Este documento relata o caso de uma adolescente de 13 anos que desenvolveu déficit neurológico importante 3 anos após o tratamento para meduloblastoma. Ela foi submetida a cirurgia, quimioterapia e radioterapia para o tumor no cérebro. Anos depois, apresentou crises convulsivas e hemiplegia, exames mostraram oclusões vasculares no cérebro, possivelmente como efeito tardio da radioterapia. O documento discute as complicações neurológicas tardias relacionadas ao tratamento do medulo
Um caso de meduloblastoma e piora neurológica tardia
1. Um caso de meduloblastoma e piora neurológica tardia
Nádia Gurgel Alves1, Ricardo Leite de Aquino2, Igor Moreira
Veras3, Francisco Hélder Cavalcante Félix1
1 - Hospital Infantil Albert Sabin, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
2 - Hospital Geral de Fortaleza
3 - Centro Regional Integrado de Oncologia
helder.felix@hias.ce.gov.br
XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica — SOBOPE 2014
Introdução
Omeduloblatoma é o tumor do SNC ma-ligno
mais frequente nesta faixa etária (em
20% dos pacientes). Seu tratamento envolve o
emprego de cirurgia, radioterapia (RT) e quimi-oterapia
(QT) [1]. O objetivo deste trabalho é
relatar um caso de uma adolescente, 13 anos,
que evoluiu com déficit neurológico importante
3 anos após término de tratamento para medu-loblastoma.
Material e Métodos
Realizamos uma análise retrospectiva do pron-tuário
de uma paciente com meduloblastoma
tratada em nossa instituição. O projeto foi apro-vado
pela Comissão de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão
Figura 1: Série de imagens de RM mostrando a evolução entre 2011 (imagens
superiores, logo após o tratamento, remissão completa) e este ano (imagens
inferiores). A sequência mostra imagens ponderada em T1 sem e com contraste e
imagem de gradiente de eco (GRE). Notar a dilatação ex-vaccumm assimétrica
nas imagens atuais e a assimetria de vasos na GRE.
Paciente foi admitida no serviço aos 9 anos de
idade, em agosto de 2010, com dor cervical, dis-túrbio
da marcha, diplopia e alteração do com-portamento.
Tomografia evidenciou massa em
fossa posterior. Foi submetida a ressecção par-cial
em setembro de 2010, ainda permanecendo
lesão residual com 3,5 x 3 cm. Não apresentava
metástases ao diagnóstico. Histopatológico re-velou
meduloblastoma desmoplásico. Realizou
QT segundo protocolo da SOBOPE entre no-vembro
de 2010 a abril de 2011. Foi então en-caminhada
à RT, sendo irradiada com dose de
5400 cGy (3600 cGy em crânio e neuroeixo, mais
1800cGy de reforço em fossa posterior). Resso-nância
magnética (RNM) de crânio em setem-bro
de 2011 não mostrou lesão residual. Ficou
em seguimento com realização de imagens se-riadas
até junho de 2014, quando começou a
apresentar crises convulsivas, hemiplegia à di-reita,
afasia, disfagia. RNM de crânio eviden-ciou
atrofia cortical e imagens de captação de
sinal compatíveis com sangramento e alterações
vasculares. Angiorressonância confirmou oclu-são/
dissecção em vários ramos da carótida in-terna
esquerda.
Figura 2: Imagens de angiografia por RM, mostrando oclusões e estenoses
vasculares (Osirix 6.0, Pixmeo).
O tratamento para meduloblastoma baseia-se
em abordagem cirúrgica e os pacientes com
lesões residuais maiores que 1,5 cm no pós-operatório
são classificados como de alto risco.
Não existe ainda tratamento padronizado para
este perfil de pacientes. A dose de RT admi-nistrada
variam de 5400 cGy a 5580 cGY, na
área do tumor primário. Os esquemas de QT va-riam,
podendo ser pré ou pós RT. Apesar de sua
importância, a RT está relacionada a elevada
morbidade e complicações. As doses curativas
são próximas das doses neurotóxicas. As princi-pais
complicações constituem danos à substân-cia
branca (leucoencefalopatia difusa, radione-crose),
danos vasculares (vasculopatia de peque-nos,
médios e grandes vasos; indução de malfor-mações
vasculares, hemorragia aguda), segun-das
neoplasias, entre outras [2].
Conclusão
Diante de um quadro de piora neurológica em
paciente tratado para meduloblastoma há mais
de 2 anos, convém lembrar da vasculopatia re-lacionada
à RT como diagnóstico diferencial.
Referências
[1] GAJJAR A, Packer RJ, Foreman NK, Cohen K, Haas-Kogan D, Merchant
TE; COG Brain Tumor Committee. Children’s Oncology Group’s 2013 blu-eprint
for research: central nervous system tumors. Pediatr Blood Cancer.
2013;60(6):1022-6.
[2] GRILL J, Dufour C. Medulloblastomas in Tumors of the Pediatric Central
Nervous System, Second Edition. Edited by Robert F. Keating, James Tait
Goodrich, and Roger J. Packer. pp 364. New York, Thieme, 2013
Agradecimentos
SOBOPE 2014 - XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica