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APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior
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PORTUGUÊS
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Elementos constitutivos
Texto narrativo
 As personagens: São as pessoas, ou seres,
viventes ou não, forças naturais ou fatores
ambientais, que desempenham papel no desenrolar
dos fatos.
Toda narrativa tem um protagonista que é a
figura central, o herói ou heroína, personagem
principal da história.
O personagem, pessoa ou objeto, que se
opõe aos designos do protagonista, chama-se
antagonista, e é com ele que a personagem principal
contracena em primeiro plano.
As personagens secundárias, que são
chamadas também de comparsas, são os figurantes
de influencia menor, indireta, não decisiva na
narração.
O narrador que está a contar a história
também é uma personagem, pode ser o protagonista
ou uma das outras personagens de menor
importância, ou ainda uma pessoa estranha à
história.
Podemos ainda, dizer que existem dois tipos
fundamentais de personagem: as planas: que são
definidas por um traço característico, elas não
alteram seu comportamento durante o desenrolar
dos acontecimentos e tendem à caricatura; as
redondas: são mais complexas tendo uma
dimensão psicológica, muitas vezes, o leitor fica
surpreso com as suas reações perante os
acontecimentos.
 Sequência dos fatos (enredo): Enredo é a
sequência dos fatos, a trama dos acontecimentos e
das ações dos personagens. No enredo podemos
distinguir, com maior ou menor nitidez, três ou quatro
estágios progressivos: a exposição (nem sempre
ocorre), a complicação, o clímax, o desenlace ou
desfecho.
Na exposição o narrador situa a história
quanto à época, o ambiente, as personagens e
certas circunstâncias. Nem sempre esse estágio
ocorre, na maioria das vezes, principalmente nos
textos literários mais recentes, a história começa a
ser narrada no meio dos acontecimentos (“in
média”), ou seja, no estágio da complicação quando
ocorre e conflito, choque de interesses entre as
personagens.
O clímax é o ápice da história, quando ocorre
o estágio de maior tensão do conflito entre as
personagens centrais, desencadeando o desfecho,
ou seja, a conclusão da história com a resolução dos
conflitos.
 Os fatos: São os acontecimentos de que as
personagens participam. Da natureza dos
acontecimentos apresentados decorre o gênero do
texto. Por exemplo o relato de um acontecimento
cotidiano constitui uma crônica, o relato de um
drama social é um romance social, e assim por
diante. Em toda narrativa há um fato central, que
estabelece o caráter do texto, e há os fatos
secundários, relacionados ao principal.
 Espaço: Os acontecimentos narrados
acontecem em diversos lugares, ou mesmo em um
só lugar. O texto narrativo precisa conter
informações sobre o espaço, onde os fatos
acontecem. Muitas vezes, principalmente nos textos
literários, essas informações são extensas, fazendo
aparecer textos descritivos no interior dos textos
narrativo.
 Tempo: Os fatos que compõem a narrativa
desenvolvem-se num determinado tempo, que
consiste na identificação do momento, dia, mês,
ano ou época em que ocorre o fato. A temporalidade
salienta as relações passado/presente/futuro do
texto, essas relações podem ser linear, isto é,
seguindo a ordem cronológica dos fatos, ou sofre
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inversões, quando o narrador nos diz que antes de
um fato que aconteceu depois.
O tempo pode ser cronológico ou psicológico.
O cronológico é o tempo material em que se
desenrola à ação, isto é, aquele que é medido pela
natureza ou pelo relógio. O psicológico não é
mensurável pelos padrões fixos, porque é aquele
que ocorre no interior da personagem, depende da
sua percepção da realidade, da duração de um dado
acontecimento no seu espírito.
 Narrador: observador e personagem: O
narrador, como já dissemos, é a personagem que
esta a contar a história. A posição em que se coloca
o narrador para contar a história constitui o foco, o
aspecto ou o ponto de vista da narrativa, e ele pode
ser caracterizado por :
- visão “por detrás” : o narrador conhece
tudo o que diz respeito às personagens e à história,
tendo uma visão panorâmica dos acontecimentos
narração é feita em 3a pessoa.
- visão “com”: o narrador é personagem e
ocupa o centro da narrativa que é feito em 1a
pessoa.
- visão “de fora”: o narrador descreve e narra
apenas o que vê, aquilo que é observável
exteriormente no comportamento da personagem,
sem ter acesso a sua interioridade, neste caso o
narrador é um observador e a narrativa é feita em 3a
pessoa.
 Foco narrativo: Todo texto narrativo
necessariamente tem de apresentar um foco
narrativo, isto é, o ponto de vista através do qual a
história está sendo contada. Como já vimos, a
narração é feita em 1a pessoa ou 3a pessoa.
Formas de apresentação da fala das
personagens
Discurso direto e indireto
O discurso direto identifica-se com a fala dos
personagens, quando o narrador está falando e
transfere suas falas às personagens, nesse
momento as personagens assumem o fio da
narrativa. Ocorre a introdução do verbo dizer e
outros sinônimos, e dos sinais específicos de
pontuação (:-).
Ex: O menino disse: - Hoje não quero ir à escola.
A mãe retrucou: - Não posso aceitar que você não
vá.
No discurso indireto, só o narrador fala pelos
personagens. Os sinais de pontuação são trocados
pela conjunção que, conservando-se o verbo dizer
ou seus sinônimos.
Ex: O menino disse que não queria ir à escola, a
mão retrucou que não poderia aceitar que ele não
fosse.
Na passagem do discurso direto para o indireto, os
verbos que estão no presente vão para o passado,
os que estão no passado vão para o mais-que-
perfeito, "isto aqui" vira "aquilo lá" e "esta" vira
"aquela".
Na passagem do indireto para o direto, fazemos o
caminho contrário.
Veja alguns exemplos:
Do direto para o indireto:
- A chuva veio logo, disse ele.
Ele disse que a chuva vinha logo.
- Estas memórias vão dar o que falar - admitia
esfregando as mãos contentes, ao reler esses
lances inéditos.
Admitia esfregando as mãos contentes, ao reler
aqueles lances inéditos, que aquelas memórias iam
dar o que falar.
Do indireto para o direto:
O marido perguntou se Diva queria café no quarto.
O marido perguntou:
- Quer café no quarto, Diva ?
Rodrigo perguntou se tu falaste com o Dr. Brandão.
Rodrigo perguntou:
- Falaste com o Dr. Brandão ?
Policarpo Quaresma me perguntou como ia a
família.
Policarpo Quaresma me perguntou:
- Como vai a família ?
Verbos de elocução
Observe o verbo grifado:
O pai chamou Carlinhos e perguntou:
- Quem quebrou o vidro, meu filho ?
Observe :
A . O pedreiro disse que estava à disposição.
B . O pedreiro disse: Estou à disposição.
Transformamos:
A - discurso indireto em B - discurso direto . Faça o
mesmo:
Observe:
A . Intrigado o pai perguntou ao filho:
Você viu ontem uma carteira em cima desta mesa
?
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B . Intrigado, o pai perguntou ao filho se ele vira, no
dia anterior, uma carteira em cima daquela mesa.
Transformamos: A - discurso direto em B - discurso
indireto.
O narrador empregou o verbo perguntar para indicar
a personagem a que pertence a fala. Denomina-se
verbo de elocução (verbos dicendi).
Veja agora uma relação dos principais verbos de
elocução:
dizer (afirmar, declarar) exclamar (gritar,
bradar)
perguntar (indagar,
interrogar)
pedir (solicitar, rogar)
responder ( retrucar,
replicar)
exortar (aconselhar)
contestar (negar,
objetar)
ordenar (mandar,
determinar)
Além desses verbos de sentido geral, existem
outros, mais amplos.. Veja alguns:
sussurar,
murmurar,
balbuciar,
cochichar,
segredar,
esclarecer,
sugerir,
soluçar,
comentar,
propor,
convidar,
cumprimentar,
repetir,
estranhar,
insistir,
prosseguir,
continuar,
ajuntar,
acrescentar,
concordar,
consentir,
anuir,
intervir,
repetir,
rosnar,
berrar,
protestar,
contrapor,
desculpar,
justificar-se,
suspirar,
rir,
etc.
Pontuação no discurso direto
A fala da personagem, no discurso direto, deve vir
disposta em parágrafo e introduzida por travessão.
Virou-se para o pai e aconselhou:
Papai, esse menino do vizinho é um subversivo
desgraçado.
Os verbos de elocução são pontuados de acordo
com sua posição.
1a posição
- antes da fala - separa-se por dois pontos :
O pai chamou Pedrinho e perguntou :Quem
quebrou o vidro, meu filho ?
2a posição
- depois da fala - separa-se por travessão ou
vírgula :
Agora você se chama Teresinha, disse me
beijando a face.
Agora você se chama Teresinha - disse me
beijando a face.
3a posição
- no meio da fala - separa-se por travessão ou
vírgula:
A Sociedade - afirmava Simão - tem
obrigação de fazer o enterro.
Nesse dia , observou Luís Garcia sorrindo
levemente, há de ser tão sincera como hoje.
(Machado de Assis)
Numa narrativa, nem sempre os verbos de elocução
estão expressos. Costuma-se omiti-los
principalmente em falas curtas ou para traduzir
tensão psicológica das personagens.
Utilização do discurso direto na produção de um
texto.
Seleção das falas mais significativas, isto é, as falas
pertinentes ao conflito básico vivido pelas
personagens. Não se deve ter a pretensão de retratar
fielmente a realidade, relatando tudo o que as
personagens poderiam ter dito.
Adequação das falas ao nível cultural das
personagens e principalmente ao registro linguístico.
Discurso indireto
Estabelece-se o discurso indireto, quando o
narrador, em vez de deixar a personagem falar,
reproduz com suas palavras o que foi dito, Exemplo:
Chamou um moleque e bradou-lhe que fosse à casa
do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e se não
estivesse em casa, perguntasse onde podia ser
encontrado(...)
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( Machado de
Assis)
Se o narrador reproduzisse diretamente a fala da
personagem, a construção do texto seria assim:
Chamou um moleque e bradou-lhe :
Vá a casa do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e
se não estiver em casa, pergunte onde pode ser
encontrado.
No discurso indireto, também podem estar presentes
verbos dicendi, mas seguidos de orações
substantivas, geralmente iniciadas com a conjunção
que ou se.
Na passagem do discurso direto para o indireto ou
vice-versa, importa observar algumas
transformações importantes:
discurso direto: primeira pessoa
Eles perguntaram : - O que devemos fazer ?
1) Discurso indireto: terceira pessoa
2) Eles perguntaram o que deviam fazer.
discurso direto: imperativo
O professor ordenou: - Façam o exercício !
1) Discurso indireto: pretérito imperfeito do
subjuntivo
2) O professor ordenou que fizéssemos o
exercício.
discurso direto: futuro do presente
A enfermeira explicou: - Com o medicamento, a
criança dormirá calmamente
discurso indireto: futuro do pretérito
A enfermeira explicou que, com o medicamento, a
criança dormiria calmamente.
discurso direto: presente do indicativo
Ela me perguntou : - A quem devo entregar o
trabalho ?
1) Discurso indireto : pretérito imperfeito do
indicativo
2) Ela me perguntou a quem devia entregar o
trabalho.
discurso direto: pretérito perfeito
Ele disse : - Estive na escola e falei com o diretor.
Discurso indireto: pretérito mais-que-perfeito
Ele disse que estivera na escola e falara com o
diretor.
Discurso indireto livre
Às vezes, no entanto, as falas do narrador e da
personagem parecem confundir-se numa só, sem
que se saiba claramente a quem elas pertencem,
Trata-se, neste caso, do discurso indireto livre.
Observe, por exemplo, esta passagem de Graciliano
Ramos, extraída do romance Vidas secas:
O suor umedeceu-lhe as mãos duras. Então ?
Suando com medo de uma peste que se escondia
tremendo ?
Note que a primeira frase pertence ao narrador,
porém as interrogações são da personagem;
entretanto, não há indicações dessa mudança
através de verbos dicendi, o que exclui também as
conjunções integrantes. Assim, a narrativa se torna
mais fluente, aproximando mais narrador e
personagem.
Texto Descritivo
Descrever é fazer uma representação verbal
dos aspectos mais característicos de um objeto, de
uma pessoa, paisagem, ser e etc.
As perspectivas que o observador tem do
objeto, é muito importante, tanto na descrição
literária quanto na descrição técnica, é esta atitude
que vai determinar a ordem na enumeração dos
traços característicos para que o leitor possa
combinar suas impressões isoladas formando uma
imagem unificada.
Uma boa descrição vai apresentando o objeto
progressivamente, variando as partes focalizadas e
associando-as ou interligando-as pouco a pouco.
Podemos encontra distinções entre uma
descrição literária e outra técnica. Passaremos a
falar um pouco sobre cada uma delas:
 Descrição Literária: A finalidade maior da
descrição literária é transmitir a impressão que a
coisa vista desperta em nossa mente através do
sentidos. Daí decorrem dois tipos de descrição: a
subjetiva, que reflete o estado de espírito do
observador, suas preferencias, assim ele descreve o
que quer e o pensa ver e não o que vê realmente; já
a objetiva traduz a realidade do mundo objetivo,
fenomênico, ela é exata e dimensional.
 Descrição de Personagem: É utilizada para
caracterização das personagens, pela acumulação
de traços físicos e psicológicos pela enumeração de
seus hábitos, gestos, aptidões e temperamento, com
a finalidade de situar personagem no contexto
cultural, social e econômico modelado de seu como
procedimento.
 Descrição de Paisagem: Neste tipo de
descrição, geralmente o observador abrange de uma
só vez a globalidade do panorama, para depois ao
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pouco em ordem de proximidade, abranger as partes
mais típicas desse todo.
 Descrição do Ambiente: Ela dá os detalhes
do interiores, dos ambientes em que ocorrem as
ações, tentando dar ao leitor uma visualização da
suas particularidades, de seus traços distintivos e
típicos.
 Descrição da Cena: Trata-se de uma
descrição movimentada que se desenvolve
progressivamente no tempo. É a descrição de um
incêndio, de uma briga, de um naufrágio.
 Descrição Técnica: Ela apresenta muitas
das características gerais da literatura, com a
distinção de que nela se utiliza um vocabulário mais
preciso, se salientando com exatidão os
pormenores. É predominantemente denotativa tendo
como objetivo esclarecer convencendo. Pode
aplicar-se a objetos, a aparelhos ou mecanismos, a
fenômenos, a fatos, a lugares, a eventos e etc.
Texto Dissertativo
Dissertar significa discutir, expor, interpretar
ideias. A dissertação consta de uma série de juízos a
respeito de um determinado assunto ou questão, e
pressupõe um exame critico do assunto sobre o qual
se vai escrever com clareza, coerência e
objetividade.
A dissertação pode ser argumentativa na qual
o autor tenta persuadir o leitor a respeito dos seus
pontos de vista, ou simplesmente, Ter com finalidade
dar a conhecer ou explicar certo modo de ver
qualquer questão.
A linguagem usada é a referencial, centrada,
na mensagem, enfatizando o contexto.
Quanto a forma, ela pode ser tripartida em :
 Introdução: Em poucas linhas coloca o leitor
os dados fundamentais do assunto que esta
tratando. É a enunciação direta e objetiva da
definição do ponto de vista do autor.
 Desenvolvimento: Constitui o corpo do
texto, onde as ideias colocadas na introdução serão
definidas com os dados mais relevantes. Todo
desenvolvimento devem estruturar-se em blocos de
ideias articuladas entre si, de forma que a sucessão
deles resulte num conjunto coerente e unitário que
se encaixa na introdução e desencadeia a
conclusão.
 Conclusão: É o fenômeno do texto,
marcado pela síntese da ideia central. Na conclusão
o autor reforça sua opinião, retomando a introdução
e os fatos resumidos do desenvolvimento do texto.
Para haver maior entendimento dos procedimentos
que podem ocorrer em um dissertação, cabe
fazermos a distinção entre fatos, hipótese e opinião.
- Fato: É o acontecimento ou coisa cuja
veracidade e reconhecida; é a obra ou ação que
realmente se praticou.
- Hipótese: É a suposição feita a cerca de
uma coisa possível ou não, e de que se tiram
diversas conclusões; é uma afirmação sobre o
desconhecido, feita com base no que já é conhecido.
- Opinião: Opinar é julgar ou inserir
expressões de aprovação ou desaprovação pessoal
diante de acontecimentos, pessoas e objetos
descritos, é um parecer particular sentimento que se
tem a respeito de algo.
Leia o texto a seguir:
Tem cada uma na vida
Jamais entenderei a moça me procurou para
fazer um pedido: queria (quer) ser artista de novela
das 7.
- Mais eu... - tentei informar. Ela não me
deixou concluir a frase:
- Até que não estou pedindo muito. Se pedisse
para novela das 8, iam dizer que era pretensão.
Também não desejo a novela das 6. Quando a gente
é modesta demais, botam pra escanteio.
- É, mas...
- Então eu acho que no meio está a virtude,
como gostava de falar o vovô. Vovô era entendido
em coisas mil. O senhor conheceu vovô? Ele foi um
cara importante no MEC.
- Devo Ter conhecido. Qual era o nome dele?
- Vovô Marreco. A gente chamava ele assim
porque tinha uma cara gozada, cara de marreco.
Uma ocasião... Bem, depois eu conto. O senhor vai
me ajudar, não vai?
Mas uma vez tentei explicar (não consegui)
que não tenho nada com televisão, apenas sou
amigo do Otton Lara Resende, na Rede Globo, e
não me consta que o Otton selecione artista. Mas a
moça prosseguia vivendo sonho, que não era sonho
era projeto amadurecido. Os pais aprovavam.
Mesmo que não aprovassem, estava decidida:
- Força do destino. Minha tia-avó fugiu de
casa para trabalhar na companhia de Leopoldo
Fróis. Naquele tempo não havia televisão imagine
como as opções eram limitadas. Minha mãe fez
parte do caste da novelas da Rádio Nacional deixou
o brodecaste para casar. Meu pai impôs condição.
Felizmente, evoluiu, hoje até faz gosto.
- E o namorado? – perguntei, desistindo de
esclarecer que ela batera à porta errada.
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- Namorado? Então o senhor acha que vou
pedir consentimento a namorado, para trabalhar em
novela? A gente tá em 1980, pô.
- Lá isso é.
- Inclusive meus namorados são todos
descartáveis. Não me amarro a nenhum, porque
meu futuro não está nos homens. Tá na arte.
- Muito bem.
- Não é que eu não queira negócio com
homem, veja bem. Deus me livre e guarde. Só que
minha vocação, minha carreira ficam acima de tudo.
- Você tem experiência?
- Que é que o senhor chama de experiência?
- Experiência mesmo. Já transou cinema,
teatro, expressão corporal, laboratório, essas
coisas?
Pensou para responder. Afinal:
- Sim e não.
- Sim e não, como?
- Quer dizer, transei com gente ligada, mas
não me deram chance para começar.
