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FERNANDO MELO
2 0 1 2
TREINO DESPORTIVO
COM CRIANÇAS E JOVENS
FERNANDO MELO
FICHA TÉCNICA
	 Título:	 TREINO DESPORTIVO COM CRIANÇAS E JOVENS
	Autor:	FERNANDO MELO
	Edição:	DIRECÇÃO REGIONAL DA JUVENTUDE
	Tiragem:	250 EXEMPLARES
	 Depósito Legal:	 349262/12
	 Execução Gráfica:	 COINGRA, LDA.
“Não existe o fracasso quando se tenta o nosso melhor.
O único fracasso consiste em não dar o seu máximo”.
Tom MacNab
(treinador de Atletismo)
1	 NOTA INTRODUTÓRIA......................................................................................
2	 O TREINO DESPORTIVO..................................................................................
3	 O ESTADO DE PRONTIDÃO DESPORTIVA.....................................................
4	 ETAPAS DA FORMAÇÃO DESPORTIVA...........................................................
5	 AS FASES SENSÍVEIS......................................................................................
6	 O ORGANISMO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.....................................
	 6.1	 O crescimento estatural...............................................................................
	 6.2	 O crescimento ponderal...............................................................................
	 6.3	 O crescimento do tecido ósseo...................................................................
	 6.4	 O crescimento do tecido muscular..............................................................
	 6.5	 O tecido adiposo..........................................................................................
	 6.6	 O tecido linfático e timo...............................................................................
	 6.7	 Transformações internas.............................................................................
		 6.7.1 O sistema cardiovascular...................................................................
		 6.7.2 O sistema respiratório.........................................................................
		 6.7.3 Temperatura corporal basal................................................................
		 6.7.4 O crescimento do cérebro..................................................................
	 6.8	 O desenvolvimento do sistema reprodutor..................................................
		 6.8.1 Maturação sexual na rapariga............................................................
		 6.8.2 Maturação sexual no rapaz................................................................
		 6.8.3 Estádios do desenvolvimento genital masculino................................
		 6.8.4 Estádios do desenvolvimento das mamas.........................................
		 6.8.5 Estádios do desenvolvimento da pilosidade púbica (Fem. e Masc.)..
7	FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BIO-MOTORAS NO
PROCESSO DE TREINO...................................................................................
	 7.1	 Haverá uma dimensão espiritual do treino desportivo?...............................
	 7.2	 O treino da força com crianças e jovens.....................................................
		 7.2.1 Desenvolvimento da força e fases sensíveis......................................
		 7.2.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da força com crianças
e jovens..............................................................................................
	 7.3	 O treino da velocidade com crianças e jovens............................................
		 7.3.1 Desenvolvimento da velocidade e fases sensíveis............................
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ÍNDICE
7.3.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da velocidade com
crianças e jovens................................................................................
	 7.4	 O treino da resistência com crianças e jovens............................................
		 7.4.1 Desenvolvimento da resistência e fases sensíveis............................
		 7.4.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da resistência com
crianças e jovens................................................................................
	 7.5	 O treino da flexibilidade com crianças e jovens...........................................
	 	 7.5.1 Desenvolvimento da flexibilidade e fases sensíveis ..........................
	 	 7.5.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da flexibilidade com
crianças e jovens................................................................................
	 7.6	 O treino da coordenação com crianças e jovens.........................................
		 7.6.1 Situações práticas..............................................................................
		 7.6.2 Formas de manifestação das capacidades coordenativas.................
		 7.6.3 Desenvolvimento da coordenação e fases sensíveis.........................
		 7.6.4 Princípios metodológicos do desenvolvimento da coordenação com
crianças e jovens................................................................................
8	 CARACTERIZAÇÃO DO ESFORÇO.................................................................
	 8.1	 Andebol, Judo e Voleibol.............................................................................
		 8.1.1 Condições objectivas..........................................................................
		8.1.2 Complexidade.....................................................................................
		 8.1.3 Massa muscular solicitada..................................................................
		8.1.4 Volume................................................................................................
		8.1.5 Intensidade.........................................................................................
	 8.2	 Ténis, Futebol e Basquetebol......................................................................
		 8.2.1 Condições objectivas..........................................................................
		8.2.2 Complexidade.....................................................................................
		 8.2.3 Massa muscular solicitada..................................................................
		8.2.4 Volume................................................................................................
		8.2.5 Intensidade.........................................................................................
9	BIBLIOGRAFIA...................................................................................................
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1 - NOTA INTRODUTÓRIA
O treino com crianças e jovens tem merecido uma crescente atenção, no contexto nacio-
nal e internacional. No entanto, apesar da metodologia do treino desportivo ter evoluído muito,
nestas últimas décadas, o certo é que o conhecimento sobre as repercussões das cargas de
treino nos jovens continua a ser, ainda, muito limitado.
Pode parecer absolutamente desnecessária, porque evidente, a ideia de que a criança
“não é um adulto em miniatura”. Todavia, se assim é, não podemos partir do princípio de que
aquilo que está correcto para o atleta adulto, esteja necessariamente correcto para o atleta
jovem.
Convém reflectir sobre o significado da prática do desporto, no que diz respeito à melho-
ria da qualidade de vida das crianças e dos jovens. Assim, teremos de partir de vários pres-
supostos, realçando-se, para além da adequação permanente das solicitações propostas às
suas capacidades e motivações, a imperiosa ligação do prazer à prática realizada.
É grande a importância do trabalho que os treinadores desenvolvem com as crianças e
com os jovens, exercendo, por vezes, uma maior influência nas suas vidas, do que aquela que
é exercida pelos próprios pais. Isto confere ao treinador um papel fundamental na formação
desportiva dos jovens, como promotor de um código ético de valores, atitudes e comporta-
mentos que caracterizam o “espírito desportivo” - aspecto essencial da formação desportiva e
elemento integrante da prática desportiva.
Há já algum tempo que este livro está projectado, mas, por condicionalismos vários, só
agora é possível a sua publicação. Com ele, pretendeu-se reunir um conjunto de temáticas,
cujos conhecimentos não podem estar arredados do treinador de jovens atletas. No entanto,
não foi nossa intenção esgotar os temas abordados, mas sim lançar a semente para uma
formação mais aprofundada.
Parte-se da convicção de que o desporto pode ser uma verdadeira “escola de virtudes”,
uma vez que continuamos a acreditar na dimensão educativa, social e cultural que envolve a
actividade física e desportiva. Incluímo-nos no grupo daqueles que reforçam a ideia de que
não há formação integral sem a inclusão da educação física e do desporto. Assim, está plena-
mente justificada a importância do treinador de atletas jovens pela dimensão da sua respon-
sabilidade no processo global da formação desportiva da juventude.
O conteúdo deste livro não se destina apenas a treinadores, mas também a professores,
estudantes de educação física e desporto, pais e encarregados de educação, ou seja, a todos
aqueles que, tendo à sua guarda a responsabilidade de educar, vêem nas actividades físicas
e desportivas um meio privilegiado de educação.
2 - O TREINO DESPORTIVO
Para Verjoshanski (1990), o treino “ é um processo pedagógico complexo, com aspectos
muito variados, que têm uma forma específica de organização e que o convertem numa acção
sistemática, complexa e global, actuando sobre a personalidade e sobre o estado físico do
sujeito”. Adianta aquele investigador que o treino, “pela sua natureza é uma actividade motora
específica, sistemática e dirigida à formação e à educação completa do atleta”.
Manno (1994) refere que o objectivo do treino, na preparação desportiva, é desenvolver
as adaptações de que o organismo necessita para realizar o esforço adequado à especialidade
desportiva que se pratica.
Assim, o treino será a aplicação de um estímulo ou carga que objectiva a adaptação
do organismo, provocando modificações funcionais e morfológicas, as quais possibilitam a
obtenção de elevados rendimentos. Desta forma, a carga de treino surge como uma forma de
“agressão” ao organismo, levando a que o indivíduo perca o seu equilíbrio interno, verificando-
se uma ruptura na sua hemeostasia.
Ora, se esta ruptura for equilibrada, o que implica uma correcta aplicação da carga, o
organismo vai estabelecer um novo estado de equilíbrio qualitativamente superior. É desta
correcta direcção da relação carga - adaptação que resulta toda a evolução desportiva,
traduzindo-se numa melhoria das prestações desportivas.
Frohner (2003) alerta para a necessidade da qualidade e quantidade dos estímulos de
treino, sobretudo quando se fala no treino em idades infanto-juvenis. Adianta ainda que o facto
de se ultrapassar os limites individuais de esforço, quer em qualidade quer em quantidade,
põe em perigo a recuperação do organismo e, consequentemente, a saúde das crianças e
dos jovens.
Pode afirmar-se que o treino desportivo é um processo planificado e complexo que tem
como objectivo aumentar o rendimento. No entanto, não devemos esquecer que o treino
desportivo é também um processo pedagógico que pode favorecer, como refere Hahn (1988),
“determinados comportamentos e despertar interesses que se convertem em categorias de
valores que são decisivos para o jovem, ao alcançar a idade adulta”.
Fernando Melo12
A metodologia do treino com crianças e jovens, remete-nos para uma interrogação de
capital importância que é o de sabermos as repercussões das diferentes cargas de treino num
organismo em crescimento. Efectivamente, o conhecimento destas repercussões nas idades
pré e pós pubertárias é ainda reduzido, tornando-se evidente a necessidade da realização de
mais estudos, que determinem os efeitos das cargas de treino e respectivas adaptações no
organismo das crianças e dos jovens - Pate e Ward (1996); Bailey (1996); Blimkie e Bar-Or
(1996); Docherty (1996); Praagh (1996).
Durante o período pubertário, para além das modificações dimensionais, o organismo do
jovem sofre modificações fisiológicas importantes, repercutindo-se sobre o processo de treino
do adolescente jovem. Sobral (1988) refere que estas modificações afectam a generalidade
dos sistemas orgânicos e, como tal, tendem a reflectir-se na capacidade de esforço do
indivíduo.
TREINO
Estímulo
AGRESSÃO
MELHORIA DOS RESULTADOS
RESTABELECIMENTO DE UM
NOVO NÍVEL DE EQUILIBRIO
RUPTURA DA HOMEOSTASIA
Na problemática do treino com crianças e jovens é importante determinar, na evolução da
prestação desportiva, o que resulta do processo maturacional do indivíduo e aquilo que resulta
do processo de treino. Esta questão, cuja resolução nos parece difícil, senão impossível, deve
levar-nos a uma profunda reflexão, tornando-se imperioso, como refere Sobral (1988), “dispor
de instrumentos e indicadores que nos proporcionem uma avaliação rigorosa do estatuto
maturacional do jovem atleta”.
Assim, o treinador de atletas jovens tem de estar consciente de que a idade cronológica
dos seus atletas (aquela que é referida no seu Bilhete de Identidade), nem sempre
corresponde à idade biológica ou maturacional, pois cada indivíduo evolui a um ritmo
próprio. Crepon (1985) refere que “é certo que existem médias nos diferentes domínios,
mas a variabilidade em relação a esta média mantém-se uma regra fundamental - certas
crianças evoluem mais rapidamente, outras mais lentamente que a média, podendo, no
entanto, ser todas perfeitamente normais”.
Fig 1: O processo do Treino Desportivo.
13Treino Desportivo com Crianças e Jovens
A tendência, verificada tanto a nível nacional como internacional, para se recrutar
crianças e jovens com idades cada vez mais baixas para a prática desportiva nas diferentes
modalidades levanta, naturalmente, algumas questões, que têm sido colocadas tanto pelos
pais, como pelos treinadores e investigadores do desporto.
Em que idades a criança (ou o jovem) deve envolver-se em actividades desportivas?
Será que, para se ter sucesso no desporto, há vantagens em iniciar-se o mais cedo
possível?
Quando é que a criança está pronta para competir?
3 - O ESTADO DE PRONTIDÃO DESPORTIVA
Para Seefeldt (1982), a palavra prontidão (do inglês readiness) implica que o organismo
atingiu um determinado ponto, fruto da acumulação de acontecimentos e de experiências, que
levam o indivíduo a ser capaz de adquirir todo um conjunto de informações, habilidades (skills)
ou valores. Seefeldt (1982) refere que o conceito de prontidão passou por diversas alterações
de interpretação durante as últimas décadas.
Na primeira metade do século XX, pensava-se que a maturação biológica da criança era
o principal factor que influenciava a aprendizagem das diferentes habilidades motoras. No
entanto, investigações posteriores tornaram bastante evidente o papel do envolvimento na
aprendizagem das crianças.
A noção de prontidão desportiva foi adaptada do conceito de prontidão para as aprendi-
zagens escolares por autores como Seefeldt e Malina, sendo introduzida na terminologia das
ciências do desporto durante a década de 80. Entende-se por estado de prontidão desportiva
“a situação de equilíbrio entre as exigências próprias do treino e da competição desportiva e
as capacidades actuais de resposta da criança e do jovem a essas exigências” Sobral (1993).
Refere o mesmo autor que, para obtermos uma informação fiável acerca da prontidão des-
portiva de um jovem relativamente a um desporto em particular, teremos de analisar sucessi-
vamente:
1. “As exigências físicas, motoras e psíquicas da modalidade, com base numa análise
das tarefas mais determinantes que a mesma apresenta.
2. O estado de crescimento, maturação e desenvolvimento do jovem, ao nível das quali-
dades mais relevantes nesse domínio particular da prestação desportiva.
3. Os elementos característicos do contexto competitivo da modalidade, em relação com
a situação sociocultural e familiar em que o atleta se encontra”.
Para Magill (1982), o estado óptimo de prontidão desportiva ocorre quando o nível
maturacional da criança, a experiência motora anterior e a motivação são apropriados
ao skill que se quer aprender. Daqui resulta que, para se compreender melhor o estado
da prontidão desportiva, os três factores anteriormente citados têm de ser entendidos
numa perspectiva integrada, em que o peso de cada factor varia em função dos dife-
rentes skills.
Fernando Melo16
Em relação ao facto de existirem ou não vantagens em iniciar-se a prática do desporto o
mais cedo possível, Magill (1982) refere que é impossível predizer se há vantagens ou não,
uma vez que há um conjunto muito alargado de factores que devem ser considerados. Es-
tes factores são aqueles que estão relacionados com as características individuais de cada
criança e, ainda, aqueles que se relacionam com as características dos “skills” que vão ser
aprendidos. Além disso, tal como é referido no modelo anterior, não se deve esquecer o papel
da motivação.
Os estudos realizados neste domínio indicam que não é prioritário o facto de a criança se
envolver o mais cedo possível em actividades desportivas. O que é importante é que ela, ao
envolver-se, se encontre num estado óptimo de prontidão, para poder ter sucesso nas suas
aprendizagens. Assim, para que uma criança possa aprender as técnicas de um determinado
desporto, terá que, em primeiro lugar, possuir os pré-requisitos necessários para ser bem su-
cedida naquele desporto.
Brown (2001), reconhecendo que não há um tempo certo para cada criança se envolver
em actividades desportivas organizadas, refere que os indivíduos estão prontos para competir,
em idades diferentes. Estas actividades expõem a criança a exigências físicas e emocionais
para as quais ela está, ou não está, preparada para as suportar. Neste sentido, Brown (2001)
segue a mesma linha de pensamento de Magill (1982), alertando para a necessidade do es-
tado óptimo de prontidão desportiva aquando do início do envolvimento das crianças com as
actividades desportivas.
Magill (1982) conclui, referindo-se aos seguintes aspectos que devem estar na mente de
todo o treinador de atletas jovens:
Fig 2: Modelo da Prontidão Desportiva (Magill,1982).
Nível Maturacional
Motivação
Experiência Motora Anterior
Prontidão
Desportiva
17Treino Desportivo com Crianças e Jovens
1. O treino deve estar orientado para a aprendizagem dos “skills” básicos de cada des-
porto, promovendo, de modo multiforme, as aquisições dos fundamentos técnicos e
tácticos das diferentes modalidades.
2. Deve evitar-se a especialização precoce, pois não restam dúvidas de que uma espe-
cialização, especialmente antes da puberdade, não traz benefícios futuros. A direc-
ção da carga de treino deve estar orientada para uma prática generalizada e, quando
possível, para a prática de outras modalidades desportivas. Mesmo considerando um
único desporto, não deve haver especialização. Por exemplo, os jovens praticantes
de atletismo devem beneficiar de uma prática generalizada de todas as disciplinas da
modalidade, assim como os jovens futebolistas devem passar por todas as posições
do campo, não se especializando em nenhuma delas.
3. O treino deve dar à criança (e ao jovem) oportunidades de sucesso, de modo a que
ela se sinta atraída em participar nas actividades que lhe são propostas. Será, pois,
necessário, todo um envolvimento que leve a criança a dar um sentido àquilo que faz,
integrando os seus hábitos desportivos nas suas necessidades do quotidiano, fazendo
com que estes perdurem pela vida fora.
4. A idade cronológica da criança, nem sempre corresponde à idade biológica ou matu-
racional. Se uma criança apresenta um grau de maturação retardado, não pode exibir
o mesmo nível de mestria dos diferentes “skills” motores das outras crianças que são
avançadas no seu estatuto maturacional. Assim, aquilo que por vezes é considerado
como uma falta de habilidade ou de potencialidades para triunfar mais tarde no despor-
to, não é mais do que o resultado de um inadequado estado de prontidão manifestado
pela criança, na aprendizagem das diferentes habilidades motoras.
Quanto a este último aspecto, Coronado (1988) refere que em Espanha, ao pretender-
-se seleccionar saltadores em altura, entre jovens de 12 a 16 anos, numa população de 300
alunos, divididos em diferentes classes, realizou-se uma competição inicial. Procedeu-se, du-
rante três meses, ao ensino técnico e efectuou-se uma nova competição final. Comprovou-se
que a maioria dos vencedores eram indivíduos com uma maturação adiantada, quer dizer,
mais baixos do que a média do seu curso, com um desenvolvimento muscular importante e
com sinais de maturação, como a voz grave ou pêlos nas pernas e nos braços. Estes rapazes
eram capazes de ultrapassar a sua estatura, enquanto que outros, fisicamente mais adequa-
dos para a especialidade, (devido ao seu grande crescimento: 20 a 25 cm superior ao dos
vencedores e também devido ao seu desenvolvimento tardio), praticamente eram incapazes
de levantar as pernas do solo. Naturalmente estes perdedores foram escolhidos, conseguindo
alguns deles, anos mais tarde, serem internacionais juniores e absolutos na equipa nacional
espanhola.
Para Passer (1982), a competição é um processo de comparação social. Sob o ponto de
vista motivacional, a prontidão desportiva ocorre quando a criança se sente atraída por parti-
cipar em situações que lhe permitem comparar-se com outras crianças. Várias investigações
Fernando Melo18
têm realçado o facto de que em crianças de pouca idade, isto não se verifica - Roberts; Scan-
lan; Sherif; citados por Passer, (1982). No entanto, os dados destas investigações sugerem
que, no início dos primeiros anos da escola primária, as crianças começam a manifestar in-
teresse em comparar-se umas com as outras em termos das suas capacidades motoras. Ro-
wen, citado por Passer (1982), refere que é por volta dos 6/7 anos que as crianças começam
a transformar todo o tipo de situações em pequenas competições, para ver quem é o “melhor”.
Passer (1982) recomenda que as crianças com idades inferiores a 7/8 anos não devem
ser encorajadas a participar em competições, visto que só a partir daquelas idades é que co-
meçam a sentir-se motivadas para competir.
Contudo, não devemos deixar de considerar que o conceito de prontidão desportiva é
extremamente complexo e que, para além dos aspectos motivacionais, envolve também as-
pectos de natureza biológica, motora e social.
4 - ETAPAS DA FORMAÇÃO DESPORTIVA
O processo de formação desportiva tem de ser encarado como um processo a longo pra-
zo. Independentemente de os jovens poderem atingir (ou não) os patamares mais elevados
do rendimento desportivo, é vantajoso que o contacto com as actividades físicas e desportivas
apareça numa fase precoce das suas vidas e que o desporto seja um elemento integrante do
seu dia-a-dia.
Pelos dados da investigação, sabemos que são necessários muitos anos de treino (10 a
12 anos) para se alcançar resultados de nível internacional e que o planeamento a longo pra-
zo torna-se uma exigência para se atingir a excelência desportiva. No entanto, não devemos
esquecer que apenas uma pequeníssima percentagem dos jovens que se iniciam no desporto
consegue alcançar a alta competição.
Bompa (2002) refere que o treino desportivo deve começar na infância para que o atleta
possa progressiva e sistematicamente preparar-se para atingir a excelência, num processo devi-
damente planeado e orientado por princípios científicos. Em síntese, o planeamento a longo prazo
torna-se uma exigência para se atingir a excelência desportiva.Acrescente-se ainda que, ao longo
de todo o processo de formação, os atletas desenvolvem-se e evoluem de modo distinto, devendo
as cargas de treino respeitar critérios de adaptação psicobiológicos de cada organismo.
Como já foi referido anteriormente, a idade cronológica nem sempre corresponde à idade
biológica ou maturacional do indivíduo. Os jovens de maturação tardia não devem ser prete-
ridos relativamente aos seus pares de maturação precoce. A estes, como são maiores, mais
fortes e mais resistentes, por vezes, são-lhes dadas mais oportunidades de competir, enquan-
to os outros ficam no banco de suplentes.
Uma das directizes do treino de crianças e jovens, sugeridas por Bompa (2002), aponta
para a necessidade de os mesmos passarem, numa fase inicial, por um trabalho multilateral
e, posteriormente, por uma fase de treino mais específica. Alerta ainda aquele autor para a
importância das crianças desenvolverem várias habilidades fundamentais, antes de se inicia-
rem na prática de qualquer modalidade desportiva. Tal facto requer, da parte dos treinadores
e pais, muita paciência, pois muitos deles, na ânsia de alcançarem resultados a curto prazo,
encaminham os jovens para um treino demasiado especializado, comprometendo-se, assim,
toda a evolução futura dos jovens atletas.
