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O AlterenseCDU Alter do Chão | Julho a Setembro de 2020 | Setembro de 2020 | N.º 28 | Ano VII
CDU
Depois do medo incutido na população, assistimos, durante algum tempo, da parte de alguns portugueses “muito pensantes e os mais interessados na
defesa da democracia e na saúde dos seus concidadãos” à divulgação até à exaustão de que o principal e mais perigoso problema que os portugueses estavam
ou iriam ter pela frente seria a Festa do Avante.
Nunca antes se ouviu, da parte deles, uma palavra de recriminação ou manifestação de preocupação sobre os transportes públicos, as condições de
trabalho, o lay off, a presença nas praias, as feiras do livro de Lisboa e Porto, os despedimentos, peregrinação a Fátima, as festas, os concertos, as
manifestações políticas ou culturais que se foram realizando por esse país fora. Alguns destes eventos revelaram, como foi dito, até “uma grande
coragem” da parte dos organizadores. O grande perigo para a saúde pública nacional e para a imagem externa do país era a Festa do Avante.
qual vai ser.
Com tudo … ela fez!
O Plano de Contingência da Festa do «Avante!» 2020, que está disponível em https://www.festadoavante.pcp.pt/2020/plano-de-contingencia, foi
aprovado pela Direção Geral de Saúde. Este plano impôs mais e maiores restrições do que as impostas a outras manifestações sociais e culturais,
igualmente necessárias.
Assim, e depois de muitas comparações apressadas e injustas, de críticas e mentiras, de opiniões favoráveis e contra, número de pessoas por m2, de
providências cautelares, de fecho de lojas, de fotomontagens em jornais, de marchas lentas, de perceção ética do evento, etc., etc., a Festa do Avante
foi uma realidade nos dias 4, 5 e 6 de Setembro, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal.
A Festa do Avante é sempre um acontecimento político e cultural de grande importância nacional e, este ano de 2020, foi também uma afirmação
de defesa da democracia que o povo português alcançou com o 25 de Abril.
Esta festa só foi possível porque o PCP é um partido responsável, que acredita nos portugueses, que tem coragem, que assume compromissos, que
não se verga aos ataques soezes de que é alvo todos os dias e ergue a sua voz em defesa da liberdade e da democracia do povo português.
João Martins/Alter do Chão
Pá g in a 2O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8
A Rua do Norte
A Rua do Norte é no Outeiro e é a rua onde eu nasci e vivi até abalar para Lisboa. Na Rua do Norte joguei à pata, ao eixo, ao botão, ao berlinde e
ao pião e até ao espicho, antes de ser alcatroada. Faziam-se corridas de roda e garrancho e com água na boca para ser mais difícil.
Naquela rua morava muita gente nova e mais velha e, nas noites de Verão, os vizinhos sentavam-se à porta e alguns deles dormiam numa esteira, até
de madrugada. Faziam-se fogueiras pelos santos populares e, em Janeiro, matavam-se muitos porcos, até ser proibida matança do porco na rua,
quando a peste suína apareceu no final dos anos cinquenta.
Não havia qualquer automóvel estacionado mas havia umas vizinhas terríveis, a “velha Borrega” e a “velha Olha” que, pelo Carnaval, faziam mil
travessuras às pessoas que passavam na rua. E havia uns velhotes (o Xico Bilé, o Titio, o Vaz Rato, o Luciano e outros) que iam até ao depósito da
água, junto da igreja de Sta. Catarina (não me lembro de ter qualquer santo), matar o tempo e que nos contavam histórias da I Grande Guerra e da
Guerra Civil de Espanha, da fome e dos fugidos que, apanhados ou descobertos pela GNR, eram devolvidos.
Assim foi durante anos até que os vizinhos mais velhos foram morrendo e os outros mais novos abalaram para o Barreiro, Lisboa e até para o Porto
à procura de melhores condições de vida, que a terra que os viu nascer e crescer não lhes oferecia.
E a Rua do Norte foi ficando cada vez mais deserta e silenciosa, até ficar reduzida a menos de meia dúzia de moradores, a maioria já velhotes. O
despovoamento e a desertificação do interior tinham começado há muito.
