1. espiral da fraternitas moviment
ternit vimento
boletim da associação fraternitas movimento
N.º
ANO xi - N.º 41 oUTUBRO dEZEMBRO
- oUTUBRO / dEZEMBRO de 2010
QUAL SERÁ O FUTURO
QUAL FUTURO
FRATERNIT
TERNITAS
DA FRATERNITAS Serafim de Sousa
Passou o Dia de Todos os Santos e seguiu-se a quem o lê os nossos anseios e a nossa vida inserida
comemoração dos Fiéis Defuntos. Nestas datas, que nas comunidades e na pastoral da Igreja. Vamos
se repetem todos os anos, dei por mim a reflectir no continuar, enquanto pudermos, nesta linha, dando os
futuro que nos espera. Muitos dos associados já estão nossos testemunhos, vivendo em comunidade e
na eternidade, gozando a felicidade dos Santos e partilha com todos que nos rodeiam e conhecem,
contemplando a face de Deus, Pai de misericórdia e vivendo a fé em Jesus. Somos um grupo de pessoas,
do Amor por excelência. A lista já é muito grande e, que, quando nos encontramos, difundimos alegria e
mais tarde ou mais cedo, lá teremos de partir. paz à nossa volta. Encontramo-nos pelo menos duas
vezes ao ano e é sempre o mesmo espectáculo.
A FRATERNITAS FOI CONCEBIDA para
unir as pessoas que foram dispensadas do exercício UMA COISA ME/NOS PREOCUPA: estamos
das ordens sacras, que optaram por uma vida de família, cada vez mais avançados em idade, temos bastantes
através do casamento, e que em determinado tempo viúvas e viúvos e não temos recebido gente nova, para
andavam cada um para seu lado, num isolamento mais continuar a Fraternitas, daqueles que pediram a
ou menos acentuado, dados os condicionalismos que dispensa das obrigações sacerdotais.
nos foram impostos. Numa palavra mais agressiva, Somos uma cela da Igreja actual, com defeitos e
fomos quase todos marginalizados e em muitos casos virtudes, como todos os outros. Não somos mais nem
abandonados à desgraça de sermos uma espécie de menos. Somos cristãos, vivemos intensamente e com
“ralé” na sociedade, que nos ostracizou sem piedade. algum sentido crítico os problemas que existem a todos
Houve gente que passou mal, nalguns casos até a os níveis, e não vislumbramos o tal sangue novo que
fome bateu às suas portas e foi muito dura a adaptação possa rejuvenescer o Movimento. Precisamos de gente
à nova situação. Éramos um rebanho disperso, quase nova e de novos sócios, para podermos ter a certeza
ainda como agora, cada um com os seus espinhos, e que o grupo não morre, quando desaparecerem os
longe uns dos outros, sem podermos ajudar-nos numa fundadores. Temos contactos de muitos, comunicamos
linha de solidariedade e caridade concreta. Neste com eles, dialogamos, não somos saudosistas, nem
aspecto, temos de prestar homenagem ao Padre Filipe “beatos”, como já alguém nos chamou.
de Figueiredo, que se lembrou de nós e começou por Homens e mulheres de fé e dinâmicos em todos os
nos convocar à medida que ia descobrindo o nosso aspectos, queremos contribuir com seriedade para uma
paradeiro. Com muitos encontros e retiros, fomo-nos Igreja viva e renovada, dentro das linhas do Evangelho.
juntando por diversas vezes, sempre em Fátima, aos Todos não somos demais para tarefa tão árdua e
pés de Nossa Senhora, e foi-se criando um grupo cada complexa. Cada um dá o que tem de melhor e mais
vez maior, que culminou na Associação Fraternitas profundo por esta causa, que depende essencialmente
Movimento, mais tarde reconhecida pela Conferência de pessoas conscientes e livres.
Episcopal Portuguesa, caso único no mundo.
OS SINAIS DOS TEMPOS são muitos e
O ESPIRAL é o órgão oficial desta associação, evidentes demais para não cruzarmos os braços. Temos
com periodicidade trimestral, que vai anunciando a (CONTINUA NA PÁGINA 2)
2. NOTíCIAS
2 espiral
(CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1)
plena consciência disso. Há muita coisa que precisa
de mudar! O nosso Movimento apela à união entre
Homenagem vivenc
todos os que têm consciência, para que, em cada hora,
Uma Vida ao Se
se procure a santidade dos homens, único caminho No dia 21 de Novembro, em Fátima, foi
que leva a Deus, que ama sem limites a todos, deu a apresentada a obra Padre Filipe Figueire-
vida por nós, venceu a morte com a Sua ressurreição. do. Uma vida ao serviço dos outros. To-
Ele vive connosco para sempre, no meio das multidões maram a palavra D. Serafim Ferreira e
e no coração de cada um. Vamos dar-nos a Ele sem Silva, bispo emérito de Leiria-Fátima, que
medo e sem hesitações, pois venceu o mal. classifica o Cónego Filipe com quatro «P»:
Padre, Professor, Peregrino, Profeta; o Dr.
O PADRE FILIPE passou para o Pai há sete anos, Artur Oliveira, com uma dissertação bíbli-
mas a sua obra tem de continuar a chamar por todos, ca sobre a diferença entre tratar Jesus
a segredar aos corações que «só com Ele pelo Seu nome e, portanto, ter uma rela-
encontraremos a paz e a felicidade que desejamos». ção interpessoal, e tratá-Lo pelo conceito
Ele foi um homem de causas que pareciam perdidas, «Cristo», que se associa a um estatuto;
mas que o não foram graças à sua teimosia, também Manuel Filipe de Figueiredo,
determinação, e ao seu desígnio de entrega aos outros, continuador da obra social pensada pelo
mesmo que isso obrigasse a grandes sacrifícios. seu tio, e, por fim, o Dr. Alípio, cujas
Conseguiu muito com poucos meios, sempre levado palavras reproduzimos.
pela fé que movia montanhas e ultrapassava os
obstáculos. Saibamos honrar a sua memória,
caminhando em frente na intransigência da nossa Sou um dos muitos co-autores. O meu papel é o de
entrega à Fraternitas, que ele nos deixou e pela qual arquitecto final sobre quem recaiu a tarefa de ideali-
temos de dar graças a Deus. Unidos venceremos! zar o trabalho, carear os materiais, burilá-los e distri-
Já lá vai o encontro/retiro de Novembro, onde a buí-los pelas diversas áreas do edifício, cujo trabalho
homenagem a este Homem culminou com o livro que final, di-lo-ia La Palisse, tem, assim, a matriz do meu
lhe é dedicado, e que foi superiormente coordenado ADN.
pelo Dr. Alípio Afonso, onde se lê na capa “uma vida O desejo de fazer-se um Memorial escrito da As-
ao serviço dos outros”. Está de parabéns o autor, está sociação Fraternitas Movimento vem de longe. Partiu
também de parabéns a Fraternitas, por ter conseguido do nosso saudoso assistente espiritual – Cónego Fili-
uma obra destas em tempo recorde. A dedicação, a pe de Figueiredo.
entrega a um trabalho desta envergadura, para a pessoa Luís Gouveia é uma das pedras basilares, na medida
que se pretende homenagear, e tudo feito em que foi o primeiro a pôr em prática o desejo do
gratuitamente, não há na terra como pagá-lo. Só Deus Cónego Filipe, mediante recolhas fotográficas, recortes
pode compensar tal gesto e atitude. Só uma palavra: da imprensa e a organização de uma síntese sobre os
OBRIGADO, e também à Câmara Municipal de Encontros em Fátima.
