Este documento discute os princípios e componentes da Entrevista Motivacional, comparando-a com outros estilos de intervenção. A EM enfatiza a empatia, evita argumentações, promove a auto-eficácia e acompanha a resistência do paciente. A EM vê a resistência como influenciada pelo terapeuta e focada na reflexão, enquanto outras abordagens a tratam como negação a ser confrontada.
3. COMPONENTES ATIVOS
DE UMA INTERVENÇÃO BREVE1 EFICAZ
1.MILLER e SANCHES “FRAMES” – (ADERIR): Princípios ativos comuns em todos os estudos
levantados
Empatia
Devolução
Responsabilidade
RecomendaçãoInventário
Auto-eficácia
5. DIFERENÇA DA ABORDAGEM E DOS RESULTADOS DA
ENTREVISTA MOTIVACIONAL E ESTILOS DE INTERVENÇÃO
CONFRONTO DA NEGAÇÃO ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Forte ênfase na aceitação da
existência de um problema;
aceitação do diagnóstico vista como
essencial para a mudança
Não há ênfase em rótulos; a
aceitação da “alcoolismo”ou de
outros rótulos é vista como
desnecessária para que ocorro a
mudança
Ênfase na patologia da
personalidade, que reduz a escolha,
o julgamento e o controle pessoais
Ênfase na escolha pessoal e na
responsabilidade pela decisão
quanto ao comportamento futuro
O Terapeuta apresenta as evidências
percebidas dos problemas para
tentar convencer o paciente a aceitar
o diagnóstico
O Terapeuta conduz avaliações
objetivas, mas concentra-se em
eliciar as preocupações do paciente
6. DIFERENÇA DA ABORDAGEM E DOS RESULTADOS DA
ENTREVISTA MOTIVACIONAL E ESTILOS DE INTERVENÇÃO
CONFRONTO DA NEGAÇÃO ENTREVISTA MOTIVACIONAL
A resistência é vista como
“negação”, um traço que deve ser
confrontado
A resistência é vista como um
padrão de comportamento
interpessoal, influenciado pelo
comportamento do terapeuta
A resistência é tratada como
correção e argumentação
A resistência é tratada como
reflexão
As metas do tratamento e as
estratégias de mudança são
prescritas para o paciente pelo
terapeuta; o paciente é visto como
incapaz de tomar decisões firmes
devido à “negação”
As metas do tratamento e as
estratégias de mudança são
negociadas entre pacientes e
terapeuta, baseadas em dados e
aceitabilidade; o envolvimento do
paciente e sua aceitação das metas
são vistas como vitais
7. DIFERENÇA DA ABORDAGEM E DOS RESULTADOS DA
ENTREVISTA MOTIVACIONAL E ESTILOS DE INTERVENÇÃO
TREINAMENTO DE HABILIDADES ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Pressupõe que o paciente esteja
motivado; nenhuma estratégia direta é
usada para estimular a motivação
Emprega princípios e estratégias
especificas para estimular a motivação
do paciente para a mudança
Busca identificar e modificar cognições
desadaptadas
Explora e reflete as percepções do
paciente sem rotulá-las ou corrigi-las
Prescreve estratégias específicas de
enfrentamento
Elicia estratégias possíveis de mudança
do paciente e outros significativos
Ensina comportamentos de
enfrentamento por meio da instrução,
da modelagem, da prática dirigida e do
feedback
A responsabilidade pelos métodos de
mudança é do paciente; não há
treinamento, modelagem ou prática
São ensinadas estratégias específicas
de solução de problema
Processos naturais de solução de
problema são eliciados do paciente e
seus familiares
8. DIFERENÇA DA ABORDAGEM E DOS RESULTADOS DA
ENTREVISTA MOTIVACIONAL E ESTILOS DE INTERVENÇÃO
NÃO - DIRETIVAS ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Permite ao paciente determinar o
conteúdo e o direcionamento ao
aconselhamento
Direciona sistematicamente o
paciente para a motivação para a
mudança
Evita injetar os conselhos e o
feedback do próprio terapeuta
Oferece o feedback e os conselhos do
terapeuta quando for adequado
A reflexão empática é usada de
forma não - contingente
A reflexão empática é usada
seletivamente, para reforçar certos
processos.
Explora os conflitos e emoções do
paciente em sua forma atual
Busca criar e ampliar a discrepância
do paciente, de modo a aumentar a
motivação para a mudança.
9. Curva de Prochaska e Di Clemente 1
1. Fonte: Prochaska, JO; DiClemente, CC. Toward a comprehensive model of change. In: Miller, WR; Heather, N. (eds.) Treating addictive
behaviors: processes of change. New York: Plenum Press; 1986. p. 3–27. ISBN 0-306-42248-4.