Mas atrás dos tempos, tempos vêm.
E, há cerca de uma dezena de anos, ouviram-se de novo os gritos, as correrias e os risos de crianças na minha rua.
A Rua do Norte começava a renascer. Não do mesmo modo, mas renascia.
Hoje está calcetada, tem carros, muitas janelas de vidro (já não se pode jogar à pedrada nem fazer fogueiras de rosmaninho), mas tem vários casais
novos e cerca de 10 crianças com idade inferiores a 12 anos que lhe dão uma vida nova (talvez seja a rua com mais crianças).
Hoje, as crianças que lá moram têm outras solicitações e outras brincadeiras e fazer comparações com as brincadeiras do meu tempo não faz sentido
e não é correcto.
A rua deles é diferente da minha rua, apesar de ser no mesmo sítio e ter o mesmo nome, Rua do Norte.
Mas para que a rua tenha ainda mais vida é preciso e é imperioso que aqueles miúdos venham para a rua brincar, jogar, cair, correr, esfolar os joe-
lhos, brigar e ouvir os pais a chamá-los para irem comer ou ir para casa.
Tudo isto vem a propósito de a Rua do Norte também fazer parte da vila. Esta rua deve manter-se limpa e, por isso, se apela aos que por lá moram,
e por lá passam, a não deixarem que os seus cães e/ou gatos deixem os dejectos no meio da rua. Se isso acontecer, apanhem-nos, se f.f., para que as
crianças lá possam brincar em segurança.
Apesar ser num fim da vila, a Rua do Norte não é, nem pode ser, um sítio onde vão passear cães e gatos e se deixa fazer (sem limpar) o que eles
fazem. O mesmo se pode dizer da Azinhaga de Sta. Catarina, continuação da rua, que sendo já fora da vila tem de continuar a ser um lugar onde
crianças possam ir brincar no campo e, aí sim, jogar à pedrada, ouvir os grilos, os pássaros, os borregos e ver as vacas louras ou alguma cobra que
apareça.
A Rua do Norte quer-se limpa para continuar viva. Romão Trindade/ Alter do Chão
Lembranças de uma vida
Estava aqui em casa sentado e acordei depois de ter "passado pelas brasas" termo este muito usado no nosso Alentejo, quando o Sol e o calor até
queimam.
Assim, voltei aos meus tempos de rapazinho, os quais, tantas vezes, me dão saudades e me deixam sempre a sorrir, porque Alter do Chão foi uma
terra onde sempre houve pessoas que tiveram um dom de humor para certas situações.
O mestre António Brasão era um exímio. Talvez já há 70 anos usava-se tirar fotografias dos casais nas suas próprias casas. Um dia, o mestre Antó-
nio Brasão, ia com aquela máquina fotográfica de tripé, ferramenta de trabalho, que chamava a atenção a qualquer pessoa. Certa vez, para fazer um
trabalho fotográfico a um casal que morava numa das Ruas do Rossio, ao passar pela barbearia do José Raminhos, este que não era curioso(...),
perguntou-lhe: então mestre António por estes lados? onde vai hoje tirar a fotografia? resposta do mestre Brasão: estás enganado, hoje vou despejar
o Lago!
Noutra vez, o dia ameaçava chuva para a Procissão do Encontro, no Largo da Palmeira hoje Praça do Pelourinho. Na varanda por cima da alfaiata-
ria do mestre José Aço, o sr. padre lá ia anunciando ao povo, que enchia o Largo, que Nossa Senhora estava a chegar. Mas a chuva foi tanta que,
aproveitando o facto do meu avô Serrão e minha avó Alice estarem na loja onde eu e minha mãe também estávamos, pediram para deixar abrigar o
andor da Nossa Senhora, enquanto a chuva não parasse. Ainda retenho essa imagem de ver o andor em cima do balcão da loja.
