3. Há décadas os ambientalistas apontam que os materiais plásticos
descartados no mar representam uma das maiores ameaças ao
meio ambiente. Cerca de 90% do lixo nos oceanos é composto de
plástico. (GALGANI et al., 1995a; COE e ROGERS, 1997;
DERRAIK, 2002).
As alterações ambientais atingem hoje proporções preocupantes,
envolvendo não somente as regiões continentais como também os
ambientes de água doce e marinhos do planeta, especialmente aqueles
próximos a regiões de grande adensamento humano, como as zonas
litorâneas.
4. Segundo a classificação proposta pela IOC/FAO/UNEP
(1989), resíduos sólidos são matérias que podem ser
subdivididas em categorias como plástico, material de
construção, material de pesca, papel, vidro, borracha,
espuma, metal, tecido, isopor e madeira antropogênica.
Usando como base esta classificação, dentro da
categoria plástica, pode ser criada uma subcategoria
para as esférulas de plástico virgem, comumente
chamadas de nibs (GREGORY, 1978) ou pellets.
5. Esférulas Plásticas
As esférulas plásticas são pequenas pastilhas mais ou menos achatadas,
arredondadas e ovóides, que variam entre 2 a 5 mm de diâmetro, possuem
várias cores, principalmente brancas e translúcidas que são as de estado
virgem. Surgem como resultado da degradação dos vários plásticos, mas na
forma inicial de produção é a matéria-prima granulada que serve, por
exemplo, para a fabricação de embalagens, cabos de ferramentas, utensílios
de cozinha e revestimentos.
Pellets de polipropileno recolhidos no Japão (Takada, 2001).
Figura - Esférula plástica (pellets) em lupa microscópica
Fonte: Elaboração do autor, 2012.
6. Figura - Esférulas plásticas
Fonte: Elaboração do autor, 2012.
Fonte: Elaboração do autor, 2012.
Figura - Esférulas plásticas
7. As publicações que primeiro apontaram para as esférulas plásticas
no ambiente datam da década de 1970 e referiam-se à presença
destes em águas oceânicas, baías, estuários e praias ( Carpenter,
et. al., 1972; Cundell, 1973; Kartar, et. al., 1973; Colton, et. al.,
1974; Morris, et.al., 1974). Em seguida, estudos realizados
especificamente sinalizavam a contaminação por pequenas
esférulas plásticas em praias e em águas costeiras da Nova
Zelândia, defendendo a idéia de que estes eram provenientes das
regiões industrializadas do hemisfério norte (Gregory, 1977;1978).
8. No Brasil são relativamente recentes e ainda escassos os estudos
relativos as esférulas plásticas no ambiente costeiro, não sendo
possível,ainda, traçar um panorama que favoreça diagnósticos,
monitoramento e planejamento sobre as mesmas. As principais
contribuições, até então, registraram o tema em algumas praias do
Rio Grande do Sul (Pianowski, 1997), Pernambuco (Costa, et al.,
2009; Silva-Cavalcanti, et.al., 2009), Rio Grande do Norte (Ivar do
Sul, et.al., 2009) e São Paulo (Turra, et al., 2008; Manzano, 2009),
demonstrando a necessidade de novas investigações, a fim de se
ampliar o conhecimento sobre as esférulas plásticas, sua
distribuição e conseqüências ao ambiente.
9. Gráfico: Quantidades de estudos por década
Fonte: Elaborado por Falcão, Plínio (2011)
Figura: Abordagens metodológicas no estudo das esférulas
Fonte: Elaborado por Falcão, Plínio (2011)
10. A presença das esférulas esta fortemente documentada e é citada em
inúmeros artigos científicos, assim como sua capacidade de adsorção de
poluentes orgânicos. Revelou-se a existência de vários micropoluentes
orgânicos (ou seja, bifenilos policlorados: PCBs,DDE, e nonilfenol) em
esférulas plásticas recolhidas em praias (Mato ET AL, 2001).
Principais poluentes orgânicos adsorvidos ao plástico (adaptado de International Pellet
Watch, 2008).