Fernando Melo20
Bompa (2002), mencionando uma pesquisa soviética, publicada por Nagorni, em 1978,
refere que a maioria dos atletas considerou que o seu sucesso foi possível devido à base do
trabalho multilateral, realizado desde a infância até à idade júnior. O estudo conclui que, para
a maior parte dos desportos, a especialização não se deve iniciar antes da idade dos 15/16
anos.
O atleta percorre um longo caminho, até atingir a excelência desportiva. Passa por diver-
sas etapas que vão consolidando cada vez mais a sua formação e é capaz de tolerar, progres-
sivamente, maiores exigências de treino e de competição. Apesar das diferentes propostas de
classificação existentes a nível internacional, tornou-se comum considerar-se no processo de
formação desportiva, as seguintes etapas:
	 1 - Iniciação
	
	 2 - Orientação
	 3 - Especialização
Em relação à definição etária das etapas da formação desportiva, verificamos que não é
igual para todas as modalidades, apresentando cada modalidade uma especificidade própria.
Assim, o início da prática desportiva difere de modalidade para modalidade, bem como as
idades em que se verifica o início da especialização.
Quadro 1 - idades médias do início, especialização e pico de prestação em diversas moda-
lidades desportivas, segundo Bompa,1990).
Idade para
alcançar o alto
rendimento
Idade para iniciar a
especialização
Idade para iniciar a
prática do desporto
DIRECTIZES PARA O
CAMINHO RUMO À
ESPECIALIZAÇÃO
Atletismo
Basquetebol
Boxe
Ciclismo
Esgrima
Esqui
Futebol
Ginástica Fem.
Ginástica Masc.
Halterofilia
Natação
Remo
Tenis
Voleibol
10-12
7-8
13-14
14-15
7-8
6-7
10-12
6-7
6-7
11-13
3-7
12-14
6-8
6-8
13-14
10-12
15-16
16-17
10-12
10-11
11-13
10-11
12-14
15-16
10-12
16-18
12-14
12-14
18-23
20-25
20-25
21-24
20-25
20-24
18-24
14-18
18-24
21-28
16-18
22-24
22-25
20-25
21Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Vejamos quais os objectivos globais de cada uma das etapas anteriormente referidas,
servindo-nos do exemplo do Atletismo1
.
Etapa de Iniciação: formação psicomotora variada de base, com desenvolvimento dos
pressupostos gerais do atletismo.
Etapa de orientação: início da especialização específica no atletismo - num bloco de
disciplinas.
Etapa de especialização: desenvolvimento dos pressupostos para o rendimento máximo
numa disciplina do atletismo com o objectivo final de atingir o mais alto nível internacional.
Poderá eventualmente considerar-se uma quarta etapa, correspondente à prática da mo-
dalidade ao nível da alta competição. Decorrente dos objectivos globais, determinam-se os
seguintes objectivos específicos:
Etapa de Iniciação:
• optimização e estabilização da saúde dos praticantes através de uma prática e de um
controlo adaptados aos praticantes.
• aprendizagem das “regras” básicas da modalidade.
• desenvolvimento do espírito associativo nos praticantes.
• desenvolvimento de atitudes correctas perante o desporto em geral e, em especial,
perante o treino e a competição.
• contribuição para o conhecimento teórico básico da actividade desportiva, em geral, e
do atletismo, em particular.
• constituição, fundamentalmente através da actividade jogada, de uma base alargada de
capacidades e habilidades motoras.
• desenvolvimento da prestação técnica variada, de forma a permitir uma participação
competitiva segura no maior número possível de disciplinas do atletismo - saltos, corri-
das e lançamentos.
• participação privilegiada em provas combinadas.
Etapa de Orientação:
• aprofundar os objectivos anteriores.
• orientação para um dos blocos de disciplinas - saltos, corridas ou lançamentos.
• desenvolvimento de todos os factores do treino específicos do bloco de disciplinas escolhido.
• aperfeiçoamento do nível geral das capacidades condicionais e coordenativas.
• aperfeiçoamento das qualidades psico-morais específicas do bloco de disciplinas escolhido.
• “colecção” de experiências competitivas variadas inclusive em outras modalidades des-
portivas consideradas complementares.
1 FPA - Plano/Regulamentação/Sistematização da Formação de Treinadores, s/d
Fernando Melo22
Etapa de especialização:
• especialização mais acentuada numa disciplina.
• contribuição para uma mais significativa expressão da individualidade do praticante.
• Promoção da obtenção de resultados desportivos de nível superior  internacional.
• acentuada diferenciação entre a optimização e a maximização das capacidades moto-
ras.
• aperfeiçoamento das qualidades psico-morais exigidas pela especificidade da disciplina
em que se promove a especialização.
• promoção de uma autonomia mais acentuada do atleta, quer em treino quer em com-
petição.
• orientação do treino - forma - para as competições mais importantes.
• maior diferenciação dos objectivos do treino.
• estímulo à libertação das reservas individuais assim como à deslocação do limiar da
mobilização.
5 - AS FASES SENSÍVEIS
As hipóteses sobre a existência das chamadas “Fases Sensíveis” no desenvolvimento
das capacidades motoras têm suscitado novamente um grande interesse nos investigadores
do desporto, convertendo-se num tema central nos cursos de treinadores, relativamente ao
treino com crianças e jovens - Baur (1990).
Interroga-se aquele investigador sobre as seguintes questões:
1. Que se deve entender por fases sensíveis?
2. Existirão realmente no desenvolvimento humano fases sensíveis?
3. Quais são os indicadores da sua existência?
Se efectivamente as fases sensíveis existem, será necessário tomá-las em conta na pro-
gramação a longo prazo do desporto infanto-juvenil?
Investigadores da Psicologia do Desenvolvimento e da Fisiologia Comportamental re-
ferem que a evolução motora não é biologicamente linear, mas sim irregular. Demeter,
citado por Grosser et al. (1989), diz que se alternam períodos de evolução lenta, relacio-
nadosbcom a idade, as condições de vida e as particularidades individuais com outros
de maturação rápida, a nível morfológico e funcional. No final destes períodos rápidos,
encontramo-nos em condições especialmente favoráveis para o desenvolvimento das ca-
pacidades motoras. Estes períodos correspondem às chamadas Fases Sensíveis ou Fases
Sensitivas.
Porém, e segundo Winter (1987), apesar destes dois conceitos se usarem juntos em tex-
tos recentes e serem interpretados como sinónimos, ele prefere a denominação do primeiro,
uma vez que o conceito de “Fase Sensível” é a expressão original usada desde há muito em
várias disciplinas científicas para definir fenómenos análogos. Para além da palavra “sensível”
ser usada nas ciências do desporto em várias expressões, Winter (1987) refere que, sob o
ponto de vista linguístico, o adjectivo “sensível” corresponde ao objecto que se quer expressar
com a expressão de fase sensível: uma fase na qual há uma sensibilidade particular direccio-
nada a determinados estímulos externos.
Fernando Melo24
Podemos, pois, definir “Fases Sensíveis” como sendo determinados períodos do proces-
so de desenvolvimento do ser humano nos quais este, submetido a certos estímulos, reage,
adaptando-se com muito mais intensidade do que em qualquer outro período - Thiess, Schna-
bel, Baumann, citados por Carvalho (1983).
O conceito de “Fase Sensível” apareceu, em primeiro lugar, em embriologia. Foi possível
estabelecer que no desenvolvimento morfológico dos organismos animais e vegetais havia
períodos cronologicamente limitados, nos quais os sistemas celulares reagiam com particular
sensibilidade a estímulos ambientais - Baur (1990).
No que se refere à ontogênese humana, os fenómenos mais amplamente estudados têm
sido o desenvolvimento da linguagem e o das relações sociais. Lennenberg, citado por Baur
(1990), aponta uma fase sensível para o desenvolvimento da linguagem aproximadamente
entre os 2 anos e a puberdade. Refere o mesmo autor que normalmente as crianças apren-
dem a falar entre o 18º e o 23º mês de vida (se se tomar como referência a primeira frase com
duas palavras). Parece que antes, não é possível a criança aprender a falar, mesmo que seja
estimulada para este fim. Esta fase sensível termina com a puberdade e a sua determinação
baseou-se em dados sobre a afasia provocada por traumatismos, isto é, sobre a perda da
capacidade de falar depois de uma lesão nervosa.
No que respeita às investigações sobre o comportamento social, relativamente à existên-
cia de fases sensíveis, as conclusões são incertas e pouco claras - Baur (1990).
Quanto à existência de fases sensíveis no desenvolvimento das capacidades motoras,
as opiniões dos investigadores, para além de não serem coincidentes, são, por vezes, diver-
gentes.
Tomemos, por exemplo, a força rápida. Volkov, citado por Winter (1987), demonstrou um
aumento progressivo no incremento desta capacidade com o avanço da maturação sexual.
No entanto, Werbitz chegou a conclusões opostas (máximas taxas de incremento na etapa
inicial da maturação sexual, decrescendo acentuadamente até ao final). Wolanski, citado por
Winter (1987), aponta um período favorável para o desenvolvimento da força rápida dos 7/8
anos até aos 12/13 anos, enquanto que Ivanovich, com base em estudos realizados em gran-
de escala, afirma que os 15 anos de idade são os mais favoráveis para o desenvolvimento da
força dinâmica.
Na realidade, os resultados das várias investigações divergem de forma bastante notória
tanto ao nível dos incrementos médios de variação das diferentes capacidades motoras, como
em relação às idades em que se registam os incrementos mais elevados.
Desta forma, Baur (1990) põe em discussão os dados que sustentam a afirmação cor-
rente de que se observam períodos com incrementos particularmente elevados no desenvol-
vimento das capacidades motoras. Para o mesmo autor, as discussões sobre o período de
maior treinabilidade da resistência aeróbia, por exemplo, documentam, uma vez mais, que
25Treino Desportivo com Crianças e Jovens
os dados que hoje conhecemos são incertos e pouco claros. Baur (1990), tendo por base os
dados disponíveis, refere que não é possível verificar com segurança quais os ciclos de ida-
des em que as diferentes capacidades motoras, (à excepção das capacidades de força e da
resistência anaeróbia), são treináveis com uma maior eficácia.
Para outros investigadores: Thiess, Schabel, Baumann, citados por Carvalho (1983);
Hahn (1988); Grosser et al. (1989), a hipótese das fases sensíveis está amplamente compro-
vada, muito embora estejamos ainda no início da construção de uma teoria sobre “Fases Sen-
síveis”, dado as investigações sobre algumas capacidades motoras serem ainda insuficientes
e mesmo apresentarem resultados controversos - Carvalho (1988 a).
Para concluir, apresentamos seguidamente os aspectos que julgamos mais relevantes
na problemática do treino com crianças e jovens no que se refere às Fases sensíveis - Winter
(1987); Hahn (1988); Carvalho (1988 b); Grosser et al. (1989).
1.	 É indiscutível que o treino das capacidades motoras, quer sejam elas coordenati-
vas ou condicionais, não tem o mesmo efeito em qualquer idade. Assim, os perío-
dos ontogenéticos, em que se verifica uma maior sensibilidade do organismo para
o desenvolvimento de uma determinada capacidade, são considerados de fases
sensíveis. A sua existência não se pode por em dúvida, se bem que em parte não
sejam ainda identificadas suficientemente. Por outro lado, não existe uma fase
sensível geral, mas sim várias, diferenciadas em relação a cada uma das capaci-
dades motoras.
2.	 Podemos aceitar, sem qualquer reserva, que, durante o desenvolvimento ontogené-
tico do homem, existem períodos durante os quais se registam notáveis incrementos
no rendimento das diferentes capacidades motoras. Tais períodos, podem conside-
rar-se como uma indicação da existência de uma fase sensível. Porém, os elevados
incrementos de rendimento verificados, não provam, por si só, a existência de uma
fase sensível. Por exemplo, quando um jovem se inicia no treino da resistência, o
mais provável é que ele melhore o seu desempenho competitivo, podendo este perí-
odo coincidir ou não com uma fase sensível.
3.	 Não basta conhecer os períodos correspondentes às fases sensíveis das dife-
rentes capacidades motoras. Torna-se igualmente fundamental que o treinador
saiba escolher os meios e os métodos mais eficazes e adequados ao desenvol-
vimento da cada uma das capacidades. É também importante que o treinador se
oriente, tanto quanto possível, pela idade biológica ou maturacional e não pela
idade cronológica da criança e do jovem, levando em conta as diferenças entre
os dois sexos.
4.	 É igualmente importante referir que é possível e necessário treinar também fora das
idades das fases sensíveis. Não deve existir unilateralidade nem exclusividade no
desenvolvimento desta ou daquela capacidade, nesta ou naquela idade. As fases
sensíveis não podem estar limitadas a um espaço temporal de apenas um ano, como
referem, por exemplo, Kuznecova e Ivanovick - citados por Winter (1987), mas sim a
um período mais longo, abrangendo várias idades.
Fernando Melo26
5.	 A utilização das fases sensíveis no processo do treino da criança e do jovem deve
levar-nos a  uma reflexão do tipo pedagógico-desportivo, que questione as finalida-
des do treino, entendido também como um processo educativo. Isto não anula, de
modo algum, a importância do rendimento desportivo nas crianças e nos jovens. Ape-
nas pretende-se sublinhar todo um conjunto de reflexões pedagógicas, que têm em
vista uma correcta aplicação metodológica, possibilitando assim nos nossos jovens
um elevado nível formativo.
Quadro 2: Percentuais anuais de variação da capacidade de resistência.
(indicador: corrida de 800 metros) Fonte: Baur (1990).
Quadro 3: Percentuais anuais de variação da capacidade de resistência de força.
(indicador: elevação do tronco,”sit ups”.Fonte: Baur (1990).
Idade
Kohler (RDA, 1976) Fetz (Austria, 1976)
Masc. Masc.Fem. Fem.
8
9
10
11
12
13
14
15
16
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
8,3
7,7
14,3
0,0
12,5
0,0
-5,6
16,7
0,0
14,3
0,0
0,0
0,0
13,2
6,9
3,3
7,4
1,9
2,9
1,9
5,5
0,0
7,8
19,5
7,8
6,7
6,9
12,9
2,1
6,6
4,3
3,2
34,4
3,5
4,5
0,0
6,5
4,0
-2,9
-1,0
0,0
4,0
14,0
10,8
7,6
7,7
7.8
2,2
3,8
0,5
3,1
5,7
7,1
0,3
4,9
5,9
0,9
3,8
6,4
1,7
4,9
7,2
2,6
5,6
2,6
-3,0
1,2
-1,9
-1,0
6,4
2,3
6,3
4,9
-3,2
0
10,2
Idade
Hebbelinck/Borms
(Belgica,1978)
Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.
Fetz
(Austria,1982)
Crasselt et al.
(RDA, 1985)
6 - O ORGANISMO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Pode parecer absolutamente desnecessária, porque evidente, a ideia de que a criança
“não é um adulto em miniatura”. Se assim é, não podemos partir do princípio de que aquilo que
está correcto para o atleta adulto está necessariamente correcto para o atleta jovem.
O desenvolvimento desportivo do jovem praticante “representa um processo a longo pra-
zo, que não pode efectuar-se fora do respeito pelas etapas do desenvolvimento do indivíduo”
- Gonçalves (1989).
As cargas de treino a que estão sujeitas a criança e o jovem devem respeitar critérios
de adaptação psicobiológicos do organismo. Todos os indivíduos crescem, mas nem todos
crescem da mesma maneira. Há em cada indivíduo como que um “relógio biológico” que
marca o ritmo de crescimento e desenvolvimento individuais. A idade cronológica do indivíduo
pode não corresponder à sua idade biológica, verificando-se, assim, uma discrepância entre
ambas. Com efeito, um rapaz de 12 anos pode ter 14 anos biológicos (maturação avançada),
ou 10 anos biológicos (maturação tardia). Assim, verifica-se que em competições em que os
jovens competem segundo um critério que segue a idade cronológica, existe uma competição
desigual entre os jovens de maturação tardia e os de maturação avançada.
Idade Cronológica
Versus
Idade Maturacional
10 anos 12 14 anos
Maturação Retardada Maturação avançada
O esforço
deve respeitar critérios de adaptação
psicobiológicos do
organismo do adolescente
Fernando Melo28
Relativamente a este assunto, Astrand (2000) refere que a caracterização de um indi-
víduo sobre a base de uma escala de idade pode ser prática, mas é biologicamente defei-
tuosa, uma vez que o crescimento acelerado da adolescência tem um profundo efeito sobre
o rendimento físico. Deste modo, um indivíduo pode atingir um elevado nível de rendimento
físico devido simplesmente a uma questão de maturação avançada e não, como se poderia
inicialmente supor, ao seu talento.
Consciente deste facto, todo o treinador deve, por isso, ajustar os seus métodos de treino
ao nível de maturação e de crescimento dos seus atletas. Esta questão levou Alford (1988) a
afirmar: “Os jovens atletas precisam dos melhores treinadores”.
Com efeito, a adequação das cargas de treino às possibilidades dos atletas, é um
problema central de toda a Metodologia do Treino, uma vez que, e como diz Proença
(1990), “a determinação da carga de treino é um objectivo a perseguir, um desafio na
procura de reduzir as possibilidades de erro, sem, todavia, encontrar soluções exactas e
milagrosas”.
A este propósito, Frohner (2003) refere que nas idades infanto-juvenis o respeito pelos
limites de tolerância do sistema biológico deve estar na primeira linha das preocupações do
treino, visto que, nesta fase vital, os indivíduos são mais propensos a sofrer transtornos cau-
sados pelo esforço. Assim, torna-se imperioso estabelecer esforços correctos e adequados às
possibilidades das crianças e dos jovens.
De um ponto de vista fisiológico, a entrada na adolescência corresponde à puber-
dade, sendo esta caracterizada, como refere Nicoletti (1984), para além de um aumento
da velocidade de crescimento de todo o organismo, pelo desenvolvimento do sistema
de reprodução e dos caracteres sexuais secundários, em particular do pénis, testículos
e pêlos púbicos, nos rapazes, enquanto que, nas raparigas, é caracterizada pelo desen-
volvimento das mamas e dos pêlos púbicos. Estes caracteres (nas raparigas também a
idade da menarca) são tomados em consideração quando se quer avaliar a normalidade
do desenvolvimento puberal. Para além das mudanças físicas, acontecem também nesta
etapa mudanças psicológicas e emocionais que marcam a transição para a vida adulta.
O que define mais destacadamente esta transição é a aquisição da capacidade reprodu-
tora.
O termo puberdade tem origem no latim pubertas, que significa “idade da virilidade”. Apa-
rece a meio da adolescência e significa, para a maioria dos autores, procriar.
Todas estas transformações, como refere Katchadourian (1977), acarretam em si profun-
das repercussões psicológicas e sociais.
29Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Para Sinding (1994), a puberdade (termo da biologia e da medicina), ou adolescência
(termo mais geral para designar esta fase de transição entre a infância e a idade adulta), é, por
definição, um período crítico. Mas isto não quer dizer que seja, necessariamente, um período
difícil.
Birraux (1994) refere que com a puberdade “todos os pensamentos, todas as represen-
tações da criança mudam: elas são infiltradas por um desejo de sedução. O mundo interior
torna-se estranho e inquietante”.
Vejamos, pois, quais as principais transformações pelas quais passa o organismo do
jovem, ao longo da puberdade, nos mais variados domínios.
Idade da Virilidade
Possibilidade de procriar
(Pubertas)
Repercussões
Sociais
Repercussões
Psicológicas
SALTO PUBERTÁRIO
PUBERDADE
Transformações
Dimensionais
Fisiológicas
Fernando Melo30
6.1 - O crescimento estatural
O treinador de atletas jovens facilmente se apercebe de que, a partir de um determinado
momento, se verifica como que uma “erupção” no crescimento dos seus atletas. Convém re-
ferir que por CRESCIMENTO “se entende o conjunto das modificações dimensionais do corpo,
enquanto que o termo MATURAÇÃO se associa ao processo de regulação genética que de-
termina o momento, a intensidade e a cadência a que se processam aquelas modificações”
- Sobral (1993).
Para Pérez (1994), o DESENVOLVIMENTO refere-se “às modificações que o ser humano
sofre ao longo da sua existência, implicando não só a maturação do organismo e o crescimen-
to corporal, mas também toda a influência do ambiente sobre a pessoa”.
O crescimento em altura é uma das transformações mais evidentes que ocorre durante a
puberdade, determinando, no corpo do jovem, um aspecto magro e adelgaçado.
Não é totalmente possível predizer a altura que o jovem irá ter quando for adulto. No en-
tanto, existem tabelas que determinam a percentagem da altura adulta para cada idade. Uma
dessas tabelas está representada no Quadro 4, muito embora os dados se refiram à popula-
ção dos Estados Unidos da América. Assim, um rapaz de 14 anos com 1,67m, provavelmente
terá 1,81m na idade adulta.
Idade Masc Fem Idade Masc Fem
1 42 45 10 78 84
2 50 53 11 81 88
3 54 57 12 84 93
4 58 62 13 87 97
5 62 66 14 92 98
6 65 70 15 96 99
7 69 74 16 98 100
8 72 78 17 99 100
9 75 81 18 100 100
Quadro 4 – Percentagem da Idade Adulta.
Fonte: National for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (USA).
As chamadas curvas de crescimento relacionam entre si as idades e as medidas de uma
característica fundamental como a estatura, o peso, etc.
31Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Na Fig.3 está representada a curva de distância, em que cada ponto da curva representa
a distância percorrida no percurso que conduz ao tamanho adulto, verificando-se alterações
no crescimento durante aquele período.
Fig. 3 – Curva de distância. Fonte: Sobral (1988).
Podemos também representar o crescimento humano, considerando a velocidade do
crescimento, ou seja, os incrementos em altura, de uma idade a outra. É o que se verifica na
Fig. 4, que representa a curva de velocidade.
Fig. 4 – Curva de velocidade. Fonte: Sobral (1988).