Estarreja, que, em homenagem a um filho da terra, A pedra angular é do nosso actual presidente,
patrocinou esta obra. Serafim de Sousa, ao decidir, há um ano, implementar
Os proventos do livro destinam-se à construção e, desde logo pôr em prática, a elaboração do
do Centro Social N.ª SR.ª do Amparo – Espaço Memorial. As dezenas de pedras interligadas que
Intergeracional, na terra do Cónego Filipe, que nos formam o corpo do edifício, na sua maioria, são
deixou repentinamente, depois de ter comunicado a subscritas por muitas e muitos de nós, sócios.
um grupo de homens este seu grande sonho. Comprem Manuel Filipe é o grande impulsionador, ao
o livro, é uma forma simples de ajudar e se quiserem assumir-se, em nome da Fundação Cónego Filipe de
podem fazer-se sócios da obra como beneméritos, Figueiredo, os custos da publicação e distribuição.
fundadores ou associados. O E-Mail é: Eu fui, ainda, o ‘estafeta’, agora chegado à meta.
fundaconfilipedefigueiredo@gmail.com; telefone: 234086020. No seu percurso, o peso foi sentido em casal. A
Continuemos a sonhar, acreditemos na Providência Zélia experimentou-o sempre que precisou de mim e
Divina e as coisas boas hão-de acontecer. me julgou ausente. Imagino que terá chegado a pensar
3. Reflexão
l
espiral 3
Delicadeza, amor natalício
cial da Fraternitas Depois, ou a seguir às qualidades naturais de
erviço dos Outros qualquer ser humano que pretenda viver e conviver em
paz e de bem consigo próprio e em sociedade, parece
que me perdera de Amores ou de Alzheimer pelos ser a delicadeza - de sentimentos, palavras, acções e
caminhos, quando me omissões - a virtude mais apreciável.
mantinha em casa, agar- As qualidades naturais estão ao alcance de qualquer
rado ao computador. um de nós: honestidade, honradez, lealdade, exactidão,
Feito um primeiro es- recta intensão, por exemplo, e são imprescindíveis ao
boço com a maioria dos ser humano sociável.
materiais dispo-níveis, A delicadeza pode ser a educação elevada ao seu
distribuí-o, via e-mail, grau mais sublime. Poderá ser idêntica a educação subtil,
por seis obreiros, solici- cortesia, urbanidade, afabilidade, ternura, brandura,
tando-lhes os reparos suavidade, mimosidade, leveza, promorosidade,
possíveis. Com as res- susceptibilidade simples, atenção às coisas pequenas.
postas, recebi várias É comparável ao amor que S. Paulo define em1Cor 13.
anotações, nem todas Ao contrário, a falta de delicadeza, ao menos
coincidentes, mas com- primária, converte-se em impaciência, maldade, inveja,
plementares no conjun- vaidade, intolerância, orgulho, soberba, inconveniência,
to. O Luís Cunha foi o egoísmo, desconfiança, deslealdade, injustiça, mentira,
analista mais abrangente. arrogância, teimosia, presunção, e outras que
A Zélia continuou a percebemos como nocivas para a vida pessoal, familiar
fazer de primeira leitora, e social.
atenta à semântica e sin- Pode-se ser ateu, laico, agnóstico ou semelhante e
taxe de todos os textos, especialmente dos elabora- ser-se delicado.
dos e adaptados por mim. Pode ir-se a caminho da perfeição humana e/ou cristã
O Luís, como clássico competente e exigente, e ser-se já delicado em grau quase sumo.
prosseguiu a tarefa de passar a pente fino a pontua- Mas não pode ser-se santo sem ser-se sumamente
ção e semântica finais. Graças a ele foram aqui e ali delicado. Nunca faltou esta delicadeza a um santo. Muito
detectadas e evitadas ligeiras e novas duplicações e menos consta ou se ouviu dizer que algum santo fosse
novas gralhas. O papel do Luís foi, assim, impres- grosseiro ou semelhante.
cindível. Ao contrário, jamais um pecador ou transgressor
Ter mino com a seguinte mensagem, por inveterado em qualquer sentido pode ser, algum dia,
considerá-la perfeitamente aplicável à personalidade razoavelmente delicado.
do nosso Cónego Filipe de Figueiredo e, de algum A delicadeza toca, muito de perto, a perfeição
modo, a cada um de nós: humana e/ou cristã.
«- Aprendi a tirar pedras do caminho para poder Um transgressor contumaz, nem de perto, nem de
avançar. Os heróis são todos os que fazem o que é longe, é capaz de tocar, nem minimamente, esta virtude
necessário. da delicadeza. São antagónicos, opostos.
- Aprendi que plantar o próprio jardim é melhor A delicadeza verdadeira é mel. A sua falta ou
que ficar à espera de alguém que me traga flores. ausência é fel.
- Aprendi que a mim pertence apostar nos Sem delicadeza não se vai a lado nenhum.
próprios talentos e realizar os próprios sonhos. Com delicadeza humana e cristã podem transpor-se
- Aprendi a aceitar os familiares e amigos que montanhas e conseguir-se, com menos custo, chegar-se
não mostram amar-me muito; que tal não é sinónimo onde se deseja ou necessita.
de não me amarem muito; que talvez seja o máximo A delicadeza não se conquista nem obtém de um dia
que conseguem e que isto é o mais importante. para o outro. Exige renúncia, ter o crucifixo na mão e
- Aprendi, olhando o tempo que passa e não volta, estar no crucifixo. Sem delicadeza, seja bispo, chefe de
a descruzar os braços, vencer o medo e seguir atrás Estado ou o que for, na verdade, nada sou.
de novos sonhos.» Alípio M. Afonso Silv Pinto
José Silva Pinto
4. DOSSIER
4 espiral
Trinta e nove papas
foram casados
P. e John Shuster
w. ta t.
w w w. r e n ta p r i e s t. c o m
Tradução: João Simão
São muitos os fundamentos
históricos da existência do
Padr es
adres
Sou padre católico romano
casado. Queria falar-vos de
sacerdócio casado. Durante os
primeiros 1200 anos da vida da
casados na
uma crise que atingiu a nossa
Igreja católica romana: há uma
Igreja, padres, bispos e 39 papas
foram casados3. O celibato existiu
Igreja
alarmante falta de padres
celibatários 1. Essa falta é tão
grave que muitas paróquias
no primeiro século entre os
eremitas e os monges, sendo
primitiv
imitiva
pr imitiva
estão a ser forçadas a considerado como um estilo de vida
encerrar 2 . Simultaneamente,
Recordemos as palavras de
opcional, alternativo. Foi a política Jesus: «Tu és Pedro e sobre esta
um em cada três padres casou.
Ou seja, há um grande número
medieval que introduziu a pedra edificarei a minha Igreja.» S.
de padres disponíveis para disciplina do celibato obrigatório Pedro, o papa mais próximo de
assumir paróquias. para os padres. Jesus, era casado. No Evangelho há
três referências à esposa de S. Pedro,
Padres e Clérigos à sua sogra e à sua família. Com
base na lei e nos costumes judaicos,
Os padres casados continuam atendendo à nossa preparação podemos admitir com toda a
a ser padres, mas já não são específica, à nossa ordenação e a segurança que todos os apóstolos,
clérigos. Vejamos a diferença entre doze séculos de tradição católica talvez com excepção do jovem
padre e clérigo: o padre está romana, no casamento os padres João, foram casados e tinham
comprometido numa vocação de mantêm o papel de dirigir o povo família4.
serviço, que é um chamamento como Jesus fez. Os padres casados e suas
espiritual de Deus. Clérigo é o que Nós, padres casados, NÃO esposas foram os primeiros
ocupa uma posição organizacional abandonámos a fé. Continuamos a pastores, os primeiros bispos e os
na Igreja institucional. ajudar os católicos em necessidade primeiros missionários. Eles
Quando um padre casa, é-lhe e esperamos a completa reinte- levaram a mensagem de Jesus a
retirado o estado clerical. Mas gração logo que seja rescindida a todas as culturas, protegendo-a com
mantém a plenitude do sacerdócio. lei humana do celibato. muitos trabalhos. Guiaram o
Deve ser designado por “ex- No limiar deste terceiro milénio, primeiro crescimento da jovem e
clérigo”. Muitos, erradamente, 30 % de todos os padres estão agora frágil Igreja e ajudaram-na a
usam o termo “ex-padre”. É que casados. Sente-se que Deus nos sobreviver a numerosas persegui-
ele foi ordenado para ser padre, está a chamar para a nossa tradição ções.
