ação de aproximar.
A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga (estimulante, depressora ou perturbadora), da via de
administração, da quantidade da droga, do tempo e da freqüência de uso, da qualidade da droga, da absorção e da eliminação
da droga pelo organismo, da associação com outras drogas, do contexto social bem como das condições psicológicas e físicas
do indivíduo.
Das várias classificações existentes dos psicotrópicos ou drogas psicotrópicas, adota-se aqui a (antiga) divisão em 3
grandes grupos: depressores (psicolépticos), estimulantes (psicoanalépticos) ou perturbadores (psicodislépticos) do SNC.
DEPRESSORES DO SNC
Os Depressores da Atividade do Sistema Nervoso Central (SNC), referem-se ao grupo de substâncias que diminuem a
atividade do cérebro, ou seja, deprimem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique "desligada", "devagar",
desinteressada pelas coisas. Este grupo de substâncias é também chamado de psicolépticos.
As substâncias que compõem o grupo de Depressores do SNC são:
I. Álcool
Aspectos históricos e culturais: A palavra álcool origina-se do árabe al-kuhul que significa líquido. As bebidas
alcóolicas representam as drogas mais antigas das quais se têm conhecimento, por seu simples processo de produção. Obtidas
pela fermentação de diversos vegetais, segundo procedimento no início primitivos e depois cada vez mais sofisticados, elas já
estavam presentes nas grandes culturas do Oriente Médio e são utilizadas em quase todos os grupos culturais, geralmente
relacionadas a momentos festivos. Os mais antigos documentos da civilização egípcia descrevem o uso do vinho e da cerveja.
A medicina egípcia, respeitada em toda a região mediterrânea, usava essências alcoólicas para uma série de moléstias,
enquanto meio embriagador contra dores e como abortivo. O vinho entre os egípcios era bebido em honra à deusa Isis. O
consumo de cerveja pelos jovens era comum; muitos contos, lendas e canções de amor relatam os seus poderes afrodisíacos. O
seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, já no Egito, moralistas populares se levantassem contra o seu abuso "por
desviar os jovens dos estudos". A embriaguez, no entanto, era tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas,
onde era considerada normal ou mesmo estimulada. Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferta aos deuses. Nas culturas da
Mesopotâmia, as bebidas alcoólicas existiram, com certeza, no final do segundo milênio a.C.; aos poucos, a cerveja à base de
cereais foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva também é regularmente mencionada. O uso
medicinal de produtos alcoólicos é comum. O consumo de álcool nas civilizações gregas e romanas é bem conhecido. Ele era
utilizado tanto pelo seu valor alimentício, quanto para festividades sociais. Ressaltamos apenas a associação entre o uso do
vinho e certas práticas e concepções religiosas representadas pela popular figura do Bacchus. Durante longos períodos, o
consumo de vinho era proibido para as mulheres, interdito do qual testemunham também os relatos bíblicos. Lembramos ainda
que o vinho é parte integrante de cerimônias católicas e protestantes, bem como no judaísmo, no candomblé e em outras
práticas espíritas. Nos anos 20, nos Estados Unidos, houve uma proposta de coibição legal do uso de bebidas alcoólicas
chamada Lei Seca. Porém, durou pouquíssimo tempo. O seu fracasso deu-se devido à pressões econômicas que fácil e
vitoriosamente se interpuseram, além de que o próprio consumidor encontrou uma forma sutil e prática para alimentar suas
necessidades.
O principal agente do álcool é o etanol (álcool etílico).
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As bebidas alcoólicas são elaboradas a partir da fermentação de produtos naturais: vinho (fermentação da uva);
cerveja (fermentação de grãos de cereais); outros (fermentação do mel, cana de açúcar, beterraba, mandioca, milho, pimenta,
arroz etc.).
Bebidas alcoólicas destiladas - como cachaça, rum, uísque ou gim - são obtidas através da destilação de bebidas
fermentadas.
Efeitos físicos e psíquicos
Inibidor da atividade cerebral
Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência
chegando-se ao coma alcoólico.
O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância.
Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por
confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões.
Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.
"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de
alucinações, principalmente táteis).
II. Inalantes/solventes
Inalante: toda a substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo através da aspiração pela boca ou
nariz. Solvente: substância normalmente apolar, orgânica, capaz de dissolver. Via de regra, todo o solvente é uma substância
altamente volátil, isto é, evapora-se muito facilmente podendo, por isso, ser inalado. Devido a essa característica, são, portanto,
chamados de inalantes. Muitos dos solventes ou inalantes são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente.
Aspectos históricos e culturais: Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos
EUA. No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970. Hoje, o consumo de solventes se dá muito em países do
chamado Terceiro Mundo, enquanto que em países desenvolvidos a freqüência de uso é muito baixa. Eles podem ser aspirados
voluntariamente (caso dos meninos de rua que cheiram cola de sapateiro) ou involuntariamente (trabalhadores de indústrias de
sapatos ou de oficinas de trabalho, expostos ao ar contaminado por essas substâncias). O clorofórmio e o éter chegarama servir
como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso foi praticamente abandonado. No Brasil, a moda voltou com os
lança-perfumes trazidos da Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque
surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências ao abuso do éter como
substituto do álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Por volta de
1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser aspirados para dar sensação de torpor, tontura e
euforia. O Quelene, anestésico local, formava par com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de Carnaval, quando a
disponibilidade do lança-perfumes era menor. Muitas pessoas morreram de parada cardíaca provocada por essa droga e, por
volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-perfumes e do Quelene. Contudo, começaram a surgir
referências ao retorno do uso de lança-perfumes, só que como umproduto à base de clorofórmio e éter.
Efeitos físicos e psíquicos
Após a aspiração, o início dos efeitos é bastante rápido. Entre 15-40 minutos já desapareceram. O efeito dos solventes
vai desde uma pequena estimulação, seguida de uma depressão, até o surgimento de processos alucinatórios. Os principais
efeitos são caracterizados por uma depressão da atividade do cérebro.
O aparecimento dos efeitos após a inalação foi dividido em 4 fases:
1a. fase: fase da excitação. A pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e
visuais. Podemaparecer náuseas, espirro, tosse, muita salivação e as faces podemficar avermelhadas.
2a. fase: a depressão começa a predominar. A pessoa entra em confusão, desorientação, fica com a voz pastosa, começa a ter
a visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e começa a ver e a ouvir coisas.
3a. fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora,
fala "enrolada", reflexos deprimidos, já podendo ocorrer processos alucinatórios.
4a. fase: aparece a depressão tardia, podendo chegar a inconsciência. Há queda de pressão, sonhos estranhos, podendo
ocorrer surtos de convulsão. Há possibilidade de se chegar ao coma e à morte.
Os solventes, inalados cronicamente, podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos
periféricos que controlam os nossos músculos. Não há, na literatura médica, afirmativas claras de que os solventes possam
levar à dependência. Também não se figura síndrome de abstinência. A tolerância pode ocorrer, instalando -se em um ou dois
meses.
Nomes comerciais:
Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais. Existem dois grupos principais:
Substâncias voláteis: éter, clorofórmio, gasolina, benzina, fluído de isqueiro, Carbex.
Substâncias usadas na indústria como solvente, diluente e adesivas: cola de sapateiro, tintas, vernizes, removedores,
limpa-manchas, esmaltes.
Estes produtos pertencem a um grupo químico chamado Hidrocarbonetos Aromáticos ou Afiláticos cujas substâncias
ativas são: Tolueno, N-hexano, Benzeno, Xilol, Acetato de Etila, Cloretila ou Cloreto de Etila etc.
Nomes populares: cheirinho da loló ou loló, lança-perfumes ou lança, cola.
III. Ansiolíticos
Aspectos históricos e culturais: Os ansiolíticos surgiramem 1950, como meprobamato, que praticamente desapareceu
após a descoberta do clorodiazepóxido, em 1959. A partir daí, seguiu-se uma série de derivados que se mostraram muito
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eficientes no controle da ansiedade, insônia e certos distúrbios epilépticos. O Diazepam foi o segundo a surgir, sendo o mais
destacado membro desse grupo de substâncias conhecido como benzodiazepinas. Assim, as principais drogas pertencentes à
classificação de ansiolíticos são os benzodiazepínicos. A benzodiazepina, sintetizada na década de 50, tem mais de 2.000
derivados. Existem 19 substâncias comercializadas no Brasil, com mais de 250 nomes comerciais. O meprobamato foi sendo
abandonado e as benzodiazepinas dominam completamente os tratamentos farmacológicos das neuroses e das formas de
ansiedade. Além da grande eficiência terapêutica, mostraram-se drogas muito seguras. Tem uso terapêutico como ansiolítico,
hipnótico e síndrome de dependência do álcool. O crescimento de seu consumo foi vertiginoso entre 1960 e 1980, e estima -se
que cerca de 10% da população adulta dos países desenvolvidos tomem benzodiazepínicos, regular ou esporadicamente. Estas
drogas têm sido prescritas indiscriminadamente. Hoje assistimos ao desenvolvimento de um novo padrão cultural, a "cultura
das benzodiazepinas", pelo qual as pessoas encaram com permissividade o uso de um "calmante". No Brasil ess a situação é
mais grave, pois esses medicamentos são vendidos emalgumas farmácias sem a exigência de receita médica.
Estas drogas estão sendo usadas acima do que se justificaria, do ponto de vista exclusivamente médico. Não poucos
autores temcomparado estas substâncias ao "Soma", descrito por Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo".
Efeitos físicos e psíquicos
Estimulam os mecanismos do cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade, inibindo os mecanismos
que estavam hiperfuncionantes, ficando a pessoa mais tranqüila, como que desligada do meio ambiente e dos estímulos
externos.
Produzem uma atividade do cérebro que se caracteriza por diminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular,
redução do estado de alerta.
Dificultam os processos de aprendizagem e memória.
Prejudicam, em parte, as funções psicomotoras afetando atividades como, por exemplo, dirigir automóveis.
Misturados comálcool, seus efeitos se potencializam, podendo levar a pessoa a estado de coma.
Em doses altas a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade para ficar de pé e andar, queda da pressão e
possibilidade de desmaios.
O seu uso por mulheres grávidas temum poder teratogênico, isto é, pode produzir lesões ou defeitos físicos na criança.
Quando usados por alguns meses, podem levar a pessoa a um estado de dependência. Ou seja, sem a droga a pessoa passa a
sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo, podendo, nos casos extremos, apresentar
convulsões.
Há figuração de síndrome de abstinência e também desenvolvimento de tolerância, embora esta última não seja muito
acentuada.
Nomes comerciais
Valium, Diempax, Kiatrium, Noan, Diazepam, Calmociteno (substância ativa - diazepam).
Psicosedim, Tensil, Relaxil (substância ativa - clorodiazepóxido).
Lorax, Mesmerin, Relax (substância ativa - lorazepam).
Deptran, Lexotan, Lexpiride (substância ativa - bromazapam).
Rohipnol, Fluzerin (substância ativa - flunitrazepam).
Nome popular: calmantes.
IV. Barbitúricos
Aspectos históricos e culturais: Os barbitúricos foram descobertos no começo do século XX. Em 1903, foi lançado no
mercado farmacêutico o Veronal, que se mostrava um promissor hipnótico que vinha substituir os medicamentos menos
eficientes até então existentes. O próprio nome comercial era uma alusão à cidade de Verona, sede da tragédia "Romeu e
Julieta", onde a jovem toma uma droga que induz um sono profundo confundido com a morte para, em seguida, despertar
suavemente. Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na
década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos. Nos primeiros
anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que
surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição. Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham
barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em
farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena, Veramon,
Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas.
O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia.
Efeitos físicos e psíquicos
São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro.
As pessoas podemficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, comuma sensação de calma e de relaxamento.
A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas.
Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcóolicas em
excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são
prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir auto móveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a
pressão sangüínea são afetados.
Efeitos tóxicos: Os barbitúricos são drogas perigosas pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da
que produz efeitos terapêuticos desejáveis. Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de
inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue
fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos
tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.
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Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão
desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas. A síndrome de abstinência
requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer.
Nomes comerciais
Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa,
exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia emcirurgia).
Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital).
Nomes populares: soníferos, bola, bolinha.
V. Opiáceos
Opiáceos ou drogas opiáceas são substâncias derivadas do ópio. Todas produzem uma analgesia (diminuem a dor) e
uma hipnose (aumentam o sono). Em função disso, recebem o nome de narcóticos sendo também chamadas de drogas
hipnoanalgésicas ou analgésicos narcóticos. São classificadas como substâncias entorpecentes podendo ser:
Opiáceos naturais:
derivados do ópio que não sofreramnenhuma modificação (ópio, pó de ópio, morfina, codeína)
Opiáceos semi-sintéticos:
resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (heroína)
Opiáceos sintéticos ou opióides:
totalmente sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação semelhante à dos opiáceos (zipeprol, metadona)
As substâncias que compõem o grupo de drogas opiáceas são:
Ópio
Aspectos históricos e culturais: O ópio ("suco", em grego) é obtido a partir de um líquido leitoso da cápsula verde da
papoula (Papaver somniferum), planta que cresce naturalmente na Ásia. É também chamada de "dormideira", sendo originária
do Mediterrâneo e Oriente Médio. Quando seco, o suco passa a se chamar pó de ópio. O ópio é apresentado em barras de cor
marrom e gosto amargo que podem ser reduzidas a pó. Quando aquecido, produz um vapor amarelo que é inalado. Pode ser
dissolvido na boca ou ingerido como chá. A papoula é legalmente cultivada, servindo de fonte de matéria -prima a laboratórios
farmacêuticos. Contudo, em sua maioria, as plantações são ilegais e destinam sua produção ao comércio clandestino de ópio e
heroína. Entre os gregos antigos, o ópio era revestido de um significado divino como símbolo mitológico poderoso. Os seus
efeitos eramconsiderados como uma dádiva dos deuses, destinada a acalmar os enfermos. Na China, desde tempos imemoriais,
a planta da papoula era símbolo nacional (tal como os ramos do café no Brasil). Parece que o ópio foi introduzido na China
pelos árabes no século IX ou X. As provas mais antigas do conhecimento do ópio remontam às plaquinhas de escrever dos
sumerianos, que viveram na baixa Mesopotâmia (hoje o Iraque) há cerca de 7.000 anos. O conhecimento de suas propriedades
medicinais chega depois à Pérsia e ao Egito, por intermédio dos babilônios. Os gregos e os árabes também empregavam o ópio
para fins médicos. O primeiro caso conhecido de cultivo da papoula na Índia data do século XI. No tempo do império Mongol
(século XVI), a produção e o consumo de ópio nesse país já eram fatos normais. O ópio era conhecido também na Europa na
Idade Média, e o famoso Paracelso o ministrava a seus pacientes. Quando utilizado por prazer, era ingerido como chá. O hábito
de fumar ópio conta umas poucas centenas de anos. Em muitas sociedades orientais tradicionais, recorre-se ao ópio contra
dores nas enfermidades do corpo mas, também, como tranqüilizante. É também instrumento de relaxamento e de sociabilidade.