Comparando estas duas curvas, pode-se constatar que, apesar da altura aumentar ao
longo da infância, o grau em que ela ocorre decresce muito rapidamente nos primeiros anos
de vida, e depois menos acentuadamente até ao início do salto pubertário, onde se verifica
uma aceleração.
Fernando Melo32
De acordo com Tanner, citado por Katchadourian (1977), um elemento característico da
curva de velocidade de crescimento, é um ponto chamado take-off que corresponde a um
repentino aumento da velocidade do crescimento. Para indicar este fenómeno, emprega-se
geralmente o termo inglês spurt (impulso ou salto pubertário). O take-off corresponde, exacta-
mente, à idade do início do salto pubertário.
Como se pode ver na configuração da curva de velocidade, a partir do take-off, existe um de-
clive muito acentuado que traduz a intensidade do crescimento dimensional, e um pico que coincide
com a taxa máxima de crescimento (PVA). Conforme escreve Sobral (1988), “a partir daí, os incre-
mentos tornam-se sucessivamente menores, até que cessam completamente quando o indivíduo,
sob a influência concertada do meio, actualiza o seu potencial genético para a dimensão conside-
rada. Ao período que medeia entre o take-off e o pico de velocidade chamamos salto pubertário”.
O salto pubertário é um fenómeno que ocorre em todas as crianças, mas devemos ter
bem presente que varia em intensidade e duração de indivíduo para indivíduo; todas as crian-
ças crescem, mas não crescem todas da mesma maneira.
Como refere Sobral (1988), “o preciso momento em que este salto se desencadeia varia
de população para população e de geração para geração”. Dados fiáveis obtidos em dife-
rentes países mostram que, desde 1900, crianças em idade pré-escolar eram mais altas em
média 1,0 centímetro e mais pesadas 0,5 quilogramas por década – Katchadourian (1977);
Falkner e Bakwin, citados por Katchadourian (1977), referem que os ganhos durante a puber-
dade eram em média de 2,5 centímetros e 2,5 quilogramas, e para os adultos de 1,0 centíme-
tro por década.
Contudo, segundo Sobral (1988), “existem dois factos invariantes a reter: o primeiro é a
precedência do fenómeno em cerca de dois anos entre as raparigas, e o segundo é a configu-
ração constante da curva (subentenda-se: no crescimento normal), seja qual for a população,
o sexo ou a idade maturacional do indivíduo”.
Quanto à idade do início do salto pubertário, Tanner (1962) refere que nos rapazes se
inicia em média dos 12½ aos 15 anos, enquanto que nas raparigas, cerca de 2 anos mais
cedo, ou seja, dos 10½ aos 13 anos. Tal como salienta Sobral (1988), “uma precisão deverá
estar sempre presente: em média, referindo que algumas raparigas e alguns rapazes, podem
iniciar a puberdade mais cedo, outros mais tarde”.
Desta forma, o treinador de atletas jovens deverá sempre admitir que nem todos os
jovens, embora tendo a mesma idade cronológica, estão no mesmo estádio de maturação,
pois o que determina o salto pubertário não é a idade cronológica do indivíduo, mas sim o seu
estádio maturacional.
A idade em que se atinge a adolescência é, pois, muito variável. Tal facto faz com que dois
jovens com a mesma idade cronológica possam estar em estádios de maturação opostos (um
retardado, outro avançado), sem, no entanto, haver transgressão dos limites da normalidade.
33Treino Desportivo com Crianças e Jovens
A este propósito, Sobral (1988) refere que “uma criança de 11 anos de idade cronológica,
pode ter, em termos maturacionais, uma idade compreendida entre os 9 e os 13 anos, sem
que deva falar-se de deficiência de crescimento e/ou desenvolvimento”. No entanto, Nicoletti
(1984) refere que curvas de velocidades estaturais diversas podem todavia conduzir a uma
mesma estatuta final, pelo que a estatura final, na prática, é independente, nos rapazes nor-
mais, quer da idade de início da puberdade, quer do incremento estatural obtido durante o
salto pubertário.
Fig. 5 – Curvas de velocidade do crescimento estatural em raparigas e rapazes.
Fonte: (Shuttleworth, mencionado por Tanner, 1962).
No Quadro 5 estão representados os valores dos decis e dos quartis das distribuições da
altura, em investigações conduzidas por Sobral e Silva (1999), num estudo de crescimento e
aptidão física na população escolar, na Região Autónoma dos Açores. Sobral já tinha iniciado
o estudo em 1986, continuando-o em 1989. A partir dos resultados observados em 1999 e
comparando-os com os dados referentes a 1989, os autores afirmam que se observam “algu-
mas características destacáveis de estado e de tendência de crescimento” Assim, verificam-
-se incrementos decenais significativos das médias quer nos rapazes quer nas raparigas: 2,5
e 2,9 cm, respectivamente.
O Quadro 6 refere os dados antropométricos encontrados por Vila (1990), que, ao
aplicar a bateria EUROFIT em jovens catalães em idade juvenil (15 anos), praticantes de
várias modalidades ao nível do alto rendimento, encontrou diferenças significativas relati-
vamente à altura, sendo os desportistas mais altos 5,1 centímetros que os seus pares não
desportistas. Quanto ao peso, o mesmo autor refere que os jovens desportistas eram mais
pesados (62 versos 59 quilogramas), embora as diferenças entre os dois grupos não fossem
significativas.
Fernando Melo34
Estes dados são consistentes com aqueles obtidos por Melo (1997), que, ao estudar os
efeitos da aplicação temporária de cargas de treino no desenvolvimento de algumas capacida-
des motoras em jovens pubertários (15 anos), registou diferenças significativas, relativamente
à altura, entre os jovens desportistas e não desportistas, sendo os primeiros mais altos 4,6
centímetros (171,2 versus 166,6). Relativamente ao peso, o mesmo autor não encontrou dife-
renças significativas, sendo, no entanto, os jovens desportistas mais pesados em média 4,0
Kg do que os seus pares não desportistas (61 versus 57).
Quadro 6 - Comparação entre jovens desportistas e não desportistas (15 anos)
relativamente às variáveis antropométricas, altura e peso (Vila, 1990).
Quadro 5 – Descis e quartis (F) das distribuições da estatura (Sobral e Silva, 1999).
F Sexo 10 11 12 13 14 15
10 M 130,3 135,7 138,9 144,8 151,4 161,2
F 133,9 136,8 142,6 146,5 150,4 153,9
20 M 134,1 139,7 143,6 152,3 156,9 164,1
F 137,0 140,1 146,3 150,2 153,1 155,8
25 M 135,3 140,8 144,1 153,4 158,2 165,2
F 137,5 141,1 147,7 151,3 153,7 156,4
30 M 135,9 142,1 145,4 154,8 159,8 165,9
F 138,5 142,3 147,6 152,0 154,9 156,6
40 M 138,6 144,3 146,5 157,0 162,3 167,4
F 139,6 143,9 149,1 154,0 156,9 158,7
50 M 140,1 146,1 147,8 159,0 163,7 169,5
F 141,6 145,4 151,3 155,9 158,1 159,5
60 M 142,1 147,1 150,5 160,5 166,5 171,0
F 143,8 147,8 153,1 157,2 159,5 160,5
70 M 143,2 149,1 152,3 164,6 168,6 172,5
F 145,9 150,5 154,9 158,3 160,6 163,8
75 M 144,0 150,4 153,2 165,6 169,0 173,9
F 147,5 151,7 155,8 159,1 162,2 164,1
80 M 145,1 152,9 157,0 166,6 169,4 175,0
F 148,4 152,8 156,5 160,1 163,4 164,7
90 M 148,7 156,2 159,9 169,0 170,9 177,8
F 151,0 157,1 159,1 162,5 166,0 167,1
  Desportistas Não desportistas
  MÉDIA SD n MÉDIA SD n p
Altura 173,5 10,2 13 168,4 7,8 262 *
Peso 62,0 12,1 13 59,0 9,4 262
35Treino Desportivo com Crianças e Jovens
6.2 - O crescimento ponderal
Segundo Frohner (2003), o aumento da massa corporal inicia-se cerca de dois anos
mais cedo nas raparigas do que nos rapazes, razão pela qual aos 13/14 anos, as rapari-
gas são mais pesadas do que os rapazes da mesma idade. Nestes, o aumento da massa
corporal começa mais tarde e prolonga-se até ao final da adolescência (18/19 anos). Nas
raparigas, o aumento do peso termina muito antes, aproximadamente aos 15/16 anos.
A curva do peso, desde o nascimento até à idade adulta, assemelha-se à curva da
estatura. No entanto, e como salienta Nicoletti (1984), ao contrário da estatura, o peso
não pode ser interpretado de modo satisfatório se apenas for considerado em função da
idade. Com efeito, ele está sobretudo em relação com a estatura.
Heald e Hung, citados por Katchadourian (1977), referem que aos 10 anos, os ra-
pazes atingem apenas 55% e as raparigas 59% do seu peso adulto. Segundo Tanner
(1962), o pico de velocidade do peso, ocorre cerca de 6 meses depois do pico de veloci-
dade da estatura.
Os dados apresentados no Quadros 7 referem-se aos valores dos decis e dos quar-
tis das distribuições do peso, em investigações anteriormente citadas, realizadas por
Sobral e Silva (1999), na Região Autónoma dos Açores. Os autores referem que, com-
parando os valores relativos a 1989 e 1999, os rapazes apresentam incrementos das
médias variando entre 1,7 kg e 6,7 Kg, enquanto que as raparigas, os incrementos variam
entre 1,7 e 7,8 Kg.
Fernando Melo36
6.3 - O crescimento do tecido ósseo
Segundo Nicoletti (1984), o tecido ósseo cresce no decurso da idade evolutiva, com uma
velocidade máxima, cerca da idade em que se verifica o pico de velocidade da altura (PVA), e,
portanto, com uma diferença entre os sexos análoga à do crescimento estatural.
O osso forma-se a partir de pontos de ossificação que se vão estendendo e transforman-
do a estrutura cartilagínea em tecido ósseo. O primeiro ponto de ossificação que aparece é o
ponto primitivo, e dá lugar à formação da diáfise. Os outros pontos, chamados secundários ou
complementares, aparecem mais tarde, e dão lugar às epífises. A cartilagem persiste até ao
fim do desenvolvimento ósseo, entre a diáfise e as epífises, e é responsável pelo seu cresci-
mento, razão pela qual é chamada cartilagem de crescimento ou de conjugação. O processo
de crescimento só pára quando a cartilagem desaparece e as diáfises e epífises se soldam.
F Sexo 10 11 12 13 14 15
10 M 26,5 30,0 32,0 38,3 45,3 47,0
F 28,0 31,0 36,3 37,5 41,4 46,0
20 M 29,0 33,0 35,0 40,0 47,8 52,0
F 30,1 32,6 39,0 41,2 45,0 49,0
25 M 30,9 34,0 36,0 42,5 49,7 54,0
F 31,0 33,0 39,7 42,5 45,5 49,2
30 M 32,0 34,5 36,7 44,2 50,0 55,4
F 33,0 34,4 40,1 43,0 46,9 50,0
40 M 33,5 37,0 40,0 46,6 52,2 57,0
F 34,2 36,1 43,0 46,2 49,0 50,5
50 M 35,0 38,0 42,0 49,0 54,0 60,0
F 36,0 38,0 46,5 50,0 51,0 52,2
60 M 36,0 42,4 45,0 52,0 56,2 62,0
F 37,0 41,7 48,0 52,6 53,4 54,2
70 M 38,0 46,1 47,0 54,0 59,0 65,0
F 41,0 46,8 49,0 55,2 56,8 57,0
75 M 39,1 49,0 49,0 55,0 59,6 66,0
F 42,2 48,0 52,2 58,5 59,0 57,0
80 M 40,0 49,4 51,4 56,6 64,0 69,7
F 45,8 49,0 54,0 59,8 61,0 58,3
90 M 47,6 56,7 61,1 62,1 71,0 79,4
F 52,8 57,0 71,1 66,8 65,0 65,4
Quadro 7 – Descis e quartis (F) das distribuições do peso (Sobral e Silva, 1999).
37Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Independentemente do jovem ser retardado ou avançado em relação à sua idade cronológica,
a sequência de acontecimentos no crescimento dos ossos é a mesma para todos os indivíduos.
Falkner, citado por Pérez (1994), refere que em algumas investigações se especulou
com a possibilidade de que o crescimento ósseo seria mais precoce nas raparigas, devido à
influência do factor genético, concretamente ao cromossoma y, terminando o seu crescimento
ósseo antes dos rapazes, aproximadamente entre os 18 e os 20 anos.
Frohner (2003) refere a importância dos estímulos específicos e adaptados no desen-
volvimento do sistema ósseo nas crianças e dos jovens. Efectivamente, os ossos necessitam
de sobrecargas para manter e, inclusive, melhorar a sua resistência. Quando os jovens dimi-
nuem a realização de esforços, como é o caso de longas permanências na cama, verifica-se
a diminuição da massa óssea, o que poderá originar o perigo de fracturas. Em contrapartida,
a mesma autora alerta para os perigos resultantes de esforços excessivos e desajustados,
podendo resultar deformações e fracturas ósseas ocasionadas pelo esforço.
O estado de maturação do esqueleto pode ser analisado, através de processos radiológi-
cos, utilizando a mão e o pulso. Desde 1895, com a descoberta dos Raios X por Roentgen, foi
possível examinar uma série de radiografias da mão de crianças de várias idades, com o fim
de determinar qual o estádio de desenvolvimento dos ossos da mão e do pulso. Tal procedi-
mento permitiu a construção de atlas, dos quais, segundo Nicoletti (1984), o mais conhecido é
o de Greulich e Pyle (1959). Este atlas compreende uma série de radiografias, cada uma das
quais é indicado como típico de uma dada idade, separadamente para rapazes e raparigas.
A idade associada a cada radiografia standart é a idade óssea do sujeito que apresenta uma
radiografia da mão igual ou semelhante ao standart.
Segundo Tanner (1962), em teoria, qualquer parte do esqueleto poderia ser analisada.
No entanto, na prática, a mão e o pulso mostram-se mais convenientes, pelo menos depois
da idade de um ano, devido ao facto de constituírem uma área muito reduzida, mas com um
grande número de ossos e epífises. Executa-se a radiografia da mão esquerda, porque esta
se afirma menos sujeita às influências ambientais - Nicoletti (1984).
Baer e Durkatz, citados por Tanner (1962), referem que na generalidade dos casos, os
dois lados não apresentam diferenças de maturação, mas, individualmente, um osso de um
lado pode ser retardado ou avançado em relação ao do lado oposto. Considerando a mão e
o pulso como um todo, as diferenças verificadas entre os dois lados são negligenciáveis, ex-
cepto em casos patológicos.
O estado de maturação do esqueleto está relacionado com o grau de desenvolvimento
do processo do crescimento ósseo. Assim, diz-se que uma criança é somaticamente mais
madura do que as outras, quanto mais próxima estiver das dimensões adultas.
Sobre as técnicas radiológicas que implicam uma exposição aos raios x, Ross e Marfell-
-Jones (1995) referem que a sua utilização, por mínima que seja, não é aconselhável, a me-
Fernando Melo38
nos que sejam dirigidas por um médico e sejam necessárias por motivos clínicos. Referem os
mesmos autores que, por exemplo no Reino Unido, está estipulado que só se pode radiografar
um indivíduo com propósitos de investigação, uma vez na sua vida.
Estudos, citados por Malina (1984), realizados nos Estados Unidos da América com jo-
vens praticantes de beisebol, futebol americano e hóquei sobre o gelo, sugerem algumas
tendências no que diz respeito ao estatuto de maturação biológica. Os jogadores que mais se
evidenciavam no beisebol e no futebol americano apresentavam uma tendência para serem
avançados biologicamente, não se verificando esta tendência no hóquei sobre o gelo, ou seja,
a maioria dos jogadores não apresentava um desenvolvimento precoce. Nas três amostras
de hóquei sobre o gelo, com jogadores até aos 13 anos, a idade biológica era ligeiramente
atrasada em relação à idade cronológica.
Estes dados são consistentes com aqueles obtidos por Rahkila et al. (1984), que, ao
estudarem a condição física relacionada com a idade biológica em 37 rapazes praticantes de
hóquei sobre o gelo, com a idade de 9 anos, não encontraram diferenças entre a idade crono-
lógica e a idade biológica. No entanto, convém realçar que, embora a média cronológica fosse
idêntica à média biológica, se verificava um grau de variação na idade biológica. A diferença
entre o atleta mais retardado e o mais avançado era de 4,6 anos.
Foi referido, ainda, que os jovens praticantes de hóquei sobre o gelo, relativamente ao
seu estatuto maturacional, têm a tendência de se aproximar dos valores médios, ou ligeira-
mente atrasados, enquanto que em outros desportos, a tendência é para que sejam avança-
dos no que se refere à sua idade biológica.
O futebol e o basquetebol são desportos que também são muito do agrado dos jovens,
mas os dados relativos à maturação biológica são muito limitados. Vrijens, Pannier e Van
Cauter, citados por Malina (1984), não encontraram diferenças entre a idade cronológica
(11,25 ± 0,8 anos) e a idade biológica (11.42 ± 1,1 anos) em jovens praticantes de futebol
com idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos. Em relação ao basquetebol, Clarke,
citado por Malina (1984), não verificou diferenças no estatuto maturacional de jovens des-
portistas escolares dos 9 aos 12 anos em comparação com jovens da mesma idade, mas
não praticantes. No entanto, entre os 13 e os 15 anos, verificou que os praticantes que
mais se evidenciavam no jogo, eram avançados no seu estatuto maturacional em relação
aos não praticantes.
Em relação aos desportos individuais, os dados que existem em maior número, em rela-
ção ao estatuto maturacional, dizem respeito ao atletismo e à natação.
Cumming, Garand e Borysyh, citados por Malina (1984), num estudo realizado com 101
rapazes praticantes de atletismo e com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos, veri-
ficaram que a idade biológica (15,2 ± 1,7 anos), era ligeiramente avançada em relação à idade
cronológica (14,9 ± 1,3 anos). Referem ainda que os jovens atletas que mais se evidenciam
no atletismo tendem a ser avançados sob o ponto de vista maturacional.
39Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Bugyi e Kausz, citados por Malina (1984), num estudo sobre os “28 melhores jovens na-
dadores húngaros” dos 8 aos 15 anos de idade, verificaram que a idade biológica estava avan-
çada em relação à idade cronológica em 2,6 ± 4,0 meses. Pelo contrário, Thompson, Blankeby
e Doren, citados por Malina (1984), não observaram diferenças entre a idade cronológica e
a idade biológica em competições da Western Australian Amateurs Swimming Association,
onde os finalistas eram agrupados por idades. Contudo, quando os nadadores mais rápidos
eram comparados com os do grupo dos mais lentos, os primeiros eram biologicamente mais
avançados, em todos os grupos de idade. Referem, ainda, que os jovens nadadores que mais
se evidenciam tendem a ser biologicamente mais avançados, em relação aos seus pares.
Características dos rapazes de
maturação avançada
São mais altos
Possuem maior massa muscular
Têm maior volume cardíaco
Têm mais força
Têm mais resistência
Possuem maior VO2 max.
Fonte: Becerro (1996).
Para concluir, podemos afirmar que o treinador de jovens deverá conhecer o estado de
maturação dos seus atletas, relativamente às suas idades cronológicas uma vez que os de
maturação avançada possuem certas vantagens em relação aos de maturação tardia.
6.4 - O crescimento do tecido muscular
Mais de 400 músculos voluntários (esqueléticos ou estriados) do corpo humano consti-
tuem cerca de 40% do peso corporal adulto - Mathews e Fox (1979), enquanto que em idades
pré-pubertárias, este valor não ultrapassa os 27%.
A curva de velocidade, semelhante à da estatuta, decresce durante a infância e regista
um aumento posterior na adolescência, mais nos rapazes do que nas raparigas.
Duplessis et al., citados por Becerro e Gomes (1996), afirmam que, no recém- nascido, o
número de fibras indiferenciadas é muito diminuto. Durante o primeiro ano de vida, produz-se
um aumento progressivo tanto de fibras de tipo I (SF) como de tipo II (FT), correspondendo
as primeiras a um maior incremento, enquanto que as fibras indiferenciadas diminuem. Adian-
tam, ainda, aqueles investigadores que, na adolescência se produz uma profunda alteração
na proporção dos diferentes tipos de fibras, que é diferente nos dois sexos.
Fernando Melo40
Proporção dos diferentes tipos de fibra muscular na
adolescência segundo o sexo
Sexo
Fibras Musculares
Tipo I Tipo II Indiferenciadas
Masculinos 52,86 34,08 13,06
Femininos 46,21 42,12 7,65
Segundo Duplessis et al., citados por Becerro e Gómez (1996).
Durante a puberdade, os músculos não só aumentam em tamanho, como vão ganhando
maiores possibilidades de produção de força, sobretudo nos rapazes. Se até à puberdade, as
diferenças em termos de força muscular entre os rapazes e as raparigas não são significati-
vas, verifica-se que, a partir daí, as discrepâncias tornam-se mais evidentes até à idade adulta
- Jones, Espenschade e MacCurdy, citados por Katchadourian (1977).
Froberg e Lamment (1996) referem que, nos rapazes, existem duas fases de crescimento
da força. A 1ª fase corresponde ao início dos anos pré-pubertários até ao meio da puberdade
ou à idade do pico de crescimento de velocidade em altura (PVA). A 2ª fase inicia-se na idade
do PVA e termina no final do período pós-pubertário.
A sucessão dos picos de velocidade da estatura, peso do corpo e força muscular está
representada na Fig. 6.
Segundo Tanner (1962), a máxima velocidade do crescimento muscular é atingida numa
fase intermédia entre o pico da estatura e do peso, enquanto que a força muscular atinge o
pico de máxima velocidade em último lugar - cerca de 14 meses depois da idade do pico da
estatura. Estes dados estão de acordo com aqueles referidos por Froberg e Lamment (1996).
A força muscular alcança, portanto, o máximo da sua velocidade de desenvolvimento quando
já foi atingida uma determinada massa muscular, podendo ser considerada como um indica-
dor de maturação.
