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Ministério da Educação
          Secretaria de Educação Básica
     Diretoria de Apoio à Gestão Educacional




  Pacto Nacional
pela Alfabetização
  na Idade Certa
 CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO:
   CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS




          Ano 01
        Unidade 01
                  Brasília 2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional




                Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
                Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
_______________________________________________________________________________

Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
	        Pacto nacional pela alfabetização na idade certa : currículo na alfabetização : concepções
e princípios : ano 1 : unidade 1 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria
de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília : MEC, SEB, 2012.
	        [57] p.

	        ISBN 978-85-7783-124-1

	        1. Alfabetização. 2. Aprendizagem. 3. Língua portuguesa. 4. Currículo.
	        I. Título.

                                                        CDU 37.014.22
_______________________________________________________________________________




Tiragem 122.102 exemplares

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
Sumário


 CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO:
 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS

 Iniciando a conversa                                      05

 Aprofundando o tema                                       06
 Currículo no ciclo de alfabetização: princípios gerais    06

 Concepções de alfabetização:
 o que ensinar no ciclo de alfabetização                   16

 Avaliação no ciclo de alfabetização                       24


 Compartilhando                                            30
 Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização
 – Língua Portuguesa                                       30

 O acompanhamento da aprendizagem das crianças:
 sugestão de instrumento de registro da aprendizagem       38

 Perfil de grupo:
 sugestão de instrumento de acompanhamento da turma        41


 Aprendendo mais                                           42
 Sugestões de leitura                                      42

 Sugestões de atividades para os encontros em grupo        45
CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS
UNIDADE 1 | ANO 1

Autoras dos textos da seção Aprofundando o tema:
Eliana Borges Correia de Albuquerque , Rafaella Asfora e Wilma Pastor de Andrade Sousa.

Autora dos relatos de experiência e depoimentos:
Ana Cristina Bezerra da Silva.

Leitores críticos e apoio pedagógico:
Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da Silva, Ana Cristina Bezerra da Silva, Ana Lúcia Martins Maturano, Ana
Márcia Luna Monteiro, Eliana Borges Correia de Albuquerque, Evani da Silva Vieira, Erika Souza Vieira, Luciane
Manera Magalhães, Magna do Carmo Silva Cruz, Ivanise Cristina da Silva Calazans, Rochelane Vieira de Santana,
Severino Rafael da Silva , Sheila Cristina da Silva Barros, Telma Ferraz Leal, Yarla Suellen Nascimento Alvares.

Contribuições para a produção dos quadros de direitos de aprendizagem:
Adelma Barros-Mendes; Alexsandro da Silva; Ana Catarina dos Santos Pereira Cabral; Ana Cláudia Rodrigues
Gonçalves Pessoa; Ana Cristina Bezerra da Silva; Ana Gabriela de Souza Seal; Ana Lúcia Guedes; Ana Lúcia
Martins Maturano; Andrea Tereza Brito; Artur Gomes de Morais; Carlos Mourão; Célia Maria Pessoa Guimarães;
Constância Martins de Barros Almeida; Cynthia Cybelle Rodrigues; Dayse Holanda; Débora Anunciação Cunha;
Edijane Ferreira de Andrade; Eliana Borges Correia de Albuquerque; Evanice Brígida C. Lemos; Ivane Pedrosa de
Souza; Ivanise Cristina da Silva Calazans; Juliana de Melo Lima; Kátia Regina Barbosa Barros; Leila Nascimento
da Silva; Lidiane Valéria de Jesus Silva; Lourival Pereira Pinto; Luciane Manera Magalhães; Magna do Carmo Silva
Cruz; Margareth Brainer; Maria Helena Santos Dubeux; Mônica Pessoa de Melo Oliveira; Nilma Gonçalves da
Silva; Patrícia Batista Bezerra Ramos; Priscila Angelina Silva da Costa Santos; Rafaella Asfora; Rielda Karyna de
Albuquerque; Rita de Cássia Barros de Freitas Araujo; Rosa Maria Manzoni; Severina Erika Silva Morais Guerra;
Sheila Cristina da Silva Barros; Sidney Alexandre da Costa Alves; Simone Borrelli Achtschin; Suzaní dos Santos
Rodrigues; Tânia Maria S.B. Rios Leite; Telma Ferraz Leal; Terezinha Toledo Melquíades de Melo; Tícia Cassiany
Ferro Cavalcante; Vera Lúcia Martiniak; Vivian Michelle Rodrigues N. Padilha; Wilma Pastor de Andrade Sousa.

Obs. 1: O grupo de trabalho técnico para elaboração dos Direitos de Aprendizagem em Língua Portuguesa /
MEC participou da discussão e elaboração dos quadros: Alfredina Nery, Ana Cristian Thomé Veneno Batista.
Aricélia Ribeiro do Nascimento, Divani Aparecida Pereira Albuquerque Nunes, Francisca Isabel Pereira Maciel,
Lúcia Helena Couto, Telma Ferraz Leal, Valéria do Nascimento Querido.

Obs.2: Participantes do VI Encontro do Grupo de Trabalho Fundamental Brasil, em 15 e 16 de agosto de
2012, realizaram leitura crítica e contribuíram com sugestões de aperfeiçoamento dos quadros.

Obs. 3: Profissionais de secretarias de educação visitadas por profissionais da equipe pedagógica do MEC
contribuíram, apresentando sugestões, em encontros de debate com a equipe do Ministério da Educação.

Revisor:
Iran Ferreira de Melo.

Projeto gráfico e diagramação:
Ana Carla Silva, Luciana Salgado, Susane Batista e Yvana Alencastro.

Ilustrações:
Airton Santos.

Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Ráian Andrade e Túlio Couceiro.
Iniciando a conversa


São muitos os desafios que vivenciamos nos últimos anos na busca da garantia de uma
escola democrática, em que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade.
Aprender a ler e escrever é um direito de todos, que precisa ser garantido por meio de
uma prática educativa baseada em princípios relacionados a uma escola inclusiva.
Nesse primeiro texto do curso Formação do Professor Alfabetizador, pretendemos refletir
sobre a possibilidade real de desenvolvimento de práticas de alfabetização baseadas na
inclusão e no respeito à heterogeneidade. Para isso, é importante discutirmos acerca das
concepções de alfabetização e de avaliação que se relacionam a tais princípios. Além dis-
so, para garantir que todas as crianças aprendam a ler e escrever, faz-se necessário traçar
direitos de aprendizagem que possam nortear a organização do trabalho pedagógico nas
escolas.



    Assim, os objetivos dessa unidade são:
    •	   entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento;
    •	   aprofundar a compreensão sobre currículo nos anos iniciais do Ensino Fundamental
         na perspectiva da Educação Inclusiva e das diferentes concepções de alfabetização;
    •	   compreender a importância da avaliação no ciclo de alfabetização, analisando e
         construindo instrumentos de avaliação e de registro de aprendizagem;
    •	   construir coletivamente o que se espera em relação aos direitos de aprendizagem e
         desenvolvimento no ciclo de alfabetização.
Aprofundando o tema


Currículo no ciclo de alfabetização:
princípios gerais
Eliana Borges Correia de Albuquerque




Ao falarmos em alfabetizar crianças e         a serem ensinados, que constituiriam
adultos no Brasil, podemos nos referir a      mudanças de natureza didática, ou a
práticas diversas de ensino da leitura e      transformações relacionadas à organiza-
da escrita, desde aquelas vinculadas ao       ção do trabalho pedagógico (material pe-
ensino de letras, sílabas e palavras com      dagógico, avaliação, etc.), que correspon-
base em métodos sintéticos ou analíticos      deriam a mudanças pedagógicas. Assim,
e que usam textos cartilhados, até as que     as diferentes práticas de alfabetização
buscam inserir os alunos em práticas so-      vivenciadas ao longo da nossa história
ciais de leitura e escrita. Da mesma forma,   estariam relacionadas a mudanças de na-
podemos nos referir a práticas desenvol-      turezas didática e pedagógica no ensino
vidas em diferentes espaços: na família,      da leitura e da escrita, decorrentes de
no trabalho, na escola. Considerando que      diferentes aspectos – desenvolvimento
esta última é a instituição oficial respon-   científico em diferentes áreas, contexto
sável pelo ensino da leitura e da escrita,    socioeconômico, organização escolar,
podemos considerar que, mesmo nesse           desenvolvimento tecnológico, mudanças
espaço, esse ensino tem apresentado certa     pedagógicas (material pedagógico, livros
diversidade.                                  didáticos, etc.).
Como abordado por Chartier (2000), as         As mudanças relativas às práticas de
mudanças nas práticas de ensino podem         alfabetização ou às outras áreas de co-
se relacionar, dentre vários aspectos, a      nhecimento se relacionam a mudanças
alterações nas definições dos “conteúdos”     curriculares se tomarmos a definição de
currículo como apontado por Moreira e         lação ainda era analfabeta. Cook-Gum-
Silva (1994), não como um veículo que         perz (1991) relaciona a prática escolar
transporta algo a ser transmitido e absor-    de leitura com ênfase em métodos que
vido, mas como um lugar em que ativa-         enfatizam o processo de “decodificação” à
mente em meio a tensões, se produz e se       necessidade de expansão da escolarização
reproduz a cultura. Currículo refere-se,      à população.
nessa perspectiva, a criação, recriação,
                                              Até meados da década de 1980, a discus-
contestação e transgressão.
                                              são acerca das práticas de alfabetização
Para Moreira e Candau (2007), a discussão     se relacionava principalmente ao debate
sobre currículo envolve diferentes aspec-     sobre os métodos mais eficazes para
tos, tais como os conhecimentos escolares,    ensinar a ler e escrever, que envolviam
os procedimentos e as relações sociais que    os sintéticos, analíticos e analítico-sinté-
conformam o cenário em que os conhe-          ticos. Tais métodos, apesar de se dife-
cimentos se ensinam e se aprendem, as         renciarem no que se refere à unidade da
transformações que se deseja efetuar nos      língua que serviria como ponto de partida
alunos, os valores que se deseja inculcar e   para o ensino da leitura e da escrita (le-
as identidades que se pretende construir.     tras, fonemas, sílabas, palavras, textos),
Os autores, ao falarem sobre currículo, se    se assemelhavam em muitos aspectos.
referem a “experiências escolares que se      Todos se baseavam em uma concepção
desdobram em torno do conhecimento,           de leitura e escrita como decodificação
em meio a relações sociais, e que contri-     e codificação. O aprendizado do código
buem para a construção das identidades de     alfabético se dava por meio do ensino
nossos/as estudantes” (p. 18).                transmissivo das unidades da língua, se-
Em relação ao ensino da leitura e da escri-
ta, como abordado por Braslavsky (1988),
as práticas de alfabetização baseadas em
diferentes métodos de ensino (sintéticos
e analíticos) que até hoje se fazem pre-
sentes em algumas escolas começaram
a se desenvolver a partir do século XVII
em um contexto de mudanças históricas
orientadas por novos modelos sociais que
passaram a demandar a leitura e a escrita
em uma época em que a maioria da popu-




unidade 01                                                                                   07
guindo uma progressão pré-determinada         processo de alfabetização. Essa prontidão
     que ia das unidades mais fáceis para as       estava relacionada ao desenvolvimento
     mais difíceis. Partia-se do pressuposto de    de habilidades perceptivas e motoras e,
     que todos os alunos iniciavam o processo      na maioria das vezes, era desenvolvida
     sem conhecimento algum sobre a escrita        na Educação Infantil ou nos primeiros
     e que cabia aos professores o ensino das      meses da 1ª série do Ensino Fundamental.
     letras, sílabas e palavras. Ao aluno, nessa   Assim, o trabalho com a linguagem nessa
     concepção, cabia um papel passivo de          primeira etapa da escolarização era repleto
     “recebedor” de algo pronto: a língua.         de atividades que levavam as crianças a
                                                   desenvolver habilidades de coordenação
     As cartilhas relacionadas a esses métodos
                                                   motora e discriminação auditiva e visual, e
     passaram a ser amplamente utilizadas
                                                   esses exercícios envolviam, entre outras, a
     como livro didático para o ensino nessa
                                                   identificação e o traçado de letras e síla-
     área (MORTATTI, 2000). Ensinar a ler e
                                                   bas isoladas. Nesse contexto, a leitura e a
     escrever com base nos métodos analíticos
                                                   escrita eram evitadas, e o acesso aos textos
     ou sintéticos exigia que as crianças apre-
                                                   limitava-se, muitas vezes, à prática de
     sentassem uma prontidão para o início do
                                                   contar histórias realizada pela professora,
                                                   como forma de tornar o texto escrito mais
                                                   simples e consequentemente mais “fácil”
                                                   de ser compreendido.
                                                   Na 1ª série (1º ano do Ensino Fundamen-
                                                   tal de oito anos), uma vez desenvolvi-
                                                   das as referidas habilidades, os alunos
                                                   começavam a aprender, por meio prin-
                                                   cipalmente da memorização, as letras/
                                                   fonemas/sílabas que lhes possibilitaria
                                                   ler palavras, frases e, por último, textos.
                                                   Todos os alunos vivenciavam as mesmas
                                                   atividades, pois se acreditava, como já foi
                                                   dito, que todos aprendiam do mesmo jei-
                                                   to, seguindo a mesma sequência presente
                                                   nas cartilhas.
                                                   Se buscarmos definir os conhecimen-
                                                   tos escolares trabalhados na 1ª série do




08                                                                      unidade 01
Ensino Fundamental, relacionados tanto       a aprendizagem do código, desvinculado
à área da Língua Portuguesa como às          dos usos sociais da leitura e da escrita,
outras áreas, podemos perceber que se        que desconsiderava os conhecimentos
ensinava com base principalmente nas         que as crianças possuíam sobre a escri-
lições presentes nos livros didáticos. Os    ta. Muitos alunos, inclusive, iniciavam
professores alfabetizadores, no geral,       a 1ª série lendo e escrevendo palavras e
seguiam a cartilha à risca, garantindo       textos. Para estes, as atividades escolares
que todos os alunos fizessem as mesmas       além de repetitivas, não os faziam evoluir
atividades de forma correta. O erro preci-   em suas aprendizagens. Nessa perspecti-
sava ser evitado, pois era sinônimo de que   va, esses alunos, ao não serem atendidos
o aluno não tinha aprendido o que fora       em suas necessidades, eram, de certa
ensinado/transmitido. Na série destinada     forma, excluídos do processo de ensino-
à alfabetização, que correspondia ao 1º      -aprendizagem, embora não fossem
ano do Ensino Fundamental de oito anos,      desvalorizados, já que apresentavam, no
as crianças passavam todo o ano apren-       geral, as respostas corretas nas atividades
dendo letras, sílabas, palavras e lendo/     realizadas. Já as crianças que cometiam
escrevendo textos cartilhados que possuí-    erros e concluíam o ano sem o domínio do
am palavras com as unidades trabalhadas      código escrito, engrossavam as estatísti-
nas lições anteriores. Os textos eram,       cas cada vez mais crescentes de repetên-
portanto, artificiais e não correspondiam    cia e evasão escolar, sendo “excluídos” em
àqueles com os quais os alunos conviviam     seus direitos de aprendizagem da leitura
fora da escola.                              e da escrita.
Acreditou-se, por muito tempo, que o         Nesse contexto, as crianças que apresenta-
                                                                                           No “Caderno de
fracasso escolar, que, a partir da década    vam necessidades especiais eram segre-        Educação Especial
de 1970, com a democratização do acesso      gadas em salas específicas e muitos dos       - a alfabetização
                                                                                           de crianças com
à escola, atingiu índices preocupantes,      alunos que fracassavam nas salas de aula      deficiência: uma
                                                                                           proposta inclusiva”
estaria relacionado à falta de capacidades   regulares eram avaliados como “deficien-      são apresentadas
individuais dos alunos provenientes prin-    tes”. O sistema escolar era excludente e      reflexões sobre
                                                                                           Educação Inclusiva,
cipalmente do meio social desfavorecido.     atendia de forma efetiva a uma pequena        com dicas acerca
                                                                                           das estratégias
Além de garantir a prontidão para a alfa-    parcela da população. A partir da década      de inclusão de
betização, era preciso assegurar que os      de 1980, a temática da exclusão/inclusão      crianças com dife-
                                                                                           rentes necessida-
estudantes aprendessem o código escrito.     educacional passou a ganhar força, como       des educacionais
                                                                                           especiais.
Mudava-se a cartilha ou o método utiliza-    pode ser observado no texto a seguir, que
do, mas as práticas continuavam pautadas     discute a “Educação Inclusiva”.
em um programa curricular voltado para




unidade 01                                                                                        09
Educação Inclusiva
     Rafaella Asfora; Wilma Pastor de Andrade Sousa




     Pensar em Educação Inclusiva remete, em primeiro plano, ao
     debate sobre exclusão educacional e nos faz refletir sobre a lógica
     do sistema escolar que historicamente buscava atender apenas a
     uma parcela da população, segregar a maioria e direcionar o seu
     trabalho para uma sala de aula homogênea.

     Se a escola não promovesse a exclusão das diferenças, não preci-
     saríamos definir aqui os princípios que fundamentam uma escola
     inclusiva “que conhece cada aluno, respeita suas potencialidades
     e necessidades, e a elas responde, com qualidade pedagógica”
     (BRASIL, 2004, p. 08). E de que princípios estamos falando? Es-
     tamos aqui nos referindo ao princípio da aceitação e respeito às
     diferenças, como um dos pilares fundamentais para uma educação
     para todos, uma vez que estamos inseridos em um estado demo-
     crático de direito.

     A nossa Constituição Federal de 1988 apresenta como princípio
     fundamental a dignidade da pessoa humana e, por conseguinte, o
     exercício da cidadania. Em seu artigo 205, apresenta “a educação
     como um direito de todos” e, no artigo 206, inciso I, estabelece “a
     igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como
     um dos princípios para o ensino. Encontramos aqui um direito
     instituído, mas como viabilizá-lo? Como garantir acesso ao ensino,
     permanência no âmbito educacional e educação de qualidade?
     Esse é o grande desafio que nos é colocado na atenção à diversi-
     dade.

