SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 19
FOLHAS CAÍDAS
1853   Almeida Garrett
Em Folhas Caídas observa-se uma poesia confessional, um misto
de sinceridade e fingimento, exibicionismo e horror de si mesmo,
euforia erótica e desengano.

O autor recorre aos termos “rosa” e “luz” revelando que os
poemas têm a ver com a envolvente paixão do autor pela
Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar.

A obra pode ser considerada como documento humano, tanto
pela sinceridade nela presente quanto pela perfeição estética de
certos versos repletos de leveza.
Folhas Caídas
Aspetos formais
1. Aspetos precursores do Simbolismo:
     - aliteração;
     - assonância;
     - rima interna;
     -sinestesia.
2. De sabor medieval e/ou popular:
     · Valorização das tradições poéticas portuguesas:
           - preferência pela redondilha maior (sete sílabas),
           - emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela»)

    · Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou
    motivo poético; uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo
    («Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas
    (hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência.

    · Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas,
    alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos.

    · Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas
    emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e
    encadeadas ( poema «Não te amo»).
2. De sabor medieval e/ou popular:

    · A linguagem é quase sempre simples e direta, aparentemente espontânea e
    marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão,
    reticências, exclamações).

    · Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo
    eu - tu, narração; estilo coloquial (marcas da oralidade, falso diálogo);

    · exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora,
    interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e
    a antítese.

    · Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo,
    fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.
3. Outros aspetos:
    • abandono do verso branco arcádico e dos géneros clássicos;
    • preferência pela redondilha em estrofes regulares (quadra, sextilha,
       estrofes de sete e oito versos);
    • função apelativa da linguagem;
    • teatralidade;
    • exploração original de metáforas e antí-teses;
    • sinais de pontuação mais ao serviço da expressividade do que da lógica;
    • ritmo influenciado pela cesura do verso;
    • exploração da polissemia.


Temas clássicos:
   • o tema da mudança;
   • a antí-tese vida/morte;
   • a paisagem como estado de alma.
Estilo
Garrett abandonou as convenções clássicas, os versos brancos dos árcades e usou
uma grande liberdade métrica e rítmica. Soube tirar impressionante partido das
aliterações, rimas internas, sinestesias, fazendo anunciar o Simbolismo. Veja-se o
poema "Os Cinco Sentidos".

É inovador, aproximando a linguagem literária da linguagem coloquial. Os tipos de
frase, a pontuação, revelam as mínimas alterações do estado de espírito do sujeito
poético. Todos estes recursos estéticos conferem ao dis-curso uma ductilidade, uma
musicalidade, uma cadência, uma harmonia, uma suavidade, que são a grande
contribuição de Garrett para a poesia moderna.
Folhas Caídas
Principais linhas que atravessam a poesia
Amor sensual
Em vez de um sentimento passivo, contemplativo, Garrett canta o amor que
se repercute nos sentidos, amor que atinge a máxima expressão na máxima
erotização do corpo. Tudo isto numa linguagem estética de rara beleza,
des-tinada a fazer o retraio do delírio passional, como se pode verificar no
poema "Os Cinco Sentidos".

 Amor intenso e vivido
O lirismo garrettiano é muito pessoal, confissão sincera de alguém que
muito amou os que amou apaixonadamente. A expressão de um amor
sentido e vivido já não é uma simulação ou a idealização de um amor,
simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como
nos clássicos.
A recorrência dos vocábulos "rosa" e "luz" reenvia certamente para a
inspiradora desta coletânea de poemas: a viscondessa da Luz, Rosa
Montufar.
Contradições amorosas
O amor cantado em Folhas Caídas está repleto de contradições: contradi-ções entre
um passado que foi "um doce sonhar" e um presente que é "um inferno de amar";
contradições entre dois seres que nunca se completam, antes geram o vazio. A
mulher é representada como um objeto de um desejo nunca atingido ou, atingido,
logo distanciado. É superlativada nas suas características: é um anjo, mas um anjo
caído, luz e trevas. O sujeito amoroso confessa repetidamente a sua incapacidade de
amar porque busca o prazer físico como se fosse absoluto. Por isso, a cada momento
de prazer sucede um momento de vazio pois é da natureza desse prazer ser
momen-tâneo. Contradições que provêm ainda da divisão maniqueísta entre céu e
terra, entre corpo e alma. Tudo isto converge para a criação de conflitos amorosos.
Ler os poemas "Este Inferno de Amar", "Não te amo, quero-te".

 Parateatralidade
Garrett é um homem de teatro e até quando escreve poesia não abandona esta
faceta. Encontramos em muitos poemas os falsos diálogos, dirigidos a um Tu
ausente aos olhos do leitor mas provocando o sujeito amoroso. Está do lado de lá
dos bastidores e interpela. O sujeito reproduz muitas vezes as suas réplicas. É o
gosto pelo discurso dramático.
·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa.

·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas
integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica.
Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante
dialética entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é
invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se
sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»).

· O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de
vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo /
idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o
homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja
e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo.

·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando
apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.
Folhas Caídas
A inovação
Esta obra trouxe novidades à literatura portuguesa, quer quan-to à forma, quer
quanto à temática e seu modo de tratamento. Apontamos, a título de exemplo,
algumas

NA FORMA
   abandono dos modelos arcádicos
   preferência pela redondilha de rima emparelhada, cruzada ou alternada,
   apresentada em quadras, sextilhas e estrofes de 7 e 8 versos
   influência das formas da poesia popular (quadras; refrão; rima interna, etc.)
   tom coloquial
   linguagem oralizante
   monólogo dialogado
   grande variedade estrófica
NA TEMÁTICA
Canta o amor-paixão, com várias cambiantes:
  ora um amor em que o poeta foi amado e não amou (como em "Adeus!");
  ora um amor em que o poeta amou e foi correspondido (como em "Cozo e dor");
  ora um amor em que o poeta ama e não é correspondido (como em "Não és tu");
  ora um amor que dá vida (como em "Este inferno de amar");
  ora um amor que mata (como em "Víbora");

  e tudo isto decorre das várias expe-riências amorosas de Garrett: as que viveu, as
  que viu viver, as que adivi-nhou.
Folhas Caídas
Aspetos românticos
 O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo;
  feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas
  «Este Inferno de Amar», «Não te amo»);

 Conceção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»);

 Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes
  sítios» e « Adeus»);

 A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»);

 Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»);

 Linguagem mais simples , direta e espontânea;

 Valorização da emoção diante da razão.

 O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.
Literatura Portuguesa
Profª: Helena Maria Coutinho

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Joana Azevedo
 
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
FilipaFonseca
 

Was ist angesagt? (20)

A debil cesario verde
A debil cesario verdeA debil cesario verde
A debil cesario verde
 
Autopsicografia e Isto
Autopsicografia e IstoAutopsicografia e Isto
Autopsicografia e Isto
 
Noite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário VerdeNoite Fechada, de Cesário Verde
Noite Fechada, de Cesário Verde
 
Os Maias - Capítulo XVI
Os Maias - Capítulo XVIOs Maias - Capítulo XVI
Os Maias - Capítulo XVI
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de campos
 
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
 
Canto v 92_100
Canto v 92_100Canto v 92_100
Canto v 92_100
 
A fragmentação do eu
A fragmentação do euA fragmentação do eu
A fragmentação do eu
 
Verdes são os campos
Verdes são os camposVerdes são os campos
Verdes são os campos
 
Ondados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzenteOndados fios de ouro reluzente
Ondados fios de ouro reluzente
 
Os Maias - análise
Os Maias - análiseOs Maias - análise
Os Maias - análise
 
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de SousaSebastianismo - Frei Luís de Sousa
Sebastianismo - Frei Luís de Sousa
 
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaPoema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
 
Sebastianismo: Os Lusíadas & Mensagem
Sebastianismo: Os Lusíadas & MensagemSebastianismo: Os Lusíadas & Mensagem
Sebastianismo: Os Lusíadas & Mensagem
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
 
Valor aspetual
Valor aspetualValor aspetual
Valor aspetual
 
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaResumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
 
Oh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em anoOh! como se me alonga, de ano em ano
Oh! como se me alonga, de ano em ano
 
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"...
 
