A Obsessão por Justa Causa - – A Paixão, o Ciúme, a Traição e a obsessão - TEXTO
Jesus mandou alguém
1.
2. O culto do Evangelho no lar havia terminado às sete da noite, e João Pires,
com a esposa, filhos e netos, em torno da mesa, esperava o café que a família
saboreava depois das orações.
Ana Maria, pequena de sete anos, reclamou: - Vovô, não sei por que não
vem. Sempre vovô chama por Ele nas preces: “Vem Jesus! Vem Jesus!” e
Jesus nunca veio. O avô riu-se, bondoso, e explicou: - Filhinha, nós, os
espíritas não podemos pensar assim. O Mestre vive presente conosco em
suas lições. E cada pessoa do caminho, principalmente os mais necessitados,
são representantes Dele, junto a nós. Um doente é uma pessoa que o Senhor
nos manda socorrer, um faminto é alguém que Ele nos recomenda servir.
Dona Maria, a dona da casa, nesse momento repartia o café, e, antes que o
vovô terminasse, batem à porta.
3. Ana Maria e Jorge Lucas, irmão mais crescido, correm para atender. Daí a
instantes, voltam, enquanto o menino grita: - Ninguém não! É só um
mendigo pedindo esmola. – Que é isso? Exclama a senhora Pires,
instintivamente, a estas horas? Ana Maria, porém, de olhos arregalados,
aproxima-se do avô e informa, encantada: - Vovô, é um homem! Ele está
pedindo em nome de Jesus. É preciso abrir a porta. Acho que Jesus ouviu a
nossa conversa e mandou alguém por Ele. A família comoveu-se. O chefe da
casa acompanhou a netinha e, depois de alguns instantes, voltaram, trazendo
o desconhecido. Era um velho, aparentando mais de oitenta anos de idade, de
roupa em frangalhos e grande barba ao desalinho, apoiando-se em pobre
cajado.
4. Ante a surpresa de todos, com ar de triunfo, a menina segurou-lhe a mão
direita e perguntou: - O senhor conhece Jesus? Trêmulo e acanhado, o ancião
respondeu: - Como não, minha filha? Ele morreu na cruz por nós todos! E
Ana Maria para o avô: Eu não falei, vovô? O grupo entendeu o ensinamento
e o recém-chegado foi conduzido a uma poltrona. Alimentou-se. Recebeu
tudo quanto precisava e João Pires anotou-lhe o nome e endereço para visitá-
lo no dia seguinte. Antes da despedida, a pequena dormiu feliz, e, após
abraçar o inesperado visitante, no “até amanhã”, o chefe da família,
enxugando os olhos, falou, sensibilizado: - Graças a Deus, tivemos hoje um
culto mais completo.
5. REFLEXÃO:
Um dos maiores entraves para o exercício da caridade é o preconceito, que
inibe o candidato a cristão na ação em favor de seu semelhante, por ele ser
pobre, mendigo, doente, sujo ou desprovido de juízo. Às vezes, mesmo
aquelas pessoas que já conhecem e estudam o Evangelho de Jesus,
esquecem-se do recado que fora da caridade não há salvação. A maldade
existente no mundo, a simulação, o engano, a mentira, que ainda se
encontram espalhados, são os grandes responsáveis diretos pela negação de
atendimento daquele que pede e que realmente necessita. Fica sempre a
pergunta: Será que ele não está me enganado? Tanto maior é a dúvida quanto
pior for a aparência daquele que pede.
6. No sentido inverso, também é verdadeiro. Então, qual seria a conduta
apropriada? O que diria Jesus se a Ele fizéssemos esta pergunta? Para
obtermos a resposta correta, vamos lembrar o que se encontra no Evangelho
Segundo o Espiritismo, no capítulo XV, Fora da caridade não há salvação.
Está escrito no evangelho de Mateus, capítulo XXV, vv. 31 a 46:
Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de
todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; reunidas diante dele todas
as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as
ovelhas, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então,
dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai
posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo;
7. Porquanto, tive fome e me destes de comer; tive e me destes de beber; careci
de teto e me hospedastes; estive nu e me vestistes; achei-me doente e me
visitastes; estive preso e me fostes ver. Então, responder-lhe-ão os justos:
Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com
sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos sem teto e te
hospedamos; ou despido e te vestimos? E quando foi que te soubemos doente
ou preso e fomos visitar-te? O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo,
todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus
irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes. Dirá em seguida aos que estiverem
à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi
preparado para o diabo e seus anjos;
8. Porquanto, tive fome e não me destes comer, tive sede e não me destes de
beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me
vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes. Também eles
replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de
comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou
preso e não te assistimos? Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo;
todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos,
deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e
os justos para a vida eterna.
Sobre esse trecho do Evangelho de Mateus, Kardec faz o seguinte
comentário que nos ajudará a responder àquela pergunta que foi feita.
9. Toda moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas
virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, Ele
aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade;
Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque
deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-
aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são
misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros
o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas,
se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós
mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não
cessa de recomendar e o de que dá, Ele próprio, o exemplo.
10. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a
recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como
condição absoluta da felicidade futura. (...) Não considera, portanto, a
caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a
condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, Ele as teria
declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela
implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a
benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do
orgulho e do egoísmo.
Assim, meditemos e avaliemos nosso procedimento diante dos infortunados
da sorte. Sejam eles sinceros ou não.
11. Busquemos trocar de lugar com aquele que sofre; busquemos fazer o que
está ao nosso alcance, para diminuir as dores do semelhante. Não deixemos
que o preconceito tome conta de nossas ações, impedindo que a caridade se
faça. Demonstremos nossa crença pelas ações e não pelas palavras. Que
Jesus nos permita compreender e incorporar a caridade em nossa vida.
Muita Paz!
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