     A partir dos anos noventa,  novas formas de interpretação da ques-
     tão da desigualdade, bem como do acesso das camadas populares
     a bens e serviços, começaram a ficar mais definidas. Alguns do-
     cumentos internacionais, como, por exemplo, a Declaração Mun-
     dial sobre Educação para Todos (UNICEF, 1990), a Declaração de
     Salamanca (BRASIL, 1994) e a Convenção de Guatemala (BRASIL,




10                                                          unidade 01
2012), passaram, então, a influenciar no Brasil a elaboração de leis
     e ações relacionadas às políticas públicas de educação inclusiva, as
     quais estão sendo efetivadas paulatinamente.

     Dentre os documentos anteriormente citados, a Declaração de Sala-
     manca constitui-se como o marco da educação inclusiva, elaborado
     durante a Conferência Mundial de Educação Especial, que reafirma: o
     direito à educação de todos os indivíduos, a igualdade de oportuni-
     dades às pessoas com deficiência e a promoção do acesso à educação
     para a maioria das pessoas que apresentam Necessidades Educacio-
     nais Especiais (NEE). No contexto da educação especial, de acordo
     com esse documento, o termo NEE refere-se a todas aquelas crianças
     ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam
     em função de deficiências ou de dificuldades de aprendizagem. Esse
     documento reconhece “que toda criança possui características, inte-
     resses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas”
     - Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994).  

     Sendo assim, ele direciona a reconfiguração da escola tradicional em
     uma escola inclusiva, e nos faz refletir sobre o lugar ocupado pela
     educação especial na perspectiva de uma educação inclusiva. Nesta
     direção, o Decreto N° 3.298/99 define a educação especial como
     uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de
     ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial
     ao ensino regular.

     Vale salientar que, a partir do respeito aos direitos humanos e do
     exercício da cidadania fundamentado no reconhecimento das dife-
     renças e na participação dos sujeitos, fica claro que a educação é um
     dos caminhos do exercício dessa cidadania, e que se faz necessário
     respeitar os direitos de aprendizagem de todas as crianças, à medida
     que atende às suas necessidades educacionais especiais (NEE).

     Nessa direção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LD-
     BEN/96 (BRASIL, 1996), no artigo 59, preconiza que os sistemas de
     ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e
     organização específicos para atender às suas necessidades. Enten-
     demos, com isso, que essa garantia deve ser contemplada a partir




unidade 01                                                                   11
dos anos iniciais da educação básica, sobretudo no ciclo de alfabe-
                       tização, na perspectiva de que saber ler e escrever é um direito de
                       todos que até então não tem sido efetivado.  

                       Quando falamos em alfabetização via educação inclusiva, esta se
                       configura como um instrumento de inserção da criança na socie-
                       dade, e nos coloca diante de algumas reflexões pedagógicas. Para
                       que a criança se aproprie do Sistema de Escrita Alfabética, que se
                       configura como um direito de aprendizagem, é imprescindível a
                       reformulação do currículo que rege as escolas, em função da reali-
                       zação de práticas inclusivas.

       A Resolução
                       Nessa perspectiva, muitas vezes, nós educadores perguntamos:
        nº 7, de 14    Como incluir e atender à diversidade? Se acreditarmos que é
      de dezembro
                       possível, precisamos nos engajar no sentido de repensar o fazer
       de 2010, do
Conselho Nacional      pedagógico na alfabetização, visando ao atendimento de todos e
 de Educação, que      a garantia dos direitos de aprendizagem. Para compreendermos
     fixa Diretrizes
       Curriculares
                       e enfrentarmos esse processo, ressaltamos, então, os princípios
          Nacionais    da educação inclusiva: acessibilidade e remoção das barreiras
      para o Ensino
                       à aprendizagem, avaliação da aprendizagem numa perspectiva
  Fundamental de
     9 (nove) anos,    formativa, gestão participativa, participação da família e da co-
   pode ser lida no    munidade, serviço de apoio especializado, currículo multicultural,
 caderno do ano 1,
         Unidade 8.
                       professor com formação crítico-reflexiva (NAKAYAMA, 2007).  

                       Tais princípios nos chamam a atenção para o desafio de educar na
                       diversidade, para isso, necessário se faz: conhecer cada estudante
                       (suas necessidades, potencialidades, interesses, experiências pas-
                       sadas, etc); identificar necessidades de aprendizagem específicas;
                       planejar as aulas por meio de uma didática e de gestão do tempo,
                       de modo que todos participem efetivamente da aula.




                       Referências

                       BRASIL. Presidência da República. Declaração de Salamanca e ação sobre
                       necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.

                       BRASIL. Presidência da República. Ministério da Educação. Lei de diretri-
                       zes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
                       1996. Brasília: MEC, 1996.




12                                                                                  unidade 01
BRASIL. MEC/SEE. Educação inclusiva: a escola. V.3. Brasília, 2004.

          BRASIL. Presidência da República. Decreto n°.3.956, de 08 de outubro de
          2001. Promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as
          Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Con-
          venção de Guatemala: 2001. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/
          ccivil_03/ Acesso em 22 de junho de 2012.

          NAKAYAMA, Antônio Maria. Educação inclusiva: princípios e representação.
          Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo – Faculdade de Educação.
          364p. 2007.

          UNICEF. Declaração mundial sobre educação para todos. Satisfação das
          Necessidades Básicas de Aprendizagem. Jomtiem, 1990.




Conforme apresentado no quadro “Edu-         e dos gestores, no esforço por
cação Inclusiva”, o aprendiz conquista o     construir currículos cultural-
lugar social de um sujeito de direitos e a   mente orientados. Propomos,
educação inclusiva viabiliza a efetivação da a seguir, que se reescrevam os
sua cidadania à medida que busca respei-     conhecimentos escolares, que
tar as peculiaridades de cada sujeito por    se evidencie a ancoragem social
meio de práticas de ensino acessíveis.       desses conhecimentos, bem
Repensar práticas de ensino da leitura e da  como que se transforme a esco-
escrita, assim como dos conhecimentos re-    la e o currículo em espaços de
lacionados às outras áreas de ensino, requer crítica cultural, de diálogo e de
que pensemos, como Moreira e Candau          desenvolvimento de pesquisas.
(2007, p. 31), na relação entre currículo e  Esperamos que nossos princí-
cultura. Como apontam os referidos autores, pios possam nortear a escolha
                                             de novos conteúdos, a adoção de
                                             novos procedimentos e o esta-
“Insistimos, inicialmente, na                belecimento de novas relações
necessidade de uma nova pos-                 na escola e na sala de aula.”
tura, por parte do professorado




unidade 01                                                                            13
Ao proporem a elaboração de currículos       de gênero, o que amplia o acesso à alfabe-
     culturalmente orientados, Moreira e          tização a um maior número de crianças,
     Candau defendem, apoiados em Stoer e         além de respeitar os seus direitos de
     Cortesão (1999), a superação do “daltonis-   aprendizagem.
     mo cultural”.
                                                  Na próxima seção, discutiremos sobre as
                                                  mudanças nas práticas de alfabetização
     “Elaborar currículos cultural-               relacionadas à tentativa de construção de
     mente orientados demanda                     currículos voltados a uma perspectiva de
     uma nova postura, por parte da               educação inclusiva que garanta o direito de
     comunidade escolar, de aber-                 todos à aprendizagem da leitura e da escrita.
     tura às distintas manifestações
     culturais. Faz-se indispen-
     sável superar o “daltonismo
     cultural”, ainda bastante pre-               Referências
     sente nas escolas. O professor
     “daltônico cultural” é aquele                BRASLAVSKY, Berta. O método: panaceia,
     que não valoriza o “arco-íris                negação ou pedagogia? Cadernos de Pes-
     de culturas” que encontra nas                quisa, 66: 41:48, 1988.
     salas de aulas e com que precisa
                                                  CHARTIER, Anne-Marie. Réussite, échec
     trabalhar, não tirando, por-
                                                  et ambivalence de l’innovation pédagogi-
     tanto, proveito da riqueza que
                                                  que: le cas de l’enseignement de la lecture.
     marca esse panorama. É aquele                Recherche et Formation pour les profes-
     que vê todos os estudantes como              sions de l’éducation: Innovation et réseaux
     idênticos, não levando em con-               sociaux. INRP, n. 34, p. 41-56, 2000.
     ta a necessidade de estabelecer
     diferenças nas atividades peda-              COOK-GUMPERZ, Jenny. Alfabetização e
     gógicas que promove.” (p. 31)                escolarização: uma equação imutável? In:
                                                  COOK-GUMPERZ, Jenny (org.). A constru-
                                                  ção social da alfabetização. Porto Alegre:
     Nessa direção, um currículo multicultural    Artes Médicas, 1991.
     implica em propostas curriculares inclu-
     sivas que compreendem as diferenças e        MOREIRA, Antonio Flávio B. CANDAU,
     valorizam os alunos em suas especificida-    Vera M. Currículo, conhecimento e cul-
     des, seja cultural, linguística, étnica ou   tura. In: BEAUCHAMP, Jeanete. PAGEL,




14                                                                     unidade 01
Sandra D; NASCIMENTO, Aricélia R. do. Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf.
MOREIRA, Antonio Flávio B. e SILVA, Tomaz T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade.
São Paulo: Cortez, 1994.
MORTATTI, Maria do Rosávio L. Os sentidos da alfabetização (São Paulo: 1876-1994). São
Paulo: Ed. UNESP; CONPED, 2000.
STOER, Stephen e CORTESÃO, Luiza. Levantando a pedra: da pedagogia inter/multicultural
às políticas educativas numa época de transnacionalização. Porto: Afrontamento, 1999.




unidade 01                                                                               15
Concepções de alfabetização:
                      o que ensinar no ciclo de alfabetização
                      Eliana Borges Correia de Albuquerque




                      Na década de 1980, as práticas de alfabe-        entender que o que a escrita alfabética nota
                      tização baseadas em métodos sintéticos e         no papel são os sons das partes das palavras
                      analíticos que culminavam na retenção, na        e que o faz considerando segmentos sonoros
                      1ª série, de uma grande parcela da popula-       menores que a sílaba (os fonemas).
                      ção que frequentava as redes públicas de
                                                                       Ainda de acordo com as referidas autoras,
                      ensino passaram a ser amplamente critica-
                                                                       no processo de apropriação da escrita alfa-
A discussão sobre     das à luz de teorias construtivistas e intera-
      o Sistema de                                                     bética, as crianças ou adultos analfabetos
 Escrita Alfabética   cionistas de ensino (em geral) e da língua
                                                                       passariam por diferentes fases relaciona-
    e seu ensino é    (em particular). No campo da alfabetiza-
objeto de reflexão                                                     das à forma como concebem as questões
  nos cadernos da     ção, os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana
        Unidade 3.                                                     acima citadas: inicialmente apresentariam
                      Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
                                                                       uma escrita pré-silábica, em que não
                      Escrita (FERREIRO  TEBEROSKY, 1984;
                                                                       há correspondência grafofônica, depois
                      FERREIRO, 1985) vão influenciar no desen-
                                                                       passariam pela escrita silábica, em que já
                      volvimento de novas práticas de alfabetiza-
                                                                       há essa correspondência, mas no nível da
                      ção. Demonstrando que a escrita alfabética
                                                                       sílaba (uma letra representaria um síla-
                      não era um código, o qual se aprenderia a
                                                                       ba) e não do fonema para posteriormente
                      partir de atividades de repetição e memo-
                                                                       poderem chegar à escrita alfabética, na
                      rização, as autoras propuseram uma con-
                                                                       qual percebem a relação fonema-grafema,
                      cepção de língua escrita como um sistema
                                                                       ainda que apresentem trocas de letras na
                      de notação que, no nosso caso, é alfabético.
                                                                       notação de alguns sons, já que essa fase
                      Elas perceberam, por meio de pesquisas,
                                                                       não pode ser confundida com domínio da
                      que, no processo de apropriação do Sistema
                                                                       norma ortográfica sendo, esta última, uma
                      de Escrita Alfabética, os alunos precisariam
                                                                       tarefa de aprendizagem posterior.
                      entender como esse sistema funciona. Para
                      isso, é fundamental que compreendam o            Para Ferreiro e Teberosky (1984), assim
                      que a escrita nota (ou “representa”, “grafa”)    como para outros pesquisadores (REGO,
                      e como a escrita cria essas notações (ou “re-    1988), é interagindo com a escrita, con-
                      presentações”). Eles precisariam, portanto,      templando seus usos e funções, que as




16                                                                                          unidade 01
crianças se apropriariam da escrita alfa-       inglesa literacy, que significa o estado ou
bética, e não a partir da leitura de textos     condição que assume aquele que aprende a
“forjados” como os presentes em diferen-        ler e escrever.
tes cartilhas de alfabetização. Para esses
                                                No Brasil, o termo letramento não substi-
autores, dependendo das oportunidades
                                                tuiu a palavra alfabetização, mas aparece
de vivenciar práticas diferenciadas de lei-
                                                associada a ela. Atualmente ainda convi-
tura e produção de textos (tanto na escola
                                                vemos com um alto índice de analfabetos,
como fora dela), os aprendizes poderiam
                                                mas não podemos dizer que essas pessoas
ter maior ou menor conhecimento sobre a
                                                são “iletradas”, pois sabemos que um
“linguagem que usamos ao escrever” textos
                                                sujeito, criança ou adulto, que ainda não se
de diferentes gêneros e sobre os diferentes
                                                apropriou da escrita alfabética, envolve-se
usos sociais que damos a eles.
                                                em práticas de leitura e escrita por meio
Assim, com a difusão dos trabalhos da           da mediação de uma pessoa que sabe ler
Psicogênese da Língua Escrita, vimos            e escrever e, nessas práticas, desenvolve
nascer um forte discurso contrário ao uso       conhecimentos sobre os textos que circu-
dos tradicionais métodos de alfabetização       lam na sociedade (REGO, 1988; MORAIS
e a defesa de uma prática que tomasse por       e ALBUQUERQUE, 2004). Assim, por
base a teoria psicogenética de aprendiza-       exemplo, podemos ver que crianças peque-
gem da escrita. Pregava-se a necessidade        nas que escutam frequentemente histórias
de possibilitar que as crianças se apro-        lidas por adultos (em casa ou na escola),
priassem do Sistema de Escrita Alfabética       são capazes de pegar um livro e fingir que
a partir da interação com diferentes textos     leem a história usando, para isso, uma
escritos em atividades significativas de        linguagem característica desse gênero.
leitura e produção de textos, desde a Edu-
cação Infantil.
O discurso da importância de se consi-
derar os usos e funções da escrita com
base no desenvolvimento de atividades
significativas de leitura e escrita na escola
foi incorporado, principalmente a partir
da década de 90, a um novo conceito de
alfabetização: o de letramento. Segundo
Soares (1998), o termo letramento é a ver-
são para o Português da palavra de língua




unidade 01                                                                                     17
Por outro lado, é importante destacar          cionados ao aprendizado da leitura, tais
     que apenas a interação com textos que          como: a ampliação do Ensino Fundamen-
     circulam na sociedade não garante que os       tal para 9 anos como forma de garantir
     alunos se apropriem da escrita alfabética,     que os alunos da rede pública de ensino
     uma vez que, no geral, essa aprendizagem       iniciem o processo formal de alfabetiza-
     não acontece de forma espontânea, mas          ção aos seis anos de idade (BEAUCHAMP;
     exige um trabalho de reflexão sobre as         PAGEL; NASCIMENTO, 2007), a defi-
     características do nosso sistema de escrita.   nição dos três primeiros anos do Ensino
                                                    Fundamental como o período destinado
     A despeito das novas concepções de alfa-
                                                    à alfabetização (PNE 2011/2020 - BRA-
     betização e de mudanças nas práticas de
                                                    SIL, 2011), o investimento na formação
     ensino da leitura e da escrita com base nas
                                                    continuada de professores, por meio da
     novas perspectivas teóricas, muitos alunos
                                                    criação da Rede Nacional de Formação
     continuaram a concluir o primeiro ano e
                                                    de Professores e do desenvolvimento de
     mesmo o primeiro segmento do Ensino
                                                    programas de formação continuada como
     Fundamental sem saber ler e escrever.
                                                    o Pró-Letramento.
     Resultados de avaliações em larga escala,
     sejam internacionais (PISA), nacionais         Paralelamente ao debate sobre tais políti-
     (SAEB, Prova Brasil), estaduais ou muni-       cas relativas à formação dos professores e
     cipais, têm revelado o baixo desempenho        sobre os resultados das avaliações em larga
     dos nossos alunos em leitura e confirmam       escala, temos vivido também um amplo
     o fracasso da escola em ensinar os estu-       debate sobre que métodos/metodologias
     dantes a ler.                                  utilizar para alfabetizar nossos alunos.
                                                    Reportagens publicadas em revistas de
     Algumas medidas têm sido efetivadas
                                                    grande circulação criticam o ensino da lei-
     tanto no âmbito nacional, como no âmbi-
                                                    tura e escrita com base em uma abordagem
     to das diferentes secretarias de educação,
                                                    construtivista de alfabetização, afirmando
     para tentar superar os problemas rela-




