Palestra proferida no Workshop "Resistência: impactos econômicos na agricultura e construção de uma proposta de manejo", realizado em São Paulo, SP, no dia 18 de novembro de 2015.
1. Impacto Econômico da
Resistência no Mundo
Sílvia Helena G. de Miranda
Profa. Departamento Economia – ESALQ/USP
Vice coordenadora CEPEA
Workshop “Resistência: Impactos econômicos na
agricultura e construção de uma proposta de manejo”
18 de novembro de 2015
São Paulo - SP
2. ROTEIRO DA APRESENTAÇÃO
• Introdução
• Impactos econômicos no Mundo
▫ A situação no Brasil
• Mensuração de impactos econômicos
▫ Métodos utilizados
▫ Dados
• Considerações finais
2
3. Introdução
• Resistência Perdas significativas para produtores,
indústria de agroquímicos, consumidores
• O valor monetário dos prejuízos nem sempre é
conhecido
• Identificação desses prejuízos favorece as ações de
extensão e do planejamento de políticas e estratégias
• Interface relevante com a prevenção de entrada de
pragas; desenvolvimento e uso de OGM; manejo
integrado de pragas (MIP); registro de produtos
3
4. Perdas provocadas pela resistência e que
podem ser valoradas
• Aumento de custo de produção – com controle ou com doses e manejo
inadequados da tecnologia
• Perdas em produtividade
• Realocação do uso da terra pela inviabilidade de cultivar algumas culturas
• Elevado custo de desenvolvimento da tecnologia e sua rápida depreciação
• Custo ambiental – contaminação de recursos hídricos e efeitos sobre a
biodiversidade
• Custo social – intoxicações de trabalhadores rurais por manejo inadequado de
agroquímicos e possível contaminação de consumidores
• Restrição em mercados importadores dos produtos finais (ex: devido ao uso de
produtos proibidos ou sem registro, resíduos)
4
6. Sexton, Lei e Zilberman (2007)
• Problema: mais de 700 plantas, insetos e espécies
animais são imunes a agentes químicos que já foram
usados para seu controle (FAO 1996).
• EUA: o custo da resistência a agroquímicos está
próximo de US$ 10 bilhões por ano na forma de
aplicações adicionais e perdas das culturas devido a
pragas resistentes (Palumbi 2001). A
• Desafio para economia: qual o modelo econômico
que pode prover medidas acuradas destes custos
6
7. Pimentel e Burgess (2014) – Custos econômicos e
ambientais de pesticidas nos EUA
• Estudo sobre os custos econômicos e ambientais resultantes da dependência do
país dos inseticidas, herbicidas, fungicidas…..
• Valor total estimado em prejuízos sociais e ambentais US$ 9,6 bilhões
• Principais perdas nos EUA (em valores).
• Adicionalmente, Pimentel (2005) estimou custos de US$ 470 milhões/ano para
o governo em politicas de prevenção :
7
Tipo de perda US$ bilhões
Saúde pública 1,1
Resistência das pragas aos pesticidas 1,5
Perdas nas culturas provocadas aos pesticidas 1,4
Morte de aves devido ao uso de pesticidas 2,2
Contaminação de águas superficiais 2,0
8. Grafius (1997) – Leptinotarsa decemlineata
(Say) em batata
• Registro de resistência a inseticidas em 1984, em Michigan, no
besouro da batata; problemas severos em 1991.
• Entre 1991 e 1994, aumento dos custos de controle do inseto e
perdas de produtividade devido à resistência ao inseticida.
• Perdas de produtividade em média de 12,2% e de 20,5% nos
distritos mais afetados. Os custos + perdas custaram à indústria
Us$ 13,3 milhões em 1994 (equivalente a 13,7% do valor da cultura).
• Reação: quase 100% da cultura passou a adotar programa de MIP.
• Apesar de se introduzir novos inseticidas (reduzindo perdas de
produtividade) elevaram-se os custos de resistência pois os novos
inseticidas custavam cerca de 5 vezes mais que os tradicionais.