Adsorção de POPs
11. A resistência destes materiais no ambiente devido às cadeias de
polimerização leva a uma degradação lenta. Associada à elevada
persistência, a baixa densidade dos plásticos relativamente à água faz com
que estes consigam flutuar, ficando visíveis nas massas de água.
Em nível de microfauna aquática, as esférulas plásticas são também um sério
problema, pois a sua degradação leva a que estes atinjam dimensões reduzidas,
fazendo com que integrem as cadeias alimentares aquáticas, conduzindo à morte
de muitos organismos. (DERRAIK, 2002).
14. Vida Marinha
Os detritos tornaram-se um problema de poluição persistente e difuso afetando
todos os oceanos do planeta, causando lesões e, em casos extremos, a morte de
um amplo número de animais marinhos e aves. As causas de morte devem-se ao
aprisionamento de animais por detritos e pela ingestão de partículas, que
facilmente são confundidas com alimento (Allsopp, 2006).
15. Segundo (GREGORY, 1978; SHIBER, 1987) as
esférulas plásticas aparecem no meio ambiente
devido a derramamentos acidentais durante o
manuseio, transporte marítimo ou terrestre ou
pelas perdas ocasionadas pelas indústrias de
produção de plástico e pela lavagem da
superfície costeira proveniente das águas
pluviais e de despejo de tratamento de esgoto.
16. Dispersão
As perdas de grânulos plásticos para o ambiente
ocorrem nas indústrias (produtora e
transformadora), no transporte ou durante seu
uso em processos de limpeza e outros em navios
ou plataformas de petróleo
17. Objetivo Geral
Realizar um estudo sobre a presença e a abundância de esférulas
plásticas em 8 (oito) praias dos municípios de Imbituba e Laguna,
Santa Catarina, identificando-as quanto à cor, peso.
Objetivos específicos
Realizar coleta de esférulas plásticas nas praias dos municípios de Imbituba
e Laguna, Santa Catarina;
Avaliar a presença e abundância de esférulas plásticas em 8 (oito) praias
do litoral sul de Santa Catarina, localizadas nos municípios de Imbituba e
Laguna;
Identificar a cor, peso das esférulas plásticas , nas areas de estudo;
Gerar dados para incentivar futuros estudos e programas de
monitoramento das esférulas plásticas em todo o litoral de Santa Catarina.
18. Metodologia
Amostragem foi realizada nos meses de Março,Abril e Maio nas regiões da
antepraia das praias do litoral de Imbituba e Laguna - Santa Catarina, Localizadas
na região sul :
Praia do mar grosso / Laguna
Praia do Gi / Laguna
Praia do Sol / Laguna
Praia de Itapirubá Norte / Imbituba
Praia de Itapirubá Sul / Imbituba
Praia da Vila / Imbituba
Praia do Porto (Aguada) / Imbituba
Praia da Ribanceira / Imbituba
19.
20. A definição das praias supracitadas deu-se pela
verificação prévia de relativa concentração das esférulas
plásticas nos locais de estudo. Foi estabelecida uma
malha amostral de 50 metros, perpendicular à linha da
água, a partir da última maré mais alta e a região inicial
das dunas embrionárias. Por 100 metros, paralelos à
linha da água, em cada praia, definida por GPS.
21. Em cada malha amostral foram coletadas 8 amostras , com um
quadrante de PVC de 1m2, em cada praia pesquisada . Os locais das
coletas foram escolhidos aleatoriamente dentro do espaço de cem
metros, segundo método de Wetzel (1995) adaptado de
IOC/FAO/UNEP (1989).
Figura - Amostras de 1m2
Fonte: Elaboração do autor, 2012.
Figura - Malha amostral
Fonte: Elaboração do autor, 2012.
22. Figura – esférulas em dunas embrionárias
Fonte: Elaboração do autor, 2012
23. REVISÃO BIBLIOGRAFICA
Foram lidos artigos e trabalhos sobre o tema:
Esférulas Plásticas
Lixo marinho
resíduos sólidos
Poluição Marinha por esférulas
Plástico
Áreas costeiras
24. Resultado e discussão
Os resultados obtidos foram analisados de forma a facilitar a visualização dos
padrões existentes para cada área de estudo. Para tanto os dados estão dispostos
em tabelas.
A praia do Gi foi a praia que apresentou a maior concentração de esférulas plásticas na
soma total de itens, com a média de 81,25 itens/m e 7,72 g no total geral de itens.
Uma vez que a praia localiza-se na parte central da area de estudo longe do porto de
Imbituba e dos molhes de Laguna, eu acredito que a alta concentração das esférulas
plásticas se deve as correntes e mares.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 13 107 120
2 11 52 63
3 9 82 91
4 9 70 79
5 10 78 88
6 6 51 57
7 8 68 76
8 6 70 76
Total 72 578 650
Tabela 1 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia do Gi
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia do Gi em Laguna-SC, 2012.
26. PRAIA DE ITAPIRUBÁ SUL
A praia de Itapirubá sul foi a praia com a segunda maior concentração de
esférulas plásticas na soma total de itens, com a média de 58,75 itens/m e 3,61 g
no total geral de itens.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 22 119 141
2 15 18 33
3 6 15 21
4 4 20 24
5 19 9 28
6 4 10 14
7 34 115 149
8 10 50 60
Total 114 356 470
Tabela 2 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia de Itapirubá Sul
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia de Itapirubá Sul
em Laguna-SC, 2012.
27. PRAIA DO PORTO (AGUADA)
A Praia do porto foi a praia com a terceira maior concentração de esférulas
plásticas na soma total de itens, com a média de 36,62 itens/m e 6,14 g no total
geral de itens. Apresentou maior quantidade de itens da cor branca, ou seja, as
esférulas plásticas virgens, o que pode estar relacionado com o porto de
Imbituba.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 37 2 39
2 32 0 32
3 31 1 32
4 28 4 32
5 49 2 51
6 36 3 39
7 41 1 42
8 25 1 26
Total 279 14 293
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia do Porto em
Imbituba-SC, 2012.
Tabela 3 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia do Porto
28. PRAIA DO MAR GROSSO
A praia do Mar Grosso foi a praia que apresentou a quarta maior concentração de
esférulas plásticas na soma total de itens, com média de 32,62 itens/m e 4,22 g no
total geral de itens, sendo a segunda a apresentar o maior número de esférulas
plásticas brancas, portanto, não apresenta porto em sua localidade, assim se pode
deduzir que a presença das esférulas plásticas se deve ao aporte marinho e
continental.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 33 3 36
2 29 0 29
3 76 3 79
4 65 5 70
5 10 2 12
6 2 10 12
7 5 5 10
8 9 4 13
Total 229 32 261
Tabela 4 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia do Mar Grosso
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia do Mar Grosso em Laguna-SC,
2012.
29. PRAIA DO SOL
A Praia do Sol foi a praia com a quinta maior concentração de esférulas
plásticas na soma total de itens, com a média de 27,25 itens/m e 2,93 g no
total geral de itens.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 2 32 34
2 8 29 37
3 6 14 20
4 8 23 31
5 5 21 26
6 5 9 14
7 9 9 18
8 5 33 38
Total 48 170 218
Tabela 5 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia do Sol
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia do Sol em Laguna-SC, 2012.
30. PRAIA DA VILA
A Praia da Vila foi a praia com a sexta maior concentração de esférulas
plásticas na soma total de itens, com a média de 15,87 itens/m e 2,44 g no
total geral de itens. A praia da Vila, pela sua localização ao lado do porto,
deveria ter apresentado uma concentração igual ou maior do que a praia do
Porto, o que não ocorreu. Isto se deve acredito eu à grande atividade
turística da praia, práticas esportivas e que, devido ao pisoteio, pode ter
soterrado as esférulas plásticas no sedimento, camuflando-as.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 9 0 9
2 8 2 10
3 10 8 18
4 8 6 14
5 11 10 21
6 10 15 25
7 9 8 17
8 6 7 13
Total 71 56 127
Tabela 6 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia da Vila
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia da Vila em Imbituba-
SC, 2012.
