1) A pré-secagem é um método para preservar amostras de forragens verdes para análise, removendo umidade em baixa temperatura até 80% de matéria seca.
2) É necessário registrar a perda de umidade para extrapolar os resultados da análise para a composição original da forragem.
3) A conversão entre a base seca e a base "como oferecido" é feita multiplicando-se os teores nutricionais pela matéria seca da amostra.
Utilizando o conceito de matéria seca na formulação de rações
1. Utilizando o conceito de matéria seca na formulação de rações
Envio de amostras pré-secadas de forragens para análise:
A não ser mediante entendimento prévio com o laboratório, não se deve enviar amostras
verdes ou suculentas para análise porque, enquanto o material contiver tecidos vivos,
provavelmente a respiração celular e outras reações biológicas alterarão a composição da
amostra desde quando ela for colhida até o momento em que ela for de fato processada. O
transporte de amostras verdes sob refrigeração pode ser aceito, desde que a embalagem
assegure a preservação da umidade original da amostra e que o período seja relativamente
curto, minimizando as perdas por respiração, fermentação etc.
Para manter inalteradas amostras de forragens verdes, pode-se também fazer sua
desidratação (pré-secagem). Isso é útil nas fazendas que não dispõem de refrigeração, ou
então que pretendem juntar várias amostras das forragens ali produzidas durante um certo
período, para enviar ao laboratório todas elas, a serem analisadas simultaneamente, em
conjunto.
Na pré-secagem, é necessário anotar a perda de água da amostra para que seja possível,
após receber os resultados do laboratório, extrapolá-los para a base “como oferecido” (a
condição original de umidade, em que o alimento é naturalmente consumido pelos animais).
A desidratação é realizada submetendo a amostra a uma fonte de calor, que pode ser o
próprio sol, uma lâmpada infra-vermelho, um forno de microondas, um formo caseiro ou, de
preferência, uma estufa a 65oC, com circulação de ar. Em 48 hs nessa condição de
desidratação “em baixa temperatura”, a amostra alcança cerca de 80% de MS, que é o
suficiente para preservá-la sem alterações pelo tempo necessário até a sua análise. O peso da
amostra antes e depois da desidratação deve ser controlado com uma balança de precisão. Há
no mercado um “determinador de umidade” específico, que consiste de uma balança já
acoplada a lâmpadas infra-vermelho.
Quando se usa uma estufa, o procedimento é o seguinte:
1) picar grosseiramente a forragem recém-colhida, em pedaços de 2 a 5 cm. Homogeneizar
bem o material picado e pesar 1 kg, a ser colocado em uma camada fina, numa bandeja, a
qual é levada à estufa. A quantidade exata (com precisão de gramas ou decigramas) de
material verde que vai à estufa é o “peso verde”.
2) após 48 hs na estufa, retirar a bandeja, deixar esfriar e pesar novamente. Esse é o “peso
pré-seco”. A amostra pré-secada (também chamada “amostra parcialmente seca”) é aquela a
ser enviada para o laboratório, para as demais análises.
3) cálculo da MS parcial:
MS parcial % = 100 - (peso verde - peso pré-seco)x 100
peso verde
4) A amostra pré-secada ainda contém uma certa quantidade de água, a qual só será
completamente extraída no laboratório, quando o material for aquecido em uma estufa a alta
temperatura (105oC). Com esse último resultado, pode-se então calcular a MS absoluta da
forragem amostrada. O teor de MS parcial da amostra pré-secada, determinado no item 3,
deve ser multiplicado pelo seu conteúdo de MS informado pelo laboratório.
Por exemplo, na amostragem de um pasto de capim colonião obtém-se os seguintes dados:
a) peso verde = 0,999 kg
2. b) peso pré-seco = 0,312 kg
c) o laboratório informa que a amostra pré-secada, como analisada, apresentou 80,13% de
MS.
MS parcial = 100 - (0,999 - 0,312) x 100 = 31,23%
0,999
MS absoluta = 31,23 x 80,13% = 25,03%
Isso significa que 100 kg do capim colonião “como oferecido” contêm, de fato, 25,03 kg de
MS. O restante é água.
Como extrapolar outros resultados da análise bromatológica para a base “como oferecido”:
a) O laboratório geralmente informa a composição bromatológica com base na matéria seca
absoluta ("na base seca" – na MS).