No século XIX, a "British East India Company" produzia ópio na Índia e o vendia para a China. A insistência do governo
chinês em reprimir a venda e o uso da droga que se alastrava, levou a um conflito com a Inglaterra, conhecido como a "Guerra
do Ópio". Os ingleses obrigaram a China a liberar a importação da droga e como resultado, em 1900, metade da população
adulta masculina chinesa era descrita como dependente da droga.
Amplamente aceita como droga recreativa no Oriente, e comprado livremente na Inglaterra e Estados Unidos, até fins
do século XIX, o ópio provocou o surgimento de "casas de ópio" na maioria das cidades européias. Foi somente no início do
século XX que o seu consumo começou a ser proibido.
Efeitos físicos e psíquicos
As pessoas não iniciadas podemexperimentar náuseas, vômitos, ansiedade, tonturas e falta de ar.
O dependente entra diretamente numestado de torpor, sentindo os membros pesados e o raciocínio lento.
A dependência e tolerância se desenvolvem rapidamente e o dependente passa a sentir tudo, menos prazer.
Privado da droga, temtremores, suores, angústia, cólicas e cãibras - sintomas da síndrome de abstinência.
Nomes comerciais: Tintura de Ópio, Elixir Paregórico, Elixir de Dover (substância ativa - pó de ópio).
Uso terapêutico: anti-diarréico e analgésico.
Codeína e zipeprol
Aspectos históricos e culturais: A codeína, ou metilmorfina, é um alcalóide natural (opiáceo natural) que compõe o
ópio. O ziprepol é uma substância sintética (opióide), isto é, fabricada em laboratório. Indicadas para tosses irritativas e sem
expectoração (tosse seca), são chamadas de substâncias antitussígenas, estando presentes em xaropes e gotas para tosse como,
por exemplo: Belacodid, Gotas Binelli, Tussaveto etc. Os métodos usuais de administração são oral ou endovenoso. A duração
do efeito é de 3 a 6 horas. A codeína é umnarcótico de origem natural mais amplamente empregado na clínica médica. Mesmo
sendo menos potente que outros opiáceos, seu uso continuado induz a certa tolerância. O zipeprol, devido a sua grande
toxicidade, foi recentemente banido do Brasil (ou seja, está proibido fabricar ou vender remédios à base desta substância no
território nacional). No ano de 1991, foram retirados do comércio remédios como ziprepol como, por exemplo: Eritós, Nantux,
Silentós e Tussaveto. Isto ocorreu pelo fato de ter havido várias mortes de jovens que abusavam destas substâncias,
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principalmente crianças em situação de rua. Os xaropes e gotas à base de codeína só podem ser vendidos nas farmácias
brasileiras coma apresentação da receita do médico, que fica retida para posterior controle. Isto nemsempre acontece.
Efeitos físicos e psíquicos
A codeína, quando tomada em doses maiores do que a terapêutica, produz uma acentuada depressão das funções
cerebrais. Como conseqüência, a pessoa fica apática, a pressão do sangue cai muito, o coração funciona com grande lentidão e
a respiração torna-se muito fraca. A pele fica fria, pois a temperatura do corpo diminui, e meio azulada, por respiração
insuficiente. A pessoa pode ficar em estado de coma, inconsciente, e se não for tratada, pode morrer. A codeína leva
rapidamente o organismo a um estado de tolerância. Assim, não é incomum saber-se de casos de pessoas que tomam vários
vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentindo os mesmos efeitos. E, se deixam de tomar a droga, já estando
dependentes, aparecem os sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios, cãibras, cólicas, nariz escorrendo,
lacrimejamento, inquietação, irritabilidade e insônia são os sintomas mais comuns da abstinência.
Com o ziprepol há, também, o fenômeno da tolerância, embora em intensidade menor. O pior aspecto do uso crônico
(repetido), dos produtos à base de ziprepol, é a possibilidade da ocorrência de convulsões.
Nomes comerciais
Belacodid, Belpar, Benzotiol, Codelasa, Gotas Binelli, Naquinto, Pastilhas Veabon, Pastilhas Warton, Setux,
Tussaveto, Tussodina, Tylex (substância ativa: codeína).
Eritós, Nantux, Silentós, Tussiflex (substância ativa: zipeprol).
Uso terapêutico: antitussígeno e analgésico (codeína); antussígeno (zipeprol)
Morfina
Aspectos históricos e culturais: A morfina é a mais conhecida das várias substâncias existentes no pó de ópio. A
palavra morfina vem do deus da mitologia grega Morfeu, deus dos sonhos. Foi isolada em 1806, sendo uma das mais potentes
drogas analgésicas. Após a constatação das desastrosas conseqüências do seu largo emprego, a morfina foi relegada a umplano
secundário em medicina. Os mecanismos de fiscalização sobre a sua produção e comercialização são severos. Só está
disponível em soluções injetáveis e comprimidos, e seu uso é restrito a algumas situações médicas onde se impõe o uso de um
analgésico potente (como câncer, queimaduras extensas, grandes traumatismos).
Efeitos físicos e psíquicos
Os efeitos agudos da morfina são semelhantes aos do ópio, mas mais potentes.
Tolerância e dependência também se instalam rapidamente. O dependente de morfina vive em um estado de torpor e
insensibilidade.
A síndrome de abstinência é muito grave, acompanhada de intensa angústia, tremores, diarréia, suores e cãibras.
A hospitalização é sempre uma imposição nos tratamentos de desintoxicação. A droga nunca é retirada bruscamente,
havendo necessidade de se estabelecer um programa de retirada progressiva da droga ou sua substituição por derivados
sintéticos mais seguros.
Nome comercial: morfina, sulfato de morfina.
Heroína
Aspectos históricos e culturais: Obtida a partir da morfina, é muito mais potente do que ela. Conhecida como a "rainha
das drogas" por causa de seus efeitos, foi sintetizada em 1874, em Berlim. A palavra heroína vem do termo "heroich" que, em
alemão, significa potente, enérgico. De início, foi preconizada como substituta da morfina e chegou a fazer parte dos
medicamentos analgésicos, antitussígenos e hipnóticos. Hoje em dia, não temqualquer indicação médica. Na sua forma pura, é
um pó branco e amargo. Vendida clandestinamente, tem coloração que varia do branco ao marrom escuro, por causa das
impurezas deixadas pelos processos primitivos de obtenção ou pela presença de talco, açúcar, corantes químicos, leite em pó
etc. A via de administração preferida pelos usuários de heroína é a endovenosa. Pode ser também aspirada ou fumada. O
comércio ilegal da heroína representa um dos segmentos mais importantes e rentáveis do tráfico de drogas. A produção e a
distribuição estão sempre ligadas as grandes organizações clandestinas. O uso de heroína é raro no Brasil. Por outro lado, os
Estados Unidos vivem uma situação epidêmica, cujo início se localiza por volta da metade da década de 60, coincidindo como
envolvimento dos americanos na Guerra do Vietnã. Milhares de soldados adquiriram o hábito de tomar heroína junto às
populações do sudeste asiático. Foi grande a quantidade de jovens que retornou da guerra dependente.
A grande dificuldade em ajudar os dependentes de heroína levou vários países a criar os programas de "manutenção
pela metadona" - opióide sintetizado por químicos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, em resposta à escassez de
morfina. A metadona é utilizada no tratamento dos dependentes de heroína. Não desenvolve tolerância e o seu efeito pode
durar até quatro vezes mais que os efeitos de outros opiáceos.
Efeitos físicos e psíquicos
Os efeitos agudos são semelhantes aos obtidos com os outros opiáceos: torpor e tonturas misturados com um
sentimento de leveza e euforia.
As primeiras doses podemprovocar náuseas e vômitos.
Depois de instalada a dependência, há necessidade de ministrá-la mais vezes a fim de prevenir os desprazeres da
abstinência: cólicas, angústia, dores pelo corpo, letargia, apatia e medo. A tolerância instala-se rapidamente.
A repetição das doses nada mais faz a não ser aliviar estes sintomas.
ESTIMULANTES DO SNC
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Os Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que aumentam a
atividade do cérebro. Ou seja, estimulam o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique mais "ligada", "elétrica", sem
sono.
Este grupo de substâncias é tambémchamado de psicoanalépticos, nooanalépticos, timolépticos.
As substâncias que compõem o grupo de Estimulantes do SNC são:
I. Cafeína
Aspectos históricos e culturais: A forma pura da cafeína foi extraída das plantas em 1820, mas atualmente pode ser
produzida em laboratório. Em nosso dia-a-dia a encontramos em pequenas quantidades por meio do café, do chá preto, chá
mate, guaraná, coca-cola ou da noz de cola.
Café: Infusão feita das sementes do cafeeiro, o café é a bebida que contém cafeína mais consumida no mundo. O
cafeeiro é originário da Etiópia, tendo chegado à Arábia no século XIII e à Turquia no século XVI. Mas é somente com sua
chegada à Itália, no princípio do século XVII, que se dá sua grande expansão, pois começaram a surgir, desde então, casas de
café por toda Europa, servindo de local de encontro e discussões sérias. Na segunda metade do século XVII, o café chegou à
América. Antes de ser consumido da maneira que conhecemos, o café, há cerca de 700 anos, foi uma comida, depois vinho e
também remédio. No século XVII, em vários condados da Alemanha e na Rússia Czarista, consumidores de café foram
condenados à morte. Tendo se popularizado comsua chegada à Europa, foram os Estados Unidos, após sua independência, que
se tornaram o principal consumidor mundial, respondendo hoje pelo consumo de cerca de 1/3 (um terço) do café cultivado no
mundo. O Brasil entra, por sua vez, na estatística do café com o primeiro lugar entre os produtores, vindo acompanhado da
Colômbia, detentora do segundo. É também cultivado em Java, Sumatra, Índia, Arábia, África Equatorial, Hawaí, México,
Antilhas, América Central e outros países da América do Sul.
Chá ou chá preto: A primeira referência ao chá na literatura chinesa data de 350 d.C.. De origem chinesa, a lenda
remete sua descoberta ao imperador Chen Nung, no ano 2737 a.C.. Tendo se difundido no Japão e outros países orientais,
chegou à Europa por volta de 1600, através de mercadores vindos do Oriente. No século XVII, o chá consolidou -se como a
bebida nacional da Grã-Bretanha. Na segunda metade desse mesmo século, chegou às colônias americanas. Em 1767, o
governo britânico passou a cobrar uma taxa pelo chá ali consumido. Esta taxa foi um dos temas explorados pela resistência
anticolonialista na guerra de independência dos Estados Unidos. Atualmente, o principal consumidor mundial é a Grã -
Bretanha, vindo logo em seguida os Estados Unidos. Na produção, o primeiro lugar é da Índia, com a China em segundo. O
chá também é produzido no Japão, Sri Lanka, ex União Soviética, Indonésia, Turquia, Bangladesh, Irã, Taiwan, vários países
da África e América do Sul, inclusive Brasil.
Erva mate: Nativa da América do Sul, contém relativamente, uma grande quantidade de cafeína. É consumida
principalmente como chá ou chá mate, ou chimarrão, bebida popular dos pampas, ou tererê este aqui popular no Paraguai. A
cultura da erva mate é uma grande indústria no sul do Brasil, no Uruguai e Argentina, sendo deles exportada em grande
quantidade para toda a América do Sul.
Guaraná: Fruto do guaranazeiro, arbusto trepador originário do estado do Amazonas, seu cultivo foi in iciado pelos
índios Maues. Esses objetivavamcomo seu consumo realizar trabalhos físicos mais cansativos. O consumo era feito através de
dissolução do pó do guaraná em água. O homem branco teve o primeiro contato com o guaraná por volta do século XVI. É
comum encontrarmos hoje refrigerantes com nome guaraná, mas esses são normalmente feitos com sabor artificial. Outra
forma comum de consumo, que se assemelha à dos índios Maues, vincula o guaraná à idéia de um produto natural, sendo um
produto, nesse caso, pouco popular.
Efeitos físicos e psíquicos
A cafeína é uma droga estimulante consumida por via oral, que em pequenas quantidades aumenta a circulação por
provocar dilatação dos vasos sangüíneos. Pode, em dose excessiva, produzir excitação, insônia, dores d e cabeça, taquicardia,
problemas digestivos e nervosismo.
Alguns a usam para resolver problemas cardíacos, auxiliar pessoas com depressão nervosa decorrente do uso do
álcool, ópio e outras drogas. Porém alguns estudiosos não observam nenhum uso terapêutico na cafeína, alertando para o
perigo da dependência psíquica e da síndrome de abstinência.
II. Nicotina
Aspectos históricos e culturais: Planta originária do continente americano, o tabaco já era fumado pelos índios desde
antes da chegada dos colonizadores europeus. Este hábito, como os demais de mascá-lo ou aspirá-lo, foi sendo adquirido
também pelos viajantes europeus que vinham à América. Foi somente em 1560 que o uso do tabaco veio a tomar grande
impulso na Europa, a partir da propaganda de Jean Nicot - diplomata francês cujo nome originou a palavra nicotina - de que ela
possuía "maravilhosos poderes curativos". Foi Nicot que introduziu o seu uso na França. Com o passar do tempo, o hábito de
fumar tabaco havia se propagado e, no século XVII, já era um vício generalizado emtoda Europa, alcançando tambéma África
e Ásia. O tabaco perde, contudo, sua auréola de "remédio para todos os males" restringindo seu uso à população de baixa
renda. Mas aos poucos vai ganhando o gosto da nobreza e da burguesia e, por fim, no início do século XVIII, é um dos maiores
valores de comércio internacional. O cachimbo no século XVII, o rapé e o hábito de mascar no século XVIII, assim como o
charuto no século XIX, foram formas muito comuns do uso do tabaco nas respectivas épocas. Mas a grande "democratização"
do consumo de tabaco veio a acontecer no século XX, com a expansão do hábito de fumar cigarro. Originário dos "papeletes"
ou "papelitos" espanhóis do século XVII e do "cigarette" francês do século XIX, o cigarro se popularizou de forma
impressionante no século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Apesar de existirem vozes se opondo ao uso do
tabaco, este sofreu uma expansão constante e crescente. Somente na década de 60, com a revelação dos cientistas de que o
cigarro provoca câncer no pulmão e outros males, é que se deu início a uma campanha contra seu uso. Certos grupos tomam
esta campanha como uma verdadeira "cruzada".
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Efeitos físicos e psíquicos
Consumida por via oral ou nasal, a nicotina, componente do tabaco, é considerada uma droga estimulante. Não possui
nenhum efeito terapêutico, provocando dependência física e psíquica. Provoca tolerância, ou seja, o organismo adapta-se a sua
presença através de um processo biológico, e sujeita a síndromes de abstinência os indivíduos que param de fumar de uma
maneira brusca.
Entre as 4 mil substâncias existentes na fumaça do tabaco, a nicotina é a responsável pela dependência física,
caracterizada por sintomas de irritabilidade, palpitação, tontura, ansiedade e fadiga.
Aumento da pressão arterial, diminuição do fluxo sangüíneo para a pele, diminuindo a temperatura;
Faringites, bronquites, falta de apetite;
Perturbações da visão;
Diversos tipos de câncer;
Doenças cardiovasculares, angina, infarto.