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/PoéticoFernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
 

Ähnlich wie Folhas caídas características gerais da obra

Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
luisprista
 
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
Aps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedoAps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
juliannecarvalho
 
Revisando o romantismo, 05
Revisando o romantismo, 05Revisando o romantismo, 05
Revisando o romantismo, 05
ma.no.el.ne.ves
 
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
luisprista
 
Língua Portuguesa - O que é literatura
Língua Portuguesa - O que é literaturaLíngua Portuguesa - O que é literatura
Língua Portuguesa - O que é literatura
cursinhoembu
 

Ähnlich wie Folhas caídas características gerais da obra (20)

G. Literários
G. LiteráriosG. Literários
G. Literários
 
Camões lírico 2017
Camões lírico 2017Camões lírico 2017
Camões lírico 2017
 
Construção de poemas
Construção de poemasConstrução de poemas
Construção de poemas
 
Resumos Exame Nacional Português 12º ano
Resumos Exame Nacional Português 12º ano Resumos Exame Nacional Português 12º ano
Resumos Exame Nacional Português 12º ano
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 71-72
 
Gênero lírico
Gênero líricoGênero lírico
Gênero lírico
 
Ficha_de_consolidacao_Poesia_Trovadoresc.pdf
Ficha_de_consolidacao_Poesia_Trovadoresc.pdfFicha_de_consolidacao_Poesia_Trovadoresc.pdf
Ficha_de_consolidacao_Poesia_Trovadoresc.pdf
 
Lira dos vinte anos (3)marco 2º b
Lira dos vinte anos (3)marco 2º bLira dos vinte anos (3)marco 2º b
Lira dos vinte anos (3)marco 2º b
 
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian TrombiniGênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
 
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo (1)
Aps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo (1)Aps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo (1)
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo (1)
 
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
Aps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedoAps 1   2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
Aps 1 2015 - análise literária do poema saudades de álvares de azevedo
 
Aula - Gêneros líricos e épicos na Literatura Brasileira
Aula - Gêneros líricos e épicos na Literatura BrasileiraAula - Gêneros líricos e épicos na Literatura Brasileira
Aula - Gêneros líricos e épicos na Literatura Brasileira
 
Olavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudoOlavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudo
 
Olavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudoOlavo bilac roteiro de estudo
Olavo bilac roteiro de estudo
 
Revisando o romantismo, 05
Revisando o romantismo, 05Revisando o romantismo, 05
Revisando o romantismo, 05
 
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 34
 
A lirica
A liricaA lirica
A lirica
 
Lira dos vinte anos andré,douglas, luis augusto
Lira dos vinte anos  andré,douglas, luis augustoLira dos vinte anos  andré,douglas, luis augusto
Lira dos vinte anos andré,douglas, luis augusto
 
Língua Portuguesa - O que é literatura
Língua Portuguesa - O que é literaturaLíngua Portuguesa - O que é literatura
Língua Portuguesa - O que é literatura
 
Teste Luis de Camões
Teste Luis de CamõesTeste Luis de Camões
Teste Luis de Camões
 

Mehr von Helena Coutinho

Mehr von Helena Coutinho (20)

. Maias simplificado
. Maias simplificado. Maias simplificado
. Maias simplificado
 
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhançasSanto antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
Santo antónio e padre antónio vieira – diferenças e semelhanças
 