18                                                                      unidade 01
ser tal abordagem responsável pelo baixo       inferências surgidos com a transposição
índice de leitura apresentado por nossos       dessa abordagem para a prática pedagógica
educandos nos processos de avaliação.          de alfabetização, tais como: privilégio da
Defender, no entanto, a alfabetização          faceta psicológica da alfabetização que obs-
centrada em qualquer método sintético          cureceu sua faceta linguística – fonética e
ou analítico, como meio de superar o atual     fonológica; incompatibilidade divulgada
contexto de fracasso escolar na alfabeti-      entre o paradigma conceitual psicogené-
zação, é desconsiderar as contribuições        tico e a proposta de métodos de alfabeti-
das pesquisas que analisam o processo de       zação; e, por fim, o pressuposto, também
construção dos sujeitos na aprendizagem        amplamente divulgado, de que apenas por
da leitura e da escrita e os estudos sobre     meio do convívio intenso com o material
letramento.                                    escrito que circula nas práticas sociais, a
                                               criança se alfabetizaria. Nessa perspectiva,
Soares (2004), em seu artigo sobre as
                                               a alfabetização, como processo de apro-
muitas facetas da alfabetização, comenta
                                               priação de um sistema de escrita conven-
que os problemas que vivenciamos hoje re-
                                               cional com regras próprias, foi obscurecida
lativos a essa fase da escolarização podem
                                               pelo letramento, porque “este acabou por
estar relacionados, entre outras coisas, a
                                               frequentemente prevalecer sobre aquela,
uma perda de especificidade do proces-
                                               que, como consequência, perde sua espe-
so de alfabetização vivenciado nas duas
                                               cificidade” (SOARES, 2004, p. 9).
últimas décadas, relacionada a um pro-
cesso por ela chamado de “desinvenção da       No entanto, para “reinventar a alfabe-
alfabetização”. Para a referida autora, esse   tização”, mais do que defender a volta
processo foi causado, principalmente, pela     dos antigos métodos de alfabetização
mudança conceitual a respeito da aprendi-      (analíticos ou sintéticos) que priorizam
zagem da escrita que se difundiu no Brasil     primeiro o ensino de um “código” para
a partir de meados dos anos 1980, com a        depois os alunos poderem ler e escrever
divulgação dos trabalhos da psicogênese        textos diversos, a autora defende o tra-
da escrita.                                    balho específico de ensino do Sistema de
                                               Escrita Alfabética inserido em práticas de
Sem desconsiderar a incontestável contri-
                                               letramento. Nessa perspectiva, a referida
buição que essa mudança paradigmática,
                                               autora propõe uma distinção entre os ter-
na área da alfabetização, trouxe para a
                                               mos alfabetização e letramento. O pri-
compreensão da trajetória da criança em
                                               meiro corresponderia à ação de ensinar/
direção à descoberta do sistema alfabético,
                                               aprender a ler e a escrever, enquanto o
Soares destaca alguns equívocos e falsas
                                               segundo seria considerado como o estado




unidade 01                                                                                    19
ou a condição de quem não apenas sabe         realizados encontros com as docentes que
     ler e escrever, mas cultiva e exerce as       tinham o objetivo de discutir as práticas
     práticas sociais que usam a escrita. Como     observadas, e refletir sobre alguns aspec-
     afirmado por ela:                             tos constitutivos do processo de alfabe-
                                                   tização. A análise dos resultados revelou
     “alfabetizar e letrar são duas                que um grupo de professoras desenvolvia
     ações distintas, mas não inse-                uma prática sistemática de alfabetização
     paráveis, ao contrário: o ideal               que contemplava, diariamente, ativida-
     seria alfabetizar letrando, ou                des de reflexão sobre o Sistema de Escrita
     seja: ensinar a ler e escrever no             Alfabética, enquanto outras professoras
     contexto das práticas sociais da              priorizavam o trabalho de leitura e pro-
     leitura e da escrita, de modo                 dução coletiva de textos. A realização de
     que o indivíduo se tornasse, ao               um ditado com os alunos das professoras
     mesmo tempo, alfabetizado e                   mostrou que a maioria das crianças que
     letrado.” (Soares, 1998, p. 47)               estudavam com as do primeiro grupo
                                                   concluiu o ano na hipótese alfabética de
     Como desenvolver práticas de alfabetiza-      escrita, enquanto nos outros grupos uma
     ção nessa perspectiva? Seriam essas práti-    proporção maior de alunos apresentou
     cas efetivas? Algumas pesquisas têm sido      hipóteses de escrita menos avançadas. As
     desenvolvidas com o objetivo de investigar    experiências vivenciadas nos encontros
     como os professores estão construindo         mensais, no entanto, possibilitaram que
     práticas de alfabetização na perspectiva do   as docentes refletissem sobre suas práti-
     alfabetizar letrando e investigar a relação   cas de ensino e, nesse processo, fossem
     dessas práticas com a aprendizagem dos        recriando-as, na perspectiva do alfabeti-
     alunos. Relataremos, a seguir, de forma       zar letrando.
     sucinta, duas dessas pesquisas.               A segunda pesquisa foi desenvolvida por
     A primeira foi desenvolvida por Albu-         Cruz (2008), e teve como objetivo verificar
     querque, Morais e Ferreira (2008) e           as práticas de ensino da leitura e da escrita
     envolveu um grupo de nove professoras         desenvolvidas por professores dos três
     que lecionavam no 1º ano do 1º ciclo da       primeiros anos do Ensino Fundamental
     Secretaria de Educação da cidade do Reci-     e a relação dessas práticas com a apren-
     fe. Como procedimentos metodológicos,         dizagem dos alunos no que se refere ao
     além de observações semanais das aulas        domínio do Sistema de Escrita Alfabética
     das professoras, uma vez por mês eram         e à capacidade de produzir textos. Partici-
                                                   param da pesquisa três professoras (uma




20                                                                      unidade 01
de cada ano do 1º ciclo) e 60 alunos (15         ciclo se apropriarem do Sistema de Escri-
do 1º ano, 20 do 2º ano e 25 do 3º ano) de       ta Alfabética, ao mesmo tempo em que
uma escola da Rede Municipal de Ensino           ampliam suas experiências de letramento,
do Recife. Como procedimentos meto-              desde que sejam submetidos a atividades
dológicos foram realizadas observações           sistemáticas de alfabetização que os levem
de aulas e atividades diagnósticas com os        a refletir sobre o sistema de escrita, assim
estudantes: escrita do nome de figuras           como a atividades de leitura e produção de
e uma atividade de reescrita de texto. A         textos, como era o caso da turma partici-
análise dos dados revelou que a maioria          pante da pesquisa.
                                                                                                A reflexão mais
dos alunos das três turmas concluiu o ano
                                                 O que estamos chamando de atividades de        aprofundada
na fase alfabética de escrita, apresentando                                                     sobre os princípios
                                                 reflexão sobre o Sistema de Escrita Alfa-      do Sistema de
razoável domínio das correspondências fo-                                                       Escrita Alfabética
                                                 bética? Como abordado por Leal e Morais
nográficas diretas. Em relação à produção                                                       é contemplada na
                                                 (2010), para compreender as proprieda-         Unidade 3.
textual, algumas crianças do 1º concluíram
                                                 des do sistema alfabético, é necessário que
o ano produzindo textos de forma legível e
                                                 o indivíduo se aproprie de uma série de
elaborada. Esses resultados apontam para
                                                 conhecimentos, tais como:
a possibilidade de alunos do 1º ano do 1º




    a) se escreve com letras, que não podem      características físicas ou funcionais dos
    ser inventadas, que têm um repertório        referentes que substituem;
    finito e que são diferentes de números e
                                                 f) todas as sílabas do português contêm
    outros símbolos;
                                                 uma vogal;
    b) as letras têm formatos fixos e pequenas
                                                 g) as sílabas podem variar quanto às
    variações produzem mudanças na identidade
                                                 combinações entre consoantes, vogais
    das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra
                                                 e semivogais (CV, CCV, CVSv, CSvV, V,
    assuma formatos variados (P, p, P, p);
                                                 CCVCC...), mas a estrutura predominante
    c) a ordem das letras é definidora da        é a CV (consoante-vogal);
    palavra e, juntas, configuram-na, e uma
                                                 h) as letras notam segmentos sonoros
    letra pode se repetir no interior de uma
                                                 menores que as sílabas orais que
    palavra e em diferentes palavras;
                                                 pronunciamos;
    d) nem todas as letras podem vir juntas de
                                                 i) as letras têm valores sonoros fixos,
    outras e nem todas podem ocupar certas
                                                 apesar de muitas terem mais de um valor
    posições no interior das palavras;
                                                 sonoro e certos sons poderem ser notados
    e) as letras notam a pauta sonora e não as   com mais de uma letra. (p. 35-36)




unidade 01                                                                                              21
Nessa perspectiva, defendemos que as            A definição de direitos de aprendizagem
     crianças possam vivenciar, desde cedo,          colabora para a discussão acerca do que
     atividades que as levem a pensar sobre as       pode ser priorizado no planejamento do
     características do nosso sistema de escrita,    ensino e do que pode ser avaliado, tema
     de forma reflexiva, lúdica, inseridas em        que será discutido na próxima seção.
     atividades de leitura e escrita de diferentes
     textos. É importante considerar, no entanto,
     que a apropriação da escrita alfabética não
     significa que o sujeito esteja alfabetizado.
                                                     Referências
     Essa é uma aprendizagem fundamental,
     mas para que os indivíduos possam ler e
     produzir textos com autonomia é necessário
                                                     ALBUQUERQUE, Eliana B.C., MORAIS,
     que eles consolidem as correspondências
                                                     Artur G.; FERREIRA, Andrea T.B. As
     grafofônicas, ao mesmo tempo em que
                                                     práticas cotidianas de alfabetização: o
     vivenciem atividades de leitura e produção
                                                     que fazem as professoras? In: Revista
     de textos. É preciso, portanto, a definição
                                                     Brasileira de Educação. V. 13, n.38. maio/
     de direitos de aprendizagem relacionados
                                                     ago 2008.
     aos diferentes eixos do ensino da Língua
     Portuguesa a serem desenvolvidos ao longo       BEAUCHAMP, Jeanete, PAGEL, Sandra
     dos três primeiros anos do Ensino Funda-        e NASCIMENTO, Aricélia. Ensino
     mental, tal como os que são sugeridos no        fundamental de nove anos: orientações para
     primeiro fascículo do material do Programa      inclusão da criança de seis anos. Brasília:
     Pró-Letramento, que propõe um conjunto          Ministério da Educação, Secretaria de
     de capacidades a serem desenvolvidas pelos      Educação Básica, 2007.
     alunos dos três primeiros anos do Ensino
     Fundamental. Outro exemplo de propo-            BRASIL. Plano Nacional de Educação
     sição de direitos de aprendizagem pode          PNE/2011-2020. Brasília: MEC/SEF, 2011.
     ser visualizado na seção Compartilhando         CRUZ, Magna do Carmo Silva. Alfabetizar
     deste caderno. O principal objetivo dessa       letrando: Alguns desafios do 1º ciclo
     proposição é que tal exemplo possa servir       no Ensino Fundamental. Recife: Ed.
     de ponto de partida para a discussão, em        Universitária da UFPE, 2008.
     cada município, acerca de conhecimentos e
     capacidades que possam ser propostos nos        FERREIRO, Emilia  TEBEROSKY, Ana.
     documentos oficiais que orientam o traba-       Psicogênese da Língua Escrita. Porto
     lho nas escolas.                                Alegre, Artes Médicas, 1984.




22                                                                       unidade 01
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre
alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985.
LEAL, Telma e MORAIS, Artur. O
aprendizado do Sistema de Escrita
Alfabética: uma tarefa complexa, cujo
funcionamento precisamos compreender.
In LEAL, Telma, ALBUQUERQUE, Eliana
e MORAIS, Artur (orgs.). Alfabetizar
letrando na EJA: fundamentos teóricos
e propostas didáticas. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2010.
MORAIS, Artur e ALBUQUERQUE,
Eliana. Alfabetização e letramento: o
que são? como se relacionam? como
alfabetizar letrando?. In: LEAL, Telma
Ferraz e ALBUQUERQUE, Eliana (Org.).
Alfabetização de jovens e adultos em uma
perspectiva de letramento. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
REGO, Lúcia L. B. A Literatura Infantil:
Uma Nova Perspectiva da Alfabetização. 3.
ed. São Paulo: FTD, 1988.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em
três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
1998.
SOARES, Magda. Letramento e
alfabetização: as muitas facetas. Revista
Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr,
nº 25, 2004.




unidade 01                                   23
Avaliação no ciclo de alfabetização
     Eliana Borges Correia de Albuquerque




     Como vimos no texto anterior, até meados         para o início do processo de alfabetização,
     da década de 1980, as práticas de alfabetiza-    compensando as supostas carências cultu-
     ção se baseavam em métodos considerados          rais, deficiências linguísticas e defasagens
     hoje como “tradicionais”, que tornavam           afetivas que esses alunos – provenientes das
     artificiais as práticas escolares da leitura e   camadas populares – apresentavam (KRA-
     da escrita. Liam-se e escreviam-se palavras,     MER, 2006).
     frases e textos “cartilhados” (considerados
                                                      Considerava-se, naquele contexto, que as
     pseudo textos) com o objetivo de aprender
                                                      crianças que ingressavam no Ensino Funda-
     “o código” alfabético. Atreladas a essas prá-
                                                      mental não possuíam conhecimentos sobre
     ticas de alfabetização desenvolvidas na 1º
                                                      a língua e, ao mesmo tempo, julgava-se
     série do Ensino Fundamental observávamos
                                                      necessário que todas elas tivessem desen-
     a realização de práticas de avaliação nomea-
                                                      volvido uma maturidade para aprender a ler
     das hoje como tradicionais, cuja ênfase era
                                                      e escrever relacionadas com as habilidades
     na medição/mensuração das aprendizagens
                                                      anteriormente mencionadas. Uma vez diag-
     dos alunos e na classificação deles como ap-
                                                      nosticado que elas estavam “aptas” para ini-
     tos ou não aptos para progredir no ensino.
                                                      ciar esse processo, cabia ao professor, que
     Antes de iniciar o processo formal de alfa-      seguia um determinado método, apresentar
     betização, era preciso avaliar se os alunos      as unidades sonoras (sílaba, fonema) em
     apresentavam a “prontidão” necessária para       uma sequência pré-estabelecida, unidades
     tal processo, relacionada ao desenvolvimen-      estas que deveriam ser memorizadas pelos
     to de habilidades “psiconeurológicas” ou         alunos. Como abordado por Albuquerque e
     “perceptivo-motoras” (coordenação mo-            Morais (2006, p. 129),
     tora, discriminação auditiva e visual, etc.).
     Com a elevação do índice de repetência na
     1ª série do Ensino Fundamental da escola
                                                      “Os diferentes métodos contro-
     pública, vimos surgir programas de Educa-
                                                      lavam e garantiam a aprendiza-
     ção Compensatória que tinham o objetivo          gem quando existia prontidão.
     de preparar os alunos, na Educação Infantil      O controle era feito a partir da
     (denominada de pré-escola na época),             apresentação das unidades que




24                                                                         unidade 01
deveriam ser memorizadas – le-                 escrita das letras, sílabas, palavras, frases
tras/fonemas/padrões silábicos,                e textos trabalhados. Era preciso garantir
no caso dos métodos sintéticos,                que os alunos dessem as respostas cor-
ou textos/frases com um reper-                 retas, uma vez que o erro precisava ser
tório de palavras que deveriam                 evitado, pois era indicador de que o estu-
ser memorizadas, no caso dos                   dante não havia aprendido/memorizado o
métodos analíticos – sempre                    que fora ensinado.
com base em uma sequência a                    Como abordado no primeiro texto deste
ser seguida. O aluno só poderia                caderno, tal prática de avaliação era exclu-
ser apresentado a novas unida-                 dente, pois desconsiderava o sujeito em
des uma vez que tivesse memo-                  suas singularidades e não considerava suas
rizado as anteriores. “                        experiências/conhecimentos prévios, assim
                                               como seus percursos de aprendizagem. Os
                                               educandos, ao final do ano, eram apenas ro-
Nessa prática de ensino da leitura e da
                                               tulados em aptos ou não aptos a prosseguir
escrita, a avaliação era fundamental para
                                               os estudos, estando tal aptidão relacionada
o bom andamento do processo. Avaliava-
                                               ao desempenho deles nas tarefas/provas
-se se os alunos estavam aprendendo
                                               escolares e a suas capacidades de emitirem
o código alfabético na perspectiva da
                                               as respostas corretas.
memorização das unidades apresentadas/
ensinadas pelo professor e presentes no        A partir da década de 1980, o fracasso esco-
livro didático utilizado. O objetivo de tal    lar que até então era visto como um proble-
avaliação era o de medir e classificar a       ma de deficiência ou carência cognitiva e
aprendizagem dos alunos para determinar        cultural dos alunos do meio popular, passou
seu prosseguimento nos estudos, tanto no       a ser relacionado, à luz das teorias cons-
que se refere à sequência de apresentação      trutivistas e sociointeracionistas de ensino
das lições/unidades ao longo do ano, como      (em geral) e da língua (em particular), às
à passagem para a 2ª série. O propósito        práticas tradicionais de ensino da leitura
classificatório e seletivo de tal prática de   e da escrita. No campo da alfabetização,
avaliação evidencia-se nos altos índices de    como vimos anteriormente, os trabalhos
reprovação no final da 1ª série.               de Emília Ferreiro e Ana Teberosky vão dar
                                               um novo sentido aos erros ou escritas não
Ainda em relação a tais práticas de alfabe-
                                               convencionais dos alunos, que passaram a
tização e avaliação, presentes na memória
                                               ser vistos como reveladores de suas hipóte-
de muitos de nós, avaliava-se por meio
                                               ses de escrita.
de atividades que exigiam a leitura e a




unidade 01                                                                                     25
Como abordado por Albuquerque e Morais (2006), diferentemente de uma prática tradi-
                         cional de alfabetização e avaliação, na perspectiva construtivista e interacionista de ensino,
                         e também na perspectiva inclusivista, avaliam-se as conquistas e as possibilidades dos estu-
                         dantes ao longo do ano escolar, e não apenas os impedimentos e as condutas finais e acaba-
                         das. O erro, que antes precisava a todo custo ser evitado, já que era o principal sintoma de
                         exclusão escolar, passa a ser considerado como indicador da forma como os alunos pensam
                         sobre determinado conhecimento. Os objetivos das avaliações não se relacionam mais à
                         simples medição de conhecimentos para determinar se estão aptos a progredir nos estudos,
                         mas à identificação dos conhecimentos que os estudantes já desenvolveram, com o objetivo
                         de fazê-los avançar em suas aprendizagens. Além disso, nessa perspectiva, a avaliação aten-
                         de a diferentes objetivos, como alguns apontados por Leal (2003, p. 20):


                            a) identificar os conhecimentos já construídos   retomar o ensino de certos itens já ensinados
                            pelos alunos, a fim de planejar as novas         ou de usar estratégias de ensino alternativas,
                            atividades de ensino de forma ajustada, isto     a partir da verificação do que os alunos
                            é, considerando as aprendizagens que eles        aprenderam;
                            já desenvolveram, as dificuldades ou lacunas
                                                                             c) decidir sobre se os alunos estão em
                            que precisam superar;
                                                                             condições de progredir para um nível (série,
                            b) decidir sobre a necessidade ou não de         ciclo, etc.) escolar mais avançado.