Fig. 6 – Relações entre os picos de máxima velocidade (Nicoletti, 1984).
41Treino Desportivo com Crianças e Jovens
6.5 - O tecido adiposo
Brozek e Keys, citados por Sobral (1985), referem que a gordura representa em média
11% do peso total no homem e 24% na mulher. Em ambos os casos, o tecido adiposo profun-
do, particularmente notável ao nível dos espaços peri-víscerais, representa apenas 40 a 45%
da gordura total, sendo o restante confinado à massa subcutânea ou panículo adiposo.
Os padrões de distribuição do panículo adiposo não são iguais nos dois sexos. A partir
da puberdade, “é evidente o dimorfismo sexual ao nível dessa estrutura morfológica, diferindo
segundo o sexo, os locais de acumulação preferencial de gordura subcutânea: face e pesco-
ço, tórax e abdómen superior no homem; mama, abdómen, regiões látero-lombar, nadegueira
e crural superior, na mulher” - Sobral (1985).
Nicoletti (1984), referindo-se à percentagem da gordura em relação à idade (dife-
rença entre o peso total e o peso do corpo excluídas as gorduras), indica, para o sexo
masculino, que a percentagem mínima de gordura, corresponde a uma idade inferior a
6 anos e a máxima, a cerca dos 10 anos, decrescendo a partir desta idade. Para o sexo
feminino, pelo contrário, os valores mínimos correspondem a uma idade próxima dos 7
anos, aumentando progressivamente até à fase terminal da adolescência (cerca dos 14
anos), para depois se manter nos valores atingidos. Porém, a quantidade da gordura do
corpo, em sentido absoluto, vai aumentando desde o nascimento à maturidade, quer nos
rapazes, quer nas raparigas.
López (2000) refere que o desenvolvimento sexual na rapariga produz uma tendência
a uma maior acumulação de gordura subcutânea a qual se incrementa durante a puberdade
devido ao aumento da secreção de estrogéneos que estimula o tecido adiposo. No sexo mas-
culino, pelo contrário, o efeito da testosterona exerce-se fundamentalmente sobre o tecido
muscular.
Investigações levadas a cabo por Parízková (1982), com 1460 indivíduos de ambos os
sexos, revelaram um aumento regular da gordura subcutânea durante toda a vida. Durante
o crescimento, as diferenças entre os sexos aumentaram, muito especialmente durante o
salto pubertário, ocasião em que ocorria nos rapazes uma redução da gordura subcutânea,
enquanto que nas raparigas se verificou um aumento progressivo até à idade adulta, ou além
dela. Há que referir que a massa gorda varia entre os indivíduos, sendo influenciada pela he-
reditariedade, regime alimentar e exercício físico.
Fernando Melo42
6.6 - O tecido linfático e timo2
Segundo Tanner (1962), o maior tamanho do timo é alcançado aos 12 anos nas raparigas
e aos 14 nos rapazes. Apresenta um grande desenvolvimento no recém-nascido, mas sofre
uma involução gradual até á puberdade, altura em que se torna num órgão vestigial.
Scammon, citado por Tanner (1962), refere que o tecido linfático de outros órgãos, como
o baço, intestino e apêndice, também regride, após a adolescência.
6.7 - Transformações internas
No que respeita aos órgãos internos, segundo Nicoletti (1984), a maior parte deles segue
um modelo de crescimento análogo ao da estatura.
6.7.1 - O sistema cardiovascular
Bouchard et al., citados por Becerro (1996), referem que o tamanho do coração aumen-
ta progressivamente desde o nascimento até à maturação, de tal maneira que dos 40 ml de
capacidade que o indivíduo possui ao nascimento, passa para os 600/800, na juventude. No
entanto, a relação entre a medida do coração e a do corpo permanece constante durante o
período de crescimento, situando-se por volta dos 10 ml/kg de peso.
Relativamente ao adulto, a criança possui um coração com dimensões mais reduzidas,
apresentando valores inferiores em termos de volume sistólico, que é compensado por uma
frequência cardíaca mais elevada para uma determinada intensidade de trabalho.
Drinkwater, citado por Lleonart (1996), refere que as adolescentes atingem valores mais
elevados de frequência cardíaca máxima relativamente aos rapazes para esforços máximos e
submáximos, acontecendo o mesmo com as crianças de sexos diferentes. Estes dados estão
de acordo com os de Beristain (1996), que refere, ainda, que, depois da puberdade, há um
decréscimo de 0,7 – 0,8 batimentos / ano. Adianta, também, que os rapazes obesos têm uma
frequência sub-máxima mais elevada que os não obesos para o mesmo nível de trabalho.
2 Órgão localizado na parte antero-superior da cavidade toráxica, atrás do esterno. Desempenha um importante papel na
génese de todo o sistema linfóide do organismo. Admite-se que o timo segrega uma hormona (ainda não identificada) que
activa o crescimento do tecido linfóide.
43Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Durante a puberdade, o peso do coração quase que duplica. Como nos outros músculos,
o seu crescimento é mais pronunciado nos rapazes do que nas raparigas - Maresh, citado por
Katchadourian (1977).
Segundo Sobral (1988), entre os 11 e os 16 anos, o diâmetro cardíaco transverso au-
menta cerca de 15mm em consequência do simples processo do crescimento. Do mesmo
modo, o diâmetro das artérias e a espessura das suas paredes aumentam paralelamente ao
crescimento e ao desenvolvimento.
Relativamente à pressão arterial sistólica, “a sua evolução é semelhante à dos outros
indicadores do crescimento, pelo menos nos rapazes, enquanto que a pressão diastólica não
apresenta uma evolução significativa, nem uma clara diferenciação segundo o sexo” - Sobral
(1988).
Uma das outras transformações surgidas no decurso da puberdade diz respeito às mo-
dificações da massa sanguínea. O volume de sangue, a taxa de hemoglobina e o número de
glóbulos vermelhos aumentam consideravelmente nos rapazes, não se verificando o mesmo
nas raparigas - Kacthadourian (1977). Imediatamente depois do nascimento, a concentração
de hemoglobina alcança os 20g por 1.000 ml, mas aos 3 meses desce para 10g por 1.000
ml, aumentando novamente na idade adulta, atingindo valores de 16g e 14g nos homens e
mulheres, respectivamente.
6.7.2 - O sistema respiratório
As transformações do sistema respiratório são semelhantes àquelas verificadas no sis-
tema cardiovascular.
Astrand, citado por Becerro (1996), refere que a ventilação pulmonar máxima absoluta
(VE max) aumenta com a idade, passando dos 30 - 40 l/min., na idade infantil, para 100 – 200,
na idade adulta. É um facto bem conhecido que, para qualquer nível de ventilação, as crianças
necessitam de respirar mais para transportar a mesma quantidade de oxigénio que os adultos
- Becerro (1996).
Durante a puberdade, acentua-se a diferenciação sexual nos volumes e capacidades
pulmonares, nomeadamente ao nível do volume da ventilação pulmonar, capacidade vital e da
capacidade máxima respiratória. Nas raparigas, o volume de ventilação pulmonar mantém-se
quase estacionário, enquanto que a capacidade vital mostra um incremento menos pronun-
ciado - Sobral (1988).
Segundo Frohner (2003), a resistência pulmonar aumenta com o processo de desenvol-
vimento e apresenta uma estreita relação com o peso e o volume corporais.
Fernando Melo44
6.7.3 - Temperatura corporal basal
A temperatura corporal basal vai diminuindo com a idade, em ambos os sexos, alcançan-
do os valores adultos nas raparigas aos 12 anos, mas continua a baixar nos rapazes por mais
uns anos - Katchadourian (1977).
Relativamente ao metabolismo basal (necessidade energética em repouso absoluto),
Weels (1991) refere que este diminui aproximadamente entre 1 e 3% cada década, desde a
idade dos 3 anos até aos 80. Segundo o mesmo autor, “pensa-se que esta diminuição, até à
idade adulta, está associada a uma melhor eficiência metabólica, enquanto que, depois dos
30 anos, esta diminuição deve-se a uma redução na massa magra do corpo”.
6.7.4 - O crescimento do cérebro
No nascimento, como refere Tucker (1992), “o cérebro atingiu apenas um quarto do seu
tamanho eventual, enquanto que os primatas mais evoluídos nascem já com três quartos do
volume total do seu cérebro”. Relativamente ao pico do crescimento do cérebro em volume,
dá-se logo após o nascimento até aos 12 meses. Este volume aumenta quase três vezes du-
rante o 1º ano de vida, o que não acontece em nenhum outro animal.
O ser humano é a única espécie em que o cérebro cresce e se desenvolve até à maturi-
dade (nalguns casos até aos vinte anos).
Relativamente à importância do movimento no desenvolvimento do sistema nervoso,
Frohner (2003) refere que nas primeiras idades escolares, a prática de movimentos coordena-
tivos favorece o desenvolvimento funcional do sistema nervoso. Assim, os movimentos apren-
didos de modo estável nas idades infantis, para além de ficarem bastante marcados, podem
ser recordados nas idades adultas sem grandes dificuldades.
Cerebro Humano
recém-nascido 340 g
6 meses 750 g
1 ano 970 g
2 anos 1150 g
3 anos 1200 g
6 anos 1250 g
9 anos 1300 g
12 anos 1350 g
20 anos 1400 g
Quadro 8 - Evolução comparativa do peso do cérebro. Fonte: Cruz, A (1981).
45Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Para Capra (1992), o cérebro humano é um sistema vivo por excelência. Adianta, ainda,
que “após o primeiro ano de crescimento, não são produzidos novos neurónios; no entanto, mu-
danças plásticas continuarão ocorrendo pelo resto da vida. Na medida em que o meio ambiente
muda, o cérebro amolda-se em resposta a essas mudanças; e se a qualquer momento ele é da-
nificado, em consequência de ferimento ou lesão, o sistema realiza ajustamentos muito rápidos.
Ele nunca se desgasta ou exaure: pelo contrário, quanto mais usado, mais poderoso se torna”.
6.8 - O desenvolvimento do sistema reprodutor
Jeanneret (1984) refere que as modificações endócrinas da puberdade preparam-se
desde a infância, mas é no princípio daquela que ocorrem profundas transformações, e que,
segundo ele, constam do seguinte:
1. activação dos centros cerebrais que actuam sobre a glândula chamada hipófise;
2.aumento da secreção hipofisária das hormonas que estimulam as outras glândulas
endócrinas, como a tiróide, as supra renais e as gónadas;
3.produção de hormonas destinadas a preparar o ciclo menstrual e o amadurecimento
dos óvulos, nas raparigas, e o amadurecimento dos espermatozóides, nos rapazes;
4.aparecimento dos caracteres sexuais secundários, isto é, as manifestações externas
destas transformações internas.
A actividade endócrina desempenha um papel fundamental em todo o processo de cres-
cimento, nomeadamente a hormona do crescimento (somatotrofina) que actua no desenvolvi-
mento de todos os tecidos do corpo capazes de crescer e ainda as hormonas gonadotróficas.
Estas hormonas estimulam os testículos a produzir os espermatozóides e os androgénios
(hormonas sexuais masculinas) e também a produção dos óvulos e dos estrogénios (hormo-
nas sexuais femininas) por parte dos ovários.
Existem outras hormonas, mas as que mais nos interessam sob o ponto de vista do
treino desportivo são aquelas segregadas pelas gónadas, em particular a testosterona, muito
especialmente nos rapazes pelo seu papel regulador do volume da massa muscular, durante a
puberdade. Nas raparigas verifica-se também a produção de testosterona pelos ovários, mas
em quantidades muito diminutas, em comparação com os rapazes, o que justifica, em grande
parte, que os episódios do crescimento pubertário sejam diferentes em ambos os sexos, cul-
minando em valores terminais de crescimento também diferentes.
Na infância, o desenvolvimento do sistema reprodutor é muito lento, mas, com a puber-
dade, atinge uma fase de crescimento extremamente rápido, o que contribui para um maior
Fernando Melo46
dimorfismo sexual. Assim, começam a ser estabelecidos, de uma forma mais marcante, os
traços específicos da morfologia adulta, em cada sexo.
As transformações mais visíveis que contribuem para o dimorfismo sexual são referidas
como “caracteres sexuais secundários”.
Na realidade, e como refere Otero (1981), o único carácter sexual primário é a glândula
sexual, ou seja, o testículo, no rapaz, e o ovário, na rapariga, agrupando-se normalmente os
órgãos genitais internos e externos.
Apresentamos, separadamente para cada sexo, e em forma de quadro, os aspectos mais
relevantes que ocorrem durante o processo de maturação sexual, quer ao nível dos genitais
internos e externos, quer ao nível dos caracteres sexuais secundários.
Para avaliar o estado de desenvolvimento sexual na puberdade, considera-se, para o
sexo masculino, o desenvolvimento genital (testículos e pénis) e a pilosidade púbica, en-
quanto para o sexo feminino, para além do desenvolvimento genital, o desenvolvimento das
mamas e a pilosidade púbica.
Foi graças a Tanner (1962), através do estabelecimento de diferentes fases de desenvol-
vimento (de 1 a 5), que a avaliação das transformações observadas no sistema reprodutor se
tornou mais fácil de ser definida.
Convém, no entanto, sublinhar, como refere Otero (1981), que “a sucessão destas fases
é a mesma para cada adolescente, mas que o momento em que se situam no tempo pode
variar consideravelmente de um indivíduo para outro. É esta constatação que tornou tão pro-
blemático, nesse período, fixar a idade exacta em que se produzem estas fases”.
47Treino Desportivo com Crianças e Jovens
6.8.1 – Maturação sexual na rapariga
Durante a puberdade, todas as estruturas que compõem os
genitais externos, ou vulva, sofrem significativas modificações.
Os Grandes Lábios e o Monte de Vénus aumentam de volume,
por depósito de gordura nos mesmos.
Os Pequenos Lábios e o Clitóris também crescem muito,
especialmente este último.
Em virtude da sua anatomia, as transformações nos genitais
externos na rapariga são menos notadas do que aquelas
verificadas nos genitais externos do rapaz.
As trompas crescem e a parede muscular do útero torna-se
maior.
Avagina, além de aumentar o seu tamanho, amplia a espessura
das suas paredes, tornando-se mais resistente às infecções.
Os ovários crescem, mas o seu crescimento é menos
espectacular que o útero, uma vez que, no nascimento, estes já
são orgãos completos.
O crescimento da mama representa nas raparigas o primeiro
sinal da puberdade. O seu início pode ocorrer dos 8 aos 13
anos (em média aos 11) e estar concluído dos 13 aos 18 anos
(em média aos 15).
Por vezes verifica-se um crescimento assimétrico, o qual é
corrigido aquando da conclusão do processo de crescimento.
As mamas não fazem parte do aparelho genital feminino, no
entanto, desempenham um papel importante na sexualidade.
Geralmente representa o segundo sinal da puberdade, no
entanto pode ocorrer antes do crescimento das mamas.
O crescimento dos pêlos púbicos inicia-se por volta dos
11/12 anos, alcançando a configuração de adulto por volta
dos 14 anos.
A sua ocorrência precede geralmente a pilosidade axial em
cerca de mais do que um ano.
Genitais
Externos
Genitais
Internos
Desenvolvimento
da
Mama
Pilosidade
Púbica
Fernando Melo48
A menarca pode ocorrer em qualquer momento, dos 10 aos
16 ½ anos.
Geralmente ocorre dois anos depois do início do
desenvolvimento das mamas e depois do pico do crescimento
em altura (PVA).
De uma maneira geral o aparecimento da menarca é mais
precoce nos climas quentes do que nos climas frios; nas
cidades do que nos campos; nas classes abastadas do que
nas classes humildes. Tem-se verificado, quanto ao nosso
país, que no Algarve o aparecimento da menarca é mais
precoce que na Guarda.
Na rapariga, em relação ao rapaz, a laringe é menos
desenvolvida e apresenta em geral uma voz mais aguda.
Menarca
Voz
Fontes: Tanner(1962) e Katchadourian (1977).
49Treino Desportivo com Crianças e Jovens
A aceleração do crescimento do pénis, em média, começa
por volta dos 13 anos, mas pode ocorrer mais cedo, aos 11
anos, ou, por vezes, mais tarde, aos 14 ½ anos.
O aumento do pénis em comprimento pode começar dos 10
½ anos aos 14 ½ anos e acabar dos 12 ½ aos 16 ½ anos.
O pico de crescimento do pénis começa cerca de 1 ano
depois da aceleração do crescimento dos testículos.
O desenvolvimento do pénis pode estar concluído, em média,
aos 15 anos, mas, algumas vezes, ocorre mais cedo, aos 13
½, ou mais tarde, aos 17 anos.
Durante a puberdade, verifica-se também o aumento do
escroto, cuja pele se torna cada vez mais escura.
Os testículos pesam cada entre 10 e 20 g. Mantêm-se
pequenos, com cerca de 1g, desde o nascimento até por
volta dos dez anos de idade, mas crescem rapidamente nos
cinco anos seguintes. No adulto, atinge 4 a 4,5 cm no seu
maior diâmetro, mas o esquerdo é mais volumoso. O seu
volume passa de 5 cm3, na infância, para um volume que
varia entre os 12 e os 25 cm3, na idade adulta.
O aumento do volume dos testículos pode ocorrer dos 9 ½
aos 13 ½ anos, e estar concluído dos 13 ½ aos 17 anos.
Com a puberdade, inicia-se a espermatogênese (ou formação
de espermatozoides) e a produção das hormonas sexuais,
sob a influência de hormonas produzidas na hipófise ou
glândula pituitária.
Durante a infância, a próstata é diminuta. Inicia o seu
desenvolvimento com a puberdade e alcança o seu tamanho
definitivo por volta dos 20 anos.
O seu aparecimento corresponde a um sinal precoce da
puberdade, mas pode ocorrer entre os 10 e os 15 anos.
Mesmo depois da puberdade, os pêlos púbicos continuam a
espalhar-se pelo centro do abdómen até à idade dos 25 anos.
Genitais
Externos
Genitais
Internos
Pilosidade
Púbica
6.8.2 - Maturação sexual no rapaz
Fernando Melo50
Os pêlos axiais aparecem dois anos depois da pilosidade
púbica.
Os primeiros pêlos corporais aparecem na mesma altura dos
pêlos axiais, mas continuam a espalhar-se mesmo depois da
puberdade.
Tal como os pêlos axiais, geralmente, aparecem dois anos
depois dos pêlos púbicos.
Os primeiros pêlos faciais crescem nos cantos, por cima do
lábio, espalhando-se de seguida, formando o bigode por
cima de todo o lábio.
Seguidamente, começam a aparecer pêlos na parte superior
da bochecha, e na zona inferior do lábio, espalhando-se
eventualmente para os lados e para a região inferior de face.
O desenvolvimento das mamas no rapaz não se compara ao
da rapariga.
O diâmetro da auréola, que é igual nos dois sexos antes
da puberdade, aumenta consideravelmente, embora numa
extensão menor do que na rapariga.
A pele da auréola torna-se escura.
Em alguns rapazes, verifica-se um aumento visível das
mamas (o pico de incidência dá-se entre os 14 e os 14 ½
anos), mas, na maior parte dos casos, desaparece dentro de
1,2 ou 3 anos.
Os rapazes obesos podem apresentar mamas desenvolvidas
devido ao excesso de gordura.
Devido a um aumento da laringe, as cordas vocais
alongam-se, produzindo profundas alterações na voz, mais
marcadamente no rapaz do que na rapariga.
As alterações na voz dão-se duma forma progressiva e
geralmente acabam no final da adolescência.
Geralmente ocorre cerca de 1 ano depois do início do
crescimento dos testículos, mas a sua ocorrência é altamente
variável com a idade.
Cerca de 90% dos rapazes, têm esta experiência entre os 11
e os 15 anos.
Pilosidade
Axial
e
Corporal
Pilosidade
Facial
Desenvolvimento
das
Mamas
Voz
Primeira
Ejaculação
Fontes: Tanner (1962) e Katchadourian (1977).
51Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Pré-adolescente. Testículos, escroto e pénis têm aproximadamente
as mesmas dimensões e proporções que se encontram na infância.
Aumento do volume do escroto e dos testículos. A pele do escroto
é avermelhada e muda de textura. Ligeiro ou nenhum aumento do
pénis.
Aumento das dimensões do pénis, primeiro em comprimento.
Ulterior crescimento dos testículos e do escroto.
Aumento do pénis, que cresce em sentido transversal e
desenvolvimento da glande. Ulterior aumento do volume dos
testículos e da glande; pigmentação aumentada da pele do escroto.
Genitais do tipo adulto em dimensões e aspecto. Não se verifica
nenhum outro crescimento depois deste estádio.
1
2
3
4
5
Estádio Características
6.8.3 - Estádios do desenvolvimento genital masculino
Fig. 6 - Estádios do desenvolvimento genital masculino.
Fonte: Tanner (1962).
Fernando Melo52
6.8.4 - Estádios do desenvolvimento das mamas
Pré-adolescente. Elevação apenas do bico do peito.
Leve turgor das mamas no conjunto e do bico do peito. Aumento do
diâmetro da auréola.
Ulterior engrandecimento e elevação das mamas e da auréola, sem
separação dos respectivos contornos.
Elevação da auréola e do bico do peito, os quais formam um
pequeno bojo que sobressai acima do nível da mama, sendo claros
os contornos entre a auréola e a mama.
Estádio de maturidade. Projecção apenas do bico do peito, devido
ao desaparecimento da distinção entre o contorno da auréola e o
contorno da mama
1
2
3
4
5
Estádio Características
Fig. 7 - Estádios do desenvolvimento das mamas nas raparigas. Fonte: Tanner (1962).
53Treino Desportivo com Crianças e Jovens
Pré-adolescente. A penugem sobre o púbis não é mais desenvolvida
do que aquela que se encontra sobre a parede abdominal,
verificando-se uma ausência de pêlos púbicos.
