A comunicação no pós-64: a resistência da imprensa durante a ditadura militar no Brasil
1. A comunicação no pós-64
50 anos do golpe militar
e as muitas histórias dessa história
Calendário 2014
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Se, por um lado, a repressão e a
censura deixam marcas profundas
e justificam plenamente a expressão
“anos de chumbo”, por outro, o
balanço da produção cultural do
período revela-se de uma riqueza
impressionante. Trata-se de um
paradoxo frequente em Estados
totalitários: ao invés de fenecer, a
produção cultural floresce, talvez
espicaçada pelo poder ditatorial.
CHICO HOMEM DE MELO
Em “Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil” É PROIBIDO ESQUECER
JANEIRO2014
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NÉLSON JAHR GARCIA
Em “O que é propaganda ideológica”
A propaganda no período da ditadura
rendeu resultados, já que grande
parte da população acreditou no que
ouvia, confiando que os governos
militares eram legítimos e defendiam
seus interesses. Submeteu-se às
decisões políticas e colaborou com
o seu trabalho. Os objetivos que os
militares tinham com a propaganda
foram alcançados em sua maior parte.
É PROIBIDO DESCONFIAR
FEVEREIRO2014
4. 31
Nos tempos de Vlado, levar o jornalismo
às últimas conseqüências, ou seja,
contar tudo que está acontecendo e é
de interesse da maioria da população,
constituía atitude temerária, significava
correr risco de vida. Por isso, Vlado,
torturado, morreu. Hoje, o único risco
que existe é o de perder o emprego –
e esse parece ser mais amedrontador
do que perder a própria vida ou perder
a vergonha na cara.
RICARDO KOTSCHO
Em depoimento ao Instituto Vladimir Herzog
2014
É PROIBIDO SE ARRISCAR
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Apesar dos militares terem fechado
redações, eles viam na imprensa uma
forma de se sustentarem no comando.
Assim, investiram nas propagandas
políticas. Apelava-se para o orgulho
patriótico da população, mas o amor
à pátria acabou se tornando sinônimo
de submissão ao governo. Aquele que
contestasse o regime passava a ser
considerado um antibrasileiro.
FERNANDO JORGE
Em “Cale a boca, jornalista!”
2014
6. 1 Dia Mundial do Trabalho / 3 Dia Mundial da Liberdade de Imprensa
João Batista Figueiredo manteve um
relacionamento áspero e difícil com
os jornalistas. Tratava a imprensa
de modo hostil ou brutal. No dia 19
de junho de 1980, em um discurso na
cidade de Cuiabá, sua excelência
declarou: "A imprensa usa de todos
os meios para difundir o que é mau e
esconde justamente aquelas coisas
que o governo tem feito com sacrifício
em benefício do povo brasileiro".
FERNANDO JORGE
Em “Cale a boca, jornalista!”
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João Batista Figueiredo manteve um
relacionamento áspero e difícil com
os jornalistas.
João Batista Figueiredo manteve um
relacionamento áspero e difícil com
os jornalistas.
"A imprensa usa de todos
para difundir o que é mau e
justamente aquelas coisas
governo tem feito com sacrifício
benefício do povo brasileiro".
"A imprensa usa de todos
para difundir o que é mau e
justamente aquelas coisas
governo tem feito com sacrifício
benefício do povo brasileiro".
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É PROIBIDO TOLERAR
MAIO2014
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2014
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Entre nós é proibido ser gente. Nós
viramos máquinas – que pensam? –
mas só podemos transmitir aquilo
que nos é permitido. Do contrário, é
expor-se a todas as torturas físicas
e morais, como as que passei, como
as que venho passando. Com orgulho
máximo de mim mesma, mas com
náuseas para tanta coisa que me cerca.
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7 Independência do Brasil / 30 Falecimento de Sérgio Porto
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FERNANDO JORGE
Em “Cale a boca, jornalista!”