Recaída
Contemplação
DeterminaçãoAção
Manutenção
Pré-contemplaçãoSaída Permanante
10. Aplicação da Curva em PRUS
1) Pré-contemplação – O indivíduo não acredita que o uso de
álcool e/ou drogas seja prejudicial. Não existe a menor
motivação para a mudança, seja abstinência seja redução da
frequência ou intensidade do consumo. Muitas vezes existe
uma idealização dos efeitos “eu fico mais criativo se fumo”,
“eu consigo trabalhar a madrugada inteira com cocaína”… O
profissional evita o confronto, sem faltar com sinceridade,
muitas vezes flexibilizando o conceito de dependência ou
motivando a busca por tratamento por motivos secundários.
Tarefa do Terapeuta : aumentar dúvidas.
1. Fonte: Prochaska, JO; DiClemente, CC. Toward a comprehensive model of change. In: Miller, WR; Heather, N. (eds.) Treating addictive behaviors: processes
of change. New York: Plenum Press; 1986. p. 3–27. ISBN 0-306-42248-4.
11. 2) Contemplação – Aqui prevalece a ambivalência do indivíduo
com relação ao problema. Ainda que perceba prejuízos, defende-
se minimizando os mesmos, ou contrapondo benefícios advindos
do uso. Nessa fase o profissional pode fazer uso das tabelas de
vantagens e desvantagens do uso e da abstinência, geralmente
confrontando a manutenção do uso de drogas com os planos
para o futuro que o paciente eventualmente apresentar.
TT: pontuar falta de equilibrio, estabelecendo razões para mudar
ou não.
Aplicação da Curva em PRUS
12. 3) Planejamento ou Determinação – Nesse momento o adicto compreende
o problema, e pede ajuda de fato. O papel do profissional é auxiliar a
elaboração de estratégias de enfrentamento de realidade, identificar e
trabalhar crenças negativas favorecendo o surgimento e/ou fortalecimento
da autossuficiência – modificar as crenças disfuncionais como “se eu não
fumar não vou conseguir trabalhar” ou “eu não consigo segurar a
abstinência”. Basicamente oferecer soluções e diminuir barreiras de forma
rápida, já que o retorno aos estágios anteriores é comum (especialmente
quando o indivíduo usa a droga de preferência).
TT: determinar melhor estratégia para mudança.
Aplicação da Curva em PRUS
13. 4)Ação – Neste momento o dependente começa a aplicar as
estratégias e o planejamento elaborados na fase anterior. O
profissional oferece todo o suporte necessário, buscando
envolver o núcleo familiar e a rede social mais próxima (sejam
amigos ou companheiros de grupos anônimos).
TT: valorizar e organizar movimento em direção a mudança.
Aplicação da Curva em PRUS
14. 1. Fonte: Prochaska, JO; DiClemente, CC. Toward a comprehensive model of change. In: Miller, WR; Heather, N. (eds.) Treating
addictive behaviors: processes of change. New York: Plenum Press; 1986. p. 3–27. ISBN 0-306-42248-4.
5) Manutenção – Busca-se nessa fase a estabilização da doença, tentando
transformar as mudanças efetuadas na fase anterior em um novo (e mais
saudável) estilo de vida. A prevenção de recaída (PPR) é uma das técnicas
diretivas mais difundidas e estudadas, os grupos anônimos de mútuo-ajuda
(Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos) fornecem uma rede social de
suporte idealmente livre de julgamentos – o auxílio não-profissional deveria
ser priorizado, exceto nos não-raros casos em que existe alguma comorbidade.
A autossuficiência trabalhada nas fases anteriores não deve ser exagerada –
um risco real, quando o adicto sente que controlou a situação, permitindo-se
o primeiro gole ou um “único” trago…
TT: auxilia o cliente a identificar estratégias para prevenção de recaídas, como
o fortalecimento da auto-eficácia.
Aplicação da Curva em PRUS
15. Motivação para mudança11
1. Fonte: Prochaska, JO; DiClemente, CC. Toward a comprehensive model of change. In: Miller, WR; Heather, N. (eds.) Treating
addictive behaviors: processes of change. New York: Plenum Press; 1986. p. 3–27. ISBN 0-306-42248-4.
6) Recaída: ainda que não consideremos uma fase ou estágio, costuma ser
regra e não exceção – estima-se que menos de 5% dos dependentes químicos
que conseguem algum período de sobriedade conseguirão mantê-la sem
nenhum lapso. E como com qualquer comportamento compulsivo, um único
uso pode ser suficiente para levantar novamente toda uma rede de crenças
negativas, fazendo o indivíduo voltar às fases iniciais de motivação.