                         Nessa perspectiva, avalia-se tanto os alu-          Quanto ao registro dessas avaliações, pode-
                         nos, para mapear seus percursos de apren-           -se também propor diversificação quanto
     Na unidade 2 o
   planejamento do       dizagem, como as práticas pedagógicas               aos instrumentos: cadernos de registros
     ensino é discu-
     tido, a partir do
                         com o objetivo de analisar as estratégias de        dos estudantes; os portfólios com a cole-
pressuposto de que       ensino adotadas de modo a relacioná-las             tânea de atividades/registros realizados
   é a avaliação que
   fornece informa-      às possibilidades dos educandos. Como               pelas crianças ao longo de um determinado
   ções sobre quais
são as prioridades a
                         abordado por Ferreira e Leal (2006), “é             período que permitem que tanto o professor
serem consideradas       papel de a escola ensinar, favorecendo, por         como os próprios alunos acompanhem as
 no planejamento e
sobre como agrupar       meio de diferentes estratégias, oportuni-           dificuldades e os avanços em uma determi-
  os estudantes em
        sala de aula.
                         dades de aprendizagem, e avaliar se tais            nada matéria; a ficha de acompanhamento
                         estratégias estão sendo de fato adequadas”          individual (de cada aluno) e coletiva (da
                         (p. 16).                                            classe).




 26                                                                                                 unidade 01
semântico que, no caso desta
Ana Cristina Bezerra da Silva, professora
                                    turma, escolhi nome de alguns
do 1º ano de uma escola da rede municipal
                                    animais (SAPO, CAVALO, MA-
de ensino do Recife, relata de forma breve
como faz uso da avaliação diagnóstica para
                                    CACO, CORUJA, VACA, GATO).
identificar os conhecimentos das crianças
                                    Em outro momento fiz aplicação
em relação ao Sistema de Escrita Alfabética
                                    de uma avaliação elaborada pela
e poder planejar as atividades de forma a
                                    coordenadora para aplicação nas
possibilitar que elas avancem em suas hipó-
                                    turmas do 1° ano, em seguida fo-
teses de escrita:                   ram tabulados os acertos de cada
                                    criança de acordo com os descri-
“Nos primeiros dias de aula des- tores estabelecidos pela escola.
te ano letivo foi estabelecido pela Com base nessa tabela, foi pos-
coordenação da escola, junta-       sível fazer uma análise crítica de
mente com todos os professores, como deveria ser a rotina e quais
um período de sondagem inicial atividades seriam contempladas
(ou diagnóstico da turma), para     para que cada criança avançasse
que pudéssemos descobrir o que do seu estágio inicial de escrita.
cada aluno sabia sobre o sistema Com o resultado desta sondagem
de escrita, bem como identificar organizei as primeiras atividades
quais hipóteses da língua escrita para que pudesse fazer as inter-
em que as crianças encontra-        venções adequadas à diversidade
vam-se para que pudéssemos          de saberes da turma. Como, no
adequar o planejamento das au- grupo de dezessete alunos, doze
las de acordo com as necessida-     estavam no nível pré-silábico,
des de aprendizagem do grupo.       iniciei as atividades partindo do
Essa avaliação inicial me permite nome das crianças, para que as
acompanhar os avanços na apro- crianças entrassem em contato
priação do Sistema de Escrita       com a leitura e a escrita através
Alfabética durante todo ano. A      do que lhe pertence, que é o seu
sondagem inicial foi realizada      nome. Elaborei também um
através de uma atividade feita      quadro, para que, no final de
individualmente com a produ-        cada bimestre, pudesse manter
ção espontânea de uma lista de      um registro criterioso do proces-
palavras de um mesmo grupo          so de evolução das hipóteses de




unidade 01                                                               27
escrita das crianças, pois é atra-               gias de ação relacionadas à alfabetização. Tal
     vés das sondagens e da obser-                    avaliação também acontece ao longo do ano
     vação cuidadosa e constante das                  e, com base nela e nas atividades desenvol-
     produções dos alunos durante o                   vidas diariamente, a docente preenche um
     ano, que eu posso saber em que                   quadro de registro de cada aluno, de modo
     momento se encontra cada um,                     a poder acompanhar os avanços de cada um
     e se a minha rotina está funcio-                 nas diferentes áreas. Por meio de tal quadro
     nando, e como posso ajustar o                    é possível, também, analisar o baixo ren-
     planejamento do meu trabalho                     dimento dos alunos de modo a pensar nas
     para que, no final do ano letivo,                soluções para que efetivamente eles apren-
     todos estejam alfabetizados.”                    dam. Pode-se, por exemplo, realizar mudan-
                                                      ças na organização de estratégias didáticas,
     (Ana Cristina Bezerra da Silva,
                                                      com a possibilidade de acompanhamento
     professora do 1° Ano da Escola
                                                      individual do aluno pelo professor em
     Municipal Maurício de Nassau –
                                                      alguns momentos e por outro profissional da
     Recife/PE).
                                                      escola (coordenador pedagógico, estagiário,
                                                      etc.), em outros momentos.
     A professora Ana Cristina é a mesma docen-
                                                      Por fim, é importante considerar que as
     te da pesquisa de Cruz, relatada no segundo
                                                      mudanças nas práticas de alfabetização e
     texto deste caderno. Tais atividades citadas
                                                      avaliação foram acompanhadas também
     são favorecidas porque existe um compro-
                                                      de mudanças na organização de alguns
     misso entre os profissionais da escola em
                                                      sistemas de ensino em regimes ciclados. No
     que ela trabalha de desenvolver uma prática
                                                      Brasil, foi a partir da década de 1980, como
     de ensino da leitura e da escrita na perspec-
                                                      forma de diminuir o gargalo na 1ª série do
     tiva do alfabetizar letrando.
                                                      Ensino Fundamental, que a organização
     A proposta pedagógica da referida escola         curricular em ciclos passou a ser instituída.
     contempla alguns direitos de aprendizagens       Para Ferreira e Leal (2006, p. 18),
     a serem assegurados a cada ano do ciclo e
     os professores, juntamente com a equipe
                                                      “[...] os argumentos para a ado-
     pedagógica, buscam alternativas para que
                                                      ção do regime ciclado são mui-
     tais direitos sejam assegurados. Para isso, é
     essencial a realização de uma avaliação diag-
                                                      tos. Um deles repousa na ideia
     nóstica no início do ano, para que o perfil da
                                                      de que essa estrutura curricular
     turma seja traçado e a professora possa, jun-    favorece a continuidade, a inter-
     tamente com a equipe, pensar nas estraté-        disciplinaridade e a participa-




28                                                                          unidade 01
ção, respeitando-se os ritmos e               desenvolvimento de projetos de acompa-
os tempos dos alunos. Há ainda,               nhamento aos alunos com defasagem de
nessas propostas, uma negação                 aprendizagem, projetos esses que são reali-
da lógica excludente e competi-               zados por parte de um grupo de professores
tiva (quem vai chegar primeiro?)              ou estagiários em determinados horários da
e a adoção de uma lógica de in-               semana ou no contra turno.
clusão e solidariedade (partilha
de saberes). Outro aspecto a des-
tacar é a mudança da perspecti-
va conteudista de “quanto já se               Referências
sabe sobre” para uma perspecti-
va multicultural, que respeita a
diversidade de saberes, práticas              ALBUQUERQUE, Eliana e MORAIS, Artur.
e valores construídos pelo grupo.             Avaliação e alfabetização. In MARCUSCHI,
Há, ainda, uma rejeição da busca              Beth e SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua
de homogeneização e uma valo-                 portuguesa: contribuições para a prática
rização da heterogeneidade e da               pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
diversidade.”                                 FERREIRA, Andréa e LEAL, Telma. Avaliação
                                              na escola e ensino da Língua Portuguesa:
                                              introdução ao tema. In MARCUSCHI, Beth e
Enfim, na perspectiva da inclusão que         SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua
norteia a proposta da organização escolar     portuguesa: contribuições para a prática
em ciclos é fundamental que os sistemas de    pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
ensino (seriados ou ciclados) estabeleçam o
que deve ser ensinado em cada ano escolar     KRAMER, Sônia. As crianças de 0 a 6 anos nas
e construam estratégias didáticas para que    políticas educacionais no Brasil: Educação
os estudantes progridam em seus conheci-      Infantil e Fundamental In: Educação e
mentos, respeitando-se a heterogeneidade      Sociedade. Campinas, Vol. 27, n. 96. Especial,
do grupo. É necessário pensar também em       p. 797 – 818, out. 2006.
formas de acompanhamento daqueles que         LEAL, Telma Ferraz. Intencionalidade da
não alcançaram as metas pretendidas para      avaliação na Língua Portuguesa. In: SILVA, J.
o ano e que vão prosseguir em seus estudos,   F.; HOFFMANN, J.; ESTEBAN. M. T. Práticas
de modo a garantir que não sejam excluídos    avaliativas e aprendizagens significativas em
do grupo. Algumas escolas e redes de ensino   diferentes áreas do currículo. Porto Alegre:
têm adotado estratégias relacionadas ao       Mediação, 2003.




unidade 01                                                                                     29
Compartilhando


Direitos de aprendizagem no ciclo de
alfabetização – Língua Portuguesa

O direito à Educação Básica é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, “tem por finalidades desenvolver
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22).
Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua formação
para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais. Dentre
outros direitos, é prioritário o ensino da leitura e escrita, tal como previsto no artigo 32:



   Artigo 32
   O ensino fundamental obrigatório, com          das artes e dos valores em que se
   duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola   fundamenta a sociedade;
   pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de
                                                  III - o desenvolvimento da capacidade de
   idade, terá por objetivo a formação básica
                                                  aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
   do cidadão, mediante:
                                                  conhecimentos e habilidades e a formação
   I - o desenvolvimento da capacidade de         de atitudes e valores;
   aprender, tendo como meios básicos o pleno
                                                  IV - o fortalecimento dos vínculos de família,
   domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
                                                  dos laços de solidariedade humana e de
   II - a compreensão do ambiente natural e       tolerância recíproca em que se assenta a vida
   social, do sistema político, da tecnologia,    social.
Para atender às exigências previstas nas       Em todos os quadros são expostas sugestões
                                                                                                 A Resolução nº 7,
Diretrizes, torna-se necessário delimitar os   acerca de como tratar a progressão de co-         de 14 de dezembro
diferentes conhecimentos e as capacidades      nhecimento ou capacidade durante o ciclo          de 2010, do Con-
                                                                                                 selho Nacional de
básicas que estão subjacentes aos direitos.    de alfabetização. A letra I será utilizada para   Educação, que fixa
                                                                                                 Diretrizes Curricula-
Nos quadros a seguir, alguns conhecimen-       indicar que determinado conhecimento ou           res Nacionais para o
tos e capacidades estão descritos e podem      capacidade deve ser introduzido na etapa          Ensino Fundamen-
                                                                                                 tal de 9 (nove) anos,
ser postos como pontos de partida para o       escolar indicada; a letra A, indicará que a       pode ser lida no
                                                                                                 caderno do ano 1,
estabelecimento do debate.                     ação educativa deve garantir o aprofunda-         Unidade 8.
                                               mento; e a letra C, indica que a aprendiza-
São descritos direitos de aprendizagem
                                               gem deve ser consolidada no ano indicado.
gerais, que permeiam toda a ação peda-
gógica e depois são expostos quadros com       Como poderá ser observado, um determi-
conhecimentos e capacidades específicos        nado conhecimento ou capacidade pode
organizados por eixo de ensino da Língua       ser introduzido em um ano e aprofundado
Portuguesa: Leitura, Produção de textos        em anos seguintes. A consolidação também
Escritos, Oralidade, Análise Linguística.      pode ocorrer em mais de um ano escolar,
                                               dado que há aprendizagens que exigem um
O eixo Análise Linguística foi dividido em
                                               tempo maior para a apropriação. Nos eixos
dois quadros, com o objetivo de destacar
                                               de produção e compreensão de textos, por
as especificidades do ensino do Sistema
                                               exemplo, são muitas e variadas as situações
de Escrita Alfabética, necessário para que
                                               sociais que demandam ações de escrita/
as crianças tenham autonomia na leitura e
                                               fala/escuta/leitura. Cada uma tem carac-
produção de textos, separando tais direitos
                                               terísticas próprias em que determinados
de outros aspectos da análise linguística,
                                               gêneros textuais circulam. Desse modo, é
também fundamentais para a ampliação
                                               possível dizer que determinados gêneros
das capacidades para lidar com as situa-
                                               podem ser introduzidos em um deter-
ções de produção e compreensão de textos
                                               minado ano, demandando capacidades e
orais e escritos.
                                               conhecimentos relativos a ele que podem
                                               ser aprofundados e consolidados naque-
  Ler e escrever com autonomia,                le mesmo ano, e, no ano seguinte, outro
  neste documento, significa ler e             gênero pode exigir que as mesmas capaci-
  escrever sem precisar de ledor               dades, com maior nível de complexidade,
  ou escriba, o que só é possível nos          sejam retomadas. Por exemplo, podem ser
  casos em que as crianças dominam             realizadas situações didáticas para desen-
  o Sistema de Escrita Alfabética.
                                               volver nas crianças a capacidade de elaborar
                                               inferências, utilizando, para isso, textos de




unidade 01                                                                                                31
determinado gênero, com determinado tipo            conhecimento que se busca ao lidar com
     de vocabulário e de complexidade sintática;         crianças de seis anos, não é o mesmo que
     a criança pode consolidar tal capacidade            se busca com crianças de oito anos. O pro-
     naquele mesmo ano. No entanto, no outro             fessor, sem dúvidas, precisa estar atento às
     ano de escolaridade, podem ser realiza-             experiências e conhecimentos prévios de
     das outras situações didáticas em que se            seu grupo classe, seus interesses e modos
     busca desenvolver a capacidade de elaborar          de lidar com os saberes escolares.
     inferências mais complexas, na leitura de
     textos mais longos, com vocabulário mais               Em todos os anos de escolarização,
     rebuscado, com estruturas sintáticas mais              as crianças devem ser convidadas a
     complexas. Desse modo, naquele ano, tal                ler, produzir e refletir sobre textos
                                                            que circulam em diferentes esferas
     capacidade vai ser aprofundada e consolida-
                                                            sociais de interlocução, mas alguns
     da. Concebe-se, portanto, que há aprendiza-            podem ser considerados prioritários,
     gens que podem ser aprofundadas e consoli-             como os gêneros da esfera literária;
     dadas durante toda a vida das pessoas.                 esfera acadêmica/escolar e esfera
                                                            midiática, destinada a discutir temas
     É importante também salientar que o nível
                                                            sociais relevantes.
     de aprofundamento de um determinado

     Direitos gerais de aprendizagem: Língua Portuguesa
       Compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros, veiculados em suportes
       textuais diversos, e para atender a diferentes propósitos comunicativos, considerando as con-
       dições em que os discursos são criados e recebidos.

       Apreciar e compreender textos do universo literário  (contos, fábulas, crônicas,
       poemas, dentre outros), levando-se em conta os fenômenos de fruição estética, de imaginação
       e de lirismo, assim como os múltiplos sentidos que o leitor pode produzir durante a leitura.

       Apreciar e usar em situações significativas os gêneros literários do patrimônio cultural da
       infância, como parlendas, cantigas, trava línguas.

       Compreender e produzir textos destinados à organização e socialização do saber
       escolar/científico (textos didáticos, notas de enciclopédia, verbetes, resumos,
       resenhas, dentre outros) e à organização do cotidiano escolar e não escolar
       (agendas, cronogramas, calendários, cadernos de notas...).

       Participar de situações de leitura/escuta e produção oral e escrita de textos destinados à refle-
       xão e discussão acerca de temas sociais relevantes (notícias, reportagens, artigos de opinião,
       cartas de leitores, debates, documentários...).

       Produzir e compreender textos orais e escritos com finalidades voltadas para a reflexão sobre
       valores e comportamentos sociais, planejando e participando de situações de combate aos
       preconceitos e atitudes discriminatórias (preconceito racial, de gênero, preconceito a grupos
       sexuais, preconceito linguístico, dentre outros).