- E vai logo começar de novela?
- Olha, a base da novela hoje é naturalidade.
Sou muito natural, o senhor tá vendo como sou
natural. Se me contratarem eu tiro de letra. Aliás, eu
treino sozinha.
- Como?
- Eu ensaio lá em casas, no meu quarto. Já fiz
vários papeis, e não era papel mole, de figurante. fiz
uma cena da Glória Meneses, que se ela visse fica
boba de admiração. Não era para me gabar. Me
considero tarimbada.
- Ótimo.
- O tempo que eu passo estudando as atrizes
da tevê , não está no gibi. E só pra elas que olho.
Conheço tudo, olhar, franzir dos lábios, cara de
tristeza e cara de desejo de Maria Cláudia, Joana
Fomm, Lúcia Alves, Débora Duarte... Quer ver?
- Não precisa, minha filha. Eu acredito.
- Só uma amostrinha pra provar que não estou
mentindo.
- Está-se vendo que você não mente.
Obrigado.
- Pois é. Ou eu entro na novela da 7 –
qualquer novela, de qualquer época, eu sou como a
Lucélia Santos, papel de escrava, de estudante, de
garota fútil, eu topo – ou....
- Ou o quê?
- Sê não entrar, não sei o será de minha vida.
- Não diga isto!
- Digo. Minha vida depende do senhor, neste
momento. Uma palavrinha sua, e...
- E ?
- Tou contratada. Vamos, não me negue uma
colher de chá. Eu sei que você pode fazer isso por
mim. desculpe o tratamento, saiu sem querer. Por
que você não diz logo que vai me ajudar? Por que
não telefona logo pro pessoal da tevê? Por que ficou
assim, duro, engasgado, sei lá se descrente de
minhas possibilidades? Por que não confia em mim
? Diga, diga pelo amor de Deus! Você é ruim,
homem! Você é íntimo do Daniel Filho e não quer
mover uma palha em favor de uma pobre artista em
potencial!
- Tinha se levantado, no ardor da
interpretação, agitou os braços, deixou-se cair na
poltrona, exausta, pela primeira vez silenciosa. Só
então pude jurar-lhe, também por Deus, que não
conheço Daniel Filho. Olhou-me com desprezo:
- Ah, é assim? E por que não me falou isso
logo de começo? Me enganar esse tempo todo! E
eu, feito boba, falando com a pessoa errada! Tem
cada uma na vida....
ESTUDO DO TEXTO
Identifique no texto lido, os elementos da
narração estudados.
1 – Quem são os personagens?
2 – Qual o fato central da narrativa?
3 – Qual a natureza do fato contado?
4 – Onde acontecem os fatos narrados?
5 – Quando aconteceram os fatos?
6 – Como foi arrumado o enredo?
7 – Em que foco narrativo está o texto?
Respostas
1- As personagens são: o narrador e a moça
que quer ser atriz
2 – O narrador é procurado por uma moça
que deseja que ele a ajude a tornar-se atriz da
novela das sete.
3 – É um fato comum, cotidiano, que mostra a
influência da televisão sobre determinadas pessoas.
4 – Não aparecem no texto o lugar onde eles
conversaram.
5 – É conveniente observar que o texto está
no presente.
6 – Diante da paixão da garota pelo trabalho
em novelas, o narrador não consegue revelar que
ela está falando com o homem errado. Quando ele
revela que nada pode fazer por ela, a moça passa a
agredi-lo.
7 – O texto está na primeira pessoa do
singular.
Funções da Linguagem
Para melhor compreensão das funções de
linguagem, torna-se necessário o estudo dos
elementos da comunicação.
Elementos da comunicação
emissor - emite, codifica a mensagem
receptor - recebe, decodifica a mensagem
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mensagem - conteúdo transmitido pelo
emissor
código - conjunto de signos usado na
transmissão e recepção da mensagem
referente - contexto relacionado a emissor e
receptor
canal - meio pelo qual circula a mensagem
Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes
são também referentes e exercem influência sobre a
comunicação
Funções da linguagem
Função emotiva (ou expressiva)
centralizada no emissor, revelando sua
opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do
singular, interjeições e exclamações. É a linguagem
das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de
amor.
Função referencial (ou denotativa)
centralizada no referente, quando o emissor
procura oferecer informações da realidade. Objetiva,
direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do
singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e
livros científicos.
Função apelativa (ou conativa)
centraliza-se no receptor; o emissor procura
influenciar o comportamento do receptor. Como o
emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu
e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e
imperníveiativo. Usada nos discursos, sermões e
propagandas que se dirigem diretamente ao
consumidor.
Função fática
centralizada no canal, tendo como objetivo
prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar
a eficiência do canal. Linguagem das falas
telefônicas, saudações e similares.
Função poética
centralizada na mensagem, revelando
recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva,
sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se
as palavras, suas combinações. É a linguagem
figurada apresentada em obras literárias, letras de
música, em algumas propagandas etc.
Função metalinguística
centralizada no código, usando a linguagem
para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia,
da sua função e do poeta, um texto que comenta
outro texto. Principalmente os dicionários são
repositórios de metalinguagem.
Obs.: Em um mesmo texto podem aparecer
várias funções da linguagem. O importante é saber
qual a função predominante no texto, para então
defini-lo.
ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM AO TIPO DE
DOCUMENTO
Como instrução geral, podemos dizer que uma
hipótese interpretativa é aceitável sempre que o
texto apresenta pista ou pistas que a confirmam e
sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado.
“Aquela senhora tem um piano.
Que é agradável, mas não é o correr
dos rios.
Nem o murmúrio que as árvores
fazem...
Por que é preciso ter um piano?
O melhor é ter ouvidos
E amar a Natureza.”
Que simboliza o piano no poema?
Dentro do contexto que se insere o piano,
representa um bem cultural, o que se percebe pela
oposição que o texto estabelece entre o som do
piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio
das árvores (bens naturais). O poema descarta a
necessidade do piano, dando preferência à fruição
dos sons da Natureza.
O que é a linguagem?
É qualquer e todo sistema de signos que serve
de meio de comunicação de ideias ou sentimentos
através de signos convencionados, sonoros,
gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos
diversos órgãos dos sentidos, o que leva a
distinguirem-se várias espécies ou tipos: visual,
auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas,
constituídas, ao mesmo tempo, de elementos
diversos. Os elementos constitutivos da linguagem
são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras,
usados para representar conceitos de comunicação,
ideias, significados e pensamentos. Embora os
animais também se comuniquem, a linguagem
verbal pertence apenas ao Homem.
Não se devem confundir os conceitos de
linguagem e de língua. Enquanto aquela (linguagem)
diz respeito à capacidade ou faculdade de exercitar
a comunicação, latente ou em ação ou exercício,
esta última (língua ou idioma) refere-se a um
conjunto de palavras e expressões usadas por um
povo, por uma nação, munido de regras próprias
(sua gramática).
Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem
é função cerebral que permite a qualquer ser
humano adquirir e utilizar uma língua.
Por extensão, chama-se linguagem de
programação ao conjunto de códigos usados em
computação.
O estudo da linguagem, que envolve os signos, de
uma forma geral, é chamado semiótica. A linguística
é subordinada à semiótica porque seu objeto de
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estudo é a língua, que é apenas um dos sinais
estudados na semiótica.
A respeito das origens da linguagem humana, alguns
estudiosos defendem a tese de que a linguagem
desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com
as mãos. Posteriores alterações no aparelho
fonador, os seres humanos passaram a poder
produzir uma variedade de sons muito maior do que
a dos demais primatas.
De acordo com Kandel apesar das dificuldades de
se apontar com precisão quando ou como a
linguagem evoluiu há certo consenso quanto a
algumas estruturas cerebrais constituírem-se como
pré-requisitos para a linguagem e que estas
parecem ter surgido precocemente na evolução
humana. Segundo esse autor essa conclusão foi
atingida após exame dos moldes intracranianos de
fósseis humanos. Na maioria dos indivíduos o
hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem;
a área cortical da fala do lobo temporal (o plano
temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no
direito. Visto que os giros e sulcos importantes
deixam com frequência impressões no crânio, o
registro fóssil foi estudado buscando-se as
assimetrias morfológicas associadas à fala nos hu-
manos modernos. Essas assimetrias foram
encontradas no homem de Neanderthal (datando de
cerca de 30.000 a 50.000 anos) e no Homo erectus
(datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor
de nossa própria espécie.
Para que serve a linguagem?
(...)
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
(...)
Cecília Meireles.
Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética.
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442.
Esses versos foram extraídos do poema
“Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que
Cecília Meireles fala sobre o poder da palavra.
Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser
constituída de sons, é ao mesmo tempo
extremamente forte, porque, com seu significado,
derruba reis e impérios; serve para construir a
liberdade do ser humano e também para envenenar
a sua vida; serve para sussurrar declarações de
amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os
desejos mais grandiosos, mas também para
caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota.
- A linguagem é o traço definidor do ser humano,
é a aptidão que o distingue dos animais.
O provérbio popular “Palavra não quebra osso”,
contrapondo a palavra à ação, insinua que a
linguagem não tem nenhum poder: um golpe, mas
não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora
podemos desfazer facilmente essa visão simplista
das coisas, analisando para que serve a linguagem.
- A linguagem é uma maneira de perceber o
mundo.
“Este deve ser o bosque”, murmurou
pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm
nomes”. (...)
Ia devaneando dessa maneira quando chegou à
entrada do bosque, que parecia muito úmido e
sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse
enquanto avançava em meio às árvores, “depois de
tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do
quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar
do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo
das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a
mão no tronco da árvore. “Como é que essa coisa se
chama? É bem capaz de não ter nome nenhum...
ora, com certeza não tem mesmo!”
Ficou calada durante um minuto, pensando.
Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso
terminou acontecendo! E agora quem sou eu? Eu
quero me lembrar, se puder.
Lewis Carroll. Aventuras de Alice.
Trad. Sebastião Uchôa Leite.
3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166
Esse texto, reproduzido do livro “Através do
espelho e o que Alice encontrou lá”, mostra que a
protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas
não têm nome, é incapaz de apreender a realidade
em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso
significa que as coisas do mundo exterior só têm
existência para os homens quando são nomeadas. A
linguagem é uma forma de apreender a realidade: só
percebemos aquilo a que a língua dá nome.
Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja,
comenta essa questão na edição de 26 de junho de
2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”,
usada para traduzir o grau de confiabilidade de um
país entre credores ou investidores internacionais:
(...) As coisas não são coisas enquanto não são
nomeadas. O que não se expressa não se conhece.
Vive na inocência do limbo, no sono profundo da
inexistência. Uma vez identificado, batizado e
devidamente etiquetado, o “risco país” passou a
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existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é
possível dormir em paz num país submetido à
medição do perigo que oferece com a mesma
assiduidade com que a um paciente se tira a
pressão? É como viajar num navio onde se
apregoasse, num escandaloso placar luminoso,
sujeito a tantas oscilações como as das ondas do
mar, o “risco naufrágio”.
- A linguagem é uma forma de interpretar a
realidade.
O segundo projeto era representado por um plano de
abolir completamente todas as palavras, fossem elas
quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que,
sendo as palavras apenas nomespara as coisas,
seria mais conveniente que todos os homens trou-
xessem consigo as coisas de que precisassem falar
ao discorrer sobre determinado assunto (...).
...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano
de se expressarem por meio de coisas, cujo único
inconveniente residia em que, se um homem tivesse
que falar sobre longos assuntos e de vária espécie,
ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas
costas um grande fardo de coisas, a menos de poder
pagar um ou dois criados robustos para acompanhá-
lo (...).
Outra grande vantagem oferecida pela invenção
consiste em que ela serviria de língua universal,
compreendida em todas as nações civilizadas, cujos
utensílios e objetos são geralmente da mesma
espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode
ser facilmente percebido.
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver.
Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p.
194-195.
Esse trecho do livro “Viagens de Gulliver” narra um
projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as
palavras – que, no seu entender, têm o
inconveniente de variar de língua para língua – pelas
coisas. Quando alguém quisesse falar de uma
cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse
discorrer sobre uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc.
Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vul-
gares de que a compreensão da realidade
independe da língua que a nomeia, como se as
palavras fossem etiquetas aplicadas a coisas
classificadas independentemente da linguagem,
quando, na verdade, a língua é uma forma de
categorizar o mundo, de interpretá-lo.
O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios
de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das
coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato
de que as coisas não podem substituir as palavras,
porque a língua é bem mais que um sistema de de-
monstração de objetos ou mera cópia do mundo
natural. As coisas não designam tudo que uma
língua pode expressar.
Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua
inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua,
agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera,
banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao
mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a
ideia da classe fruta; não posso, então, expressar
ideias mais gerais. Não produzimos palavras
somente para designar as coisas, mas para
estabelecer relações entre elas e para comentá-las.
Mostrar um objeto não exprime as categorias de
quantidade, de gênero (masculino e feminino), de
número (singular e plural); não permite indicar sua
localização no espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não
é um sistema de demonstração de objetos, pois
permite falar do que está presente e do que está
ausente, do que existe e do que não existe; permite
até criar novas realidades, mundos não existentes.
A linguagem é uma atividade simbólica, o que
significa que as palavras criam conceitos, e eles
ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por
exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos
que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”,
uma vez que é a Terra que gira em torno dele.
Contudo esse conceito, criado pela linguagem,
determina uma realidade que nos encanta a todos.
Outro exemplo: apagar uma coisa escrita no
computador é uma atividade diferente de apagar o
que foi escrito a lápis, a caneta ou mesmo a
máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para
denominar essa nova realidade, dele
tar. No entanto, se essa palavra não existisse,
não perceberíamos a atividade de apagar no
computador como uma ação diferente de apagar o
que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma
nova invenção, uma nova ideia exigem novas
palavras, e estas é que lhes conferem existência
para toda a comunidade de falantes.
As palavras formam um sistema independente
das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada
língua pode ordenar o mundo de maneira diversa,
exprimir diferentes modos de ver a realidade. O
inglês, por exemplo, para expressar o que
denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep,
que designa o animal, e mutton, que significa a
carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em
português, dizemos as duas coisas numa palavra só:
Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está
apimentado, ou seja, não aplicamos a distinção que
os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua
visão de mundo. Isso mostra que a linguagem é uma
maneira de interpretar o universo natural e
segmentá-lo em categorias, segundo as
particularidades de cada cultura. Por essa razão, a
linguagem modela nossa maneira de perceber e de
ordenar a realidade.
A linguagem expressa também as diferentes
maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo
desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de
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porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você
derrubou o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe-se
que, na primeira formulação, não existe um
responsável pela queda e pela quebra do objeto. É
como se isso se devesse ao acaso. Na segunda
formulação, atribui-se a responsabilidade pelo
acontecimento a um agente.
- A linguagem é uma forma de ação.
Existem certas fórmulas linguísticas que servem
para agir no mundo. Quando um padre diz aos
noivos “Eu vos declaro marido e mulher”, quando
alguém diz “Prometo estar aqui amanhã”, quando
um leiloeiro proclama “Arrematado por mil reais”,
quando o presidente de alguma câmara municipal
afirma “Declaro aberta a sessão”, eles não estão
constatando alguma coisa do mundo, mas
realizando uma ação. O ato de abrir uma sessão
realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o
ato da promessa realiza-se quando se diz “Prometo”.
Em casos como esses, o dizer se confunde com a
própria ação e serve para demonstrar que a
linguagem não é algo sem consequência, porque ela
também é ação.
Funções da Linguagem
Quando se pergunta a alguém para que serve a
linguagem, a resposta mais comum é que ela serve
para comunicar. Isso está correto. No entanto,
comunicar não é apenas transmitir informações. É
também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas
para não haver silêncio. Para que serve a
linguagem?
- A linguagem serve para informar: Função
Referencial.
“Estados Unidos invadem o Iraque”
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-
nos sobre um acontecimento do mundo.
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos
na memória, transmitimos esses conhecimentos a
outras pessoas, ficamos sabendo de experiências
bem-sucedidas, somos prevenidos contra as
tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa.
Graças à linguagem, um ser humano recebe de
outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os.
Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis
aprender ciências com facilidade? Começai a
aprender vossa própria língua!” Com efeito, a
linguagem é a maneira como aprendemos desde as
mais banais informações do dia a dia até as teorias
científicas, as expressões artísticas e os sistemas
filosóficos mais avançados.
A função informativa da linguagem tem importância
central na vida das pessoas, consideradas
individualmente ou como grupo social. Para cada
indivíduo, ela permite conhecer o mundo; para o
grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos
e a transferência de experiências. Por meio dessa
função, a linguagem modela o intelecto.
É a função informativa que permite a realização do
trabalho coletivo. Operar bem essa função da
linguagem possibilita que cada indivíduo continue
sempre a aprender.
A função informativa costuma ser chamada também
de função referencial, pois seu principal propósito é
fazer com que as palavras revelem da maneira mais
clara possível as coisas ou os eventos a que fazem
referência.
- A linguagem serve para influenciar e ser
influenciado: Função Conativa.
“Vem pra Caixa você também.”
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada
a aumentar o número de correntistas da Caixa
Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da
propaganda a adotar esse comportamento,
formulou-se um convite com uma linguagem
bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma
vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de
venha, forma de terceira pessoa prescrita pela
norma culta quando se usa você.
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer
determinadas coisas, a crer em determinadas ideias,
a sentir determinadas emoções, a ter determinados
estados de alma (amor, desprezo, desdém, raiva,
etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela
atitudes, convicções, sentimentos, emoções,
paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a
palavra negro pronunciada em tom desdenhoso
aprende a ter sentimentos racistas; se a todo
momento nos dizem, num tom pejorativo, “Isso é
coisa de mulher”, aprendemos os preconceitos
contra a mulher.
Não se interfere no comportamento das pessoas
apenas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos
que nos influenciam de maneira bastante sutil, com
tentações e seduções, como os anúncios
publicitários que nos dizem como seremos bem
sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos
determinadas marcas, se consumirmos certos
produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça
expressas pela linguagem também servem para
fazer fazer.
Com essa função, a linguagem modela tanto bons
cidadãos, que colocam o respeito ao outro acima de
tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar
vantagem, e indivíduos atemorizados, que se deixam
conduzir sem questionar.
Emprega-se a expressão função conativa da
linguagem quando esta é usada para interferir no
comportamento das pessoas por meio de uma
ordem, um pedido ou uma sugestão. A palavra co-
nativo é proveniente de um verbo latino (conari) que
significa “esforçar-se” (para obter algo).
- A linguagem serve para expressar a
subjetividade: Função Emotiva.
“Eu fico possesso com isso!”