não para ser clérigo. A ordenação católica primitiva. E, uma vez que O Papa João Paulo II
é permanente, nos termos do a sociedade finalmente reconheceu reconheceu isto quando em 1993
cânon 290 do Código do Direito às mulheres a igualdade de direitos, disse publicamente que o celibato
Canónico (CIC). é tempo de também a Igreja lhes não é essencial ao sacerdócio5. Esta
Há 29 leis eclesiásticas que garantir igualdade no múnus declaração formal constitui uma
habilitam os católicos a recorrer pastoral. Na realidade, muitos grande promessa no sentido de
aos serviços dos padres casados. padres casados e esposas ministram resolver o problema da falta de
Por força do cânon 290 e como casal. sacerdotes celibatários.
5. DOSSIER
l
espiral 5
Igreja Influência romana
de famílias na Igreja
Como foi que se chegou à grande instituição que hoje temos? O que
A Igreja primitiva era uma malha foi que aconteceu ao sacerdócio casado?
de pequenas comunidades ba- Tudo começou no ano 313, quando o imperador Constantino legalizou
seadas em famílias ao longo da o cristianismo dentro do império romano. Com esta legalização, a Igreja
região mediterrânica. A vida era primitiva evoluiu de um grupo perseguido de pequenas comunidades
marcada por um sentido de alegre para se tornar a fé oficial duma potência mundial sob o imperador
expectativa. Jesus disse que voltaria Teodósio, no ano 380.
e os primeiros cristãos acreditavam As intenções de Constantino ao adoptar o cristianismo não eram
que viria em breve. Orientados por inteiramente espirituais6. Sentindo a sua liderança desafiada por grupos
padres casados encontravam-se nas políticos, ele precisava de afirmar o seu poder. Forçando os outros
casas uns dos outros para a políticos a tornarem-se cristãos era um teste à sua lealdade.
celebração da Eucaristia. Convi- Constantino serviu-se da nova religião como um instrumento efectivo
davam estranhos para a partilha do para extirpar os seus inimigos. Com isso reforçava o seu poder político.
pão e do vinho. Ninguém era Constantino também se deparava com a necessidade de unificar muitos
excluído da comunhão. Os povos que os seus exércitos tinham subjugado. O cristianismo foi a chave
estranhos rapidamente ficavam para estabelecer uma nova identidade romana nos povos conquistados.
amigos, aderiam à nova Igreja e Na aparência fê-los cristãos para salvarem as suas almas, mas, na
traziam outros para escutarem a realidade, esta nova religião foi o acto final da conquista sobre eles.
Boa Nova de Jesus.
A Sagrada Escritura documenta
que, na Igreja primitiva, padres e
bispos eram casados. No Novo
Testamento, na primeira carta a
Timóteo, capítulo 3, versículos 1 a
7, S. Paulo analisa as qualidades
necessárias para ser bispo.
Descreve um pai «sóbrio,
ponderado», chefe de família que
governa bem a própria casa. S.
Paulo fundou muitas pequenas
comunidades deixando-as nas mãos
de padres e bispos casados.
A chefia da Igreja era baseada
no ser viço e era responsável
perante o povo. Todos os membros
da Igreja tinham uma palavra na
comunidade. Tal como lemos nos
Actos dos Apóstolos, capítulo 15,
versículo 22, as decisões de grupo Referências
eram tomadas em concordância 1. Commonweal. October 11, 1991.
com toda a comunidade. A Igreja 2. The Journal for the Scientific Study of Religions. December 1990.
3. Kelly, J. N. D. Oxford Dictionary of Popes. New York, Oxford Press. 1986.
primitiva é descrita como 4. Padovano, A. Joseph’s Son. National Catholic Reporter. April 12, 1996.
democrática, em que a liderança 5. Time Magazine. July 1993.
escutava a comunidade e respondia 6. Grant, M. Constantine the Great: The Man and His Times. New York, Charles
às suas necessidades. Scribner and Sons. 1993.
6. DOSSIER
6 espiral
Reformas da Igreja do Império
Sendo o cristianismo a religião oficial do império autoridade aos padres casados das pequenas
romano, muitas coisas mudaram rapidamente na comunidades a fim de consolidarem o poder político
Igreja: à sua volta. Com o auxílio do império romano, a
- Aos padres das pequenas comunidades foi dado liderança da Igreja transformou-se numa hierarquia que
um estatuto social especial entre os novos amigos se foi afastando das suas origens familiares para
romanos. Já não tinham necessidade de se esconder adquirir a mentalidade romana duma classe dominante
dos soldados romanos, nem de temer pela vida. Pelo que estava acima do homem da rua9.
contrário, eram pagos pelos serviços que prestavam Outras mudanças aconteceram que deslocaram a
como sacerdotes e gozavam de privilégios especiais ênfase do povo para as preferências dos políticos
na sociedade romana. romanos. A Igreja adoptou a prática romana de serem
- Aos bispos foi concedida autoridade civil e só os homens os detentores da autoridade
atribuída jurisdição sobre os povos das suas áreas7. institucional. Há sólidas provas históricas de que as
- Os romanos, que eram membros da elite local mulheres exerceram funções sacerdotais antes deste
dominante, rapidamente se converteram ao tempo10.
cristianismo, seguindo as ordens do imperador. Eram
pessoas treinadas na vida pública e peritos em política8.
Fizeram-se ordenar de padres e rapidamente
ascenderam a posições de liderança na Igreja.
Agora ordenados, estes políticos romanos
trouxeram para a Igreja as atitudes impessoais e
legalistas de governo:
- A celebração da Eucaristia passou de pequenas
reuniões familiares para o que agora designamos por
“missa”, envolvendo grandes assembleias de pessoas
em grandes edifícios. A missa transformou-se num
ritual altamente estruturado à semelhança das
cerimónias da corte imperial romana. Foi desta
influência romana que derivaram os actuais
paramentos, as vestes, os ritos de genuflectir e de
ajoelhar, bem como a estrita formalidade da missa.
- Emergiu uma estrutura eclesial institucional à
imagem da do Governo romano. Grandes edifícios,
tribunais eclesiásticos, chefes e súbditos começaram
a substituir as pequenas comunidades de base familiar
assistidas por um sacerdócio casado local. Mulheres sacerdotisas
Os novos padres romanos trataram de retirar a
na Ig r eja pr imitiva
Igr primitiv
imitiva
7. Straus, B. R. The Catholic Church. David and Charles,
Em 494, terminava a participação das mulheres na
England. P. 37. liderança das pequenas comunidades: o Papa Gelásio
8. Torjesen, K. J. When Women Were Priests. Harper San decretou que as mulheres não podiam mais ser
Francisco. 1993. P. 155. admitidas ao sacerdócio11. Esta legislação é talvez a
9. Straus, B. R. The Catholic Church. David and Charles, prova mais forte que temos de que as mulheres
England. P. 34.
10. Torjesen, K. J. When Women Were Priests. Harper San
desempenharam as funções de líderes espirituais na
Francisco. 1993. P. 34. Igreja primitiva. O papel das mulheres na Igreja
11. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecture diminuía à medida que papas e bispos marchavam em
presented at Call To Action, Chicago. 1994. sintonia com as autoridades romanas.