32                                                                               unidade 01
Leitura                                                                  Ano 1   Ano 2   Ano 3
  Ler textos não-verbais, em diferentes suportes.                         I/A    A/C      A/C
 Ler textos (poemas, canções, tirinhas, textos de tradição oral,
 dentre outros), com autonomia.                                           I/A    A/C       C
                                                .
 Compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentes
 gêneros e com diferentes propósitos.                                     I/A    A/C      A/C

  Antecipar sentidos e ativar conhecimentos prévios relativos aos
  textos a serem lidos pelo professor ou pelas crianças.                  I/A    A/C      A/C

  Reconhecer finalidades de textos lidos pelo professor ou pelas
  crianças.                                                               I/A    A/C      A/C

 Ler em voz alta, com fluência, em diferentes situações.                   I       A       C
 Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros,
 temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.              I/A     A/C      C

 Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros,
 temáticas, lidos com autonomia.                                           I      A/C     A/C

 Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas,
 lidos pelo professor ou outro leitor experiente.                         I/A    A/C      A/C

 Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas,
 lidos com autonomia.                                                      I      I/A     A/C

 Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes
 gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.
                                                                          I/A    A/C      A/C

 Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes
 gêneros e temáticas, lidos com autonomia.                                 I      A       A/C
 Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes
 gêneros, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.                I/A    A/C       C

 Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêne-
 ros, lidos com autonomia.                                                 I      A       A/C

 Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e
 temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.              I/A    A/C      A/C
 Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e
 temáticas, lidos com autonomia.                                          I/A    A/C      A/C

 Estabelecer relação de intertextualidade entre textos.                    I      I/A      C
 Relacionar textos verbais e não-verbais, construindo sentidos.           I/A    A/C      A/C
 Saber procurar no dicionário os significados das palavras e a acep-
 ção mais adequada ao contexto de uso.                                             I       A

I - Introduzir; A - Aprofundar; C - Consolidar.




unidade 01                                                                                       33
Produção de textos escritos                                              Ano 1   Ano 2   Ano 3
      Planejar a escrita de textos considerando  o contexto de produção:
                                                    .
      organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida-    I/A     A/C     A/C
      des, com ajuda de escriba.
      Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção:
      organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida-     I       A      A/C
      des, com autonomia.
      Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes
      finalidades, por meio da atividade de um escriba.                        I/A     A/C      C

      Produzir textos de diferentes gêneros com autonomia, atendendo
      a diferentes finalidades.                                                 I      I/A     A/C

      Gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando os períodos e
      utilizando recursos coesivos para articular ideias e fatos.               I      I/A     A/C

      Organizar o texto, dividindo-o em tópicos e parágrafos.                           I      A/C
      Pontuar os textos, favorecendo a compreensão do leitor.                           I      A/C
      Utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero e
      às finalidades propostas                                                 I/A     A/C     A/C
      Revisar coletivamente os textos durante o processo de escrita em
      que o professor é escriba, retomando as partes já escritas e plane-      I/A      A      A/C
      jando os trechos seguintes.
      Revisar autonomamente os textos durante o processo de escrita,
      retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes.               I/A     A/C

      Revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os de
      modo a aperfeiçoar as estratégias discursivas.                                    I       A




34                                                                                  unidade 01
Oralidade                                                                Ano 1   Ano 2   Ano 3
 Participar de interações orais em sala de aula, questionando,
 sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala.                 I/A    A/C       C

 Escutar com atenção textos de diferentes gêneros, sobretudo os mais
 formais, comuns em situações públicas, analisando-os criticamente.       I/A    A/C      A/C

 Planejar intervenções orais em situações públicas: exposição oral,
 debate, contação de história.                                             I     A/C       C

 Produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes pro-
 pósitos, sobretudo os mais formais comuns em instâncias públicas
 (debate, entrevista, exposição, notícia, propaganda, relato de expe-      I      I/A     A/C
 riências orais, dentre outros).

 Analisar a pertinência e a consistência de textos orais, consideran-
 do as finalidades e características dos gêneros.                          I      A       A/C

 Reconhecer a diversidade linguística, valorizando as diferenças
 culturais entre variedades regionais, sociais, de faixa etária,  de       I      A       A/C
 gênero dentre outras.

 Relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema de
 escrita, as variantes linguísticas e os diferentes gêneros textuais.      I      A        C

 Valorizar os textos de tradição oral, reconhecendo-os como
 manifestações culturais.                                                I/A/C   A/C      A/C




unidade 01                                                                                       35
Análise linguística:
     discursividade, textualidade e normatividade                              Ano 1   Ano 2   Ano 3
      Analisar a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos
                                                    .
      interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina.
                                                                                I/A     A/C     A/C

      Conhecer e usar diferentes suportes textuais, tendo em vista suas
      características: finalidades, esfera de circulação, tema, forma de       I/A/C    A/C      C
      composição, estilo, etc.
      Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção.                I/A/C   I/A/C   I/A/C
      Conhecer e usar palavras ou expressões que estabelecem a
      coesão como: progressão do tempo, marcação do espaço e                     I      A       A/C
      relações de causalidades.
      Conhecer e usar palavras ou expressões que retomam coesivamente
      o que já foi escrito (pronomes pessoais, sinônimos e equivalentes).        I      A       A/C

      Usar adequadamente a concordância e reconhecer violações de
      concordância nominal e verbal.                                                     I      A/C

      Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências
      regulares diretas entre letras e fonemas (P, B, T, D, F, V).              I/A     A        C

      Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências
      regulares contextuais entre letras ou grupos de letras e seu valor
      sonoro  (C/QU; G/GU; R/RR; SA/SO/SU em início de palavra; JA/JO/                   I      A/C
      JU; Z inicial; O ou U/ E ou I em sílaba final; M e N nasalizando final
      de sílaba; NH; Ã e ÃO em final de substantivos e adjetivos).
      Conhecer e fazer uso de palavras  com correspondências irregula-
      res, mas de uso frequente.                                                         I       A

      Saber usar o dicionário, compreendendo sua função e organização.                   I      A/C
      Saber procurar no dicionário a grafia correta de palavras.                         I      A/C
      Identificar e fazer uso de letra maiúscula e minúscula nos textos
      produzidos, segundo as convenções.                                         I      A       A/C

      Pontuar o texto.                                                                   I      A/C
      Reconhecer diferentes variantes de registro de acordo com os
      gêneros e situações de uso.                                                I      A        C

      Segmentar palavras em textos.                                              I      A/C