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Nessa frase, quem fala está exprimindo sua
indignação com alguma coisa que aconteceu. Com
palavras, objetivamos e expressamos nossos
sentimentos e nossas emoções. Exprimimos a revol-
ta e a alegria, sussurramos palavras de amor e
explodimos de raiva, manifestamos desespero,
desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas
vezes, falamos para exprimir poder ou para
afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos
certos políticos dizerem “A intenção do Fernando é
levar o país à prosperidade” ou “O Fernando tem
mudado o país”. Essa maneira informal de se
referirem ao presidente era, na verdade, uma
maneira de insinuarem intimidade com ele e,
portanto, de exprimirem a importância que lhes seria
atribuída pela proximidade com o poder. Inúmeras
vezes, contamos coisas que fizemos para
afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa
valentia ou nossa erudição, nossa capacidade
intelectual ou nossa competência na conquista
amorosa.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do
tom de voz que empregamos, etc., transmitimos uma
imagem nossa, não raro inconscientemente.
Emprega-se a expressão função emotiva para
designar a utilização da linguagem para a
manifestação do enunciador, isto é, daquele que
fala.
- A linguagem serve para criar e manter laços
sociais: Função Fática.
__Que calorão, hein?
__Também, tem chovido tão pouco.
__Acho que este ano tem feito mais calor do que
nos outros.
__Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.
Esse é um típico diálogo de pessoas que se
encontram num elevador e devem manter uma
conversa nos poucos instantes em que estão juntas.
Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio
poderia ser constrangedor ou parecer hostil.
Quando estamos num grupo, numa festa, não
podemos manter-nos em silêncio, olhando uns para
os outros. Nessas ocasiões, a conversação é
obrigatória. Por isso, quando não se tem assunto, fa-
la-se do tempo, repetem-se histórias que todos
conhecem, contam-se anedotas velhas. A
linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função
que não seja manter os laços sociais. Quando
encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo
bem?”, em geral não queremos, de fato, saber se
nosso interlocutor está bem, se está doente, se está
com problemas. A fórmula é uma maneira de
estabelecer um vínculo social.
Também os hinos têm a função de criar vínculos,
seja entre alunos de uma escola, entre torcedores de
um time de futebol ou entre os habitantes de um
país. Não importa que as pessoas não entendam
bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele
não tem função informativa: o importante é que, ao
cantá-lo, sentimo-nos participantes da comunidade
de brasileiros.
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão
função fática para indicar a utilização da linguagem
para estabelecer ou manter aberta a comunicação
entre um falante e seu interlocutor.
- A linguagem serve para falar sobre a própria
linguagem: Função Metalinguística.
Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”;
“Estou usando o termo ‘direção’ em dois sentidos”;
“Não é muito elegante usar palavrões”, não estamos
falando de acontecimentos do mundo, mas estamos
tecendo comentários sobre a própria linguagem. É o
que chama função metalinguística. A atividade
metalinguística é inseparável da fala. Falamos sobre
o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo
tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a
dos outros. Quando afirmamos como diz o outro,
estamos comentando o que declaramos: é um modo
de esclarecer que não temos o hábito de dizer uma
coisa tão trivial como a que estamos enunciando;
inversamente, podemos usar a metalinguagem como
recurso para valorizar nosso modo de dizer. É o que
se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o
padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se
não podem pescar”.
- A linguagem serve para criar outros universos.
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos
novos mundos, outras realidades. Essa é a grande
função da arte: mostrar que outros modos de ser são
possíveis, que outros universos podem existir. O fil-
me de Woody Allen “A rosa púrpura do Cairo” (1985)
mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta-
se a história de uma mulher que, para consolar-se
do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligidos pelo
marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras
vezes a um filme de amor em que a vida é
glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um
dia, ele sai da tela e ambos vão viver juntos uma
série de aventuras. Nessa outra realidade, os
homens são gentis, a vida não é monótona, o amor
nunca diminui e assim por diante.
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função
Poética.
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido
e os sons são formas de tornar a linguagem um
lugar de prazer. Divertimo-nos com eles.
Manipulamos as palavras para delas extrairmos sa-
tisfação.
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto
antropófago”, diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um
jogo com a frase shakespeariana “To be or not to
be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes,
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quando soube que uma mulher muito gorda se
sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez
o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um
banco quebrar por excesso de fundos”. A palavra
banco está usada em dois sentidos: “móvel comprido
para sentar-se” e “casa bancária”. Também está
empregado em dois sentidos o termo fundos:
“nádegas” e “capital”, “dinheiro”.
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões
diversas, com significados diferentes, nesta frase do
deputado Virgílio Guimarães:
“ACM bate boca porque está acostumado a
bater: bateu continência para os militares, bateu
palmas para o Collor e quer bater chapa em 2002.
Mas o que falta é que lhe bata uma dor de
consciência e bata em retirada.”
(Folha de S. Paulo)
Verifica-se que a linguagem pode ser usada
utilitariamente ou esteticamente. No primeiro caso,
ela é utilizada para informar, para influenciar, para
manter os laços sociais, etc. No segundo, para
produzir um efeito prazeroso de descoberta de
sentidos. Em função estética, o mais importante é
como se diz, pois o sentido também é criado pelo
ritmo, pelo arranjo dos sons, pela disposição das
palavras, etc.
Na estrofe abaixo, retirada do poema “A
Cavalgada”, de Raimundo Correia, a sucessão dos
sons oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear
dos cavalos:
E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...
Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª
ed.
Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos
Clássicos.
Observe-se que a maior concentração de sons
oclusivos ocorre no segundo verso, quando se
afirma que o barulho dos cavalos aumenta.
Quando se usam recursos da própria língua para
acrescentar sentidos ao conteúdo transmitido por
ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua
função poética.
Para melhor compreensão das funções de
linguagem, torna-se necessário o estudo dos
elementos da comunicação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era
desenvolvido de maneira “sistematizada” (alguém
pergunta - alguém espera ouvir a pergunta, daí
responde, enquanto outro escuta em silêncio, etc).
Exemplo:
Elementos da comunicação
- Emissor - emite, codifica a mensagem;
- Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
- Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
- Código - conjunto de signos usado na
transmissão e recepção da mensagem;
- Referente - contexto relacionado a emissor e
receptor;
- Canal - meio pelo qual circula a mensagem.
Porém, com os estudos recentes dos linguistas,
essa teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se
a conclusão que quando se trata da parole, entende-
se que é um veículo democrático (observe a função
fática), assim, admite-se um novo formato de
locução, ou, interlocução (diálogo interativo):
- locutor - quem fala (e responde);
- locutário - quem ouve e responde;
- interlocução - diálogo
As respostas, dos “interlocutores” podem ser
gestuais, faciais etc. por isso a mudança
(aprimoração) na teoria.
As atitudes e reações dos comunicantes são
também referentes e exercem influência sobre a
comunicação
Lembramo-nos:
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no
“eu” do emissor, é carregada de subjetividade.
Ligada a esta função está, por norma, a poesia lírica.
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de
mensagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de
que este assuma determinado comportamento; há
frequente uso do vocativo e do imperativo. Esta
função da linguagem é frequentemente usada por
oradores e agentes de publicidade.
- Função metalinguística: função usada quando a
língua explica a própria linguagem (exemplo:
quando, na análise de um texto, investigamos os
seus aspectos morfo-sintáticos e/ou semânticos).
- Função informativa (ou referencial): função usada
quando o emissor informa objetivamente o receptor
de uma realidade, ou acontecimento.
- Função fática: pretende conseguir e manter a
atenção dos interlocutores, muito usada em
discursos políticos e textos publicitários (centra-se
no canal de comunicação).
- Função poética: embeleza, enriquecendo a
mensagem com figuras de estilo, palavras belas,
expressivas, ritmos agradáveis, etc.
Também podemos pensar que as primeiras falas
conscientes da raça humana ocorreu quando os
sons emitidos evoluíram para o que podemos
reconhecer como “interjeições”. As primeiras ferra-
mentas da fala humana.
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo
que mais profundamente distingue o homem dos
outros animais.
Podemos considerar que o desenvolvimento desta
função cerebral ocorre em estreita ligação com a
bipedia e a libertação da mão, que permitiram o
aumento do volume do cérebro, a par do
desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica
facial
Devido a estas capacidades, para além da
linguagem falada e escrita, o homem, aprendendo
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pela observação de animais, desenvolveu a língua
de sinais adaptada pelos surdos em diferentes
países, não só para melhorar a comunicação entre
surdos, mas também para utilizar em situações
especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas
e não animais que se encontram fora do alcance do
ouvido, mas que se podem observar entre si.
Potencialidades da Linguagem
Depois de analisar as funções da linguagem,
conclui-se que ela é onipresente na vida de todos
nós. Cerca-nos desde o despertar da consciência,
ainda no berço, segue-nos durante toda a vida e
acompanha-nos até a hora da morte. Sem a
linguagem, não se pode estruturar o mundo do
trabalho, pois é ela que permite a troca de
informações e de experiências e a cooperação entre
os homens. Sem ela, o homem não pode conhecer-
se nem conhecer o mundo. Sem ela, não se exerce
a cidadania, porque os eleitores não podem
influenciar o governo. Sem ela não se pode
aprender, expressar os sentimentos, imaginar outras
realidades, construir as utopias e os sonhos. No
entanto, a linguagem parece-nos uma coisa natural.
Não prestamos muita atenção a ela. Nem sempre
dedicamos muito tempo ao seu estudo. Conhecer
bem a língua materna e línguas estrangeiras é uma
necessidade.
Que é saber bem uma língua? Evidentemente,
não é saber descrevê-la. A descrição gramatical de
uma língua é um meio de adquirir sobre ela um
domínio crescente. Saber bem uma língua é saber
usá-la bem. No entanto, o emprego de palavras
raras e a correção gramatical não são sinônimos do
uso adequado da língua. Falar bem é atingir os
propósitos de comunicação. Para isso, é preciso
usar um nível de língua adequado, é necessário
construir textos sem ambiguidades, coerentes, sem
repetições que não acrescentam nada ao sentido.
O texto que segue foi dito por um locutor
esportivo:
“Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino
a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre,
mola propulsora do eleven periquito.”
(Álvaro da Costa e Silva. In: Bundas, p.33.)
O que o locutor quis dizer foi: Entra em campo o
médico do Palmeiras a fim de cuidar da contusão de
Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia), jogador
de meio de campo do time do Parque Antártica.
Certamente, aquele texto não seria entendido pela
maioria dos ouvintes. Portanto não é um bom texto,
porque não usa um nível de língua adequado à
situação de comunicação. Outros exemplos:
“As videolocadoras de São Carlos estão
escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão
atende a uma portaria de dezembro de 1991, do
Juizado de Menores, que proíbe que as casas de
vídeo aluguem, exponham e vendam fitas
pornográficas a menores de 18 anos. A portaria
proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a
motéis e rodeios sem a companhia ou autorização
dos pais.”
(Jornal Folha do Sudoeste)
Certamente a portaria não deveria obrigar os
pais a acompanhar os filhos aos motéis nem a dar-
lhes uma autorização por escrito para ser exibida na
entrada desse tipo de estabelecimento.
O jornal da USP publicou uma série de textos
encontrados em comunicados de paróquias e
templos. Todos são mal escritos, embora neles não
se encontrem erros de ortografia, concordância, etc.:
- Não deixe a preocupação acabar com você.
Deixe que a Igreja ajude.
- Terça-feira à noite: sopão dos pobres, depois
oração e medicação.
- (...) lembre-se de todos que estão tristes e
cansados de nossa igreja e de nossa comunidade.
- Para aqueles que têm filhos e não sabem, nós
temos uma creche no segundo andar.
- Quinta-feira às 5h haverá reunião do Clube das
Jovens Mamães. Todos aqueles que quiserem se
tornar uma Jovem Mamãe, devem contatar padre
Cavalcante em seu escritório. (...)
(Jornal da USP, 9, p. 15)
Humor à parte, esses exemplos comprovam que
aprender não só a norma culta da língua, mas
também os mecanismos de estruturação do texto.
A palavra texto é bastante usada na escola e
também em outras instituições sociais que trabalham
com a linguagem. É comum ouvirmos expressões
como “O texto constitucional desceu a detalhes que
deveriam estar em leis ordinárias”; “Seu texto ficou
muito bom”; “O texto da prova de Português era
muito longo e complexo”; “Os atores de novelas
devem decorar textos enormes todos os dias”.
Apesar de corrente, porém, o termo não é de fácil
definição: quando perguntamos qual é o seu
significado, percebemos que a maioria das pessoas
é incapaz de responder com precisão e clareza.
Texto é um todo organizado de sentido, delimitado
por dois brancos e produzido por um sujeito num
dado tempo e num determinado espaço.
O texto é um todo organizado de sentido, isso quer
dizer que ele não é um amontoado de frases
simplesmente colocadas umas depois das outras,
mas um conjunto de frases costuradas entre si. Por
isso o sentido de cada parte depende da sua relação
com as outras partes, isto é, o sentido de uma
palavra ou de uma frase depende das outras
palavras ou frases com que mantêm relação. Em
síntese, o sentido depende do contexto, entendido
como a unidade maior que compreende uma
unidade menor, a oração é contexto da palavra, o
período é contexto da oração e assim
sucessivamente. O contexto pode ser explícito
(quando é exposto em palavras) ou implícito (quando
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é percebido na situação em que o texto é produzido).
Observe os três pequenos textos abaixo:
- Todos os dias ele fazia sua fezinha. Na noite de
segunda-feira sonhou com um deserto e jogou seco
no camelo.
- Nos desertos da Arábia, o camelo é ainda o
principal meio de transporte dos beduínos.
- O camelo aqui carrega a família inteira nas costas,
porque lá ninguém trabalha.
Em cada uma dessas frases a palavra camelo tem
um sentido diferente. Na primeira, significa “o oitavo
grupo do jogo no bicho, que corresponde ao número
8 e inclui as dezenas 29, 30, 31 e 32”; na segunda,
“animal originário das regiões desérticas, de grande
porte, quadrúpede, de cor amarelada, de pescoço
longo e com duas saliências no dorso”; na terceira,
“pessoa que trabalha muito”. O que determina essa
diferença de sentido da palavra é exatamente o
contexto, o todo em que ela está inserida. No texto,
portanto, o sentido de cada parte não é
independente, tudo são relações. Aliás, a palavra
texto significa “tecido”, que não é um amontoado de
fios, mas uma trama arranjada de maneira
organizada. O sentido não é solitário, é solidário.
Vejamos outros dois períodos:
- Marcelinho é um bom atacante, mas é
desagregador.
- Marcelinho é desagregador, mas é um bom
atacante.
Esses períodos relacionam diferentemente as
orações. No primeiro, a oração é “desagregador” é
introduzida por “mas”, enquanto no segundo é a
oração “é um bom atacante” que é iniciada por essa
conjunção. O sentido é completamente diferente,
pois o “mas” introduz o argumento mais forte e, por
conseguinte, determina a orientação argumentativa
da frase. Isso significa que, quando afirmo, “não
quero o jogador no meu time”; quando digo, “acredito
que todos os seus defeitos devem ser desculpados”.
Observe agora o poema “Canção do Exílio” de
Murilo Mendes:
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos de exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Poesias (1925-1953). Rio de Janeiro,
José Olympio, 1959, p. 5.
Tomando apenas os dois primeiros versos, pode-
se pensar que esse poema seja uma apologia do
caráter universalista e cosmopolita da brasilidade:
macieiras e gaturamos representam a natureza
vegetal e animal, respectivamente; Califórnia e
Veneza são a imagem do espaço estrangeiro, e
minha terra, a do solo pátrio. No Brasil, até a
natureza acolhe o que é estrangeiro.
Pode-se ainda acrescentar, em apoio a essa
tese, que esses versos são calcados nos dois
primeiros do poema homônimo de Gonçalves Dias,
que é uma glorificação da terra pátria:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
Apud: Manuel Bandeira.
Gonçalves Dias: Poesia. 7ª ed. Rio de Janeiro
Agir, 1976, p. 18. Coleção Nossos Clássicos.
Essa hipótese de leitura, se não é absurda
quando isolamos os versos em questão, não
encontra amparo quando os confrontamos com o
restante do texto. Murilo Mendes mostra, na
verdade, que as características da brasilidade não
têm valor positivo, não concorrem para a exaltação
da pátria: o poeta denuncia que a cultura brasileira é
postiça, é uma miscelânea de elementos advindos
de vários países. Ele mostra que os “poetas são
pretos que vivem em torres de ametista”, alienados
num mundo idealizado, evitando as mazelas do
mundo real, sem se preocupar com os negros, que
vivem, em geral, em condições muito precárias
(trata-se de uma referência irônica ao Simbolismo e,
principalmente, a Cruz e Sousa); que “os sargentos
do exército são monistas, cubistas”, ou seja, em vez
da preocupação com seu ofício de garantir a
segurança do território nacional, têm pretensões de
incursionar por teorias filosóficas e estéticas; que “os
filósofos são polacos vendendo a prestações”, são
prostituídos (polaca é termo designativo de
prostituta) pela venalidade barata; que “os oradores”
se identificam com “os pernilongos” em sua oratória
repetitiva; que o romantismo gonçalvino estava certo
ao afirmar que a natureza brasileira é pródiga, só
que essa prodigalidade não é acessível à maioria da
população. A exclamação do final é, ao mesmo
tempo, a manifestação do desejo de ter contato com
coisas genuinamente brasileiras e um lamento, pois
o poeta sabe que não se tornará realidade.
O texto de Murilo faz referência ao de Gonçalves
Dias, mas, diferentemente do poema gonçalvino,
não celebra ufanisticamente a pátria. Ao contrário,
ironiza-a, lamenta a invasão estrangeira. O exílio é a
própria terra, desnaturada a ponto de parecer
estrangeira.
Desse modo, os dois primeiros versos não podem
ser interpretados como um elogio ao caráter
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cosmopolita da cultura brasileira. Ao contrário,
devem ser lidos como uma crítica ao caráter postiço
da nossa cultura. Isso porque só a segunda
interpretação se encaixa coerentemente dentro do
contexto.
Por exemplo, comprova-se que o significado das
frases não é autônomo. Num texto, o significado das
partes depende do todo. Por isso, cada frase tem um
significado distinto, dependendo do contexto em que
está inserida.
Que é que faz perceber que um conjunto de frases
compõe um texto? O primeiro fator é a coerência, ou
seja, a compatibilidade de sentido entre elas, de
modo que não haja nada ilógico, nada contraditório,
nada desconexo. Outro fator é a ligação das frases
por certos elementos que recuperam passagens já
ditas ou garantem a concatenação entre as partes.
Assim, em “Não chove há vários meses. Os pastos
não poderiam, pois, estar verdes”, a palavra “pois”
estabelece uma relação de decorrência lógica entre
uma e outra frase. O segundo fator, entretanto, é
menos importante que o primeiro, pois mesmo sem
esses elementos de conexão, um conjunto de frases
pode ser coerente e, portanto, um todo organizado
de sentido.
Tipos de Linguagem
Linguagem é a capacidade que possuímos de
expressar nossos pensamentos, ideias, opiniões e
sentimentos. Está relacionada a fenômenos
comunicativos; onde há comunicação, há linguagem.
Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para
estabelecermos atos de comunicação, tais como:
sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais
convencionais (linguagem escrita e linguagem
mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a
linguagem pode ser classificada como qualquer
sistema de sinais que se valem os indivíduos para
comunicar-se.
A linguagem pode ser:
- Verbal: aquela que faz uso das palavras para
comunicar algo.
As figuras acima nos comunicam sua mensagem
através da linguagem verbal (usa palavras para
transmitir a informação).
- Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos
de comunicação, que não são as palavras. Dentre
elas estão a linguagem de sinais, as placas e sinais
de trânsito, a linguagem corporal, uma figura, a
expressão facial, um gesto, etc.
Essas figuras fazem uso apenas de imagens para
comunicar o que representam.
A Língua é um instrumento de comunicação,
sendo composta por regras gramaticais que
possibilitam que determinado grupo de falantes
consiga produzir enunciados que lhes permitam
comunicar-se e compreender-se. Por exemplo:
falantes da língua portuguesa.
A língua possui um caráter social: pertence a
todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir
sobre ela. Cada membro da comunidade pode optar
por esta ou aquela forma de expressão. Por outro
lado, não é possível criar uma língua particular e
exigir que outros falantes a compreendam. Dessa
forma, cada indivíduo pode usar de maneira
particular a língua comunitária, originando a fala. A
fala está sempre condicionada pelas regras
socialmente estabelecidas da língua, mas é
suficientemente ampla para permitir um exercício
criativo da comunicação. Um indivíduo pode
pronunciar um enunciado da seguinte maneira:
A família de Regina era paupérrima.
Outro, no entanto, pode optar por:
A família de Regina era muito pobre.
As diferenças e semelhanças constatadas
devem-se às diversas manifestações da fala de cada
um. Note, além disso, que essas manifestações
devem obedecer às regras gerais da língua portu-
guesa, para não correrem o risco de produzir
enunciados incompreensíveis como:
Família a paupérrima de era Regina.
Não devemos confundir língua com escrita, pois
são dois meios de comunicação distintos. A escrita
representa um estágio posterior de uma língua. A
língua falada é mais espontânea, abrange a
comunicação linguística em toda sua totalidade.
Além disso, é acompanhada pelo tom de voz,
algumas vezes por mímicas, incluindo-se
fisionomias. A língua escrita não é apenas a
representação da língua falada, mas sim um sistema
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mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta
com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz
do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a
língua portuguesa, mas existem usos diferentes da
língua devido a diversos fatores. Dentre eles,
destacam-se:
- Fatores Regionais: é possível notar a
diferença do português falado por um habitante da
região nordeste e outro da região sudeste do Brasil.
Dentro de uma mesma região, também há variações
no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul,
por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada
por um cidadão que vive na capital e aquela utilizada
por um cidadão do interior do estado.
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a
formação cultural de um indivíduo também são
fatores que colaboram para os diferentes usos da
língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de
uma maneira diferente da pessoa que não teve
acesso à escola.
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar
varia de acordo com a situação em que nos
encontramos: quando conversamos com nossos
amigos, não usamos os termos que usaríamos se
estivéssemos discursando em uma solenidade de
formatura.
- Fatores Profissionais: o exercício de algumas
atividades requer o domínio de certas formas de
língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em
termos específicos, essas formas têm uso
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de
engenheiros, químicos, profissionais da área de
direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas
e outros especialistas.
- Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes
sofre influência de fatores naturais, como idade e
sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma
maneira que um adulto, daí falar-se em linguagem
infantil e linguagem adulta.
Fala
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
individual, pois cada indivíduo, para a manifestação
da fala, pode escolher os elementos da língua que
lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade,
de acordo com a situação, o contexto, sua perso-
nalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc.
Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma
grande diversificação nos mais variados níveis da
fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala,
conhece também o que os outros falam; é por isso
que somos capazes de dialogar com pessoas dos
mais variados graus de cultura, embora nem sempre
a linguagem delas seja exatamente como a nossa.
Devido ao caráter individual da fala, é possível
observar alguns níveis:
- Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria
das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente
em situações informais. Esse nível da fala é mais
espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em
saber se falamos de acordo ou não com as regras
formais estabelecidas pela língua.
- Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente
utilizado pelas pessoas em situações formais.
Caracteriza-se por um cuidado maior com o
vocabulário e pela obediência às regras gramaticais
estabelecidas pela língua.
Signo
É um elemento representativo que apresenta dois
aspectos: o significado e o significante. Ao escutar
a palavra “cachorro”, reconhecemos a sequência de
sons que formam essa palavra. Esses sons se
identificam com a lembrança deles que está em
nossa memória. Essa lembrança constitui uma real
imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que
é o significante do signo “cachorro”. Quando
escutamos essa palavra, logo pensamos em um
animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos,
orelhas, etc. Esse conceito que nos vem à mente é o
significado do signo “cachorro” e também se
encontra armazenado em nossa memória.
Ao empregar os signos que formam a nossa
língua, devemos obedecer às regras gramaticais
convencionadas pela própria língua. Desse modo,
por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido
“um” diante do signo “cachorro”, formando a
sequência “um cachorro”, o mesmo não seria
possível se quiséssemos colocar o artigo “uma”
diante do signo “cachorro”. A sequência “uma
cachorro” contraria uma regra de concordância da
língua portuguesa, o que faz com que essa sentença
seja rejeitada. Os signos que constituem a língua
obedecem a padrões determinados de organização.
O conhecimento de uma língua engloba tanto a
identificação de seus signos, como também o uso
adequado de suas regras combinatórias.
Signo: elemento representativo que possui duas
partes indissolúveis: significado e significante.
Significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo
signo, a parte abstrata do signo) + Significante (é a
imagem sonora, a forma, a parte concreta do
signo, suas letras e seus fonemas).
Língua: conjunto de sinais baseado em palavras
que obedecem às regras gramaticais.
Fala: uso individual da língua, aberto à
criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de
expressão e compreensão.
Estudo do Significado
O papel essencial da linguagem, em quaisquer
das suas formas, é a produção de significado: ao se
relacionar com as coisas, o homem faz uso de sinais
que as representam.
A linguagem pode ser usada pelo homem para
múltiplas finalidades: para ajudá-lo a compreender a
si mesmo, o mundo físico e as pessoas que o
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rodeiam, para influenciar o outro e até para
trapacear, fingindo uma intenção para esconder
outra. A linguagem pode também manifestar-se sob
grande variedade de formas:
- Sons produzidos pela voz (linguagem verbal)
- Cores, formas e volumes (linguagem visual)
- Movimentos do corpo (linguagem corporal,
dança)
- Sons produzidos por instrumentos (linguagem
musical)
- Imagens em movimento (cinema), etc.
Para resumir, costumamos distinguir duas
grandes divisões para definir as formas de
linguagem:
- Linguagem Verbal: mais especificamente
constituída pela língua, seja ela oral, seja escrita.
- Linguagens não-verbais: constituídas por
todas as outras modalidades diferentes da língua:
pintura, escultura, música, dança, cinema, etc.
Hoje em dia, graças sobretudo à facilidade de
reprodução de sons, cores, movimentos e imagens,
é muito comum a exploração conjunta de várias
formas de linguagem: a linguagem do cinema e da
televisão é uma demonstração eloquente da
exploração conjunta de sons musicais e da voz
humana, de cores, de imagens em movimento.
Qualquer que seja a forma de manifestação, toda
linguagem tem um ponto em comum: nenhuma
opera com a realidade tal que ela é, mas com
representações da realidade. Dizendo de outra ma-
neira, toda linguagem é constituída de signos. E o
que são signos?
São qualquer forma material (sons, linhas, cores,
volumes, imagens em movimento) que representam
alguma coisa diferente dela mesma. Em outras
palavras, todo signo é constituído de algo material,
perceptível pelos órgãos dos sentidos (ouvido, olho)
e de algo imaterial, uma representação mental,
inteligível. A dimensão material do signo costuma ser
designada por dois nomes: plano de expressão ou
significante.
A dimensão imaterial e inteligível é chamada por
dois nomes: plano de conteúdo ou significado. Por
uma questão de simplificação, usaremos a seguinte
nomenclatura:
Signo: qualquer tipo de sinal material usado para
representar algo, isto é, tornar presente alguma
coisa ausente.
Uma árvore plantada no bosque não é um signo,
porque não passa de uma árvore, não representa
nada além de si mesma. Prova disso é que não
podemos trazer para este livro a árvore real, apenas
uma representação dela, formada de cores e formas
sobre uma superfície de papel.
Que o signo não passa de representação da
realidade é um tema que tem sido objeto de debate
entre os homens. O célebre pintor surrealista belga
René Magritte (1898-1967), pintou um cachimbo
com requintes de pormenores, dando a máxima
impressão de realismo. Surpreendentemente, num
jogo de ironia, escreveu abaixo da pintura a frase
Ceci n’est pás une pipe (“Isto não é um cachimbo”).
Aos que o contestavam, achando absurda a ideia de
negar que aquilo fosse um cachimbo, conta-se que
ele desafiava:
__ Então acenda-o e comece a fumá-lo.
Após essas considerações, vamos fazer duas
observações de ordem terminológica:
- a representação do cachimbo é um signo do
cachimbo, não o objeto cachimbo;
- ao objeto chamamos de referente, ou a coisa real.
Podemos, então, após esses dados, montar um
esquema daquilo que os estudiosos chamam de
signo:
Signo: é qualquer objeto, forma ou fenômeno
material que representa a ideia de algo diferente
dele mesmo.
Assim sendo, o signo apresenta três dimensões:
- Significante (ou plano de expressão): é a parte
material do signo (um objeto, uma forma ou um
fenômeno perceptível pelos sensores do corpo
humano).
- Significado (ou plano de conteúdo): é o conceito,
ou a forma mental criada no intelecto pelo
significante.
- Referente: é a coisa representada pelo signo. É
dado de realidade trazido à mente por meio do
signo.
São os signos que nos permitem trazer para a
lembrança referentes que já deixaram de existir. As
palavras, por exemplo, são signos e, por meio delas,
podemos trazer para o presente pessoas e fatos que
já desapareceram. Tomemos, por exemplo, uma
palavra como Camões.
Trata-se de um signo, pois o referente (o poeta em
carne e osso) não existe mais. Significante: uma
conjunto de sons, representado pelo espectro de
uma onda sonora. Significado: o conceito associado
no intelecto quando ouvimos essa combinação de
sons. O referente é o famoso poeta português Luís
Vaz de Camões, que, como se sabe, morreu faz
tempo.
Observação: A rigor, não é exato usar um retrato de
Camões para ilustrar o significado da palavra
Camões, pois este, na verdade, é de instância
intelectual. Excluindo esse inconveniente, a pintura,
serve para sugerir o conceito que a combinação de
sons (k – a – m – õ – e – s) cria no nosso intelecto.
A conclusão mais importante de tudo isso é que
usamos os signos no lugar das coisas e, pela
linguagem, construímos um universo paralelo ao
universo real. Se levarmos em conta que as relações
entre os homens são determinadas mais pelas
representações que fazemos das coisas do que
pelas coisas em si, vamos compreender que
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interpretar e produzir significados é a competência
de maior importância para quem deseja dominar os
segredos da linguagem.
Relacionando o aprendizado do português com
esses dados preliminares, podemos encadear os
seguintes raciocínios:
- A principal função de qualquer forma de
linguagem é a construção de significados para atingir
certos resultados planejados pelo construtor.
- O português é uma forma de linguagem.
- Portanto a competência mais importante para
os falantes da língua portuguesa é saber construir
significados e decifrar os significados produzidos por
meio dela.
Esse é um dado de extrema importância tanto
para quem ensina quanto para quem aprende não só
o português como qualquer outra língua com o
propósito de usá-la para o mundo do trabalho, para o
exercício da cidadania e para a aquisição de novos
conhecimentos.
Para quem aprende uma língua com esse tipo de
interesse, o que mais importa é adquirir a
capacidade de compreender, com a máxima
proficiência, os significados direcionados para atingir
os resultados programados.
Resumindo tudo, para quem estuda uma língua
do ponto de vista de quem vai conviver e trabalhar
com ela, o que mais importa é a capacidade de
produzir e compreender significados.
Todos os demais tipos de aprendizado linguístico
estão subordinados a essas duas competências
mais amplas e mais altas.
A Semântica é um ramo da Linguística que se
ocupa do significado das formas linguísticas em
geral. Por formas linguísticas vamos entender tanto
as mínimas unidades de significado constituintes das
palavras (os prefixos e sufixos, por exemplo) quanto
enunciados maiores, como orações e períodos.
Analisar, pois, uma palavra ou uma frase sob o
ponto de vista semântico equivale a tentar decifrar o
que elas significam ou o que querem dizer.
Dado que a finalidade última de qualquer
linguagem é a produção de significado, não é
preciso destacar a importância fundamental da
Semântica dentro dos estudos linguísticos. Nem é
preciso também falar da importância desse tópico
nas provas de concursos na matéria de língua
portuguesa em geral.
Para facilitar a compreensão de certas
particularidades relativas ao significado das palavras
e das formas linguísticas em geral, uma noção
primária se impõe como necessária: a de que o
significado de um signo não é constituído por uma
peça única, mas por um punhado de significados
menores que se combinam entre si para criar a
noção com que representamos as coisas ou os
eventos do mundo.
Dizemos de outra maneira, o significado das
palavras não é simples, mas complexo, constituído
de um feixe de unidades menores a que os
estudiosos chamam de traços semânticos ou traços
de significado.
São os traços semânticos que usamos para
definir o significado das palavras. Tomemos um
exemplo que já ficou clássico nos estudos de
Semântica, usado pelo linguista francês
contemporâneo Bernard Pottier. Segundo ele, a
palavra “cadeira” é um móvel doméstico que contém
os seguintes traços semânticos:
- com encosto.
- sobre pernas.
- para uma só pessoa.
Para sentar-se.
Se aos quatro traços da palavra “cadeira”
acrescentarmos mais um, “com braços”, teremos a
palavra “poltrona”. Uma mesma palavra pode, num
dado contexto, trocar um traço semântico por outro e
ganhar novo sentido. É o que acontece, por exemplo
em:
Peixe não vive fora d’água.
A palavra “peixe” é marcada, nesse contexto, pelo
traço semântico “não humano”. Esse traço pode ser
trocado, por exemplo, por um traço “humano”, noutro
contexto como este:
Na festa de aniversário da minha prima, eu era um
peixe fora d’água.
“Peixe”, nesse contexto, não fará sentido se não
trocarmos o traço semântico “não humano” por
“humano”.
Em síntese, concluímos que, por ser constituído de
feixes de traços semânticos, o sentido da palavra
não é estável, podendo sofrer variações de época
para época, de lugar para lugar, de contexto para
contexto.
Há contexto em que uma palavra não pode ser
interpretada com todos os traços semânticos que
comumente a definem. Por isso é que os bons
dicionários costumam dar os diferentes sentidos
possíveis de uma palavra, acompanhados do
contexto em que ela adquire cada um dos seus
vários sentidos.
Tomemos como exemplo uma palavra como “cadeia”
e alguns de seus múltiplos sentidos no português:
- Prisão: Sonegar imposto dá cadeia.
- Rede, conjunto de emissoras: O presidente falará
em cadeia nacional.
- Sequência: As ruínas são cercadas por uma cadeia
de montanhas.
Levando esses dados em consideração, torna-se
mais fácil compreender as particularidades sobre o
significado das palavras.
Delimitações e Sujeito do Texto
O texto é delimitado por dois brancos. Se ele é um
todo organizado de sentido, ele pode ser verbal,
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visual (um quadro), verbal e visual (um filme), sonoro
(uma música), etc. Mas em todos esses casos ele
será delimitado por dois espaços de não-sentido,
dois brancos, um antes de começar o texto e outro
depois. É o branco do papel; é o tempo de espera
para que um filme comece e o que está depois da
palavra FIM; é o silêncio que precede os primeiros
acordes de uma melodia e que sucede às notas
finais, etc.
O texto é produzido por um sujeito num dado tempo
e num determinado espaço. Esse sujeito, por
pertencer a um grupo social que vive num dado
tempo e num certo espaço, expõe em seus textos as
ideias, os anseios, os temores, as expectativas
desse grupo. Todo texto, assim, relaciona-se com o
contexto histórico e geográfico em que foi produzido,
refletindo a realidade apreendida por seu autor, que
sobre ela se pronuncia.
O poema de Murilo Mendes que comentamos
anteriormente mostra o anseio de uma geração, no
Brasil, em certa época, de conhecer bem o país e
revelar suas mazelas para transformá-lo.
Não há texto que não reflita o seu tempo e o seu
lugar. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade
não produz uma única forma de ver a realidade, um
modo único de analisar os problemas estabelecidos
num dado contexto. Como a sociedade é dividida em
grupos sociais, que têm interesses muitas vezes
antagônicos, ela produz ideias divergentes entre si.
A mesma sociedade que gera a ideia de que é
preciso pôr abaixo a floresta amazônica para
explorar suas riquezas, produz a ideia de que
preservá-la é mais rentável. É bem verdade, no
entanto, que algumas ideias, em certas épocas,
exercem domínio sobre outras.
É necessário entender as concepções correntes
na época e na sociedade em que o texto foi
produzido, para não correr o risco de entendê-lo de
maneira distorcida. Como não há ideias puras, todas
as ideias estão materializadas em textos, analisar a
relação de um texto com sua época é estudar a sua
relação com outros textos.
É preciso que fiquem bem claras estas
conclusões:
- No texto, o sentido não é solitário, mas
solidário.
- O texto está delimitado por dois espaços de
não-sentido.
- O texto revela ideais, concepções, anseios,
expectativas e temores de um grupo social numa
determinada época, em determinado lugar.
SEMÂNTICA
Quanto à significação, as palavras podem ser:
Sinônimos e antônimos
O que são Sinônimos e Antônimos:
* Sinônimos
São palavras de sentido igual ou aproximado:
 alfabeto - abecedário;
 brado, grito - clamor;
 extinguir, apagar - abolir.
Observação: A contribuição greco-latina é
responsável pela existência de numerosos pares de
sinônimos:
 adversário e antagonista;
 translúcido e diáfano;
 semicírculo e hemiciclo;
 contraveneno e antídoto;
 moral e ética;
 colóquio e diálogo;
 transformação e metamorfose;
 oposição e antítese.
* Antônimos
São palavras de significação oposta:
 ordem - anarquia;
 soberba - humildade;
 louvar - censurar;
 mal - bem.
Observação: A antonímia pode originar-se de um
prefixo de sentido oposto ou negativo:
 bendizer e maldizer;
 simpático e antipático;
 progredir e regredir;
 concórdia e discórdia;
 ativo e inativo;
 esperar e desesperar;
 comunista e anticomunista;
 simétrico e assimétrico.
O que são Homônimos e Parônimos:
* Homônimos
a) Homógrafos: são palavras iguais na escrita e
diferentes na pronúncia:
 rego (subst.) e rego (verbo);
 colher (verbo) e colher (subst.);
 jogo (subst.) e jogo (verbo);
 apoio (subst.) e apoio (verbo);
 denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
 providência (subst.) e providencia (verbo).
b) Homófonos: são palavras iguais na pronúncia e
diferentes na escrita:
 acender (atear) e ascender (subir);
 concertar (harmonizar) e consertar (reparar);
 cela (compartimento) e sela (arreio);
 censo (recenseamento) e senso (juízo);
 paço (palácio) e passo (andar).
c) Homógrafos e homófonos simultaneamente:
São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
 caminho (subst.) e caminho (verbo);
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 cedo (verbo) e cedo (adv.);
 livre (adj.) e livre (verbo).
* Parônimos
São palavras parecidas na escrita e na pronúncia:
 coro e couro;
 cesta e sesta;
 eminente e iminente;
 osso e ouço;
 sede e cede;
 comprimento e cumprimento;
 tetânico e titânico;
 autuar e atuar;
 degradar e degredar;
 infligir e infringir;
 deferir e diferir;
 suar e soar.
COESÃO E COERÊNCIA
Antes de tudo é preciso saber o que é coesão e
coerência, pois sem essas duas chaves principais de
qualquer texto, você não vai a lugar nenhum.
Coesão - em nossa linguagem cotidiana procuramos
executar manobras coesivas, muitas vezes, com o
intuito de melhorar a própria expressividade do
enunciado. Veja alguns casos:
Em lugar de
- Comprei sorvetes. Dei os sorvetes a meus
filhos.
usamos
- Comprei sorvetes. Dei-os a meus filhos.
Dei-os funciona como relacional que recupera em B
o que havia sido colocado em A. O objetivo é
evidenciar o processo de repetição, considerado
menos "rico ou sofisticado" por uma certa gramática.
O uso indevido de elementos de ligação
invariavelmente podem comprometer os processos
coesivos do texto.
Coerência - A rigor, existem vários níveis e planos
de coerência ou incoerência.
Veja alguns casos:
- Um sujeito resolve contar a última piada de
papagaio num velório. Além de impertinente, a piada
sofre de uma síndrome geral de incoerência
contextual. A situação lutuosa não permite que o
decoro seja quebrado e risos apareçam em torno do
defunto.
- Em vestibular da Fuvest, o candidato saiu-se com a
seguinte "... a palidez do sol tropical refletia nas
águas do rio Amazonas". Convenhamos que o sol
tropical pode ser acusado de muitas coisas, menos
de palidez. O riso provocado pela leitura daquele
texto poético é derivado de um caso de incoerência
no uso da imagem.
A lista poderia aumentar muito. Basta reter a ideia
que, no fundo, o problema básico envolvido na
produção da coerência é o do acerto das partes com
relação ao todo textual; do ajuste sequencial das
ideias; da progressão dos argumentos; das
afirmativas que são explicadas... Coloque-se sempre
no lugar do autor ou do ouvinte para sentir se
realmente está sendo coerente.
Redação
A linguagem escrita tem identidade própria e
não pretende ser mera reprodução da linguagem
oral. Ao redigir, o indivíduo conta unicamente com o
significado e a sonoridade das palavras para
transmitir conteúdos complexos, estimular a
imaginação do leitor, promover associação de ideias
e ativar registros lógicos, sensoriais e emocionais da
memória.
Redação é o ato de exprimir ideias, por escrito,
de forma clara e organizada. O ponto de partida para
redigir bem é o conhecimento da gramática do
idioma e do tema sobre o qual se escreve. Um bom
roteiro de redação deve contemplar os seguintes
passos: escolha da forma que se pretende dar à
composição, organização das ideias sobre o tema,
escolha do vocabulário adequado e concatenação
das ideias segundo as regras linguísticas e
gramaticais.
Para adquirir um estilo próprio e eficaz é
conveniente ler e estudar os grandes mestres do
idioma, clássicos e contemporâneos; redigir
frequentemente, para familiarizar-se com o processo
e adquirir facilidade de expressão; e ser escrupuloso
na correção da composição, retificando o que não
saiu bem na primeira tentativa. É importante também
realizar um exame atento da realidade a ser
retratada e dos eventos a que o texto se refere,
sejam eles concretos, emocionais ou filosóficos. O
romancista, o cientista, o burocrata, o legislador, o
educador, o jornalista, o biógrafo, todos pretendem
comunicar por escrito, a um público real, um
conteúdo que quase sempre demanda pesquisa,
leitura e observação minuciosa de fatos empíricos. A
capacidade de observar os dados e apresentá-los de
maneira própria e individual determina o grau de
criatividade do escritor.
Para que haja eficácia na transmissão da
mensagem, é preciso ter em mente o perfil do leitor
a quem o texto se dirige, quanto a faixa etária, nível
cultural e escolar e interesse específico pelo
assunto. Assim, um mesmo tema deverá ser
apresentado diferentemente ao público infantil,
juvenil ou adulto; com formação universitária ou de
nível técnico; leigo ou especializado. As diferenças
hão de determinar o vocabulário empregado, a
extensão do texto, o nível de complexidade das
informações, o enfoque e a condução do tema
principal a assuntos correlatos.
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior
21
Organização das ideias. O texto artístico é em
geral construído a partir de regras e técnicas
particulares, definidas de acordo com o gosto e a
habilidade do autor. Já o texto objetivo, que pretende
antes de mais nada transmitir informação, deve fazê-
lo o mais claramente possível, evitando palavras e
construções de sentido ambíguo.
Para escrever bem, é preciso ter ideias e
saber concatená-las. Entrevistas com especialistas
ou a leitura de textos a respeito do tema abordado
são bons recursos para obter informações e formar
juízos a respeito do assunto sobre o qual se
pretende escrever. A observação dos fatos, a
experiência e a reflexão sobre seu conteúdo podem
produzir conhecimento suficiente para a formação de
ideias e valores a respeito do mundo circundante.
É importante evitar, no entanto, que a massa
de informações se disperse, o que esvaziaria de
conteúdo a redação. Para solucionar esse problema,
pode-se fazer um roteiro de itens com o que se
pretende escrever sobre o tema, tomando nota
livremente das ideias que ele suscita. O passo
seguinte consiste em organizar essas ideias e
encadeá-las segundo a relação que se estabelece
entre elas.
Vocabulário e estilo. Embora quase todas as
palavras tenham sinônimos, dois termos quase
nunca têm exatamente o mesmo significado. Há
sutilezas que recomendam o emprego de uma ou
outra palavra, de acordo com o que se pretende
comunicar. Quanto maior o vocabulário que o
indivíduo domina para redigir um texto, mais fácil
será a tarefa de comunicar a vasta gama de
sentimentos e percepções que determinado tema ou
objeto lhe sugere.
Como regras gerais, consagradas pelo uso,
deve-se evitar arcaísmos e neologismos e dar
preferência ao vocabulário corrente, além de evitar
cacofonias (junção de vocábulos que produz sentido
estranho à ideia original, como em "boca dela") e
rimas involuntárias (como na frase, "a audição e a
compreensão são fatores indissociáveis na
educação infantil"). O uso repetitivo de palavras e
expressões empobrece a escrita e, para evitá-lo,
devem ser escolhidos termos equivalentes.
A obediência ao padrão culto da língua, regido
por normas gramaticais, linguísticas e de grafia,
garante a eficácia da comunicação. Uma frase
gramaticalmente incorreta, sintaticamente mal
estruturada e grafada com erros é, antes de tudo,
uma mensagem ininteligível, que não atinge o
objetivo de transmitir as opiniões e ideias de seu
autor.
Tipos de redação. Todas as formas de
expressão escrita podem ser classificadas em
formas literárias -- como as descrições e narrações,
e nelas o poema, a fábula, o conto e o romance,
entre outros -- e não-literárias, como as dissertações
e redações técnicas.
Descrição. Descrever é representar um objeto
(cena, animal, pessoa, lugar, coisa etc.) por meio de
palavras. Para ser eficaz, a apresentação das
características do objeto descrito deve explorar os
cinco sentidos humanos -- visão, audição, tato, olfato
e paladar --, já que é por intermédio deles que o ser
humano toma contato com o ambiente.
A descrição resulta, portanto, da capacidade
que o indivíduo tem de perceber o mundo que o
cerca. Quanto maior for sua sensibilidade, mais rica
será a descrição. Por meio da percepção sensorial, o
autor registra suas impressões sobre os objetos,
quanto ao aroma, cor, sabor, textura ou sonoridade,
e as transmite para o leitor.
Narração. O relato de um fato, real ou
imaginário, é denominado narração. Pode seguir o
tempo cronológico, de acordo com a ordem de
sucessão dos acontecimentos, ou o tempo
psicológico, em que se privilegiam alguns eventos
para atrair a atenção do leitor. A escolha do
narrador, ou ponto de vista, pode recair sobre o
protagonista da história, um observador neutro,
alguém que participou do acontecimento de forma
secundária ou ainda um espectador onisciente, que
supostamente esteve presente em todos os lugares,
conhece todos os personagens, suas ideias e
sentimentos.
A apresentação dos personagens pode ser
feita pelo narrador, quando é chamada de direta, ou
pelas próprias ações e comportamentos deste,
quando é dita indireta. As falas também podem ser
apresentadas de três formas: (1) discurso direto, em
que o narrador transcreve de forma exata a fala do
personagem; (2) discurso indireto, no qual o narrador
conta o que o personagem disse, lançando mão dos
verbos chamados dicendi ou de elocução, que
indicam quem está com a palavra, como por
exemplo "disse", "perguntou", "afirmou" etc.; e (3)
discurso indireto livre, em que se misturam os dois
tipos anteriores.
O conjunto dos acontecimentos em que os
personagens se envolvem chama-se enredo. Pode
ser linear, segundo a sucessão cronológica dos
fatos, ou não-linear, quando há cortes na sequência
dos acontecimentos. É comumente dividido em
exposição, complicação, clímax e desfecho.
Dissertação. A exposição de ideias a respeito
de um tema, com base em raciocínios e
argumentações, é chamada dissertação. Nela, o
objetivo do autor é discutir um tema e defender sua
posição a respeito dele. Por essa razão, a coerência
entre as ideias e a clareza na forma de expressão
são elementos fundamentais.
A organização lógica da dissertação determina
sua divisão em introdução, parte em que se
apresenta o tema a ser discutido; desenvolvimento,
em que se expõem os argumentos e ideias sobre o
assunto, fundamentando-se com fatos, exemplos,
testemunhos e provas o que se quer demonstrar; e
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Guia completo de interpretação de texto

  • 1. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 1 PORTUGUÊS INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Elementos constitutivos Texto narrativo  As personagens: São as pessoas, ou seres, viventes ou não, forças naturais ou fatores ambientais, que desempenham papel no desenrolar dos fatos. Toda narrativa tem um protagonista que é a figura central, o herói ou heroína, personagem principal da história. O personagem, pessoa ou objeto, que se opõe aos designos do protagonista, chama-se antagonista, e é com ele que a personagem principal contracena em primeiro plano. As personagens secundárias, que são chamadas também de comparsas, são os figurantes de influencia menor, indireta, não decisiva na narração. O narrador que está a contar a história também é uma personagem, pode ser o protagonista ou uma das outras personagens de menor importância, ou ainda uma pessoa estranha à história. Podemos ainda, dizer que existem dois tipos fundamentais de personagem: as planas: que são definidas por um traço característico, elas não alteram seu comportamento durante o desenrolar dos acontecimentos e tendem à caricatura; as redondas: são mais complexas tendo uma dimensão psicológica, muitas vezes, o leitor fica surpreso com as suas reações perante os acontecimentos.  Sequência dos fatos (enredo): Enredo é a sequência dos fatos, a trama dos acontecimentos e das ações dos personagens. No enredo podemos distinguir, com maior ou menor nitidez, três ou quatro estágios progressivos: a exposição (nem sempre ocorre), a complicação, o clímax, o desenlace ou desfecho. Na exposição o narrador situa a história quanto à época, o ambiente, as personagens e certas circunstâncias. Nem sempre esse estágio ocorre, na maioria das vezes, principalmente nos textos literários mais recentes, a história começa a ser narrada no meio dos acontecimentos (“in média”), ou seja, no estágio da complicação quando ocorre e conflito, choque de interesses entre as personagens. O clímax é o ápice da história, quando ocorre o estágio de maior tensão do conflito entre as personagens centrais, desencadeando o desfecho, ou seja, a conclusão da história com a resolução dos conflitos.  Os fatos: São os acontecimentos de que as personagens participam. Da natureza dos acontecimentos apresentados decorre o gênero do texto. Por exemplo o relato de um acontecimento cotidiano constitui uma crônica, o relato de um drama social é um romance social, e assim por diante. Em toda narrativa há um fato central, que estabelece o caráter do texto, e há os fatos secundários, relacionados ao principal.  Espaço: Os acontecimentos narrados acontecem em diversos lugares, ou mesmo em um só lugar. O texto narrativo precisa conter informações sobre o espaço, onde os fatos acontecem. Muitas vezes, principalmente nos textos literários, essas informações são extensas, fazendo aparecer textos descritivos no interior dos textos narrativo.  Tempo: Os fatos que compõem a narrativa desenvolvem-se num determinado tempo, que consiste na identificação do momento, dia, mês, ano ou época em que ocorre o fato. A temporalidade salienta as relações passado/presente/futuro do texto, essas relações podem ser linear, isto é, seguindo a ordem cronológica dos fatos, ou sofre
  • 2. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 2 inversões, quando o narrador nos diz que antes de um fato que aconteceu depois. O tempo pode ser cronológico ou psicológico. O cronológico é o tempo material em que se desenrola à ação, isto é, aquele que é medido pela natureza ou pelo relógio. O psicológico não é mensurável pelos padrões fixos, porque é aquele que ocorre no interior da personagem, depende da sua percepção da realidade, da duração de um dado acontecimento no seu espírito.  Narrador: observador e personagem: O narrador, como já dissemos, é a personagem que esta a contar a história. A posição em que se coloca o narrador para contar a história constitui o foco, o aspecto ou o ponto de vista da narrativa, e ele pode ser caracterizado por : - visão “por detrás” : o narrador conhece tudo o que diz respeito às personagens e à história, tendo uma visão panorâmica dos acontecimentos narração é feita em 3a pessoa. - visão “com”: o narrador é personagem e ocupa o centro da narrativa que é feito em 1a pessoa. - visão “de fora”: o narrador descreve e narra apenas o que vê, aquilo que é observável exteriormente no comportamento da personagem, sem ter acesso a sua interioridade, neste caso o narrador é um observador e a narrativa é feita em 3a pessoa.  Foco narrativo: Todo texto narrativo necessariamente tem de apresentar um foco narrativo, isto é, o ponto de vista através do qual a história está sendo contada. Como já vimos, a narração é feita em 1a pessoa ou 3a pessoa. Formas de apresentação da fala das personagens Discurso direto e indireto O discurso direto identifica-se com a fala dos personagens, quando o narrador está falando e transfere suas falas às personagens, nesse momento as personagens assumem o fio da narrativa. Ocorre a introdução do verbo dizer e outros sinônimos, e dos sinais específicos de pontuação (:-). Ex: O menino disse: - Hoje não quero ir à escola. A mãe retrucou: - Não posso aceitar que você não vá. No discurso indireto, só o narrador fala pelos personagens. Os sinais de pontuação são trocados pela conjunção que, conservando-se o verbo dizer ou seus sinônimos. Ex: O menino disse que não queria ir à escola, a mão retrucou que não poderia aceitar que ele não fosse. Na passagem do discurso direto para o indireto, os verbos que estão no presente vão para o passado, os que estão no passado vão para o mais-que- perfeito, "isto aqui" vira "aquilo lá" e "esta" vira "aquela". Na passagem do indireto para o direto, fazemos o caminho contrário. Veja alguns exemplos: Do direto para o indireto: - A chuva veio logo, disse ele. Ele disse que a chuva vinha logo. - Estas memórias vão dar o que falar - admitia esfregando as mãos contentes, ao reler esses lances inéditos. Admitia esfregando as mãos contentes, ao reler aqueles lances inéditos, que aquelas memórias iam dar o que falar. Do indireto para o direto: O marido perguntou se Diva queria café no quarto. O marido perguntou: - Quer café no quarto, Diva ? Rodrigo perguntou se tu falaste com o Dr. Brandão. Rodrigo perguntou: - Falaste com o Dr. Brandão ? Policarpo Quaresma me perguntou como ia a família. Policarpo Quaresma me perguntou: - Como vai a família ? Verbos de elocução Observe o verbo grifado: O pai chamou Carlinhos e perguntou: - Quem quebrou o vidro, meu filho ? Observe : A . O pedreiro disse que estava à disposição. B . O pedreiro disse: Estou à disposição. Transformamos: A - discurso indireto em B - discurso direto . Faça o mesmo: Observe: A . Intrigado o pai perguntou ao filho: Você viu ontem uma carteira em cima desta mesa ?
  • 3. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 3 B . Intrigado, o pai perguntou ao filho se ele vira, no dia anterior, uma carteira em cima daquela mesa. Transformamos: A - discurso direto em B - discurso indireto. O narrador empregou o verbo perguntar para indicar a personagem a que pertence a fala. Denomina-se verbo de elocução (verbos dicendi). Veja agora uma relação dos principais verbos de elocução: dizer (afirmar, declarar) exclamar (gritar, bradar) perguntar (indagar, interrogar) pedir (solicitar, rogar) responder ( retrucar, replicar) exortar (aconselhar) contestar (negar, objetar) ordenar (mandar, determinar) Além desses verbos de sentido geral, existem outros, mais amplos.. Veja alguns: sussurar, murmurar, balbuciar, cochichar, segredar, esclarecer, sugerir, soluçar, comentar, propor, convidar, cumprimentar, repetir, estranhar, insistir, prosseguir, continuar, ajuntar, acrescentar, concordar, consentir, anuir, intervir, repetir, rosnar, berrar, protestar, contrapor, desculpar, justificar-se, suspirar, rir, etc. Pontuação no discurso direto A fala da personagem, no discurso direto, deve vir disposta em parágrafo e introduzida por travessão. Virou-se para o pai e aconselhou: Papai, esse menino do vizinho é um subversivo desgraçado. Os verbos de elocução são pontuados de acordo com sua posição. 1a posição - antes da fala - separa-se por dois pontos : O pai chamou Pedrinho e perguntou :Quem quebrou o vidro, meu filho ? 2a posição - depois da fala - separa-se por travessão ou vírgula : Agora você se chama Teresinha, disse me beijando a face. Agora você se chama Teresinha - disse me beijando a face. 3a posição - no meio da fala - separa-se por travessão ou vírgula: A Sociedade - afirmava Simão - tem obrigação de fazer o enterro. Nesse dia , observou Luís Garcia sorrindo levemente, há de ser tão sincera como hoje. (Machado de Assis) Numa narrativa, nem sempre os verbos de elocução estão expressos. Costuma-se omiti-los principalmente em falas curtas ou para traduzir tensão psicológica das personagens. Utilização do discurso direto na produção de um texto. Seleção das falas mais significativas, isto é, as falas pertinentes ao conflito básico vivido pelas personagens. Não se deve ter a pretensão de retratar fielmente a realidade, relatando tudo o que as personagens poderiam ter dito. Adequação das falas ao nível cultural das personagens e principalmente ao registro linguístico. Discurso indireto Estabelece-se o discurso indireto, quando o narrador, em vez de deixar a personagem falar, reproduz com suas palavras o que foi dito, Exemplo: Chamou um moleque e bradou-lhe que fosse à casa do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e se não estivesse em casa, perguntasse onde podia ser encontrado(...)