Para converter os dados na base seca para a base natural (MN ou "como "oferecido"), basta
multiplicar os resultados informados pelo laboratório pelo teor de MS absoluta da amostra.
Composição bromatológica do Teor de MS
Composição na
capim colonião, na base seca - da amostra = base "como
MS (%) 25,03% oferecido" (%)
PB = 8,50 x 0,2503 =2,13
FB = 38,05 x 0,2503 =9,52
EE = 4,13 x 0,2503 =1,03
ENN = 43,27 x 0,2503 =10,83
Ca = 0,38 x 0,2503 =0,10
P= 0,20 x 0,2503 =0,05
outros minerais
6,17 x 0,2503 =1,54
=
b) se o laboratório informar os resultados na base “como analisado” (isto é, com base na
amostra pré-secada), a extrapolação para a base “como oferecido” é obtida simplesmente
multiplicando-se os resultados do laboratório pela MS parcial:
composição na MS parcial Composição do
nutriente amostra "como alimento "como
analisada" (%) (31,23 %)1 oferecido" (%)
PB = 6,82 x 0,3123 =2,13
FB = 30,48 x 0,3123 =9,52
EE = 3,30 x 0,3123 =1,03
ENN = 34,68 x 0,3123 =10,83
Ca = 0,32 x 0,3123 =0,10
P= 0,16 x 0,3123 =0,05
outros minerais 6,17 x 0,3123 =1,54
3. =
1. Observe que a notação de um valor em porcentual pode ser escrita e utilizada de diversas
formas, tais como:
trinta e dois porcento = 32%= 32/100= 0,32
c) a interpretação dos resultados obtidos tanto em a como em b é a seguinte: cada 100 kg de
capim colonião, no estado em que a forragem é efetivamente consumida pelo gado,
fornecerão 2,13 kg de PB (proteína bruta); 9,52 kg de FB (fibra bruta); 1,03 kg de EE (extrato
etéreo – gordura), 10,83 kg de ENN (extrativos não-nitrogenados – amido e açúcares), 100 g
de Ca (cálcio) e 50 g de P (fósforo).
Nas forragens verdes que se encontram no mesmo estágio vegetativo, a composição da MS é
relativamente constante, mas o teor de MS pode apresentar grande variação diária, devido
aos fatores climáticos. Portanto, quando se dispõe de uma Tabela que informa a composição
média na base seca, basta multiplicar tais valores pelo teor de MS da forragem no momento
em que é consumida pelos animais para estimar, com alguma confiança, sua composição "in
natura" (na MN).
Assim, é recomendável controlar o teor de MS dos diversos alimentos empregados na
propriedade rural, especialmente das forragens verdes. Se não for possível determinar a MS
absoluta, a MS parcial já dará um bom indício. Se ainda assim não houver como fazer tal
determinação, pode-se também recorrer às Tabelas, que igualmente reportam o valor médio
de MS dos principais alimentos. Porém, esse valor médio de MS encontrado nas Tabelas
geralmente apresenta elevado coeficiente de variação, devendo portanto ser considerado
com reserva.
Exemplo de aplicação: as Tabelas mencionam que silagem de milho contém 7,5% de PB na
MS e 31% de MS, em média. Estime o teor protéico, na MN, de dois silos de uma determinada
propriedade, os quais se apresentam com 29% e 35% de MS, respectivamente. Se são
fornecidos 20 kg de silagem/animal/dia, qual é a quantidade estimada de proteína
consumida através da silagem?