TT: deve ajudar o cliente a recomeçar o processo, avaliando se o paciente não
desenvolveu uma resposta de enfrentamento. Sua auto-eficácia será menor;
portanto, haverá uma maior probabilidade de mais recaídas, como os
respectivos efeitos de violação, que incluem dissonância cognitiva, auto-
atribuição/ culpa e perda de controle.4
16. MANEJO: recursostécnicos, resistência, PR....
Algumas das principais técnicas provenientes da transversalidade das
matrizes psicológicas são:
1. Distração: Propõe-se que o indivíduo desloque a atenção das suas sen-
sações e dos pensamentos relacionados ao craving para o mundo externo
(por exemplo, fazendo alguma atividade).
2. Cartões de crenças negativas/estratégias de enfrentamento: são fichas
portáteis com frases de impacto que servem para motivar o sujeito para
que não use drogas. Pode conter as crenças negativas/positivas;
desvantagens de usar, as vantagens em estar em abstinência ou sentenças
automotivacionais, atitudes, ações.
3. Relaxamento: são treinadas, na consulta, as técnicas de relaxamento, tanto
por meio da respiração quanto da distensão muscular/redutores
ansiedade
17. 4. Refocalização: o indivíduo deve focalizar seu pensamento em uma frase
como “Pare!” ou em uma imagem específica não compatível com o uso
da droga.
5. Substituição por imagem negativa: o cliente deve substituir uma
imagem positiva que estaria associada ao uso da droga por outra,
negativa ligada aos prejuízos.
6. Substituição por imagem positiva: deve ser feita uma visualização de si
próprio como um vencedor(gratificação) que adquire benefícios a partir
da interrupção do uso da droga.
4. Ensaio por visualização: utilizado para preparar o indivíduo para
enfrentar situações de risco. O dependente químico deve, guiado pelo
terapeuta, imaginar-se em uma situação perigosa agindo de uma forma
assertiva, sem utilizar a substância, sendo trabalhados os pensamentos e
as emoções desencadeados, até que ele sinta-se seguro para enfrentá-
la.
MANEJO
18. 8. Visualização de domínio: é utilizada quando o cliente não consegue se
imaginar resistindo ao craving. Ele é auxiliado pelo terapeuta a imaginar-
se vencendo a situação geradora de ansiedade, devendo ser quem decide
os rumos da ação fantasiada.
8. Mapas de Recaída; Solução de Problemas e Diários pensamento,
emoção, sensação…
8. Ensaio por representação, dramatização
9. Exercícios físicos: teatro, dança…. Prazer
8. Prazer e o sentido de Vida
8. Manejo do tempo
MANEJO
19. 14. Práticas alternativas: massagem, meditação…
14. Grupos de promoção `a saúde: crescimento, insight…
15. Terapia ocupacional, arteterapia…..
16. Redes sociais apoio social real e virtual
17. Psiquiatria: prescrição de psicofármacos
18. Psicoterapia e EMDR
MANEJO
20. CARTÕES DE ENFRENTAMENTO3
Carta 1 Carta 2 Carta 3 Carta 4 Carta Final
Quando me
dou conta do
que causa
minhas
fissuras, não
sou pego de
surpresa:
tenho menos
chance de
recair
Quando eu
me dou conta
do que me faz
usar drogas
não sou pego
de surpresa e
tenho menos
chance de
voltar a a usar
Quando eu
caio na real
do que me dá
vontade de
usar não sou
pego distraído
e tenho
menos
possibilidade
de voltar a
usar
Quando eu
sei o que me
tenta tenho
mais chance
de recair
Quando me
dou conta do
que me faz
usar drogas
tenho menos
chances de
reacair
3:Williams, A. V.; Meyer, E. Pechansky , 2007
21. Cartas Negativas Cartas Positivas
Existem situações que tem tudo a
ver com drogas: festas shows...
Estou aprendendo a enfrentar
meus problemas de cara limpa
Quando eu uso drogas me sinto
bem
Depois que eu parei de usar
drogas algumas coisas na minha
vida mudaram para para melhor
Quando estou triste, nervoso ou
sozinho, as drogas me fazem me
sentir melhor
Quando eu sinto que não poderei
dizer não, decido não sair com
meus amigos
JOGO TERAPÊUTICO 3
3:Williams, A. V.; Meyer, E. Pechansky , 2007
22. ESTIMULANDO A MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA
• ESTRUTURA DA ABERTURA:
1. Enquadre da Primeira Sessão:
Escuta e Acolhimento existencial
Descrever o que irá acontecer: tempo disponível; explicação dos
papéis e objetivos do encontro; observância de detalhes
específicos de cada caso paciente e lugar – espaço de
entrevista...