  • 4. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 4 ( Machado de Assis) Se o narrador reproduzisse diretamente a fala da personagem, a construção do texto seria assim: Chamou um moleque e bradou-lhe : Vá a casa do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e se não estiver em casa, pergunte onde pode ser encontrado. No discurso indireto, também podem estar presentes verbos dicendi, mas seguidos de orações substantivas, geralmente iniciadas com a conjunção que ou se. Na passagem do discurso direto para o indireto ou vice-versa, importa observar algumas transformações importantes: discurso direto: primeira pessoa Eles perguntaram : - O que devemos fazer ? 1) Discurso indireto: terceira pessoa 2) Eles perguntaram o que deviam fazer. discurso direto: imperativo O professor ordenou: - Façam o exercício ! 1) Discurso indireto: pretérito imperfeito do subjuntivo 2) O professor ordenou que fizéssemos o exercício. discurso direto: futuro do presente A enfermeira explicou: - Com o medicamento, a criança dormirá calmamente discurso indireto: futuro do pretérito A enfermeira explicou que, com o medicamento, a criança dormiria calmamente. discurso direto: presente do indicativo Ela me perguntou : - A quem devo entregar o trabalho ? 1) Discurso indireto : pretérito imperfeito do indicativo 2) Ela me perguntou a quem devia entregar o trabalho. discurso direto: pretérito perfeito Ele disse : - Estive na escola e falei com o diretor. Discurso indireto: pretérito mais-que-perfeito Ele disse que estivera na escola e falara com o diretor. Discurso indireto livre Às vezes, no entanto, as falas do narrador e da personagem parecem confundir-se numa só, sem que se saiba claramente a quem elas pertencem, Trata-se, neste caso, do discurso indireto livre. Observe, por exemplo, esta passagem de Graciliano Ramos, extraída do romance Vidas secas: O suor umedeceu-lhe as mãos duras. Então ? Suando com medo de uma peste que se escondia tremendo ? Note que a primeira frase pertence ao narrador, porém as interrogações são da personagem; entretanto, não há indicações dessa mudança através de verbos dicendi, o que exclui também as conjunções integrantes. Assim, a narrativa se torna mais fluente, aproximando mais narrador e personagem. Texto Descritivo Descrever é fazer uma representação verbal dos aspectos mais característicos de um objeto, de uma pessoa, paisagem, ser e etc. As perspectivas que o observador tem do objeto, é muito importante, tanto na descrição literária quanto na descrição técnica, é esta atitude que vai determinar a ordem na enumeração dos traços característicos para que o leitor possa combinar suas impressões isoladas formando uma imagem unificada. Uma boa descrição vai apresentando o objeto progressivamente, variando as partes focalizadas e associando-as ou interligando-as pouco a pouco. Podemos encontra distinções entre uma descrição literária e outra técnica. Passaremos a falar um pouco sobre cada uma delas:  Descrição Literária: A finalidade maior da descrição literária é transmitir a impressão que a coisa vista desperta em nossa mente através do sentidos. Daí decorrem dois tipos de descrição: a subjetiva, que reflete o estado de espírito do observador, suas preferencias, assim ele descreve o que quer e o pensa ver e não o que vê realmente; já a objetiva traduz a realidade do mundo objetivo, fenomênico, ela é exata e dimensional.  Descrição de Personagem: É utilizada para caracterização das personagens, pela acumulação de traços físicos e psicológicos pela enumeração de seus hábitos, gestos, aptidões e temperamento, com a finalidade de situar personagem no contexto cultural, social e econômico modelado de seu como procedimento.  Descrição de Paisagem: Neste tipo de descrição, geralmente o observador abrange de uma só vez a globalidade do panorama, para depois ao
  • 5. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 5 pouco em ordem de proximidade, abranger as partes mais típicas desse todo.  Descrição do Ambiente: Ela dá os detalhes do interiores, dos ambientes em que ocorrem as ações, tentando dar ao leitor uma visualização da suas particularidades, de seus traços distintivos e típicos.  Descrição da Cena: Trata-se de uma descrição movimentada que se desenvolve progressivamente no tempo. É a descrição de um incêndio, de uma briga, de um naufrágio.  Descrição Técnica: Ela apresenta muitas das características gerais da literatura, com a distinção de que nela se utiliza um vocabulário mais preciso, se salientando com exatidão os pormenores. É predominantemente denotativa tendo como objetivo esclarecer convencendo. Pode aplicar-se a objetos, a aparelhos ou mecanismos, a fenômenos, a fatos, a lugares, a eventos e etc. Texto Dissertativo Dissertar significa discutir, expor, interpretar ideias. A dissertação consta de uma série de juízos a respeito de um determinado assunto ou questão, e pressupõe um exame critico do assunto sobre o qual se vai escrever com clareza, coerência e objetividade. A dissertação pode ser argumentativa na qual o autor tenta persuadir o leitor a respeito dos seus pontos de vista, ou simplesmente, Ter com finalidade dar a conhecer ou explicar certo modo de ver qualquer questão. A linguagem usada é a referencial, centrada, na mensagem, enfatizando o contexto. Quanto a forma, ela pode ser tripartida em :  Introdução: Em poucas linhas coloca o leitor os dados fundamentais do assunto que esta tratando. É a enunciação direta e objetiva da definição do ponto de vista do autor.  Desenvolvimento: Constitui o corpo do texto, onde as ideias colocadas na introdução serão definidas com os dados mais relevantes. Todo desenvolvimento devem estruturar-se em blocos de ideias articuladas entre si, de forma que a sucessão deles resulte num conjunto coerente e unitário que se encaixa na introdução e desencadeia a conclusão.  Conclusão: É o fenômeno do texto, marcado pela síntese da ideia central. Na conclusão o autor reforça sua opinião, retomando a introdução e os fatos resumidos do desenvolvimento do texto. Para haver maior entendimento dos procedimentos que podem ocorrer em um dissertação, cabe fazermos a distinção entre fatos, hipótese e opinião. - Fato: É o acontecimento ou coisa cuja veracidade e reconhecida; é a obra ou ação que realmente se praticou. - Hipótese: É a suposição feita a cerca de uma coisa possível ou não, e de que se tiram diversas conclusões; é uma afirmação sobre o desconhecido, feita com base no que já é conhecido. - Opinião: Opinar é julgar ou inserir expressões de aprovação ou desaprovação pessoal diante de acontecimentos, pessoas e objetos descritos, é um parecer particular sentimento que se tem a respeito de algo. Leia o texto a seguir: Tem cada uma na vida Jamais entenderei a moça me procurou para fazer um pedido: queria (quer) ser artista de novela das 7. - Mais eu... - tentei informar. Ela não me deixou concluir a frase: - Até que não estou pedindo muito. Se pedisse para novela das 8, iam dizer que era pretensão. Também não desejo a novela das 6. Quando a gente é modesta demais, botam pra escanteio. - É, mas... - Então eu acho que no meio está a virtude, como gostava de falar o vovô. Vovô era entendido em coisas mil. O senhor conheceu vovô? Ele foi um cara importante no MEC. - Devo Ter conhecido. Qual era o nome dele? - Vovô Marreco. A gente chamava ele assim porque tinha uma cara gozada, cara de marreco. Uma ocasião... Bem, depois eu conto. O senhor vai me ajudar, não vai? Mas uma vez tentei explicar (não consegui) que não tenho nada com televisão, apenas sou amigo do Otton Lara Resende, na Rede Globo, e não me consta que o Otton selecione artista. Mas a moça prosseguia vivendo sonho, que não era sonho era projeto amadurecido. Os pais aprovavam. Mesmo que não aprovassem, estava decidida: - Força do destino. Minha tia-avó fugiu de casa para trabalhar na companhia de Leopoldo Fróis. Naquele tempo não havia televisão imagine como as opções eram limitadas. Minha mãe fez parte do caste da novelas da Rádio Nacional deixou o brodecaste para casar. Meu pai impôs condição. Felizmente, evoluiu, hoje até faz gosto. - E o namorado? – perguntei, desistindo de esclarecer que ela batera à porta errada.
  • 6. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 6 - Namorado? Então o senhor acha que vou pedir consentimento a namorado, para trabalhar em novela? A gente tá em 1980, pô. - Lá isso é. - Inclusive meus namorados são todos descartáveis. Não me amarro a nenhum, porque meu futuro não está nos homens. Tá na arte. - Muito bem. - Não é que eu não queira negócio com homem, veja bem. Deus me livre e guarde. Só que minha vocação, minha carreira ficam acima de tudo. - Você tem experiência? - Que é que o senhor chama de experiência? - Experiência mesmo. Já transou cinema, teatro, expressão corporal, laboratório, essas coisas? Pensou para responder. Afinal: - Sim e não. - Sim e não, como? - Quer dizer, transei com gente ligada, mas não me deram chance para começar. - E vai logo começar de novela? - Olha, a base da novela hoje é naturalidade. Sou muito natural, o senhor tá vendo como sou natural. Se me contratarem eu tiro de letra. Aliás, eu treino sozinha. - Como? - Eu ensaio lá em casas, no meu quarto. Já fiz vários papeis, e não era papel mole, de figurante. fiz uma cena da Glória Meneses, que se ela visse fica boba de admiração. Não era para me gabar. Me considero tarimbada. - Ótimo. - O tempo que eu passo estudando as atrizes da tevê , não está no gibi. E só pra elas que olho. Conheço tudo, olhar, franzir dos lábios, cara de tristeza e cara de desejo de Maria Cláudia, Joana Fomm, Lúcia Alves, Débora Duarte... Quer ver? - Não precisa, minha filha. Eu acredito. - Só uma amostrinha pra provar que não estou mentindo. - Está-se vendo que você não mente. Obrigado. - Pois é. Ou eu entro na novela da 7 – qualquer novela, de qualquer época, eu sou como a Lucélia Santos, papel de escrava, de estudante, de garota fútil, eu topo – ou.... - Ou o quê? - Sê não entrar, não sei o será de minha vida. - Não diga isto! - Digo. Minha vida depende do senhor, neste momento. Uma palavrinha sua, e... - E ? - Tou contratada. Vamos, não me negue uma colher de chá. Eu sei que você pode fazer isso por mim. desculpe o tratamento, saiu sem querer. Por que você não diz logo que vai me ajudar? Por que não telefona logo pro pessoal da tevê? Por que ficou assim, duro, engasgado, sei lá se descrente de minhas possibilidades? Por que não confia em mim ? Diga, diga pelo amor de Deus! Você é ruim, homem! Você é íntimo do Daniel Filho e não quer mover uma palha em favor de uma pobre artista em potencial! - Tinha se levantado, no ardor da interpretação, agitou os braços, deixou-se cair na poltrona, exausta, pela primeira vez silenciosa. Só então pude jurar-lhe, também por Deus, que não conheço Daniel Filho. Olhou-me com desprezo: - Ah, é assim? E por que não me falou isso logo de começo? Me enganar esse tempo todo! E eu, feito boba, falando com a pessoa errada! Tem cada uma na vida.... ESTUDO DO TEXTO Identifique no texto lido, os elementos da narração estudados. 1 – Quem são os personagens? 2 – Qual o fato central da narrativa? 3 – Qual a natureza do fato contado? 4 – Onde acontecem os fatos narrados? 5 – Quando aconteceram os fatos? 6 – Como foi arrumado o enredo? 7 – Em que foco narrativo está o texto? Respostas 1- As personagens são: o narrador e a moça que quer ser atriz 2 – O narrador é procurado por uma moça que deseja que ele a ajude a tornar-se atriz da novela das sete. 3 – É um fato comum, cotidiano, que mostra a influência da televisão sobre determinadas pessoas. 4 – Não aparecem no texto o lugar onde eles conversaram. 5 – É conveniente observar que o texto está no presente. 6 – Diante da paixão da garota pelo trabalho em novelas, o narrador não consegue revelar que ela está falando com o homem errado. Quando ele revela que nada pode fazer por ela, a moça passa a agredi-lo. 7 – O texto está na primeira pessoa do singular. Funções da Linguagem Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da comunicação. Elementos da comunicação emissor - emite, codifica a mensagem receptor - recebe, decodifica a mensagem
  • 7. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 7 mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem referente - contexto relacionado a emissor e receptor canal - meio pelo qual circula a mensagem Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação Funções da linguagem Função emotiva (ou expressiva) centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. Função referencial (ou denotativa) centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos. Função apelativa (ou conativa) centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperníveiativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor. Função fática centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares. Função poética centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc. Função metalinguística centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem. Obs.: Em um mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem. O importante é saber qual a função predominante no texto, para então defini-lo. ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM AO TIPO DE DOCUMENTO Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que o texto apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado. “Aquela senhora tem um piano. Que é agradável, mas não é o correr dos rios. Nem o murmúrio que as árvores fazem... Por que é preciso ter um piano? O melhor é ter ouvidos E amar a Natureza.” Que simboliza o piano no poema? Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se percebe pela oposição que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio das árvores (bens naturais). O poema descarta a necessidade do piano, dando preferência à fruição dos sons da Natureza. O que é a linguagem? É qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies ou tipos: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Os elementos constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos. Embora os animais também se comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem. Não se devem confundir os conceitos de linguagem e de língua. Enquanto aquela (linguagem) diz respeito à capacidade ou faculdade de exercitar a comunicação, latente ou em ação ou exercício, esta última (língua ou idioma) refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, munido de regras próprias (sua gramática). Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem é função cerebral que permite a qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua. Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados em computação. O estudo da linguagem, que envolve os signos, de uma forma geral, é chamado semiótica. A linguística é subordinada à semiótica porque seu objeto de
  • 8. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 8 estudo é a língua, que é apenas um dos sinais estudados na semiótica. A respeito das origens da linguagem humana, alguns estudiosos defendem a tese de que a linguagem desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com as mãos. Posteriores alterações no aparelho fonador, os seres humanos passaram a poder produzir uma variedade de sons muito maior do que a dos demais primatas. De acordo com Kandel apesar das dificuldades de se apontar com precisão quando ou como a linguagem evoluiu há certo consenso quanto a algumas estruturas cerebrais constituírem-se como pré-requisitos para a linguagem e que estas parecem ter surgido precocemente na evolução humana. Segundo esse autor essa conclusão foi atingida após exame dos moldes intracranianos de fósseis humanos. Na maioria dos indivíduos o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem; a área cortical da fala do lobo temporal (o plano temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no direito. Visto que os giros e sulcos importantes deixam com frequência impressões no crânio, o registro fóssil foi estudado buscando-se as assimetrias morfológicas associadas à fala nos hu- manos modernos. Essas assimetrias foram encontradas no homem de Neanderthal (datando de cerca de 30.000 a 50.000 anos) e no Homo erectus (datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor de nossa própria espécie. Para que serve a linguagem? (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam... (...) Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. Esses versos foram extraídos do poema “Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que Cecília Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser constituída de sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu significado, derruba reis e impérios; serve para construir a liberdade do ser humano e também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar declarações de amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas também para caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. - A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos animais. O provérbio popular “Palavra não quebra osso”, contrapondo a palavra à ação, insinua que a linguagem não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora podemos desfazer facilmente essa visão simplista das coisas, analisando para que serve a linguagem. - A linguagem é uma maneira de perceber o mundo. “Este deve ser o bosque”, murmurou pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm nomes”. (...) Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse enquanto avançava em meio às árvores, “depois de tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a mão no tronco da árvore. “Como é que essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome nenhum... ora, com certeza não tem mesmo!” Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso terminou acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. Lewis Carroll. Aventuras de Alice. Trad. Sebastião Uchôa Leite. 3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166 Esse texto, reproduzido do livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá”, mostra que a protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de apreender a realidade em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as coisas do mundo exterior só têm existência para os homens quando são nomeadas. A linguagem é uma forma de apreender a realidade: só percebemos aquilo a que a língua dá nome. Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 de junho de 2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”, usada para traduzir o grau de confiabilidade de um país entre credores ou investidores internacionais: (...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa não se conhece. Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez identificado, batizado e devidamente etiquetado, o “risco país” passou a
  • 9. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 9 existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é possível dormir em paz num país submetido à medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade com que a um paciente se tira a pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso placar luminoso, sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o “risco naufrágio”. - A linguagem é uma forma de interpretar a realidade. O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as palavras, fossem elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras apenas nomespara as coisas, seria mais conveniente que todos os homens trou- xessem consigo as coisas de que precisassem falar ao discorrer sobre determinado assunto (...). ...muitos eruditos e sábios aderiram ao novo plano de se expressarem por meio de coisas, cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que falar sobre longos assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas um grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para acompanhá- lo (...). Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua universal, compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são geralmente da mesma espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente percebido. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. Esse trecho do livro “Viagens de Gulliver” narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para língua – pelas coisas. Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse discorrer sobre uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vul- gares de que a compreensão da realidade independe da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas aplicadas a coisas classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo. O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas não podem substituir as palavras, porque a língua é bem mais que um sistema de de- monstração de objetos ou mera cópia do mundo natural. As coisas não designam tudo que uma língua pode expressar. Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua, agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera, banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a ideia da classe fruta; não posso, então, expressar ideias mais gerais. Não produzimos palavras somente para designar as coisas, mas para estabelecer relações entre elas e para comentá-las. Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de gênero (masculino e feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de demonstração de objetos, pois permite falar do que está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até criar novas realidades, mundos não existentes. A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam conceitos, e eles ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”, uma vez que é a Terra que gira em torno dele. Contudo esse conceito, criado pela linguagem, determina uma realidade que nos encanta a todos. Outro exemplo: apagar uma coisa escrita no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito a lápis, a caneta ou mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova realidade, dele tar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, e estas é que lhes conferem existência para toda a comunidade de falantes. As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada língua pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de ver a realidade. O inglês, por exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep, que designa o animal, e mutton, que significa a carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas coisas numa palavra só: Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado, ou seja, não aplicamos a distinção que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso mostra que a linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa maneira de perceber e de ordenar a realidade. A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de
  • 10. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 10 porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você derrubou o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe-se que, na primeira formulação, não existe um responsável pela queda e pela quebra do objeto. É como se isso se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se a responsabilidade pelo acontecimento a um agente. - A linguagem é uma forma de ação. Existem certas fórmulas linguísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre diz aos noivos “Eu vos declaro marido e mulher”, quando alguém diz “Prometo estar aqui amanhã”, quando um leiloeiro proclama “Arrematado por mil reais”, quando o presidente de alguma câmara municipal afirma “Declaro aberta a sessão”, eles não estão constatando alguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato de abrir uma sessão realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se quando se diz “Prometo”. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para demonstrar que a linguagem não é algo sem consequência, porque ela também é ação. Funções da Linguagem Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é que ela serve para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? - A linguagem serve para informar: Função Referencial. “Estados Unidos invadem o Iraque” Essa frase, numa manchete de jornal, informa- nos sobre um acontecimento do mundo. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pessoas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, somos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os. Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como aprendemos desde as mais banais informações do dia a dia até as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais avançados. A função informativa da linguagem tem importância central na vida das pessoas, consideradas individualmente ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite conhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos e a transferência de experiências. Por meio dessa função, a linguagem modela o intelecto. É a função informativa que permite a realização do trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender. A função informativa costuma ser chamada também de função referencial, pois seu principal propósito é fazer com que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas ou os eventos a que fazem referência. - A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: Função Conativa. “Vem pra Caixa você também.” Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse comportamento, formulou-se um convite com uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer determinadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sentir determinadas emoções, a ter determinados estados de alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos os preconceitos contra a mulher. Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expressas pela linguagem também servem para fazer fazer. Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar. Emprega-se a expressão função conativa da linguagem quando esta é usada para interferir no comportamento das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma sugestão. A palavra co- nativo é proveniente de um verbo latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). - A linguagem serve para expressar a subjetividade: Função Emotiva. “Eu fico possesso com isso!”