Respostas:
% PB Estimativa do
% de % PB
consumo de
na MS MS na MN
proteína
464 g
dados tabulares 7,5 x 31 = 2,32
PB/animal/dia
436 g
silo nº 1 ? x 29 = 2,18
PB/animal/dia
524 g
silo nº 2 ? x 35 = 2,62
PB/animal/dia
A conversão da base “como oferecido” para a base seca é muito comum quando se pretende
diagnosticar o nível nutricional de uma categoria do rebanho. Por exemplo, deseja-se avaliar
o plano alimentar de um lote de bovinos confinados cuja dieta é constituída de:
Quantidade teor de MS no
Ingrediente "como alimento
oferecido" original (%)
4. (Kg/cab/dia)
silagem de
12,660 32,0
milho
palha de
0,680 92,0
arroz
torta de
1,830 91,0
algodão
farelo de
1,870 89,0
trigo
uréia 0,050 100,0
sal mineral 0,050 90,0
Para estimar a quantidade de MS contida na ração, multiplica-se a quantidade consumida de
cada ingrediente pelo respectivo teor de MS original:
silagem de
= 12,660 x 0,32 = 4,051 kg MS
milho
palha de arroz = 0,680 x 0,92 = 0,626 kg MS
torta de
= 1,830 x 0,91 = 1,665 kg MS
algodão
farelo de trigo = 1,870 x 0,89 = 1,664 kg MS
uréia = 0,050 x 1,00 = 0,050 kg MS
sal mineral = 0,050 x 0,90 = 0,045 kg MS
17,140 kg de 8,101kg de
totais = =
MN MS
Conclui-se que os 17,140 kg de alimento “como oferecido”/cab/dia equivalem a 8,101 kg
MS/cab/dia. A seguir, para se apurar a quantidade consumida dos outros nutrientes (caso
não se disponha de dados próprios dos alimentos utilizados), consulta-se uma Tabela de
composição de alimentos que contenha uma estimativa média da proporção dos demais
nutrientes naqueles alimentos:
Tabela de composição de alimentos:
Composição em 100% de MS (livre
de água)
Ingredientes
PB EM Ca
P (g/kg)
(%) (Mcal/kg) (g/kg)
silagem de
7,8 2,48 3,6 2,2
milho
palha de
4,2 1,62 0,1 0,1
arroz
torta de
45,7 2,51 1,6 12,1
algodão
farelo de
18,0 2,56 1,6 13,9
trigo
uréia 262,0 0 0 0
sal comum 0 0 0 0
Fonte: NRC (1984)
5. As quantidades dos demais nutrientes na dieta são obtidas multiplicando-se a quantidade de
MS de cada alimento pelos teores correspondentes:
Kg de Quantidade de nutrientes da dieta
Ingredientes PB EM
MS Ca (g) P(g)
(kg) (Mcal)
silagem de milho 4,051 0,316 10,050 14,58 8,90
palha de arroz 0,626 0,029 1,100 0,07 0,07
torta de algodão 1,665 0,761 4,180 2,66 20,15
farelo de trigo 1,664 0,300 4,260 2,66 23,13
uréia 0,005 0,131 0 0 0
sal comum 0,045 0 0 0 0
8,101 1,537 19,590 19,97 52,25
Finalmente, para se saber se a dieta está balanceada, confronta-se as quantidades de
nutrientes consumidos com os requisitos nutricionais daquela categoria animal. Por exemplo,
o NRC considera que bois com 300 kg de peso vivo (PV), ganhando 0,900 kg de PV/cab/dia,
necessitam consumir diariamente 8,1 kg de MS; 0,810 kg de PB; 19,5 Mcal de EM; 22 g de
cálcio e 19 g de fósforo. Então, no presente caso, conclui-se que o lote em questão está
recebendo uma dieta balanceada em MS, energia e cálcio, e que está havendo um suprimento
excessivo (superávit) de proteína e de fósforo.
Uma recomendação possível nesse exemplo seria substituir as fontes protéicas da dieta
(uréia e torta de algodão) por concentrados energéticos, que forneceriam a mesma
quantidade de MS e energia, ao mesmo tempo que menos proteína. Se continuar ocorrendo
um superávit de fósforo mesmo após ajustar a proteína, deve-se ao menos acrescentar uma
fonte de cálcio, de forma que a relação Ca:P aproxime-se de um nível apropriado (relação de
1:1, ou superior em Ca).
Conversão da base seca para a base “como oferecido”
O passo final do balanceamento de uma ração consiste em converter as quantidades
determinadas de MS de cada alimento para a base natural, isto é, aquela em que o alimento
se encontra disponível para o animal. Isto se obtém mediante regras-de-três, depois de se
apurar o teor de MS existente no alimento como é oferecido. Por exemplo, se o
balanceamento determina que 4 kg de MS sejam fornecidos por uma dada silagem, e esse
alimento se apresenta com apenas 27% de MS, então o animal deverá consumir 14,8 kg de
silagem in natura:
100 kg in natura _______ 27 kg de MS
X kg __________________ 4 kg de MS
x= (4 x 100) / 27
x = 14,8 Kg MN
Caso se dispusesse de uma silagem de melhor qualidade, com 33% de MS, por exemplo,
então seriam necessários somente 12,1 kg MN.
Autor(es):
Zootec. Dr. Sérgio Savastano Divisão de Extensão Rural savastano@cati.sp.gov.br