36                                                                                   unidade 01
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  • 1. Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS Ano 01 Unidade 01 Brasília 2012
  • 2. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Secretaria de Educação Básica – SEB Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC) _______________________________________________________________________________ Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa : currículo na alfabetização : concepções e princípios : ano 1 : unidade 1 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília : MEC, SEB, 2012. [57] p. ISBN 978-85-7783-124-1 1. Alfabetização. 2. Aprendizagem. 3. Língua portuguesa. 4. Currículo. I. Título. CDU 37.014.22 _______________________________________________________________________________ Tiragem 122.102 exemplares MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500 CEP: 70047-900 Tel: (61)20228318 - 20228320
  • 3. Sumário CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS Iniciando a conversa 05 Aprofundando o tema 06 Currículo no ciclo de alfabetização: princípios gerais 06 Concepções de alfabetização: o que ensinar no ciclo de alfabetização 16 Avaliação no ciclo de alfabetização 24 Compartilhando 30 Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização – Língua Portuguesa 30 O acompanhamento da aprendizagem das crianças: sugestão de instrumento de registro da aprendizagem 38 Perfil de grupo: sugestão de instrumento de acompanhamento da turma 41 Aprendendo mais 42 Sugestões de leitura 42 Sugestões de atividades para os encontros em grupo 45
  • 4. CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS UNIDADE 1 | ANO 1 Autoras dos textos da seção Aprofundando o tema: Eliana Borges Correia de Albuquerque , Rafaella Asfora e Wilma Pastor de Andrade Sousa. Autora dos relatos de experiência e depoimentos: Ana Cristina Bezerra da Silva. Leitores críticos e apoio pedagógico: Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da Silva, Ana Cristina Bezerra da Silva, Ana Lúcia Martins Maturano, Ana Márcia Luna Monteiro, Eliana Borges Correia de Albuquerque, Evani da Silva Vieira, Erika Souza Vieira, Luciane Manera Magalhães, Magna do Carmo Silva Cruz, Ivanise Cristina da Silva Calazans, Rochelane Vieira de Santana, Severino Rafael da Silva , Sheila Cristina da Silva Barros, Telma Ferraz Leal, Yarla Suellen Nascimento Alvares. Contribuições para a produção dos quadros de direitos de aprendizagem: Adelma Barros-Mendes; Alexsandro da Silva; Ana Catarina dos Santos Pereira Cabral; Ana Cláudia Rodrigues Gonçalves Pessoa; Ana Cristina Bezerra da Silva; Ana Gabriela de Souza Seal; Ana Lúcia Guedes; Ana Lúcia Martins Maturano; Andrea Tereza Brito; Artur Gomes de Morais; Carlos Mourão; Célia Maria Pessoa Guimarães; Constância Martins de Barros Almeida; Cynthia Cybelle Rodrigues; Dayse Holanda; Débora Anunciação Cunha; Edijane Ferreira de Andrade; Eliana Borges Correia de Albuquerque; Evanice Brígida C. Lemos; Ivane Pedrosa de Souza; Ivanise Cristina da Silva Calazans; Juliana de Melo Lima; Kátia Regina Barbosa Barros; Leila Nascimento da Silva; Lidiane Valéria de Jesus Silva; Lourival Pereira Pinto; Luciane Manera Magalhães; Magna do Carmo Silva Cruz; Margareth Brainer; Maria Helena Santos Dubeux; Mônica Pessoa de Melo Oliveira; Nilma Gonçalves da Silva; Patrícia Batista Bezerra Ramos; Priscila Angelina Silva da Costa Santos; Rafaella Asfora; Rielda Karyna de Albuquerque; Rita de Cássia Barros de Freitas Araujo; Rosa Maria Manzoni; Severina Erika Silva Morais Guerra; Sheila Cristina da Silva Barros; Sidney Alexandre da Costa Alves; Simone Borrelli Achtschin; Suzaní dos Santos Rodrigues; Tânia Maria S.B. Rios Leite; Telma Ferraz Leal; Terezinha Toledo Melquíades de Melo; Tícia Cassiany Ferro Cavalcante; Vera Lúcia Martiniak; Vivian Michelle Rodrigues N. Padilha; Wilma Pastor de Andrade Sousa. Obs. 1: O grupo de trabalho técnico para elaboração dos Direitos de Aprendizagem em Língua Portuguesa / MEC participou da discussão e elaboração dos quadros: Alfredina Nery, Ana Cristian Thomé Veneno Batista. Aricélia Ribeiro do Nascimento, Divani Aparecida Pereira Albuquerque Nunes, Francisca Isabel Pereira Maciel, Lúcia Helena Couto, Telma Ferraz Leal, Valéria do Nascimento Querido. Obs.2: Participantes do VI Encontro do Grupo de Trabalho Fundamental Brasil, em 15 e 16 de agosto de 2012, realizaram leitura crítica e contribuíram com sugestões de aperfeiçoamento dos quadros. Obs. 3: Profissionais de secretarias de educação visitadas por profissionais da equipe pedagógica do MEC contribuíram, apresentando sugestões, em encontros de debate com a equipe do Ministério da Educação. Revisor: Iran Ferreira de Melo. Projeto gráfico e diagramação: Ana Carla Silva, Luciana Salgado, Susane Batista e Yvana Alencastro. Ilustrações: Airton Santos. Capa: Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Ráian Andrade e Túlio Couceiro.
  • 5. Iniciando a conversa São muitos os desafios que vivenciamos nos últimos anos na busca da garantia de uma escola democrática, em que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade. Aprender a ler e escrever é um direito de todos, que precisa ser garantido por meio de uma prática educativa baseada em princípios relacionados a uma escola inclusiva. Nesse primeiro texto do curso Formação do Professor Alfabetizador, pretendemos refletir sobre a possibilidade real de desenvolvimento de práticas de alfabetização baseadas na inclusão e no respeito à heterogeneidade. Para isso, é importante discutirmos acerca das concepções de alfabetização e de avaliação que se relacionam a tais princípios. Além dis- so, para garantir que todas as crianças aprendam a ler e escrever, faz-se necessário traçar direitos de aprendizagem que possam nortear a organização do trabalho pedagógico nas escolas. Assim, os objetivos dessa unidade são: • entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento; • aprofundar a compreensão sobre currículo nos anos iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva da Educação Inclusiva e das diferentes concepções de alfabetização; • compreender a importância da avaliação no ciclo de alfabetização, analisando e construindo instrumentos de avaliação e de registro de aprendizagem; • construir coletivamente o que se espera em relação aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento no ciclo de alfabetização.
  • 6. Aprofundando o tema Currículo no ciclo de alfabetização: princípios gerais Eliana Borges Correia de Albuquerque Ao falarmos em alfabetizar crianças e a serem ensinados, que constituiriam adultos no Brasil, podemos nos referir a mudanças de natureza didática, ou a práticas diversas de ensino da leitura e transformações relacionadas à organiza- da escrita, desde aquelas vinculadas ao ção do trabalho pedagógico (material pe- ensino de letras, sílabas e palavras com dagógico, avaliação, etc.), que correspon- base em métodos sintéticos ou analíticos deriam a mudanças pedagógicas. Assim, e que usam textos cartilhados, até as que as diferentes práticas de alfabetização buscam inserir os alunos em práticas so- vivenciadas ao longo da nossa história ciais de leitura e escrita. Da mesma forma, estariam relacionadas a mudanças de na- podemos nos referir a práticas desenvol- turezas didática e pedagógica no ensino vidas em diferentes espaços: na família, da leitura e da escrita, decorrentes de no trabalho, na escola. Considerando que diferentes aspectos – desenvolvimento esta última é a instituição oficial respon- científico em diferentes áreas, contexto sável pelo ensino da leitura e da escrita, socioeconômico, organização escolar, podemos considerar que, mesmo nesse desenvolvimento tecnológico, mudanças espaço, esse ensino tem apresentado certa pedagógicas (material pedagógico, livros diversidade. didáticos, etc.). Como abordado por Chartier (2000), as As mudanças relativas às práticas de mudanças nas práticas de ensino podem alfabetização ou às outras áreas de co- se relacionar, dentre vários aspectos, a nhecimento se relacionam a mudanças alterações nas definições dos “conteúdos” curriculares se tomarmos a definição de
  • 7. currículo como apontado por Moreira e lação ainda era analfabeta. Cook-Gum- Silva (1994), não como um veículo que perz (1991) relaciona a prática escolar transporta algo a ser transmitido e absor- de leitura com ênfase em métodos que vido, mas como um lugar em que ativa- enfatizam o processo de “decodificação” à mente em meio a tensões, se produz e se necessidade de expansão da escolarização reproduz a cultura. Currículo refere-se, à população. nessa perspectiva, a criação, recriação, Até meados da década de 1980, a discus- contestação e transgressão. são acerca das práticas de alfabetização Para Moreira e Candau (2007), a discussão se relacionava principalmente ao debate sobre currículo envolve diferentes aspec- sobre os métodos mais eficazes para tos, tais como os conhecimentos escolares, ensinar a ler e escrever, que envolviam os procedimentos e as relações sociais que os sintéticos, analíticos e analítico-sinté- conformam o cenário em que os conhe- ticos. Tais métodos, apesar de se dife- cimentos se ensinam e se aprendem, as renciarem no que se refere à unidade da transformações que se deseja efetuar nos língua que serviria como ponto de partida alunos, os valores que se deseja inculcar e para o ensino da leitura e da escrita (le- as identidades que se pretende construir. tras, fonemas, sílabas, palavras, textos), Os autores, ao falarem sobre currículo, se se assemelhavam em muitos aspectos. referem a “experiências escolares que se Todos se baseavam em uma concepção desdobram em torno do conhecimento, de leitura e escrita como decodificação em meio a relações sociais, e que contri- e codificação. O aprendizado do código buem para a construção das identidades de alfabético se dava por meio do ensino nossos/as estudantes” (p. 18). transmissivo das unidades da língua, se- Em relação ao ensino da leitura e da escri- ta, como abordado por Braslavsky (1988), as práticas de alfabetização baseadas em diferentes métodos de ensino (sintéticos e analíticos) que até hoje se fazem pre- sentes em algumas escolas começaram a se desenvolver a partir do século XVII em um contexto de mudanças históricas orientadas por novos modelos sociais que passaram a demandar a leitura e a escrita em uma época em que a maioria da popu- unidade 01 07
  • 8. guindo uma progressão pré-determinada processo de alfabetização. Essa prontidão que ia das unidades mais fáceis para as estava relacionada ao desenvolvimento mais difíceis. Partia-se do pressuposto de de habilidades perceptivas e motoras e, que todos os alunos iniciavam o processo na maioria das vezes, era desenvolvida sem conhecimento algum sobre a escrita na Educação Infantil ou nos primeiros e que cabia aos professores o ensino das meses da 1ª série do Ensino Fundamental. letras, sílabas e palavras. Ao aluno, nessa Assim, o trabalho com a linguagem nessa concepção, cabia um papel passivo de primeira etapa da escolarização era repleto “recebedor” de algo pronto: a língua. de atividades que levavam as crianças a desenvolver habilidades de coordenação As cartilhas relacionadas a esses métodos motora e discriminação auditiva e visual, e passaram a ser amplamente utilizadas esses exercícios envolviam, entre outras, a como livro didático para o ensino nessa identificação e o traçado de letras e síla- área (MORTATTI, 2000). Ensinar a ler e bas isoladas. Nesse contexto, a leitura e a escrever com base nos métodos analíticos escrita eram evitadas, e o acesso aos textos ou sintéticos exigia que as crianças apre- limitava-se, muitas vezes, à prática de sentassem uma prontidão para o início do contar histórias realizada pela professora, como forma de tornar o texto escrito mais simples e consequentemente mais “fácil” de ser compreendido. Na 1ª série (1º ano do Ensino Fundamen- tal de oito anos), uma vez desenvolvi- das as referidas habilidades, os alunos começavam a aprender, por meio prin- cipalmente da memorização, as letras/ fonemas/sílabas que lhes possibilitaria ler palavras, frases e, por último, textos. Todos os alunos vivenciavam as mesmas atividades, pois se acreditava, como já foi dito, que todos aprendiam do mesmo jei- to, seguindo a mesma sequência presente nas cartilhas. Se buscarmos definir os conhecimen- tos escolares trabalhados na 1ª série do 08 unidade 01
  • 9. Ensino Fundamental, relacionados tanto a aprendizagem do código, desvinculado à área da Língua Portuguesa como às dos usos sociais da leitura e da escrita, outras áreas, podemos perceber que se que desconsiderava os conhecimentos ensinava com base principalmente nas que as crianças possuíam sobre a escri- lições presentes nos livros didáticos. Os ta. Muitos alunos, inclusive, iniciavam professores alfabetizadores, no geral, a 1ª série lendo e escrevendo palavras e seguiam a cartilha à risca, garantindo textos. Para estes, as atividades escolares que todos os alunos fizessem as mesmas além de repetitivas, não os faziam evoluir atividades de forma correta. O erro preci- em suas aprendizagens. Nessa perspecti- sava ser evitado, pois era sinônimo de que va, esses alunos, ao não serem atendidos o aluno não tinha aprendido o que fora em suas necessidades, eram, de certa ensinado/transmitido. Na série destinada forma, excluídos do processo de ensino- à alfabetização, que correspondia ao 1º -aprendizagem, embora não fossem ano do Ensino Fundamental de oito anos, desvalorizados, já que apresentavam, no as crianças passavam todo o ano apren- geral, as respostas corretas nas atividades dendo letras, sílabas, palavras e lendo/ realizadas. Já as crianças que cometiam escrevendo textos cartilhados que possuí- erros e concluíam o ano sem o domínio do am palavras com as unidades trabalhadas código escrito, engrossavam as estatísti- nas lições anteriores. Os textos eram, cas cada vez mais crescentes de repetên- portanto, artificiais e não correspondiam cia e evasão escolar, sendo “excluídos” em àqueles com os quais os alunos conviviam seus direitos de aprendizagem da leitura fora da escola. e da escrita. Acreditou-se, por muito tempo, que o Nesse contexto, as crianças que apresenta- No “Caderno de fracasso escolar, que, a partir da década vam necessidades especiais eram segre- Educação Especial de 1970, com a democratização do acesso gadas em salas específicas e muitos dos - a alfabetização de crianças com à escola, atingiu índices preocupantes, alunos que fracassavam nas salas de aula deficiência: uma proposta inclusiva” estaria relacionado à falta de capacidades regulares eram avaliados como “deficien- são apresentadas individuais dos alunos provenientes prin- tes”. O sistema escolar era excludente e reflexões sobre Educação Inclusiva, cipalmente do meio social desfavorecido. atendia de forma efetiva a uma pequena com dicas acerca das estratégias Além de garantir a prontidão para a alfa- parcela da população. A partir da década de inclusão de betização, era preciso assegurar que os de 1980, a temática da exclusão/inclusão crianças com dife- rentes necessida- estudantes aprendessem o código escrito. educacional passou a ganhar força, como des educacionais especiais. Mudava-se a cartilha ou o método utiliza- pode ser observado no texto a seguir, que do, mas as práticas continuavam pautadas discute a “Educação Inclusiva”. em um programa curricular voltado para unidade 01 09
  • 10. Educação Inclusiva Rafaella Asfora; Wilma Pastor de Andrade Sousa Pensar em Educação Inclusiva remete, em primeiro plano, ao debate sobre exclusão educacional e nos faz refletir sobre a lógica do sistema escolar que historicamente buscava atender apenas a uma parcela da população, segregar a maioria e direcionar o seu trabalho para uma sala de aula homogênea. Se a escola não promovesse a exclusão das diferenças, não preci- saríamos definir aqui os princípios que fundamentam uma escola inclusiva “que conhece cada aluno, respeita suas potencialidades e necessidades, e a elas responde, com qualidade pedagógica” (BRASIL, 2004, p. 08). E de que princípios estamos falando? Es- tamos aqui nos referindo ao princípio da aceitação e respeito às diferenças, como um dos pilares fundamentais para uma educação para todos, uma vez que estamos inseridos em um estado demo- crático de direito. A nossa Constituição Federal de 1988 apresenta como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana e, por conseguinte, o exercício da cidadania. Em seu artigo 205, apresenta “a educação como um direito de todos” e, no artigo 206, inciso I, estabelece “a igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino. Encontramos aqui um direito instituído, mas como viabilizá-lo? Como garantir acesso ao ensino, permanência no âmbito educacional e educação de qualidade? Esse é o grande desafio que nos é colocado na atenção à diversi- dade. A partir dos anos noventa, novas formas de interpretação da ques- tão da desigualdade, bem como do acesso das camadas populares a bens e serviços, começaram a ficar mais definidas. Alguns do- cumentos internacionais, como, por exemplo, a Declaração Mun- dial sobre Educação para Todos (UNICEF, 1990), a Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) e a Convenção de Guatemala (BRASIL, 10 unidade 01
  • 11. 2012), passaram, então, a influenciar no Brasil a elaboração de leis e ações relacionadas às políticas públicas de educação inclusiva, as quais estão sendo efetivadas paulatinamente. Dentre os documentos anteriormente citados, a Declaração de Sala- manca constitui-se como o marco da educação inclusiva, elaborado durante a Conferência Mundial de Educação Especial, que reafirma: o direito à educação de todos os indivíduos, a igualdade de oportuni- dades às pessoas com deficiência e a promoção do acesso à educação para a maioria das pessoas que apresentam Necessidades Educacio- nais Especiais (NEE). No contexto da educação especial, de acordo com esse documento, o termo NEE refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou de dificuldades de aprendizagem. Esse documento reconhece “que toda criança possui características, inte- resses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas” - Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994). Sendo assim, ele direciona a reconfiguração da escola tradicional em uma escola inclusiva, e nos faz refletir sobre o lugar ocupado pela educação especial na perspectiva de uma educação inclusiva. Nesta direção, o Decreto N° 3.298/99 define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Vale salientar que, a partir do respeito aos direitos humanos e do exercício da cidadania fundamentado no reconhecimento das dife- renças e na participação dos sujeitos, fica claro que a educação é um dos caminhos do exercício dessa cidadania, e que se faz necessário respeitar os direitos de aprendizagem de todas as crianças, à medida que atende às suas necessidades educacionais especiais (NEE). Nessa direção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LD- BEN/96 (BRASIL, 1996), no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. Enten- demos, com isso, que essa garantia deve ser contemplada a partir unidade 01 11
  • 12. dos anos iniciais da educação básica, sobretudo no ciclo de alfabe- tização, na perspectiva de que saber ler e escrever é um direito de todos que até então não tem sido efetivado. Quando falamos em alfabetização via educação inclusiva, esta se configura como um instrumento de inserção da criança na socie- dade, e nos coloca diante de algumas reflexões pedagógicas. Para que a criança se aproprie do Sistema de Escrita Alfabética, que se configura como um direito de aprendizagem, é imprescindível a reformulação do currículo que rege as escolas, em função da reali- zação de práticas inclusivas. A Resolução Nessa perspectiva, muitas vezes, nós educadores perguntamos: nº 7, de 14 Como incluir e atender à diversidade? Se acreditarmos que é de dezembro possível, precisamos nos engajar no sentido de repensar o fazer de 2010, do Conselho Nacional pedagógico na alfabetização, visando ao atendimento de todos e de Educação, que a garantia dos direitos de aprendizagem. Para compreendermos fixa Diretrizes Curriculares e enfrentarmos esse processo, ressaltamos, então, os princípios Nacionais da educação inclusiva: acessibilidade e remoção das barreiras para o Ensino à aprendizagem, avaliação da aprendizagem numa perspectiva Fundamental de 9 (nove) anos, formativa, gestão participativa, participação da família e da co- pode ser lida no munidade, serviço de apoio especializado, currículo multicultural, caderno do ano 1, Unidade 8. professor com formação crítico-reflexiva (NAKAYAMA, 2007). Tais princípios nos chamam a atenção para o desafio de educar na diversidade, para isso, necessário se faz: conhecer cada estudante (suas necessidades, potencialidades, interesses, experiências pas- sadas, etc); identificar necessidades de aprendizagem específicas; planejar as aulas por meio de uma didática e de gestão do tempo, de modo que todos participem efetivamente da aula. Referências BRASIL. Presidência da República. Declaração de Salamanca e ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. BRASIL. Presidência da República. Ministério da Educação. Lei de diretri- zes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996. 12 unidade 01
  • 13. BRASIL. MEC/SEE. Educação inclusiva: a escola. V.3. Brasília, 2004. BRASIL. Presidência da República. Decreto n°.3.956, de 08 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Con- venção de Guatemala: 2001. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ ccivil_03/ Acesso em 22 de junho de 2012. NAKAYAMA, Antônio Maria. Educação inclusiva: princípios e representação. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo – Faculdade de Educação. 364p. 2007. UNICEF. Declaração mundial sobre educação para todos. Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem. Jomtiem, 1990. Conforme apresentado no quadro “Edu- e dos gestores, no esforço por cação Inclusiva”, o aprendiz conquista o construir currículos cultural- lugar social de um sujeito de direitos e a mente orientados. Propomos, educação inclusiva viabiliza a efetivação da a seguir, que se reescrevam os sua cidadania à medida que busca respei- conhecimentos escolares, que tar as peculiaridades de cada sujeito por se evidencie a ancoragem social meio de práticas de ensino acessíveis. desses conhecimentos, bem Repensar práticas de ensino da leitura e da como que se transforme a esco- escrita, assim como dos conhecimentos re- la e o currículo em espaços de lacionados às outras áreas de ensino, requer crítica cultural, de diálogo e de que pensemos, como Moreira e Candau desenvolvimento de pesquisas. (2007, p. 31), na relação entre currículo e Esperamos que nossos princí- cultura. Como apontam os referidos autores, pios possam nortear a escolha de novos conteúdos, a adoção de novos procedimentos e o esta- “Insistimos, inicialmente, na belecimento de novas relações necessidade de uma nova pos- na escola e na sala de aula.” tura, por parte do professorado unidade 01 13
