SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 15
A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS
BEZERRA, Jackson Leandro Luna
INPG – Instituto Nacional de Pós Graduação
jackson.bezerra@gmail.com
RESUMO
Esta pesquisa procurará descobrir qual a validade da implantação da tecnologia
DFT (do inglês Demand Flow Technology) em indústrias brasileiras, mais
precisamente as metalúrgicas. A pergunta básica que a pesquisa procurará
responder é por que essa tecnologia praticamente não é utilizada por indústrias
nacionais. Este estudo almeja também ampliar o conhecimento sobre a tecnologia
em língua portuguesa, pois não há bibliografia conhecida neste idioma. O DFT é um
sistema de negócios que visa aumentar a produtividade eliminando todo e qualquer
desperdício no ambiente fabril e, ao mesmo tempo, reagindo às demandas do
mercado sem perda de produtividade.
Palavras-chave: DFT, aumento de produtividade, eliminação de desperdícios,
estratégia de negócios, demanda de mercado
ABSTRACT
This study will try to find out the possibility of using the DFT (Demand Flow
Technology) business strategy in Brazilian industries, specially metallurgic
companies. The basic question the study is trying to answer is why this technology is
almost unknown by Brazilian companies. It also aims to increase the knowledge
about the technology in Portuguese, as there is no known bibliography in this
language. DFT is a business strategy that aims to increase the productivity by
eliminating wastes in the shopfloor and, at the same time, meeting customer’s
demands with no loss of productivity.
Keywords: DFT, productivity increase, waste elimination, business strategy,
market demands
1. INTRODUÇÃO
Nos tempos atuais, está cada vez mais difícil para as indústrias atingirem uma
vantagem competitiva sustentável em relação a seus concorrentes. O mundo da
manufatura hoje é bem parecido com o que era 30 anos atrás. As companhias
brasileiras de alta performance mantêm o foco na eliminação de custos, melhoria
contínua e manufatura enxuta, empregando conceitos de W. Edwards Deming e
Eliyahu Goldratt que foram inventados dos anos 70 aos 90.
Existe, entretanto, uma estratégia de negócios que vem sendo utilizada com
sucesso nos EUA desde o mesmo período que basicamente passou desapercebida
no Brasil. Seu nome é “Demand Flow Technology” e será referenciado comumente
nesse artigo como “DFT”.
O DFT (do inglês Demand Flow Technology, que significa Tecnologia de Fluxo
de acordo com a Demanda) é uma estratégia de negócios criada pelo americano
John R. Costanza. A tecnologia consiste em uma abordagem baseada em fórmulas
matemáticas para prover um fluxo contínuo da linha de produção com o foco na
demanda. Esta estratégia se mostrou bastante eficiente em indústrias com um baixo
volume e um alto “mix” de produtos ou opções.
As ideias de Costanza a respeito dessa tecnologia começaram a tomar forma
quando ele era um executivo de grandes empresas, tais como Hewlett Packard e
Johnson & Johnson. Quando a tecnologia estava formada, em 1984, Costanza
deixou a vida corporativa, escreveu um livro sobre sua tecnologia (The Quantum
Leap: in Speed to Market) e fundou o John Costanza Institute of Technology (JCIT),
que ministrava treinamentos e fornecia serviços de consultoria a empresas que
gostariam de implantar essa tecnologia. Exemplos de empresas que implantaram o
DFT são American Standard Companies, General Electric e John Deere. Seu
trabalho rendeu a ele uma indicação ao Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em
1999, além de ser indicado pela revista Fortune como um dos “6 heróis da
manufatura norte-americana” na edição de março de 2000.
Assim sendo, com todas essas credenciais, é de surpreender o fato da
tecnologia ser praticamente inexistente no Brasil. Este artigo tem o objetivo de
entender porque esta estratégia de negócios não é adotada no Brasil, sendo uma
tecnologia tão bem-sucedida, em especial nos EUA. A base para o estudo será
minha experiência para implantação da tecnologia em uma empresa multinacional
norte-americana no Brasil, além de entrevistas realizadas com consultores
americanos que trabalham com a estratégia.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O DFT é uma estratégia de negócios voltada para indústrias, assim não é de
se surpreender que ele utilize conceitos já bastante sólidos e utilizados no mercado,
tais como 5S, melhoria contínua e manufatura enxuta, além da utilização de
ferramentas como ERPs (Enterprise Resource Planning) e MES (Manufacturing
Execution System). Porém o conceito do DFT vai muito além de utilizar ferramentas
e conceitos já conhecidos no mercado. Costanza desenvolveu ferramentas para o
DFT que aprimoram o modo como as indústrias identificam, melhoram e gerenciam
o fluxo de seus processos, sempre comandado pela demanda – é o cliente que, ao
“comprar” o produto na última célula da linha de montagem, “puxa” o processo
produtivo. Daí vem o termo “Manufatura Baseada na Demanda” que dá nome à
tecnologia.
Assim, na implantação do DFT em um processo fabril, a primeira tarefa a ser
feita é delinear a sincronização do produto. Ela é a base para todas as outras
atividades do DFT. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005, p.26), a
sincronização do produto define a relação dos processos individuais juntando-se
para criar uma peça ou produto.
Figura 1 – Exemplo de Sincronização do Processo
A partir dessa sincronização, cada um dos processos identificados precisa ser
detalhado. Para isso, Costanza criou a Sequência de Eventos (do inglês Sequence
of Events). Segundo Gillian e Taylor-Jones (2005, p. 27), através dessa ferramenta
os processos são descritos na forma correta a serem feitos e o tempo requerido para
realizar a tarefa é medido, evitando que operadores pensem em outras formas de
realizar o trabalho que levem mais tempo que o necessário. Além da forma correta,
é sinalizado onde os operadores devem fazer checagens de qualidade (CQTs e
Verificações) e também os eventos são categorizados em três pontos básicos:
trabalho requerido, preparação e movimentação. Ainda segundo Gillian e Taylor-
Jones (2005, p. 28), através dessas categorias identifica-se onde não há valor
agregado (atividades de preparação e movimentação), ou seja, quais tarefas
devemos tentar eliminar do processo a fim de conseguir uma melhoria nos tempos
dos processos.
Figura 2 – Exemplo de Sequência de Eventos
Estas sequências de eventos são a base para a criação das Folhas de
Método Operacional (do inglês Operational Method Sheet, ou OMS) que estarão
disponíveis aos operadores durante seu processo. Essa ferramenta são as
instruções detalhadas que os operadores devem realizar para garantir que os
processos ocorram com a melhor qualidade e no menor tempo possível.
Figura 3 – Exemplo de Folha de Método Operacional
Outro ponto que garante a qualidade dos processos são os chamados CQT
(de Controle de Qualidade Total – Total Quality Control) e Verificações que os
operadores devem realizar durante suas operações. De acordo com Gillian e Taylor-
Jones (2005, p.177):
As Folhas de Método Operacional não mostram apenas ao operador o
trabalho a ser realizado, mas também o que deve ser verificado e
inspecionado. Os funcionários podem verificar um trabalho realizado em sua
própria operação, mas nunca podem fazer uma inspeção de qualidade de
um trabalho realizado em sua estação. Toda vez que houver múltiplas
formas de realizar uma atividade, mas apenas uma for a correta, é
necessária uma inspeção de qualidade em outra operação.
Desta maneira, um operador, ao realizar uma atividade, verifica se o que fez
está correto se for algo crítico para o produto, e quando ele faz uma verificação isso
gera um CQT em outra estação, que irá verificar se a atividade foi realizada
corretamente por esse operador. As atividades de CQT e Verificação são
identificadas nas Folhas de Método Operacional através de um triângulo vermelho
(CQT) e de um círculo azul (Verificação).
Outra ferramenta do DFT para garantir o fluxo da produção e o atingimento da
demanda dos clientes é a chamada “Flexibilização dos Operadores”. A definição da
ferramenta de acordo com a atualização do livro de John Costanza escrito por Gillian
e Taylor-Jones (2005, p. 159) é a seguinte:
Os funcionários produtivos no DFT devem ser capazes de, no mínimo,
operar “uma estação acima” e “uma estação abaixo”. Em outras palavras,
ele deve conhecer as atividades das operações ao lado da estação em que
ele se encontra, o que significa que ele deverá saber executar três
operações diferentes: a sua própria, aquela imediatamente antes ao seu
processo e aquela imediatamente após o seu processo.
Essa ferramenta concede à linha de produção um atendimento mais rápido às
necessidades, pois os operadores podem “flexibilizar” de uma célula a outra para
auxiliar em dificuldades. Mais do que isso, em situações de alto rotatividade de
funcionários, a flexibilização é crucial para a continuidade dos processos, que