Enquanto o sr. padre ia anunciando que Nossa Senhora estava a chegar, o mestre Brasão que tinha assistido a esta situação, disse naquele seu hu-
mor oportuno e no seu característico tom de voz: Nossa Senhora ainda demora, está na loja do Zé Serrão a comprar um par de meias!
Nesses tempos havia quem para ganhar algum dinheirinho para o seu sustento e dos seus, depois de um dia de trabalho mal pago, iam apanhar a
azeitona que ficava espalhada no chão, o chamado rabisco. Haviam alguns intermediários que a compravam e depois era vendida para outros que
tinham compradores para os lagares. Isso não era permitido (eu nunca cheguei a saber se deixar apodrecer essa azeitona que ficava no chão era de
louvar). Mas adiante: um dia, por denuncia, uns quantos foram ao Tribunal de Fronteira. Um deles foi o sr Joaquim da Silva Casaca, o nosso conhe-
cido Pexouquinha, que levou várias testemunhas em sua defesa. Uma delas, já não tenho o seu nome de memória e não quero errar, quando o dr.
Juiz o manda levantar-se para ouvir o seu depoimento, ele testemunha usando aqueles termos que se ouviam dizer nos Tribunais e diz: " saiba vossa
excelência senhor doutor juiz que a taberna do sr. Joaquim Casaca, mais conhecido por Pexouquinha, é uma casa tão séria como este Tribunal". O
sr sabe o que está a dizer? Sei sim, sr. doutor juiz!
O dr. Juiz chama o funcionário judicial para acompanhar a testemunha à prisão do Tribunal e lá ficou por poucas horas.
Aquela esquina da minha rua era uma paragem obrigatória para ser anunciado o que os Pregoeiros, em voz alta e pausada, anunciavam para dar a
conhecer às pessoas que moravam na área.
Desde o perder umas chaves, uma carteira e outros utensílios e a quem os achasse eram compensados com as suas alvissaras. Até se apregoava que
quem quisesse comprar perdizes, coelhos ou lebres as tinha determinado caçador e outras vezes que amanhã no açougue havia carne de vaca (!).
Com os anos estas e outras vivências foram caindo em desuso e poucos já serão os que se recordarão delas.
A situação precária de muitas vidas levou, ao longo dos anos, muitas famílias alterenses a deixarem a sua terra. Com eles foram os hábitos e essas
vidas que já não voltam ao seu torrão natal senão para visitar familiares e amigos.
Nem as modernidades dos tempos actuais conseguem um regresso e fixá-los.
O cruzamento das esquinas e as lembranças ficaram! E as pessoas onde estão? José Afonso Henriques/Matosinhos
Pá g in a 3O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8
No primeiro semestre de 2020 o número de desempregados (homens e mulheres) em Alter do Chão, manteve alguma estabilidade.
Relativamente ao distrito de Portalegre, os números não são muito animadores
Estes números do desemprego, concelhios e/ou distritais, relativo ao
1ª semestre de 2020 não são apenas o resultado do COVID 19.
Resultam, essencialmente, da falta de políticas que promovam o
investimento público e/ou privado e com ele o aumento do emprego
e a fixação de pessoas.
Sem uma alteração profunda da política até agora seguida, o distrito
de Portalegre definha rapidamente. Só já tem 2 deputados.
É necessário, imperioso e urgente uma política de mudança.
Desemprego em Alter do Chão
Homens Mulheres Total
jan
77 93 170
fev
76 88 164
mar
77 82 159
abr
89 82 171
mai
91 84 175
jun
81 77 158
Homens Mulheres Totais
jan
2371 3272 5703
fev
2355 3243 5688
mar
2441 3305 5746
abr
2652 3442 6094
mai
2606 3463 6072
jun
2494 3384 5878
Pá g in a 4 O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8
Ficha Técnica
Edição e Propriedade: CDU - Alter do Chão
ISSN: 2183-4415
Periodicidade: Trimestral
Tiragem: 250 exemplares
Distribuição: Impressa e online (gratuitas)
Director: João Martins
Morada: Rua Senhor Jesus do Outeiro, n.º 17
7440 - 078 Alter do Chão
Telefone: 927 220 200
Email: cdualter2013@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/cdu.alter
Coisas . . .