  • 14. Ao proporem a elaboração de currículos de gênero, o que amplia o acesso à alfabe- culturalmente orientados, Moreira e tização a um maior número de crianças, Candau defendem, apoiados em Stoer e além de respeitar os seus direitos de Cortesão (1999), a superação do “daltonis- aprendizagem. mo cultural”. Na próxima seção, discutiremos sobre as mudanças nas práticas de alfabetização “Elaborar currículos cultural- relacionadas à tentativa de construção de mente orientados demanda currículos voltados a uma perspectiva de uma nova postura, por parte da educação inclusiva que garanta o direito de comunidade escolar, de aber- todos à aprendizagem da leitura e da escrita. tura às distintas manifestações culturais. Faz-se indispen- sável superar o “daltonismo cultural”, ainda bastante pre- Referências sente nas escolas. O professor “daltônico cultural” é aquele BRASLAVSKY, Berta. O método: panaceia, que não valoriza o “arco-íris negação ou pedagogia? Cadernos de Pes- de culturas” que encontra nas quisa, 66: 41:48, 1988. salas de aulas e com que precisa CHARTIER, Anne-Marie. Réussite, échec trabalhar, não tirando, por- et ambivalence de l’innovation pédagogi- tanto, proveito da riqueza que que: le cas de l’enseignement de la lecture. marca esse panorama. É aquele Recherche et Formation pour les profes- que vê todos os estudantes como sions de l’éducation: Innovation et réseaux idênticos, não levando em con- sociaux. INRP, n. 34, p. 41-56, 2000. ta a necessidade de estabelecer diferenças nas atividades peda- COOK-GUMPERZ, Jenny. Alfabetização e gógicas que promove.” (p. 31) escolarização: uma equação imutável? In: COOK-GUMPERZ, Jenny (org.). A constru- ção social da alfabetização. Porto Alegre: Nessa direção, um currículo multicultural Artes Médicas, 1991. implica em propostas curriculares inclu- sivas que compreendem as diferenças e MOREIRA, Antonio Flávio B. CANDAU, valorizam os alunos em suas especificida- Vera M. Currículo, conhecimento e cul- des, seja cultural, linguística, étnica ou tura. In: BEAUCHAMP, Jeanete. PAGEL, 14 unidade 01
  • 15. Sandra D; NASCIMENTO, Aricélia R. do. Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf. MOREIRA, Antonio Flávio B. e SILVA, Tomaz T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. MORTATTI, Maria do Rosávio L. Os sentidos da alfabetização (São Paulo: 1876-1994). São Paulo: Ed. UNESP; CONPED, 2000. STOER, Stephen e CORTESÃO, Luiza. Levantando a pedra: da pedagogia inter/multicultural às políticas educativas numa época de transnacionalização. Porto: Afrontamento, 1999. unidade 01 15
  • 16. Concepções de alfabetização: o que ensinar no ciclo de alfabetização Eliana Borges Correia de Albuquerque Na década de 1980, as práticas de alfabe- entender que o que a escrita alfabética nota tização baseadas em métodos sintéticos e no papel são os sons das partes das palavras analíticos que culminavam na retenção, na e que o faz considerando segmentos sonoros 1ª série, de uma grande parcela da popula- menores que a sílaba (os fonemas). ção que frequentava as redes públicas de Ainda de acordo com as referidas autoras, ensino passaram a ser amplamente critica- no processo de apropriação da escrita alfa- A discussão sobre das à luz de teorias construtivistas e intera- o Sistema de bética, as crianças ou adultos analfabetos Escrita Alfabética cionistas de ensino (em geral) e da língua passariam por diferentes fases relaciona- e seu ensino é (em particular). No campo da alfabetiza- objeto de reflexão das à forma como concebem as questões nos cadernos da ção, os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Unidade 3. acima citadas: inicialmente apresentariam Teberosky sobre a Psicogênese da Língua uma escrita pré-silábica, em que não Escrita (FERREIRO TEBEROSKY, 1984; há correspondência grafofônica, depois FERREIRO, 1985) vão influenciar no desen- passariam pela escrita silábica, em que já volvimento de novas práticas de alfabetiza- há essa correspondência, mas no nível da ção. Demonstrando que a escrita alfabética sílaba (uma letra representaria um síla- não era um código, o qual se aprenderia a ba) e não do fonema para posteriormente partir de atividades de repetição e memo- poderem chegar à escrita alfabética, na rização, as autoras propuseram uma con- qual percebem a relação fonema-grafema, cepção de língua escrita como um sistema ainda que apresentem trocas de letras na de notação que, no nosso caso, é alfabético. notação de alguns sons, já que essa fase Elas perceberam, por meio de pesquisas, não pode ser confundida com domínio da que, no processo de apropriação do Sistema norma ortográfica sendo, esta última, uma de Escrita Alfabética, os alunos precisariam tarefa de aprendizagem posterior. entender como esse sistema funciona. Para isso, é fundamental que compreendam o Para Ferreiro e Teberosky (1984), assim que a escrita nota (ou “representa”, “grafa”) como para outros pesquisadores (REGO, e como a escrita cria essas notações (ou “re- 1988), é interagindo com a escrita, con- presentações”). Eles precisariam, portanto, templando seus usos e funções, que as 16 unidade 01
  • 17. crianças se apropriariam da escrita alfa- inglesa literacy, que significa o estado ou bética, e não a partir da leitura de textos condição que assume aquele que aprende a “forjados” como os presentes em diferen- ler e escrever. tes cartilhas de alfabetização. Para esses No Brasil, o termo letramento não substi- autores, dependendo das oportunidades tuiu a palavra alfabetização, mas aparece de vivenciar práticas diferenciadas de lei- associada a ela. Atualmente ainda convi- tura e produção de textos (tanto na escola vemos com um alto índice de analfabetos, como fora dela), os aprendizes poderiam mas não podemos dizer que essas pessoas ter maior ou menor conhecimento sobre a são “iletradas”, pois sabemos que um “linguagem que usamos ao escrever” textos sujeito, criança ou adulto, que ainda não se de diferentes gêneros e sobre os diferentes apropriou da escrita alfabética, envolve-se usos sociais que damos a eles. em práticas de leitura e escrita por meio Assim, com a difusão dos trabalhos da da mediação de uma pessoa que sabe ler Psicogênese da Língua Escrita, vimos e escrever e, nessas práticas, desenvolve nascer um forte discurso contrário ao uso conhecimentos sobre os textos que circu- dos tradicionais métodos de alfabetização lam na sociedade (REGO, 1988; MORAIS e a defesa de uma prática que tomasse por e ALBUQUERQUE, 2004). Assim, por base a teoria psicogenética de aprendiza- exemplo, podemos ver que crianças peque- gem da escrita. Pregava-se a necessidade nas que escutam frequentemente histórias de possibilitar que as crianças se apro- lidas por adultos (em casa ou na escola), priassem do Sistema de Escrita Alfabética são capazes de pegar um livro e fingir que a partir da interação com diferentes textos leem a história usando, para isso, uma escritos em atividades significativas de linguagem característica desse gênero. leitura e produção de textos, desde a Edu- cação Infantil. O discurso da importância de se consi- derar os usos e funções da escrita com base no desenvolvimento de atividades significativas de leitura e escrita na escola foi incorporado, principalmente a partir da década de 90, a um novo conceito de alfabetização: o de letramento. Segundo Soares (1998), o termo letramento é a ver- são para o Português da palavra de língua unidade 01 17
  • 18. Por outro lado, é importante destacar cionados ao aprendizado da leitura, tais que apenas a interação com textos que como: a ampliação do Ensino Fundamen- circulam na sociedade não garante que os tal para 9 anos como forma de garantir alunos se apropriem da escrita alfabética, que os alunos da rede pública de ensino uma vez que, no geral, essa aprendizagem iniciem o processo formal de alfabetiza- não acontece de forma espontânea, mas ção aos seis anos de idade (BEAUCHAMP; exige um trabalho de reflexão sobre as PAGEL; NASCIMENTO, 2007), a defi- características do nosso sistema de escrita. nição dos três primeiros anos do Ensino Fundamental como o período destinado A despeito das novas concepções de alfa- à alfabetização (PNE 2011/2020 - BRA- betização e de mudanças nas práticas de SIL, 2011), o investimento na formação ensino da leitura e da escrita com base nas continuada de professores, por meio da novas perspectivas teóricas, muitos alunos criação da Rede Nacional de Formação continuaram a concluir o primeiro ano e de Professores e do desenvolvimento de mesmo o primeiro segmento do Ensino programas de formação continuada como Fundamental sem saber ler e escrever. o Pró-Letramento. Resultados de avaliações em larga escala, sejam internacionais (PISA), nacionais Paralelamente ao debate sobre tais políti- (SAEB, Prova Brasil), estaduais ou muni- cas relativas à formação dos professores e cipais, têm revelado o baixo desempenho sobre os resultados das avaliações em larga dos nossos alunos em leitura e confirmam escala, temos vivido também um amplo o fracasso da escola em ensinar os estu- debate sobre que métodos/metodologias dantes a ler. utilizar para alfabetizar nossos alunos. Reportagens publicadas em revistas de Algumas medidas têm sido efetivadas grande circulação criticam o ensino da lei- tanto no âmbito nacional, como no âmbi- tura e escrita com base em uma abordagem to das diferentes secretarias de educação, construtivista de alfabetização, afirmando para tentar superar os problemas rela- 18 unidade 01
  • 19. ser tal abordagem responsável pelo baixo inferências surgidos com a transposição índice de leitura apresentado por nossos dessa abordagem para a prática pedagógica educandos nos processos de avaliação. de alfabetização, tais como: privilégio da Defender, no entanto, a alfabetização faceta psicológica da alfabetização que obs- centrada em qualquer método sintético cureceu sua faceta linguística – fonética e ou analítico, como meio de superar o atual fonológica; incompatibilidade divulgada contexto de fracasso escolar na alfabeti- entre o paradigma conceitual psicogené- zação, é desconsiderar as contribuições tico e a proposta de métodos de alfabeti- das pesquisas que analisam o processo de zação; e, por fim, o pressuposto, também construção dos sujeitos na aprendizagem amplamente divulgado, de que apenas por da leitura e da escrita e os estudos sobre meio do convívio intenso com o material letramento. escrito que circula nas práticas sociais, a criança se alfabetizaria. Nessa perspectiva, Soares (2004), em seu artigo sobre as a alfabetização, como processo de apro- muitas facetas da alfabetização, comenta priação de um sistema de escrita conven- que os problemas que vivenciamos hoje re- cional com regras próprias, foi obscurecida lativos a essa fase da escolarização podem pelo letramento, porque “este acabou por estar relacionados, entre outras coisas, a frequentemente prevalecer sobre aquela, uma perda de especificidade do proces- que, como consequência, perde sua espe- so de alfabetização vivenciado nas duas cificidade” (SOARES, 2004, p. 9). últimas décadas, relacionada a um pro- cesso por ela chamado de “desinvenção da No entanto, para “reinventar a alfabe- alfabetização”. Para a referida autora, esse tização”, mais do que defender a volta processo foi causado, principalmente, pela dos antigos métodos de alfabetização mudança conceitual a respeito da aprendi- (analíticos ou sintéticos) que priorizam zagem da escrita que se difundiu no Brasil primeiro o ensino de um “código” para a partir de meados dos anos 1980, com a depois os alunos poderem ler e escrever divulgação dos trabalhos da psicogênese textos diversos, a autora defende o tra- da escrita. balho específico de ensino do Sistema de Escrita Alfabética inserido em práticas de Sem desconsiderar a incontestável contri- letramento. Nessa perspectiva, a referida buição que essa mudança paradigmática, autora propõe uma distinção entre os ter- na área da alfabetização, trouxe para a mos alfabetização e letramento. O pri- compreensão da trajetória da criança em meiro corresponderia à ação de ensinar/ direção à descoberta do sistema alfabético, aprender a ler e a escrever, enquanto o Soares destaca alguns equívocos e falsas segundo seria considerado como o estado unidade 01 19
  • 20. ou a condição de quem não apenas sabe realizados encontros com as docentes que ler e escrever, mas cultiva e exerce as tinham o objetivo de discutir as práticas práticas sociais que usam a escrita. Como observadas, e refletir sobre alguns aspec- afirmado por ela: tos constitutivos do processo de alfabe- tização. A análise dos resultados revelou “alfabetizar e letrar são duas que um grupo de professoras desenvolvia ações distintas, mas não inse- uma prática sistemática de alfabetização paráveis, ao contrário: o ideal que contemplava, diariamente, ativida- seria alfabetizar letrando, ou des de reflexão sobre o Sistema de Escrita seja: ensinar a ler e escrever no Alfabética, enquanto outras professoras contexto das práticas sociais da priorizavam o trabalho de leitura e pro- leitura e da escrita, de modo dução coletiva de textos. A realização de que o indivíduo se tornasse, ao um ditado com os alunos das professoras mesmo tempo, alfabetizado e mostrou que a maioria das crianças que letrado.” (Soares, 1998, p. 47) estudavam com as do primeiro grupo concluiu o ano na hipótese alfabética de Como desenvolver práticas de alfabetiza- escrita, enquanto nos outros grupos uma ção nessa perspectiva? Seriam essas práti- proporção maior de alunos apresentou cas efetivas? Algumas pesquisas têm sido hipóteses de escrita menos avançadas. As desenvolvidas com o objetivo de investigar experiências vivenciadas nos encontros como os professores estão construindo mensais, no entanto, possibilitaram que práticas de alfabetização na perspectiva do as docentes refletissem sobre suas práti- alfabetizar letrando e investigar a relação cas de ensino e, nesse processo, fossem dessas práticas com a aprendizagem dos recriando-as, na perspectiva do alfabeti- alunos. Relataremos, a seguir, de forma zar letrando. sucinta, duas dessas pesquisas. A segunda pesquisa foi desenvolvida por A primeira foi desenvolvida por Albu- Cruz (2008), e teve como objetivo verificar querque, Morais e Ferreira (2008) e as práticas de ensino da leitura e da escrita envolveu um grupo de nove professoras desenvolvidas por professores dos três que lecionavam no 1º ano do 1º ciclo da primeiros anos do Ensino Fundamental Secretaria de Educação da cidade do Reci- e a relação dessas práticas com a apren- fe. Como procedimentos metodológicos, dizagem dos alunos no que se refere ao além de observações semanais das aulas domínio do Sistema de Escrita Alfabética das professoras, uma vez por mês eram e à capacidade de produzir textos. Partici- param da pesquisa três professoras (uma 20 unidade 01
  • 21. de cada ano do 1º ciclo) e 60 alunos (15 ciclo se apropriarem do Sistema de Escri- do 1º ano, 20 do 2º ano e 25 do 3º ano) de ta Alfabética, ao mesmo tempo em que uma escola da Rede Municipal de Ensino ampliam suas experiências de letramento, do Recife. Como procedimentos meto- desde que sejam submetidos a atividades dológicos foram realizadas observações sistemáticas de alfabetização que os levem de aulas e atividades diagnósticas com os a refletir sobre o sistema de escrita, assim estudantes: escrita do nome de figuras como a atividades de leitura e produção de e uma atividade de reescrita de texto. A textos, como era o caso da turma partici- análise dos dados revelou que a maioria pante da pesquisa. A reflexão mais dos alunos das três turmas concluiu o ano O que estamos chamando de atividades de aprofundada na fase alfabética de escrita, apresentando sobre os princípios reflexão sobre o Sistema de Escrita Alfa- do Sistema de razoável domínio das correspondências fo- Escrita Alfabética bética? Como abordado por Leal e Morais nográficas diretas. Em relação à produção é contemplada na (2010), para compreender as proprieda- Unidade 3. textual, algumas crianças do 1º concluíram des do sistema alfabético, é necessário que o ano produzindo textos de forma legível e o indivíduo se aproprie de uma série de elaborada. Esses resultados apontam para conhecimentos, tais como: a possibilidade de alunos do 1º ano do 1º a) se escreve com letras, que não podem características físicas ou funcionais dos ser inventadas, que têm um repertório referentes que substituem; finito e que são diferentes de números e f) todas as sílabas do português contêm outros símbolos; uma vogal; b) as letras têm formatos fixos e pequenas g) as sílabas podem variar quanto às variações produzem mudanças na identidade combinações entre consoantes, vogais das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra e semivogais (CV, CCV, CVSv, CSvV, V, assuma formatos variados (P, p, P, p); CCVCC...), mas a estrutura predominante c) a ordem das letras é definidora da é a CV (consoante-vogal); palavra e, juntas, configuram-na, e uma h) as letras notam segmentos sonoros letra pode se repetir no interior de uma menores que as sílabas orais que palavra e em diferentes palavras; pronunciamos; d) nem todas as letras podem vir juntas de i) as letras têm valores sonoros fixos, outras e nem todas podem ocupar certas apesar de muitas terem mais de um valor posições no interior das palavras; sonoro e certos sons poderem ser notados e) as letras notam a pauta sonora e não as com mais de uma letra. (p. 35-36) unidade 01 21
  • 22. Nessa perspectiva, defendemos que as A definição de direitos de aprendizagem crianças possam vivenciar, desde cedo, colabora para a discussão acerca do que atividades que as levem a pensar sobre as pode ser priorizado no planejamento do características do nosso sistema de escrita, ensino e do que pode ser avaliado, tema de forma reflexiva, lúdica, inseridas em que será discutido na próxima seção. atividades de leitura e escrita de diferentes textos. É importante considerar, no entanto, que a apropriação da escrita alfabética não significa que o sujeito esteja alfabetizado. Referências Essa é uma aprendizagem fundamental, mas para que os indivíduos possam ler e produzir textos com autonomia é necessário ALBUQUERQUE, Eliana B.C., MORAIS, que eles consolidem as correspondências Artur G.; FERREIRA, Andrea T.B. As grafofônicas, ao mesmo tempo em que práticas cotidianas de alfabetização: o vivenciem atividades de leitura e produção que fazem as professoras? In: Revista de textos. É preciso, portanto, a definição Brasileira de Educação. V. 13, n.38. maio/ de direitos de aprendizagem relacionados ago 2008. aos diferentes eixos do ensino da Língua Portuguesa a serem desenvolvidos ao longo BEAUCHAMP, Jeanete, PAGEL, Sandra dos três primeiros anos do Ensino Funda- e NASCIMENTO, Aricélia. Ensino mental, tal como os que são sugeridos no fundamental de nove anos: orientações para primeiro fascículo do material do Programa inclusão da criança de seis anos. Brasília: Pró-Letramento, que propõe um conjunto Ministério da Educação, Secretaria de de capacidades a serem desenvolvidas pelos Educação Básica, 2007. alunos dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Outro exemplo de propo- BRASIL. Plano Nacional de Educação sição de direitos de aprendizagem pode PNE/2011-2020. Brasília: MEC/SEF, 2011. ser visualizado na seção Compartilhando CRUZ, Magna do Carmo Silva. Alfabetizar deste caderno. O principal objetivo dessa letrando: Alguns desafios do 1º ciclo proposição é que tal exemplo possa servir no Ensino Fundamental. Recife: Ed. de ponto de partida para a discussão, em Universitária da UFPE, 2008. cada município, acerca de conhecimentos e capacidades que possam ser propostos nos FERREIRO, Emilia TEBEROSKY, Ana. documentos oficiais que orientam o traba- Psicogênese da Língua Escrita. Porto lho nas escolas. Alegre, Artes Médicas, 1984. 22 unidade 01
  • 23. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. LEAL, Telma e MORAIS, Artur. O aprendizado do Sistema de Escrita Alfabética: uma tarefa complexa, cujo funcionamento precisamos compreender. In LEAL, Telma, ALBUQUERQUE, Eliana e MORAIS, Artur (orgs.). Alfabetizar letrando na EJA: fundamentos teóricos e propostas didáticas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. MORAIS, Artur e ALBUQUERQUE, Eliana. Alfabetização e letramento: o que são? como se relacionam? como alfabetizar letrando?. In: LEAL, Telma Ferraz e ALBUQUERQUE, Eliana (Org.). Alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. REGO, Lúcia L. B. A Literatura Infantil: Uma Nova Perspectiva da Alfabetização. 3. ed. São Paulo: FTD, 1988. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr, nº 25, 2004. unidade 01 23
  • 24. Avaliação no ciclo de alfabetização Eliana Borges Correia de Albuquerque Como vimos no texto anterior, até meados para o início do processo de alfabetização, da década de 1980, as práticas de alfabetiza- compensando as supostas carências cultu- ção se baseavam em métodos considerados rais, deficiências linguísticas e defasagens hoje como “tradicionais”, que tornavam afetivas que esses alunos – provenientes das artificiais as práticas escolares da leitura e camadas populares – apresentavam (KRA- da escrita. Liam-se e escreviam-se palavras, MER, 2006). frases e textos “cartilhados” (considerados Considerava-se, naquele contexto, que as pseudo textos) com o objetivo de aprender crianças que ingressavam no Ensino Funda- “o código” alfabético. Atreladas a essas prá- mental não possuíam conhecimentos sobre ticas de alfabetização desenvolvidas na 1º a língua e, ao mesmo tempo, julgava-se série do Ensino Fundamental observávamos necessário que todas elas tivessem desen- a realização de práticas de avaliação nomea- volvido uma maturidade para aprender a ler das hoje como tradicionais, cuja ênfase era e escrever relacionadas com as habilidades na medição/mensuração das aprendizagens anteriormente mencionadas. Uma vez diag- dos alunos e na classificação deles como ap- nosticado que elas estavam “aptas” para ini- tos ou não aptos para progredir no ensino. ciar esse processo, cabia ao professor, que Antes de iniciar o processo formal de alfa- seguia um determinado método, apresentar betização, era preciso avaliar se os alunos as unidades sonoras (sílaba, fonema) em apresentavam a “prontidão” necessária para uma sequência pré-estabelecida, unidades tal processo, relacionada ao desenvolvimen- estas que deveriam ser memorizadas pelos to de habilidades “psiconeurológicas” ou alunos. Como abordado por Albuquerque e “perceptivo-motoras” (coordenação mo- Morais (2006, p. 129), tora, discriminação auditiva e visual, etc.). Com a elevação do índice de repetência na 1ª série do Ensino Fundamental da escola “Os diferentes métodos contro- pública, vimos surgir programas de Educa- lavam e garantiam a aprendiza- ção Compensatória que tinham o objetivo gem quando existia prontidão. de preparar os alunos, na Educação Infantil O controle era feito a partir da (denominada de pré-escola na época), apresentação das unidades que 24 unidade 01
  • 25. deveriam ser memorizadas – le- escrita das letras, sílabas, palavras, frases tras/fonemas/padrões silábicos, e textos trabalhados. Era preciso garantir no caso dos métodos sintéticos, que os alunos dessem as respostas cor- ou textos/frases com um reper- retas, uma vez que o erro precisava ser tório de palavras que deveriam evitado, pois era indicador de que o estu- ser memorizadas, no caso dos dante não havia aprendido/memorizado o métodos analíticos – sempre que fora ensinado. com base em uma sequência a Como abordado no primeiro texto deste ser seguida. O aluno só poderia caderno, tal prática de avaliação era exclu- ser apresentado a novas unida- dente, pois desconsiderava o sujeito em des uma vez que tivesse memo- suas singularidades e não considerava suas rizado as anteriores. “ experiências/conhecimentos prévios, assim como seus percursos de aprendizagem. Os educandos, ao final do ano, eram apenas ro- Nessa prática de ensino da leitura e da tulados em aptos ou não aptos a prosseguir escrita, a avaliação era fundamental para os estudos, estando tal aptidão relacionada o bom andamento do processo. Avaliava- ao desempenho deles nas tarefas/provas -se se os alunos estavam aprendendo escolares e a suas capacidades de emitirem o código alfabético na perspectiva da as respostas corretas. memorização das unidades apresentadas/ ensinadas pelo professor e presentes no A partir da década de 1980, o fracasso esco- livro didático utilizado. O objetivo de tal lar que até então era visto como um proble- avaliação era o de medir e classificar a ma de deficiência ou carência cognitiva e aprendizagem dos alunos para determinar cultural dos alunos do meio popular, passou seu prosseguimento nos estudos, tanto no a ser relacionado, à luz das teorias cons- que se refere à sequência de apresentação trutivistas e sociointeracionistas de ensino das lições/unidades ao longo do ano, como (em geral) e da língua (em particular), às à passagem para a 2ª série. O propósito práticas tradicionais de ensino da leitura classificatório e seletivo de tal prática de e da escrita. No campo da alfabetização, avaliação evidencia-se nos altos índices de como vimos anteriormente, os trabalhos reprovação no final da 1ª série. de Emília Ferreiro e Ana Teberosky vão dar um novo sentido aos erros ou escritas não Ainda em relação a tais práticas de alfabe- convencionais dos alunos, que passaram a tização e avaliação, presentes na memória ser vistos como reveladores de suas hipóte- de muitos de nós, avaliava-se por meio ses de escrita. de atividades que exigiam a leitura e a unidade 01 25
