Anexo b os desafios-de_uma_seleção_empreendedora(1)

Insight – Empresa Júnior de Psicologia da UFRJ
www.insight.psicologia.ufrj.br

Título do Case: Os Desafios de uma Seleção Empreendedora
Categoria: Projeto Externo
Temática: Terceiro Setor

Resumo
Em um contexto de mudança de foco de atuação da nossa Empresa Junior, nos
deparamos com um projeto externo que nos ofereceu a oportunidade de nos engajar nesta
mudança. Saindo do foco em Recursos Humanos para uma forma de atuação
empreendedora em gestão de pessoas, decidimos explorar outras áreas, pensando
também na responsabilidade social da empresa. Através de parceria estabelecida com
uma ONG, pensamos estar ajudando essa Organização, entretanto o que se revelou foi
uma parceria que trouxe benefícios incalculáveis para ambas as partes. Atuamos no
projeto principal da ONG (consiste em um pré-vestibular e pré-técnico comunitário), que
enfrentava um grave problema de evasão e desmotivação por parte dos alunos. Com a
análise da demanda, propomos um projeto dividido em duas partes. A primeira parte
envolveria uma seleção diferenciada dos alunos e a segunda seria uma cartografia da
evasão com formação de grupos de diálogo. Neste case será relatada a primeira parte do
projeto, uma vez que a segunda parte ainda está em andamento. Como resultado desta
primeira etapa, obtivemos uma redução do índice de evasão de cerca de 40%.

Introdução

Na última revisão do Planejamento Estratégico da nossa empresa, alteramos nossa
missão, Visão e Valores, saindo de um foco em serviços tradicionais de Recursos
Humanos para uma Psicologia empreendedora, de forma a expandir nossa atuação para
as diversas áreas da Psicologia com serviços inovadores para a empresa. A ONG veio até
a empresa trazendo o problema da evasão e desmotivação dos alunos que entravam para
o seu projeto de pré-vestibular e pré-técnico. Esse projeto, denominado “Construindo o
Saber”, tem como objetivo principal formar agentes de transformação social através da
Educação e da possibilidade de ingresso em escolas técnicas e universidades. O foco
principal dessa organização está para além de capacitar os alunos para provas de
concursos públicos, ela visa promover o engajamento desses alunos com a ideologia do
trabalho voluntário e da mudança social. Tal fato tornou nosso projeto, além de
empreendedor, socialmente responsável.

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O sistema de seleção de alunos para o projeto nos anos anteriores consistia em
uma prova de conteúdos gerais, através da qual os melhores classificados entravam para
o projeto. Todavia, ao analisar o histórico, as características e a proposta da ONG,
percebemos que eles não procuravam apenas os alunos com as maiores notas para
passar nas provas, mas sim, alunos que fossem capazes, também, de se comprometer
com o ideal de transformação social e que pudessem retornar como voluntários
futuramente.
Dessa forma, o processo de seleção utilizado por eles até então não atendia as
suas múltiplas necessidades. Com isso, pensamos em um processo de seleção mais
cuidadoso e fiel aos valores e objetivos da organização. Entretanto, percebeu-se que a
reformulação do processo de seleção apenas amenizaria os problemas apontados pela
ONG. Na verdade, o serviço que esse cliente ignorava necessitar, era um trabalho
contínuo juntamente aos alunos no decorrer do projeto. Um trabalho que permitisse a
compreensão da realidade desses alunos e um diálogo constante com todos os envolvidos
nas atividades da ONG (como alunos, professores, gestores da ONG, família etc). Era
preciso entender os motivos que levavam esses adolescentes a evadir ou a sentirem-se
desmotivados, ouvir aqueles alunos que já evadiram e, a partir de então, mapear os atores
desses processos e promover uma cartografia da evasão.
Com toda essa análise, propomos um projeto dividido em duas partes. A primeira
parte envolveria a seleção dos alunos e a segunda seria uma cartografia da evasão com
formação de grupos de diálogo, entendendo que somente com essas duas fases
poderíamos garantir que os problemas levantados pela organização fossem tratados com
eficiência. Aqui será relatada apenas a primeira fase do projeto.