 Foi assinado com pompa e circunstância, entre a Câmara Municipal de Alter do Chão e a AICEP Global Parques, o contrato "Portugal Site
Selection Consulting". Foi explicado aos munícipes o seu conteúdo e para que serve?
 Qual foi o resultado do o “Estudo sobre o potencial económico, social e cultural do concelho de Alter do Chão” elaborado pela Strate-
gy for Improvement, Serviços de Apoio à Gestão, Lda. que custou 85 977 euros? Já foi divulgado à população?
 Que atividades ou que projetos apresentou a AENA – Associação Empresarial Norte Alentejo desde a sua criação?
 O Jardim do Álamo ameaça ser a nossa Santa Engrácia pois não se vislumbra o final da obra. Porque está tão atrasado? Que se passa?
 Alter do Chão em último lugar na escala dos exames nacionais (fonte do Ministério da Educação). Posição nada, mesmo nada invejável. Por-
quê? Pais? Alunos? Professores?
 O alterense prof. doutor José João Abrantes tomou posse como juiz do Tribunal Constitucional. Parabéns e bom trabalho.
 A iniciativa cultural “Alter ConVida” estava no Orçamento para 2020? Quanto custou esta iniciativa? Quem escolheu os artistas e quanto se
lhes pagou?
 A CMAC tem assinado alguns contratos (Pelourinho, Fontinha, Jardim do Álamo e outros?) com a empresa Archeo’Estudos, Investigação
Arqueológica Lda. Foram consultadas outras empresas? Qual o valor dos contratos? Não há incompatibilidades?
 Continuam a sair trabalhadores da Câmara Municipal? Porque será?
 E o lago?
Recordar Alter
I
Lembrei-me neste dia
Coisas de Alter contar
Dizer aquilo que havia
Para hoje se recordar
II
Tentarei dar uma imagem
Imitando as fotografias:
Havia Pensões e Estalagem
Fornos de Pão e Padarias
III
Havia Talhantes e Peixeiros
Muitas Lojas e Mercearias
Carpinteiros, Abegões e Pregoeiros
Casas de Pasto e Salsicharias
IV
Havia Tabernas e Barbearias
Ferradores e Albardeiros
Fornos de Cal e Latoarias
Costureiras, Alfaiates e Correeiros
V
Loja de Solas e Cabedais
Pedreiros e Calceteiros
Sapateiros eram muitos mais
Que Ferreiros e Cauteleiros
VI
Havia a Fábrica da Farinha
De Peles e Cortumes
Até de Pirolitos Alter tinha
Como seus usos e costumes
VII
Cafés e também Papelarias
Tínhamos uma Endireita
Fotógrafo e Drogarias
E ao Postigo alguém espreita
VIII
Tínhamos Hortas e Quintais
Trabalhadores e Seareiros
Matadouro para animais
Água nos nossos Ribeiros
IX
Competiam como rivais
Cinema, Bailes em 6 Salões
Nunca estes foram demais
Para animar nossos serões
X
Em Ruas de calçada antiga
Passavam Carroças e Charretes
Hoje ninguém lhes liga
Nem se vêm bicicletes
XI
Eram 14 Igrejas e Capelas
Várias eram as Procissões
Todas grandes e belas
Mais as suas devoções
XII
Dois Médicos noite e dia
E um só Enfermeiro
Um hospital que servia
O alterense e forasteiro
XIII
Com Laboratório na Farmácia
Para manipular os medicamentos
Nesse tempo era uma eficácia
Para aliviar os padecimentos
XIV
Na Câmara havia uma carroça
No pino do Verão regava as
Ruas
Não rias nem faças troça
Que as Ruas também são tuas
XV
Tudo isto foram realidades
Que faz bem reviver
Foram estas actividades
Que fez Alter do Chão crescer
XVI
Se caírem no esquecimento
As coisas da nossa vivência
É travar o sentimento
XVII
Até os costumes fomos perdendo
Mais parece uma tentação
Tudo vai desaparecendo
Até ficarmos sem população
XVIII
Agora os tempos são outros
De televisões e vários canais
Hoje somos já tão poucos
Dantes éramos muito mais.