prossegue mesmo com “buracos” na linha de produção.
Figura 4 – Flexibilização de Operadores
Entretanto para que a flexibilização de operadores funcione a contento, é
necessário que a empresa garanta que os funcionários conheçam as atividades de
sua operação, além das operações de uma estação acima e uma abaixo. Para isso,
os operadores são certificados por cada operação e uma matriz de habilidades é
criada por operador e por estação. Essa matriz indica se o operador é um
“Treinador” para aquela operação, se é certificado nela ou se está em treinamento.
Os operadores também devem ser re-certificados periodicamente.
Figura 5 – Exemplo de Matriz de Habilidades
Além de todas essas ferramentas, e utilizando-se das mesmas, o DFT
também se baseia em fórmulas matemáticas para o cálculo de Kanban, da
capacidade produtiva (Demand at Capacity), do Tempo de Ciclo Operacional
(Operational Cycle-Time), da quantidade de pessoas que são necessárias para cada
processo e até mesmo do quão flexível a linha de produção deve ser em ambientes
com múltiplos modelos e tempos de operação.
Utilizando-se de todas essas ferramentas, a tecnologia permite que se desenvolva o
melhor desenho possível da linha de produção, agrupando tarefas conforme
definidas como o melhor fluxo da linha. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005,
p.36):
Na Manufatura em Fluxo, o desenho das células e linhas de produção
sempre suportam o maior volume necessário e o menor tempo de ciclo
operacional necessário. Ao desenhar uma linha ou célula, o fabricante deve
buscar a previsão mais realista de vendas e da Direção da maior
capacidade de cada produto.
Esses volumes devem prever ao menos um ano adiante. Então deve ser
calculado o tempo de ciclo operacional com base na demanda mais alta
para calcular o tempo operacional.
Com a utilização dessas ferramentas, forma-se uma linha flexível, que
atenderá a toda a demanda prevista e que poderá atender também a níveis menores
de fabricação, já que com a flexibilização dos operadores eles podem atendem a
mais de uma operação por conhecê-las, sem perda de produtividade. Isso também
evitará picos na produção que não poderão ser atendidos.
Figura 6 – Programação de Demanda antes e depois do DFT
Com a implantação desta estratégia de negócios, qual o impacto pode ser
esperado dentro das organizações? A resposta é dada por Goodwin (2014), em que
ele afirma dizer aos seus clientes que, em média, após a implantação da estratégia,
há um aumento de 41% no capital de giro e uma diminuição de 8% no custo dos
produtos vendidos. Com todas essas qualidades, qual será o motivo pelo qual esta
tecnologia praticamente não é utilizada no Brasil?
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
Devido à falta de pessoas com conhecimento no tema no Brasil, a pesquisa
foi realizada com consultores americanos que trabalham prestando serviço de
consultoria da tecnologia no mundo, dando treinamentos e auxiliando na
implantação do DFT em indústrias. Foram entrevistados dois consultores com larga
experiência na ferramenta, e um ex-consultor da JCIT, empresa do criador do DFT,
John Costanza. A pesquisa foi feita em forma de entrevista com 4 perguntas básicas
e as mesmas serão discutidas no próximo tópico.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para tentar entender se existem empresas brasileiras utilizando a tecnologia,
a primeira pergunta feita aos consultores foi: “Você já trabalhou na implantação do
DFT em empresas que não fossem norte-americanas? Caso a resposta seja
positiva, em que país essas empresas estão situadas? ”
O consultor Bobby Click1 respondeu que já havia trabalhado na implantação
do DFT em empresas que não fossem norte-americanas e citou a lista de empresas
estrangeiras com que já tinha trabalhado: Bang & Olufsen Medicom (Dinamarca),
1
Bobby Click é consultor da tecnologia DFT por 22 anos, sendo 11 deles na empresa de John
Costanza, a JCIT, e 11 em sua própria empresa de consultoria, Spike Enterprises, da qual é
presidente.Nesses 22 anos prestou consultoria e auxiliou na implantação do DFT em empresas tais
como a General Electric,Stanley Toolworks, Northrup Grumman, Atrium Doors and Windows, Black
& Decker, Nacco Materials Handling Group, Mentor Medical, Varian, LAM Research, John Deere,
Stryker Inc., American Standard, Cascade Designs, Flextronics, Fastenal, Storage Technology
Corporation, Copeland Compressors, e Respironics, entre outras.
Carl Zeiss AG (Alemanha), Leybold AG (Alemanha), Iscar (Israel), Aviv (Israel),
Dansk Bank (Dinamarca), Inwido (Dinamarca), Astra Zeneca (Reino Unido), Atlas
Copco (Suécia), Maestro Business (Dinamarca e Reino Unido) e Louwen Windows
and Doors (Canadá). Ao ser perguntado se já havia trabalhado em alguma empresa
no Brasil, Bobby respondeu que apenas na filial brasileira da NACCO Materials
Handling Group, mas que essa é, na verdade, uma empresa de capital norte
americano com uma filial em território brasileiro.
A resposta do consultor Mike Cavanaugh2 foi bastante semelhante. Mike afirmou já
ter trabalhado em implantações do DFT nos seguintes países: México, China,
Malásia, Arábia Saudita, Reino Unido e Israel. Entretanto, Mike ressaltou que
tipicamente esse tipo de conexão se inicia com a recomendação de uma empresa
americana e principalmente de empresas que gostariam que seus fornecedores ou
clientes trabalhassem com a tecnologia. Mike também confirmou que nunca
trabalhou na implantação de nenhuma empresa brasileira, apesar de já ter aplicado
treinamentos a brasileiros nos EUA, mas que esses trabalhavam em empresas de
capital norte-americano.
Por fim, a resposta de Kal Tailor3 também seguiu os mesmos moldes. Kal já
esteve envolvido em inúmeras implantações de DFT em seus tempos como
consultor, nos Estados Unidos e também no México, Canadá, Japão e agora tem
suportado a planta brasileira na empresa em que trabalha atualmente.
A segunda pergunta foi feita considerando as respostas à primeira pergunta:
“Considerando que você nunca trabalhou em empresas de capital brasileiro, você
acredita que haja algum tipo de barreira para implantar a tecnologia em empresas
que não sejam norte-americanas?”.
Bobby Click respondeu que não acredita que tenha algo a ver com a
nacionalidade. Em sua resposta, Bobby destacou que até hoje as barreiras que ele
2
Mike Cavanaugh teve sua primeira experiência com DFT há 15 anos, quando trabalhava com a
tecnologianaGeneral Electric. Desde então vem trabalhando com a tecnologia e hoje é presidente
da High Impact, empresa que presta consultoria e treinamentos na ferramenta.
3
Kal Tailorfoi consultor da JCIT (empresa de John Costanza) desde o início. Ele estava na equipe de
13 pessoas que iniciaram a companhia e inclusive auxiliou no processo para escrever o livro “The
Quantum Leap: In Speed to Market”, considerado até hoje a bíblia do DFT. Tailor passou 5 anos na
empresa e fez mais de 50 implantações da estratégia em empresas como GE, Lennox, John Deere,
Trane,GE enginese muitasoutras. Após esta experiência, Kal teve sua própria consultoria por mais
de 10 anos, até ser contratado para ser o Gerente de DFT da Divisão Americas da NACCO Materials
HandlingGroup,sendo o responsável pela manutenção do sistema em todas as plantas americanas
da empresa, além da planta mexicana e da planta brasileira.
tem encontrado são tipicamente a falta de entendimento ou de comprometimento da
Alta Direção em relação ao DFT, e também a falta de formar uma base sólida onde o
DFT possa ser implantado de maneira consolidada através de treinamentos
frequentes. Bobby ressaltou que o realinhamento das métricas atuais da direção
com as estratégias e táticas do DFT são fatores críticos para uma implantação de
sucesso.
A resposta de Mike Cavanaugh segue a linha da resposta de Bobby Click.
Mike acredita que a força do DFT é a mesma, independentemente do ambiente, ou
seja, as barreiras que possam existir independem da nacionalidade da empresa.
Na mesma linha, a resposta de Kal Tailor é bem similar, apesar de citar que o
idioma pode ser uma barreira. Kal cita que a principal barreira tem a ver com o modo
como a tecnologia é encarada. Ele acredita que a maior parte dos países tem
produção voltada aos “produtos” enquanto o DFT é direcionado pelos “processos”.
Kal complementa dizendo que essa é a principal barreira, já que o DFT não deve ser
encarado como um “Projeto” como a grande maioria das empresas o faz, mas como
um “Estilo de Vida” e deve ser parte do dia a dia sempre. Kal finaliza dizendo que,
apesar de ter citado o idioma como uma possível barreira, essa não foi uma barreira
para ele pessoalmente, nasceu na Hungria e sempre teve familiaridade com muitas
culturas diferentes em muitas empresas de diversos países, o que sempre facilitou
em sua abordagem.
A terceira pergunta foi direcionada aos benefícios da ferramenta: “Você
acredita que os benefícios de se implantar a ferramenta em qualquer tipo de