Desenvolvimento

Apesar da seleção de pessoal ser o serviço que mais prestamos para as empresas,
essa seleção em específico, devido a todas as suas peculiaridades, se configurou como
um grande desafio. A ONG não possuía características de funcionamento similares a uma
empresa tradicional e também não podia ser considerada um ambiente simplesmente
escolar. O público com o qual iríamos atuar não era de profissionais, mas sim de
adolescentes-alunos e o número de inscritos ultrapassava a faixa dos 150. O caráter
diferenciado deste projeto se relacionava com a nova estratégia da empresa de promover
uma atitude empreendedora nos membros, por meio da inovação e da busca por desafios.

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Inicialmente, estruturamos a seleção de maneira convencional: Levantamento de
Perfil da Vaga, Etapa de Dinâmicas de Grupo e Etapa de Entrevistas Individuais, sendo
essa última etapa de caráter não obrigatório, devido ao elevado número de candidatos e o
prazo do projeto. As entrevistas seriam restritas aos candidatos que por algum motivo não
tivessem seus comportamentos observados.
Todo o processo seletivo se baseia no modelo de competências e é na primeira
etapa, o Levantamento de Perfil, que essas competências são definidas. No levantamento,
a equipe se reuniu com o cliente e, através de uma entrevista, eles definiram juntos que
comportamentos seriam necessários que o aluno ideal da ONG apresentasse no dia a dia
do projeto. Esses comportamentos funcionam como indicadores das competências que
esses alunos devem ter para ingressar no projeto da ONG (pré-vestibular e pré-técnico). A
partir do levantamento, as técnicas de dinâmica de grupo puderam ser definidas.
Dada a diferença no âmbito de seleção (não era um ambiente empresarial
tradicional), era de fundamental importância e uma grande responsabilidade da equipe
pensar em técnicas que tivessem maior probabilidade de incitar nos candidatos o
aparecimento dos comportamentos desejados. Nenhuma das técnicas existentes em
nosso banco parecia satisfazer a nossa demanda, então recorremos a técnicas nunca
antes utilizadas pela empresa, como a técnica do Teatro Fórum. Esta técnica é proveniente
do Teatro do Oprimido e foi adaptada a fim de atender melhor aos nossos objetivos.
Funciona da seguinte maneira: os atores encenam uma situação de conflito específica
para o grupo ao qual a cena está sendo apresentada e, no momento em que a cena atinge
seu ponto máximo de conflito, o facilitador da técnica congela a cena e convida os
candidatos a pensarem em soluções para aquele conflito, e para encenarem essas
soluções. Essa técnica foi muito valiosa, pois nos permitiu observar se os candidatos
estavam dispostos a pensar em soluções para possíveis problemas que poderiam
atrapalhar a permanência deles no curso, como eles estruturavam essas soluções e se
eles mostravam-se dispostos a participar ativamente da atividade.
O processo de entendimento e aplicação da técnica foi complicado e exigiu da
equipe bastante estudo e debate. Diferentemente dos dispositivos que estamos habituados
a utilizar, essa técnica, em vez de primar pela objetivação e controle das variáveis que
podem surgir durante a sua aplicação, ela prima pela espontaneidade dos dados que serão
construídos a partir do improviso. A equipe aqui enfrenta um novo desafio: desenvolver
uma maior sensibilidade para lidar com a diminuição do controle e com as situações
imprevistas que poderiam surgir.

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Nessa primeira parte do projeto, foram feitas 12 dinâmicas de grupo com 156
candidatos, e 17 entrevistas individuais. Como resultado tivemos 113 aprovados para
compor o projeto da ONG.