José Afonso Henri-
ques/Matosinhos
Poesia popular

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  • 1. O AlterenseCDU Alter do Chão | Julho a Setembro de 2020 | Setembro de 2020 | N.º 28 | Ano VII CDU Depois do medo incutido na população, assistimos, durante algum tempo, da parte de alguns portugueses “muito pensantes e os mais interessados na defesa da democracia e na saúde dos seus concidadãos” à divulgação até à exaustão de que o principal e mais perigoso problema que os portugueses estavam ou iriam ter pela frente seria a Festa do Avante. Nunca antes se ouviu, da parte deles, uma palavra de recriminação ou manifestação de preocupação sobre os transportes públicos, as condições de trabalho, o lay off, a presença nas praias, as feiras do livro de Lisboa e Porto, os despedimentos, peregrinação a Fátima, as festas, os concertos, as manifestações políticas ou culturais que se foram realizando por esse país fora. Alguns destes eventos revelaram, como foi dito, até “uma grande coragem” da parte dos organizadores. O grande perigo para a saúde pública nacional e para a imagem externa do país era a Festa do Avante. qual vai ser. Com tudo … ela fez! O Plano de Contingência da Festa do «Avante!» 2020, que está disponível em https://www.festadoavante.pcp.pt/2020/plano-de-contingencia, foi aprovado pela Direção Geral de Saúde. Este plano impôs mais e maiores restrições do que as impostas a outras manifestações sociais e culturais, igualmente necessárias. Assim, e depois de muitas comparações apressadas e injustas, de críticas e mentiras, de opiniões favoráveis e contra, número de pessoas por m2, de providências cautelares, de fecho de lojas, de fotomontagens em jornais, de marchas lentas, de perceção ética do evento, etc., etc., a Festa do Avante foi uma realidade nos dias 4, 5 e 6 de Setembro, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal. A Festa do Avante é sempre um acontecimento político e cultural de grande importância nacional e, este ano de 2020, foi também uma afirmação de defesa da democracia que o povo português alcançou com o 25 de Abril. Esta festa só foi possível porque o PCP é um partido responsável, que acredita nos portugueses, que tem coragem, que assume compromissos, que não se verga aos ataques soezes de que é alvo todos os dias e ergue a sua voz em defesa da liberdade e da democracia do povo português. João Martins/Alter do Chão
  • 2. Pá g in a 2O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8 A Rua do Norte A Rua do Norte é no Outeiro e é a rua onde eu nasci e vivi até abalar para Lisboa. Na Rua do Norte joguei à pata, ao eixo, ao botão, ao berlinde e ao pião e até ao espicho, antes de ser alcatroada. Faziam-se corridas de roda e garrancho e com água na boca para ser mais difícil. Naquela rua morava muita gente nova e mais velha e, nas noites de Verão, os vizinhos sentavam-se à porta e alguns deles dormiam numa esteira, até de madrugada. Faziam-se fogueiras pelos santos populares e, em Janeiro, matavam-se muitos porcos, até ser proibida matança do porco na rua, quando a peste suína apareceu no final dos anos cinquenta. Não havia qualquer automóvel estacionado mas havia umas vizinhas terríveis, a “velha Borrega” e a “velha Olha” que, pelo Carnaval, faziam mil travessuras às pessoas que passavam na rua. E havia uns velhotes (o Xico Bilé, o Titio, o Vaz Rato, o Luciano e outros) que iam até ao depósito da água, junto da igreja de Sta. Catarina (não me lembro de ter qualquer santo), matar o tempo e que nos contavam histórias da I Grande Guerra e da Guerra Civil de Espanha, da fome e dos fugidos que, apanhados ou descobertos pela GNR, eram devolvidos. Assim foi durante anos até que os vizinhos mais