Sérgio Porto (ou Stanislaw Ponte Preta,
seu pseudônimo) foi um jornalista que
reparou como ninguém nos absurdos
brasileiros. Certa vez, disse: “O Brasil
está andando tanto para trás que quem
não pegar a última caravela de volta,
vai acabar virando índio”. Jornalista
carioca que incluía em seus textos um
sarcasmo devastador foi mais uma
das vítimas fatais da ditadura militar.
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Tentei achar um jeito de me matar.
Vocês não imaginam o que é chegar
a conclusão que é melhor morrer para
que os outros não venham a sofrer. Só
quem passou por aquele lugar sabe
como é duro perceber isto. Apesar de
tudo, não guardo rancor. O que eu peço
é que não mais existam lugares como
esse e que haja liberdade, paz e justiça.
2014
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12. É PROIBIDO SE ACOMODAR
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Desde o ano de 1974, com a perda da
capacidade de atuação do regime
autoritário somada às dificuldades
econômicas que a sociedade enfrentava,
o eleitorado começava a se manifestar
em favor da oposição. Consequente a
essas insatisfações, em 1984, milhares
de brasileiros saem às ruas exigindo
eleições diretas para o cargo para
presidente do Brasil, num movimento
que ficou conhecido como Diretas Já.
ALBERTO TOSI RODRIGUES
Em “Diretas já: o grito preso na garganta”
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2014
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Tancredo Neves, depois de ser eleito
presidente da República de maneira
indireta em 1985, enalteceu o auxílio
da imprensa na reconquista do bom
e velho caminho democrático. Tancredo
não mentiu, essa imprensa ousou
bravamente enfrentar o poder para
servir à liberdade do povo mesmo
sob a censura policial e a coação
política e econômica.
FERNANDO JORGE
Em “Cale a boca, jornalista!” É PROIBIDO IGNORAR
14. O conteúdo deste calendário corresponde a depoimentos do período
ditatorial no Brasil, tendo como base as obras: “Cale a boca, jornalista”
de Fernando Jorge; “Linha do Tempo do design gráfico no Brasil”
de Chico Homem de Melo e Elaine Ramos (orgs.); “Cães de guarda -
Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição” de Beatriz Kushnir e
“O que é propaganda ideológica” de Nélson Jahr Garcia; As tipografias
empregadas são ChunkFive (serifada) e Helvetica Condensed Heavy
(sans-serif). Impressão realizada em papel Markatto Concetto Naturale
250 g/m², papel Duo Design 300 g/m² e papel Poliéster 90 g/m².
Direção de criação
Chico Neto
Direção de arte
Giu Cidade
Impressão
OriginalGraph
Homenagear a resistência dos comunicadores da época ditatorial é, antes de tudo,
compreender a complexidade e as evoluções da época, nas quais a imprensa teve
lugar relevante, intermediando as relações entre população e regime. É, além disso,
enxergar o universo no qual atuaram, resistir a uma memória que silencia a história, e
lembrar-se daqueles que trilharam o caminho da liberdade de expressão.
Lembrar dos jornalistas que resistiram ao arbítrio não significa esquecer daqueles
(jornalistas e jornais) que estiveram a favor do mesmo. Jornais que louvaram em suas
páginas os grandes feitos dos militares, suas conquistas econômicas e a pacificação
do país, celebrando a eliminação dos terroristas e dos maus brasileiros que estavam
ameaçando a ordem e o progresso.
O calendário trata de um tema difícil e delicado: a censura e seu poder insidioso de
negar a palavra e conquistar corações e mentes. Traz a tona, 50 anos depois, um tema
que reabre feridas que nunca cicatrizarão de verdade, pois compreender não é perdoar.
Este calendário é um convite ao reconhecimento de um passado recente, primeiro passo
para a certeza de que com situações de cerceamento de expressão e seus terríveis
desdobramentos não queremos viver nunca mais.
Giulianne Cidade
www.vladimirherzog.org
www.dcs.ufc.br
É PROIBIDO
COMUNICAR