8
9. Alvarez e Solis (2015)
• Psilídio asiático dos citros – na Flórida
• Tiwari et al. (2011): em 2009 e 2010 - encontraram
menor susceptibilidade de populações de psilídeos em
talhões de citros, aos inseticidas normalmente usados,
como o Bifentrin, carbaril, clorpirifos, fenpropatrin entre
vários outros usados no controle quando comparados à
aplicação sobre os psilídeos coletados em 2000,
mantidos em laboratório
• Portanto, a abordagem de manejo de risco é importante
no futuro contra o HLB
9
10. Estudos na Austrália
• Inseticidas para controlar Helicoverpa: os
custos são elevados e há prejuízos ambientais
• Manejo integrado de pragas a resistência aos
inseticidas na população das pragas também
levou ao desenvolvimento de Estratégias de
Manejo de Resistência a Inseticidas (IRM)
10
11. No Brasil – um problema grave mas ainda
a ser valorado
• Ferrugem asiática da soja
• Diaphorina citri – HLB (Greening) dos citros
• Biótipos resistentes ao glifosato: de capim-amargoso
(Digitaria insularis), azevém (Lolium multiforum),
amendoin-bravo (Euphorbia heteropylla) e de buva
(Conyza spp.) => herbicidas pós-emergentes já usados
no dobro da dose recomendada em soja (Gazziero et al,
Embrapa)
11
12. Experiência no Brasil – Ácaro
rajado
• Mario Sato: caso do ácaro rajado (Tetranychus urticae) – Ataca
morangueiro, rosa, pêssego, algodão, mamão e crisântemo
• Resistência ao acaricidia renpiroximato chega a 3 mil vezes; à
abamectina, chega a 350 vezes e ao clorfenapir, 570 vezes
• PREJUÍZOS - Produtor acaba pulverizando com doses mais
elevadas; sem controle, ou se utilizam produtos sem registro, ou
eliminam as frutas (prejuízo); provocando desequilíbrio biológico,
contaminação ambiental, risco de intoxicação dos agricultores, risco
de maior contaminação nos alimentos e aumento no custo de
produção.
12
13. Amaranthus palmeri
• Primeiro relato no Brasil pela Circular Técnica nº 19, do
Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt)
• Encontrada em áreas de rotação de culturas (algodão,
soja e milho) do MT
• Quando a população não é controlada, perdas no
rendimento da cultura chegam a 91% no milho, 79% em
soja e 77% em algodoeiro, nas condições dos EUA.
13
15. Etapas para o estudo econômico
• O que é a Resistência?
• Quais os principais efeitos/perdas causadas pela resistência na
cadeia produtiva?
• Quem são os agentes mais afetados?
• Delimitação dos impactos econômicos em cada situação analisada
• Identificação de impactos sociais e ambientais
• Qual o horizonte temporal relevante?
• Existem dados para estimar os valores monetários das perdas
provocadas pela resistência?
• Quais as alternativas para lidar com a resistência e quanto custam?
• Quais as ações necessárias e os agentes nela envolvidos?
15
16. Sexton, Lei e Zilberman (2007)
• Economia informar os tomadores de decisão
privados e públicos sobre trade-offs no uso de
agroquímicos e outras estratégias de controle
• Muito da literatura especializada foca em determinar se
o uso de agroquímicos melhora o bem-estar
social.
• Os benefícios do seu uso (+ custos totais) superam os
custos sobre a sociedade (ex: riscos à saúde humana e
redução na qualidade ambiental)
16
17. Método econômico (Sexton, Lei e
Zilberman, 2007)
• Hueth e Regev, Laxminarayan and Simpson (2002), e
Alix e Zilberman (2003) produtor rural otimiza lucros
com base em 2 restrições:
▫ Crescimento da resistência e crescimento da
população e pragas
• Condição de 1a. ordem = A soma do benefício marginal
da redução de prejuízos no período t e do valor do
produto marginal do controle (VMFt) é igual aos custos
marginais privados da aplicação (w) e do custo marginal
social da resistência (VRt):
VMPXt + VMFt = w + VRt
17
18. Muitos produtores, contudo:
• Não consideram os efeitos de longo-prazo do uso
de agroquímicos e maximizam lucros igualando
o produto marginal da aplicação do agroquímico
(VMFt) ao custo marginal (w)
• Assim, este produtor pode usar doses maiores ou
menores de agroquímicos já que ignora os
benefícios futuros e o custo de resistência.
18
19. Métodos frequentemente empregados
em estudos
• Análise de Risco: análise qualitativa e
quantitativa
• Análise Custo-Benefício e Análise Custo-
Efetividade
• Simulações de Monte-Carlo como forma de
intervalos de confiança para os resultados das
análises; e análise de Sensibilidade
19
20. Desafio de obter dados para os
estudos
• Delimitação dos impactos a serem analisados
• Necessidade de dados de campo;
• Dados biológicos, de resistência, de danos
• Dados econômicos: custos e de receitas, inclusive de
custo de desenvolvimento das tecnologias
• Definição de horizonte temporal de análise
20
22. Considerações finais
• Iniciativas de colaboração entre diferentes
segmentos das cadeias produtivas => essencial
para viabilizar os estudos e adotar soluções
• Importância de esforços no levantamento de
dados
• É preciso identificar e diagnosticar também os
gargalos institucionais
22
23. SÌLVIA HELENA GALVÃO DE MIRANDA
Department of Economics, Management and
Sociology – ESALQ – University of São Paulo
Av. Pádua Dias, 11 . Zip Code: 13418-900
Piracicaba, SP Brazil. Email: shgdmira@usp.br
http://www.esalq.usp.br
http://www.cepea.esalq.usp.br/