7. DOSSIER
l
espiral 7
Celibato obrigatório: ataque às mulheres
e à intimidade
Com o tempo, o celibato assumiu o estatuto de uma
espiritualidade especial. A fim de o promover, certas
facções denegriam a santidade do matrimónio e da vida Papa Siríaco abandonou a esposa e os filhos para
familiar. A prática romana da abstenção de relações conseguir ser papa. Decretou imediatamente que os
maritais para manter a energia antes de uma batalha padres não podiam mais ser casados, mas foi incapaz
ou de um evento desportivo entrou na prática litúrgica. de impor a concordância a esta lei ultrajante14.
Aos padres era ordenado que se abstivessem da Ao longo dos mil anos seguintes, desenvolveu-se,
intimidade com as esposas na noite antes de celebrarem na teologia da Igreja, uma ética sexual não natural.
a missa. A mensagem daí decorrente foi a de que a Esta nova preocupação legalista com a sexualidade
sexualidade e o casamento já não eram santos. era contrária ao relacionamento humano normal e
O celibato tornou-se ainda outra oportunidade desfasada da ordem natural da vida tal como Deus a
política nas mãos de padres e bispos ambiciosos. programou. Continuou a ser muito depreciativa para
Usaram o estilo de vida celibatário como instrumento com as mulheres.
político para enfraquecer a influência dos padres Em 401, Santo Agostinho escrevia que «nada é tão
casados. Partindo da hierarquia, começou a emergir poderoso a puxar para baixo o espírito do homem como
uma atitude negativa para com as mulheres e a as carícias de uma mulher»15. A atitude que daí nasce
sexualidade, atitude essa que estava em forte contraste contra a sexualidade e as mulheres destinava-se a
com a perspectiva de família saudável, central na Igreja controlar os aspectos íntimos da vida das pessoas. Esta
primitiva12. Assim se colocava o celibato no grau mais dinâmica continua até hoje.
elevado da santidade e se promovia a eventual Por serem homens de família, os padres casados
supressão do sacerdócio casado. podiam descobrir a agenda política que estava por
Por exemplo, em 336 o Papa Dâmaso iniciou o detrás da obsessão da hierarquia relativamente à
assalto ao sacerdócio casado declarando que os padres sexualidade. Os padres casados estavam solidários
podiam continuar a casar, mas não eram autorizados com as pessoas e faziam o seu melhor para quebrar os
a expressar sexualmente o seu amor pelas esposas13. continuados esforços da hierarquia romana para ganhar
Padres e povo rejeitaram esta lei. No ano de 385, o poder de controlo sobre eles e suas famílias.
Acaba a Sagrada Comunhão para divorciados re-casados
No século XII, a hierarquia da Igreja foi dominada europeias. Tendo a capacidade de controlar os
por uma mentalidade legalista e negativa. Num esforço casamentos reais, Roma compreendeu que podia
para estabelecer uniformidade e controlo, bispos e influenciar alianças políticas e manipular negócios de
padres celibatários deram grande ênfase ao pecado e Estado 17. Em resultado deste novo esforço para
à culpa. Quem sofria com estas tendências era o povo. controlar as alianças reais, com a negação do acesso à
Foi durante este período da História da Igreja que comunhão e aos sacramentos, quem era punido
o casamento depois do divórcio foi declarado pecado. imediatamente eram as pessoas comuns que se
Os divorciados re-casados não podiam comungar. Até divorciassem e voltassem a casar. Era-lhes negada a
então, os casamentos eram julgados em tribunal, plena participação na vida da Igreja porque não
consensualmente dissolvidos e os cônjuges ficavam condescendiam com o querer das autoridades
livres para voltar a casar e podiam comungar16. eclesiásticas. O estatuto legal substituiu a espiri-
Entretanto, outra dinâmica política entrava aqui tualidade como marca de santidade e de boa reputação
em jogo. A hierarquia eclesiástica medieval estava em na Igreja institucional, o que ainda hoje é uma poderosa
luta pelo poder com várias monarquias e famílias reais influência.
12. Ranke-Heinemann. Eunuchs For The Kingdom Of Heaven. Doubleday. New York. 1990. P. 100 ff; 13. Barstow, A. L.
Married Priests and the Reforming Papacy: The Eleventh-Century Debates. The Edward Mellen Press. Lewiston, NY. 1982. P. 21;
14. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecture presented at Call To Action, Chicago. 1994; 15. Padovano, A. Ibid.;
16. Mackin, Theodore. Divorce and Remarriage. Paulist Press. 1984. P. 116; 17. Mortimer, R. Angevin England 1154 - 1258.
Blackwell. Oxford, U. K. P. 28.
8. DOSSIER
8 espiral
Infalibilidade é um Celibato: ataque
conceito humano
Na crescente atmosfera de poder e legalismo, certos
papas medievais abusaram da sua autoridade18. No ano
aos padres casados
de 1075, o Papa Gregório VII declarou que ninguém, A hierarquia via nos padres casados um obstáculo
excepto Deus, pode julgar o papa. Introduzindo o à sua ânsia de controlo total de Igreja, pelo que
conceito de infalibilidade, foi ele o primeiro papa a focalizou contra eles um ataque em duas frentes. Por
decretar que Roma nunca pode errar. Mandou fazer um lado, usou o celibato obrigatório para atacar e
estátuas à sua imagem, colocando-as nas Igrejas de dissolver as famílias sacerdotais influentes em toda a
toda a Europa. Insistia que todos deviam obediência Europa e no mundo mediterrânico, em particular. Por
ao papa e que todos os papas são santos mercê da sua outro, reclamava a propriedade das igrejas e das terras
associação a S. Pedro19. pertencentes aos padres casados. Como proprietária
de terras, a hierarquia medieval sabia que conquistaria
o ambicionado poder político em toda a Europa. Um
“Os padres irão cometer benefício adicional da posse de terras era o dinheiro.
pecados muito piores do Teria então a capacidade para cobrar impostos aos
que a fornicação” fiéis e levar dinheiro pelas indulgências e pelos
Um homem audaz, o bispo italiano de Imola, Ulrico, ministérios sacramentais20. Esta prática contribuiu
argumentou que a hierarquia não tinha o direito de muito para a reforma protestante e para a divisão da
proibir a casamento dos padres e aconselhou bispos e comunidade católica no século XVI.
padres a não abandonarem a respectivas famílias. Disse O ataque ao sacerdócio casado aumentou de
que «se o celibato for imposto, os padres cometerão intensidade no século XI. Em 1074, o Papa Gregório
pecados muito piores do que a fornicação» 24. [O VII decretou que todo o candidato à ordenação deve
número de casos recentes, largamente publicitados, de primeiro fazer voto de celibato. Continuou o ataque
padres envolvidos em abusos sexuais vieram dar contra as mulheres afirmando publicamente que «a
crédito ao bom bispo Ulrico. Aparecem cada vez mais Igreja não se pode libertar das garras do laicado a não
provas científicas de conexão entre o celibato ser que primeiro os padres se libertem das garras das
obrigatório e os abusos sexuais dos padres.] esposas»21. Num espaço de 20 anos as coisas deram
A respeitável tradição do sacerdócio casado foi uma volta para o pior.
virtualmente destruída pelas novas leis do celibato. Em 1095, houve uma escalada de força brutal
Com a supressão do sacerdócio casado e com a contra os padres casados e suas famílias. O Papa
desvalorização das mulheres na Igreja, ficaram abaladas Urbano II ordenou que aqueles padres casados que
as saudáveis origens familiares da nossa fé. ignorassem as leis do celibato fossem presos para o
bem das suas almas. Mandou que as esposas e os filhos
desses padres casados fossem vendidos como escravos
18. Padovano, A. Power, Sex, and Church e o dinheiro revertesse para os cofres da Igreja22.
Structures. A lecture presented at Call To Action,
Chicago. 1994.