III. Anfetaminas
Aspectos históricos e culturais: Sintetizada pela primeira vez em 1887, as anfetaminas são drogas estimulantes, ou
seja, alteram nosso psiquismo, aumentando, estimulando ou acelerando o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso
central. São drogas sintéticas, fabricadas em laboratório, não sendo, portanto, produtos naturais. Foi lançada no mercado
farmacêutico na forma de um inalador indicado como descongestionante nasal, em 1932. Em 1937, iniciou -se o comércio de
benzedrina, um comprimido para revigorar energias e elevar estados de humor. Foi usado, durante a Segunda Guerra Mundial,
pelas tropas alemãs para combater a fadiga provocada pelo combate. Os Estados Unidos também permitiramseu uso na Guerra
da Coréia. Por ser uma droga cujo uso terapêutico auxilia principalmente na moderação do apetite, são facilmente encontradas
nas farmácias, que são obrigadas a vendê-las sob prescrição médica. Além de inibidoras de apetite, as anfetaminas podem,
também, a partir de uma certa dosagem, provocar um estado de grande excitação e sensação de poder. Este uso se popularizou
após a Segunda Guerra Mundial, na década de 50. Na gíria, estas drogas são conhecidas, por exemplo, como "rebite" e/ou
"bolinha". "Rebite" é como são chamadas as anfetaminas entre os caminhoneiros. Tendo um prazo para entregar determinada
mercadoria, eles tomam o "rebite", objetivando dirigir à noite e não pegar no sono, ficando "acesos" e "presos" ao volante. O
uso entre jovens passou a ser também freqüente. Usadas com o nome de "bolinha", deixa m a pessoa "acesa", "ligadona",
provocando um "baque". Procurando varar a noite estudando, uma pessoa pode usá-las com o objetivo de realizar esta tarefa
por mais tempo, evitando o cansaço. Mais ou menos em l970, inicia -se o controle da comercialização - pois as anfetaminas
passarama ser consideradas drogas psicotrópicas,sendo portanto ilegal seu uso semacompanhamento médico adequado.
Efeitos físicos e psíquicos
As anfetaminas provocamdependência física e psíquica, podendo acarretar, comseu uso freqüente, tolerância à droga,
assim como a sua interrupção brusca, síndrome de abstinência.
Consumidas por via oral ou injetadas, são consideradas psicotrópicos estimulantes, por induzir a um estado de grande
excitação e sensação de poder, facilitando a exteriorização de impulsos agressivos e incapacidade de julgar adequadamente a
realidade.
O uso prolongado pode provocar forte dependência, sendo que no extremo podem surgir alucinações e delírios,
sintomas denominados "psicose anfetamínica".
Nomes comerciais
Dualid, Inibex, Hipofagin, Moderine (substância ativa - dietilpropiona).
Lipomax, Desobesi (substância ativa - fenpropex).
Dasten, Absten, Moderamin, Fagolipo, Inobesin, Lipese, Diazinil (substância ativa - mazindol).
Uso terapêutico: anorexígeno (medicamento utilizado para provocar a anorexia, que é aversão ao alimento).
Pervitin (substância ativa: metanfetamina) - "ice"
Ritaline (substância ativa: metilfenidato).
Uso terapêutico: sistema hipercinético.
Nomes populares: bolinha, bola, rebite, "ice".
IV. Cocaína
Aspectos históricos e culturais: É um produto extraído da planta Erythroxylon coca, ou, como é popularmente
conhecida, coca ou epadu. Sendo uma planta tipicamente sul americana, é nativa dos Andes, onde mascar sua folhas,
"coquear", é um habito tradicional que remonta vários séculos. Sua principal função é evitar a sede, a fome e o frio. Podemos
encontrar, em algumas sociedades andinas, um valor cultural e mitológico ligado à coca. Em certas sociedades, por exemplo, é
aplicada a folha no recém-nascido para secagemdo cordão umbilical - que depois é enterrado comas folhas, representando um
talismã para o resto da vida do indivíduo. Em certas cerimônias funerais é usada, também, mediante certos rituais, como forma
de apaziguar e tranqüilizar os espíritos. O papel sócio-cultural da coca é importante em alguns países andinos. Dois exemplos
são o Peru e a Bolívia, onde é consumida também sob a forma de chá, com propriedades medicinais que auxiliam
principalmente problemas digestivos. Sua importância é tal que neste primeiro país existe até um órgão do governo
encarregado de controlar a qualidade das folhas vendidas no comércio, o "Instituto Peruano da Coca". Se em alguns países
andinos a coca é um bem sócio-cultural, histórica e tradicionalmente importante, em outros países, como no Brasil, é vista
como um "mal, algo a ser combatido e exterminado de qualquer maneira". A lei destes países procura taxar o seu uso como
ilícito e a sociedade, emsua maioria, procura estigmatizar seus usuários como "desviantes" ou " marginais". O uso mais comum
nestes casos é sob a forma de sal - o cloridrato de cocaína. É consumida via nasal, ou seja, aspirada, "cheirada". Por ser uma
droga cara, seu uso é dificultado a pessoas de baixa renda. Se o "pó", como é popularmente conhecido o sal cloridrato de
cocaína, é muito caro, favorecendo o seu uso pelas camadas mais altas da sociedade, o uso da coca tornou -se mais acessível à
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população de baixa renda com o advento do "crack". Esta é uma forma de uso que surgiu nos Estados Unidos, e qu e começou a
se difundir no Brasil, principalmente na periferia das grandes cidades. No crack, a substância usada é a pasta básica de coca
("freebasing", em inglês). A cocaína pode também ser injetada na corrente sangüínea. O "pico" como é conhecida esta fo rma
de uso produz um efeito chamado de "rush" ou "baque".
Efeitos físicos e psíquicos
A cocaína provoca sensação de euforia e bem-estar, idéia de grandiosidade, irritabilidade e aumento da atenção a
estímulos externos.
Com o aumento da dose: reações de pânico, sensação de estar sendo perseguido, às vezes alucinações auditivas e
táteis (escutar vozes, sentir sensação de bichos andando pelo corpo). O quadro completo é chamado de "psicose cocaínica".
Intoxicação aguda: em intoxicação com doses mais altas, quadro de síndrome cerebral orgânica (SCO), caracterizado
por confusão e desorientação, podendo resultar em lesão cerebral.
Efeitos físicos: aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca podendo provocar infarto e arritmias que causam
morte súbita. Menciona-se ocorrências de convulsões generalizadas e aumento da temperatura capaz de induzir convulsões.
Coma aplicação endovenosa corre-se o risco de contrair-se os vírus do hepatite e da AIDS.
Nomes populares: pó, neve, brisola, bright, branquinha, pico, crack, coca etc.
PERTURBADORES DO SNC
Os Perturbadores da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que modificam
qualitativamente a atividade do cérebro. Ou seja, perturbam, distorcem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa passe a
perceber as coisas deformadas, parecidas com as imagens dos sonhos.
Este grupo de substâncias é tambem chamado de alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos,
psicometamórficos, alucinantes.
As substâncias que compõem o grupo de Perturbadores do SNC são:
I. Anticolinérgicos (Datura)
Anticolinérgicos: diz-se das substâncias antagonistas da ação de fibras nervosas parassimpáticas que liberam
acetilcolina. Ou seja, que inibema produção da acetilcolina.
Aspectos históricos e culturais: Em 1866, um médico na Bahia descreveu um quadro apresentado por dois escravos:
"Fui chamado a visitar estes doentes no dia seguinte, às 8 horas da manhã. Já podiam caminhar, mas estavam t rôpegos e
hallucinados, vendo objectos himaginários, phantasmas, ratos a passear pela câmara, etc., de que procuravam fugir dirigindo -se
para a porta. Ambos tinhamas pupilas dilatadas (...), a boca e fauces nada ofereciamde notável (...). Na panela que s ervira para
fazer o cozimento, estavam dous ramos com muitas folhas e algumas flores rudimentares, de uma planta que reconheci ser a
trombeteira (Datura arbórea, Lin)". Além dos medicamentos, as drogas anticolinérgicas podem ser de origem vegetal. Neste
caso, a planta Datura arbórea sintetiza substâncias (atropina e/ou escopolamina) que produzem efeitos anticolinérgicos.
Efeitos físicos e psíquicos
Esta droga é capaz de produzir muitos efeitos periféricos. Assim, as pupilas ficam dilatadas, a boca seca e o coração
pode disparar. Provoca retenção de urina e paralisia das funções intestinais.
Produz delírios e alucinações, que dependem da personalidade e sensibilidade de quem ingeriu a substância. Esta
droga não desenvolve tolerância no organismo e não há descrição de síndrome de abstinência.
Em doses elevadas podem produzir grande elevação da temperatura (apresentação da pele muito seca e quente com
vermelhidão principalmente no rosto e pescoço) que pode provocar convulsões. O número de batimentos cardíacos sobe
exageradamente, podendo chegar até acima de 150 batimentos por minuto.
Nomes populares: lírio, zabumba, trombeta, trombeteira, cartucho, véu de noiva, saia branca (substancia ativa -
atropina, escopolamina)
Uso terapêutico: usos estabelecidos para anticolinérgicos.
II. Maconha
Aspectos históricos e culturais: Maconha é o nome dado a uma planta chamada cientificamente de Cannabis sativa,
conhecida há séculos e que cresce naturalmente em várias partes do globo podendo ser facilmente cultivada e encontrada em
todos os continentes. Seu plantio foi incentivado durante muitos séculos devido à utilização de seus talos para a fabricação de
cordas, fibras têxteis, palitos e até papel. Todavia, é das folhas, bem como de seus topos floridos, que se extrai a substância
ativa THC Delta-9-Tetrahidrocanabinol. Os produtos da Cannabis sativa podem ser consumidos por via pulmonar (fumada)
ou por via oral (comidos), como ocorre nas populações indígenas. Originária da Ásia Central, seus primeiros registros
históricos são de mais de 200 anos a.C. na China, no Egito e na Índia. No segundo milênio a.C. era empregada com fins
terapêuticos na China e descrita pelo imperador Shen Nung como analgésico. Seu emprego medicinal corresponde a uma longa
tradição entre povos africanos e asiáticos, mas também já era utilizada como desinibidora: os gregos a usavam para liberar do
corpo gases intestinais e para dor de ouvido; e os indianos, há 1000 anos a.C. a utilizavam para "libertar a mente de coisas
mundanas". Seu consumo é tradição secular em alguns países, principalmente naqueles onde o consumo de álcool é proibido.
Parece ter sido introduzida nas Américas pelos espanhóis, que fizeram as primeiras plantações no Chile, no século XVI. O
hábito de fumar ou ingerir folhas e sementes da Cannabis é antigo, vinculado a práticas religiosas de muitos povos. Na
segunda metade do século XIX, escritores e intelectuais franceses fornecem as primeiras descrições do uso recreativo desta
preparação no Ocidente. Há séculos ele fazia parte do arsenal de medicina popular em vários países e, ao final do século XIX,
fez parte de vários medicamentos produzidos por respeitáveis laboratórios farmacêuticos dos Estados Unidos. Era indicada
como analgésico, antiespasmódico e dilatador dos brônquios. O interesse médico pela Cannabis diminui no início do século
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XX em detrimento da morfina e dos barbitúricos, que ofereciam melhores resultados. Hoje em dia, seu emprego terapêutico é
quase nenhum, mas atualmente, em função de pesquisas recentes, é reconhecida como medicamento em pelo menos duas
condições clínicas: reduz ou abole as náuseas e vômitos produzidos por medicamentos anticâncer, e tem efeito benéfico em
alguns casos de epilepsia. Em algumas partes da Ásia, os médicos ainda a utilizam no tratamento de algumas afecções.
Considerada como "droga da moda" nos anos 60, no auge da contestação hippie (junto com o LSD-25), a maconha continua a
ser muito fumada até hoje, em particular nas faixas jovens, mas perdeu o seu destaque em favor dos inalantes, nas classes
desfavorecidas, e da cocaína, nas classes média e alta. Na Jamaica seu uso é popular. Conhecida como "ganja", é facilmente
cultivada e produzida, embora o seu consumo seja considerado ilegal. Certas seitas atribuem-lhe poderes místicos e divinos,
especialmente o de afastar os maus espíritos. O operário jamaicano encontra na ganja energia para trabalhar e relaxamento
após o trabalho; oferece a droga, mesmo aos filhos, para que fiquem "mais inteligentes". Nessa população, fumar a ganja é um
rito e não um fator de alienação ou desintegração social: seu uso constitui um complexo de crenças, atitudes e costumes
compartilhados por toda a comunidade.
O haxixe é uma mistura mais ativa, extraída da própria maconha. Enquanto a maconha contém 1% de THC, o haxixe
contem até 14%. Pouco comum entre nós, é habitualmente reduzido a pó e misturado ao tabaco normal para ser fumado em
cachimbo. É, em sua maior parte, produzido no norte da África, Paquistão, Nepal, Líbano e Turquia, sendo contrabandeado
para os Estados Unidos e Europa, onde seu preço é elevado.A faixa da população que usa o haxixe é a mesma que usa a
maconha, mas observa-se que a maconha é mais comum entre aqueles que estão iniciando-se no hábito ou que o fazem
esporadicamente. O haxixe é mais encontrado entre aqueles já iniciados e fumantes contumazes, que necessitam doses mais
potentes da droga. É moldado em pequenas barras ou bolos de cor marrom escura e seu óleo é bem mais potente. Diz-se que a
palavra assassino parece originar-se do árabe "hashishin", designação dada a uma tribo do norte da Pérsia, na Idade Média, por
volta do século XI, povoada por homens guerreiros altamente perigosos e temidos por sua grande crueldade. Sabia-se que seus
homens eram "motivados" pelo consumo de certa substância despersonalizante, que os impelia ao barbarismo e delitos sádicos
dos mais horrendos crimes. Do ponto de vista médico não há unanimidade, mas a maioria dos trabalho s leva a concluir que a
maconha é uma droga que não causa dependência física e cujos malefícios não seriam maiores do que aqueles provocados pelo
álcool e pelo tabaco.
Efeitos físicos e psíquicos
Podem ser físicos (ação sobre o próprio corpo ou parte dele) e psíquicos (ação sobre a mente). Esses efeitos sofrerão
mudanças de acordo com o tempo de uso que se considera. Ou seja, os efeitos são agudos (isto é, quando ocorrem apenas
algumas horas após fumar) e crônicos (conseqüências que aparecem após o uso continuado por semanas, meses ou mesmo
anos).
Os efeitos físicos agudos são muito poucos: os olhos ficam meio avermelhados, a boca fica seca e o coração dispara
(de 60-80 batimentos por minuto pode chegar a 120-140 ou até mais).
Os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. Para uma
parte das pessoas, os efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, de diminuição da fadiga e
vontade de rir. Para outras pessoas, os efeitos são mais desagradáveis: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o
controle da cabeça, trêmulas e suando. É o que, comumente, chamam de "má viagem". Há ainda evidente perturbação na
capacidade da pessoa calcular tempo e espaço, e umprejuízo da me mória e atenção.
Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os efeitos psíquicos agudos podem chegar até a alterações
mais evidentes, com predominância de delírios e alucinações. O delírio é uma manifestação mental pela qual a pessoa faz um
juízo errado do que vê ou ouve. Neste caso, há mania de perseguição (delírios persecutórios). A mania de perseguição pode
levar ao pânico e, consequentemente, a atitudes perigosas ("fugir pela janela", agredir as pessoas em"defesa" antecipada contra
agressão que julga estar sendo tramada). Já a alucinação, que é uma percepção sem objeto, pode ter fundo agradável ou
terrificante. Os efeitos físicos crônicos da maconha são maiores. Com o continuar do uso, vários órgãos do corpo são afetados .
Os pulmões são um exemplo disso, levando a problemas respiratórios (bronquites), como ocorre também com o cigarro
comum. Porém, a maconha contém alto teor de alcatrão (maior que no cigarro comum) e nele existe uma substância chamada
benzopireno, conhecido agente cancerígeno. Ainda não está provado cientificamente que a pessoa que fuma maconha
cronicamente está sujeita a contrair câncer dos pulmões com maior facilidade. Mas, os indícios de que assimpossa ser são cada
vez mais fortes. Outro efeito físico indesejável do uso crônico da maconha refere-se à testosterona, ou hormônio masculino. Já
existem muitas provas de que a maconha diminui em até 50-60% a quantidade de testosterona. Em conseqüência, o homem
apresenta umnúmero bem reduzido de espermatozóides no líquido espermático, o que pode levar a uma infertilidade.
Há ainda os efeitos psíquicos crônicos da maconha. Sabe-se que o uso continuado da maconha interfere na capacidade
de aprendizagem e memorização e pode induzir um estado de amotivação. Além disso, a maconha pode levar algumas pessoas
a um estado de dependência, isto é, elas passama organizar sua vida de maneira a facilitar o uso da maconha, sendo que tudo o
mais perde o seu valor.
Nomes mais conhecidos: maconha, haxixe, cânhamo, bangh, ganja, diamba, marijuana, marihuana.
Nomes populares: baseado, erva, tora, beise, fumo, bagulho, fininho.
III. Ayahuasca
Aspectos históricos e culturais: O Daime é um chá extraído de duas plantas alucinógenas: do "cipó da vida"
(Banisteriopsis Caapi) e de uma folha (Psychotria Viridis). Há referências, também, da utilização da planta Chacrona. Essas
plantas, das quais se produz o chá, são utilizadas no ritual do Santo Daime ou do Culto da União do Vegetal e várias outras
seitas. O cipó dá "força" e a folha, "luz". Estes rituais são bastantes difundidos no Brasil e cultuam as forças e os deuses das
florestas. São praticados nas regiões Norte, (Amazônia e Acre), como também na região Centro Oeste, nos Estados de São
Paulo e Rio de Janeiro. O ritual temorigemna sociedade das populações indígenas e mestiças da Amazônia Ocidental. Seu uso
veio dos índios da América do Sul. O Daime é utilizado para rituais mágicos e religiosos, para receber orientação divina, para
12
comunicar-se com os espíritos que animam as florestas e, também, para determinar a causa de moléstias e cura, bem como
produzir interação social através do ritual. As alucinações provocadas pelo chá são chamadas de "mirações".
Uma das substâncias sintetizadas por essas plantas é a DMT - Dimetil-triptamina, responsável pelo seus efeitos.
Efeitos físicos e psíquicos
Provoca dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos.
Perda da discriminação espaço-temporal, ilusões, alucinações e delírios.
Não há desenvolvimento de tolerância; comumente, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência.
Nomes populares: Natema, Yajé, Nepe, Caapi. É mais genericamente conhecida pelos índios Quechuas como
"Ayahuasca" (ou huasca, ou hoasca), que significa "cipó dos espíritos" e "vinho da vida".
Uso terapêutico: foi demonstrado cientificamente que os efeitos desse chá têm eficácia no combate a vermes e
protozoários.
IV. Cogumelo Psylocybe
Aspectos históricos e culturais: Seu uso ritual é bastante antigo no México, onde ficou famoso, sendo utilizado pelos
nativos daquela região desde antes de Cristo. Sabe-se que o "cogumelo sagrado" atualmente ainda é utilizado por bruxos, em
seus rituais, e por alguns pajés. É chamado pelos índios astecas do México de "carne dos deuses", sendo considerado sagrado
por certas tribos. Tem o nome científico de "Psylocybe mexicana" e dele pode-se extrair uma substância com forte poder
alucinógeno: a psilocibina.
No Brasil, temos pelo menos duas outras espécies de cogumelos alucinógenos: o "Psylocibe cubensis" e a espécie do
gênero "Paneoulus".
Efeitos físicos e psíquicos
Os sintomas físicos são poucos salientes. Podem aparecer dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e
vômitos. Não há desenvolvimento de tolerância. Também não induzemdependência e não ocorre síndrome de abstinência.
Produzem alucinações e delírios. Estes efeitos são maleáveis e dependem de várias condições, como personalidade e
sensibilidade do indivíduo. As alucinações podem ser agradáveis. Em outras ocasiões, os fenômenos mentais podem ser
desagradáveis (visões terrificantes, sensações de deformação do próprio corpo). Pode tambémprovocar hilaridade e euforia.
Um dos problemas preocupantes deste alucinógeno, bem como da Datura, Daime, Peyote e o LSD -25, é a
possibilidade, felizmente rara, da pessoa ser tomada de um delírio persecutório, delírio de grandeza ou acesso de pânico e, em
virtude disto, tomar atitudes prejudiciais a si e aos outros.
Nomes populares: chá, cogú.
Uso terapêutico: não reconhecido
V. Cacto (Peyote)
Aspectos históricos e culturais: Utilizado desde remotos tempos na América Central, em rituais religiosos indígenas, é
originário desta mesma região. Este cacto mexicano (Lopophora williansi), que não existe no Brasil, produz a substância
alucinógena mescalina. Peyote é seu nome popular, de origem asteca, que significa "planta divina". Carlos Castanheda, em seu
livro "A Erva do Diabo", fala de uma experiência com o mescalito: "Abriu a tampa e entregou-me o vidro: dentro havia sete
artigos de aparência estranha. Eram de tamanhos e consistência variados. Ao tato, pareciam a polpa de nozes ou superfície de
cortiça. Sua cor acastanhada os fazia parecer cascas de nozes duras e secas." Era - e ainda é - empregado e venerado como
amuleto, panacéia (remédio para todos os males) ou alucinógeno, nas regiões montanhosas do México, bem antes da chegada
dos conquistadores espanhóis. Por certos índios, era utilizado como remédio ou para visões que permitissem profecias.
Ingerido em grupo pode servir como indutor de estados de transe durante certas atividades rituais. Os astecas o mascavam
durante festividades comunitário-religiosas.
O mescalito é considerado como protetor espiritual, pois acredita -se que ele aconselha e responde a todas as perguntas
que você fizer.
Efeitos físicos e psíquicos
Dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos.
Alucinações e delírios. Essas reações psíquicas são variáveis; às vezes são agradáveis (boa viagem) ou não (má
viagem), onde podemocorrer visões terrificantes, como sensações de deformação do próprio corpo.
Não há desenvolvimento de tolerância, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência com o
cessar do uso.
Nomes populares: peyote, peyotl, peiote, mescal, mescalito.
Uso terapêutico: não reconhecido.
VI. LSD-25
Aspectos históricos e culturais: O LSD-25 (abreviação de Dietilamida do Ácido Lisérgico), é uma substância sintética
fabricada em laboratório. Foi inventado em 1943 por um cientista suíço, Albert Hoffman, que estudava alcalóides (substâncias
encontradas nos vegetais) extraídos de fungos que atacam o centeio e cereais. Este cientista trabalhava com os alcalóides da
ergotina, sobretudo a Dietilamida do Ácido Lisérgico, substância que ele próprio, cinco anos antes (1938), havia composto a
partir da associação experimental da Dietilamida do Ácido Lisérgico-25 e cuja fórmula final resultou no tratamento de destro-
dietilamida do ácido lisérgico-25 (este nome indica que, além da combinação química básica, a droga desvia a luz polarizada
para a direita - destro -, é solúvel na água e foi a vigésima quinta de uma série de anotações experimentais). Esta substância foi
ingerida acidentalmente pelo cientista, ao aspirar pequeníssima quantidade de pó, num descuido de laboratório, provocando
estranhos efeitos como distorções visuais, perceptuais e alucinações. Eis o que ele descreveu: "Os objetos e o aspecto dos meus
colegas de laboratório pareciam sofrer mudanças ópticas. Não conseguindo me concentrar em meu trabalho, num estado de
13
sonambulismo, fui para casa, onde uma vontade irresistível de me deitar apoderou-se de mim. Fechei as cortinas do quarto e
imediatamente caí em um estado mental peculiar semelhante à embriaguez, mas caracterizado por uma imaginação exagerada.
Com os olhos fechados, figuras fantásticas de extraordinária plasticidade e coloração surgiram diante de meus olhos." Em
1960, apareceram os primeiros relatos do uso do LSD-25 entre jovens e adultos, influenciados pelo movimento hippie. Em
1968, o LSD-25 foi proibido, mas continuou sendo produzido em laboratórios clandestinos. Normalmente, o LSD-25 é
encontrado em minúsculos pedaços de papel, "selos" embebidos da substância. Esporadicamente sabe-se do uso de LSD-25 no
Brasil, principalmente por pessoas das classes mais favorecidas. O Ministério da Saúde do Brasil não reconh ece nenhum uso
terapêutico do LSD-25 (e de outros alucinógenos) e proíbe totalmente a produção, comércio e uso do mesmo no território
nacional.
Efeitos físicos e psíquicos
O LSD-25 produz uma série de distorções no funcionamento do cérebro, alterando as funções psíquicas. Tais
alterações dependem muito da sensibilidade da pessoa, do seu estado de espírito no momento em que tomou a droga e do
ambiente em que se deu a experiência. As alucinações, tanto visuais quanto auditivas, podem trazer satisfação (boa viagem) ou
deixar a pessoa extremamente amedrontada (má viagem, "bode"). Outro aspecto refere-se aos delírios. Estes são chamados
juízos falsos da realidade, isto é, há uma realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de avaliá -lo
corretamente, podendo desencadear tambémestados psicóticos como pânico e sentimentos paranóicos.
O LSD-25 produz poucos efeitos no resto do corpo. A pulsação pode ficar mais acelerada, as pupilas podem ficar
dilatadas, além de ocorrer sudoração e certa excitação. São raros os casos de convulsão. Mesmo as doses muito fortes não
chegam a intoxicar seriamente a pessoa do ponto de vista físico. Não leva comumente a estado de dependência e não há
descrição de síndrome de abstinência. A tolerância desenvolve-se muito rapidamente, mas também há desaparecimento rápido
da mesma como parar do uso.
O perigo do LSD-25 está no fato de que, pela perturbação psíquica, há perda da habilidade de perceber e avaliar
situações comuns de perigo. Há descrições de casos de comportamento violento e de pessoas que, após tomarem o LSD-25,
passarama apresentar por longos períodos depressão ou mesmo acessos psicóticos.
O "flashback" é uma variante dos efeitos em longo prazo - semanas ou até meses após a sua utilização, a pessoa passa
repentinamente a ter todos os sintomas psíquicos daquela experiência anterior, sem ter tomado de novo a droga.
Nomes populares: ácido
Fontes:
Tecido Nervoso – Faculdade de Biologia, USP de São Carlos.