Relato hagiografico
Relato hagiograficoRelato hagiografico
Relato hagiografico
 
P.ant vieira bio
P.ant vieira bioP.ant vieira bio
P.ant vieira bio
 
Epígrafe sermao
Epígrafe sermaoEpígrafe sermao
Epígrafe sermao
 
Cap vi
Cap viCap vi
Cap vi
 
Cap v repreensões particular
Cap v repreensões particularCap v repreensões particular
Cap v repreensões particular
 
Cap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geralCap iv repreensões geral
Cap iv repreensões geral
 
Cap iii louvores particular
Cap iii louvores particularCap iii louvores particular
Cap iii louvores particular
 
Cap ii louvores geral
Cap ii louvores geralCap ii louvores geral
Cap ii louvores geral
 
1. introd e estrutura
1. introd e estrutura1. introd e estrutura
1. introd e estrutura
 
Contexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieiraContexto histórico padre antónio vieira
Contexto histórico padre antónio vieira
 
. O texto dramático
. O texto dramático. O texto dramático
. O texto dramático
 
. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir. Batalha de alcácer quibir
. Batalha de alcácer quibir
 
Fls figuras reais
Fls figuras reaisFls figuras reais
Fls figuras reais
 
. Enredo
. Enredo. Enredo
. Enredo
 
. A obra e o contexto
. A obra e o contexto. A obra e o contexto
. A obra e o contexto
 
Sete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob serviaSete anos de pastor jacob servia
Sete anos de pastor jacob servia
 
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereçaO dia em que eu nasci, morra e pereça
O dia em que eu nasci, morra e pereça
 
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros  meus, má fortuna, amor ardenteErros  meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardente
 

Kürzlich hochgeladen

Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
TailsonSantos1
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
CleidianeCarvalhoPer
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
AntonioVieira539017
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
HELENO FAVACHO
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 