velhos foram morrendo e os outros mais novos abalaram para o Barreiro, Lisboa e até para o Porto à procura de melhores condições de vida, que a terra que os viu nascer e crescer não lhes oferecia. E a Rua do Norte foi ficando cada vez mais deserta e silenciosa, até ficar reduzida a menos de meia dúzia de moradores, a maioria já velhotes. O despovoamento e a desertificação do interior tinham começado há muito. Mas atrás dos tempos, tempos vêm. E, há cerca de uma dezena de anos, ouviram-se de novo os gritos, as correrias e os risos de crianças na minha rua. A Rua do Norte começava a renascer. Não do mesmo modo, mas renascia. Hoje está calcetada, tem carros, muitas janelas de vidro (já não se pode jogar à pedrada nem fazer fogueiras de rosmaninho), mas tem vários casais novos e cerca de 10 crianças com idade inferiores a 12 anos que lhe dão uma vida nova (talvez seja a rua com mais crianças). Hoje, as crianças que lá moram têm outras solicitações e outras brincadeiras e fazer comparações com as brincadeiras do meu tempo não faz sentido e não é correcto. A rua deles é diferente da minha rua, apesar de ser no mesmo sítio e ter o mesmo nome, Rua do Norte. Mas para que a rua tenha ainda mais vida é preciso e é imperioso que aqueles miúdos venham para a rua brincar, jogar, cair, correr, esfolar os joe- lhos, brigar e ouvir os pais a chamá-los para irem comer ou ir para casa. Tudo isto vem a propósito de a Rua do Norte também fazer parte da vila. Esta rua deve manter-se limpa e, por isso, se apela aos que por lá moram, e por lá passam, a não deixarem que os seus cães e/ou gatos deixem os dejectos no meio da rua. Se isso acontecer, apanhem-nos, se f.f., para que as crianças lá possam brincar em segurança. Apesar ser num fim da vila, a Rua do Norte não é, nem pode ser, um sítio onde vão passear cães e gatos e se deixa fazer (sem limpar) o que eles fazem. O mesmo se pode dizer da Azinhaga de Sta. Catarina, continuação da rua, que sendo já fora da vila tem de continuar a ser um lugar onde crianças possam ir brincar no campo e, aí sim, jogar à pedrada, ouvir os grilos, os pássaros, os borregos e ver as vacas louras ou alguma cobra que apareça. A Rua do Norte quer-se limpa para continuar viva. Romão Trindade/ Alter do Chão Lembranças de uma vida Estava aqui em casa sentado e acordei depois de ter "passado pelas brasas" termo este muito usado no nosso Alentejo, quando o Sol e o calor até queimam. Assim, voltei aos meus tempos de rapazinho, os quais, tantas vezes, me dão saudades e me deixam sempre a sorrir, porque Alter do Chão foi uma terra onde sempre houve pessoas que tiveram um dom de humor para certas situações. O mestre António Brasão era um exímio. Talvez já há 70 anos usava-se tirar fotografias dos casais nas suas próprias casas. Um dia, o mestre Antó- nio Brasão, ia com aquela máquina fotográfica de tripé, ferramenta de trabalho, que chamava a atenção a qualquer pessoa. Certa vez, para fazer um trabalho fotográfico a um casal que morava numa das Ruas do Rossio, ao passar pela barbearia do José Raminhos, este que não era curioso(...), perguntou-lhe: então mestre António por estes lados? onde vai hoje tirar a fotografia? resposta do mestre Brasão: estás enganado, hoje vou despejar o Lago! Noutra vez, o dia ameaçava chuva para a Procissão do Encontro, no Largo da Palmeira hoje Praça do Pelourinho. Na varanda por cima da alfaiata- ria do mestre José Aço, o sr. padre lá ia anunciando ao povo, que enchia o Largo, que Nossa Senhora estava a chegar. Mas a chuva foi tanta que, aproveitando o facto do meu avô Serrão e minha avó Alice estarem na loja onde eu e minha mãe também estávamos, pediram para deixar abrigar o andor da Nossa Senhora, enquanto