indústria ocorrerão, independentemente da cultura e do idioma da empresa?
Bobby Click respondeu que sim. Click afirmou que já trabalhou com a
tecnologia em vários tipos de indústrias, tais como empresas de alto volume e que
produzem para estocar, empresas com baixo volume e que produzem apenas sob
demanda, empresas de alto volume com produção sob demanda, empresas com
processos intensos de máquinas, indústrias médicas, de Defesa e Espaciais, e
Indústrias de Serviços, e disse que em todas elas, independentemente da
nacionalidade ou da cultura, foram confirmados os benefícios financeiros
(quantitativos) como também não-financeiros, incluindo melhoras na resposta aos
clientes, maior qualidade, custos mais baixos, aumento na produtividade e na moral,
redução de inventários, capital de giro e despesas com funcionários.
A resposta de Mike Cavanaugh também foi afirmativa. Segundo Cavanaugh,
estudos internos de sua empresa atual mostram que o DFT gera um tremendo
benefício às empresas, independentemente da indústria, do local em que se
encontra e do idioma. Segundo Mike, o poder da diminuição de tempos na produção
é universal, já que deixa menos aberto a produzir de maneira diferente (e errada),
emprega menos dinheiro e causa um aumento na produtividade mesmo em países
onde as taxas de eficiência são extremamente baixas. Mike cita como exemplo as
empresas mexicanas em que trabalhou, onde, com o auxílio das ferramentas já
expostas, as atividades foram simplificadas com a ajuda do DFT, o que exigia
menos treinamento e operadores menos habilidosos. Segundo Cavanaugh, em
particular no Norte do Mexico, quando as empresas param suas atividades para as
festas de fim de ano, entre 20 a 40 % dos funcionários não retornam para o trabalho
no início do ano seguinte. Quando as atividades de trabalho se tornam mais simples,
fica mais fácil de repor essa mão de obra por não ser extremamente qualificada
devido à simplificação das atividades.
Kal Tailor corrobora a resposta de seus colegas, dizendo que em todas as
empresas que trabalhou foi possível obter os benefícios ao enraizar na empresa o
conceito de valor agregado e valor não agregado, e que o DFT persegue
consistentemente: a eliminação das atividades de valor não agregado. Tailor cita o
exemplo da banana – em que você paga pela fruta e sua casca, mas apenas a fruta
adiciona valor a você. Kal finaliza dizendo que, em resumo, independentemente de
cultura e idioma, sempre se deve estar voltado aos processos, seguir as empresas
bem-sucedidas e sempre melhorar a fim de estar à frente da concorrência.
Por fim, com as respostas dessas três primeiras perguntas já foi possível
identificar que, de fato, não há empresas brasileiras que usam o DFT e que não
haveria nenhuma barreira, seja por conta de idioma ou de cultura, que impedissem
uma empresa brasileira em implementá-lo. Deste modo, fiz aos consultores a
derradeira pergunta: “Por que você acha que não há empresas brasileiras que
utilizem o DFT em suas fábricas? ”.
O consultor Bobby Click respondeu que essa seria uma pergunta difícil dele
responder, por não ter uma familiaridade tão grande com o mercado brasileiro. Ele
vê o Brasil hoje como um mercado internacional emergente, e que provavelmente o
fato de não ter empresas brasileiras utilizando o DFT se deve a uma combinação de
diversos fatores. O primeiro deles seria de fato um desconhecimento da ferramenta
em território brasileiro, o que pode ser sanado através da comunicação da
ferramenta no mercado, treinamentos e resultados demonstrados por empresas
utilizando a estratégia de negócios. Outra forma de alavancar o crescimento do DFT
no mercado brasileiro seria fazer empresas de outras nacionalidades que tenham
fábrica no Brasil adotar a sistemática. Segundo Click, uma vez que o DFT se torne
conhecido na indústria, o interesse tende a se espalhar rapidamente dentro daquela
indústria.
Ainda de acordo com Click, outra barreira que pode haver para o DFT não ser
difundido no Brasil é a síndrome do “isso não foi inventado aqui” em conjunto com o
entendimento que “nós já fazemos muito disso”, ou que o DFT é apenas mais um
“programa do mês” que logo passará, e outras desculpas do tipo. A estratégia é
simples de se descrever, mas requer um nível de foco e atenção que é para muitas
empresas difícil de compreender, adotar e suportar ao longo do tempo enquanto se
adapta para as mudanças do mercado e as necessidades do cliente. A gestão das
mudanças dentro do processo para todos os funcionários e do “executivo para a
execução” devem ser atentamente monitorados e todos os funcionários devem estar
engajados para que, através desta transição, estabelecer o que for necessário para
tornar os princípios e práticas do DFT algo que esteja sempre permeando as rotinas
de trabalho diárias e que todos tenham responsabilidades por seus processos em
nível individual.
Click conclui dizendo que há, ainda, um componente financeiro a ser levado
em consideração. Existe um investimento inicial para treinamento e implantação,
que é necessário antes mesmo que qualquer benefício possa ser percebido, e
empresas que não conhecem a ferramenta ou nunca perceberam esse tipo de
melhoria em outras empresas em geral sentem-se receosas em realizar esse tipo de
investimento.
Mike Cavanaugh disse não conhecer a fundo o mercado brasileiro, e por isso
não consegue precisar o motivo pelo qual o DFT não é difundido no país. De
qualquer modo, Cavanaugh não consegue enxergar nenhuma barreira que
impedisse uma empresa brasileira de implantar o sistema DFT em seus processos
produtivos.
Kal Tailor também disse não ter a resposta a essa pergunta, mas disse que
pode enumerar alguns tópicos que podem ter influência no fato do DFT não estar
presente em indústrias nacionais. Primeiramente, o DFT não foi ainda visto, aceito
ou testado em empresas totalmente nacionais. Outro fator é justamente o fato das
universidades e estudos locais não terem desenvolvido o tema, assim há muito
pouco conhecimento em língua portuguesa a respeito para que seja absorvido pelos
estudantes. Kal também enumera que, em geral, a Alta Direção das empresas está
“muito ocupada” com outras atividades, e que “não tem tempo” para procurar
tecnologias que irão melhorar seus processos. Tailor também citou a dificuldade de
importar ou exportar itens para o Brasil e toda a burocracia em todos os processos
envolvendo o governo, além de comentar por fim que o próprio governo deveria
estar realizando estudos a respeito e divulgando a ferramenta a fim de fomentar a
indústria nacional. Kal Tailor finaliza dizendo que, nos anos 60, Deming estava
tentando implantar “novos processos” nos EUA e não foi bem aceito lá. Assim,
Deming resolveu ir ao Japão, que criou os princípios Toyoda com base em suas
pesquisas e tornou o Japão uma potência em manufatura, tirando o posto de
Excelência de Manufatura dos EUA. O DFT surgiu nos anos 80 / 90 e foi aceito em
várias empresas, tornando-se um sucesso. Assim, nesse momento o DFT está se
tornando mais maduro e expandindo para várias empresas, e seria importante que
as empresas brasileiras acolhessem os princípios do DFT muito rapidamente, pois
elas não teriam nada a perder avaliando a ferramenta e criando “Programas Piloto”
para testá-la.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo era entender porque a tecnologia DFT, tão difundida
em indústrias no mundo todo e em especial nos EUA, não é utilizada por empresas
em território brasileiro. Para tal, foram entrevistados consultores da tecnologia do
mundo a fim de entender porque ela não é difundida no Brasil.
De posse dos resultados acima apresentados, concluo que não há um único
motivo que possa determinar o porquê as empresas brasileiras não utilizam a
tecnologia, mas sim uma série de fatores que influenciem para que a ferramenta não
chegue no Brasil: falta de divulgação da ferramenta em território nacional, falta de
empresas nacionais utilizando-a, falta de interesse dos próprios empresários e do
governo, mas principalmente o desconhecimento da tecnologia por executivos
brasileiros, fato esse que espero seja amenizado com a produção desse artigo em
língua portuguesa, auxiliando na divulgação da mesma no Brasil.
6. REFERÊNCIAS
GILLIAM, Dean and JONES, Steve-Taylor, Quantum Leap: The Next Generation,
JCIT International, 2005.
GOODWIN, Sandy, How DFT Impacts Your Business Part 1, artigo de blog de 24
de abril de 2014, disponível em http://myhicoach.com/demand-flow-technology-
impact/ Acesso em: 27 de setembro de 2015.
FULMER, Mark, Falcon V FlowPower from JCIT, artigo disponível em
http://www.theautochannel.com/news/press/date/19990726/press027219.html
Acesso em: 25 de setembro de 2015
THE FREE LIBRARY. Fortune Magazine Names Englewood CEO a Hero of U.S.
Manufacturing; JCIT's John Costanza Honored Alongside 5 Other U.S.
Innovators, artigo disponível em
http://www.thefreelibrary.com/Fortune+Magazine+Names+Englewood+CEO+a+Hero
+of+U.S.+Manufacturing%3B...-a060501265, Acesso em: 17 de setembro de 2015