O esforço da hierarquia medieval para consolidar
19. Padovano, A. Ibid. o poder eclesiástico e se apoderar dos bens das
20. Mortimer, R. Angevin England 1154 - 1258. Blackwell. Oxford, famílias dos padres casados teve êxito em 1139. A
U. K. P. 105-112. legislação que efectivamente pôs fim ao celibato
21. Padovano, A. Power, Sex, and Church Structures. A lecture opcional dos padres veio do II concílio de Latrão, sob
presented at Call To Action, Chicago. 1994.
22. Ranke-Heinemann. Eunuchs For The Kingdom Of Heaven.
o Papa Inocêncio II23. A verdadeira motivação para
Doubleday. New York. 1990. P. 110. estas leis era o desejo de adquirir terras em toda a
23. Celibacy, Canon Law of. The New Catholic Encyclopedia. New Europa a fim de fortalecer a base do poder papal. As
York. McGraw Hill. 1967. leis que exigem o celibato obrigatório para os padres
24. Barstow, A. L. Married Priests and the Reforming Papacy: usavam uma linguagem de pureza e de santidade, mas
The Eleventh-Century Debates. The Edward
Mellen Press. Lewiston, NY. 1982. P. 112.
a verdadeira intenção era a de solidificar o controlo
25. Gallup Survey of Catholic sobre o baixo clero e eliminar qualquer desafio aos
Opinion, May 15 - 17. 1992. intentos políticos da hierarquia medieval.
página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.
9. DOSSIER
l
espiral 9
Cento e dez mil padres casados
em todo o mundo
Muitos dos problemas com que hoje nos debatemos contrair um segundo matrimónio. O público tem dado
na Igreja podem ser remetidos ao período da história indicações de que aprecia o seu estilo tranquilo e a
medieval do cristianismo. Mas, no dealbar do século sua abordagem prática dos problemas da vida.
XXI, parece que Deus nos chama outra vez para a Particularmente as mulheres, não raro, ficam
ortodoxia das nossas origens como Igreja. Nos últimos profundamente sensibilizadas com a honestidade e o
25 anos casaram mais de 100 mil padres católicos respeito que os padres casados demonstram pelas
romanos em todo o mundo e muitos continuam esposas e com a compreensão e o apoio que eles dão
discretamente a exercer o seu sacerdócio. Nos EUA, às questões femininas.
um em cada três padres católicos romanos é hoje
padre casado e continua a crescer o número de padres
que se casam.
O casamento abriu a estes padres uma nova
perspectiva. Eles exercem o seu sacerdócio com uma
compreensão mais profunda das pessoas e dos desafios
a que elas estão sujeitas.
Actuando em casal, os padres casados prestam
assistência religiosa nos hospitais quando não há
padres celibatários, assistem os casais que, por
qualquer razão, estão deslocados da sua paróquia local.
Os padres casados entendem as necessidades
especiais dos católicos que se divorciaram e desejam
70 %
dos Americanos desejam
padres casados “O celibato não é essencial
Os padres, para poderem passar do celibato ao par a o sacer dócio”
para sacerdócio”
casamento, não tiveram outra alternativa senão a de
assinar papéis do Vaticano dos quais se inferia que Além da afirmação do Papa João Paulo II de que o
eles realmente nunca tinham tido vocação para o celibato não é essencial para o sacerdócio, tem havido
sacerdócio, que são psicologicamente instáveis, ou no Vaticano outros desenvolvimentos promissores a
moralmente fracos. Ora é exactamente o contrário que respeito dos padres católicos casados.
é verdade. Os padres casados agiram guiados pelo A maior parte dos católicos não se dá conta de que
Espírito Santo e responderam com convicção e amor Roma tem vindo a ordenar ministros protestantes
ao seu chamamento abrangente. Muitos católicos casados atribuindo-lhes paróquias aqui nos EUA.
americanos reconheceram formalmente a sua coragem, Nalguns casos, estes ministros protestantes, agora
especialmente aqueles que os contactaram através do sacerdotes católicos, substituíram padres forçados a
programa Rent-A-Priest. A nível nacional 70 % dos deixar as paróquias por terem casado. Roma permite-
católicos quer que os padres que casaram retomem o lhes que permaneçam casados e providencia apoio às
ministério como padres casados na Igreja católica ro- suas famílias.
mana25. Têm ficado impressionados com a integrida- Há estudos que mostram que os custos do apoio a
de dos padres casados e com a compreensão compas- uma família de um padre casado são, por vezes,
siva que evidenciam para com as pessoas apanhadas menores do que a um celibatário com governanta e
em situações difíceis. outros auxiliares.
.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
10. DOSSIER
10 espiral
O VATICANO ORDENA MINISTROS PROTESTANTES
CASADOS
A maioria dos novos padres católicos casados é de Vaticano poderia levantar a disciplina do celibato
episcopalianos que deixaram a sua tradição pelo facto obrigatório para todos os padres. Fazendo-o, poderia
de a Igreja Anglicana da Inglaterra ser a favor da mobilizar mais de 110 mil padres em todo o mundo e
ordenação de mulheres. Ao ordenar ao sacerdócio mais reabrir todas as paróquias que foi forçado a encerrar.
de 100 ministros protestantes casados, o Vaticano O Papa João Paulo II trabalhou outra iniciativa que
restabeleceu de facto o sacerdócio casado na Igreja envolve padres casados. Existem cerca de 20 ritos
católica romana. Agiu com base na afirmação do papa diferentes na Igreja universal: a Igreja católica
de que o celibato não é essencial ao sacerdócio. Com bizantina, a de rito caldeu, a do rito copta, só para
a ordenação de ministros protestantes casados o citar alguns exemplos. Nem todos estes ritos estão em
Vaticano mudou as regras. Ao fazê-lo, criou um comunhão com Roma, mas João Paulo II fez tentativas
precedente que é o de que os católicos podem agora para unificar todos os ritos numa família eclesial. Na
ter padres casados a celebrar a missa e os sacramentos sua maior parte, os ritos orientais têm vindo a manter
e que há leis eclesiásticas que permitem isso. Pelo seu ao longo dos séculos a tradição do sacerdócio casado
próprio exemplo, Roma anunciou claramente ao e desejam continuar com essa tradição em qualquer
mundo uma nova aceitação pública na Igreja de padres nova aliança.
católicos casados. A declaração de João Paulo II de que o celibato
Na verdade, o celibato obrigatório é uma lei não é essencial para o sacerdócio tem a dupla vantagem
humana, justamente como a antiga regra que proibia de resolver a carência de clero na nossa tradição
mulheres ao altar. Estas práticas disciplinares não são romana e de estabelecer os fundamentos de uma
necessárias para a nossa fé como católicos romanos. compreensiva e agradável unidade eclesial em todo o
Tais regras podem ser, e têm sido, alteradas. Deparamo- mundo. O futuro da Igreja contém muitos
nos hoje com o encerramento de paróquias por causa desenvolvimentos promissores em cuja implementação
da lei do celibato. Com um simples golpe de pena o os padres casados desempenharão um papel chave.