Psicotrópicos – Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo - IMESC

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  • 1. 1 Curso de Biologia Prof. Gerardo Furtado Aula 14 capacidade de um organismo sobreviver e se manter em equilíbrio depende de sua habilidade em responder a variações do ambiente interno e externo. Variações dentro do organismo ou oriundas do meio externo, que possam ser detectadas, são chamadas de estímulos. Nos animais menos complexos as respostas aos estímulos são limitadas e mais simples. Nos animais mais complexos são mais elaboradas, devido à complexidade do sistema nervoso (e endócrino) que controlam estas respostas, captando-as, analisando-as e estabelecendo as melhores ações possíveis para as dadas condições. TECIDO NERVOSO A célula chave no sistema nervoso é o neurônio ou célula nervosa, especializada em enviar e receber informações. O neurônio atua através da produção e transmissão de sinais eletroquímicos, chamados impulsos nervosos. Outros tipos de células, únicas no sistema nervoso são as células gliais, que protegem e dão suporte ao neurônio. O Neurônio O neurônio é formado por um corpo celular, que contém o núcleo e outras organelas, o qual apresenta dois tipos característicos de projeções: os axônios e os dendritos. Dentritos são processos celulares, tipicamente curtos, altamente ramificados, especializados em recebere m informações e enviarem estímulos para o corpo celular. Este integra os sinais recebidos, podendo receber impulsos diretamente. Os impulsos nervosos são conduzidos do corpo celular para outros neurônios, músculos ou glândulas através de outro prolongamento, o axônio, que pode ter até 1 metro ou mais de comprimento. Na porção terminal, o axônio ramifica-se formando o telodendro, que termina em estruturas minúsculas chamadas botões sinápticos. Estas estruturas liberam neurotransmissores, substâncias químicas que transmitem sinais de um neurônio para outro. Ao longo do percurso, umaxônio pode emitir ramificações. Os axônios de muitos neurônios fora do Sistema Nervoso Central (SNC) recebem dois tipos de cobertura: uma camada celular externa ou neurilema e uma interna, a bainha de mielina. Ambas são formadas pelas células de Schwann, células gliais encontradas fora do SNC. A bainha de mielina é formada pelo enrolamento da membrana plasmática da célula de Schwann ao longo do axônio. A mielina é uma substância branca, rica em lipídios, sendo um isolante, o que influencia a transmissão dos impulsos nervosos. Entre as células de Schwann sucessivas, ocorrem estreitamentos, os nódulos de Ranvier, pontos nos quais os axônios não estão isolados. A Tecido Nervoso e Drogas Psicotrópicas
  • 2. 2 O nervo é uma estrutura filamentosa formada de centenas e às vezes milhares de axônios mantidos juntos por tecido conjuntivo. Os corpos celulares destes axônios são freqüentemente mantidos juntos em uma massa de corpos celulares conhecidas como gânglios. Transmissão do Impulso Quando um neurônio recebe um estímulo, se este é forte o suficiente, ocorre a produção de um impulso nervoso. O impulso nervoso corresponde a uma onda de despolarização que caminha rapidamente no axônio, geralmente dos dendritos até os botões sinápticos. No neurônio não estimulado ou em repouso, a superfície interna da membrana plasmática possui excesso de cargas negativas quando comparada com o fluido tecidual adjacente, e a DDP é de –65mVolts em média. A membrana plasmática esta assim polarizada. No neurônio em repouso, a diferença de potencial através da membrana plasmática é chamada de potencial de membrana ou potencial de repouso. A membrana plasmática alcança seu potencial de repouso pela atividade eficiente da bomba de sódio/potássio, ou Na+ K+ ATPase, que transporta sódio e potássio para o exterior e o interior do neurônio. A proteína transportadora de Na+ e K+ é na realidade uma enzima, ATPase, que hidrolisa a molécula de ATP, "liberando" a energia necessária para o transporte destes íons através da membrana. Para cada ATP hidrolisado, três íons Na+ são bombeados fora da célula para cada dois íons K+ bombeados para dentro. Ambos os íons Na+ e K+ podem se difundir de volta através da membrana, através de canais protéicos, a favor de seu gradiente de concentração. Todavia, pelos tipos de canais existentes e abertos, a membrana é mais permeável ao K+ do que ao Na+ . Assim, grande amostra de K+ pode sair, e somente pequena amostra de Na+ volta para dentro. Como resultado, mais cargas positivas são mantidas fora da membrana que dentro. Proteínas negativamente carregadas e outras moléculas grandes contribuem para as cargas negativas relativas ao lado interno da membrana plasmática, pois não se difunde para fora da célula. Num certo ponto, a carga positiva externa torna-se tão alta que não é mais possível a saída de K+ . Neste ponto o neurônio alcançou seu potencial de repouso, cerca de -70 milivolts. Despolarização Local Produzida Pelo Estímulo Excitatório Qualquer estímulo (químico, elétrico ou mecânico) que faça o neurônio ficar mais permeável ao sódio ou potássio, pode mudar o potencial de repouso (-70mV). Estas mudanças locais são chamadas potenciais locais. Estímulos excitatórios abrem canais de sódio, formados por proteínas que estão embebidas na me mbrana, permitindo a entrada do íon Na+ na célula. Esta passagem de Na+ para dentro da célula produz um potencial de membrana menos negativo o que é conhecido como despolarização. Se a despolarização da membrana for de 15mV (o que significa uma alteração d o potencial de repouso para -55mV), a despolarização será apenas local. Quando a despolarização ultrapassa -55mV, a membrana alcança um ponto crítico chamado "nível de disparo", o que resulta uma onda de despolarização, que se espalha ao longo do axônio. O gradiente eletroquímico estabelecido é chamado de impulso nervoso ou potencial de ação. Quando o nível de disparo é alcançado, um potencial de ação explosivo ocorre; a membrana do neurônio rapidamente alcança o potencial "zero" e sobe para +35mV. Ocorre u ma "inversão momentânea da polaridade", ou seja, o lado interno da membrana torna-se positivo, comparado ao lado externo da membrana. O potencial de ação pode ser assim resumido: 1) Um estímulo forte suficiente para causar uma mudança no potencial de repouso, produzindo o impulso nervoso. 2) O impulso nervoso move-se ao longo do axônio comvelocidade e amplitude constantes. 3) À medida que a onda de despolarização se desloca ao longo do axônio, o estado de polarização de repouso é rapidamente restabelecido ou a membrana é repolarizada. Os canais de Na+ se fecham e não há mais entrada de Na+ na célula até a repolarização da membrana - período refratário. Não é possível a transmissão seguida de outro potencial de ação porque os canais de Na+ não podemser reabertos. 4) Simultaneamente ao fechamento dos canais de sódio ocorre a abertura dos canais de potássio, que saem. Há então uma redução de íons positivos dentro da célula o que resulta emsua repolarização. 5) O potencial de repouso só será alcançado com o auxílio da bomba de sódio e potássio, que transporta ativamente o excesso de sódio para fora do neurônio. 6) Esta transmissão ao longo dos axônios ocorre nos neurônios que não possuem bainha de mielina. Nos neurônios mielinizados o potencial de ação ocorre ao nível dos nódulos de Ranvier, pontos em que a membrana plasmática faz contato direto com o fluido intersticial. Assim, o potencial de ação "salta" de um nódulo de Ranvier para o seguinte - condução saltatória - sendo umtipo de condução mais rápida e com menos gasto de energia. Sinapses Quando o potencial de ação chega ao fim do axônio, encontra fendas, as sinapses, separando um neurônio do outro ou do efetor. O neurônio que transmite o impulso é chamado de neurônio pré-sináptico, enquanto o que recebe, de neurônio pós- sináptico. Há dois tipos de sinapses: elétrica e química. 1 - Sinapse elétrica: o potencial de ação pode ser transmitido diretamente para outra célula, por meio de conexões célula-célula, as "gap junctions". A transmissão do impulso nestas sinapses é muito rápida. 2 - Sinapse química: a fenda entre as duas células é de mais de 20nm e o impulso nervoso não consegue "saltar" a fenda para chegar na outra célula. Assim, é necessário que compostos químicos, os neurotransmissores, conduzam a mensagem neural
  • 3. 3 através das sinapses. Após atravessar a fenda sináptica, os neurotransmissores ligam-se a receptores específicos na membrana plasmática do neurônio pós-sináptico. Neurotransmissores Os neurotransmissores são constantemente sintetizados pelos neurônios, armazenados nas vesículas sinápticas. Com a chegada do potencial de ação ao terminal sináptico, ocorre a abertura dos canais de cálcio, permitindo a entrada de íons Ca ++ no terminal. Os íons Ca++ induzem a "fusão" das vesículas de armazenamento com a membrana levando à liberação de neurotransmissores para a fenda sináptica. Parte do neurotransmissor é recaptado pelo neurônio pós -sináptico, parte é inativado por enzimas e parte se difunde pela fenda, ligando-se a receptores específicos. Alguns neurotransmissores podem elevar a permeabilidade ao sódio na célula pós-sináptica, podendo produzir o potencial de ação, continuando a transmissão da mensagem. Estes são os transmissores excitatórios. Outros transmissores podem levar a uma abertura nos canais de cloro, na membrana pós-sináptica, tornando o citoplasma mais negativo que o fluido circulante. Isto é chamado de hiperpolarização e nestas condições são poucas as possibilidades do surgimento de um potencial de ação e a sinapse é uma sinapse inibitória. São exemplos de neurotransmissores a dopamina, serotonina, epinefrina, acetilcolina, GABA, endorfinas e uma série de aminoácidos. PSICOTRÓPICOS Definição (Organização Mundial da Saúde - OMS, 1981): são aquelas que "agem no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de auto-administração" (uso não terapeutico). Psico vem de psique = alma; Trópico vemde tropismo = direção, ação de aproximar. A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga (estimulante, depressora ou perturbadora), da via de administração, da quantidade da droga, do tempo e da freqüência de uso, da qualidade da droga, da absorção e da eliminação da droga pelo organismo, da associação com outras drogas, do contexto social bem como das condições psicológicas e físicas do indivíduo. Das várias classificações existentes dos psicotrópicos ou drogas psicotrópicas, adota-se aqui a (antiga) divisão em 3 grandes grupos: depressores (psicolépticos), estimulantes (psicoanalépticos) ou perturbadores (psicodislépticos) do SNC. DEPRESSORES DO SNC Os Depressores da Atividade do Sistema Nervoso Central (SNC), referem-se ao grupo de substâncias que diminuem a atividade do cérebro, ou seja, deprimem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique "desligada", "devagar", desinteressada pelas coisas. Este grupo de substâncias é também chamado de psicolépticos. As substâncias que compõem o grupo de Depressores do SNC são: I. Álcool Aspectos históricos e culturais: A palavra álcool origina-se do árabe al-kuhul que significa líquido. As bebidas alcóolicas representam as drogas mais antigas das quais se têm conhecimento, por seu simples processo de produção. Obtidas pela fermentação de diversos vegetais, segundo procedimento no início primitivos e depois cada vez mais sofisticados, elas já estavam presentes nas grandes culturas do Oriente Médio e são utilizadas em quase todos os grupos culturais, geralmente relacionadas a momentos festivos. Os mais antigos documentos da civilização egípcia descrevem o uso do vinho e da cerveja. A medicina egípcia, respeitada em toda a região mediterrânea, usava essências alcoólicas para uma série de moléstias, enquanto meio embriagador contra dores e como abortivo. O vinho entre os egípcios era bebido em honra à deusa Isis. O consumo de cerveja pelos jovens era comum; muitos contos, lendas e canções de amor relatam os seus poderes afrodisíacos. O seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, já no Egito, moralistas populares se levantassem contra o seu abuso "por desviar os jovens dos estudos". A embriaguez, no entanto, era tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas, onde era considerada normal ou mesmo estimulada. Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferta aos deuses. Nas culturas da Mesopotâmia, as bebidas alcoólicas existiram, com certeza, no final do segundo milênio a.C.; aos poucos, a cerveja à base de cereais foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva também é regularmente mencionada. O uso medicinal de produtos alcoólicos é comum. O consumo de álcool nas civilizações gregas e romanas é bem conhecido. Ele era utilizado tanto pelo seu valor alimentício, quanto para festividades sociais. Ressaltamos apenas a associação entre o uso do vinho e certas práticas e concepções religiosas representadas pela popular figura do Bacchus. Durante longos períodos, o consumo de vinho era proibido para as mulheres, interdito do qual testemunham também os relatos bíblicos. Lembramos ainda que o vinho é parte integrante de cerimônias católicas e protestantes, bem como no judaísmo, no candomblé e em outras práticas espíritas. Nos anos 20, nos Estados Unidos, houve uma proposta de coibição legal do uso de bebidas alcoólicas chamada Lei Seca. Porém, durou pouquíssimo tempo. O seu fracasso deu-se devido à pressões econômicas que fácil e vitoriosamente se interpuseram, além de que o próprio consumidor encontrou uma forma sutil e prática para alimentar suas necessidades. O principal agente do álcool é o etanol (álcool etílico).
  • 4. 4 As bebidas alcoólicas são elaboradas a partir da fermentação de produtos naturais: vinho (fermentação da uva); cerveja (fermentação de grãos de cereais); outros (fermentação do mel, cana de açúcar, beterraba, mandioca, milho, pimenta, arroz etc.). Bebidas alcoólicas destiladas - como cachaça, rum, uísque ou gim - são obtidas através da destilação de bebidas fermentadas. Efeitos físicos e psíquicos Inibidor da atividade cerebral Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência chegando-se ao coma alcoólico. O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância. Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões. Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte. "Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de alucinações, principalmente táteis). II. Inalantes/solventes Inalante: toda a substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo através da aspiração pela boca ou nariz. Solvente: substância normalmente apolar, orgânica, capaz de dissolver. Via de regra, todo o solvente é uma substância altamente volátil, isto é, evapora-se muito facilmente podendo, por isso, ser inalado. Devido a essa característica, são, portanto, chamados de inalantes. Muitos dos solventes ou inalantes são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente. Aspectos históricos e culturais: Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos EUA. No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970. Hoje, o consumo de solventes se dá muito em países do chamado Terceiro Mundo, enquanto que em países desenvolvidos a freqüência de uso é muito baixa. Eles podem ser aspirados voluntariamente (caso dos meninos de rua que cheiram cola de sapateiro) ou involuntariamente (trabalhadores de indústrias de sapatos ou de oficinas de trabalho, expostos ao ar contaminado por essas substâncias). O clorofórmio e o éter chegarama servir como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso foi praticamente abandonado. No Brasil, a moda voltou com os lança-perfumes trazidos da Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências ao abuso do éter como substituto do álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Por volta de 1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser aspirados para dar sensação de torpor, tontura e euforia. O Quelene, anestésico local, formava par com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de Carnaval, quando a disponibilidade do lança-perfumes era menor. Muitas pessoas morreram de parada cardíaca provocada por essa droga e, por volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-perfumes e do Quelene. Contudo, começaram a surgir referências ao retorno do uso de lança-perfumes, só que como umproduto à base de clorofórmio e éter. Efeitos físicos e psíquicos Após a aspiração, o início dos efeitos é bastante rápido. Entre 15-40 minutos já desapareceram. O efeito dos solventes vai desde uma pequena estimulação, seguida de uma depressão, até o surgimento de processos alucinatórios. Os principais efeitos são caracterizados por uma depressão da atividade do cérebro. O aparecimento dos efeitos após a inalação foi dividido em 4 fases: 1a. fase: fase da excitação. A pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais. Podemaparecer náuseas, espirro, tosse, muita salivação e as faces podemficar avermelhadas. 2a. fase: a depressão começa a predominar. A pessoa entra em confusão, desorientação, fica com a voz pastosa, começa a ter a visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e começa a ver e a ouvir coisas. 3a. fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora, fala "enrolada", reflexos deprimidos, já podendo ocorrer processos alucinatórios. 4a. fase: aparece a depressão tardia, podendo chegar a inconsciência. Há queda de pressão, sonhos estranhos, podendo ocorrer surtos de convulsão. Há possibilidade de se chegar ao coma e à morte. Os solventes, inalados cronicamente, podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os nossos músculos. Não há, na literatura médica, afirmativas claras de que os solventes possam levar à dependência. Também não se figura síndrome de abstinência. A tolerância pode ocorrer, instalando -se em um ou dois meses. Nomes comerciais: Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais. Existem dois grupos principais: Substâncias voláteis: éter, clorofórmio, gasolina, benzina, fluído de isqueiro, Carbex. Substâncias usadas na indústria como solvente, diluente e adesivas: cola de sapateiro, tintas, vernizes, removedores, limpa-manchas, esmaltes. Estes produtos pertencem a um grupo químico chamado Hidrocarbonetos Aromáticos ou Afiláticos cujas substâncias ativas são: Tolueno, N-hexano, Benzeno, Xilol, Acetato de Etila, Cloretila ou Cloreto de Etila etc. Nomes populares: cheirinho da loló ou loló, lança-perfumes ou lança, cola. III. Ansiolíticos Aspectos históricos e culturais: Os ansiolíticos surgiramem 1950, como meprobamato, que praticamente desapareceu após a descoberta do clorodiazepóxido, em 1959. A partir daí, seguiu-se uma série de derivados que se mostraram muito
  • 5. 5 eficientes no controle da ansiedade, insônia e certos distúrbios epilépticos. O Diazepam foi o segundo a surgir, sendo o mais destacado membro desse grupo de substâncias conhecido como benzodiazepinas. Assim, as principais drogas pertencentes à classificação de ansiolíticos são os benzodiazepínicos. A benzodiazepina, sintetizada na década de 50, tem mais de 2.000 derivados. Existem 19 substâncias comercializadas no Brasil, com mais de 250 nomes comerciais. O meprobamato foi sendo abandonado e as benzodiazepinas dominam completamente os tratamentos farmacológicos das neuroses e das formas de ansiedade. Além da grande eficiência terapêutica, mostraram-se drogas muito seguras. Tem uso terapêutico como ansiolítico, hipnótico e síndrome de dependência do álcool. O crescimento de seu consumo foi vertiginoso entre 1960 e 1980, e estima -se que cerca de 10% da população adulta dos países desenvolvidos tomem benzodiazepínicos, regular ou esporadicamente. Estas drogas têm sido prescritas indiscriminadamente. Hoje assistimos ao desenvolvimento de um novo padrão cultural, a "cultura das benzodiazepinas", pelo qual as pessoas encaram com permissividade o uso de um "calmante". No Brasil ess a situação é mais grave, pois esses medicamentos são vendidos emalgumas farmácias sem a exigência de receita médica. Estas drogas estão sendo usadas acima do que se justificaria, do ponto de vista exclusivamente médico. Não poucos autores temcomparado estas substâncias ao "Soma", descrito por Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo". Efeitos físicos e psíquicos Estimulam os mecanismos do cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade, inibindo os mecanismos que estavam hiperfuncionantes, ficando a pessoa mais tranqüila, como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos. Produzem uma atividade do cérebro que se caracteriza por diminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta. Dificultam os processos de aprendizagem e memória. Prejudicam, em parte, as funções psicomotoras afetando atividades como, por exemplo, dirigir automóveis. Misturados comálcool, seus efeitos se potencializam, podendo levar a pessoa a estado de coma. Em doses altas a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade para ficar de pé e andar, queda da pressão e possibilidade de desmaios. O seu uso por mulheres grávidas temum poder teratogênico, isto é, pode produzir lesões ou defeitos físicos na criança. Quando usados por alguns meses, podem levar a pessoa a um estado de dependência. Ou seja, sem a droga a pessoa passa a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo, podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões. Há figuração de síndrome de abstinência e também desenvolvimento de tolerância, embora esta última não seja muito acentuada. Nomes comerciais Valium, Diempax, Kiatrium, Noan, Diazepam, Calmociteno (substância ativa - diazepam). Psicosedim, Tensil, Relaxil (substância ativa - clorodiazepóxido). Lorax, Mesmerin, Relax (substância ativa - lorazepam). Deptran, Lexotan, Lexpiride (substância ativa - bromazapam). Rohipnol, Fluzerin (substância ativa - flunitrazepam). Nome popular: calmantes. IV. Barbitúricos Aspectos históricos e culturais: Os barbitúricos foram descobertos no começo do século XX. Em 1903, foi lançado no mercado farmacêutico o Veronal, que se mostrava um promissor hipnótico que vinha substituir os medicamentos menos eficientes até então existentes. O próprio nome comercial era uma alusão à cidade de Verona, sede da tragédia "Romeu e Julieta", onde a jovem toma uma droga que induz um sono profundo confundido com a morte para, em seguida, despertar suavemente. Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos. Nos primeiros anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição. Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena, Veramon, Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas. O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia. Efeitos físicos e psíquicos São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro. As pessoas podemficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, comuma sensação de calma e de relaxamento. A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas. Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcóolicas em excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir auto móveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a pressão sangüínea são afetados. Efeitos tóxicos: Os barbitúricos são drogas perigosas pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz efeitos terapêuticos desejáveis. Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.