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Breve história sobre Gestão de Operações
Breve história sobre Gestão de OperaçõesBreve história sobre Gestão de Operações
Breve história sobre Gestão de OperaçõesRM consulting
 
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4Everson Santos
 
Metodologia de Implementação de Projetos Lean
Metodologia de Implementação de Projetos LeanMetodologia de Implementação de Projetos Lean
Metodologia de Implementação de Projetos LeanTaktTime.Net
 
Aula 01 material complementar
Aula 01   material complementarAula 01   material complementar
Aula 01 material complementarNey Wendell
 
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2FELIPEDALUZPINHEIRO
 
Aula engmet - parte 2
Aula   engmet - parte 2Aula   engmet - parte 2
Aula engmet - parte 2engmetodos
 

Was ist angesagt? (20)

Lean Manufacturing 2
Lean Manufacturing 2Lean Manufacturing 2
Lean Manufacturing 2
 
Atps ppcp
Atps ppcpAtps ppcp
Atps ppcp
 
Overall Labor Effectiveness
Overall Labor EffectivenessOverall Labor Effectiveness
Overall Labor Effectiveness
 
Aula 1 - Planejamento e Controle da Produção II
Aula 1 - Planejamento e Controle da Produção IIAula 1 - Planejamento e Controle da Produção II
Aula 1 - Planejamento e Controle da Produção II
 
Lean Manufacturing
Lean ManufacturingLean Manufacturing
Lean Manufacturing
 
Breve história sobre Gestão de Operações
Breve história sobre Gestão de OperaçõesBreve história sobre Gestão de Operações
Breve história sobre Gestão de Operações
 
Aumento da Produtividade
Aumento da ProdutividadeAumento da Produtividade
Aumento da Produtividade
 
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4
Atps de adm da produção e operações etapas 3 e 4
 
Metodologia de Implementação de Projetos Lean
Metodologia de Implementação de Projetos LeanMetodologia de Implementação de Projetos Lean
Metodologia de Implementação de Projetos Lean
 
Kosu
KosuKosu
Kosu
 
Doc.Igor_3
Doc.Igor_3Doc.Igor_3
Doc.Igor_3
 
Aula 02 rev_27_02_13_tai
Aula 02 rev_27_02_13_taiAula 02 rev_27_02_13_tai
Aula 02 rev_27_02_13_tai
 