Leis canónicas: o público tem de fazer a petição
Cada uma das leis da Igreja tem a denominação de Este cânon confirma que os padres católicos
cânon. O corpo das leis eclesiásticas - Código de casados continuam a ser padres válidos em boa
Direito Canónico (CIC) - formou-se logo após a posição. Os sacramentos que administrem são
imposição do celibato obrigatório. Parece que o santo sacramentos válidos. Muita gente pensa que um padre
monge Graciano, que foi quem formulou a lei canónica, quando casa fica excomungado e deixa de ser padre.
estava consciente da perseguição injusta de que Mas o cânon 290 diz-nos que isso não é verdade. É
estavam a ser alvo os padres casados e suas famílias. no espírito deste cânon que nós nos designamos por
Talvez por isso ele tenha introduzido no código “padres católicos romanos casados”.
cânones que os poderiam proteger e permitir que o Deverá ter ouvido dizer que os sacramentos
sacerdócio casado se venha a restaurar um dia. administrados por padres casados são válidos, mas não
Há 21 cânones que permitem aos fiéis recorrer aos lícitos. Isso é tecnicamente correcto, mas eu gostaria
padres casados. Gostaria de tocar em dois destes de aduzir um exemplo para explicar a distinção entre
cânones para explicar como qualquer pessoa pode os termos “válido” e “lícito”. Vou servir-me duma
estar à vontade para recorrer à ajuda de padres casados. analogia médica. Imagine que um médico do Novo
O cânon 290 é muito especial 26 . Fala da México toma o avião para Chicago para uma
permanência da ordenação sacerdotal. Cito: «A sagrada conferência. Aterra no aeroporto internacional de
ordenação, uma vez recebida validamente, nunca se O’Hare, aluga um taxi e, no caminho para o hotel,
anula.» depara com um acidente de viação. Há uma pessoa
11. DOSSIER
l
espiral 11
O Cânon de Ouro primária da Igreja. Este entendimento do cânon de
ouro do direito canónico coloca o sacerdócio casado
O cânon 1752 é conhecido como “a regra de ouro” numa luz inteiramente nova. Também permite que
do direito canónico. Estabelece que «a salvação das cada fiel partilhe da nossa comum autoridade e
almas é sempre a lei suprema da Igreja». Parece que responsabilidade pelo futuro da Igreja.
este cânon torna muito claro que tudo no direito Do ponto de vista do direito canónico nós estamos
canónico e nos esforços da Igreja existe para servir as hoje num estado de emergência, porque a falta de
necessidades espirituais do Povo de Deus. Todas as padres celibatários está a provocar o encerramento de
determinações que forem contra este objectivo paróquias e a ameaçar a disponibilização da missa e
primordial são efectivamente contraproducentes e, por dos sacramentos, que são as actividades essenciais da
conseguinte, de validade questionável. Se a lei humana Igreja27. É muito improvável que, no futuro, haja uma
do celibato dos padres impede alguém de receber os reversão desta falta de padres celibatários. De facto,
sacramentos, então essa lei está contra a missão todos os estudos que têm sido feitos, incluindo os que
foram patrocinados pela nossa Conferência Episcopal
dos EUA, indicam que a crise só piorará nos anos que
aí vêm. Os padres celibatários serão cada vez menos
e mais velhos para dar assistência aos católicos em
número cada vez maior.
Enveredar pelo encerramento de paróquias não é
resposta aceitável para esta crise. O programa Rent-
A-Priest é uma iniciativa inovadora à disposição dos
católicos que foram apanhados nesta crise crescente.
Muitas comunidades paroquiais sentem que a
reintegração de 20 mil padres casados aqui nos EUA
é uma solução boa e efectiva porque tem um
precedente histórico e teológico sólido claramente
fornecido pelo código do direito canónico.
que foi projectada da viatura em que seguia e tem uma dos actos segundo a lei canónica que os católicos,
ferida que sangra abundantemente. O médico acorre quando não podem encontrar um padre acessível ou
em auxílio do ferido, estanca a hemorragia e estabiliza disponível, recorrem a padres católicos casados. Os
o paciente até chegar a ambulância. A ajuda do médico padres casados são pessoas que receberam de Deus a
nesta emergência é “válida” porque ele é médico vocação para o sacerdócio. Completaram com êxito
adequadamente preparado, tem um grau académico os anos de for mação no seminário e foram
conferido por uma faculdade de medicina. No entanto, validamente ordenados por bispos católicos romanos.
a ajuda do médico à vítima não é “lícita”, porque ele Têm graus académicos em teologia e noutras matérias
não tem autorização para exercer medicina no Estado afins.
de Illinois. Esta é a diferença entre um acto válido e Por força do cânon 290 pode-se ter a certeza de
um acto lícito. Pode estar certo de que a vítima do que os sacramentos ministrados pelos padres casados
acidente ficou muito contente com a ajuda “válida” são tão válidos como os ministrados pelos padres
do médico que a socorreu quando ela precisava celibatários em qualquer paróquia católica. As pessoas
urgentemente. que procuram os serviços dos padres casados acreditam
Ora é com esta mesma compreensão da validade que o seu sacerdócio é válido aos olhos de Deus.
26. Coriden, et. Al. The Code of Canon Law. Paulist Press. 1985.
27. Smolinski, D. Canonical Reflections on Pastoral Emergency and the Use of Married Priests in the Catholic Church. Catholic
Resource Center. Framingham, MA. 1995.
12. DOSSIER
12 espiral
Tranquilamente,
os bispos aplaudem
Os nossos bispos americanos lidam todos os dias muitas mudanças verificadas na Igreja católica acon-
com a falta de padres. Um em cada quatro bispos disse teceram através do povo de baixo para cima e não de
off the record que está pronto a receber de braços abertos cima para baixo. As jovens acólitas são um exemplo
os padres casados. Os bispos da América são bons recente. Muitas paróquias tinham cursos de prepara-
líderes que querem o melhor para o seu povo. Sabem ção de acólitos que eram frequentados por rapazes e
que, em média, há 400 padres casados por cada raparigas. Em 1987, o Vaticano emitiu uma nota a
Estado. Trabalhando em conjunto, padres casados e proibir as raparigas ao altar. Mas como em todo o
padres celibatários podem parar o encerramento de mundo esta ordem não foi acatada e se continuou a
paróquias. Juntos, poderiam melhorar especta- ter raparigas como acólitas, o Vaticano abrandou e
cularmente a disponibilização da missa e dos cedeu. A prática transformou-se em costume e o cos-
sacramentos. tume em lei.
Muitos bispos americanos querem deixar de À medida que mais e mais católicos recorrem a
desperdiçar o saber e a experiência que os padres padres casados para a administração dos sacramen-
casados têm para oferecer à Igreja. Todos os bispos tos, esta prática levará à reintegração plena dos pa-
foram informados do programa Rent-A-Priest. Alguns dres católicos casados, ao fim do encerramento de
encorajaram-nos a que continuemos a promover o paróquias e a um melhor atendimento sacramental de
sacerdócio casado, já que é uma tradição eclesial que todos os católicos.
a prática se transforma em costume e o costume se
transforma em lei. Isto já está a ser feito com a
admissão ao sacerdócio dos ministros protestantes
casados e pela declaração do Papa João Paulo II de
Resumindo
que o celibato não é necessário para o sacerdócio. O A nossa mensagem é simples e directa. Como
próximo passo será que as pessoas comecem a pedir católico romano qualquer pessoa tem o direito a
padres casados para o serviço pastoral. recorrer a padres católicos casados para a missa e os
Nem toda a gente poderá estar informada de que sacramentos. O programa Rent-A-Priest é um
ministério pastoral dos padres católicos romanos
casados. Nós oferecemos o nosso sacerdócio para ir
ao encontro das necessidades espirituais dos católicos
de hoje. Partilhamos os mesmos objectivos dos nossos
bispos, que são os de garantir que todos os católicos
tenham pleno acesso à missa e aos sacramentos e
trabalhar para que todos os católicos experimentem a
plenitude da nossa tradição católica. São estas as
actividades primárias e essenciais da Igreja. Quando
Roma reintegrar formalmente os padres católicos
casados na plena participação eclesial, trabalharemos
em coordenação com os nossos bispos e os nossos
irmãos sacerdotes celibatários que precisarem da nossa
ajuda. Até que esse dia chegue, servir-nos-emos das
provisões pastorais para os padres casados garantidas
pelo cânon 21 do CIC para servir os católicos que
pedirem a nossa ajuda. Através do programa Rent-A-
Priest, os padres católicos casados levam a missa e os
sacramentos às casas dos católicos em todo o país.
