Este documento analisa o gênero da entrevista de emprego sob três perspectivas: 1) como uma resposta tipificada a uma situação retórica recorrente, 2) associado às convenções e expectativas estabelecidas pela sociedade, e 3) como um gênero privado e obscuro para os entrevistados. A análise baseia-se em manuais, depoimentos e comentários sobre entrevistas de emprego.
2. Objetivo
Buscar explicações para o
funcionamento sócio-retórico do
gênero Entrevista de Emprego (EE),
sobretudo quanto às suas funções
retóricas e expectativas de gênero.
3. Gênero na perspectiva da Nova
Retórica
Bitzer (1968) e Jamieson (1973)
Gênero como uma resposta tipificada a uma
situação retórica recorrente (!/?).
Miller (1984), Bazerman (1988) e Devitt (2004)
Gênero associado à prática retórica e às
convenções de discurso estabelecidas pela
sociedade.
Devitt (2004)
“... as pessoas constroem o gênero através da
situação e a situação através do gênero; seu
relacionamento é recíproco e dinâmico...” (p.21)
4. Expectativa de gênero
“(...) o gênero mostrará como muitas pessoas no
grupo agem ou se espera que elas ajam e no
que muitos de seus membros acreditam, ou
agem como se eles acreditassem, ou pensam
mistura
que eles devem acreditar. É essa
de comportamento e
expectativas que eu quero destacar
quando eu caracterizo os valores, epistemologia e
poder de relacionamento dos grupos” (Devitt,
2004, p. 78)
5. A Entrevista de Emprego – perspectivas
na Psicologia
• Fear (1978):
• Função da EE - avaliar a personalidade do entrevistado
para se determinar se o indivíduo é ou não adequado à
vaga.
• Jackson, Peacock e Holden (1982):
• O entrevistador é forçado a fazer inferências em relação à
personalidade, motivação e características do indivíduo
em número limitado de pistas dadas pelo entrevistado.
• Conwell (1990):
• Os entrevistadores tendem a ter em mente um candidato
idealizado que eles comparam com as pessoas reais
entrevistadas.
6. A Entrevista de Emprego –
perspectiva sistêmico-funcional
• De Conto (2008):
• O que mais determina a contratação do
candidato é a representação que é feita
pelo candidato no momento da EE.
• Marzari (2005):
• A EE “... revela as concepções, os objetivos e
as perspectivas de entrevistadores a respeito
do entrevistado” (p. 30).
7. Metodologia:
Análise de uma amostra de manuais,
depoimentos e comentários (extraídos de
blogs e sites cujo enfoque é a entrevista de
emprego).
Categorias de análise:
• Situação retórica
• Função retórica.
• Expectativa de gênero do ponto de vista dos
entrevistados, entrevistadores e consultores.
8. CONSULTOR
ENTREVISTADOR
Entrevista
de
emprego
ENTREVISTADO
9. Funções retóricas da EE
• Contribuir para decisões
acerca da seleção de
profissionais candidatos a vaga
de emprego.
• Perpetuar valores e crenças
do mundo do trabalho.
12. “Encontro com uma pessoa
desconhecida (...) O
entrevistador não te conhece e
irá fazer um „juízo‟ de você que,
às vezes, não corresponde
com a realidade”.
(http//www.acessa.com/vestibular/arquivo/carreira/2005/06/29-entrevista/#1, acessado em 5 de
abril de 2010 às 19h25min.)
13. “ Não sabemos como
serão as perguntas”
(http//www.acessa.com/vestibular/arquivo/carreira/2005/06/29-
entrevista/#1, acessado em 5 de abril de 2010 às 19h25min.)
14. “A ansiedade é algo esperado quando
estamos diante de algo desconhecido e
queremos saber sobre...”.
(http://inblogs.com.br/pergunteaourso/assuntos/carreira/entrevista -de-emprego-e-
ansiedade-por-que-entrevistadores-nao-perdoam, acessado em 2 de junho de 2010,
às 22:26h)
16. “Avaliar o conteúdo do discurso e um
conjunto de informações não-verbais
utilizadas como critérios de avaliação,
como postura, linguagem corporal,
apresentação pessoal, fluência verbal,
motivação e interesse pela vaga (...)” (Melo,
Psicólogo especialista em RH)
(http://www.zap.com.br/revista/empregos/categoria/como-se-preparar-para-uma
entrevista/page/2/, acessado em 18 de Fevereiro de 2010, às 18h14min).
17. “... nosso papel nas entrevistas é investigar
todas aquelas vivências escritas. Pois bem!