31. PRAIA DE ITAPIRUBÁ NORTE
A Praia de Itapirubá Norte foi a praia com a sétima maior concentração de
esférulas plásticas na soma total de itens, com a média de 10,37 itens/m e
1,76 g no total geral de itens.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 9 3 12
2 10 4 14
3 5 6 11
4 2 1 3
5 8 6 14
6 2 1 3
7 7 0 7
8 15 4 19
Total 58 25 83
Tabela 7 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia de Itapirubá Norte
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia de Itapirubá Norte
em Imbituba-SC, 2012.
32. PRAIA DA RIBANCEIRA
A Praia da Ribanceira foi a praia com a oitava maior concentração de
esférulas plásticas na soma total de itens, com a média de 8,12 itens/m e
2,43 g no total geral de itens.
Amostra Quantidade de esférulas brancas Quantidade de esférulas coloridas Total
1 10 0 10
2 9 2 11
3 8 3 11
4 16 4 20
5 2 0 2
6 1 3 4
7 4 0 4
8 3 0 3
Total 53 12 65
Tabela 8 - Abundância e classificação de esférulas plásticas na Praia da Ribanceira
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos na Praia da Ribanceira em
Imbituba-SC, 2012.
33. Esferúlas Plásticas “ Plastic Pellets” nas Praias de Imbituba e Laguna - Santa Catarina
Grosso Gi Sol Norte Sul Vila Porto Riba
Brancas 229 72 48 58 114 71 279 53
Coloridas 32 578 170 25 356 56 14 12
Total 261 650 218 83 470 127 293 65
Peso total 4.2264g 7.7256g 2.9354g 1.7613g 3.6158g 2.4440g 6.1438g 2.4387g
Tabela 9 - Resultado geral da análise quantitativa esférulas plásticas brancas, coloridas e massa total
Fonte: Dados obtidos pelo pesquisador Jean Carlos Rodrigues dos Santos em praias de Imbituba-SC e Laguna-SC, 2012.
A tabela 9, abaixo apresenta os resultados da abundância das esférulas plásticas
nas Praias de Imbituba e Laguna, considerando a massa total e a coloração das
esférulas encontradas, constatando-se que a Praia com a maior abundância em
massa de esférulas plásticas foi a Praia do Gi com 7.72g e aquela que apresentou
menor abundância em massa foi a Praia de Itapirubá do Norte com 1.76g.
34. CONCLUSÃO
Conclui-se, como mostrado nos resultados, que em todas as praias
pesquisadas foi encontrada a presença das esférulas plásticas, principalmente na
praia do Gi e praia de Itapirubá Sul, que são praias com grandes atividades
turísticas, onde há maior nível de adensamento humano.
Embora as praias estudadas tenham apresentado concentrações menores
de esférulas plásticas em comparação a outros lugares – como em Santos/SP e no
Rio Grande/RS – as mesmas se mostraram contaminadas com este material, em
função das atividades portuária e industrial.
35. CONCLUSÃO
É importante se destacar que as esférulas plásticas se enquadram na
categoria “plástica”, isto é, possuem um alto tempo de resistência no
ambiente seja marinho ou continental e que, juntamente com os fragmentos
plásticos, permanecem por um longo tempo no ambiente, causam danos à
vida marinha e animais costeiros devido à ingestão dos mesmos.
Faz-se necessário incentivar estudos mais detalhados sobre a origem,
dispersão no meio marinho e monitoramento deste material no ambiente
bem como seu efeito real sobre a vida marinha e costeira.
Também é importante divulgar à comunidade, empresas e órgãos
ambientais responsáveis sobre a realidade da contaminação do meio
ambiente e da fauna pelas esférulas plásticas a fim de que se tomem
medidas que busquem soluções para o problema.
36. Bibliografia
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