13. IGREJA
l
espiral 13
REPENSAR JUNTOS A PASTORAL DA IGREJA
O «Espiral» convidou os membros da AssociaçãoFraternitas
PREÂMBULO
Movimento a partilhar comentários e propostas que ajudem a
Aplaude-se com entusiasmo a iniciativa de
Igreja portuguesa a repensar a sua pastoral. Estas ideias
auscultar a Igreja em Portugal. Discorda-se da
recolhidas, se achadas oportunas, podem ser endereçadas pela
observação do Instrumento de Trabalho (II) de que
Direcção à Conferência Episcopal Portuguesa, e/ou outras que não
a acção da Igreja “vive dispersa”, sem “ligação entre
estão aqui.
si”.
Comentários MAIS VALIA DA SITUAÇÃO ACTUAL
Considera-se que o Espírito Santo (como não
1. Passando 50 anos sobre o Vaticano II, é urgente poderia deixar de ser da sua parte, porém com a
rever a pastoral à luz dos documentos concilares, generosa resposta dos fiéis à acção da sua graça) tem
que ainda são novidade. A CEP tem documentos que estado particularmente activo na Igreja em Portugal,
revelam o estado da prática religiosa. Pode ser o ponto e no mundo em geral, através da adesão dedicada,
de partida para uma revisão de vida, objectiva, prática, por vezes até heróica de inúmeros fiéis de todos os
ordenada à vida. extractos etários e sociais a movimentos, encontros,
2. A situação religiosa é grave. O povo tem bases eventos, projectos da Igreja ou não, que revelam que,
culturais muito limitadas. Há que fomentar um nas populações, o Espírito toca cada um e cada uma
conhecimento mais aprofundado da Sagrada e muitos respondem ao seu chamamento à oração, à
Escritura, História da Igreja, Liturgia, Moral, solidariedade, a simples encontros de comunhão, à
Espiritualidade laica, Canto Litúrgico… profunda vida sacramental.
3. Rever corajosamente as práticas tradicionais
de manifestações religiosas: peregrinações, APELOS
concentrações, santas missões, desobrigas, festas aos Apela-se a que a Igreja hierárquica comunique
oragos, outras manifestações pomposas, exteriores, eficazmente aos fiéis, como uma mãe o faz com os
grandiosas, espectaculares. seus filhos, que os compromissos apostólicos ou
4. Os leigos ocupem o seu lugar de direito, simplesmente solidários (voluntariados, etc.) em que
participem nos centros de decisão e administração eles se empenham são carinhosamente respeitados
paroquiais, vicariais, supravicariais, diocesanos… e apoiados por ela.
Apela-se a que a Igreja hierárquica monitorize
Propostas rigorosamente o seu empenhamento efectivo com
as margens da sociedade, não se limitando a delegá-
1. Que não sejam ouvidos ou questionados apenas lo mas experimentando-o como uma mãe o faz com
a elite dos católicos, os tradicionais, os frequentadores um filho que está doente.
das igrejas e capelas, os membros das confrarias, os Francisc o Sousa Monteiro
Francisco Monteiro
professores da UCP, etc. Ouça-se a voz dos
marginalizados, dos que não têm voz, de tantos
espezinhados pelo poder eclesiástico.
2. Os bispos, ou aqueles que os representam, não
se fechem nas sacristias, nos paços episcopais, nem
nas residências paroquiais, nem observem o mundo e
as suas questões através das janelas e varandas dos
seus espaços reservados e privilegiados.
3. Leiam com inteligência as estatísticas que
apresentam a frequência dominical, o número de
baptismos pedidos, os casamentos católicos, os
funerais católicos, as vocações dos chamados ao
14. IGREJA
14 espiral
exercício das ordens no ministério, do número dos os sem-tecto, se sentem bem nas nossas igrejas?
consagrados na vida religiosa, os divórcios de Sentem-se bem-vindos às nossas celebrações? São
casamentos realizados na igreja. vistos pelos cristãos instalados como irmãos?
4. Interpretem corajosamente esses dados e 10. A Igreja já se libertou de muitos privilégios
superem a lamúria da falta de vocações, da financeiros, sociais, culturais… A Igreja tornou-se
laicização da sociedade. Fujamos duma Igreja mais autêntica, ganhou credibilidade. Mais temos a
acomodada ao mundo ao qual ela se dirige com uma percorrer! Temos de abandonar o fausto. Devemos
mensagem de salvação – ela é sal. cultivar o respeito e a apreciação das obras de arte
que enchem as nossas igrejas e testemunham uma fé
5. Promovam-se os leigos a serem activos na popular, que na arquitectura, pintura, escultura, traduz,
administração das paróquias - não sejam apenas em forma mais inteligível, os mistérios mais profundos
leitores, acólitos, cantores, promotores das festas da nossa Fé.
paroquiais.
11. Hoje a Igreja tem de ser solidária com o povo,
6. A formação dos leigos seja mais promovida. A descobrir for mas novas de cooperação e
cultura religiosa do povo cristão é muito deficiente. desenvolvimento. A Igreja tem de abrir-se ao Espírito
Estimule-se a formação teológica, moral, sacramental, Santo, acolher formas novas de testemunhar a Fé,
bíblica, litúrgica. Promova-se uma catequese para proclamar a Boa Nova com coragem, determinação,
adultos, catecumenal, pelas vigararias, para facilitar a criatividade e inovação. Tem de abandonar formas
frequência do maior número de pessoas. tradicionais, que a fecham e empobrecem a mensagem
da Boa-Nova.
7. Durante muitos anos promoveu-se a recitação
do terço, a participação em peregrinações e 12. Os bispos, os padres, os cristãos devem
procissões... Estas práticas, estes hábitos são encontrar formas simples de testemunhar a Fé. Há
importantes. Embora possam e devam continuar na
pastoral, todavia centre-se a vida religiosa em Jesus –
o único mediador entre Deus e os homens. NA NOITE...
em que se move a sociedade contemporânea, cada
8. Encontrem-se, fomentem-se a criatividade e vez mais laica, vejo na Igreja livre e libertadora a única
inovação na prática religiosa dos cristãos. Não para LUZ capaz de iluminar um CAMINHO DE
aderir a modernismos e outras aberrações, mas para ESPERANÇA para o mundo. Para tal, deverá a Igreja
sermos fiéis ao Espírito Santo que constantemente libertar-se de todas as formas de autoritarismo na
estimula os cristãos à abertura a novas iniciativas. condução de grupos e comunidades.
Parece que as grandes celebrações, nas quais os Há que ouvir mais e mais os leigos,
participantes são anónimos, tiveram a sua época. Abra- responsabilizando-os nas decisões a tomar. Mas, para
se caminho a celebrações mais individualizadas, haver responsabilização, urge insistir muito mais na
conferindo-lhes também o valor da celebração formação para uma fé esclarecida, que não se
dominical. confunda com a mera crença espontânea vinda de
pais e avós.