Gestão da mão de obra direta
Gestão da mão de obra diretaGestão da mão de obra direta
Gestão da mão de obra direta
 
Planejamento e controle da capacidade
Planejamento e controle da capacidadePlanejamento e controle da capacidade
Planejamento e controle da capacidade
 
Aula 01 material complementar
Aula 01   material complementarAula 01   material complementar
Aula 01 material complementar
 
Lean Manufacturing
Lean ManufacturingLean Manufacturing
Lean Manufacturing
 
Produto - FVG
Produto - FVGProduto - FVG
Produto - FVG
 
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2
240515232 atps-de-administracao-da-producao-e-operacoes 2
 
Stage gate
Stage gateStage gate
Stage gate
 
Aula engmet - parte 2
Aula   engmet - parte 2Aula   engmet - parte 2
Aula engmet - parte 2
 

Andere mochten auch

Escuela 140530100157-phpapp01
Escuela 140530100157-phpapp01Escuela 140530100157-phpapp01
Escuela 140530100157-phpapp01profesoraudp
 
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazine
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars MagazineThis Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazine
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazineinfowarrior78
 
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]CarmenMendez87
 
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results Leith Greenslade
 
Praxis V2-1001
Praxis V2-1001Praxis V2-1001
Praxis V2-1001R R Apache
 
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazine
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars MagazineWelcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazine
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazineinfowarrior78
 
Pub-Infusion LMS001
Pub-Infusion LMS001Pub-Infusion LMS001
Pub-Infusion LMS001R R Apache
 

Andere mochten auch (11)

Mohammed Imran CV
Mohammed Imran CVMohammed Imran CV
Mohammed Imran CV
 
Escuela 140530100157-phpapp01
Escuela 140530100157-phpapp01Escuela 140530100157-phpapp01
Escuela 140530100157-phpapp01
 
Mustafa-Khalil-CV
Mustafa-Khalil-CVMustafa-Khalil-CV
Mustafa-Khalil-CV
 
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazine
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars MagazineThis Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazine
This Man Wants Your Guns 4th Issue Infowars Magazine
 
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]
Trabajo tic mendez, manchini [recuperado]
 
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results
Malaria Consortium: Pulse Oximetry Performance Results
 
Praxis V2-1001
Praxis V2-1001Praxis V2-1001
Praxis V2-1001
 
diploma
diplomadiploma
diploma
 
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazine
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars MagazineWelcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazine
Welcome to Planet Hoax 8th Issue Infowars Magazine
 