Crescimento disperso de pêlos longos, pouco pigmentados, direitos
ou ligeiramente ondulados que aparecem sobretudo na base do
pénis ou ao longo dos lábios. São necessários apetrechamentos
especiais para fotografar os pêlos neste estádio.
Pêlos muito mais escuros, mais consistentes e mais encaracolados.
Os pêlos espalham-se, dispersos pelo púbis. É neste estádio que os
pêlos púbicos se tornam visíveis, pela primeira vez, nas habituais
fotografias a preto e branco, do corpo inteiro.
A pilosidade é semelhante à do adulto, mas a área coberta é ainda
mais pequena do que a do adulto. Não há difusão dos pêlos na
superfície interior das coxas.
Pilosidade semelhante à do adulto, em quantidade e com a
distribuição de tipo horizontal. Verifica-se, ainda, uma difusão dos
pêlos na superfície interior das coxas.
1
2
3
4
5
Estádio Características
6.8.5 - Estádios do desenvolvimento da pilosidade púbica
(Fem. e Masc.)
Fonte: Tanner (1962).
Fernando Melo54
Fig.8 - Estádios do desenvolvimento da Pilosidade Púbica nas raparigas. Fonte: Tanner (1962).
Fig.9 - Estádios do desenvolvimento da Pilosidade Púbica nos rapazes. Fonte: Tanner (1962).
7 - FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES
BIO-MOTORAS NO PROCESSO DE TREINO
A motricidade é uma característica de todo o ser vivo. Na realização de qualquer acção
motora terá de existir um determinado número de capacidades que não são mais do que
pressupostos do movimento. Daqui se pode concluir que o desenvolvimento do rendimento
desportivo está intimamente relacionado com o desenvolvimento das diferentes capacidades
motoras.
Segundo Carvalho (1987), a expressão capacidades motoras foi utilizada pela primeira
vez por Grundlach na RDA em 1972. Esta expressão foi introduzida, progressivamente, na
terminologia das Ciências do Desporto na maior parte dos países europeus, substituindo
outras expressões até então utilizadas, nomeadamente a expressão qualidades físicas.
O termo qualidade “indica já um valor elevado em qualquer âmbito do rendimento e é
usado com mais propriedade no âmbito psíquico. Assim, em desporto, parece mais apropriado
usar o termo capacidade, que indica uma medida de potencial e que por isso é de valor
amplamente modelável ou treinável” - Carvalho (1987).
Para Manno (1994), as capacidades motoras “são as condições motoras de tipo endógeno
que permitem a formação de habilidades motoras; são um conjunto de predisposições ou
potencialidades motoras fundamentais no homem que tornam possível o desenvolvimento
das habilidades aprendidas”. O mesmo autor adianta que “um nível suficiente ou óptimo de
desenvolvimento das capacidades motoras, permite a formação de numerosas e sofisticadas
habilidades”.
Grundlach propôs, em 1968, uma classificação que foi amplamente aceite em toda a
Europa, ao considerar dois grandes grupos na classificação das capacidades motoras:
capacidades condicionais e capacidades coordenativas
Para Manno (1994), as capacidades coordenativas têm um desenvolvimento muito
marcado, quase exclusivamente, na fase pré-puberal, em particular entre os 6 e os 11-12
anos, pelo que podem ser bastante treináveis até essas idades. Pelo contrário, as capacidades
condicionais têm um desenvolvimento acentuado no princípio da puberdade e, em particular,
entre os 12 e os 17/18 anos, registam uma treinabilidade superior às coordenativas.
Fernando Melo56
Capacidades Condicionais   Capacidades Coordenativas
são essencialmente determinadas
pelos processos que conduzem
à obtenção e transformação da
energia, isto é, nelas predominam os
processos metabólicos nos músculos
e sistemas orgânicos
 
são essencialmente determinadas
pelas componentes onde predominam
os processos de condução do sistema
nervoso central
Manno (1994) refere que a divisão entre capacidades coordenativas e condicionais é
fundamentalmente uma divisão didáctica, não existindo uma separação nítida entre umas e
outras, mas sim um predomínio de um grupo sobre o outro, em função do trabalho realizado.
Refere, ainda, o mesmo autor que há capacidades motoras que estão entre um grupo e outro,
considerando-as intermédias, nomeadamente a flexibilidade e a velocidade de reacção simples.
Porém, e como refere Monge da Silva (1985), “quando observamos qualquer actividade
desportiva, não vemos força, velocidade ou resistência; o que nós vemos são movimentos que
se desenvolvem no espaço e no tempo”.
Esta atitude traduz uma preocupação em envolver o treino desportivo numa visão
abrangente, que seja capaz de englobar todas as dimensões do rendimento desportivo numa
perspectiva integradora.
7.1 - Haverá uma dimensão espiritual do treino desportivo?
No treino desportivo é comum falar-se nas suas várias dimensões: física, técnico-táctica
e psicológica. Acrescentamos mais uma: a dimensão espiritual.
O treino desportivo abarca o homem como uma entidade bio-psico-social e isto significa que
o Homem é uma realidade extremamente complexa. Não devemos esquecer que o atleta, antes
de mais, é um Homem e, por esta razão, as grandes interrogações acerca da sua existência
também poderão ser consideradas: Donde vimos? O que fazemos aqui? Para onde vamos?
A dimensão espiritual trata, no fundo, de todas as questões que envolvem o desportista e
a sua relação com a totalidade, ou melhor, enquadra a acção do Homem, enquanto desportista,
no mais complexo sistema que é o universo.
Como já foi referido, o treino desportivo é um sistema que é dirigido e orientado para
a obtenção dos mais altos rendimentos desportivos. Paralelamente, todo o Homem,
independentemente de ser ou não desportista, tem (ou deveria ter) um objectivo – o
aperfeiçoamento da natureza humana, não no sentido de atingir a perfeição, mas sim de estar
mais próximo do absoluto.
57Treino Desportivo com Crianças e Jovens
No caso do desportista, ele só alcançará o mais alto rendimento se um número alargado
de factores o condicionar a isso, ou seja, o desportista de alto nível precisa de todo um
envolvimento que lhe seja favorável.
Até que ponto a preparação espiritual poderá contribuir para a obtenção dos objectivos
definidos?
O que é a preparação espiritual?
Desde quando a preparação espiritual deve começar a fazer parte do processo de treino?
Quem deverá ser responsável pela preparação espiritual dos atletas?
Será que se pode falar nos factores de preparação espiritual? Se sim, quais são?
Como integrar a preparação espiritual no processo de preparação do treino desportivo?
Ou será que todas estas questões não terão razão de existir?
7.2 - O treino da força com crianças e jovens
A Força é definida, por Platonov e Bulatova (1993), como “a capacidade para vencer uma
resistência ou a ela nos opormos, mediante a actividade muscular”.
Habitualmente, são consideradas na literatura especializada três capacidades de força:
força máxima, força rápida e força resistência.
F. Máxima
É o valor mais alto da força, atingido pelo sistema neuro-muscular, numa
contracção voluntária máxima, contra uma resistência insuperável.
(Schmidtbleicher, 1985)
F. Rápida
Exprime-se na capacidade de um atleta vencer uma oposição (resistências
constituidas por instrumentos acessórios ou pelo peso do próprio corpo),
com uma velocidade de movimento elevada.
(Harre e Lotz, 1989)
F. Resistência
É a capacidade do sistema neuro-muscular manter índices de força
medianamente elevados, durante o maior tempo possível. Traduz a
capacidade do desportista para vencer a fadiga, realizando um número
elevado de repetições, ou desenvolver uma força em condições de
oposição.
(Platonov e Bulatova, 1993)
Segundo Marques (1993), “a força é uma das capacidades motoras mais controversas
e questionadas na perspectiva das consequências para a saúde da criança, designadamente
sobre os aparelhos de suporte e locomotor”.
Há que ter em atenção que o desenvolvimento da força num organismo em crescimento
exige determinados cuidados a fim de evitar lesões principalmente a nível do esqueleto. Para
Weineck (1994), um treino demasiado intenso em idades pré e pubertárias, para além de
poder provocar lesões no sistema esquelético, pode influir negativamente no desenvolvimento
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O treino desportivo com crianças e jovens

  • 2.
  • 3. TREINO DESPORTIVO COM CRIANÇAS E JOVENS FERNANDO MELO
  • 4. FICHA TÉCNICA Título: TREINO DESPORTIVO COM CRIANÇAS E JOVENS Autor: FERNANDO MELO Edição: DIRECÇÃO REGIONAL DA JUVENTUDE Tiragem: 250 EXEMPLARES Depósito Legal: 349262/12 Execução Gráfica: COINGRA, LDA.
  • 5. “Não existe o fracasso quando se tenta o nosso melhor. O único fracasso consiste em não dar o seu máximo”. Tom MacNab (treinador de Atletismo)
  • 6.
  • 7. 1 NOTA INTRODUTÓRIA...................................................................................... 2 O TREINO DESPORTIVO.................................................................................. 3 O ESTADO DE PRONTIDÃO DESPORTIVA..................................................... 4 ETAPAS DA FORMAÇÃO DESPORTIVA........................................................... 5 AS FASES SENSÍVEIS...................................................................................... 6 O ORGANISMO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE..................................... 6.1 O crescimento estatural............................................................................... 6.2 O crescimento ponderal............................................................................... 6.3 O crescimento do tecido ósseo................................................................... 6.4 O crescimento do tecido muscular.............................................................. 6.5 O tecido adiposo.......................................................................................... 6.6 O tecido linfático e timo............................................................................... 6.7 Transformações internas............................................................................. 6.7.1 O sistema cardiovascular................................................................... 6.7.2 O sistema respiratório......................................................................... 6.7.3 Temperatura corporal basal................................................................ 6.7.4 O crescimento do cérebro.................................................................. 6.8 O desenvolvimento do sistema reprodutor.................................................. 6.8.1 Maturação sexual na rapariga............................................................ 6.8.2 Maturação sexual no rapaz................................................................ 6.8.3 Estádios do desenvolvimento genital masculino................................ 6.8.4 Estádios do desenvolvimento das mamas......................................... 6.8.5 Estádios do desenvolvimento da pilosidade púbica (Fem. e Masc.).. 7 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BIO-MOTORAS NO PROCESSO DE TREINO................................................................................... 7.1 Haverá uma dimensão espiritual do treino desportivo?............................... 7.2 O treino da força com crianças e jovens..................................................... 7.2.1 Desenvolvimento da força e fases sensíveis...................................... 7.2.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da força com crianças e jovens.............................................................................................. 7.3 O treino da velocidade com crianças e jovens............................................ 7.3.1 Desenvolvimento da velocidade e fases sensíveis............................ 9 11 15 19 23 27 30 35 36 39 41 42 42 42 43 44 44 45 47 49 51 52 53 55 56 57 61 62 63 68 ÍNDICE
  • 8. 7.3.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da velocidade com crianças e jovens................................................................................ 7.4 O treino da resistência com crianças e jovens............................................ 7.4.1 Desenvolvimento da resistência e fases sensíveis............................ 7.4.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da resistência com crianças e jovens................................................................................ 7.5 O treino da flexibilidade com crianças e jovens........................................... 7.5.1 Desenvolvimento da flexibilidade e fases sensíveis .......................... 7.5.2 Princípios metodológicos do desenvolvimento da flexibilidade com crianças e jovens................................................................................ 7.6 O treino da coordenação com crianças e jovens......................................... 7.6.1 Situações práticas.............................................................................. 7.6.2 Formas de manifestação das capacidades coordenativas................. 7.6.3 Desenvolvimento da coordenação e fases sensíveis......................... 7.6.4 Princípios metodológicos do desenvolvimento da coordenação com crianças e jovens................................................................................ 8 CARACTERIZAÇÃO DO ESFORÇO................................................................. 8.1 Andebol, Judo e Voleibol............................................................................. 8.1.1 Condições objectivas.......................................................................... 8.1.2 Complexidade..................................................................................... 8.1.3 Massa muscular solicitada.................................................................. 8.1.4 Volume................................................................................................ 8.1.5 Intensidade......................................................................................... 8.2 Ténis, Futebol e Basquetebol...................................................................... 8.2.1 Condições objectivas.......................................................................... 8.2.2 Complexidade..................................................................................... 8.2.3 Massa muscular solicitada.................................................................. 8.2.4 Volume................................................................................................ 8.2.5 Intensidade......................................................................................... 9 BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 69 70 74 75 76 79 80 81 83 85 87 89 91 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105
  • 9. 1 - NOTA INTRODUTÓRIA O treino com crianças e jovens tem merecido uma crescente atenção, no contexto nacio- nal e internacional. No entanto, apesar da metodologia do treino desportivo ter evoluído muito, nestas últimas décadas, o certo é que o conhecimento sobre as repercussões das cargas de treino nos jovens continua a ser, ainda, muito limitado. Pode parecer absolutamente desnecessária, porque evidente, a ideia de que a criança “não é um adulto em miniatura”. Todavia, se assim é, não podemos partir do princípio de que aquilo que está correcto para o atleta adulto, esteja necessariamente correcto para o atleta jovem. Convém reflectir sobre o significado da prática do desporto, no que diz respeito à melho- ria da qualidade de vida das crianças e dos jovens. Assim, teremos de partir de vários pres- supostos, realçando-se, para além da adequação permanente das solicitações propostas às suas capacidades e motivações, a imperiosa ligação do prazer à prática realizada. É grande a importância do trabalho que os treinadores desenvolvem com as crianças e com os jovens, exercendo, por vezes, uma maior influência nas suas vidas, do que aquela que é exercida pelos próprios pais. Isto confere ao treinador um papel fundamental na formação desportiva dos jovens, como promotor de um código ético de valores, atitudes e comporta- mentos que caracterizam o “espírito desportivo” - aspecto essencial da formação desportiva e elemento integrante da prática desportiva. Há já algum tempo que este livro está projectado, mas, por condicionalismos vários, só agora é possível a sua publicação. Com ele, pretendeu-se reunir um conjunto de temáticas, cujos conhecimentos não podem estar arredados do treinador de jovens atletas. No entanto, não foi nossa intenção esgotar os temas abordados, mas sim lançar a semente para uma formação mais aprofundada. Parte-se da convicção de que o desporto pode ser uma verdadeira “escola de virtudes”, uma vez que continuamos a acreditar na dimensão educativa, social e cultural que envolve a actividade física e desportiva. Incluímo-nos no grupo daqueles que reforçam a ideia de que não há formação integral sem a inclusão da educação física e do desporto. Assim, está plena- mente justificada a importância do treinador de atletas jovens pela dimensão da sua respon- sabilidade no processo global da formação desportiva da juventude. O conteúdo deste livro não se destina apenas a treinadores, mas também a professores, estudantes de educação física e desporto, pais e encarregados de educação, ou seja, a todos aqueles que, tendo à sua guarda a responsabilidade de educar, vêem nas actividades físicas e desportivas um meio privilegiado de educação.
  • 10.
  • 11. 2 - O TREINO DESPORTIVO Para Verjoshanski (1990), o treino “ é um processo pedagógico complexo, com aspectos muito variados, que têm uma forma específica de organização e que o convertem numa acção sistemática, complexa e global, actuando sobre a personalidade e sobre o estado físico do sujeito”. Adianta aquele investigador que o treino, “pela sua natureza é uma actividade motora específica, sistemática e dirigida à formação e à educação completa do atleta”. Manno (1994) refere que o objectivo do treino, na preparação desportiva, é desenvolver as adaptações de que o organismo necessita para realizar o esforço adequado à especialidade desportiva que se pratica. Assim, o treino será a aplicação de um estímulo ou carga que objectiva a adaptação do organismo, provocando modificações funcionais e morfológicas, as quais possibilitam a obtenção de elevados rendimentos. Desta forma, a carga de treino surge como uma forma de “agressão” ao organismo, levando a que o indivíduo perca o seu equilíbrio interno, verificando- se uma ruptura na sua hemeostasia. Ora, se esta ruptura for equilibrada, o que implica uma correcta aplicação da carga, o organismo vai estabelecer um novo estado de equilíbrio qualitativamente superior. É desta correcta direcção da relação carga - adaptação que resulta toda a evolução desportiva, traduzindo-se numa melhoria das prestações desportivas. Frohner (2003) alerta para a necessidade da qualidade e quantidade dos estímulos de treino, sobretudo quando se fala no treino em idades infanto-juvenis. Adianta ainda que o facto de se ultrapassar os limites individuais de esforço, quer em qualidade quer em quantidade, põe em perigo a recuperação do organismo e, consequentemente, a saúde das crianças e dos jovens. Pode afirmar-se que o treino desportivo é um processo planificado e complexo que tem como objectivo aumentar o rendimento. No entanto, não devemos esquecer que o treino desportivo é também um processo pedagógico que pode favorecer, como refere Hahn (1988), “determinados comportamentos e despertar interesses que se convertem em categorias de valores que são decisivos para o jovem, ao alcançar a idade adulta”.
  • 12. Fernando Melo12 A metodologia do treino com crianças e jovens, remete-nos para uma interrogação de capital importância que é o de sabermos as repercussões das diferentes cargas de treino num organismo em crescimento. Efectivamente, o conhecimento destas repercussões nas idades pré e pós pubertárias é ainda reduzido, tornando-se evidente a necessidade da realização de mais estudos, que determinem os efeitos das cargas de treino e respectivas adaptações no organismo das crianças e dos jovens - Pate e Ward (1996); Bailey (1996); Blimkie e Bar-Or (1996); Docherty (1996); Praagh (1996). Durante o período pubertário, para além das modificações dimensionais, o organismo do jovem sofre modificações fisiológicas importantes, repercutindo-se sobre o processo de treino do adolescente jovem. Sobral (1988) refere que estas modificações afectam a generalidade dos sistemas orgânicos e, como tal, tendem a reflectir-se na capacidade de esforço do indivíduo. TREINO Estímulo AGRESSÃO MELHORIA DOS RESULTADOS RESTABELECIMENTO DE UM NOVO NÍVEL DE EQUILIBRIO RUPTURA DA HOMEOSTASIA Na problemática do treino com crianças e jovens é importante determinar, na evolução da prestação desportiva, o que resulta do processo maturacional do indivíduo e aquilo que resulta do processo de treino. Esta questão, cuja resolução nos parece difícil, senão impossível, deve levar-nos a uma profunda reflexão, tornando-se imperioso, como refere Sobral (1988), “dispor de instrumentos e indicadores que nos proporcionem uma avaliação rigorosa do estatuto maturacional do jovem atleta”. Assim, o treinador de atletas jovens tem de estar consciente de que a idade cronológica dos seus atletas (aquela que é referida no seu Bilhete de Identidade), nem sempre corresponde à idade biológica ou maturacional, pois cada indivíduo evolui a um ritmo próprio. Crepon (1985) refere que “é certo que existem médias nos diferentes domínios, mas a variabilidade em relação a esta média mantém-se uma regra fundamental - certas crianças evoluem mais rapidamente, outras mais lentamente que a média, podendo, no entanto, ser todas perfeitamente normais”. Fig 1: O processo do Treino Desportivo.
  • 13. 13Treino Desportivo com Crianças e Jovens A tendência, verificada tanto a nível nacional como internacional, para se recrutar crianças e jovens com idades cada vez mais baixas para a prática desportiva nas diferentes modalidades levanta, naturalmente, algumas questões, que têm sido colocadas tanto pelos pais, como pelos treinadores e investigadores do desporto. Em que idades a criança (ou o jovem) deve envolver-se em actividades desportivas? Será que, para se ter sucesso no desporto, há vantagens em iniciar-se o mais cedo possível? Quando é que a criança está pronta para competir?
  • 14.
  • 15. 3 - O ESTADO DE PRONTIDÃO DESPORTIVA Para Seefeldt (1982), a palavra prontidão (do inglês readiness) implica que o organismo atingiu um determinado ponto, fruto da acumulação de acontecimentos e de experiências, que levam o indivíduo a ser capaz de adquirir todo um conjunto de informações, habilidades (skills) ou valores. Seefeldt (1982) refere que o conceito de prontidão passou por diversas alterações de interpretação durante as últimas décadas. Na primeira metade do século XX, pensava-se que a maturação biológica da criança era o principal factor que influenciava a aprendizagem das diferentes habilidades motoras. No entanto, investigações posteriores tornaram bastante evidente o papel do envolvimento na aprendizagem das crianças. A noção de prontidão desportiva foi adaptada do conceito de prontidão para as aprendi- zagens escolares por autores como Seefeldt e Malina, sendo introduzida na terminologia das ciências do desporto durante a década de 80. Entende-se por estado de prontidão desportiva “a situação de equilíbrio entre as exigências próprias do treino e da competição desportiva e as capacidades actuais de resposta da criança e do jovem a essas exigências” Sobral (1993). Refere o mesmo autor que, para obtermos uma informação fiável acerca da prontidão des- portiva de um jovem relativamente a um desporto em particular, teremos de analisar sucessi- vamente: 1. “As exigências físicas, motoras e psíquicas da modalidade, com base numa análise das tarefas mais determinantes que a mesma apresenta. 2. O estado de crescimento, maturação e desenvolvimento do jovem, ao nível das quali- dades mais relevantes nesse domínio particular da prestação desportiva. 3. Os elementos característicos do contexto competitivo da modalidade, em relação com a situação sociocultural e familiar em que o atleta se encontra”. Para Magill (1982), o estado óptimo de prontidão desportiva ocorre quando o nível maturacional da criança, a experiência motora anterior e a motivação são apropriados ao skill que se quer aprender. Daqui resulta que, para se compreender melhor o estado da prontidão desportiva, os três factores anteriormente citados têm de ser entendidos numa perspectiva integrada, em que o peso de cada factor varia em função dos dife- rentes skills.