  • 26. Como abordado por Albuquerque e Morais (2006), diferentemente de uma prática tradi- cional de alfabetização e avaliação, na perspectiva construtivista e interacionista de ensino, e também na perspectiva inclusivista, avaliam-se as conquistas e as possibilidades dos estu- dantes ao longo do ano escolar, e não apenas os impedimentos e as condutas finais e acaba- das. O erro, que antes precisava a todo custo ser evitado, já que era o principal sintoma de exclusão escolar, passa a ser considerado como indicador da forma como os alunos pensam sobre determinado conhecimento. Os objetivos das avaliações não se relacionam mais à simples medição de conhecimentos para determinar se estão aptos a progredir nos estudos, mas à identificação dos conhecimentos que os estudantes já desenvolveram, com o objetivo de fazê-los avançar em suas aprendizagens. Além disso, nessa perspectiva, a avaliação aten- de a diferentes objetivos, como alguns apontados por Leal (2003, p. 20): a) identificar os conhecimentos já construídos retomar o ensino de certos itens já ensinados pelos alunos, a fim de planejar as novas ou de usar estratégias de ensino alternativas, atividades de ensino de forma ajustada, isto a partir da verificação do que os alunos é, considerando as aprendizagens que eles aprenderam; já desenvolveram, as dificuldades ou lacunas c) decidir sobre se os alunos estão em que precisam superar; condições de progredir para um nível (série, b) decidir sobre a necessidade ou não de ciclo, etc.) escolar mais avançado. Nessa perspectiva, avalia-se tanto os alu- Quanto ao registro dessas avaliações, pode- nos, para mapear seus percursos de apren- -se também propor diversificação quanto Na unidade 2 o planejamento do dizagem, como as práticas pedagógicas aos instrumentos: cadernos de registros ensino é discu- tido, a partir do com o objetivo de analisar as estratégias de dos estudantes; os portfólios com a cole- pressuposto de que ensino adotadas de modo a relacioná-las tânea de atividades/registros realizados é a avaliação que fornece informa- às possibilidades dos educandos. Como pelas crianças ao longo de um determinado ções sobre quais são as prioridades a abordado por Ferreira e Leal (2006), “é período que permitem que tanto o professor serem consideradas papel de a escola ensinar, favorecendo, por como os próprios alunos acompanhem as no planejamento e sobre como agrupar meio de diferentes estratégias, oportuni- dificuldades e os avanços em uma determi- os estudantes em sala de aula. dades de aprendizagem, e avaliar se tais nada matéria; a ficha de acompanhamento estratégias estão sendo de fato adequadas” individual (de cada aluno) e coletiva (da (p. 16). classe). 26 unidade 01
  • 27. semântico que, no caso desta Ana Cristina Bezerra da Silva, professora turma, escolhi nome de alguns do 1º ano de uma escola da rede municipal animais (SAPO, CAVALO, MA- de ensino do Recife, relata de forma breve como faz uso da avaliação diagnóstica para CACO, CORUJA, VACA, GATO). identificar os conhecimentos das crianças Em outro momento fiz aplicação em relação ao Sistema de Escrita Alfabética de uma avaliação elaborada pela e poder planejar as atividades de forma a coordenadora para aplicação nas possibilitar que elas avancem em suas hipó- turmas do 1° ano, em seguida fo- teses de escrita: ram tabulados os acertos de cada criança de acordo com os descri- “Nos primeiros dias de aula des- tores estabelecidos pela escola. te ano letivo foi estabelecido pela Com base nessa tabela, foi pos- coordenação da escola, junta- sível fazer uma análise crítica de mente com todos os professores, como deveria ser a rotina e quais um período de sondagem inicial atividades seriam contempladas (ou diagnóstico da turma), para para que cada criança avançasse que pudéssemos descobrir o que do seu estágio inicial de escrita. cada aluno sabia sobre o sistema Com o resultado desta sondagem de escrita, bem como identificar organizei as primeiras atividades quais hipóteses da língua escrita para que pudesse fazer as inter- em que as crianças encontra- venções adequadas à diversidade vam-se para que pudéssemos de saberes da turma. Como, no adequar o planejamento das au- grupo de dezessete alunos, doze las de acordo com as necessida- estavam no nível pré-silábico, des de aprendizagem do grupo. iniciei as atividades partindo do Essa avaliação inicial me permite nome das crianças, para que as acompanhar os avanços na apro- crianças entrassem em contato priação do Sistema de Escrita com a leitura e a escrita através Alfabética durante todo ano. A do que lhe pertence, que é o seu sondagem inicial foi realizada nome. Elaborei também um através de uma atividade feita quadro, para que, no final de individualmente com a produ- cada bimestre, pudesse manter ção espontânea de uma lista de um registro criterioso do proces- palavras de um mesmo grupo so de evolução das hipóteses de unidade 01 27
  • 28. escrita das crianças, pois é atra- gias de ação relacionadas à alfabetização. Tal vés das sondagens e da obser- avaliação também acontece ao longo do ano vação cuidadosa e constante das e, com base nela e nas atividades desenvol- produções dos alunos durante o vidas diariamente, a docente preenche um ano, que eu posso saber em que quadro de registro de cada aluno, de modo momento se encontra cada um, a poder acompanhar os avanços de cada um e se a minha rotina está funcio- nas diferentes áreas. Por meio de tal quadro nando, e como posso ajustar o é possível, também, analisar o baixo ren- planejamento do meu trabalho dimento dos alunos de modo a pensar nas para que, no final do ano letivo, soluções para que efetivamente eles apren- todos estejam alfabetizados.” dam. Pode-se, por exemplo, realizar mudan- ças na organização de estratégias didáticas, (Ana Cristina Bezerra da Silva, com a possibilidade de acompanhamento professora do 1° Ano da Escola individual do aluno pelo professor em Municipal Maurício de Nassau – alguns momentos e por outro profissional da Recife/PE). escola (coordenador pedagógico, estagiário, etc.), em outros momentos. A professora Ana Cristina é a mesma docen- Por fim, é importante considerar que as te da pesquisa de Cruz, relatada no segundo mudanças nas práticas de alfabetização e texto deste caderno. Tais atividades citadas avaliação foram acompanhadas também são favorecidas porque existe um compro- de mudanças na organização de alguns misso entre os profissionais da escola em sistemas de ensino em regimes ciclados. No que ela trabalha de desenvolver uma prática Brasil, foi a partir da década de 1980, como de ensino da leitura e da escrita na perspec- forma de diminuir o gargalo na 1ª série do tiva do alfabetizar letrando. Ensino Fundamental, que a organização A proposta pedagógica da referida escola curricular em ciclos passou a ser instituída. contempla alguns direitos de aprendizagens Para Ferreira e Leal (2006, p. 18), a serem assegurados a cada ano do ciclo e os professores, juntamente com a equipe “[...] os argumentos para a ado- pedagógica, buscam alternativas para que ção do regime ciclado são mui- tais direitos sejam assegurados. Para isso, é essencial a realização de uma avaliação diag- tos. Um deles repousa na ideia nóstica no início do ano, para que o perfil da de que essa estrutura curricular turma seja traçado e a professora possa, jun- favorece a continuidade, a inter- tamente com a equipe, pensar nas estraté- disciplinaridade e a participa- 28 unidade 01
  • 29. ção, respeitando-se os ritmos e desenvolvimento de projetos de acompa- os tempos dos alunos. Há ainda, nhamento aos alunos com defasagem de nessas propostas, uma negação aprendizagem, projetos esses que são reali- da lógica excludente e competi- zados por parte de um grupo de professores tiva (quem vai chegar primeiro?) ou estagiários em determinados horários da e a adoção de uma lógica de in- semana ou no contra turno. clusão e solidariedade (partilha de saberes). Outro aspecto a des- tacar é a mudança da perspecti- va conteudista de “quanto já se Referências sabe sobre” para uma perspecti- va multicultural, que respeita a diversidade de saberes, práticas ALBUQUERQUE, Eliana e MORAIS, Artur. e valores construídos pelo grupo. Avaliação e alfabetização. In MARCUSCHI, Há, ainda, uma rejeição da busca Beth e SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua de homogeneização e uma valo- portuguesa: contribuições para a prática rização da heterogeneidade e da pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. diversidade.” FERREIRA, Andréa e LEAL, Telma. Avaliação na escola e ensino da Língua Portuguesa: introdução ao tema. In MARCUSCHI, Beth e Enfim, na perspectiva da inclusão que SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua norteia a proposta da organização escolar portuguesa: contribuições para a prática em ciclos é fundamental que os sistemas de pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. ensino (seriados ou ciclados) estabeleçam o que deve ser ensinado em cada ano escolar KRAMER, Sônia. As crianças de 0 a 6 anos nas e construam estratégias didáticas para que políticas educacionais no Brasil: Educação os estudantes progridam em seus conheci- Infantil e Fundamental In: Educação e mentos, respeitando-se a heterogeneidade Sociedade. Campinas, Vol. 27, n. 96. Especial, do grupo. É necessário pensar também em p. 797 – 818, out. 2006. formas de acompanhamento daqueles que LEAL, Telma Ferraz. Intencionalidade da não alcançaram as metas pretendidas para avaliação na Língua Portuguesa. In: SILVA, J. o ano e que vão prosseguir em seus estudos, F.; HOFFMANN, J.; ESTEBAN. M. T. Práticas de modo a garantir que não sejam excluídos avaliativas e aprendizagens significativas em do grupo. Algumas escolas e redes de ensino diferentes áreas do currículo. Porto Alegre: têm adotado estratégias relacionadas ao Mediação, 2003. unidade 01 29
  • 30. Compartilhando Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização – Língua Portuguesa O direito à Educação Básica é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, “tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22). Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua formação para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais. Dentre outros direitos, é prioritário o ensino da leitura e escrita, tal como previsto no artigo 32: Artigo 32 O ensino fundamental obrigatório, com das artes e dos valores em que se duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola fundamenta a sociedade; pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de III - o desenvolvimento da capacidade de idade, terá por objetivo a formação básica aprendizagem, tendo em vista a aquisição de do cidadão, mediante: conhecimentos e habilidades e a formação I - o desenvolvimento da capacidade de de atitudes e valores; aprender, tendo como meios básicos o pleno IV - o fortalecimento dos vínculos de família, domínio da leitura, da escrita e do cálculo; dos laços de solidariedade humana e de II - a compreensão do ambiente natural e tolerância recíproca em que se assenta a vida social, do sistema político, da tecnologia, social.
  • 31. Para atender às exigências previstas nas Em todos os quadros são expostas sugestões A Resolução nº 7, Diretrizes, torna-se necessário delimitar os acerca de como tratar a progressão de co- de 14 de dezembro diferentes conhecimentos e as capacidades nhecimento ou capacidade durante o ciclo de 2010, do Con- selho Nacional de básicas que estão subjacentes aos direitos. de alfabetização. A letra I será utilizada para Educação, que fixa Diretrizes Curricula- Nos quadros a seguir, alguns conhecimen- indicar que determinado conhecimento ou res Nacionais para o tos e capacidades estão descritos e podem capacidade deve ser introduzido na etapa Ensino Fundamen- tal de 9 (nove) anos, ser postos como pontos de partida para o escolar indicada; a letra A, indicará que a pode ser lida no caderno do ano 1, estabelecimento do debate. ação educativa deve garantir o aprofunda- Unidade 8. mento; e a letra C, indica que a aprendiza- São descritos direitos de aprendizagem gem deve ser consolidada no ano indicado. gerais, que permeiam toda a ação peda- gógica e depois são expostos quadros com Como poderá ser observado, um determi- conhecimentos e capacidades específicos nado conhecimento ou capacidade pode organizados por eixo de ensino da Língua ser introduzido em um ano e aprofundado Portuguesa: Leitura, Produção de textos em anos seguintes. A consolidação também Escritos, Oralidade, Análise Linguística. pode ocorrer em mais de um ano escolar, dado que há aprendizagens que exigem um O eixo Análise Linguística foi dividido em tempo maior para a apropriação. Nos eixos dois quadros, com o objetivo de destacar de produção e compreensão de textos, por as especificidades do ensino do Sistema exemplo, são muitas e variadas as situações de Escrita Alfabética, necessário para que sociais que demandam ações de escrita/ as crianças tenham autonomia na leitura e fala/escuta/leitura. Cada uma tem carac- produção de textos, separando tais direitos terísticas próprias em que determinados de outros aspectos da análise linguística, gêneros textuais circulam. Desse modo, é também fundamentais para a ampliação possível dizer que determinados gêneros das capacidades para lidar com as situa- podem ser introduzidos em um deter- ções de produção e compreensão de textos minado ano, demandando capacidades e orais e escritos. conhecimentos relativos a ele que podem ser aprofundados e consolidados naque- Ler e escrever com autonomia, le mesmo ano, e, no ano seguinte, outro neste documento, significa ler e gênero pode exigir que as mesmas capaci- escrever sem precisar de ledor dades, com maior nível de complexidade, ou escriba, o que só é possível nos sejam retomadas. Por exemplo, podem ser casos em que as crianças dominam realizadas situações didáticas para desen- o Sistema de Escrita Alfabética. volver nas crianças a capacidade de elaborar inferências, utilizando, para isso, textos de unidade 01 31
  • 32. determinado gênero, com determinado tipo conhecimento que se busca ao lidar com de vocabulário e de complexidade sintática; crianças de seis anos, não é o mesmo que a criança pode consolidar tal capacidade se busca com crianças de oito anos. O pro- naquele mesmo ano. No entanto, no outro fessor, sem dúvidas, precisa estar atento às ano de escolaridade, podem ser realiza- experiências e conhecimentos prévios de das outras situações didáticas em que se seu grupo classe, seus interesses e modos busca desenvolver a capacidade de elaborar de lidar com os saberes escolares. inferências mais complexas, na leitura de textos mais longos, com vocabulário mais Em todos os anos de escolarização, rebuscado, com estruturas sintáticas mais as crianças devem ser convidadas a complexas. Desse modo, naquele ano, tal ler, produzir e refletir sobre textos que circulam em diferentes esferas capacidade vai ser aprofundada e consolida- sociais de interlocução, mas alguns da. Concebe-se, portanto, que há aprendiza- podem ser considerados prioritários, gens que podem ser aprofundadas e consoli- como os gêneros da esfera literária; dadas durante toda a vida das pessoas. esfera acadêmica/escolar e esfera midiática, destinada a discutir temas É importante também salientar que o nível sociais relevantes. de aprofundamento de um determinado Direitos gerais de aprendizagem: Língua Portuguesa Compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros, veiculados em suportes textuais diversos, e para atender a diferentes propósitos comunicativos, considerando as con- dições em que os discursos são criados e recebidos. Apreciar e compreender textos do universo literário (contos, fábulas, crônicas, poemas, dentre outros), levando-se em conta os fenômenos de fruição estética, de imaginação e de lirismo, assim como os múltiplos sentidos que o leitor pode produzir durante a leitura. Apreciar e usar em situações significativas os gêneros literários do patrimônio cultural da infância, como parlendas, cantigas, trava línguas. Compreender e produzir textos destinados à organização e socialização do saber escolar/científico (textos didáticos, notas de enciclopédia, verbetes, resumos, resenhas, dentre outros) e à organização do cotidiano escolar e não escolar (agendas, cronogramas, calendários, cadernos de notas...). Participar de situações de leitura/escuta e produção oral e escrita de textos destinados à refle- xão e discussão acerca de temas sociais relevantes (notícias, reportagens, artigos de opinião, cartas de leitores, debates, documentários...). Produzir e compreender textos orais e escritos com finalidades voltadas para a reflexão sobre valores e comportamentos sociais, planejando e participando de situações de combate aos preconceitos e atitudes discriminatórias (preconceito racial, de gênero, preconceito a grupos sexuais, preconceito linguístico, dentre outros). 32 unidade 01
  • 33. Leitura Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ler textos não-verbais, em diferentes suportes. I/A A/C A/C Ler textos (poemas, canções, tirinhas, textos de tradição oral, dentre outros), com autonomia. I/A A/C C . Compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentes gêneros e com diferentes propósitos. I/A A/C A/C Antecipar sentidos e ativar conhecimentos prévios relativos aos textos a serem lidos pelo professor ou pelas crianças. I/A A/C A/C Reconhecer finalidades de textos lidos pelo professor ou pelas crianças. I/A A/C A/C Ler em voz alta, com fluência, em diferentes situações. I A C Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros, temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C C Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros, temáticas, lidos com autonomia. I A/C A/C Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I I/A A/C Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I A A/C Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêneros, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C C Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêne- ros, lidos com autonomia. I A A/C Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I/A A/C A/C Estabelecer relação de intertextualidade entre textos. I I/A C Relacionar textos verbais e não-verbais, construindo sentidos. I/A A/C A/C Saber procurar no dicionário os significados das palavras e a acep- ção mais adequada ao contexto de uso. I A I - Introduzir; A - Aprofundar; C - Consolidar. unidade 01 33
  • 34. Produção de textos escritos Ano 1 Ano 2 Ano 3 Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: . organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida- I/A A/C A/C des, com ajuda de escriba. Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida- I A A/C des, com autonomia. Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades, por meio da atividade de um escriba. I/A A/C C Produzir textos de diferentes gêneros com autonomia, atendendo a diferentes finalidades. I I/A A/C Gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando os períodos e utilizando recursos coesivos para articular ideias e fatos. I I/A A/C Organizar o texto, dividindo-o em tópicos e parágrafos. I A/C Pontuar os textos, favorecendo a compreensão do leitor. I A/C Utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero e às finalidades propostas I/A A/C A/C Revisar coletivamente os textos durante o processo de escrita em que o professor é escriba, retomando as partes já escritas e plane- I/A A A/C jando os trechos seguintes. Revisar autonomamente os textos durante o processo de escrita, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes. I/A A/C Revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os de modo a aperfeiçoar as estratégias discursivas. I A 34 unidade 01
  • 35. Oralidade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Participar de interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala. I/A A/C C Escutar com atenção textos de diferentes gêneros, sobretudo os mais formais, comuns em situações públicas, analisando-os criticamente. I/A A/C A/C Planejar intervenções orais em situações públicas: exposição oral, debate, contação de história. I A/C C Produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes pro- pósitos, sobretudo os mais formais comuns em instâncias públicas (debate, entrevista, exposição, notícia, propaganda, relato de expe- I I/A A/C riências orais, dentre outros). Analisar a pertinência e a consistência de textos orais, consideran- do as finalidades e características dos gêneros. I A A/C Reconhecer a diversidade linguística, valorizando as diferenças culturais entre variedades regionais, sociais, de faixa etária, de I A A/C gênero dentre outras. Relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema de escrita, as variantes linguísticas e os diferentes gêneros textuais. I A C Valorizar os textos de tradição oral, reconhecendo-os como manifestações culturais. I/A/C A/C A/C unidade 01 35
  • 36. Análise linguística: discursividade, textualidade e normatividade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Analisar a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos . interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina. I/A A/C A/C Conhecer e usar diferentes suportes textuais, tendo em vista suas características: finalidades, esfera de circulação, tema, forma de I/A/C A/C C composição, estilo, etc. Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção. I/A/C I/A/C I/A/C Conhecer e usar palavras ou expressões que estabelecem a coesão como: progressão do tempo, marcação do espaço e I A A/C relações de causalidades. Conhecer e usar palavras ou expressões que retomam coesivamente o que já foi escrito (pronomes pessoais, sinônimos e equivalentes). I A A/C Usar adequadamente a concordância e reconhecer violações de concordância nominal e verbal. I A/C Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares diretas entre letras e fonemas (P, B, T, D, F, V). I/A A C Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares contextuais entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro (C/QU; G/GU; R/RR; SA/SO/SU em início de palavra; JA/JO/ I A/C JU; Z inicial; O ou U/ E ou I em sílaba final; M e N nasalizando final de sílaba; NH; Ã e ÃO em final de substantivos e adjetivos). Conhecer e fazer uso de palavras com correspondências irregula- res, mas de uso frequente. I A Saber usar o dicionário, compreendendo sua função e organização. I A/C Saber procurar no dicionário a grafia correta de palavras. I A/C Identificar e fazer uso de letra maiúscula e minúscula nos textos produzidos, segundo as convenções. I A A/C Pontuar o texto. I A/C Reconhecer diferentes variantes de registro de acordo com os gêneros e situações de uso. I A C Segmentar palavras em textos. I A/C 36 unidade 01