Conclusão

Durante as dinâmicas, a participação dos candidatos superou nossas expectativas,
surgiram uma série de problemas e conflitos nas discussões que não poderíamos prever e,
além de procurar avaliar os comportamentos e fazer a seleção, pudemos criar um espaço
de discussão e problematização das questões trazidas pelos adolescentes. Os membros
envolvidos no projeto entraram em contato com técnicas e temáticas que nunca haviam
sido estudadas na empresa, enriquecendo o conhecimento e contribuindo para um maior
desenvolvimento dos mesmos.
Sem dúvida, esse processo seletivo permitiu não apenas que preenchêssemos as
vagas da ONG com os alunos de perfil mais adequado, mas também possibilitou um
trabalho de desenvolvimento e sensibilização de todos os jovens envolvidos. Além de ter
servido como uma preparação para a 2ª fase do projeto: A cartografia da evasão.
O projeto durou um mês e a ONG revelou-se muito satisfeita com o trabalho e tem
nos fornecido dados sobre a permanência dos alunos selecionados. Esses dados são
referentes apenas as turmas de 9º ano do núcleo Rio das Pedras. As demais turmas não
foram citadas aqui devido a uma reestruturação interna da própria ONG, detectada na
aplicação do Pós-Venda II, questionário aplicado um mês após a finalização do projeto.
No início de 2009, a turma de pré-técnico (9º ano) contava com 84 alunos. No mês
de setembro, apenas 50 alunos permaneceram na turma, número reduzido para 46 no final
do mês de outubro. Esses números representam o índice de evasão de 45,2%. Após a
parceria com a empresa, em 2010, a turma de pré-técnico (9º ano) iniciou com 51 alunos e,
ao final de setembro, 47 alunos ainda permaneceram na turma, representando um índice
de evasão de 7,8% (ANEXO I).
A ONG relatou que os problemas que a levaram a contratar a Empresa foram
solucionados de maneira satisfatória e que os resultados do serviço vêm alcançando suas
expectativas, ressaltando que o trabalho desenvolvido entrou para a sua história,
alcançando exatamente o que era esperado. Por fim, disse que, após o serviço da
empresa, os objetivos foram alcançados e a ONG está caminhando para atingir suas
ambições a longo prazo.

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Esse projeto foi essencial para inaugurar a nova fase em que a empresa está
entrando e promoveu aos membros uma experiência muito gratificante, uma vez que
lidaram diretamente com problemas sociais, tais como: a vida em comunidades carentes, a
valorização de oportunidades por pessoas de comunidades, evasão escolar e motivação
de adolescentes de comunidades, e puderam atuar de forma a trabalhar a melhora desses
problemas, junto com uma instituição que se mostra engajada em lutar por transformações
sociais. Foi uma grande oportunidade para agirmos com Responsabilidade e
Empreendedorismo Social.
Contudo, o principal diferencial desse projeto se revelou em seu término. Como a
seleção de pessoal é nosso principal serviço e de acordo com a satisfação dos clientes
sempre o realizávamos com excelência, a nossa seleção, ainda que customizada, seguia o
mesmo padrão metodológico. E foi justamente isso que nos fez pensar antes de aceitar o
projeto da ONG, uma vez que essa Organização, devido às sua peculiaridades, iria exigir
de nós uma reformulação intensiva do método de seleção.
Com esse projeto nos deslocamos do lugar habitual que enxerga as pessoas como
recursos humanos da organização para concretizar a visão que as coloca como parceiros
que decidem e agem em nome da Organização, dotados de personalidade própria e
profundamente diferentes entre si. Por fim, é importante ressaltar que o que proporcionou a
realização desse projeto foi a nova estratégia empreendedora da empresa, colocada
explicitamente na sua Missão, Visão e Valores. Entendemos por empreendedorismo a
habilidade para criar ou constituir algo, como o possuir de competências para descobrir e
controlar recursos, aplicando-os de forma produtiva. Deste modo, detectamos essa
parceria como uma oportunidade para exercer de fato o empreendedorismo na empresa:
aprimoramos o que já realizávamos cotidianamente. Essa mudança não ocorreu devido à
insatisfação com o nosso método de seleção, mas sim pelo fato de que faz parte do
empreendedorismo sair da zona de conforto e buscar desafios, bem como ter a habilidade
para transformar idéias em algo concreto. Inovar é o coração do empreendedorismo, seja
inovar inventando ou inovar melhorando. E foi isso que buscamos. Inovamos em nosso
principal serviço a fim de torná-lo ainda mais personalizado e eficaz, e é isso propomos às
demais EJs, inovação dentro de suas práticas e serviços.

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Quadro da Evasão (2009)
Período Evasão Porcentagem
Jan- Set 34 40,40%
Set- Dez 4 8,00%
Jan- Dez (total) 38 45,20%
Amostra inicial: 84 alunos

Evasão 2009

40
35
30
25
Evasão

20 Evasão
15
10
5
0
Janeiro Setembro Dezembro
Período

Quadro Parcial da Evasão - 2010
Período Evasão Porcentagem
Jan- Set 4 7,08%
Amostra inicial: 50 alunos

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Evasão (parcial) 2010

40

30
Evasão

20 Evasão

10

0
Janeiro Setembro
Período

Quadro Comparativo do mês de Setembro 2009/2010

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