a chuva não parasse. Ainda retenho essa imagem de ver o andor em cima do balcão da loja. Enquanto o sr. padre ia anunciando que Nossa Senhora estava a chegar, o mestre Brasão que tinha assistido a esta situação, disse naquele seu hu- mor oportuno e no seu característico tom de voz: Nossa Senhora ainda demora, está na loja do Zé Serrão a comprar um par de meias! Nesses tempos havia quem para ganhar algum dinheirinho para o seu sustento e dos seus, depois de um dia de trabalho mal pago, iam apanhar a azeitona que ficava espalhada no chão, o chamado rabisco. Haviam alguns intermediários que a compravam e depois era vendida para outros que tinham compradores para os lagares. Isso não era permitido (eu nunca cheguei a saber se deixar apodrecer essa azeitona que ficava no chão era de louvar). Mas adiante: um dia, por denuncia, uns quantos foram ao Tribunal de Fronteira. Um deles foi o sr Joaquim da Silva Casaca, o nosso conhe- cido Pexouquinha, que levou várias testemunhas em sua defesa. Uma delas, já não tenho o seu nome de memória e não quero errar, quando o dr. Juiz o manda levantar-se para ouvir o seu depoimento, ele testemunha usando aqueles termos que se ouviam dizer nos Tribunais e diz: " saiba vossa excelência senhor doutor juiz que a taberna do sr. Joaquim Casaca, mais conhecido por Pexouquinha, é uma casa tão séria como este Tribunal". O sr sabe o que está a dizer? Sei sim, sr. doutor juiz! O dr. Juiz chama o funcionário judicial para acompanhar a testemunha à prisão do Tribunal e lá ficou por poucas horas. Aquela esquina da minha rua era uma paragem obrigatória para ser anunciado o que os Pregoeiros, em voz alta e pausada, anunciavam para dar a conhecer às pessoas que moravam na área. Desde o perder umas chaves, uma carteira e outros utensílios e a quem os achasse eram compensados com as suas alvissaras. Até se apregoava que quem quisesse comprar perdizes, coelhos ou lebres as tinha determinado caçador e outras vezes que amanhã no açougue havia carne de vaca (!). Com os anos estas e outras vivências foram caindo em desuso e poucos já serão os que se recordarão delas. A situação precária de muitas vidas levou, ao longo dos anos, muitas famílias alterenses a deixarem a sua terra. Com eles foram os hábitos e essas vidas que já não voltam ao seu torrão natal senão para visitar familiares e amigos. Nem as modernidades dos tempos actuais conseguem um regresso e fixá-los. O cruzamento das esquinas e as lembranças ficaram! E as pessoas onde estão? José Afonso Henriques/Matosinhos
  • 3. Pá g in a 3O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8 No primeiro semestre de 2020 o número de desempregados (homens e mulheres) em Alter do Chão, manteve alguma estabilidade. Relativamente ao distrito de Portalegre, os números não são muito animadores Estes números do desemprego, concelhios e/ou distritais, relativo ao 1ª semestre de 2020 não são apenas o resultado do COVID 19. Resultam, essencialmente, da falta de políticas que promovam o investimento público e/ou privado e com ele o aumento do emprego e a fixação de pessoas. Sem uma alteração profunda da política até agora seguida, o distrito de Portalegre definha rapidamente. Só já tem 2 deputados. É necessário, imperioso e urgente uma política de mudança. Desemprego em Alter do Chão Homens Mulheres Total jan 77 93 170 fev 76 88 164 mar 77 82 159 abr 89 82 171 mai 91 84 175 jun 81 77 158 Homens Mulheres Totais jan 2371 3272 5703 fev 2355 3243 5688 mar 2441 3305 5746 abr 2652 3442 6094 mai 2606 3463 6072 jun 2494 3384 5878