James Bond
James BondJames Bond
James Bond
 
Pub-Infusion LMS001
Pub-Infusion LMS001Pub-Infusion LMS001
Pub-Infusion LMS001
 

A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS

  • 1. A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS BEZERRA, Jackson Leandro Luna INPG – Instituto Nacional de Pós Graduação jackson.bezerra@gmail.com RESUMO Esta pesquisa procurará descobrir qual a validade da implantação da tecnologia DFT (do inglês Demand Flow Technology) em indústrias brasileiras, mais precisamente as metalúrgicas. A pergunta básica que a pesquisa procurará responder é por que essa tecnologia praticamente não é utilizada por indústrias nacionais. Este estudo almeja também ampliar o conhecimento sobre a tecnologia em língua portuguesa, pois não há bibliografia conhecida neste idioma. O DFT é um sistema de negócios que visa aumentar a produtividade eliminando todo e qualquer desperdício no ambiente fabril e, ao mesmo tempo, reagindo às demandas do mercado sem perda de produtividade. Palavras-chave: DFT, aumento de produtividade, eliminação de desperdícios, estratégia de negócios, demanda de mercado ABSTRACT This study will try to find out the possibility of using the DFT (Demand Flow Technology) business strategy in Brazilian industries, specially metallurgic companies. The basic question the study is trying to answer is why this technology is almost unknown by Brazilian companies. It also aims to increase the knowledge about the technology in Portuguese, as there is no known bibliography in this language. DFT is a business strategy that aims to increase the productivity by eliminating wastes in the shopfloor and, at the same time, meeting customer’s demands with no loss of productivity.
  • 2. Keywords: DFT, productivity increase, waste elimination, business strategy, market demands 1. INTRODUÇÃO Nos tempos atuais, está cada vez mais difícil para as indústrias atingirem uma vantagem competitiva sustentável em relação a seus concorrentes. O mundo da manufatura hoje é bem parecido com o que era 30 anos atrás. As companhias brasileiras de alta performance mantêm o foco na eliminação de custos, melhoria contínua e manufatura enxuta, empregando conceitos de W. Edwards Deming e Eliyahu Goldratt que foram inventados dos anos 70 aos 90. Existe, entretanto, uma estratégia de negócios que vem sendo utilizada com sucesso nos EUA desde o mesmo período que basicamente passou desapercebida no Brasil. Seu nome é “Demand Flow Technology” e será referenciado comumente nesse artigo como “DFT”. O DFT (do inglês Demand Flow Technology, que significa Tecnologia de Fluxo de acordo com a Demanda) é uma estratégia de negócios criada pelo americano John R. Costanza. A tecnologia consiste em uma abordagem baseada em fórmulas matemáticas para prover um fluxo contínuo da linha de produção com o foco na demanda. Esta estratégia se mostrou bastante eficiente em indústrias com um baixo volume e um alto “mix” de produtos ou opções. As ideias de Costanza a respeito dessa tecnologia começaram a tomar forma quando ele era um executivo de grandes empresas, tais como Hewlett Packard e Johnson & Johnson. Quando a tecnologia estava formada, em 1984, Costanza deixou a vida corporativa, escreveu um livro sobre sua tecnologia (The Quantum Leap: in Speed to Market) e fundou o John Costanza Institute of Technology (JCIT), que ministrava treinamentos e fornecia serviços de consultoria a empresas que gostariam de implantar essa tecnologia. Exemplos de empresas que implantaram o DFT são American Standard Companies, General Electric e John Deere. Seu trabalho rendeu a ele uma indicação ao Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em 1999, além de ser indicado pela revista Fortune como um dos “6 heróis da manufatura norte-americana” na edição de março de 2000. Assim sendo, com todas essas credenciais, é de surpreender o fato da tecnologia ser praticamente inexistente no Brasil. Este artigo tem o objetivo de
  • 3. entender porque esta estratégia de negócios não é adotada no Brasil, sendo uma tecnologia tão bem-sucedida, em especial nos EUA. A base para o estudo será minha experiência para implantação da tecnologia em uma empresa multinacional norte-americana no Brasil, além de entrevistas realizadas com consultores americanos que trabalham com a estratégia. 2. REFERENCIAL TEÓRICO O DFT é uma estratégia de negócios voltada para indústrias, assim não é de se surpreender que ele utilize conceitos já bastante sólidos e utilizados no mercado, tais como 5S, melhoria contínua e manufatura enxuta, além da utilização de ferramentas como ERPs (Enterprise Resource Planning) e MES (Manufacturing Execution System). Porém o conceito do DFT vai muito além de utilizar ferramentas e conceitos já conhecidos no mercado. Costanza desenvolveu ferramentas para o DFT que aprimoram o modo como as indústrias identificam, melhoram e gerenciam o fluxo de seus processos, sempre comandado pela demanda – é o cliente que, ao “comprar” o produto na última célula da linha de montagem, “puxa” o processo produtivo. Daí vem o termo “Manufatura Baseada na Demanda” que dá nome à tecnologia. Assim, na implantação do DFT em um processo fabril, a primeira tarefa a ser feita é delinear a sincronização do produto. Ela é a base para todas as outras atividades do DFT. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005, p.26), a sincronização do produto define a relação dos processos individuais juntando-se para criar uma peça ou produto. Figura 1 – Exemplo de Sincronização do Processo
  • 4. A partir dessa sincronização, cada um dos processos identificados precisa ser detalhado. Para isso, Costanza criou a Sequência de Eventos (do inglês Sequence of Events). Segundo Gillian e Taylor-Jones (2005, p. 27), através dessa ferramenta os processos são descritos na forma correta a serem feitos e o tempo requerido para realizar a tarefa é medido, evitando que operadores pensem em outras formas de realizar o trabalho que levem mais tempo que o necessário. Além da forma correta, é sinalizado onde os operadores devem fazer checagens de qualidade (CQTs e Verificações) e também os eventos são categorizados em três pontos básicos: trabalho requerido, preparação e movimentação. Ainda segundo Gillian e Taylor- Jones (2005, p. 28), através dessas categorias identifica-se onde não há valor agregado (atividades de preparação e movimentação), ou seja, quais tarefas devemos tentar eliminar do processo a fim de conseguir uma melhoria nos tempos dos processos. Figura 2 – Exemplo de Sequência de Eventos Estas sequências de eventos são a base para a criação das Folhas de Método Operacional (do inglês Operational Method Sheet, ou OMS) que estarão disponíveis aos operadores durante seu processo. Essa ferramenta são as instruções detalhadas que os operadores devem realizar para garantir que os processos ocorram com a melhor qualidade e no menor tempo possível.
  • 5. Figura 3 – Exemplo de Folha de Método Operacional Outro ponto que garante a qualidade dos processos são os chamados CQT (de Controle de Qualidade Total – Total Quality Control) e Verificações que os operadores devem realizar durante suas operações. De acordo com Gillian e Taylor- Jones (2005, p.177): As Folhas de Método Operacional não mostram apenas ao operador o trabalho a ser realizado, mas também o que deve ser verificado e inspecionado. Os funcionários podem verificar um trabalho realizado em sua própria operação, mas nunca podem fazer uma inspeção de qualidade de um trabalho realizado em sua estação. Toda vez que houver múltiplas formas de realizar uma atividade, mas apenas uma for a correta, é necessária uma inspeção de qualidade em outra operação. Desta maneira, um operador, ao realizar uma atividade, verifica se o que fez está correto se for algo crítico para o produto, e quando ele faz uma verificação isso gera um CQT em outra estação, que irá verificar se a atividade foi realizada corretamente por esse operador. As atividades de CQT e Verificação são
  • 6. identificadas nas Folhas de Método Operacional através de um triângulo vermelho (CQT) e de um círculo azul (Verificação). Outra ferramenta do DFT para garantir o fluxo da produção e o atingimento da demanda dos clientes é a chamada “Flexibilização dos Operadores”. A definição da ferramenta de acordo com a atualização do livro de John Costanza escrito por Gillian e Taylor-Jones (2005, p. 159) é a seguinte: Os funcionários produtivos no DFT devem ser capazes de, no mínimo, operar “uma estação acima” e “uma estação abaixo”. Em outras palavras, ele deve conhecer as atividades das operações ao lado da estação em que ele se encontra, o que significa que ele deverá saber executar três operações diferentes: a sua própria, aquela imediatamente antes ao seu processo e aquela imediatamente após o seu processo. Essa ferramenta concede à linha de produção um atendimento mais rápido às necessidades, pois os operadores podem “flexibilizar” de uma célula a outra para auxiliar em dificuldades. Mais do que isso, em situações de alto rotatividade de funcionários, a flexibilização é crucial para a continuidade dos processos, que prossegue mesmo com “buracos” na linha de produção. Figura 4 – Flexibilização de Operadores Entretanto para que a flexibilização de operadores funcione a contento, é necessário que a empresa garanta que os funcionários conheçam as atividades de sua operação, além das operações de uma estação acima e uma abaixo. Para isso, os operadores são certificados por cada operação e uma matriz de habilidades é