  • 11. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 11 Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. Exprimimos a revol- ta e a alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O Fernando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela proximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou nossa competência na conquista amorosa. Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro inconscientemente. Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utilização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, daquele que fala. - A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Função Fática. __Que calorão, hein? __Também, tem chovido tão pouco. __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil. Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se tem assunto, fa- la-se do tempo, repetem-se histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais. Quando encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se está doente, se está com problemas. A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros. Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função fática para indicar a utilização da linguagem para estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor. - A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem: Função Metalinguística. Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usando o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegante usar palavrões”, não estamos falando de acontecimentos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É o que chama função metalinguística. A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica, vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. - A linguagem serve para criar outros universos. A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem existir. O fil- me de Woody Allen “A rosa púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta- se a história de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o amor nunca diminui e assim por diante. - A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética. Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrairmos sa- tisfação. Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase shakespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes,
  • 12. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 12 quando soube que uma mulher muito gorda se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos”. A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio Guimarães: “ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de consciência e bata em retirada.” (Folha de S. Paulo) Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para informar, para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc. Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: E o bosque estala, move-se, estremece... Da cavalgada o estrépito que aumenta Perde-se após no centro da montanha... Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed. Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o barulho dos cavalos aumenta. Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua função poética. Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da comunicação. Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta - alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta em silêncio, etc). Exemplo: Elementos da comunicação - Emissor - emite, codifica a mensagem; - Receptor - recebe, decodifica a mensagem; - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor; - Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; - Referente - contexto relacionado a emissor e receptor; - Canal - meio pelo qual circula a mensagem. Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclusão que quando se trata da parole, entende- se que é um veículo democrático (observe a função fática), assim, admite-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diálogo interativo): - locutor - quem fala (e responde); - locutário - quem ouve e responde; - interlocução - diálogo As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. As atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação Lembramo-nos: - Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no “eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta função está, por norma, a poesia lírica. - Função apelativa (imperativa): com este tipo de mensagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este assuma determinado comportamento; há frequente uso do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é frequentemente usada por oradores e agentes de publicidade. - Função metalinguística: função usada quando a língua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na análise de um texto, investigamos os seus aspectos morfo-sintáticos e/ou semânticos). - Função informativa (ou referencial): função usada quando o emissor informa objetivamente o receptor de uma realidade, ou acontecimento. - Função fática: pretende conseguir e manter a atenção dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). - Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, ritmos agradáveis, etc. Também podemos pensar que as primeiras falas conscientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjeições”. As primeiras ferra- mentas da fala humana. A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais profundamente distingue o homem dos outros animais. Podemos considerar que o desenvolvimento desta função cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a libertação da mão, que permitiram o aumento do volume do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica facial Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada e escrita, o homem, aprendendo
  • 13. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 13 pela observação de animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos surdos em diferentes países, não só para melhorar a comunicação entre surdos, mas também para utilizar em situações especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas que se podem observar entre si. Potencialidades da Linguagem Depois de analisar as funções da linguagem, conclui-se que ela é onipresente na vida de todos nós. Cerca-nos desde o despertar da consciência, ainda no berço, segue-nos durante toda a vida e acompanha-nos até a hora da morte. Sem a linguagem, não se pode estruturar o mundo do trabalho, pois é ela que permite a troca de informações e de experiências e a cooperação entre os homens. Sem ela, o homem não pode conhecer- se nem conhecer o mundo. Sem ela, não se exerce a cidadania, porque os eleitores não podem influenciar o governo. Sem ela não se pode aprender, expressar os sentimentos, imaginar outras realidades, construir as utopias e os sonhos. No entanto, a linguagem parece-nos uma coisa natural. Não prestamos muita atenção a ela. Nem sempre dedicamos muito tempo ao seu estudo. Conhecer bem a língua materna e línguas estrangeiras é uma necessidade. Que é saber bem uma língua? Evidentemente, não é saber descrevê-la. A descrição gramatical de uma língua é um meio de adquirir sobre ela um domínio crescente. Saber bem uma língua é saber usá-la bem. No entanto, o emprego de palavras raras e a correção gramatical não são sinônimos do uso adequado da língua. Falar bem é atingir os propósitos de comunicação. Para isso, é preciso usar um nível de língua adequado, é necessário construir textos sem ambiguidades, coerentes, sem repetições que não acrescentam nada ao sentido. O texto que segue foi dito por um locutor esportivo: “Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre, mola propulsora do eleven periquito.” (Álvaro da Costa e Silva. In: Bundas, p.33.) O que o locutor quis dizer foi: Entra em campo o médico do Palmeiras a fim de cuidar da contusão de Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia), jogador de meio de campo do time do Parque Antártica. Certamente, aquele texto não seria entendido pela maioria dos ouvintes. Portanto não é um bom texto, porque não usa um nível de língua adequado à situação de comunicação. Outros exemplos: “As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.” (Jornal Folha do Sudoeste) Certamente a portaria não deveria obrigar os pais a acompanhar os filhos aos motéis nem a dar- lhes uma autorização por escrito para ser exibida na entrada desse tipo de estabelecimento. O jornal da USP publicou uma série de textos encontrados em comunicados de paróquias e templos. Todos são mal escritos, embora neles não se encontrem erros de ortografia, concordância, etc.: - Não deixe a preocupação acabar com você. Deixe que a Igreja ajude. - Terça-feira à noite: sopão dos pobres, depois oração e medicação. - (...) lembre-se de todos que estão tristes e cansados de nossa igreja e de nossa comunidade. - Para aqueles que têm filhos e não sabem, nós temos uma creche no segundo andar. - Quinta-feira às 5h haverá reunião do Clube das Jovens Mamães. Todos aqueles que quiserem se tornar uma Jovem Mamãe, devem contatar padre Cavalcante em seu escritório. (...) (Jornal da USP, 9, p. 15) Humor à parte, esses exemplos comprovam que aprender não só a norma culta da língua, mas também os mecanismos de estruturação do texto. A palavra texto é bastante usada na escola e também em outras instituições sociais que trabalham com a linguagem. É comum ouvirmos expressões como “O texto constitucional desceu a detalhes que deveriam estar em leis ordinárias”; “Seu texto ficou muito bom”; “O texto da prova de Português era muito longo e complexo”; “Os atores de novelas devem decorar textos enormes todos os dias”. Apesar de corrente, porém, o termo não é de fácil definição: quando perguntamos qual é o seu significado, percebemos que a maioria das pessoas é incapaz de responder com precisão e clareza. Texto é um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. O texto é um todo organizado de sentido, isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases simplesmente colocadas umas depois das outras, mas um conjunto de frases costuradas entre si. Por isso o sentido de cada parte depende da sua relação com as outras partes, isto é, o sentido de uma palavra ou de uma frase depende das outras palavras ou frases com que mantêm relação. Em síntese, o sentido depende do contexto, entendido como a unidade maior que compreende uma unidade menor, a oração é contexto da palavra, o período é contexto da oração e assim sucessivamente. O contexto pode ser explícito (quando é exposto em palavras) ou implícito (quando
  • 14. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 14 é percebido na situação em que o texto é produzido). Observe os três pequenos textos abaixo: - Todos os dias ele fazia sua fezinha. Na noite de segunda-feira sonhou com um deserto e jogou seco no camelo. - Nos desertos da Arábia, o camelo é ainda o principal meio de transporte dos beduínos. - O camelo aqui carrega a família inteira nas costas, porque lá ninguém trabalha. Em cada uma dessas frases a palavra camelo tem um sentido diferente. Na primeira, significa “o oitavo grupo do jogo no bicho, que corresponde ao número 8 e inclui as dezenas 29, 30, 31 e 32”; na segunda, “animal originário das regiões desérticas, de grande porte, quadrúpede, de cor amarelada, de pescoço longo e com duas saliências no dorso”; na terceira, “pessoa que trabalha muito”. O que determina essa diferença de sentido da palavra é exatamente o contexto, o todo em que ela está inserida. No texto, portanto, o sentido de cada parte não é independente, tudo são relações. Aliás, a palavra texto significa “tecido”, que não é um amontoado de fios, mas uma trama arranjada de maneira organizada. O sentido não é solitário, é solidário. Vejamos outros dois períodos: - Marcelinho é um bom atacante, mas é desagregador. - Marcelinho é desagregador, mas é um bom atacante. Esses períodos relacionam diferentemente as orações. No primeiro, a oração é “desagregador” é introduzida por “mas”, enquanto no segundo é a oração “é um bom atacante” que é iniciada por essa conjunção. O sentido é completamente diferente, pois o “mas” introduz o argumento mais forte e, por conseguinte, determina a orientação argumentativa da frase. Isso significa que, quando afirmo, “não quero o jogador no meu time”; quando digo, “acredito que todos os seus defeitos devem ser desculpados”. Observe agora o poema “Canção do Exílio” de Murilo Mendes: Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos de exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Poesias (1925-1953). Rio de Janeiro, José Olympio, 1959, p. 5. Tomando apenas os dois primeiros versos, pode- se pensar que esse poema seja uma apologia do caráter universalista e cosmopolita da brasilidade: macieiras e gaturamos representam a natureza vegetal e animal, respectivamente; Califórnia e Veneza são a imagem do espaço estrangeiro, e minha terra, a do solo pátrio. No Brasil, até a natureza acolhe o que é estrangeiro. Pode-se ainda acrescentar, em apoio a essa tese, que esses versos são calcados nos dois primeiros do poema homônimo de Gonçalves Dias, que é uma glorificação da terra pátria: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; Apud: Manuel Bandeira. Gonçalves Dias: Poesia. 7ª ed. Rio de Janeiro Agir, 1976, p. 18. Coleção Nossos Clássicos. Essa hipótese de leitura, se não é absurda quando isolamos os versos em questão, não encontra amparo quando os confrontamos com o restante do texto. Murilo Mendes mostra, na verdade, que as características da brasilidade não têm valor positivo, não concorrem para a exaltação da pátria: o poeta denuncia que a cultura brasileira é postiça, é uma miscelânea de elementos advindos de vários países. Ele mostra que os “poetas são pretos que vivem em torres de ametista”, alienados num mundo idealizado, evitando as mazelas do mundo real, sem se preocupar com os negros, que vivem, em geral, em condições muito precárias (trata-se de uma referência irônica ao Simbolismo e, principalmente, a Cruz e Sousa); que “os sargentos do exército são monistas, cubistas”, ou seja, em vez da preocupação com seu ofício de garantir a segurança do território nacional, têm pretensões de incursionar por teorias filosóficas e estéticas; que “os filósofos são polacos vendendo a prestações”, são prostituídos (polaca é termo designativo de prostituta) pela venalidade barata; que “os oradores” se identificam com “os pernilongos” em sua oratória repetitiva; que o romantismo gonçalvino estava certo ao afirmar que a natureza brasileira é pródiga, só que essa prodigalidade não é acessível à maioria da população. A exclamação do final é, ao mesmo tempo, a manifestação do desejo de ter contato com coisas genuinamente brasileiras e um lamento, pois o poeta sabe que não se tornará realidade. O texto de Murilo faz referência ao de Gonçalves Dias, mas, diferentemente do poema gonçalvino, não celebra ufanisticamente a pátria. Ao contrário, ironiza-a, lamenta a invasão estrangeira. O exílio é a própria terra, desnaturada a ponto de parecer estrangeira. Desse modo, os dois primeiros versos não podem ser interpretados como um elogio ao caráter
  • 15. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 15 cosmopolita da cultura brasileira. Ao contrário, devem ser lidos como uma crítica ao caráter postiço da nossa cultura. Isso porque só a segunda interpretação se encaixa coerentemente dentro do contexto. Por exemplo, comprova-se que o significado das frases não é autônomo. Num texto, o significado das partes depende do todo. Por isso, cada frase tem um significado distinto, dependendo do contexto em que está inserida. Que é que faz perceber que um conjunto de frases compõe um texto? O primeiro fator é a coerência, ou seja, a compatibilidade de sentido entre elas, de modo que não haja nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. Outro fator é a ligação das frases por certos elementos que recuperam passagens já ditas ou garantem a concatenação entre as partes. Assim, em “Não chove há vários meses. Os pastos não poderiam, pois, estar verdes”, a palavra “pois” estabelece uma relação de decorrência lógica entre uma e outra frase. O segundo fator, entretanto, é menos importante que o primeiro, pois mesmo sem esses elementos de conexão, um conjunto de frases pode ser coerente e, portanto, um todo organizado de sentido. Tipos de Linguagem Linguagem é a capacidade que possuímos de expressar nossos pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais que se valem os indivíduos para comunicar-se. A linguagem pode ser: - Verbal: aquela que faz uso das palavras para comunicar algo. As figuras acima nos comunicam sua mensagem através da linguagem verbal (usa palavras para transmitir a informação). - Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras. Dentre elas estão a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc. Essas figuras fazem uso apenas de imagens para comunicar o que representam. A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. A língua possui um caráter social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma de expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que outros falantes a compreendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a língua comunitária, originando a fala. A fala está sempre condicionada pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da seguinte maneira: A família de Regina era paupérrima. Outro, no entanto, pode optar por: A família de Regina era muito pobre. As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diversas manifestações da fala de cada um. Note, além disso, que essas manifestações devem obedecer às regras gerais da língua portu- guesa, para não correrem o risco de produzir enunciados incompreensíveis como: Família a paupérrima de era Regina. Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
  • 16. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 16 mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: - Fatores Regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado. - Fatores Culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola. - Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos: quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura. - Fatores Profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas. - Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta. Fala É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua perso- nalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente como a nossa. Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis: - Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela língua. - Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais estabelecidas pela língua. Signo É um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o significado e o significante. Ao escutar a palavra “cachorro”, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que é o significante do signo “cachorro”. Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do signo “cachorro” e também se encontra armazenado em nossa memória. Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer às regras gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido “um” diante do signo “cachorro”, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não seria possível se quiséssemos colocar o artigo “uma” diante do signo “cachorro”. A sequência “uma cachorro” contraria uma regra de concordância da língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de suas regras combinatórias. Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e significante. Significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + Significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas). Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão. Estudo do Significado O papel essencial da linguagem, em quaisquer das suas formas, é a produção de significado: ao se relacionar com as coisas, o homem faz uso de sinais que as representam. A linguagem pode ser usada pelo homem para múltiplas finalidades: para ajudá-lo a compreender a si mesmo, o mundo físico e as pessoas que o
