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Um membro da União Nacional de Camponeses (UNAC) andando ao longo da linha férrea do Corredor de Nacala,
no distrito de Mecubúri, na Província de Nampula, em Junho de 2012. O ProSavana pode-se resumir com uma
equação simples: Moçambique fornece a terra, o Brasil a agricultura e o Japão fica com a comida. É um projecto
vasto articulado pelos governos de três países, e que implica milhares de milhões de dólares e de hectares de
terra. É talvez o maior projecto de açambarcamento de terras aráveis em Africa.
Mapas da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) mostrando como o Corredor de Nacala e o Cerrado
brasileiro se encontram na mesma latitude. Os promotores do projecto ProSavana afirmam pretender recriar a
experiência brasileira, com o desenvolvimento de uma agricultura industrial a larga escala no Cerrado brasileiro.
Frisam que o Cerrado e o Corredor de Nacala são ambos zonas de savana tropical e por isso muito semelhantes, e
que o Corredor tem um enorme potencial para uma produção para exportação ainda mais rentável de bens agrícolas
tais como a soja, o milho ou o algodão.
Nacala Corridor




Neste mapa, as áreas em verde e amarelo indicam as terras do Corredor de Nacala disponíveis para
agricultura e que ainda não estão a ser utilizadas para a produção. Os dados foram compilados por Jacinto
Mafalacusser e pelo Dr. Mário Ruy Marques do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM).
"A minha família encontra-se aqui e eu não vou deixar as minhas terras. Onde irei eu se me tirarem as minhas terras?"
No dia 22 de Junho de 2012, camponeses reuniram-se em Namina, no Distrito de Mecubúri, em Nampula, para se
encontrarem com representantes da Via Campesina e de GRAIN. Era a primeira vez que ouviam falar do projecto
ProSavana, apesar de suas terras se encontrarem em plena zona do projecto. Os camponeses explicaram que já
estavam em luta com uma companhia norueguesa, a Green Resources, que tinha açambarcado 126 mil hectares numa
área de plantações silvícolas sem a sua autorização.
No dia 11 de Outubro de 2012, dirigentes locais da União Nacional de Camponeses (UNAC) reuniram-se na
cidade de Nampula para debater sobre o ProSavana. Era a primeira vez que dirigentes camponeses
oriundos da área abrangida pelo ProSavana se reuniam para discutir essa questão, e para muitos, a primeira
vez que recebiam informação sobre o que o projecto implicava. Numa declaração da reunião, os
participantes afirmam que “estão muito preocupados com o facto de o ProSavana necessitar milhões de
hectares de terra no Corredor de Nacala, enquanto a realidade mostra que tais quantias de terra não se
encontram disponíveis pois estão actualmente a ser utilizadas por camponeses que praticam agricultura
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ProSavana

  • 1. Um membro da União Nacional de Camponeses (UNAC) andando ao longo da linha férrea do Corredor de Nacala, no distrito de Mecubúri, na Província de Nampula, em Junho de 2012. O ProSavana pode-se resumir com uma equação simples: Moçambique fornece a terra, o Brasil a agricultura e o Japão fica com a comida. É um projecto vasto articulado pelos governos de três países, e que implica milhares de milhões de dólares e de hectares de terra. É talvez o maior projecto de açambarcamento de terras aráveis em Africa.
  • 2. Mapas da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) mostrando como o Corredor de Nacala e o Cerrado brasileiro se encontram na mesma latitude. Os promotores do projecto ProSavana afirmam pretender recriar a experiência brasileira, com o desenvolvimento de uma agricultura industrial a larga escala no Cerrado brasileiro. Frisam que o Cerrado e o Corredor de Nacala são ambos zonas de savana tropical e por isso muito semelhantes, e que o Corredor tem um enorme potencial para uma produção para exportação ainda mais rentável de bens agrícolas tais como a soja, o milho ou o algodão.
  • 3. Nacala Corridor Neste mapa, as áreas em verde e amarelo indicam as terras do Corredor de Nacala disponíveis para agricultura e que ainda não estão a ser utilizadas para a produção. Os dados foram compilados por Jacinto Mafalacusser e pelo Dr. Mário Ruy Marques do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM).
  • 4. "A minha família encontra-se aqui e eu não vou deixar as minhas terras. Onde irei eu se me tirarem as minhas terras?" No dia 22 de Junho de 2012, camponeses reuniram-se em Namina, no Distrito de Mecubúri, em Nampula, para se encontrarem com representantes da Via Campesina e de GRAIN. Era a primeira vez que ouviam falar do projecto ProSavana, apesar de suas terras se encontrarem em plena zona do projecto. Os camponeses explicaram que já estavam em luta com uma companhia norueguesa, a Green Resources, que tinha açambarcado 126 mil hectares numa área de plantações silvícolas sem a sua autorização.
  • 5. No dia 11 de Outubro de 2012, dirigentes locais da União Nacional de Camponeses (UNAC) reuniram-se na cidade de Nampula para debater sobre o ProSavana. Era a primeira vez que dirigentes camponeses oriundos da área abrangida pelo ProSavana se reuniam para discutir essa questão, e para muitos, a primeira vez que recebiam informação sobre o que o projecto implicava. Numa declaração da reunião, os participantes afirmam que “estão muito preocupados com o facto de o ProSavana necessitar milhões de hectares de terra no Corredor de Nacala, enquanto a realidade mostra que tais quantias de terra não se encontram disponíveis pois estão actualmente a ser utilizadas por camponeses que praticam agricultura itinerante."