  • 6. 6 Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas. A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer. Nomes comerciais Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa, exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia emcirurgia). Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital). Nomes populares: soníferos, bola, bolinha. V. Opiáceos Opiáceos ou drogas opiáceas são substâncias derivadas do ópio. Todas produzem uma analgesia (diminuem a dor) e uma hipnose (aumentam o sono). Em função disso, recebem o nome de narcóticos sendo também chamadas de drogas hipnoanalgésicas ou analgésicos narcóticos. São classificadas como substâncias entorpecentes podendo ser: Opiáceos naturais: derivados do ópio que não sofreramnenhuma modificação (ópio, pó de ópio, morfina, codeína) Opiáceos semi-sintéticos: resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (heroína) Opiáceos sintéticos ou opióides: totalmente sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação semelhante à dos opiáceos (zipeprol, metadona) As substâncias que compõem o grupo de drogas opiáceas são: Ópio Aspectos históricos e culturais: O ópio ("suco", em grego) é obtido a partir de um líquido leitoso da cápsula verde da papoula (Papaver somniferum), planta que cresce naturalmente na Ásia. É também chamada de "dormideira", sendo originária do Mediterrâneo e Oriente Médio. Quando seco, o suco passa a se chamar pó de ópio. O ópio é apresentado em barras de cor marrom e gosto amargo que podem ser reduzidas a pó. Quando aquecido, produz um vapor amarelo que é inalado. Pode ser dissolvido na boca ou ingerido como chá. A papoula é legalmente cultivada, servindo de fonte de matéria -prima a laboratórios farmacêuticos. Contudo, em sua maioria, as plantações são ilegais e destinam sua produção ao comércio clandestino de ópio e heroína. Entre os gregos antigos, o ópio era revestido de um significado divino como símbolo mitológico poderoso. Os seus efeitos eramconsiderados como uma dádiva dos deuses, destinada a acalmar os enfermos. Na China, desde tempos imemoriais, a planta da papoula era símbolo nacional (tal como os ramos do café no Brasil). Parece que o ópio foi introduzido na China pelos árabes no século IX ou X. As provas mais antigas do conhecimento do ópio remontam às plaquinhas de escrever dos sumerianos, que viveram na baixa Mesopotâmia (hoje o Iraque) há cerca de 7.000 anos. O conhecimento de suas propriedades medicinais chega depois à Pérsia e ao Egito, por intermédio dos babilônios. Os gregos e os árabes também empregavam o ópio para fins médicos. O primeiro caso conhecido de cultivo da papoula na Índia data do século XI. No tempo do império Mongol (século XVI), a produção e o consumo de ópio nesse país já eram fatos normais. O ópio era conhecido também na Europa na Idade Média, e o famoso Paracelso o ministrava a seus pacientes. Quando utilizado por prazer, era ingerido como chá. O hábito de fumar ópio conta umas poucas centenas de anos. Em muitas sociedades orientais tradicionais, recorre-se ao ópio contra dores nas enfermidades do corpo mas, também, como tranqüilizante. É também instrumento de relaxamento e de sociabilidade. No século XIX, a "British East India Company" produzia ópio na Índia e o vendia para a China. A insistência do governo chinês em reprimir a venda e o uso da droga que se alastrava, levou a um conflito com a Inglaterra, conhecido como a "Guerra do Ópio". Os ingleses obrigaram a China a liberar a importação da droga e como resultado, em 1900, metade da população adulta masculina chinesa era descrita como dependente da droga. Amplamente aceita como droga recreativa no Oriente, e comprado livremente na Inglaterra e Estados Unidos, até fins do século XIX, o ópio provocou o surgimento de "casas de ópio" na maioria das cidades européias. Foi somente no início do século XX que o seu consumo começou a ser proibido. Efeitos físicos e psíquicos As pessoas não iniciadas podemexperimentar náuseas, vômitos, ansiedade, tonturas e falta de ar. O dependente entra diretamente numestado de torpor, sentindo os membros pesados e o raciocínio lento. A dependência e tolerância se desenvolvem rapidamente e o dependente passa a sentir tudo, menos prazer. Privado da droga, temtremores, suores, angústia, cólicas e cãibras - sintomas da síndrome de abstinência. Nomes comerciais: Tintura de Ópio, Elixir Paregórico, Elixir de Dover (substância ativa - pó de ópio). Uso terapêutico: anti-diarréico e analgésico. Codeína e zipeprol Aspectos históricos e culturais: A codeína, ou metilmorfina, é um alcalóide natural (opiáceo natural) que compõe o ópio. O ziprepol é uma substância sintética (opióide), isto é, fabricada em laboratório. Indicadas para tosses irritativas e sem expectoração (tosse seca), são chamadas de substâncias antitussígenas, estando presentes em xaropes e gotas para tosse como, por exemplo: Belacodid, Gotas Binelli, Tussaveto etc. Os métodos usuais de administração são oral ou endovenoso. A duração do efeito é de 3 a 6 horas. A codeína é umnarcótico de origem natural mais amplamente empregado na clínica médica. Mesmo sendo menos potente que outros opiáceos, seu uso continuado induz a certa tolerância. O zipeprol, devido a sua grande toxicidade, foi recentemente banido do Brasil (ou seja, está proibido fabricar ou vender remédios à base desta substância no território nacional). No ano de 1991, foram retirados do comércio remédios como ziprepol como, por exemplo: Eritós, Nantux, Silentós e Tussaveto. Isto ocorreu pelo fato de ter havido várias mortes de jovens que abusavam destas substâncias,
  • 7. 7 principalmente crianças em situação de rua. Os xaropes e gotas à base de codeína só podem ser vendidos nas farmácias brasileiras coma apresentação da receita do médico, que fica retida para posterior controle. Isto nemsempre acontece. Efeitos físicos e psíquicos A codeína, quando tomada em doses maiores do que a terapêutica, produz uma acentuada depressão das funções cerebrais. Como conseqüência, a pessoa fica apática, a pressão do sangue cai muito, o coração funciona com grande lentidão e a respiração torna-se muito fraca. A pele fica fria, pois a temperatura do corpo diminui, e meio azulada, por respiração insuficiente. A pessoa pode ficar em estado de coma, inconsciente, e se não for tratada, pode morrer. A codeína leva rapidamente o organismo a um estado de tolerância. Assim, não é incomum saber-se de casos de pessoas que tomam vários vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentindo os mesmos efeitos. E, se deixam de tomar a droga, já estando dependentes, aparecem os sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios, cãibras, cólicas, nariz escorrendo, lacrimejamento, inquietação, irritabilidade e insônia são os sintomas mais comuns da abstinência. Com o ziprepol há, também, o fenômeno da tolerância, embora em intensidade menor. O pior aspecto do uso crônico (repetido), dos produtos à base de ziprepol, é a possibilidade da ocorrência de convulsões. Nomes comerciais Belacodid, Belpar, Benzotiol, Codelasa, Gotas Binelli, Naquinto, Pastilhas Veabon, Pastilhas Warton, Setux, Tussaveto, Tussodina, Tylex (substância ativa: codeína). Eritós, Nantux, Silentós, Tussiflex (substância ativa: zipeprol). Uso terapêutico: antitussígeno e analgésico (codeína); antussígeno (zipeprol) Morfina Aspectos históricos e culturais: A morfina é a mais conhecida das várias substâncias existentes no pó de ópio. A palavra morfina vem do deus da mitologia grega Morfeu, deus dos sonhos. Foi isolada em 1806, sendo uma das mais potentes drogas analgésicas. Após a constatação das desastrosas conseqüências do seu largo emprego, a morfina foi relegada a umplano secundário em medicina. Os mecanismos de fiscalização sobre a sua produção e comercialização são severos. Só está disponível em soluções injetáveis e comprimidos, e seu uso é restrito a algumas situações médicas onde se impõe o uso de um analgésico potente (como câncer, queimaduras extensas, grandes traumatismos). Efeitos físicos e psíquicos Os efeitos agudos da morfina são semelhantes aos do ópio, mas mais potentes. Tolerância e dependência também se instalam rapidamente. O dependente de morfina vive em um estado de torpor e insensibilidade. A síndrome de abstinência é muito grave, acompanhada de intensa angústia, tremores, diarréia, suores e cãibras. A hospitalização é sempre uma imposição nos tratamentos de desintoxicação. A droga nunca é retirada bruscamente, havendo necessidade de se estabelecer um programa de retirada progressiva da droga ou sua substituição por derivados sintéticos mais seguros. Nome comercial: morfina, sulfato de morfina. Heroína Aspectos históricos e culturais: Obtida a partir da morfina, é muito mais potente do que ela. Conhecida como a "rainha das drogas" por causa de seus efeitos, foi sintetizada em 1874, em Berlim. A palavra heroína vem do termo "heroich" que, em alemão, significa potente, enérgico. De início, foi preconizada como substituta da morfina e chegou a fazer parte dos medicamentos analgésicos, antitussígenos e hipnóticos. Hoje em dia, não temqualquer indicação médica. Na sua forma pura, é um pó branco e amargo. Vendida clandestinamente, tem coloração que varia do branco ao marrom escuro, por causa das impurezas deixadas pelos processos primitivos de obtenção ou pela presença de talco, açúcar, corantes químicos, leite em pó etc. A via de administração preferida pelos usuários de heroína é a endovenosa. Pode ser também aspirada ou fumada. O comércio ilegal da heroína representa um dos segmentos mais importantes e rentáveis do tráfico de drogas. A produção e a distribuição estão sempre ligadas as grandes organizações clandestinas. O uso de heroína é raro no Brasil. Por outro lado, os Estados Unidos vivem uma situação epidêmica, cujo início se localiza por volta da metade da década de 60, coincidindo como envolvimento dos americanos na Guerra do Vietnã. Milhares de soldados adquiriram o hábito de tomar heroína junto às populações do sudeste asiático. Foi grande a quantidade de jovens que retornou da guerra dependente. A grande dificuldade em ajudar os dependentes de heroína levou vários países a criar os programas de "manutenção pela metadona" - opióide sintetizado por químicos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, em resposta à escassez de morfina. A metadona é utilizada no tratamento dos dependentes de heroína. Não desenvolve tolerância e o seu efeito pode durar até quatro vezes mais que os efeitos de outros opiáceos. Efeitos físicos e psíquicos Os efeitos agudos são semelhantes aos obtidos com os outros opiáceos: torpor e tonturas misturados com um sentimento de leveza e euforia. As primeiras doses podemprovocar náuseas e vômitos. Depois de instalada a dependência, há necessidade de ministrá-la mais vezes a fim de prevenir os desprazeres da abstinência: cólicas, angústia, dores pelo corpo, letargia, apatia e medo. A tolerância instala-se rapidamente. A repetição das doses nada mais faz a não ser aliviar estes sintomas. ESTIMULANTES DO SNC
  • 8. 8 Os Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que aumentam a atividade do cérebro. Ou seja, estimulam o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique mais "ligada", "elétrica", sem sono. Este grupo de substâncias é tambémchamado de psicoanalépticos, nooanalépticos, timolépticos. As substâncias que compõem o grupo de Estimulantes do SNC são: I. Cafeína Aspectos históricos e culturais: A forma pura da cafeína foi extraída das plantas em 1820, mas atualmente pode ser produzida em laboratório. Em nosso dia-a-dia a encontramos em pequenas quantidades por meio do café, do chá preto, chá mate, guaraná, coca-cola ou da noz de cola. Café: Infusão feita das sementes do cafeeiro, o café é a bebida que contém cafeína mais consumida no mundo. O cafeeiro é originário da Etiópia, tendo chegado à Arábia no século XIII e à Turquia no século XVI. Mas é somente com sua chegada à Itália, no princípio do século XVII, que se dá sua grande expansão, pois começaram a surgir, desde então, casas de café por toda Europa, servindo de local de encontro e discussões sérias. Na segunda metade do século XVII, o café chegou à América. Antes de ser consumido da maneira que conhecemos, o café, há cerca de 700 anos, foi uma comida, depois vinho e também remédio. No século XVII, em vários condados da Alemanha e na Rússia Czarista, consumidores de café foram condenados à morte. Tendo se popularizado comsua chegada à Europa, foram os Estados Unidos, após sua independência, que se tornaram o principal consumidor mundial, respondendo hoje pelo consumo de cerca de 1/3 (um terço) do café cultivado no mundo. O Brasil entra, por sua vez, na estatística do café com o primeiro lugar entre os produtores, vindo acompanhado da Colômbia, detentora do segundo. É também cultivado em Java, Sumatra, Índia, Arábia, África Equatorial, Hawaí, México, Antilhas, América Central e outros países da América do Sul. Chá ou chá preto: A primeira referência ao chá na literatura chinesa data de 350 d.C.. De origem chinesa, a lenda remete sua descoberta ao imperador Chen Nung, no ano 2737 a.C.. Tendo se difundido no Japão e outros países orientais, chegou à Europa por volta de 1600, através de mercadores vindos do Oriente. No século XVII, o chá consolidou -se como a bebida nacional da Grã-Bretanha. Na segunda metade desse mesmo século, chegou às colônias americanas. Em 1767, o governo britânico passou a cobrar uma taxa pelo chá ali consumido. Esta taxa foi um dos temas explorados pela resistência anticolonialista na guerra de independência dos Estados Unidos. Atualmente, o principal consumidor mundial é a Grã - Bretanha, vindo logo em seguida os Estados Unidos. Na produção, o primeiro lugar é da Índia, com a China em segundo. O chá também é produzido no Japão, Sri Lanka, ex União Soviética, Indonésia, Turquia, Bangladesh, Irã, Taiwan, vários países da África e América do Sul, inclusive Brasil. Erva mate: Nativa da América do Sul, contém relativamente, uma grande quantidade de cafeína. É consumida principalmente como chá ou chá mate, ou chimarrão, bebida popular dos pampas, ou tererê este aqui popular no Paraguai. A cultura da erva mate é uma grande indústria no sul do Brasil, no Uruguai e Argentina, sendo deles exportada em grande quantidade para toda a América do Sul. Guaraná: Fruto do guaranazeiro, arbusto trepador originário do estado do Amazonas, seu cultivo foi in iciado pelos índios Maues. Esses objetivavamcomo seu consumo realizar trabalhos físicos mais cansativos. O consumo era feito através de dissolução do pó do guaraná em água. O homem branco teve o primeiro contato com o guaraná por volta do século XVI. É comum encontrarmos hoje refrigerantes com nome guaraná, mas esses são normalmente feitos com sabor artificial. Outra forma comum de consumo, que se assemelha à dos índios Maues, vincula o guaraná à idéia de um produto natural, sendo um produto, nesse caso, pouco popular. Efeitos físicos e psíquicos A cafeína é uma droga estimulante consumida por via oral, que em pequenas quantidades aumenta a circulação por provocar dilatação dos vasos sangüíneos. Pode, em dose excessiva, produzir excitação, insônia, dores d e cabeça, taquicardia, problemas digestivos e nervosismo. Alguns a usam para resolver problemas cardíacos, auxiliar pessoas com depressão nervosa decorrente do uso do álcool, ópio e outras drogas. Porém alguns estudiosos não observam nenhum uso terapêutico na cafeína, alertando para o perigo da dependência psíquica e da síndrome de abstinência. II. Nicotina Aspectos históricos e culturais: Planta originária do continente americano, o tabaco já era fumado pelos índios desde antes da chegada dos colonizadores europeus. Este hábito, como os demais de mascá-lo ou aspirá-lo, foi sendo adquirido também pelos viajantes europeus que vinham à América. Foi somente em 1560 que o uso do tabaco veio a tomar grande impulso na Europa, a partir da propaganda de Jean Nicot - diplomata francês cujo nome originou a palavra nicotina - de que ela possuía "maravilhosos poderes curativos". Foi Nicot que introduziu o seu uso na França. Com o passar do tempo, o hábito de fumar tabaco havia se propagado e, no século XVII, já era um vício generalizado emtoda Europa, alcançando tambéma África e Ásia. O tabaco perde, contudo, sua auréola de "remédio para todos os males" restringindo seu uso à população de baixa renda. Mas aos poucos vai ganhando o gosto da nobreza e da burguesia e, por fim, no início do século XVIII, é um dos maiores valores de comércio internacional. O cachimbo no século XVII, o rapé e o hábito de mascar no século XVIII, assim como o charuto no século XIX, foram formas muito comuns do uso do tabaco nas respectivas épocas. Mas a grande "democratização" do consumo de tabaco veio a acontecer no século XX, com a expansão do hábito de fumar cigarro. Originário dos "papeletes" ou "papelitos" espanhóis do século XVII e do "cigarette" francês do século XIX, o cigarro se popularizou de forma impressionante no século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Apesar de existirem vozes se opondo ao uso do tabaco, este sofreu uma expansão constante e crescente. Somente na década de 60, com a revelação dos cientistas de que o cigarro provoca câncer no pulmão e outros males, é que se deu início a uma campanha contra seu uso. Certos grupos tomam esta campanha como uma verdadeira "cruzada".