Folhas caídas características gerais da obra

  • 1. FOLHAS CAÍDAS 1853 Almeida Garrett
  • 2. Em Folhas Caídas observa-se uma poesia confessional, um misto de sinceridade e fingimento, exibicionismo e horror de si mesmo, euforia erótica e desengano. O autor recorre aos termos “rosa” e “luz” revelando que os poemas têm a ver com a envolvente paixão do autor pela Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar. A obra pode ser considerada como documento humano, tanto pela sinceridade nela presente quanto pela perfeição estética de certos versos repletos de leveza.
  • 4. 1. Aspetos precursores do Simbolismo: - aliteração; - assonância; - rima interna; -sinestesia.
  • 5. 2. De sabor medieval e/ou popular: · Valorização das tradições poéticas portuguesas: - preferência pela redondilha maior (sete sílabas), - emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela») · Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou motivo poético; uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo («Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas (hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência. · Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas, alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos. · Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e encadeadas ( poema «Não te amo»).
  • 6. 2. De sabor medieval e/ou popular: · A linguagem é quase sempre simples e direta, aparentemente espontânea e marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão, reticências, exclamações). · Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo eu - tu, narração; estilo coloquial (marcas da oralidade, falso diálogo); · exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora, interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e a antítese. · Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo, fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.
  • 7. 3. Outros aspetos: • abandono do verso branco arcádico e dos géneros clássicos; • preferência pela redondilha em estrofes regulares (quadra, sextilha, estrofes de sete e oito versos); • função apelativa da linguagem; • teatralidade; • exploração original de metáforas e antí-teses; • sinais de pontuação mais ao serviço da expressividade do que da lógica; • ritmo influenciado pela cesura do verso; • exploração da polissemia. Temas clássicos: • o tema da mudança; • a antí-tese vida/morte; • a paisagem como estado de alma.
  • 8. Estilo Garrett abandonou as convenções clássicas, os versos brancos dos árcades e usou uma grande liberdade métrica e rítmica. Soube tirar impressionante partido das aliterações, rimas internas, sinestesias, fazendo anunciar o Simbolismo. Veja-se o poema "Os Cinco Sentidos". É inovador, aproximando a linguagem literária da linguagem coloquial. Os tipos de frase, a pontuação, revelam as mínimas alterações do estado de espírito do sujeito poético. Todos estes recursos estéticos conferem ao dis-curso uma ductilidade, uma musicalidade, uma cadência, uma harmonia, uma suavidade, que são a grande contribuição de Garrett para a poesia moderna.
  • 9. Folhas Caídas Principais linhas que atravessam a poesia
  • 10.
  • 11. Amor sensual Em vez de um sentimento passivo, contemplativo, Garrett canta o amor que se repercute nos sentidos, amor que atinge a máxima expressão na máxima erotização do corpo. Tudo isto numa linguagem estética de rara beleza, des-tinada a fazer o retraio do delírio passional, como se pode verificar no poema "Os Cinco Sentidos". Amor intenso e vivido O lirismo garrettiano é muito pessoal, confissão sincera de alguém que muito amou os que amou apaixonadamente. A expressão de um amor sentido e vivido já não é uma simulação ou a idealização de um amor, simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como nos clássicos. A recorrência dos vocábulos "rosa" e "luz" reenvia certamente para a inspiradora desta coletânea de poemas: a viscondessa da Luz, Rosa Montufar.
  • 12. Contradições amorosas O amor cantado em Folhas Caídas está repleto de contradições: contradi-ções entre um passado que foi "um doce sonhar" e um presente que é "um inferno de amar"; contradições entre dois seres que nunca se completam, antes geram o vazio. A mulher é representada como um objeto de um desejo nunca atingido ou, atingido, logo distanciado. É superlativada nas suas características: é um anjo, mas um anjo caído, luz e trevas. O sujeito amoroso confessa repetidamente a sua incapacidade de amar porque busca o prazer físico como se fosse absoluto. Por isso, a cada momento de prazer sucede um momento de vazio pois é da natureza desse prazer ser momen-tâneo. Contradições que provêm ainda da divisão maniqueísta entre céu e terra, entre corpo e alma. Tudo isto converge para a criação de conflitos amorosos. Ler os poemas "Este Inferno de Amar", "Não te amo, quero-te". Parateatralidade Garrett é um homem de teatro e até quando escreve poesia não abandona esta faceta. Encontramos em muitos poemas os falsos diálogos, dirigidos a um Tu ausente aos olhos do leitor mas provocando o sujeito amoroso. Está do lado de lá dos bastidores e interpela. O sujeito reproduz muitas vezes as suas réplicas. É o gosto pelo discurso dramático.
  • 13. ·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa. ·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica. Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante dialética entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»). · O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo / idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo. ·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.
  • 15. Esta obra trouxe novidades à literatura portuguesa, quer quan-to à forma, quer quanto à temática e seu modo de tratamento. Apontamos, a título de exemplo, algumas NA FORMA abandono dos modelos arcádicos preferência pela redondilha de rima emparelhada, cruzada ou alternada, apresentada em quadras, sextilhas e estrofes de 7 e 8 versos influência das formas da poesia popular (quadras; refrão; rima interna, etc.) tom coloquial linguagem oralizante monólogo dialogado grande variedade estrófica
  • 16. NA TEMÁTICA Canta o amor-paixão, com várias cambiantes: ora um amor em que o poeta foi amado e não amou (como em "Adeus!"); ora um amor em que o poeta amou e foi correspondido (como em "Cozo e dor"); ora um amor em que o poeta ama e não é correspondido (como em "Não és tu"); ora um amor que dá vida (como em "Este inferno de amar"); ora um amor que mata (como em "Víbora"); e tudo isto decorre das várias expe-riências amorosas de Garrett: as que viveu, as que viu viver, as que adivi-nhou.
  • 18.  O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo; feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas «Este Inferno de Amar», «Não te amo»);  Conceção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»);  Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes sítios» e « Adeus»);  A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»);  Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»);  Linguagem mais simples , direta e espontânea;  Valorização da emoção diante da razão.  O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.