Tem candidato que inventa tanto curso,
cita tantas referências e cria tantas
experiências de sucesso, que é
visivelmente impossível ele saber tanto,
mas ele insiste em citá-las na entrevista”
(Relato feito por uma consultora no site http://www.ceviu.com.br/blog/info/artigos/as-maiores-mancadas-cometidas-
em-entrevistas-de-emprego)
19. “(...) Procuro esses sites de ajuda para
saber melhor como me preparar para
realizar um processo seletivo, pois as
respostas são sempre as mesmas,
pois o Google já dá tudo respondido,
o que faz com que os candidatos se
tornem muito parecidos entre si.”
(http://movv.org/2009/03/15/50-perguntas-e-respostas-para-usar-em-entrevistas-de-
emprego/#comment-99347, acessado em 02-03-2010, às 11h28min)
20. “Sinto que as mesmas perguntas
continuam sendo feitas. Em meu
último processo de vaga, procurei fugir
deste convencional, pois se estivesse
do outro lado, gostaria que meu
candidato fosse mais natural, mais ele.
No entanto, não fui aprovada, por não
ter seguido os padrões. Procurei ser
espontânea, ... não deu certo”.
(http://movv.org/2009/03/15/50-perguntas-e-respostas-para-usar-em-entrevistas-de-
emprego/#comment-99347, acessado em 02-03-2010, às 11h28min)
22. “Mais uma
armadilha… A idéia é
colocá-lo a falar mal do
seu superior. Se cair
nela, a entrevista está
concluída...”
(Visão sobre entrevista de emprego em manual contido em
http://movv.org/2009/03/15/50-perguntas-e-respostas-para-usar-em-
entrevistas-de-emprego/#comment-99347)
23. “A armadilha do silêncio: após
perguntas “difíceis”, alguns avaliadores
com pretensões psicológicas empregam
um velho truque: ao invés de continuar a
entrevista, (...) eles simplesmente
ficam em silêncio, encarando o
entrevistado sem passar nenhuma
mensagem com sua expressão facial.
(...)”
(http://www.efetividade.net/2008/01/18/entrevista-de-emprego/ Acessado em
7 de junho de 2010)
25. “A entrevista de emprego é a
oportunidade que o candidato
tem para expor o que há de
melhor em seu perfil
profissional, ou seja, para
vender seu peixe e conseguir
a vaga...”
( Renato, Consultor em manual em http://www.blogdicas.com.br/evite-os-
erros-da-entrevista-de-emprego/)
27. “(...) quero enfatizar a importância de treinar
antes de ir para uma entrevista de emprego,
e a partir deste treino, avaliar o que pode ou
não ser dito. (...) O profissional deve
treinar para estas
questões e analisar quais os pontos
negativos que surgem das mesmas e que
devem ser disfarçados ou menos
enfatizados”.
(Consultor falando em sua coluna sobre entrevista de emprego em
http://www.paulopedrosa.com.br/v2/modules/news/article.php?storyid=175)
28. Investigar a “real”
personalidade, a Promover a personalidade,
potencialidade e as potencialidade e
capacidades do candidato a capacidades “reais” ou
ser selecionado; “fabricadas”;
Convencer os
Averiguar a veracidade de entrevistadores da
informações fornecidas veracidade das informações
pelos candidatos; previamente oferecidas;
Avaliar o potencial do Representar o papel de
candidato em relação ao candidato ideal à vaga
ideal de profissional disponível.
previamente concebido.
29. Considerações finais
Gênero de funcionamento privado,
inacessível e obscuro, visto pelos
entrevistados como altamente
enigmático, o que abre campo para
os consultores buscarem
“esclarecer” o gênero. Por vezes,
estas tentativas geram novas
obscuridades e conflitos.
30. Referências bibliográficas
BITZER, L. F. The rhetorical situation. In: Philosophy and Rhetoric, Volume 1, Issue 1,
pp: 14, 1968.
BAZERMAN, C. Shaping written knowledge: The genre and activity of the
experimental article in science. Madison, WI: University of Wisconsin Press, 1988.
CONWELL, S. L. Inferential judgment in the employment interview. Dissertation in
education, Faculty of Texas, December, 1990.
De COUTO, J. M. O Sistema de Gêneros da Seleção de candidatos a emprego no
contexto empresarial. Dissertação – Centro de Artes e Letras – UFSM (RS), 2008.
DEVITT, A. J. Writing genres. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2004.
DEVITT, A. J. Writing genres. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2004.
JAMIESON, K. M. Generic Constraints and the rhetorical situacion. In: Philosophy and
Rhetoric, Volume 6, Issue: 3, pp: 162-170, 1973.
MARZARI, G. Q. “Do you have any experience abroad?” O Gênero Entrevista de
Emprego em cursos livres de línguas. Dissertação – Centro de Artes e Letras –
UFSM (RS), 2005.
MILLER, C. Genre as social action. In: Quarterly Journal of Speech, Volume 70, Issue
2, pp:151-167, 1984.