  • 9. 9 Efeitos físicos e psíquicos Consumida por via oral ou nasal, a nicotina, componente do tabaco, é considerada uma droga estimulante. Não possui nenhum efeito terapêutico, provocando dependência física e psíquica. Provoca tolerância, ou seja, o organismo adapta-se a sua presença através de um processo biológico, e sujeita a síndromes de abstinência os indivíduos que param de fumar de uma maneira brusca. Entre as 4 mil substâncias existentes na fumaça do tabaco, a nicotina é a responsável pela dependência física, caracterizada por sintomas de irritabilidade, palpitação, tontura, ansiedade e fadiga. Aumento da pressão arterial, diminuição do fluxo sangüíneo para a pele, diminuindo a temperatura; Faringites, bronquites, falta de apetite; Perturbações da visão; Diversos tipos de câncer; Doenças cardiovasculares, angina, infarto. III. Anfetaminas Aspectos históricos e culturais: Sintetizada pela primeira vez em 1887, as anfetaminas são drogas estimulantes, ou seja, alteram nosso psiquismo, aumentando, estimulando ou acelerando o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso central. São drogas sintéticas, fabricadas em laboratório, não sendo, portanto, produtos naturais. Foi lançada no mercado farmacêutico na forma de um inalador indicado como descongestionante nasal, em 1932. Em 1937, iniciou -se o comércio de benzedrina, um comprimido para revigorar energias e elevar estados de humor. Foi usado, durante a Segunda Guerra Mundial, pelas tropas alemãs para combater a fadiga provocada pelo combate. Os Estados Unidos também permitiramseu uso na Guerra da Coréia. Por ser uma droga cujo uso terapêutico auxilia principalmente na moderação do apetite, são facilmente encontradas nas farmácias, que são obrigadas a vendê-las sob prescrição médica. Além de inibidoras de apetite, as anfetaminas podem, também, a partir de uma certa dosagem, provocar um estado de grande excitação e sensação de poder. Este uso se popularizou após a Segunda Guerra Mundial, na década de 50. Na gíria, estas drogas são conhecidas, por exemplo, como "rebite" e/ou "bolinha". "Rebite" é como são chamadas as anfetaminas entre os caminhoneiros. Tendo um prazo para entregar determinada mercadoria, eles tomam o "rebite", objetivando dirigir à noite e não pegar no sono, ficando "acesos" e "presos" ao volante. O uso entre jovens passou a ser também freqüente. Usadas com o nome de "bolinha", deixa m a pessoa "acesa", "ligadona", provocando um "baque". Procurando varar a noite estudando, uma pessoa pode usá-las com o objetivo de realizar esta tarefa por mais tempo, evitando o cansaço. Mais ou menos em l970, inicia -se o controle da comercialização - pois as anfetaminas passarama ser consideradas drogas psicotrópicas,sendo portanto ilegal seu uso semacompanhamento médico adequado. Efeitos físicos e psíquicos As anfetaminas provocamdependência física e psíquica, podendo acarretar, comseu uso freqüente, tolerância à droga, assim como a sua interrupção brusca, síndrome de abstinência. Consumidas por via oral ou injetadas, são consideradas psicotrópicos estimulantes, por induzir a um estado de grande excitação e sensação de poder, facilitando a exteriorização de impulsos agressivos e incapacidade de julgar adequadamente a realidade. O uso prolongado pode provocar forte dependência, sendo que no extremo podem surgir alucinações e delírios, sintomas denominados "psicose anfetamínica". Nomes comerciais Dualid, Inibex, Hipofagin, Moderine (substância ativa - dietilpropiona). Lipomax, Desobesi (substância ativa - fenpropex). Dasten, Absten, Moderamin, Fagolipo, Inobesin, Lipese, Diazinil (substância ativa - mazindol). Uso terapêutico: anorexígeno (medicamento utilizado para provocar a anorexia, que é aversão ao alimento). Pervitin (substância ativa: metanfetamina) - "ice" Ritaline (substância ativa: metilfenidato). Uso terapêutico: sistema hipercinético. Nomes populares: bolinha, bola, rebite, "ice". IV. Cocaína Aspectos históricos e culturais: É um produto extraído da planta Erythroxylon coca, ou, como é popularmente conhecida, coca ou epadu. Sendo uma planta tipicamente sul americana, é nativa dos Andes, onde mascar sua folhas, "coquear", é um habito tradicional que remonta vários séculos. Sua principal função é evitar a sede, a fome e o frio. Podemos encontrar, em algumas sociedades andinas, um valor cultural e mitológico ligado à coca. Em certas sociedades, por exemplo, é aplicada a folha no recém-nascido para secagemdo cordão umbilical - que depois é enterrado comas folhas, representando um talismã para o resto da vida do indivíduo. Em certas cerimônias funerais é usada, também, mediante certos rituais, como forma de apaziguar e tranqüilizar os espíritos. O papel sócio-cultural da coca é importante em alguns países andinos. Dois exemplos são o Peru e a Bolívia, onde é consumida também sob a forma de chá, com propriedades medicinais que auxiliam principalmente problemas digestivos. Sua importância é tal que neste primeiro país existe até um órgão do governo encarregado de controlar a qualidade das folhas vendidas no comércio, o "Instituto Peruano da Coca". Se em alguns países andinos a coca é um bem sócio-cultural, histórica e tradicionalmente importante, em outros países, como no Brasil, é vista como um "mal, algo a ser combatido e exterminado de qualquer maneira". A lei destes países procura taxar o seu uso como ilícito e a sociedade, emsua maioria, procura estigmatizar seus usuários como "desviantes" ou " marginais". O uso mais comum nestes casos é sob a forma de sal - o cloridrato de cocaína. É consumida via nasal, ou seja, aspirada, "cheirada". Por ser uma droga cara, seu uso é dificultado a pessoas de baixa renda. Se o "pó", como é popularmente conhecido o sal cloridrato de cocaína, é muito caro, favorecendo o seu uso pelas camadas mais altas da sociedade, o uso da coca tornou -se mais acessível à
  • 10. 10 população de baixa renda com o advento do "crack". Esta é uma forma de uso que surgiu nos Estados Unidos, e qu e começou a se difundir no Brasil, principalmente na periferia das grandes cidades. No crack, a substância usada é a pasta básica de coca ("freebasing", em inglês). A cocaína pode também ser injetada na corrente sangüínea. O "pico" como é conhecida esta fo rma de uso produz um efeito chamado de "rush" ou "baque". Efeitos físicos e psíquicos A cocaína provoca sensação de euforia e bem-estar, idéia de grandiosidade, irritabilidade e aumento da atenção a estímulos externos. Com o aumento da dose: reações de pânico, sensação de estar sendo perseguido, às vezes alucinações auditivas e táteis (escutar vozes, sentir sensação de bichos andando pelo corpo). O quadro completo é chamado de "psicose cocaínica". Intoxicação aguda: em intoxicação com doses mais altas, quadro de síndrome cerebral orgânica (SCO), caracterizado por confusão e desorientação, podendo resultar em lesão cerebral. Efeitos físicos: aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca podendo provocar infarto e arritmias que causam morte súbita. Menciona-se ocorrências de convulsões generalizadas e aumento da temperatura capaz de induzir convulsões. Coma aplicação endovenosa corre-se o risco de contrair-se os vírus do hepatite e da AIDS. Nomes populares: pó, neve, brisola, bright, branquinha, pico, crack, coca etc. PERTURBADORES DO SNC Os Perturbadores da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que modificam qualitativamente a atividade do cérebro. Ou seja, perturbam, distorcem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa passe a perceber as coisas deformadas, parecidas com as imagens dos sonhos. Este grupo de substâncias é tambem chamado de alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamórficos, alucinantes. As substâncias que compõem o grupo de Perturbadores do SNC são: I. Anticolinérgicos (Datura) Anticolinérgicos: diz-se das substâncias antagonistas da ação de fibras nervosas parassimpáticas que liberam acetilcolina. Ou seja, que inibema produção da acetilcolina. Aspectos históricos e culturais: Em 1866, um médico na Bahia descreveu um quadro apresentado por dois escravos: "Fui chamado a visitar estes doentes no dia seguinte, às 8 horas da manhã. Já podiam caminhar, mas estavam t rôpegos e hallucinados, vendo objectos himaginários, phantasmas, ratos a passear pela câmara, etc., de que procuravam fugir dirigindo -se para a porta. Ambos tinhamas pupilas dilatadas (...), a boca e fauces nada ofereciamde notável (...). Na panela que s ervira para fazer o cozimento, estavam dous ramos com muitas folhas e algumas flores rudimentares, de uma planta que reconheci ser a trombeteira (Datura arbórea, Lin)". Além dos medicamentos, as drogas anticolinérgicas podem ser de origem vegetal. Neste caso, a planta Datura arbórea sintetiza substâncias (atropina e/ou escopolamina) que produzem efeitos anticolinérgicos. Efeitos físicos e psíquicos Esta droga é capaz de produzir muitos efeitos periféricos. Assim, as pupilas ficam dilatadas, a boca seca e o coração pode disparar. Provoca retenção de urina e paralisia das funções intestinais. Produz delírios e alucinações, que dependem da personalidade e sensibilidade de quem ingeriu a substância. Esta droga não desenvolve tolerância no organismo e não há descrição de síndrome de abstinência. Em doses elevadas podem produzir grande elevação da temperatura (apresentação da pele muito seca e quente com vermelhidão principalmente no rosto e pescoço) que pode provocar convulsões. O número de batimentos cardíacos sobe exageradamente, podendo chegar até acima de 150 batimentos por minuto. Nomes populares: lírio, zabumba, trombeta, trombeteira, cartucho, véu de noiva, saia branca (substancia ativa - atropina, escopolamina) Uso terapêutico: usos estabelecidos para anticolinérgicos. II. Maconha Aspectos históricos e culturais: Maconha é o nome dado a uma planta chamada cientificamente de Cannabis sativa, conhecida há séculos e que cresce naturalmente em várias partes do globo podendo ser facilmente cultivada e encontrada em todos os continentes. Seu plantio foi incentivado durante muitos séculos devido à utilização de seus talos para a fabricação de cordas, fibras têxteis, palitos e até papel. Todavia, é das folhas, bem como de seus topos floridos, que se extrai a substância ativa THC Delta-9-Tetrahidrocanabinol. Os produtos da Cannabis sativa podem ser consumidos por via pulmonar (fumada) ou por via oral (comidos), como ocorre nas populações indígenas. Originária da Ásia Central, seus primeiros registros históricos são de mais de 200 anos a.C. na China, no Egito e na Índia. No segundo milênio a.C. era empregada com fins terapêuticos na China e descrita pelo imperador Shen Nung como analgésico. Seu emprego medicinal corresponde a uma longa tradição entre povos africanos e asiáticos, mas também já era utilizada como desinibidora: os gregos a usavam para liberar do corpo gases intestinais e para dor de ouvido; e os indianos, há 1000 anos a.C. a utilizavam para "libertar a mente de coisas mundanas". Seu consumo é tradição secular em alguns países, principalmente naqueles onde o consumo de álcool é proibido. Parece ter sido introduzida nas Américas pelos espanhóis, que fizeram as primeiras plantações no Chile, no século XVI. O hábito de fumar ou ingerir folhas e sementes da Cannabis é antigo, vinculado a práticas religiosas de muitos povos. Na segunda metade do século XIX, escritores e intelectuais franceses fornecem as primeiras descrições do uso recreativo desta preparação no Ocidente. Há séculos ele fazia parte do arsenal de medicina popular em vários países e, ao final do século XIX, fez parte de vários medicamentos produzidos por respeitáveis laboratórios farmacêuticos dos Estados Unidos. Era indicada como analgésico, antiespasmódico e dilatador dos brônquios. O interesse médico pela Cannabis diminui no início do século