Explicar a metodologia: abordagem, estratégias, focalização
Contrato terapêutico: sigilo, confiabilidade, regras do laço
social...
23. ESTIMULANDO A MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA
• ESTRUTURA DA ABERTURA:
2. Estratégias Iniciais:
Fazer Perguntas Abertas
Escutar Reflexivamente
Encorajar
Resumir
Eliciar Informações Automotivacionais
24. ESTIMULANDO A MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA
• ESTRUTURA DA ABERTURA:
3. Perguntas Evocativas
4. Aprofundar
5.Usar Extremos
6. Olhar para trás – frente
7. Explorar Metas
8. O Paradoxo
9. O contato pós-consulta
25. ARMADILHAS DO PROCESSO NA
ENTREVISTA MOTIVACIONAL
1. Armadilha da Pergunta – Resposta
1. Armadilha do Confronto – Negação
1. Armadilha do Especialista
1. Armadilha da Rotulação
1. Armadilha do Foco Prematuro
1. Armadilha da Culpa
26. RESPOSTAS DE NÃO ESCUTAR
1. Ordenar, dirigir, ou comandar
2. Advertir ou ameaçar
3.Dar conselhos, fazer sugestões ou oferecer soluções
4. Persuadir com lógica, argumentação ou sermões
5.Moralizar, pregar ou dizer aos paciente o que eles
devem fazer
6. Discordar, julgar, criticar ou culpar
Thomas Gordon(1970) : 12 respostas
27. RESPOSTAS DE NÃO ESCUTAR
7.Concordar, aprovar ou elogiar
8. Envergonhar, ridicularizar ou rotular
9. Interpretar ou analisar
10. Consolar, solidarizar-se ou tranquilizar
11Questionar ou interrogar
12. Retrair-se, distrair, ser indulgente ou mudar de
assunto
Thomas Gordon(1970) : 12 respostas
28. LIMITES
1 Tempo
2.Auto-estima
3. Baixa auto-eficácia
4.Dificuldades com figura de autoridade
5. Patologias psiquiátricas/ Doenças orgânicas
6. Contextos sistêmicos que apontem limites de recursos e acessibilidade
7.Redes de apoio
8. Programas de Saúde
30. Referência Bibliográfica
ARKOWITZ, Hal; WESTRA, Henny A.; MILLER, William R.; ROLNICK, Stephen. Entrevista
Motivacional no Tratamento de Problemas Psicológicos. São Paulo: ROCA, 2011
GUTFREIND, Celso; CÉLIA; Isabel Leite; GUERRA, Victor; BECK, norma . A Obra de Salvador
Celia: Empatia, Utopia e Saúde Mental das Crianças. Porto Alegre: Artmed, 2013
OLIVEIRA, M.S; LARANJEIRA, R. Teoria e prática da entrevista motivacional. In: KNAPP, P.
Terapia cognitivo comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004
MILLER, William R. & ROLLNICK, Stephen. Entrevista motivacional. Porto Alegre, RS:
Artmed.
MILLER, William R.; ROLNICK, Stephen & BUTLER, Christopher C. (2008). Entrevista
Motivacional No Cuidado Da Saúde: ajudando os pacientes a mudar de comportamento.
Porto Alegre, RS: Artmed. 2009.
ROSEGREN, David B. Buldinge. Motivacional Interviewing Skills. New York-London: The
Guilford Press, 2009.
VELICER, WF; DiCLEMENT, CC; ROSSI,JS; PROCHASCA, JO. Relapse situations and self-
efficacy: an integrative model. Addict Behav1990;15:271–83
31. Referência Bibliográfica
1. DATTILIO, Frank M; FREEMAN, Arthur M. Estratégias cognitivo-comportamentais para
intervenção em situação de crise. Porto Alegre: ARTMED, 2007 .
2. BRAIER, Eduardo Alberto Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica/ MARTINS FONTE
3. BELLAk, Leopold. Anuário de psicoterapia Breve, intensiva e de urgência
4. KNOBEL, M. Psicoterapia Breve. São Paulo: E.P.U., 1986.
5. FIORINI, J.H. Teoria e Técnica de Psicoterapia. Rio de Janeiro: Alves, 1991.
6. SANTOS, Eduardo F.S. Psicoterapia Breve. São Paulo: Agora, 1997.
7. WOLBERG, L.R.Psicoterapia Breve. Ed. Mestre Jou, 1979
8. LEMGRUBER, Vera. Psicoterapia Breve Integrada. São Paulo: Artes Médicas, 1997. SHAZER,
Steve. Terapia Familiar Breve. SUMMUS.
9. GILLIERON, E. Introdução Às Psicoterapias Breves. MARTINS FONTES