  • 7. criada por operador e por estação. Essa matriz indica se o operador é um “Treinador” para aquela operação, se é certificado nela ou se está em treinamento. Os operadores também devem ser re-certificados periodicamente. Figura 5 – Exemplo de Matriz de Habilidades Além de todas essas ferramentas, e utilizando-se das mesmas, o DFT também se baseia em fórmulas matemáticas para o cálculo de Kanban, da capacidade produtiva (Demand at Capacity), do Tempo de Ciclo Operacional (Operational Cycle-Time), da quantidade de pessoas que são necessárias para cada processo e até mesmo do quão flexível a linha de produção deve ser em ambientes com múltiplos modelos e tempos de operação. Utilizando-se de todas essas ferramentas, a tecnologia permite que se desenvolva o melhor desenho possível da linha de produção, agrupando tarefas conforme definidas como o melhor fluxo da linha. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005, p.36): Na Manufatura em Fluxo, o desenho das células e linhas de produção sempre suportam o maior volume necessário e o menor tempo de ciclo operacional necessário. Ao desenhar uma linha ou célula, o fabricante deve
  • 8. buscar a previsão mais realista de vendas e da Direção da maior capacidade de cada produto. Esses volumes devem prever ao menos um ano adiante. Então deve ser calculado o tempo de ciclo operacional com base na demanda mais alta para calcular o tempo operacional. Com a utilização dessas ferramentas, forma-se uma linha flexível, que atenderá a toda a demanda prevista e que poderá atender também a níveis menores de fabricação, já que com a flexibilização dos operadores eles podem atendem a mais de uma operação por conhecê-las, sem perda de produtividade. Isso também evitará picos na produção que não poderão ser atendidos. Figura 6 – Programação de Demanda antes e depois do DFT
  • 9. Com a implantação desta estratégia de negócios, qual o impacto pode ser esperado dentro das organizações? A resposta é dada por Goodwin (2014), em que ele afirma dizer aos seus clientes que, em média, após a implantação da estratégia, há um aumento de 41% no capital de giro e uma diminuição de 8% no custo dos produtos vendidos. Com todas essas qualidades, qual será o motivo pelo qual esta tecnologia praticamente não é utilizada no Brasil? 3. METODOLOGIA DE PESQUISA Devido à falta de pessoas com conhecimento no tema no Brasil, a pesquisa foi realizada com consultores americanos que trabalham prestando serviço de consultoria da tecnologia no mundo, dando treinamentos e auxiliando na implantação do DFT em indústrias. Foram entrevistados dois consultores com larga experiência na ferramenta, e um ex-consultor da JCIT, empresa do criador do DFT, John Costanza. A pesquisa foi feita em forma de entrevista com 4 perguntas básicas e as mesmas serão discutidas no próximo tópico. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para tentar entender se existem empresas brasileiras utilizando a tecnologia, a primeira pergunta feita aos consultores foi: “Você já trabalhou na implantação do DFT em empresas que não fossem norte-americanas? Caso a resposta seja positiva, em que país essas empresas estão situadas? ” O consultor Bobby Click1 respondeu que já havia trabalhado na implantação do DFT em empresas que não fossem norte-americanas e citou a lista de empresas estrangeiras com que já tinha trabalhado: Bang & Olufsen Medicom (Dinamarca), 1 Bobby Click é consultor da tecnologia DFT por 22 anos, sendo 11 deles na empresa de John Costanza, a JCIT, e 11 em sua própria empresa de consultoria, Spike Enterprises, da qual é presidente.Nesses 22 anos prestou consultoria e auxiliou na implantação do DFT em empresas tais como a General Electric,Stanley Toolworks, Northrup Grumman, Atrium Doors and Windows, Black & Decker, Nacco Materials Handling Group, Mentor Medical, Varian, LAM Research, John Deere, Stryker Inc., American Standard, Cascade Designs, Flextronics, Fastenal, Storage Technology Corporation, Copeland Compressors, e Respironics, entre outras.
  • 10. Carl Zeiss AG (Alemanha), Leybold AG (Alemanha), Iscar (Israel), Aviv (Israel), Dansk Bank (Dinamarca), Inwido (Dinamarca), Astra Zeneca (Reino Unido), Atlas Copco (Suécia), Maestro Business (Dinamarca e Reino Unido) e Louwen Windows and Doors (Canadá). Ao ser perguntado se já havia trabalhado em alguma empresa no Brasil, Bobby respondeu que apenas na filial brasileira da NACCO Materials Handling Group, mas que essa é, na verdade, uma empresa de capital norte americano com uma filial em território brasileiro. A resposta do consultor Mike Cavanaugh2 foi bastante semelhante. Mike afirmou já ter trabalhado em implantações do DFT nos seguintes países: México, China, Malásia, Arábia Saudita, Reino Unido e Israel. Entretanto, Mike ressaltou que tipicamente esse tipo de conexão se inicia com a recomendação de uma empresa americana e principalmente de empresas que gostariam que seus fornecedores ou clientes trabalhassem com a tecnologia. Mike também confirmou que nunca trabalhou na implantação de nenhuma empresa brasileira, apesar de já ter aplicado treinamentos a brasileiros nos EUA, mas que esses trabalhavam em empresas de capital norte-americano. Por fim, a resposta de Kal Tailor3 também seguiu os mesmos moldes. Kal já esteve envolvido em inúmeras implantações de DFT em seus tempos como consultor, nos Estados Unidos e também no México, Canadá, Japão e agora tem suportado a planta brasileira na empresa em que trabalha atualmente. A segunda pergunta foi feita considerando as respostas à primeira pergunta: “Considerando que você nunca trabalhou em empresas de capital brasileiro, você acredita que haja algum tipo de barreira para implantar a tecnologia em empresas que não sejam norte-americanas?”. Bobby Click respondeu que não acredita que tenha algo a ver com a nacionalidade. Em sua resposta, Bobby destacou que até hoje as barreiras que ele 2 Mike Cavanaugh teve sua primeira experiência com DFT há 15 anos, quando trabalhava com a tecnologianaGeneral Electric. Desde então vem trabalhando com a tecnologia e hoje é presidente da High Impact, empresa que presta consultoria e treinamentos na ferramenta. 3 Kal Tailorfoi consultor da JCIT (empresa de John Costanza) desde o início. Ele estava na equipe de 13 pessoas que iniciaram a companhia e inclusive auxiliou no processo para escrever o livro “The Quantum Leap: In Speed to Market”, considerado até hoje a bíblia do DFT. Tailor passou 5 anos na empresa e fez mais de 50 implantações da estratégia em empresas como GE, Lennox, John Deere, Trane,GE enginese muitasoutras. Após esta experiência, Kal teve sua própria consultoria por mais de 10 anos, até ser contratado para ser o Gerente de DFT da Divisão Americas da NACCO Materials HandlingGroup,sendo o responsável pela manutenção do sistema em todas as plantas americanas da empresa, além da planta mexicana e da planta brasileira.
  • 11. tem encontrado são tipicamente a falta de entendimento ou de comprometimento da Alta Direção em relação ao DFT, e também a falta de formar uma base sólida onde o DFT possa ser implantado de maneira consolidada através de treinamentos frequentes. Bobby ressaltou que o realinhamento das métricas atuais da direção com as estratégias e táticas do DFT são fatores críticos para uma implantação de sucesso. A resposta de Mike Cavanaugh segue a linha da resposta de Bobby Click. Mike acredita que a força do DFT é a mesma, independentemente do ambiente, ou seja, as barreiras que possam existir independem da nacionalidade da empresa. Na mesma linha, a resposta de Kal Tailor é bem similar, apesar de citar que o idioma pode ser uma barreira. Kal cita que a principal barreira tem a ver com o modo como a tecnologia é encarada. Ele acredita que a maior parte dos países tem produção voltada aos “produtos” enquanto o DFT é direcionado pelos “processos”. Kal complementa dizendo que essa é a principal barreira, já que o DFT não deve ser encarado como um “Projeto” como a grande maioria das empresas o faz, mas como um “Estilo de Vida” e deve ser parte do dia a dia sempre. Kal finaliza dizendo que, apesar de ter citado o idioma como uma possível barreira, essa não foi uma barreira para ele pessoalmente, nasceu na Hungria e sempre teve familiaridade com muitas culturas diferentes em muitas empresas de diversos países, o que sempre facilitou em sua abordagem. A terceira pergunta foi direcionada aos benefícios da ferramenta: “Você acredita que os benefícios de se implantar a ferramenta em qualquer tipo de indústria ocorrerão, independentemente da cultura e do idioma da empresa? Bobby Click respondeu que sim. Click afirmou que já trabalhou com a tecnologia em vários tipos de indústrias, tais como empresas de alto volume e que produzem para estocar, empresas com baixo volume e que produzem apenas sob demanda, empresas de alto volume com produção sob demanda, empresas com processos intensos de máquinas, indústrias médicas, de Defesa e Espaciais, e Indústrias de Serviços, e disse que em todas elas, independentemente da nacionalidade ou da cultura, foram confirmados os benefícios financeiros (quantitativos) como também não-financeiros, incluindo melhoras na resposta aos clientes, maior qualidade, custos mais baixos, aumento na produtividade e na moral, redução de inventários, capital de giro e despesas com funcionários.
  • 12. A resposta de Mike Cavanaugh também foi afirmativa. Segundo Cavanaugh, estudos internos de sua empresa atual mostram que o DFT gera um tremendo benefício às empresas, independentemente da indústria, do local em que se encontra e do idioma. Segundo Mike, o poder da diminuição de tempos na produção é universal, já que deixa menos aberto a produzir de maneira diferente (e errada), emprega menos dinheiro e causa um aumento na produtividade mesmo em países onde as taxas de eficiência são extremamente baixas. Mike cita como exemplo as empresas mexicanas em que trabalhou, onde, com o auxílio das ferramentas já expostas, as atividades foram simplificadas com a ajuda do DFT, o que exigia menos treinamento e operadores menos habilidosos. Segundo Cavanaugh, em particular no Norte do Mexico, quando as empresas param suas atividades para as festas de fim de ano, entre 20 a 40 % dos funcionários não retornam para o trabalho no início do ano seguinte. Quando as atividades de trabalho se tornam mais simples, fica mais fácil de repor essa mão de obra por não ser extremamente qualificada devido à simplificação das atividades. Kal Tailor corrobora a resposta de seus colegas, dizendo que em todas as empresas que trabalhou foi possível obter os benefícios ao enraizar na empresa o conceito de valor agregado e valor não agregado, e que o DFT persegue consistentemente: a eliminação das atividades de valor não agregado. Tailor cita o exemplo da banana – em que você paga pela fruta e sua casca, mas apenas a fruta adiciona valor a você. Kal finaliza dizendo que, em resumo, independentemente de cultura e idioma, sempre se deve estar voltado aos processos, seguir as empresas bem-sucedidas e sempre melhorar a fim de estar à frente da concorrência. Por fim, com as respostas dessas três primeiras perguntas já foi possível identificar que, de fato, não há empresas brasileiras que usam o DFT e que não haveria nenhuma barreira, seja por conta de idioma ou de cultura, que impedissem uma empresa brasileira em implementá-lo. Deste modo, fiz aos consultores a derradeira pergunta: “Por que você acha que não há empresas brasileiras que utilizem o DFT em suas fábricas? ”. O consultor Bobby Click respondeu que essa seria uma pergunta difícil dele responder, por não ter uma familiaridade tão grande com o mercado brasileiro. Ele vê o Brasil hoje como um mercado internacional emergente, e que provavelmente o fato de não ter empresas brasileiras utilizando o DFT se deve a uma combinação de diversos fatores. O primeiro deles seria de fato um desconhecimento da ferramenta em território brasileiro, o que pode ser sanado através da comunicação da
  • 13. ferramenta no mercado, treinamentos e resultados demonstrados por empresas utilizando a estratégia de negócios. Outra forma de alavancar o crescimento do DFT no mercado brasileiro seria fazer empresas de outras nacionalidades que tenham fábrica no Brasil adotar a sistemática. Segundo Click, uma vez que o DFT se torne conhecido na indústria, o interesse tende a se espalhar rapidamente dentro daquela indústria. Ainda de acordo com Click, outra barreira que pode haver para o DFT não ser difundido no Brasil é a síndrome do “isso não foi inventado aqui” em conjunto com o entendimento que “nós já fazemos muito disso”, ou que o DFT é apenas mais um “programa do mês” que logo passará, e outras desculpas do tipo. A estratégia é simples de se descrever, mas requer um nível de foco e atenção que é para muitas empresas difícil de compreender, adotar e suportar ao longo do tempo enquanto se adapta para as mudanças do mercado e as necessidades do cliente. A gestão das mudanças dentro do processo para todos os funcionários e do “executivo para a execução” devem ser atentamente monitorados e todos os funcionários devem estar engajados para que, através desta transição, estabelecer o que for necessário para tornar os princípios e práticas do DFT algo que esteja sempre permeando as rotinas de trabalho diárias e que todos tenham responsabilidades por seus processos em nível individual. Click conclui dizendo que há, ainda, um componente financeiro a ser levado em consideração. Existe um investimento inicial para treinamento e implantação, que é necessário antes mesmo que qualquer benefício possa ser percebido, e empresas que não conhecem a ferramenta ou nunca perceberam esse tipo de melhoria em outras empresas em geral sentem-se receosas em realizar esse tipo de investimento. Mike Cavanaugh disse não conhecer a fundo o mercado brasileiro, e por isso não consegue precisar o motivo pelo qual o DFT não é difundido no país. De qualquer modo, Cavanaugh não consegue enxergar nenhuma barreira que impedisse uma empresa brasileira de implantar o sistema DFT em seus processos produtivos. Kal Tailor também disse não ter a resposta a essa pergunta, mas disse que pode enumerar alguns tópicos que podem ter influência no fato do DFT não estar presente em indústrias nacionais. Primeiramente, o DFT não foi ainda visto, aceito ou testado em empresas totalmente nacionais. Outro fator é justamente o fato das universidades e estudos locais não terem desenvolvido o tema, assim há muito
  • 14. pouco conhecimento em língua portuguesa a respeito para que seja absorvido pelos estudantes. Kal também enumera que, em geral, a Alta Direção das empresas está “muito ocupada” com outras atividades, e que “não tem tempo” para procurar tecnologias que irão melhorar seus processos. Tailor também citou a dificuldade de importar ou exportar itens para o Brasil e toda a burocracia em todos os processos envolvendo o governo, além de comentar por fim que o próprio governo deveria estar realizando estudos a respeito e divulgando a ferramenta a fim de fomentar a indústria nacional. Kal Tailor finaliza dizendo que, nos anos 60, Deming estava tentando implantar “novos processos” nos EUA e não foi bem aceito lá. Assim, Deming resolveu ir ao Japão, que criou os princípios Toyoda com base em suas pesquisas e tornou o Japão uma potência em manufatura, tirando o posto de Excelência de Manufatura dos EUA. O DFT surgiu nos anos 80 / 90 e foi aceito em várias empresas, tornando-se um sucesso. Assim, nesse momento o DFT está se tornando mais maduro e expandindo para várias empresas, e seria importante que as empresas brasileiras acolhessem os princípios do DFT muito rapidamente, pois elas não teriam nada a perder avaliando a ferramenta e criando “Programas Piloto” para testá-la. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste estudo era entender porque a tecnologia DFT, tão difundida em indústrias no mundo todo e em especial nos EUA, não é utilizada por empresas em território brasileiro. Para tal, foram entrevistados consultores da tecnologia do mundo a fim de entender porque ela não é difundida no Brasil. De posse dos resultados acima apresentados, concluo que não há um único motivo que possa determinar o porquê as empresas brasileiras não utilizam a tecnologia, mas sim uma série de fatores que influenciem para que a ferramenta não chegue no Brasil: falta de divulgação da ferramenta em território nacional, falta de empresas nacionais utilizando-a, falta de interesse dos próprios empresários e do governo, mas principalmente o desconhecimento da tecnologia por executivos brasileiros, fato esse que espero seja amenizado com a produção desse artigo em língua portuguesa, auxiliando na divulgação da mesma no Brasil. 6. REFERÊNCIAS
  • 15. GILLIAM, Dean and JONES, Steve-Taylor, Quantum Leap: The Next Generation, JCIT International, 2005. GOODWIN, Sandy, How DFT Impacts Your Business Part 1, artigo de blog de 24 de abril de 2014, disponível em http://myhicoach.com/demand-flow-technology- impact/ Acesso em: 27 de setembro de 2015. FULMER, Mark, Falcon V FlowPower from JCIT, artigo disponível em http://www.theautochannel.com/news/press/date/19990726/press027219.html Acesso em: 25 de setembro de 2015 THE FREE LIBRARY. Fortune Magazine Names Englewood CEO a Hero of U.S. Manufacturing; JCIT's John Costanza Honored Alongside 5 Other U.S. Innovators, artigo disponível em http://www.thefreelibrary.com/Fortune+Magazine+Names+Englewood+CEO+a+Hero +of+U.S.+Manufacturing%3B...-a060501265, Acesso em: 17 de setembro de 2015