  • 11. 11 XX em detrimento da morfina e dos barbitúricos, que ofereciam melhores resultados. Hoje em dia, seu emprego terapêutico é quase nenhum, mas atualmente, em função de pesquisas recentes, é reconhecida como medicamento em pelo menos duas condições clínicas: reduz ou abole as náuseas e vômitos produzidos por medicamentos anticâncer, e tem efeito benéfico em alguns casos de epilepsia. Em algumas partes da Ásia, os médicos ainda a utilizam no tratamento de algumas afecções. Considerada como "droga da moda" nos anos 60, no auge da contestação hippie (junto com o LSD-25), a maconha continua a ser muito fumada até hoje, em particular nas faixas jovens, mas perdeu o seu destaque em favor dos inalantes, nas classes desfavorecidas, e da cocaína, nas classes média e alta. Na Jamaica seu uso é popular. Conhecida como "ganja", é facilmente cultivada e produzida, embora o seu consumo seja considerado ilegal. Certas seitas atribuem-lhe poderes místicos e divinos, especialmente o de afastar os maus espíritos. O operário jamaicano encontra na ganja energia para trabalhar e relaxamento após o trabalho; oferece a droga, mesmo aos filhos, para que fiquem "mais inteligentes". Nessa população, fumar a ganja é um rito e não um fator de alienação ou desintegração social: seu uso constitui um complexo de crenças, atitudes e costumes compartilhados por toda a comunidade. O haxixe é uma mistura mais ativa, extraída da própria maconha. Enquanto a maconha contém 1% de THC, o haxixe contem até 14%. Pouco comum entre nós, é habitualmente reduzido a pó e misturado ao tabaco normal para ser fumado em cachimbo. É, em sua maior parte, produzido no norte da África, Paquistão, Nepal, Líbano e Turquia, sendo contrabandeado para os Estados Unidos e Europa, onde seu preço é elevado.A faixa da população que usa o haxixe é a mesma que usa a maconha, mas observa-se que a maconha é mais comum entre aqueles que estão iniciando-se no hábito ou que o fazem esporadicamente. O haxixe é mais encontrado entre aqueles já iniciados e fumantes contumazes, que necessitam doses mais potentes da droga. É moldado em pequenas barras ou bolos de cor marrom escura e seu óleo é bem mais potente. Diz-se que a palavra assassino parece originar-se do árabe "hashishin", designação dada a uma tribo do norte da Pérsia, na Idade Média, por volta do século XI, povoada por homens guerreiros altamente perigosos e temidos por sua grande crueldade. Sabia-se que seus homens eram "motivados" pelo consumo de certa substância despersonalizante, que os impelia ao barbarismo e delitos sádicos dos mais horrendos crimes. Do ponto de vista médico não há unanimidade, mas a maioria dos trabalho s leva a concluir que a maconha é uma droga que não causa dependência física e cujos malefícios não seriam maiores do que aqueles provocados pelo álcool e pelo tabaco. Efeitos físicos e psíquicos Podem ser físicos (ação sobre o próprio corpo ou parte dele) e psíquicos (ação sobre a mente). Esses efeitos sofrerão mudanças de acordo com o tempo de uso que se considera. Ou seja, os efeitos são agudos (isto é, quando ocorrem apenas algumas horas após fumar) e crônicos (conseqüências que aparecem após o uso continuado por semanas, meses ou mesmo anos). Os efeitos físicos agudos são muito poucos: os olhos ficam meio avermelhados, a boca fica seca e o coração dispara (de 60-80 batimentos por minuto pode chegar a 120-140 ou até mais). Os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. Para uma parte das pessoas, os efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, de diminuição da fadiga e vontade de rir. Para outras pessoas, os efeitos são mais desagradáveis: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o controle da cabeça, trêmulas e suando. É o que, comumente, chamam de "má viagem". Há ainda evidente perturbação na capacidade da pessoa calcular tempo e espaço, e umprejuízo da me mória e atenção. Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os efeitos psíquicos agudos podem chegar até a alterações mais evidentes, com predominância de delírios e alucinações. O delírio é uma manifestação mental pela qual a pessoa faz um juízo errado do que vê ou ouve. Neste caso, há mania de perseguição (delírios persecutórios). A mania de perseguição pode levar ao pânico e, consequentemente, a atitudes perigosas ("fugir pela janela", agredir as pessoas em"defesa" antecipada contra agressão que julga estar sendo tramada). Já a alucinação, que é uma percepção sem objeto, pode ter fundo agradável ou terrificante. Os efeitos físicos crônicos da maconha são maiores. Com o continuar do uso, vários órgãos do corpo são afetados . Os pulmões são um exemplo disso, levando a problemas respiratórios (bronquites), como ocorre também com o cigarro comum. Porém, a maconha contém alto teor de alcatrão (maior que no cigarro comum) e nele existe uma substância chamada benzopireno, conhecido agente cancerígeno. Ainda não está provado cientificamente que a pessoa que fuma maconha cronicamente está sujeita a contrair câncer dos pulmões com maior facilidade. Mas, os indícios de que assimpossa ser são cada vez mais fortes. Outro efeito físico indesejável do uso crônico da maconha refere-se à testosterona, ou hormônio masculino. Já existem muitas provas de que a maconha diminui em até 50-60% a quantidade de testosterona. Em conseqüência, o homem apresenta umnúmero bem reduzido de espermatozóides no líquido espermático, o que pode levar a uma infertilidade. Há ainda os efeitos psíquicos crônicos da maconha. Sabe-se que o uso continuado da maconha interfere na capacidade de aprendizagem e memorização e pode induzir um estado de amotivação. Além disso, a maconha pode levar algumas pessoas a um estado de dependência, isto é, elas passama organizar sua vida de maneira a facilitar o uso da maconha, sendo que tudo o mais perde o seu valor. Nomes mais conhecidos: maconha, haxixe, cânhamo, bangh, ganja, diamba, marijuana, marihuana. Nomes populares: baseado, erva, tora, beise, fumo, bagulho, fininho. III. Ayahuasca Aspectos históricos e culturais: O Daime é um chá extraído de duas plantas alucinógenas: do "cipó da vida" (Banisteriopsis Caapi) e de uma folha (Psychotria Viridis). Há referências, também, da utilização da planta Chacrona. Essas plantas, das quais se produz o chá, são utilizadas no ritual do Santo Daime ou do Culto da União do Vegetal e várias outras seitas. O cipó dá "força" e a folha, "luz". Estes rituais são bastantes difundidos no Brasil e cultuam as forças e os deuses das florestas. São praticados nas regiões Norte, (Amazônia e Acre), como também na região Centro Oeste, nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O ritual temorigemna sociedade das populações indígenas e mestiças da Amazônia Ocidental. Seu uso veio dos índios da América do Sul. O Daime é utilizado para rituais mágicos e religiosos, para receber orientação divina, para
  • 12. 12 comunicar-se com os espíritos que animam as florestas e, também, para determinar a causa de moléstias e cura, bem como produzir interação social através do ritual. As alucinações provocadas pelo chá são chamadas de "mirações". Uma das substâncias sintetizadas por essas plantas é a DMT - Dimetil-triptamina, responsável pelo seus efeitos. Efeitos físicos e psíquicos Provoca dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos. Perda da discriminação espaço-temporal, ilusões, alucinações e delírios. Não há desenvolvimento de tolerância; comumente, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência. Nomes populares: Natema, Yajé, Nepe, Caapi. É mais genericamente conhecida pelos índios Quechuas como "Ayahuasca" (ou huasca, ou hoasca), que significa "cipó dos espíritos" e "vinho da vida". Uso terapêutico: foi demonstrado cientificamente que os efeitos desse chá têm eficácia no combate a vermes e protozoários. IV. Cogumelo Psylocybe Aspectos históricos e culturais: Seu uso ritual é bastante antigo no México, onde ficou famoso, sendo utilizado pelos nativos daquela região desde antes de Cristo. Sabe-se que o "cogumelo sagrado" atualmente ainda é utilizado por bruxos, em seus rituais, e por alguns pajés. É chamado pelos índios astecas do México de "carne dos deuses", sendo considerado sagrado por certas tribos. Tem o nome científico de "Psylocybe mexicana" e dele pode-se extrair uma substância com forte poder alucinógeno: a psilocibina. No Brasil, temos pelo menos duas outras espécies de cogumelos alucinógenos: o "Psylocibe cubensis" e a espécie do gênero "Paneoulus". Efeitos físicos e psíquicos Os sintomas físicos são poucos salientes. Podem aparecer dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos. Não há desenvolvimento de tolerância. Também não induzemdependência e não ocorre síndrome de abstinência. Produzem alucinações e delírios. Estes efeitos são maleáveis e dependem de várias condições, como personalidade e sensibilidade do indivíduo. As alucinações podem ser agradáveis. Em outras ocasiões, os fenômenos mentais podem ser desagradáveis (visões terrificantes, sensações de deformação do próprio corpo). Pode tambémprovocar hilaridade e euforia. Um dos problemas preocupantes deste alucinógeno, bem como da Datura, Daime, Peyote e o LSD -25, é a possibilidade, felizmente rara, da pessoa ser tomada de um delírio persecutório, delírio de grandeza ou acesso de pânico e, em virtude disto, tomar atitudes prejudiciais a si e aos outros. Nomes populares: chá, cogú. Uso terapêutico: não reconhecido V. Cacto (Peyote) Aspectos históricos e culturais: Utilizado desde remotos tempos na América Central, em rituais religiosos indígenas, é originário desta mesma região. Este cacto mexicano (Lopophora williansi), que não existe no Brasil, produz a substância alucinógena mescalina. Peyote é seu nome popular, de origem asteca, que significa "planta divina". Carlos Castanheda, em seu livro "A Erva do Diabo", fala de uma experiência com o mescalito: "Abriu a tampa e entregou-me o vidro: dentro havia sete artigos de aparência estranha. Eram de tamanhos e consistência variados. Ao tato, pareciam a polpa de nozes ou superfície de cortiça. Sua cor acastanhada os fazia parecer cascas de nozes duras e secas." Era - e ainda é - empregado e venerado como amuleto, panacéia (remédio para todos os males) ou alucinógeno, nas regiões montanhosas do México, bem antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Por certos índios, era utilizado como remédio ou para visões que permitissem profecias. Ingerido em grupo pode servir como indutor de estados de transe durante certas atividades rituais. Os astecas o mascavam durante festividades comunitário-religiosas. O mescalito é considerado como protetor espiritual, pois acredita -se que ele aconselha e responde a todas as perguntas que você fizer. Efeitos físicos e psíquicos Dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos. Alucinações e delírios. Essas reações psíquicas são variáveis; às vezes são agradáveis (boa viagem) ou não (má viagem), onde podemocorrer visões terrificantes, como sensações de deformação do próprio corpo. Não há desenvolvimento de tolerância, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência com o cessar do uso. Nomes populares: peyote, peyotl, peiote, mescal, mescalito. Uso terapêutico: não reconhecido. VI. LSD-25 Aspectos históricos e culturais: O LSD-25 (abreviação de Dietilamida do Ácido Lisérgico), é uma substância sintética fabricada em laboratório. Foi inventado em 1943 por um cientista suíço, Albert Hoffman, que estudava alcalóides (substâncias encontradas nos vegetais) extraídos de fungos que atacam o centeio e cereais. Este cientista trabalhava com os alcalóides da ergotina, sobretudo a Dietilamida do Ácido Lisérgico, substância que ele próprio, cinco anos antes (1938), havia composto a partir da associação experimental da Dietilamida do Ácido Lisérgico-25 e cuja fórmula final resultou no tratamento de destro- dietilamida do ácido lisérgico-25 (este nome indica que, além da combinação química básica, a droga desvia a luz polarizada para a direita - destro -, é solúvel na água e foi a vigésima quinta de uma série de anotações experimentais). Esta substância foi ingerida acidentalmente pelo cientista, ao aspirar pequeníssima quantidade de pó, num descuido de laboratório, provocando estranhos efeitos como distorções visuais, perceptuais e alucinações. Eis o que ele descreveu: "Os objetos e o aspecto dos meus colegas de laboratório pareciam sofrer mudanças ópticas. Não conseguindo me concentrar em meu trabalho, num estado de
  • 13. 13 sonambulismo, fui para casa, onde uma vontade irresistível de me deitar apoderou-se de mim. Fechei as cortinas do quarto e imediatamente caí em um estado mental peculiar semelhante à embriaguez, mas caracterizado por uma imaginação exagerada. Com os olhos fechados, figuras fantásticas de extraordinária plasticidade e coloração surgiram diante de meus olhos." Em 1960, apareceram os primeiros relatos do uso do LSD-25 entre jovens e adultos, influenciados pelo movimento hippie. Em 1968, o LSD-25 foi proibido, mas continuou sendo produzido em laboratórios clandestinos. Normalmente, o LSD-25 é encontrado em minúsculos pedaços de papel, "selos" embebidos da substância. Esporadicamente sabe-se do uso de LSD-25 no Brasil, principalmente por pessoas das classes mais favorecidas. O Ministério da Saúde do Brasil não reconh ece nenhum uso terapêutico do LSD-25 (e de outros alucinógenos) e proíbe totalmente a produção, comércio e uso do mesmo no território nacional. Efeitos físicos e psíquicos O LSD-25 produz uma série de distorções no funcionamento do cérebro, alterando as funções psíquicas. Tais alterações dependem muito da sensibilidade da pessoa, do seu estado de espírito no momento em que tomou a droga e do ambiente em que se deu a experiência. As alucinações, tanto visuais quanto auditivas, podem trazer satisfação (boa viagem) ou deixar a pessoa extremamente amedrontada (má viagem, "bode"). Outro aspecto refere-se aos delírios. Estes são chamados juízos falsos da realidade, isto é, há uma realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de avaliá -lo corretamente, podendo desencadear tambémestados psicóticos como pânico e sentimentos paranóicos. O LSD-25 produz poucos efeitos no resto do corpo. A pulsação pode ficar mais acelerada, as pupilas podem ficar dilatadas, além de ocorrer sudoração e certa excitação. São raros os casos de convulsão. Mesmo as doses muito fortes não chegam a intoxicar seriamente a pessoa do ponto de vista físico. Não leva comumente a estado de dependência e não há descrição de síndrome de abstinência. A tolerância desenvolve-se muito rapidamente, mas também há desaparecimento rápido da mesma como parar do uso. O perigo do LSD-25 está no fato de que, pela perturbação psíquica, há perda da habilidade de perceber e avaliar situações comuns de perigo. Há descrições de casos de comportamento violento e de pessoas que, após tomarem o LSD-25, passarama apresentar por longos períodos depressão ou mesmo acessos psicóticos. O "flashback" é uma variante dos efeitos em longo prazo - semanas ou até meses após a sua utilização, a pessoa passa repentinamente a ter todos os sintomas psíquicos daquela experiência anterior, sem ter tomado de novo a droga. Nomes populares: ácido Fontes: Tecido Nervoso – Faculdade de Biologia, USP de São Carlos. Psicotrópicos – Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo - IMESC