9. Libertemos a Igreja da pompa, da exterioridade A formação é, por conseguinte, o caminho
excessiva, do espectáculo, da grandiosidade, da necessário e urgente para revitalizar as nossas
imponência, que deslumbra os olhos, abre às emoções, comunidades.
mas não leva à conversão. A Igreja, nos seus bispos e Como corolário, diria que nós, elementos da
padres, tem uma linguagem de pobreza, de atenção Fraternitas, dispomos aqui (no campo da formação)
aos pobres e marginalizados, mas na prática manobra- de uma área privilegiada onde poderíamos pôr a
se muito bem e deixa-se atravessar pelas linhas da render, ao serviço das nossas comunidades, as
influência, da riqueza, da tranquilidade e bem-estar. competências bíblico-teológicas que recebemos no
Será que os pobres, os anónimos, os marginalizados, nosso percurso académico. ulo
Pa ul o Eufrásio
15. REFLEXÃO
l
espiral 15
vestes e símbolos que nada dizem ao homem do «Deus é desnecessário
século XXI. Vestes aberrantes que não se coadunam
com o tempo de hoje. Que dizer de grandes para explicar a criação»
construções, megalómanas? Como justificar os grandes Esta é a frase bombástica de Hawking.
investimentos? Mitras, báculos, solidéus - podem ser Não passa disso.
símbolos muito queridos e até podem traduzir
humildade de quem os usa - são resquícios de uma era Hawking é um prestigiado cientista. A sua
passada e exprimem poder passado, símbolos de um especialidade é a Física. Ensinou com brilhantismo
poderio e triunfalismo que nada dizem no presente. excepcional em Cambridge. Recentemente publicou
The Grand Design («O Grande Projecto»), que foi escrito
13. Que fazer? Tudo mal? Nada se aproveita? em parceria com o físico norte-americano Leonard
Romper com o passado? O passado da Igreja Mlodinov. Tem outras obras de merecido
corresponde a um testemunho. Não se pode ignorá- reconhecimento cultural.
lo; não pode ser apagado. Assumimos esse passado, Este autor explica o aparecimento do universo por
essa história, esse testemunho. Errado é vivermos geração espontânea. Segundo ele, a lei da gravidade,
agarrados a ele. O passado não é dogma de Fé. aliada a outras forças da Natureza, teria
necessariamente esta consequência.
14. Preparemos um sínodo representativo do Povo É evidente que The Grand Design exige uma leitura
de Deus. Não como a Missão em curso na diocese do atenta, não se pode ficar pela rama. A Ciência investiga
Porto. Um sínodo que vá às raízes, às fontes da Fé, à sobre dados conhecidos, desenvolve teorias, explica
Tradição Apostólica. Perscrutem-se os verdadeiros os resultados das experiências laboratoriais, desdobra
problemas económicos, financeiros, culturais, sociais, os componentes até chegar aos elementos primeiros,
religiosos – humanos. Busquem-se as causas. Digamos mais ínfimos… mas trabalha sempre com a matéria
não à superficialidade, ao banal. Não pretendemos positiva, real, extensiva – matéria segunda – dizem os
arrastar multidões. Analisem-se os problemas à luz da filósofos.
Palavra de Deus. Dêem-se respostas pastorais
adequadas. Não queremos respostas académicas ou
problemas equacionados com teses de mestrado e
doutoramento – queremos Vida religiosa, que leve à
maturidade na Fé, que nos leve a viver Jesus Cristo,
Palavra do Pai. Pretendemos compromisso pessoal,
conscientemente assumido.
15. A CEP escolha psicólogos, sociólogos, analistas,
teólogos, pastoralistas, liturgistas, militantes da Acção
Católica, militantes de outros movimentos de
apostolado, outros… que venham para o terreno,
ouçam as pessoas – cristãos comprometidos, os
dissidentes, os praticantes convictos, os não
praticantes, os indiferentes, ateus… Interroguem,
recolham depoimentos, testemunhos. Analisem esses
conteúdos. Proponham reflexões, alargadas. Aceitem
sugestões. Ninguém tenha medo do presente nem do O erro de Hawking
futuro. A conclusão de Hawking enferma de um erro
crasso! Qual é o erro de Hawking? Podemos falar de
16. O Espírito de Jesus está com a Igreja. O erro? Em que sentido? Um cientista pode errar?
Espírito assiste-a e governa-a. Tenha o Povo de Deus A Ciência nunca erra. A Ciência tem leis rígidas,
a coragem de ouvir esse Espírito e de seguir as suas muito exigentes que respeitam sempre a Natureza.
decisões. Joa Soares
Joa q uim Soares (CONTINUA NA PÁGINA 16)
16. A Imaculada Conceição
| P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816
A Igreja, “Mãe e Mestra”, oferece-nos a festa da Imaculada na preparação para o Natal.
Maria, como boa judia, conhecia as profecias sobre Assim Maria começou a preparar a vinda de Jesus,
a vinda do Messias. Israel esperava um Messias no silêncio, na rotina de todos os dias, na simplicidade
triunfador, um grande libertador que vingasse a da vida doméstica, no seu coração… Grande
ignomínia a que Israel estava votado. Maria pensava transformação de Maria! O seu ventre, um Templo!
assim? Ou terá descoberto, contra esta corrente O seu coração, um tabernáculo!
tradicional, características verdadeiramente E assim Deus realiza o Seu plano: a salvação dos
inovadoras, sobre o Messias? O princípio das suas homens concretiza-se.
dúvidas: ela estaria certa? E a tradição? Os estudiosos E hoje como preparas a comemoração deste
estariam errados? E os conhecedores dos segredos de nascimento? Jesus continua a ter necessidade de
Deus que pensariam? – Uma loucura! nascer. Precisa de ti para incarnar as situações de
Maria, na linha dos profetas, acreditava que Deus injustiça, de pecado. Que te propões? Não desanimes!
P.Ta
intervém na vida dos homens por outros homens e Não desistas! Fazes parte daquele Resto que espera,
mulheres. Como é que Maria descobriu que era contra todas as evidências, que venha até nós esse
chamada para intervir de for ma objectiva, Reino de justiça, de verdade, de paz, de amor… que
Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix
participando neste plano de Deus? E logo ela! já está no meio de nós. Ele quer vir. Mas conta
Estava Maria indecisa para dar a sua adesão a este contigo: a tua vontade, o teu trabalho, o teu
plano. Hesitava. Ela, uma jovem, ignorada, como compromisso. Sem ti, nada! Mistério da Fé!
podia dar o seu contributo? Seria possível? Maria encoraja-nos. Temo-la diante dos olhos.
O Anjo, com nome próprio Gabriel, intervém. Procedamos como Ela. Soares
J . Soares
Confirma que as suas dúvidas eram seguras.
Garante-lhe que Deus quer que ela intervenha.
Disse-lhe que Deus tem vindo a prepará-La: é
“cheia de graça”.
Quem será este Anjo? É um mensageiro divino.
Mas será de facto um ser espiritual? Ou alguém desse
resto de Israel que esperava o Reino no silêncio, na
discrição, na humildade, longe dos centros de
decisão?… Nesta conversa com a Virgem, revela
muitos pormenores sobre o procedimento de Maria e Paz e Alegria na
Alegr
da sua relação com Deus. É evidente que Deus pode
Ter r a que Deus ama!
err que
QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com
ter enviado um Anjo…
(CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 15)
Erram os cientistas, quando extrapolam da sua esfera experiência e conclusões. Assim contribui para o bem
para outros domínios do conhecimento ou tiram e progresso da humanidade.
conclusões mais alargadas do que a experiência lhes
permite. Há mérito em Hawking
Que se passou de facto? À Física compete explicar
Sem dúvida! Sobretudo ajuda a purificar o conceito
os fenómenos científicos que engendra, ou os
de Deus. Vemos que há uma progressão nesse
fenómenos que constatamos no Universo. E nisso há
conhecimento. No Génesis, Deus aparece-nos com
mérito do cientista que vai avançando nas suas
um trabalhador, forma o homem de um pouco de
experiências analisando e decompondo os fenómenos,
barro. No Êxodo, Moisés já nos dá uma ideia de
esmiuçando-os. Errado será passar do mundo físico,
transcendência: a sarça arde sem se consumir. Os
matéria extensiva, misturando análises positivas com
profetas vão purificando este conceito até Jesus nos
o domínio da Filosofia e Teologia. É evidente que a
dar a verdadeira noção, ou pelo menos, a mais
Ciência nada pode sobre estes domínios. Já no século
aproximada e compreensível, do nosso Deus.
IV, Santo Agostinho advertia que o imanente não abre
Concluímos: de facto Deus não é um artesão. Ele é a
espi ral
caminho ao transcendente. Isto para dizer que o
causa primeira: uma presença ausente. Será possível
sapateiro não vai além da chinela. Compete ao
compreendermos esta dimensão?
cientista conter-se na sua área e aí apresentar a sua Soares
J . Soares