  • 17. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 17 rodeiam, para influenciar o outro e até para trapacear, fingindo uma intenção para esconder outra. A linguagem pode também manifestar-se sob grande variedade de formas: - Sons produzidos pela voz (linguagem verbal) - Cores, formas e volumes (linguagem visual) - Movimentos do corpo (linguagem corporal, dança) - Sons produzidos por instrumentos (linguagem musical) - Imagens em movimento (cinema), etc. Para resumir, costumamos distinguir duas grandes divisões para definir as formas de linguagem: - Linguagem Verbal: mais especificamente constituída pela língua, seja ela oral, seja escrita. - Linguagens não-verbais: constituídas por todas as outras modalidades diferentes da língua: pintura, escultura, música, dança, cinema, etc. Hoje em dia, graças sobretudo à facilidade de reprodução de sons, cores, movimentos e imagens, é muito comum a exploração conjunta de várias formas de linguagem: a linguagem do cinema e da televisão é uma demonstração eloquente da exploração conjunta de sons musicais e da voz humana, de cores, de imagens em movimento. Qualquer que seja a forma de manifestação, toda linguagem tem um ponto em comum: nenhuma opera com a realidade tal que ela é, mas com representações da realidade. Dizendo de outra ma- neira, toda linguagem é constituída de signos. E o que são signos? São qualquer forma material (sons, linhas, cores, volumes, imagens em movimento) que representam alguma coisa diferente dela mesma. Em outras palavras, todo signo é constituído de algo material, perceptível pelos órgãos dos sentidos (ouvido, olho) e de algo imaterial, uma representação mental, inteligível. A dimensão material do signo costuma ser designada por dois nomes: plano de expressão ou significante. A dimensão imaterial e inteligível é chamada por dois nomes: plano de conteúdo ou significado. Por uma questão de simplificação, usaremos a seguinte nomenclatura: Signo: qualquer tipo de sinal material usado para representar algo, isto é, tornar presente alguma coisa ausente. Uma árvore plantada no bosque não é um signo, porque não passa de uma árvore, não representa nada além de si mesma. Prova disso é que não podemos trazer para este livro a árvore real, apenas uma representação dela, formada de cores e formas sobre uma superfície de papel. Que o signo não passa de representação da realidade é um tema que tem sido objeto de debate entre os homens. O célebre pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), pintou um cachimbo com requintes de pormenores, dando a máxima impressão de realismo. Surpreendentemente, num jogo de ironia, escreveu abaixo da pintura a frase Ceci n’est pás une pipe (“Isto não é um cachimbo”). Aos que o contestavam, achando absurda a ideia de negar que aquilo fosse um cachimbo, conta-se que ele desafiava: __ Então acenda-o e comece a fumá-lo. Após essas considerações, vamos fazer duas observações de ordem terminológica: - a representação do cachimbo é um signo do cachimbo, não o objeto cachimbo; - ao objeto chamamos de referente, ou a coisa real. Podemos, então, após esses dados, montar um esquema daquilo que os estudiosos chamam de signo: Signo: é qualquer objeto, forma ou fenômeno material que representa a ideia de algo diferente dele mesmo. Assim sendo, o signo apresenta três dimensões: - Significante (ou plano de expressão): é a parte material do signo (um objeto, uma forma ou um fenômeno perceptível pelos sensores do corpo humano). - Significado (ou plano de conteúdo): é o conceito, ou a forma mental criada no intelecto pelo significante. - Referente: é a coisa representada pelo signo. É dado de realidade trazido à mente por meio do signo. São os signos que nos permitem trazer para a lembrança referentes que já deixaram de existir. As palavras, por exemplo, são signos e, por meio delas, podemos trazer para o presente pessoas e fatos que já desapareceram. Tomemos, por exemplo, uma palavra como Camões. Trata-se de um signo, pois o referente (o poeta em carne e osso) não existe mais. Significante: uma conjunto de sons, representado pelo espectro de uma onda sonora. Significado: o conceito associado no intelecto quando ouvimos essa combinação de sons. O referente é o famoso poeta português Luís Vaz de Camões, que, como se sabe, morreu faz tempo. Observação: A rigor, não é exato usar um retrato de Camões para ilustrar o significado da palavra Camões, pois este, na verdade, é de instância intelectual. Excluindo esse inconveniente, a pintura, serve para sugerir o conceito que a combinação de sons (k – a – m – õ – e – s) cria no nosso intelecto. A conclusão mais importante de tudo isso é que usamos os signos no lugar das coisas e, pela linguagem, construímos um universo paralelo ao universo real. Se levarmos em conta que as relações entre os homens são determinadas mais pelas representações que fazemos das coisas do que pelas coisas em si, vamos compreender que
  • 18. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 18 interpretar e produzir significados é a competência de maior importância para quem deseja dominar os segredos da linguagem. Relacionando o aprendizado do português com esses dados preliminares, podemos encadear os seguintes raciocínios: - A principal função de qualquer forma de linguagem é a construção de significados para atingir certos resultados planejados pelo construtor. - O português é uma forma de linguagem. - Portanto a competência mais importante para os falantes da língua portuguesa é saber construir significados e decifrar os significados produzidos por meio dela. Esse é um dado de extrema importância tanto para quem ensina quanto para quem aprende não só o português como qualquer outra língua com o propósito de usá-la para o mundo do trabalho, para o exercício da cidadania e para a aquisição de novos conhecimentos. Para quem aprende uma língua com esse tipo de interesse, o que mais importa é adquirir a capacidade de compreender, com a máxima proficiência, os significados direcionados para atingir os resultados programados. Resumindo tudo, para quem estuda uma língua do ponto de vista de quem vai conviver e trabalhar com ela, o que mais importa é a capacidade de produzir e compreender significados. Todos os demais tipos de aprendizado linguístico estão subordinados a essas duas competências mais amplas e mais altas. A Semântica é um ramo da Linguística que se ocupa do significado das formas linguísticas em geral. Por formas linguísticas vamos entender tanto as mínimas unidades de significado constituintes das palavras (os prefixos e sufixos, por exemplo) quanto enunciados maiores, como orações e períodos. Analisar, pois, uma palavra ou uma frase sob o ponto de vista semântico equivale a tentar decifrar o que elas significam ou o que querem dizer. Dado que a finalidade última de qualquer linguagem é a produção de significado, não é preciso destacar a importância fundamental da Semântica dentro dos estudos linguísticos. Nem é preciso também falar da importância desse tópico nas provas de concursos na matéria de língua portuguesa em geral. Para facilitar a compreensão de certas particularidades relativas ao significado das palavras e das formas linguísticas em geral, uma noção primária se impõe como necessária: a de que o significado de um signo não é constituído por uma peça única, mas por um punhado de significados menores que se combinam entre si para criar a noção com que representamos as coisas ou os eventos do mundo. Dizemos de outra maneira, o significado das palavras não é simples, mas complexo, constituído de um feixe de unidades menores a que os estudiosos chamam de traços semânticos ou traços de significado. São os traços semânticos que usamos para definir o significado das palavras. Tomemos um exemplo que já ficou clássico nos estudos de Semântica, usado pelo linguista francês contemporâneo Bernard Pottier. Segundo ele, a palavra “cadeira” é um móvel doméstico que contém os seguintes traços semânticos: - com encosto. - sobre pernas. - para uma só pessoa. Para sentar-se. Se aos quatro traços da palavra “cadeira” acrescentarmos mais um, “com braços”, teremos a palavra “poltrona”. Uma mesma palavra pode, num dado contexto, trocar um traço semântico por outro e ganhar novo sentido. É o que acontece, por exemplo em: Peixe não vive fora d’água. A palavra “peixe” é marcada, nesse contexto, pelo traço semântico “não humano”. Esse traço pode ser trocado, por exemplo, por um traço “humano”, noutro contexto como este: Na festa de aniversário da minha prima, eu era um peixe fora d’água. “Peixe”, nesse contexto, não fará sentido se não trocarmos o traço semântico “não humano” por “humano”. Em síntese, concluímos que, por ser constituído de feixes de traços semânticos, o sentido da palavra não é estável, podendo sofrer variações de época para época, de lugar para lugar, de contexto para contexto. Há contexto em que uma palavra não pode ser interpretada com todos os traços semânticos que comumente a definem. Por isso é que os bons dicionários costumam dar os diferentes sentidos possíveis de uma palavra, acompanhados do contexto em que ela adquire cada um dos seus vários sentidos. Tomemos como exemplo uma palavra como “cadeia” e alguns de seus múltiplos sentidos no português: - Prisão: Sonegar imposto dá cadeia. - Rede, conjunto de emissoras: O presidente falará em cadeia nacional. - Sequência: As ruínas são cercadas por uma cadeia de montanhas. Levando esses dados em consideração, torna-se mais fácil compreender as particularidades sobre o significado das palavras. Delimitações e Sujeito do Texto O texto é delimitado por dois brancos. Se ele é um todo organizado de sentido, ele pode ser verbal,
  • 19. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 19 visual (um quadro), verbal e visual (um filme), sonoro (uma música), etc. Mas em todos esses casos ele será delimitado por dois espaços de não-sentido, dois brancos, um antes de começar o texto e outro depois. É o branco do papel; é o tempo de espera para que um filme comece e o que está depois da palavra FIM; é o silêncio que precede os primeiros acordes de uma melodia e que sucede às notas finais, etc. O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social que vive num dado tempo e num certo espaço, expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas desse grupo. Todo texto, assim, relaciona-se com o contexto histórico e geográfico em que foi produzido, refletindo a realidade apreendida por seu autor, que sobre ela se pronuncia. O poema de Murilo Mendes que comentamos anteriormente mostra o anseio de uma geração, no Brasil, em certa época, de conhecer bem o país e revelar suas mazelas para transformá-lo. Não há texto que não reflita o seu tempo e o seu lugar. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um modo único de analisar os problemas estabelecidos num dado contexto. Como a sociedade é dividida em grupos sociais, que têm interesses muitas vezes antagônicos, ela produz ideias divergentes entre si. A mesma sociedade que gera a ideia de que é preciso pôr abaixo a floresta amazônica para explorar suas riquezas, produz a ideia de que preservá-la é mais rentável. É bem verdade, no entanto, que algumas ideias, em certas épocas, exercem domínio sobre outras. É necessário entender as concepções correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para não correr o risco de entendê-lo de maneira distorcida. Como não há ideias puras, todas as ideias estão materializadas em textos, analisar a relação de um texto com sua época é estudar a sua relação com outros textos. É preciso que fiquem bem claras estas conclusões: - No texto, o sentido não é solitário, mas solidário. - O texto está delimitado por dois espaços de não-sentido. - O texto revela ideais, concepções, anseios, expectativas e temores de um grupo social numa determinada época, em determinado lugar. SEMÂNTICA Quanto à significação, as palavras podem ser: Sinônimos e antônimos O que são Sinônimos e Antônimos: * Sinônimos São palavras de sentido igual ou aproximado:  alfabeto - abecedário;  brado, grito - clamor;  extinguir, apagar - abolir. Observação: A contribuição greco-latina é responsável pela existência de numerosos pares de sinônimos:  adversário e antagonista;  translúcido e diáfano;  semicírculo e hemiciclo;  contraveneno e antídoto;  moral e ética;  colóquio e diálogo;  transformação e metamorfose;  oposição e antítese. * Antônimos São palavras de significação oposta:  ordem - anarquia;  soberba - humildade;  louvar - censurar;  mal - bem. Observação: A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo:  bendizer e maldizer;  simpático e antipático;  progredir e regredir;  concórdia e discórdia;  ativo e inativo;  esperar e desesperar;  comunista e anticomunista;  simétrico e assimétrico. O que são Homônimos e Parônimos: * Homônimos a) Homógrafos: são palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia:  rego (subst.) e rego (verbo);  colher (verbo) e colher (subst.);  jogo (subst.) e jogo (verbo);  apoio (subst.) e apoio (verbo);  denúncia (subst.) e denuncia (verbo);  providência (subst.) e providencia (verbo). b) Homófonos: são palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita:  acender (atear) e ascender (subir);  concertar (harmonizar) e consertar (reparar);  cela (compartimento) e sela (arreio);  censo (recenseamento) e senso (juízo);  paço (palácio) e passo (andar). c) Homógrafos e homófonos simultaneamente: São palavras iguais na escrita e na pronúncia:  caminho (subst.) e caminho (verbo);
  • 20. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 20  cedo (verbo) e cedo (adv.);  livre (adj.) e livre (verbo). * Parônimos São palavras parecidas na escrita e na pronúncia:  coro e couro;  cesta e sesta;  eminente e iminente;  osso e ouço;  sede e cede;  comprimento e cumprimento;  tetânico e titânico;  autuar e atuar;  degradar e degredar;  infligir e infringir;  deferir e diferir;  suar e soar. COESÃO E COERÊNCIA Antes de tudo é preciso saber o que é coesão e coerência, pois sem essas duas chaves principais de qualquer texto, você não vai a lugar nenhum. Coesão - em nossa linguagem cotidiana procuramos executar manobras coesivas, muitas vezes, com o intuito de melhorar a própria expressividade do enunciado. Veja alguns casos: Em lugar de - Comprei sorvetes. Dei os sorvetes a meus filhos. usamos - Comprei sorvetes. Dei-os a meus filhos. Dei-os funciona como relacional que recupera em B o que havia sido colocado em A. O objetivo é evidenciar o processo de repetição, considerado menos "rico ou sofisticado" por uma certa gramática. O uso indevido de elementos de ligação invariavelmente podem comprometer os processos coesivos do texto. Coerência - A rigor, existem vários níveis e planos de coerência ou incoerência. Veja alguns casos: - Um sujeito resolve contar a última piada de papagaio num velório. Além de impertinente, a piada sofre de uma síndrome geral de incoerência contextual. A situação lutuosa não permite que o decoro seja quebrado e risos apareçam em torno do defunto. - Em vestibular da Fuvest, o candidato saiu-se com a seguinte "... a palidez do sol tropical refletia nas águas do rio Amazonas". Convenhamos que o sol tropical pode ser acusado de muitas coisas, menos de palidez. O riso provocado pela leitura daquele texto poético é derivado de um caso de incoerência no uso da imagem. A lista poderia aumentar muito. Basta reter a ideia que, no fundo, o problema básico envolvido na produção da coerência é o do acerto das partes com relação ao todo textual; do ajuste sequencial das ideias; da progressão dos argumentos; das afirmativas que são explicadas... Coloque-se sempre no lugar do autor ou do ouvinte para sentir se realmente está sendo coerente. Redação A linguagem escrita tem identidade própria e não pretende ser mera reprodução da linguagem oral. Ao redigir, o indivíduo conta unicamente com o significado e a sonoridade das palavras para transmitir conteúdos complexos, estimular a imaginação do leitor, promover associação de ideias e ativar registros lógicos, sensoriais e emocionais da memória. Redação é o ato de exprimir ideias, por escrito, de forma clara e organizada. O ponto de partida para redigir bem é o conhecimento da gramática do idioma e do tema sobre o qual se escreve. Um bom roteiro de redação deve contemplar os seguintes passos: escolha da forma que se pretende dar à composição, organização das ideias sobre o tema, escolha do vocabulário adequado e concatenação das ideias segundo as regras linguísticas e gramaticais. Para adquirir um estilo próprio e eficaz é conveniente ler e estudar os grandes mestres do idioma, clássicos e contemporâneos; redigir frequentemente, para familiarizar-se com o processo e adquirir facilidade de expressão; e ser escrupuloso na correção da composição, retificando o que não saiu bem na primeira tentativa. É importante também realizar um exame atento da realidade a ser retratada e dos eventos a que o texto se refere, sejam eles concretos, emocionais ou filosóficos. O romancista, o cientista, o burocrata, o legislador, o educador, o jornalista, o biógrafo, todos pretendem comunicar por escrito, a um público real, um conteúdo que quase sempre demanda pesquisa, leitura e observação minuciosa de fatos empíricos. A capacidade de observar os dados e apresentá-los de maneira própria e individual determina o grau de criatividade do escritor. Para que haja eficácia na transmissão da mensagem, é preciso ter em mente o perfil do leitor a quem o texto se dirige, quanto a faixa etária, nível cultural e escolar e interesse específico pelo assunto. Assim, um mesmo tema deverá ser apresentado diferentemente ao público infantil, juvenil ou adulto; com formação universitária ou de nível técnico; leigo ou especializado. As diferenças hão de determinar o vocabulário empregado, a extensão do texto, o nível de complexidade das informações, o enfoque e a condução do tema principal a assuntos correlatos.
  • 21. APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS – Nível superior 21 Organização das ideias. O texto artístico é em geral construído a partir de regras e técnicas particulares, definidas de acordo com o gosto e a habilidade do autor. Já o texto objetivo, que pretende antes de mais nada transmitir informação, deve fazê- lo o mais claramente possível, evitando palavras e construções de sentido ambíguo. Para escrever bem, é preciso ter ideias e saber concatená-las. Entrevistas com especialistas ou a leitura de textos a respeito do tema abordado são bons recursos para obter informações e formar juízos a respeito do assunto sobre o qual se pretende escrever. A observação dos fatos, a experiência e a reflexão sobre seu conteúdo podem produzir conhecimento suficiente para a formação de ideias e valores a respeito do mundo circundante. É importante evitar, no entanto, que a massa de informações se disperse, o que esvaziaria de conteúdo a redação. Para solucionar esse problema, pode-se fazer um roteiro de itens com o que se pretende escrever sobre o tema, tomando nota livremente das ideias que ele suscita. O passo seguinte consiste em organizar essas ideias e encadeá-las segundo a relação que se estabelece entre elas. Vocabulário e estilo. Embora quase todas as palavras tenham sinônimos, dois termos quase nunca têm exatamente o mesmo significado. Há sutilezas que recomendam o emprego de uma ou outra palavra, de acordo com o que se pretende comunicar. Quanto maior o vocabulário que o indivíduo domina para redigir um texto, mais fácil será a tarefa de comunicar a vasta gama de sentimentos e percepções que determinado tema ou objeto lhe sugere. Como regras gerais, consagradas pelo uso, deve-se evitar arcaísmos e neologismos e dar preferência ao vocabulário corrente, além de evitar cacofonias (junção de vocábulos que produz sentido estranho à ideia original, como em "boca dela") e rimas involuntárias (como na frase, "a audição e a compreensão são fatores indissociáveis na educação infantil"). O uso repetitivo de palavras e expressões empobrece a escrita e, para evitá-lo, devem ser escolhidos termos equivalentes. A obediência ao padrão culto da língua, regido por normas gramaticais, linguísticas e de grafia, garante a eficácia da comunicação. Uma frase gramaticalmente incorreta, sintaticamente mal estruturada e grafada com erros é, antes de tudo, uma mensagem ininteligível, que não atinge o objetivo de transmitir as opiniões e ideias de seu autor. Tipos de redação. Todas as formas de expressão escrita podem ser classificadas em formas literárias -- como as descrições e narrações, e nelas o poema, a fábula, o conto e o romance, entre outros -- e não-literárias, como as dissertações e redações técnicas. Descrição. Descrever é representar um objeto (cena, animal, pessoa, lugar, coisa etc.) por meio de palavras. Para ser eficaz, a apresentação das características do objeto descrito deve explorar os cinco sentidos humanos -- visão, audição, tato, olfato e paladar --, já que é por intermédio deles que o ser humano toma contato com o ambiente. A descrição resulta, portanto, da capacidade que o indivíduo tem de perceber o mundo que o cerca. Quanto maior for sua sensibilidade, mais rica será a descrição. Por meio da percepção sensorial, o autor registra suas impressões sobre os objetos, quanto ao aroma, cor, sabor, textura ou sonoridade, e as transmite para o leitor. Narração. O relato de um fato, real ou imaginário, é denominado narração. Pode seguir o tempo cronológico, de acordo com a ordem de sucessão dos acontecimentos, ou o tempo psicológico, em que se privilegiam alguns eventos para atrair a atenção do leitor. A escolha do narrador, ou ponto de vista, pode recair sobre o protagonista da história, um observador neutro, alguém que participou do acontecimento de forma secundária ou ainda um espectador onisciente, que supostamente esteve presente em todos os lugares, conhece todos os personagens, suas ideias e sentimentos. A apresentação dos personagens pode ser feita pelo narrador, quando é chamada de direta, ou pelas próprias ações e comportamentos deste, quando é dita indireta. As falas também podem ser apresentadas de três formas: (1) discurso direto, em que o narrador transcreve de forma exata a fala do personagem; (2) discurso indireto, no qual o narrador conta o que o personagem disse, lançando mão dos verbos chamados dicendi ou de elocução, que indicam quem está com a palavra, como por exemplo "disse", "perguntou", "afirmou" etc.; e (3) discurso indireto livre, em que se misturam os dois tipos anteriores. O conjunto dos acontecimentos em que os personagens se envolvem chama-se enredo. Pode ser linear, segundo a sucessão cronológica dos fatos, ou não-linear, quando há cortes na sequência dos acontecimentos. É comumente dividido em exposição, complicação, clímax e desfecho. Dissertação. A exposição de ideias a respeito de um tema, com base em raciocínios e argumentações, é chamada dissertação. Nela, o objetivo do autor é discutir um tema e defender sua posição a respeito dele. Por essa razão, a coerência entre as ideias e a clareza na forma de expressão são elementos fundamentais. A organização lógica da dissertação determina sua divisão em introdução, parte em que se apresenta o tema a ser discutido; desenvolvimento, em que se expõem os argumentos e ideias sobre o assunto, fundamentando-se com fatos, exemplos, testemunhos e provas o que se quer demonstrar; e