  • 16. Fernando Melo16 Em relação ao facto de existirem ou não vantagens em iniciar-se a prática do desporto o mais cedo possível, Magill (1982) refere que é impossível predizer se há vantagens ou não, uma vez que há um conjunto muito alargado de factores que devem ser considerados. Es- tes factores são aqueles que estão relacionados com as características individuais de cada criança e, ainda, aqueles que se relacionam com as características dos “skills” que vão ser aprendidos. Além disso, tal como é referido no modelo anterior, não se deve esquecer o papel da motivação. Os estudos realizados neste domínio indicam que não é prioritário o facto de a criança se envolver o mais cedo possível em actividades desportivas. O que é importante é que ela, ao envolver-se, se encontre num estado óptimo de prontidão, para poder ter sucesso nas suas aprendizagens. Assim, para que uma criança possa aprender as técnicas de um determinado desporto, terá que, em primeiro lugar, possuir os pré-requisitos necessários para ser bem su- cedida naquele desporto. Brown (2001), reconhecendo que não há um tempo certo para cada criança se envolver em actividades desportivas organizadas, refere que os indivíduos estão prontos para competir, em idades diferentes. Estas actividades expõem a criança a exigências físicas e emocionais para as quais ela está, ou não está, preparada para as suportar. Neste sentido, Brown (2001) segue a mesma linha de pensamento de Magill (1982), alertando para a necessidade do es- tado óptimo de prontidão desportiva aquando do início do envolvimento das crianças com as actividades desportivas. Magill (1982) conclui, referindo-se aos seguintes aspectos que devem estar na mente de todo o treinador de atletas jovens: Fig 2: Modelo da Prontidão Desportiva (Magill,1982). Nível Maturacional Motivação Experiência Motora Anterior Prontidão Desportiva
  • 17. 17Treino Desportivo com Crianças e Jovens 1. O treino deve estar orientado para a aprendizagem dos “skills” básicos de cada des- porto, promovendo, de modo multiforme, as aquisições dos fundamentos técnicos e tácticos das diferentes modalidades. 2. Deve evitar-se a especialização precoce, pois não restam dúvidas de que uma espe- cialização, especialmente antes da puberdade, não traz benefícios futuros. A direc- ção da carga de treino deve estar orientada para uma prática generalizada e, quando possível, para a prática de outras modalidades desportivas. Mesmo considerando um único desporto, não deve haver especialização. Por exemplo, os jovens praticantes de atletismo devem beneficiar de uma prática generalizada de todas as disciplinas da modalidade, assim como os jovens futebolistas devem passar por todas as posições do campo, não se especializando em nenhuma delas. 3. O treino deve dar à criança (e ao jovem) oportunidades de sucesso, de modo a que ela se sinta atraída em participar nas actividades que lhe são propostas. Será, pois, necessário, todo um envolvimento que leve a criança a dar um sentido àquilo que faz, integrando os seus hábitos desportivos nas suas necessidades do quotidiano, fazendo com que estes perdurem pela vida fora. 4. A idade cronológica da criança, nem sempre corresponde à idade biológica ou matu- racional. Se uma criança apresenta um grau de maturação retardado, não pode exibir o mesmo nível de mestria dos diferentes “skills” motores das outras crianças que são avançadas no seu estatuto maturacional. Assim, aquilo que por vezes é considerado como uma falta de habilidade ou de potencialidades para triunfar mais tarde no despor- to, não é mais do que o resultado de um inadequado estado de prontidão manifestado pela criança, na aprendizagem das diferentes habilidades motoras. Quanto a este último aspecto, Coronado (1988) refere que em Espanha, ao pretender- -se seleccionar saltadores em altura, entre jovens de 12 a 16 anos, numa população de 300 alunos, divididos em diferentes classes, realizou-se uma competição inicial. Procedeu-se, du- rante três meses, ao ensino técnico e efectuou-se uma nova competição final. Comprovou-se que a maioria dos vencedores eram indivíduos com uma maturação adiantada, quer dizer, mais baixos do que a média do seu curso, com um desenvolvimento muscular importante e com sinais de maturação, como a voz grave ou pêlos nas pernas e nos braços. Estes rapazes eram capazes de ultrapassar a sua estatura, enquanto que outros, fisicamente mais adequa- dos para a especialidade, (devido ao seu grande crescimento: 20 a 25 cm superior ao dos vencedores e também devido ao seu desenvolvimento tardio), praticamente eram incapazes de levantar as pernas do solo. Naturalmente estes perdedores foram escolhidos, conseguindo alguns deles, anos mais tarde, serem internacionais juniores e absolutos na equipa nacional espanhola. Para Passer (1982), a competição é um processo de comparação social. Sob o ponto de vista motivacional, a prontidão desportiva ocorre quando a criança se sente atraída por parti- cipar em situações que lhe permitem comparar-se com outras crianças. Várias investigações
  • 18. Fernando Melo18 têm realçado o facto de que em crianças de pouca idade, isto não se verifica - Roberts; Scan- lan; Sherif; citados por Passer, (1982). No entanto, os dados destas investigações sugerem que, no início dos primeiros anos da escola primária, as crianças começam a manifestar in- teresse em comparar-se umas com as outras em termos das suas capacidades motoras. Ro- wen, citado por Passer (1982), refere que é por volta dos 6/7 anos que as crianças começam a transformar todo o tipo de situações em pequenas competições, para ver quem é o “melhor”. Passer (1982) recomenda que as crianças com idades inferiores a 7/8 anos não devem ser encorajadas a participar em competições, visto que só a partir daquelas idades é que co- meçam a sentir-se motivadas para competir. Contudo, não devemos deixar de considerar que o conceito de prontidão desportiva é extremamente complexo e que, para além dos aspectos motivacionais, envolve também as- pectos de natureza biológica, motora e social.
  • 19. 4 - ETAPAS DA FORMAÇÃO DESPORTIVA O processo de formação desportiva tem de ser encarado como um processo a longo pra- zo. Independentemente de os jovens poderem atingir (ou não) os patamares mais elevados do rendimento desportivo, é vantajoso que o contacto com as actividades físicas e desportivas apareça numa fase precoce das suas vidas e que o desporto seja um elemento integrante do seu dia-a-dia. Pelos dados da investigação, sabemos que são necessários muitos anos de treino (10 a 12 anos) para se alcançar resultados de nível internacional e que o planeamento a longo pra- zo torna-se uma exigência para se atingir a excelência desportiva. No entanto, não devemos esquecer que apenas uma pequeníssima percentagem dos jovens que se iniciam no desporto consegue alcançar a alta competição. Bompa (2002) refere que o treino desportivo deve começar na infância para que o atleta possa progressiva e sistematicamente preparar-se para atingir a excelência, num processo devi- damente planeado e orientado por princípios científicos. Em síntese, o planeamento a longo prazo torna-se uma exigência para se atingir a excelência desportiva.Acrescente-se ainda que, ao longo de todo o processo de formação, os atletas desenvolvem-se e evoluem de modo distinto, devendo as cargas de treino respeitar critérios de adaptação psicobiológicos de cada organismo. Como já foi referido anteriormente, a idade cronológica nem sempre corresponde à idade biológica ou maturacional do indivíduo. Os jovens de maturação tardia não devem ser prete- ridos relativamente aos seus pares de maturação precoce. A estes, como são maiores, mais fortes e mais resistentes, por vezes, são-lhes dadas mais oportunidades de competir, enquan- to os outros ficam no banco de suplentes. Uma das directizes do treino de crianças e jovens, sugeridas por Bompa (2002), aponta para a necessidade de os mesmos passarem, numa fase inicial, por um trabalho multilateral e, posteriormente, por uma fase de treino mais específica. Alerta ainda aquele autor para a importância das crianças desenvolverem várias habilidades fundamentais, antes de se inicia- rem na prática de qualquer modalidade desportiva. Tal facto requer, da parte dos treinadores e pais, muita paciência, pois muitos deles, na ânsia de alcançarem resultados a curto prazo, encaminham os jovens para um treino demasiado especializado, comprometendo-se, assim, toda a evolução futura dos jovens atletas.
  • 20. Fernando Melo20 Bompa (2002), mencionando uma pesquisa soviética, publicada por Nagorni, em 1978, refere que a maioria dos atletas considerou que o seu sucesso foi possível devido à base do trabalho multilateral, realizado desde a infância até à idade júnior. O estudo conclui que, para a maior parte dos desportos, a especialização não se deve iniciar antes da idade dos 15/16 anos. O atleta percorre um longo caminho, até atingir a excelência desportiva. Passa por diver- sas etapas que vão consolidando cada vez mais a sua formação e é capaz de tolerar, progres- sivamente, maiores exigências de treino e de competição. Apesar das diferentes propostas de classificação existentes a nível internacional, tornou-se comum considerar-se no processo de formação desportiva, as seguintes etapas: 1 - Iniciação 2 - Orientação 3 - Especialização Em relação à definição etária das etapas da formação desportiva, verificamos que não é igual para todas as modalidades, apresentando cada modalidade uma especificidade própria. Assim, o início da prática desportiva difere de modalidade para modalidade, bem como as idades em que se verifica o início da especialização. Quadro 1 - idades médias do início, especialização e pico de prestação em diversas moda- lidades desportivas, segundo Bompa,1990). Idade para alcançar o alto rendimento Idade para iniciar a especialização Idade para iniciar a prática do desporto DIRECTIZES PARA O CAMINHO RUMO À ESPECIALIZAÇÃO Atletismo Basquetebol Boxe Ciclismo Esgrima Esqui Futebol Ginástica Fem. Ginástica Masc. Halterofilia Natação Remo Tenis Voleibol 10-12 7-8 13-14 14-15 7-8 6-7 10-12 6-7 6-7 11-13 3-7 12-14 6-8 6-8 13-14 10-12 15-16 16-17 10-12 10-11 11-13 10-11 12-14 15-16 10-12 16-18 12-14 12-14 18-23 20-25 20-25 21-24 20-25 20-24 18-24 14-18 18-24 21-28 16-18 22-24 22-25 20-25
  • 21. 21Treino Desportivo com Crianças e Jovens Vejamos quais os objectivos globais de cada uma das etapas anteriormente referidas, servindo-nos do exemplo do Atletismo1 . Etapa de Iniciação: formação psicomotora variada de base, com desenvolvimento dos pressupostos gerais do atletismo. Etapa de orientação: início da especialização específica no atletismo - num bloco de disciplinas. Etapa de especialização: desenvolvimento dos pressupostos para o rendimento máximo numa disciplina do atletismo com o objectivo final de atingir o mais alto nível internacional. Poderá eventualmente considerar-se uma quarta etapa, correspondente à prática da mo- dalidade ao nível da alta competição. Decorrente dos objectivos globais, determinam-se os seguintes objectivos específicos: Etapa de Iniciação: • optimização e estabilização da saúde dos praticantes através de uma prática e de um controlo adaptados aos praticantes. • aprendizagem das “regras” básicas da modalidade. • desenvolvimento do espírito associativo nos praticantes. • desenvolvimento de atitudes correctas perante o desporto em geral e, em especial, perante o treino e a competição. • contribuição para o conhecimento teórico básico da actividade desportiva, em geral, e do atletismo, em particular. • constituição, fundamentalmente através da actividade jogada, de uma base alargada de capacidades e habilidades motoras. • desenvolvimento da prestação técnica variada, de forma a permitir uma participação competitiva segura no maior número possível de disciplinas do atletismo - saltos, corri- das e lançamentos. • participação privilegiada em provas combinadas. Etapa de Orientação: • aprofundar os objectivos anteriores. • orientação para um dos blocos de disciplinas - saltos, corridas ou lançamentos. • desenvolvimento de todos os factores do treino específicos do bloco de disciplinas escolhido. • aperfeiçoamento do nível geral das capacidades condicionais e coordenativas. • aperfeiçoamento das qualidades psico-morais específicas do bloco de disciplinas escolhido. • “colecção” de experiências competitivas variadas inclusive em outras modalidades des- portivas consideradas complementares. 1 FPA - Plano/Regulamentação/Sistematização da Formação de Treinadores, s/d
  • 22. Fernando Melo22 Etapa de especialização: • especialização mais acentuada numa disciplina. • contribuição para uma mais significativa expressão da individualidade do praticante. • Promoção da obtenção de resultados desportivos de nível superior internacional. • acentuada diferenciação entre a optimização e a maximização das capacidades moto- ras. • aperfeiçoamento das qualidades psico-morais exigidas pela especificidade da disciplina em que se promove a especialização. • promoção de uma autonomia mais acentuada do atleta, quer em treino quer em com- petição. • orientação do treino - forma - para as competições mais importantes. • maior diferenciação dos objectivos do treino. • estímulo à libertação das reservas individuais assim como à deslocação do limiar da mobilização.
  • 23. 5 - AS FASES SENSÍVEIS As hipóteses sobre a existência das chamadas “Fases Sensíveis” no desenvolvimento das capacidades motoras têm suscitado novamente um grande interesse nos investigadores do desporto, convertendo-se num tema central nos cursos de treinadores, relativamente ao treino com crianças e jovens - Baur (1990). Interroga-se aquele investigador sobre as seguintes questões: 1. Que se deve entender por fases sensíveis? 2. Existirão realmente no desenvolvimento humano fases sensíveis? 3. Quais são os indicadores da sua existência? Se efectivamente as fases sensíveis existem, será necessário tomá-las em conta na pro- gramação a longo prazo do desporto infanto-juvenil? Investigadores da Psicologia do Desenvolvimento e da Fisiologia Comportamental re- ferem que a evolução motora não é biologicamente linear, mas sim irregular. Demeter, citado por Grosser et al. (1989), diz que se alternam períodos de evolução lenta, relacio- nadosbcom a idade, as condições de vida e as particularidades individuais com outros de maturação rápida, a nível morfológico e funcional. No final destes períodos rápidos, encontramo-nos em condições especialmente favoráveis para o desenvolvimento das ca- pacidades motoras. Estes períodos correspondem às chamadas Fases Sensíveis ou Fases Sensitivas. Porém, e segundo Winter (1987), apesar destes dois conceitos se usarem juntos em tex- tos recentes e serem interpretados como sinónimos, ele prefere a denominação do primeiro, uma vez que o conceito de “Fase Sensível” é a expressão original usada desde há muito em várias disciplinas científicas para definir fenómenos análogos. Para além da palavra “sensível” ser usada nas ciências do desporto em várias expressões, Winter (1987) refere que, sob o ponto de vista linguístico, o adjectivo “sensível” corresponde ao objecto que se quer expressar com a expressão de fase sensível: uma fase na qual há uma sensibilidade particular direccio- nada a determinados estímulos externos.
  • 24. Fernando Melo24 Podemos, pois, definir “Fases Sensíveis” como sendo determinados períodos do proces- so de desenvolvimento do ser humano nos quais este, submetido a certos estímulos, reage, adaptando-se com muito mais intensidade do que em qualquer outro período - Thiess, Schna- bel, Baumann, citados por Carvalho (1983). O conceito de “Fase Sensível” apareceu, em primeiro lugar, em embriologia. Foi possível estabelecer que no desenvolvimento morfológico dos organismos animais e vegetais havia períodos cronologicamente limitados, nos quais os sistemas celulares reagiam com particular sensibilidade a estímulos ambientais - Baur (1990). No que se refere à ontogênese humana, os fenómenos mais amplamente estudados têm sido o desenvolvimento da linguagem e o das relações sociais. Lennenberg, citado por Baur (1990), aponta uma fase sensível para o desenvolvimento da linguagem aproximadamente entre os 2 anos e a puberdade. Refere o mesmo autor que normalmente as crianças apren- dem a falar entre o 18º e o 23º mês de vida (se se tomar como referência a primeira frase com duas palavras). Parece que antes, não é possível a criança aprender a falar, mesmo que seja estimulada para este fim. Esta fase sensível termina com a puberdade e a sua determinação baseou-se em dados sobre a afasia provocada por traumatismos, isto é, sobre a perda da capacidade de falar depois de uma lesão nervosa. No que respeita às investigações sobre o comportamento social, relativamente à existên- cia de fases sensíveis, as conclusões são incertas e pouco claras - Baur (1990). Quanto à existência de fases sensíveis no desenvolvimento das capacidades motoras, as opiniões dos investigadores, para além de não serem coincidentes, são, por vezes, diver- gentes. Tomemos, por exemplo, a força rápida. Volkov, citado por Winter (1987), demonstrou um aumento progressivo no incremento desta capacidade com o avanço da maturação sexual. No entanto, Werbitz chegou a conclusões opostas (máximas taxas de incremento na etapa inicial da maturação sexual, decrescendo acentuadamente até ao final). Wolanski, citado por Winter (1987), aponta um período favorável para o desenvolvimento da força rápida dos 7/8 anos até aos 12/13 anos, enquanto que Ivanovich, com base em estudos realizados em gran- de escala, afirma que os 15 anos de idade são os mais favoráveis para o desenvolvimento da força dinâmica. Na realidade, os resultados das várias investigações divergem de forma bastante notória tanto ao nível dos incrementos médios de variação das diferentes capacidades motoras, como em relação às idades em que se registam os incrementos mais elevados. Desta forma, Baur (1990) põe em discussão os dados que sustentam a afirmação cor- rente de que se observam períodos com incrementos particularmente elevados no desenvol- vimento das capacidades motoras. Para o mesmo autor, as discussões sobre o período de maior treinabilidade da resistência aeróbia, por exemplo, documentam, uma vez mais, que
  • 25. 25Treino Desportivo com Crianças e Jovens os dados que hoje conhecemos são incertos e pouco claros. Baur (1990), tendo por base os dados disponíveis, refere que não é possível verificar com segurança quais os ciclos de ida- des em que as diferentes capacidades motoras, (à excepção das capacidades de força e da resistência anaeróbia), são treináveis com uma maior eficácia. Para outros investigadores: Thiess, Schabel, Baumann, citados por Carvalho (1983); Hahn (1988); Grosser et al. (1989), a hipótese das fases sensíveis está amplamente compro- vada, muito embora estejamos ainda no início da construção de uma teoria sobre “Fases Sen- síveis”, dado as investigações sobre algumas capacidades motoras serem ainda insuficientes e mesmo apresentarem resultados controversos - Carvalho (1988 a). Para concluir, apresentamos seguidamente os aspectos que julgamos mais relevantes na problemática do treino com crianças e jovens no que se refere às Fases sensíveis - Winter (1987); Hahn (1988); Carvalho (1988 b); Grosser et al. (1989). 1. É indiscutível que o treino das capacidades motoras, quer sejam elas coordenati- vas ou condicionais, não tem o mesmo efeito em qualquer idade. Assim, os perío- dos ontogenéticos, em que se verifica uma maior sensibilidade do organismo para o desenvolvimento de uma determinada capacidade, são considerados de fases sensíveis. A sua existência não se pode por em dúvida, se bem que em parte não sejam ainda identificadas suficientemente. Por outro lado, não existe uma fase sensível geral, mas sim várias, diferenciadas em relação a cada uma das capaci- dades motoras. 2. Podemos aceitar, sem qualquer reserva, que, durante o desenvolvimento ontogené- tico do homem, existem períodos durante os quais se registam notáveis incrementos no rendimento das diferentes capacidades motoras. Tais períodos, podem conside- rar-se como uma indicação da existência de uma fase sensível. Porém, os elevados incrementos de rendimento verificados, não provam, por si só, a existência de uma fase sensível. Por exemplo, quando um jovem se inicia no treino da resistência, o mais provável é que ele melhore o seu desempenho competitivo, podendo este perí- odo coincidir ou não com uma fase sensível. 3. Não basta conhecer os períodos correspondentes às fases sensíveis das dife- rentes capacidades motoras. Torna-se igualmente fundamental que o treinador saiba escolher os meios e os métodos mais eficazes e adequados ao desenvol- vimento da cada uma das capacidades. É também importante que o treinador se oriente, tanto quanto possível, pela idade biológica ou maturacional e não pela idade cronológica da criança e do jovem, levando em conta as diferenças entre os dois sexos. 4. É igualmente importante referir que é possível e necessário treinar também fora das idades das fases sensíveis. Não deve existir unilateralidade nem exclusividade no desenvolvimento desta ou daquela capacidade, nesta ou naquela idade. As fases sensíveis não podem estar limitadas a um espaço temporal de apenas um ano, como referem, por exemplo, Kuznecova e Ivanovick - citados por Winter (1987), mas sim a um período mais longo, abrangendo várias idades.