  • 4. Pá g in a 4 O A lt eren se S et emb ro de 202 0 | N. º 2 8 Ficha Técnica Edição e Propriedade: CDU - Alter do Chão ISSN: 2183-4415 Periodicidade: Trimestral Tiragem: 250 exemplares Distribuição: Impressa e online (gratuitas) Director: João Martins Morada: Rua Senhor Jesus do Outeiro, n.º 17 7440 - 078 Alter do Chão Telefone: 927 220 200 Email: cdualter2013@gmail.com Facebook: www.facebook.com/cdu.alter Coisas . . .  Foi assinado com pompa e circunstância, entre a Câmara Municipal de Alter do Chão e a AICEP Global Parques, o contrato "Portugal Site Selection Consulting". Foi explicado aos munícipes o seu conteúdo e para que serve?  Qual foi o resultado do o “Estudo sobre o potencial económico, social e cultural do concelho de Alter do Chão” elaborado pela Strate- gy for Improvement, Serviços de Apoio à Gestão, Lda. que custou 85 977 euros? Já foi divulgado à população?  Que atividades ou que projetos apresentou a AENA – Associação Empresarial Norte Alentejo desde a sua criação?  O Jardim do Álamo ameaça ser a nossa Santa Engrácia pois não se vislumbra o final da obra. Porque está tão atrasado? Que se passa?  Alter do Chão em último lugar na escala dos exames nacionais (fonte do Ministério da Educação). Posição nada, mesmo nada invejável. Por- quê? Pais? Alunos? Professores?  O alterense prof. doutor José João Abrantes tomou posse como juiz do Tribunal Constitucional. Parabéns e bom trabalho.  A iniciativa cultural “Alter ConVida” estava no Orçamento para 2020? Quanto custou esta iniciativa? Quem escolheu os artistas e quanto se lhes pagou?  A CMAC tem assinado alguns contratos (Pelourinho, Fontinha, Jardim do Álamo e outros?) com a empresa Archeo’Estudos, Investigação Arqueológica Lda. Foram consultadas outras empresas? Qual o valor dos contratos? Não há incompatibilidades?  Continuam a sair trabalhadores da Câmara Municipal? Porque será?  E o lago? Recordar Alter I Lembrei-me neste dia Coisas de Alter contar Dizer aquilo que havia Para hoje se recordar II Tentarei dar uma imagem Imitando as fotografias: Havia Pensões e Estalagem Fornos de Pão e Padarias III Havia Talhantes e Peixeiros Muitas Lojas e Mercearias Carpinteiros, Abegões e Pregoeiros Casas de Pasto e Salsicharias IV Havia Tabernas e Barbearias Ferradores e Albardeiros Fornos de Cal e Latoarias Costureiras, Alfaiates e Correeiros V Loja de Solas e Cabedais Pedreiros e Calceteiros Sapateiros eram muitos mais Que Ferreiros e Cauteleiros VI Havia a Fábrica da Farinha De Peles e Cortumes Até de Pirolitos Alter tinha Como seus usos e costumes VII Cafés e também Papelarias Tínhamos uma Endireita Fotógrafo e Drogarias E ao Postigo alguém espreita VIII Tínhamos Hortas e Quintais Trabalhadores e Seareiros Matadouro para animais Água nos nossos Ribeiros IX Competiam como rivais Cinema, Bailes em 6 Salões Nunca estes foram demais Para animar nossos serões X Em Ruas de calçada antiga Passavam Carroças e Charretes Hoje ninguém lhes liga Nem se vêm bicicletes XI Eram 14 Igrejas e Capelas Várias eram as Procissões Todas grandes e belas Mais as suas devoções XII Dois Médicos noite e dia E um só Enfermeiro Um hospital que servia O alterense e forasteiro XIII Com Laboratório na Farmácia Para manipular os medicamentos Nesse tempo era uma eficácia Para aliviar os padecimentos XIV Na Câmara havia uma carroça No pino do Verão regava as Ruas Não rias nem faças troça Que as Ruas também são tuas XV Tudo isto foram realidades Que faz bem reviver Foram estas actividades Que fez Alter do Chão crescer XVI Se caírem no esquecimento As coisas da nossa vivência É travar o sentimento XVII Até os costumes fomos perdendo Mais parece uma tentação Tudo vai desaparecendo Até ficarmos sem população XVIII Agora os tempos são outros De televisões e vários canais Hoje somos já tão poucos Dantes éramos muito mais. José Afonso Henri- ques/Matosinhos Poesia popular