  • 26. Fernando Melo26 5. A utilização das fases sensíveis no processo do treino da criança e do jovem deve levar-nos a uma reflexão do tipo pedagógico-desportivo, que questione as finalida- des do treino, entendido também como um processo educativo. Isto não anula, de modo algum, a importância do rendimento desportivo nas crianças e nos jovens. Ape- nas pretende-se sublinhar todo um conjunto de reflexões pedagógicas, que têm em vista uma correcta aplicação metodológica, possibilitando assim nos nossos jovens um elevado nível formativo. Quadro 2: Percentuais anuais de variação da capacidade de resistência. (indicador: corrida de 800 metros) Fonte: Baur (1990). Quadro 3: Percentuais anuais de variação da capacidade de resistência de força. (indicador: elevação do tronco,”sit ups”.Fonte: Baur (1990). Idade Kohler (RDA, 1976) Fetz (Austria, 1976) Masc. Masc.Fem. Fem. 8 9 10 11 12 13 14 15 16 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 8,3 7,7 14,3 0,0 12,5 0,0 -5,6 16,7 0,0 14,3 0,0 0,0 0,0 13,2 6,9 3,3 7,4 1,9 2,9 1,9 5,5 0,0 7,8 19,5 7,8 6,7 6,9 12,9 2,1 6,6 4,3 3,2 34,4 3,5 4,5 0,0 6,5 4,0 -2,9 -1,0 0,0 4,0 14,0 10,8 7,6 7,7 7.8 2,2 3,8 0,5 3,1 5,7 7,1 0,3 4,9 5,9 0,9 3,8 6,4 1,7 4,9 7,2 2,6 5,6 2,6 -3,0 1,2 -1,9 -1,0 6,4 2,3 6,3 4,9 -3,2 0 10,2 Idade Hebbelinck/Borms (Belgica,1978) Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Fetz (Austria,1982) Crasselt et al. (RDA, 1985)
  • 27. 6 - O ORGANISMO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Pode parecer absolutamente desnecessária, porque evidente, a ideia de que a criança “não é um adulto em miniatura”. Se assim é, não podemos partir do princípio de que aquilo que está correcto para o atleta adulto está necessariamente correcto para o atleta jovem. O desenvolvimento desportivo do jovem praticante “representa um processo a longo pra- zo, que não pode efectuar-se fora do respeito pelas etapas do desenvolvimento do indivíduo” - Gonçalves (1989). As cargas de treino a que estão sujeitas a criança e o jovem devem respeitar critérios de adaptação psicobiológicos do organismo. Todos os indivíduos crescem, mas nem todos crescem da mesma maneira. Há em cada indivíduo como que um “relógio biológico” que marca o ritmo de crescimento e desenvolvimento individuais. A idade cronológica do indivíduo pode não corresponder à sua idade biológica, verificando-se, assim, uma discrepância entre ambas. Com efeito, um rapaz de 12 anos pode ter 14 anos biológicos (maturação avançada), ou 10 anos biológicos (maturação tardia). Assim, verifica-se que em competições em que os jovens competem segundo um critério que segue a idade cronológica, existe uma competição desigual entre os jovens de maturação tardia e os de maturação avançada. Idade Cronológica Versus Idade Maturacional 10 anos 12 14 anos Maturação Retardada Maturação avançada O esforço deve respeitar critérios de adaptação psicobiológicos do organismo do adolescente
  • 28. Fernando Melo28 Relativamente a este assunto, Astrand (2000) refere que a caracterização de um indi- víduo sobre a base de uma escala de idade pode ser prática, mas é biologicamente defei- tuosa, uma vez que o crescimento acelerado da adolescência tem um profundo efeito sobre o rendimento físico. Deste modo, um indivíduo pode atingir um elevado nível de rendimento físico devido simplesmente a uma questão de maturação avançada e não, como se poderia inicialmente supor, ao seu talento. Consciente deste facto, todo o treinador deve, por isso, ajustar os seus métodos de treino ao nível de maturação e de crescimento dos seus atletas. Esta questão levou Alford (1988) a afirmar: “Os jovens atletas precisam dos melhores treinadores”. Com efeito, a adequação das cargas de treino às possibilidades dos atletas, é um problema central de toda a Metodologia do Treino, uma vez que, e como diz Proença (1990), “a determinação da carga de treino é um objectivo a perseguir, um desafio na procura de reduzir as possibilidades de erro, sem, todavia, encontrar soluções exactas e milagrosas”. A este propósito, Frohner (2003) refere que nas idades infanto-juvenis o respeito pelos limites de tolerância do sistema biológico deve estar na primeira linha das preocupações do treino, visto que, nesta fase vital, os indivíduos são mais propensos a sofrer transtornos cau- sados pelo esforço. Assim, torna-se imperioso estabelecer esforços correctos e adequados às possibilidades das crianças e dos jovens. De um ponto de vista fisiológico, a entrada na adolescência corresponde à puber- dade, sendo esta caracterizada, como refere Nicoletti (1984), para além de um aumento da velocidade de crescimento de todo o organismo, pelo desenvolvimento do sistema de reprodução e dos caracteres sexuais secundários, em particular do pénis, testículos e pêlos púbicos, nos rapazes, enquanto que, nas raparigas, é caracterizada pelo desen- volvimento das mamas e dos pêlos púbicos. Estes caracteres (nas raparigas também a idade da menarca) são tomados em consideração quando se quer avaliar a normalidade do desenvolvimento puberal. Para além das mudanças físicas, acontecem também nesta etapa mudanças psicológicas e emocionais que marcam a transição para a vida adulta. O que define mais destacadamente esta transição é a aquisição da capacidade reprodu- tora. O termo puberdade tem origem no latim pubertas, que significa “idade da virilidade”. Apa- rece a meio da adolescência e significa, para a maioria dos autores, procriar. Todas estas transformações, como refere Katchadourian (1977), acarretam em si profun- das repercussões psicológicas e sociais.
  • 29. 29Treino Desportivo com Crianças e Jovens Para Sinding (1994), a puberdade (termo da biologia e da medicina), ou adolescência (termo mais geral para designar esta fase de transição entre a infância e a idade adulta), é, por definição, um período crítico. Mas isto não quer dizer que seja, necessariamente, um período difícil. Birraux (1994) refere que com a puberdade “todos os pensamentos, todas as represen- tações da criança mudam: elas são infiltradas por um desejo de sedução. O mundo interior torna-se estranho e inquietante”. Vejamos, pois, quais as principais transformações pelas quais passa o organismo do jovem, ao longo da puberdade, nos mais variados domínios. Idade da Virilidade Possibilidade de procriar (Pubertas) Repercussões Sociais Repercussões Psicológicas SALTO PUBERTÁRIO PUBERDADE Transformações Dimensionais Fisiológicas
  • 30. Fernando Melo30 6.1 - O crescimento estatural O treinador de atletas jovens facilmente se apercebe de que, a partir de um determinado momento, se verifica como que uma “erupção” no crescimento dos seus atletas. Convém re- ferir que por CRESCIMENTO “se entende o conjunto das modificações dimensionais do corpo, enquanto que o termo MATURAÇÃO se associa ao processo de regulação genética que de- termina o momento, a intensidade e a cadência a que se processam aquelas modificações” - Sobral (1993). Para Pérez (1994), o DESENVOLVIMENTO refere-se “às modificações que o ser humano sofre ao longo da sua existência, implicando não só a maturação do organismo e o crescimen- to corporal, mas também toda a influência do ambiente sobre a pessoa”. O crescimento em altura é uma das transformações mais evidentes que ocorre durante a puberdade, determinando, no corpo do jovem, um aspecto magro e adelgaçado. Não é totalmente possível predizer a altura que o jovem irá ter quando for adulto. No en- tanto, existem tabelas que determinam a percentagem da altura adulta para cada idade. Uma dessas tabelas está representada no Quadro 4, muito embora os dados se refiram à popula- ção dos Estados Unidos da América. Assim, um rapaz de 14 anos com 1,67m, provavelmente terá 1,81m na idade adulta. Idade Masc Fem Idade Masc Fem 1 42 45 10 78 84 2 50 53 11 81 88 3 54 57 12 84 93 4 58 62 13 87 97 5 62 66 14 92 98 6 65 70 15 96 99 7 69 74 16 98 100 8 72 78 17 99 100 9 75 81 18 100 100 Quadro 4 – Percentagem da Idade Adulta. Fonte: National for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (USA). As chamadas curvas de crescimento relacionam entre si as idades e as medidas de uma característica fundamental como a estatura, o peso, etc.
  • 31. 31Treino Desportivo com Crianças e Jovens Na Fig.3 está representada a curva de distância, em que cada ponto da curva representa a distância percorrida no percurso que conduz ao tamanho adulto, verificando-se alterações no crescimento durante aquele período. Fig. 3 – Curva de distância. Fonte: Sobral (1988). Podemos também representar o crescimento humano, considerando a velocidade do crescimento, ou seja, os incrementos em altura, de uma idade a outra. É o que se verifica na Fig. 4, que representa a curva de velocidade. Fig. 4 – Curva de velocidade. Fonte: Sobral (1988). Comparando estas duas curvas, pode-se constatar que, apesar da altura aumentar ao longo da infância, o grau em que ela ocorre decresce muito rapidamente nos primeiros anos de vida, e depois menos acentuadamente até ao início do salto pubertário, onde se verifica uma aceleração.
  • 32. Fernando Melo32 De acordo com Tanner, citado por Katchadourian (1977), um elemento característico da curva de velocidade de crescimento, é um ponto chamado take-off que corresponde a um repentino aumento da velocidade do crescimento. Para indicar este fenómeno, emprega-se geralmente o termo inglês spurt (impulso ou salto pubertário). O take-off corresponde, exacta- mente, à idade do início do salto pubertário. Como se pode ver na configuração da curva de velocidade, a partir do take-off, existe um de- clive muito acentuado que traduz a intensidade do crescimento dimensional, e um pico que coincide com a taxa máxima de crescimento (PVA). Conforme escreve Sobral (1988), “a partir daí, os incre- mentos tornam-se sucessivamente menores, até que cessam completamente quando o indivíduo, sob a influência concertada do meio, actualiza o seu potencial genético para a dimensão conside- rada. Ao período que medeia entre o take-off e o pico de velocidade chamamos salto pubertário”. O salto pubertário é um fenómeno que ocorre em todas as crianças, mas devemos ter bem presente que varia em intensidade e duração de indivíduo para indivíduo; todas as crian- ças crescem, mas não crescem todas da mesma maneira. Como refere Sobral (1988), “o preciso momento em que este salto se desencadeia varia de população para população e de geração para geração”. Dados fiáveis obtidos em dife- rentes países mostram que, desde 1900, crianças em idade pré-escolar eram mais altas em média 1,0 centímetro e mais pesadas 0,5 quilogramas por década – Katchadourian (1977); Falkner e Bakwin, citados por Katchadourian (1977), referem que os ganhos durante a puber- dade eram em média de 2,5 centímetros e 2,5 quilogramas, e para os adultos de 1,0 centíme- tro por década. Contudo, segundo Sobral (1988), “existem dois factos invariantes a reter: o primeiro é a precedência do fenómeno em cerca de dois anos entre as raparigas, e o segundo é a configu- ração constante da curva (subentenda-se: no crescimento normal), seja qual for a população, o sexo ou a idade maturacional do indivíduo”. Quanto à idade do início do salto pubertário, Tanner (1962) refere que nos rapazes se inicia em média dos 12½ aos 15 anos, enquanto que nas raparigas, cerca de 2 anos mais cedo, ou seja, dos 10½ aos 13 anos. Tal como salienta Sobral (1988), “uma precisão deverá estar sempre presente: em média, referindo que algumas raparigas e alguns rapazes, podem iniciar a puberdade mais cedo, outros mais tarde”. Desta forma, o treinador de atletas jovens deverá sempre admitir que nem todos os jovens, embora tendo a mesma idade cronológica, estão no mesmo estádio de maturação, pois o que determina o salto pubertário não é a idade cronológica do indivíduo, mas sim o seu estádio maturacional. A idade em que se atinge a adolescência é, pois, muito variável. Tal facto faz com que dois jovens com a mesma idade cronológica possam estar em estádios de maturação opostos (um retardado, outro avançado), sem, no entanto, haver transgressão dos limites da normalidade.
  • 33. 33Treino Desportivo com Crianças e Jovens A este propósito, Sobral (1988) refere que “uma criança de 11 anos de idade cronológica, pode ter, em termos maturacionais, uma idade compreendida entre os 9 e os 13 anos, sem que deva falar-se de deficiência de crescimento e/ou desenvolvimento”. No entanto, Nicoletti (1984) refere que curvas de velocidades estaturais diversas podem todavia conduzir a uma mesma estatuta final, pelo que a estatura final, na prática, é independente, nos rapazes nor- mais, quer da idade de início da puberdade, quer do incremento estatural obtido durante o salto pubertário. Fig. 5 – Curvas de velocidade do crescimento estatural em raparigas e rapazes. Fonte: (Shuttleworth, mencionado por Tanner, 1962). No Quadro 5 estão representados os valores dos decis e dos quartis das distribuições da altura, em investigações conduzidas por Sobral e Silva (1999), num estudo de crescimento e aptidão física na população escolar, na Região Autónoma dos Açores. Sobral já tinha iniciado o estudo em 1986, continuando-o em 1989. A partir dos resultados observados em 1999 e comparando-os com os dados referentes a 1989, os autores afirmam que se observam “algu- mas características destacáveis de estado e de tendência de crescimento” Assim, verificam- -se incrementos decenais significativos das médias quer nos rapazes quer nas raparigas: 2,5 e 2,9 cm, respectivamente. O Quadro 6 refere os dados antropométricos encontrados por Vila (1990), que, ao aplicar a bateria EUROFIT em jovens catalães em idade juvenil (15 anos), praticantes de várias modalidades ao nível do alto rendimento, encontrou diferenças significativas relati- vamente à altura, sendo os desportistas mais altos 5,1 centímetros que os seus pares não desportistas. Quanto ao peso, o mesmo autor refere que os jovens desportistas eram mais pesados (62 versos 59 quilogramas), embora as diferenças entre os dois grupos não fossem significativas.
  • 34. Fernando Melo34 Estes dados são consistentes com aqueles obtidos por Melo (1997), que, ao estudar os efeitos da aplicação temporária de cargas de treino no desenvolvimento de algumas capacida- des motoras em jovens pubertários (15 anos), registou diferenças significativas, relativamente à altura, entre os jovens desportistas e não desportistas, sendo os primeiros mais altos 4,6 centímetros (171,2 versus 166,6). Relativamente ao peso, o mesmo autor não encontrou dife- renças significativas, sendo, no entanto, os jovens desportistas mais pesados em média 4,0 Kg do que os seus pares não desportistas (61 versus 57). Quadro 6 - Comparação entre jovens desportistas e não desportistas (15 anos) relativamente às variáveis antropométricas, altura e peso (Vila, 1990). Quadro 5 – Descis e quartis (F) das distribuições da estatura (Sobral e Silva, 1999). F Sexo 10 11 12 13 14 15 10 M 130,3 135,7 138,9 144,8 151,4 161,2 F 133,9 136,8 142,6 146,5 150,4 153,9 20 M 134,1 139,7 143,6 152,3 156,9 164,1 F 137,0 140,1 146,3 150,2 153,1 155,8 25 M 135,3 140,8 144,1 153,4 158,2 165,2 F 137,5 141,1 147,7 151,3 153,7 156,4 30 M 135,9 142,1 145,4 154,8 159,8 165,9 F 138,5 142,3 147,6 152,0 154,9 156,6 40 M 138,6 144,3 146,5 157,0 162,3 167,4 F 139,6 143,9 149,1 154,0 156,9 158,7 50 M 140,1 146,1 147,8 159,0 163,7 169,5 F 141,6 145,4 151,3 155,9 158,1 159,5 60 M 142,1 147,1 150,5 160,5 166,5 171,0 F 143,8 147,8 153,1 157,2 159,5 160,5 70 M 143,2 149,1 152,3 164,6 168,6 172,5 F 145,9 150,5 154,9 158,3 160,6 163,8 75 M 144,0 150,4 153,2 165,6 169,0 173,9 F 147,5 151,7 155,8 159,1 162,2 164,1 80 M 145,1 152,9 157,0 166,6 169,4 175,0 F 148,4 152,8 156,5 160,1 163,4 164,7 90 M 148,7 156,2 159,9 169,0 170,9 177,8 F 151,0 157,1 159,1 162,5 166,0 167,1   Desportistas Não desportistas   MÉDIA SD n MÉDIA SD n p Altura 173,5 10,2 13 168,4 7,8 262 * Peso 62,0 12,1 13 59,0 9,4 262
  • 35. 35Treino Desportivo com Crianças e Jovens 6.2 - O crescimento ponderal Segundo Frohner (2003), o aumento da massa corporal inicia-se cerca de dois anos mais cedo nas raparigas do que nos rapazes, razão pela qual aos 13/14 anos, as rapari- gas são mais pesadas do que os rapazes da mesma idade. Nestes, o aumento da massa corporal começa mais tarde e prolonga-se até ao final da adolescência (18/19 anos). Nas raparigas, o aumento do peso termina muito antes, aproximadamente aos 15/16 anos. A curva do peso, desde o nascimento até à idade adulta, assemelha-se à curva da estatura. No entanto, e como salienta Nicoletti (1984), ao contrário da estatura, o peso não pode ser interpretado de modo satisfatório se apenas for considerado em função da idade. Com efeito, ele está sobretudo em relação com a estatura. Heald e Hung, citados por Katchadourian (1977), referem que aos 10 anos, os ra- pazes atingem apenas 55% e as raparigas 59% do seu peso adulto. Segundo Tanner (1962), o pico de velocidade do peso, ocorre cerca de 6 meses depois do pico de veloci- dade da estatura. Os dados apresentados no Quadros 7 referem-se aos valores dos decis e dos quar- tis das distribuições do peso, em investigações anteriormente citadas, realizadas por Sobral e Silva (1999), na Região Autónoma dos Açores. Os autores referem que, com- parando os valores relativos a 1989 e 1999, os rapazes apresentam incrementos das médias variando entre 1,7 kg e 6,7 Kg, enquanto que as raparigas, os incrementos variam entre 1,7 e 7,8 Kg.
  • 36. Fernando Melo36 6.3 - O crescimento do tecido ósseo Segundo Nicoletti (1984), o tecido ósseo cresce no decurso da idade evolutiva, com uma velocidade máxima, cerca da idade em que se verifica o pico de velocidade da altura (PVA), e, portanto, com uma diferença entre os sexos análoga à do crescimento estatural. O osso forma-se a partir de pontos de ossificação que se vão estendendo e transforman- do a estrutura cartilagínea em tecido ósseo. O primeiro ponto de ossificação que aparece é o ponto primitivo, e dá lugar à formação da diáfise. Os outros pontos, chamados secundários ou complementares, aparecem mais tarde, e dão lugar às epífises. A cartilagem persiste até ao fim do desenvolvimento ósseo, entre a diáfise e as epífises, e é responsável pelo seu cresci- mento, razão pela qual é chamada cartilagem de crescimento ou de conjugação. O processo de crescimento só pára quando a cartilagem desaparece e as diáfises e epífises se soldam. F Sexo 10 11 12 13 14 15 10 M 26,5 30,0 32,0 38,3 45,3 47,0 F 28,0 31,0 36,3 37,5 41,4 46,0 20 M 29,0 33,0 35,0 40,0 47,8 52,0 F 30,1 32,6 39,0 41,2 45,0 49,0 25 M 30,9 34,0 36,0 42,5 49,7 54,0 F 31,0 33,0 39,7 42,5 45,5 49,2 30 M 32,0 34,5 36,7 44,2 50,0 55,4 F 33,0 34,4 40,1 43,0 46,9 50,0 40 M 33,5 37,0 40,0 46,6 52,2 57,0 F 34,2 36,1 43,0 46,2 49,0 50,5 50 M 35,0 38,0 42,0 49,0 54,0 60,0 F 36,0 38,0 46,5 50,0 51,0 52,2 60 M 36,0 42,4 45,0 52,0 56,2 62,0 F 37,0 41,7 48,0 52,6 53,4 54,2 70 M 38,0 46,1 47,0 54,0 59,0 65,0 F 41,0 46,8 49,0 55,2 56,8 57,0 75 M 39,1 49,0 49,0 55,0 59,6 66,0 F 42,2 48,0 52,2 58,5 59,0 57,0 80 M 40,0 49,4 51,4 56,6 64,0 69,7 F 45,8 49,0 54,0 59,8 61,0 58,3 90 M 47,6 56,7 61,1 62,1 71,0 79,4 F 52,8 57,0 71,1 66,8 65,0 65,4 Quadro 7 – Descis e quartis (F) das distribuições do peso (Sobral e Silva, 1999).
  • 37. 37Treino Desportivo com Crianças e Jovens Independentemente do jovem ser retardado ou avançado em relação à sua idade cronológica, a sequência de acontecimentos no crescimento dos ossos é a mesma para todos os indivíduos. Falkner, citado por Pérez (1994), refere que em algumas investigações se especulou com a possibilidade de que o crescimento ósseo seria mais precoce nas raparigas, devido à influência do factor genético, concretamente ao cromossoma y, terminando o seu crescimento ósseo antes dos rapazes, aproximadamente entre os 18 e os 20 anos. Frohner (2003) refere a importância dos estímulos específicos e adaptados no desen- volvimento do sistema ósseo nas crianças e dos jovens. Efectivamente, os ossos necessitam de sobrecargas para manter e, inclusive, melhorar a sua resistência. Quando os jovens dimi- nuem a realização de esforços, como é o caso de longas permanências na cama, verifica-se a diminuição da massa óssea, o que poderá originar o perigo de fracturas. Em contrapartida, a mesma autora alerta para os perigos resultantes de esforços excessivos e desajustados, podendo resultar deformações e fracturas ósseas ocasionadas pelo esforço. O estado de maturação do esqueleto pode ser analisado, através de processos radiológi- cos, utilizando a mão e o pulso. Desde 1895, com a descoberta dos Raios X por Roentgen, foi possível examinar uma série de radiografias da mão de crianças de várias idades, com o fim de determinar qual o estádio de desenvolvimento dos ossos da mão e do pulso. Tal procedi- mento permitiu a construção de atlas, dos quais, segundo Nicoletti (1984), o mais conhecido é o de Greulich e Pyle (1959). Este atlas compreende uma série de radiografias, cada uma das quais é indicado como típico de uma dada idade, separadamente para rapazes e raparigas. A idade associada a cada radiografia standart é a idade óssea do sujeito que apresenta uma radiografia da mão igual ou semelhante ao standart. Segundo Tanner (1962), em teoria, qualquer parte do esqueleto poderia ser analisada. No entanto, na prática, a mão e o pulso mostram-se mais convenientes, pelo menos depois da idade de um ano, devido ao facto de constituírem uma área muito reduzida, mas com um grande número de ossos e epífises. Executa-se a radiografia da mão esquerda, porque esta se afirma menos sujeita às influências ambientais - Nicoletti (1984). Baer e Durkatz, citados por Tanner (1962), referem que na generalidade dos casos, os dois lados não apresentam diferenças de maturação, mas, individualmente, um osso de um lado pode ser retardado ou avançado em relação ao do lado oposto. Considerando a mão e o pulso como um todo, as diferenças verificadas entre os dois lados são negligenciáveis, ex- cepto em casos patológicos. O estado de maturação do esqueleto está relacionado com o grau de desenvolvimento do processo do crescimento ósseo. Assim, diz-se que uma criança é somaticamente mais madura do que as outras, quanto mais próxima estiver das dimensões adultas. Sobre as técnicas radiológicas que implicam uma exposição aos raios x, Ross e Marfell- -Jones (1995) referem que a sua utilização, por mínima que seja, não é aconselhável, a me-
  • 38. Fernando Melo38 nos que sejam dirigidas por um médico e sejam necessárias por motivos clínicos. Referem os mesmos autores que, por exemplo no Reino Unido, está estipulado que só se pode radiografar um indivíduo com propósitos de investigação, uma vez na sua vida. Estudos, citados por Malina (1984), realizados nos Estados Unidos da América com jo- vens praticantes de beisebol, futebol americano e hóquei sobre o gelo, sugerem algumas tendências no que diz respeito ao estatuto de maturação biológica. Os jogadores que mais se evidenciavam no beisebol e no futebol americano apresentavam uma tendência para serem avançados biologicamente, não se verificando esta tendência no hóquei sobre o gelo, ou seja, a maioria dos jogadores não apresentava um desenvolvimento precoce. Nas três amostras de hóquei sobre o gelo, com jogadores até aos 13 anos, a idade biológica era ligeiramente atrasada em relação à idade cronológica. Estes dados são consistentes com aqueles obtidos por Rahkila et al. (1984), que, ao estudarem a condição física relacionada com a idade biológica em 37 rapazes praticantes de hóquei sobre o gelo, com a idade de 9 anos, não encontraram diferenças entre a idade crono- lógica e a idade biológica. No entanto, convém realçar que, embora a média cronológica fosse idêntica à média biológica, se verificava um grau de variação na idade biológica. A diferença entre o atleta mais retardado e o mais avançado era de 4,6 anos. Foi referido, ainda, que os jovens praticantes de hóquei sobre o gelo, relativamente ao seu estatuto maturacional, têm a tendência de se aproximar dos valores médios, ou ligeira- mente atrasados, enquanto que em outros desportos, a tendência é para que sejam avança- dos no que se refere à sua idade biológica. O futebol e o basquetebol são desportos que também são muito do agrado dos jovens, mas os dados relativos à maturação biológica são muito limitados. Vrijens, Pannier e Van Cauter, citados por Malina (1984), não encontraram diferenças entre a idade cronológica (11,25 ± 0,8 anos) e a idade biológica (11.42 ± 1,1 anos) em jovens praticantes de futebol com idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos. Em relação ao basquetebol, Clarke, citado por Malina (1984), não verificou diferenças no estatuto maturacional de jovens des- portistas escolares dos 9 aos 12 anos em comparação com jovens da mesma idade, mas não praticantes. No entanto, entre os 13 e os 15 anos, verificou que os praticantes que mais se evidenciavam no jogo, eram avançados no seu estatuto maturacional em relação aos não praticantes. Em relação aos desportos individuais, os dados que existem em maior número, em rela- ção ao estatuto maturacional, dizem respeito ao atletismo e à natação. Cumming, Garand e Borysyh, citados por Malina (1984), num estudo realizado com 101 rapazes praticantes de atletismo e com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos, veri- ficaram que a idade biológica (15,2 ± 1,7 anos), era ligeiramente avançada em relação à idade cronológica (14,9 ± 1,3 anos). Referem ainda que os jovens atletas que mais se evidenciam no atletismo tendem a ser avançados sob o ponto de vista maturacional.
  • 39. 39Treino Desportivo com Crianças e Jovens Bugyi e Kausz, citados por Malina (1984), num estudo sobre os “28 melhores jovens na- dadores húngaros” dos 8 aos 15 anos de idade, verificaram que a idade biológica estava avan- çada em relação à idade cronológica em 2,6 ± 4,0 meses. Pelo contrário, Thompson, Blankeby e Doren, citados por Malina (1984), não observaram diferenças entre a idade cronológica e a idade biológica em competições da Western Australian Amateurs Swimming Association, onde os finalistas eram agrupados por idades. Contudo, quando os nadadores mais rápidos eram comparados com os do grupo dos mais lentos, os primeiros eram biologicamente mais avançados, em todos os grupos de idade. Referem, ainda, que os jovens nadadores que mais se evidenciam tendem a ser biologicamente mais avançados, em relação aos seus pares. Características dos rapazes de maturação avançada São mais altos Possuem maior massa muscular Têm maior volume cardíaco Têm mais força Têm mais resistência Possuem maior VO2 max. Fonte: Becerro (1996). Para concluir, podemos afirmar que o treinador de jovens deverá conhecer o estado de maturação dos seus atletas, relativamente às suas idades cronológicas uma vez que os de maturação avançada possuem certas vantagens em relação aos de maturação tardia. 6.4 - O crescimento do tecido muscular Mais de 400 músculos voluntários (esqueléticos ou estriados) do corpo humano consti- tuem cerca de 40% do peso corporal adulto - Mathews e Fox (1979), enquanto que em idades pré-pubertárias, este valor não ultrapassa os 27%. A curva de velocidade, semelhante à da estatuta, decresce durante a infância e regista um aumento posterior na adolescência, mais nos rapazes do que nas raparigas. Duplessis et al., citados por Becerro e Gomes (1996), afirmam que, no recém- nascido, o número de fibras indiferenciadas é muito diminuto. Durante o primeiro ano de vida, produz-se um aumento progressivo tanto de fibras de tipo I (SF) como de tipo II (FT), correspondendo as primeiras a um maior incremento, enquanto que as fibras indiferenciadas diminuem. Adian- tam, ainda, aqueles investigadores que, na adolescência se produz uma profunda alteração na proporção dos diferentes tipos de fibras, que é diferente nos dois sexos.
  • 40. Fernando Melo40 Proporção dos diferentes tipos de fibra muscular na adolescência segundo o sexo Sexo Fibras Musculares Tipo I Tipo II Indiferenciadas Masculinos 52,86 34,08 13,06 Femininos 46,21 42,12 7,65 Segundo Duplessis et al., citados por Becerro e Gómez (1996). Durante a puberdade, os músculos não só aumentam em tamanho, como vão ganhando maiores possibilidades de produção de força, sobretudo nos rapazes. Se até à puberdade, as diferenças em termos de força muscular entre os rapazes e as raparigas não são significati- vas, verifica-se que, a partir daí, as discrepâncias tornam-se mais evidentes até à idade adulta - Jones, Espenschade e MacCurdy, citados por Katchadourian (1977). Froberg e Lamment (1996) referem que, nos rapazes, existem duas fases de crescimento da força. A 1ª fase corresponde ao início dos anos pré-pubertários até ao meio da puberdade ou à idade do pico de crescimento de velocidade em altura (PVA). A 2ª fase inicia-se na idade do PVA e termina no final do período pós-pubertário. A sucessão dos picos de velocidade da estatura, peso do corpo e força muscular está representada na Fig. 6. Segundo Tanner (1962), a máxima velocidade do crescimento muscular é atingida numa fase intermédia entre o pico da estatura e do peso, enquanto que a força muscular atinge o pico de máxima velocidade em último lugar - cerca de 14 meses depois da idade do pico da estatura. Estes dados estão de acordo com aqueles referidos por Froberg e Lamment (1996). A força muscular alcança, portanto, o máximo da sua velocidade de desenvolvimento quando já foi atingida uma determinada massa muscular, podendo ser considerada como um indica- dor de maturação. Fig. 6 – Relações entre os picos de máxima velocidade (Nicoletti, 1984).
  • 41. 41Treino Desportivo com Crianças e Jovens 6.5 - O tecido adiposo Brozek e Keys, citados por Sobral (1985), referem que a gordura representa em média 11% do peso total no homem e 24% na mulher. Em ambos os casos, o tecido adiposo profun- do, particularmente notável ao nível dos espaços peri-víscerais, representa apenas 40 a 45% da gordura total, sendo o restante confinado à massa subcutânea ou panículo adiposo. Os padrões de distribuição do panículo adiposo não são iguais nos dois sexos. A partir da puberdade, “é evidente o dimorfismo sexual ao nível dessa estrutura morfológica, diferindo segundo o sexo, os locais de acumulação preferencial de gordura subcutânea: face e pesco- ço, tórax e abdómen superior no homem; mama, abdómen, regiões látero-lombar, nadegueira e crural superior, na mulher” - Sobral (1985). Nicoletti (1984), referindo-se à percentagem da gordura em relação à idade (dife- rença entre o peso total e o peso do corpo excluídas as gorduras), indica, para o sexo masculino, que a percentagem mínima de gordura, corresponde a uma idade inferior a 6 anos e a máxima, a cerca dos 10 anos, decrescendo a partir desta idade. Para o sexo feminino, pelo contrário, os valores mínimos correspondem a uma idade próxima dos 7 anos, aumentando progressivamente até à fase terminal da adolescência (cerca dos 14 anos), para depois se manter nos valores atingidos. Porém, a quantidade da gordura do corpo, em sentido absoluto, vai aumentando desde o nascimento à maturidade, quer nos rapazes, quer nas raparigas. López (2000) refere que o desenvolvimento sexual na rapariga produz uma tendência a uma maior acumulação de gordura subcutânea a qual se incrementa durante a puberdade devido ao aumento da secreção de estrogéneos que estimula o tecido adiposo. No sexo mas- culino, pelo contrário, o efeito da testosterona exerce-se fundamentalmente sobre o tecido muscular. Investigações levadas a cabo por Parízková (1982), com 1460 indivíduos de ambos os sexos, revelaram um aumento regular da gordura subcutânea durante toda a vida. Durante o crescimento, as diferenças entre os sexos aumentaram, muito especialmente durante o salto pubertário, ocasião em que ocorria nos rapazes uma redução da gordura subcutânea, enquanto que nas raparigas se verificou um aumento progressivo até à idade adulta, ou além dela. Há que referir que a massa gorda varia entre os indivíduos, sendo influenciada pela he- reditariedade, regime alimentar e exercício físico.
  • 42. Fernando Melo42 6.6 - O tecido linfático e timo2 Segundo Tanner (1962), o maior tamanho do timo é alcançado aos 12 anos nas raparigas e aos 14 nos rapazes. Apresenta um grande desenvolvimento no recém-nascido, mas sofre uma involução gradual até á puberdade, altura em que se torna num órgão vestigial. Scammon, citado por Tanner (1962), refere que o tecido linfático de outros órgãos, como o baço, intestino e apêndice, também regride, após a adolescência. 6.7 - Transformações internas No que respeita aos órgãos internos, segundo Nicoletti (1984), a maior parte deles segue um modelo de crescimento análogo ao da estatura. 6.7.1 - O sistema cardiovascular Bouchard et al., citados por Becerro (1996), referem que o tamanho do coração aumen- ta progressivamente desde o nascimento até à maturação, de tal maneira que dos 40 ml de capacidade que o indivíduo possui ao nascimento, passa para os 600/800, na juventude. No entanto, a relação entre a medida do coração e a do corpo permanece constante durante o período de crescimento, situando-se por volta dos 10 ml/kg de peso. Relativamente ao adulto, a criança possui um coração com dimensões mais reduzidas, apresentando valores inferiores em termos de volume sistólico, que é compensado por uma frequência cardíaca mais elevada para uma determinada intensidade de trabalho. Drinkwater, citado por Lleonart (1996), refere que as adolescentes atingem valores mais elevados de frequência cardíaca máxima relativamente aos rapazes para esforços máximos e submáximos, acontecendo o mesmo com as crianças de sexos diferentes. Estes dados estão de acordo com os de Beristain (1996), que refere, ainda, que, depois da puberdade, há um decréscimo de 0,7 – 0,8 batimentos / ano. Adianta, também, que os rapazes obesos têm uma frequência sub-máxima mais elevada que os não obesos para o mesmo nível de trabalho. 2 Órgão localizado na parte antero-superior da cavidade toráxica, atrás do esterno. Desempenha um importante papel na génese de todo o sistema linfóide do organismo. Admite-se que o timo segrega uma hormona (ainda não identificada) que activa o crescimento do tecido linfóide.
  • 43. 43Treino Desportivo com Crianças e Jovens Durante a puberdade, o peso do coração quase que duplica. Como nos outros músculos, o seu crescimento é mais pronunciado nos rapazes do que nas raparigas - Maresh, citado por Katchadourian (1977). Segundo Sobral (1988), entre os 11 e os 16 anos, o diâmetro cardíaco transverso au- menta cerca de 15mm em consequência do simples processo do crescimento. Do mesmo modo, o diâmetro das artérias e a espessura das suas paredes aumentam paralelamente ao crescimento e ao desenvolvimento. Relativamente à pressão arterial sistólica, “a sua evolução é semelhante à dos outros indicadores do crescimento, pelo menos nos rapazes, enquanto que a pressão diastólica não apresenta uma evolução significativa, nem uma clara diferenciação segundo o sexo” - Sobral (1988). Uma das outras transformações surgidas no decurso da puberdade diz respeito às mo- dificações da massa sanguínea. O volume de sangue, a taxa de hemoglobina e o número de glóbulos vermelhos aumentam consideravelmente nos rapazes, não se verificando o mesmo nas raparigas - Kacthadourian (1977). Imediatamente depois do nascimento, a concentração de hemoglobina alcança os 20g por 1.000 ml, mas aos 3 meses desce para 10g por 1.000 ml, aumentando novamente na idade adulta, atingindo valores de 16g e 14g nos homens e mulheres, respectivamente. 6.7.2 - O sistema respiratório As transformações do sistema respiratório são semelhantes àquelas verificadas no sis- tema cardiovascular. Astrand, citado por Becerro (1996), refere que a ventilação pulmonar máxima absoluta (VE max) aumenta com a idade, passando dos 30 - 40 l/min., na idade infantil, para 100 – 200, na idade adulta. É um facto bem conhecido que, para qualquer nível de ventilação, as crianças necessitam de respirar mais para transportar a mesma quantidade de oxigénio que os adultos - Becerro (1996). Durante a puberdade, acentua-se a diferenciação sexual nos volumes e capacidades pulmonares, nomeadamente ao nível do volume da ventilação pulmonar, capacidade vital e da capacidade máxima respiratória. Nas raparigas, o volume de ventilação pulmonar mantém-se quase estacionário, enquanto que a capacidade vital mostra um incremento menos pronun- ciado - Sobral (1988). Segundo Frohner (2003), a resistência pulmonar aumenta com o processo de desenvol- vimento e apresenta uma estreita relação com o peso e o volume corporais.
  • 44. Fernando Melo44 6.7.3 - Temperatura corporal basal A temperatura corporal basal vai diminuindo com a idade, em ambos os sexos, alcançan- do os valores adultos nas raparigas aos 12 anos, mas continua a baixar nos rapazes por mais uns anos - Katchadourian (1977). Relativamente ao metabolismo basal (necessidade energética em repouso absoluto), Weels (1991) refere que este diminui aproximadamente entre 1 e 3% cada década, desde a idade dos 3 anos até aos 80. Segundo o mesmo autor, “pensa-se que esta diminuição, até à idade adulta, está associada a uma melhor eficiência metabólica, enquanto que, depois dos 30 anos, esta diminuição deve-se a uma redução na massa magra do corpo”. 6.7.4 - O crescimento do cérebro No nascimento, como refere Tucker (1992), “o cérebro atingiu apenas um quarto do seu tamanho eventual, enquanto que os primatas mais evoluídos nascem já com três quartos do volume total do seu cérebro”. Relativamente ao pico do crescimento do cérebro em volume, dá-se logo após o nascimento até aos 12 meses. Este volume aumenta quase três vezes du- rante o 1º ano de vida, o que não acontece em nenhum outro animal. O ser humano é a única espécie em que o cérebro cresce e se desenvolve até à maturi- dade (nalguns casos até aos vinte anos). Relativamente à importância do movimento no desenvolvimento do sistema nervoso, Frohner (2003) refere que nas primeiras idades escolares, a prática de movimentos coordena- tivos favorece o desenvolvimento funcional do sistema nervoso. Assim, os movimentos apren- didos de modo estável nas idades infantis, para além de ficarem bastante marcados, podem ser recordados nas idades adultas sem grandes dificuldades. Cerebro Humano recém-nascido 340 g 6 meses 750 g 1 ano 970 g 2 anos 1150 g 3 anos 1200 g 6 anos 1250 g 9 anos 1300 g 12 anos 1350 g 20 anos 1400 g Quadro 8 - Evolução comparativa do peso do cérebro. Fonte: Cruz, A (1981).
  • 45. 45Treino Desportivo com Crianças e Jovens Para Capra (1992), o cérebro humano é um sistema vivo por excelência. Adianta, ainda, que “após o primeiro ano de crescimento, não são produzidos novos neurónios; no entanto, mu- danças plásticas continuarão ocorrendo pelo resto da vida. Na medida em que o meio ambiente muda, o cérebro amolda-se em resposta a essas mudanças; e se a qualquer momento ele é da- nificado, em consequência de ferimento ou lesão, o sistema realiza ajustamentos muito rápidos. Ele nunca se desgasta ou exaure: pelo contrário, quanto mais usado, mais poderoso se torna”. 6.8 - O desenvolvimento do sistema reprodutor Jeanneret (1984) refere que as modificações endócrinas da puberdade preparam-se desde a infância, mas é no princípio daquela que ocorrem profundas transformações, e que, segundo ele, constam do seguinte: 1. activação dos centros cerebrais que actuam sobre a glândula chamada hipófise; 2.aumento da secreção hipofisária das hormonas que estimulam as outras glândulas endócrinas, como a tiróide, as supra renais e as gónadas; 3.produção de hormonas destinadas a preparar o ciclo menstrual e o amadurecimento dos óvulos, nas raparigas, e o amadurecimento dos espermatozóides, nos rapazes; 4.aparecimento dos caracteres sexuais secundários, isto é, as manifestações externas destas transformações internas. A actividade endócrina desempenha um papel fundamental em todo o processo de cres- cimento, nomeadamente a hormona do crescimento (somatotrofina) que actua no desenvolvi- mento de todos os tecidos do corpo capazes de crescer e ainda as hormonas gonadotróficas. Estas hormonas estimulam os testículos a produzir os espermatozóides e os androgénios (hormonas sexuais masculinas) e também a produção dos óvulos e dos estrogénios (hormo- nas sexuais femininas) por parte dos ovários. Existem outras hormonas, mas as que mais nos interessam sob o ponto de vista do treino desportivo são aquelas segregadas pelas gónadas, em particular a testosterona, muito especialmente nos rapazes pelo seu papel regulador do volume da massa muscular, durante a puberdade. Nas raparigas verifica-se também a produção de testosterona pelos ovários, mas em quantidades muito diminutas, em comparação com os rapazes, o que justifica, em grande parte, que os episódios do crescimento pubertário sejam diferentes em ambos os sexos, cul- minando em valores terminais de crescimento também diferentes. Na infância, o desenvolvimento do sistema reprodutor é muito lento, mas, com a puber- dade, atinge uma fase de crescimento extremamente rápido, o que contribui para um maior
  • 46. Fernando Melo46 dimorfismo sexual. Assim, começam a ser estabelecidos, de uma forma mais marcante, os traços específicos da morfologia adulta, em cada sexo. As transformações mais visíveis que contribuem para o dimorfismo sexual são referidas como “caracteres sexuais secundários”. Na realidade, e como refere Otero (1981), o único carácter sexual primário é a glândula sexual, ou seja, o testículo, no rapaz, e o ovário, na rapariga, agrupando-se normalmente os órgãos genitais internos e externos. Apresentamos, separadamente para cada sexo, e em forma de quadro, os aspectos mais relevantes que ocorrem durante o processo de maturação sexual, quer ao nível dos genitais internos e externos, quer ao nível dos caracteres sexuais secundários. Para avaliar o estado de desenvolvimento sexual na puberdade, considera-se, para o sexo masculino, o desenvolvimento genital (testículos e pénis) e a pilosidade púbica, en- quanto para o sexo feminino, para além do desenvolvimento genital, o desenvolvimento das mamas e a pilosidade púbica. Foi graças a Tanner (1962), através do estabelecimento de diferentes fases de desenvol- vimento (de 1 a 5), que a avaliação das transformações observadas no sistema reprodutor se tornou mais fácil de ser definida. Convém, no entanto, sublinhar, como refere Otero (1981), que “a sucessão destas fases é a mesma para cada adolescente, mas que o momento em que se situam no tempo pode variar consideravelmente de um indivíduo para outro. É esta constatação que tornou tão pro- blemático, nesse período, fixar a idade exacta em que se produzem estas fases”.
  • 47. 47Treino Desportivo com Crianças e Jovens 6.8.1 – Maturação sexual na rapariga Durante a puberdade, todas as estruturas que compõem os genitais externos, ou vulva, sofrem significativas modificações. Os Grandes Lábios e o Monte de Vénus aumentam de volume, por depósito de gordura nos mesmos. Os Pequenos Lábios e o Clitóris também crescem muito, especialmente este último. Em virtude da sua anatomia, as transformações nos genitais externos na rapariga são menos notadas do que aquelas verificadas nos genitais externos do rapaz. As trompas crescem e a parede muscular do útero torna-se maior. Avagina, além de aumentar o seu tamanho, amplia a espessura das suas paredes, tornando-se mais resistente às infecções. Os ovários crescem, mas o seu crescimento é menos espectacular que o útero, uma vez que, no nascimento, estes já são orgãos completos. O crescimento da mama representa nas raparigas o primeiro sinal da puberdade. O seu início pode ocorrer dos 8 aos 13 anos (em média aos 11) e estar concluído dos 13 aos 18 anos (em média aos 15). Por vezes verifica-se um crescimento assimétrico, o qual é corrigido aquando da conclusão do processo de crescimento. As mamas não fazem parte do aparelho genital feminino, no entanto, desempenham um papel importante na sexualidade. Geralmente representa o segundo sinal da puberdade, no entanto pode ocorrer antes do crescimento das mamas. O crescimento dos pêlos púbicos inicia-se por volta dos 11/12 anos, alcançando a configuração de adulto por volta dos 14 anos. A sua ocorrência precede geralmente a pilosidade axial em cerca de mais do que um ano. Genitais Externos Genitais Internos Desenvolvimento da Mama Pilosidade Púbica
  • 48. Fernando Melo48 A menarca pode ocorrer em qualquer momento, dos 10 aos 16 ½ anos. Geralmente ocorre dois anos depois do início do desenvolvimento das mamas e depois do pico do crescimento em altura (PVA). De uma maneira geral o aparecimento da menarca é mais precoce nos climas quentes do que nos climas frios; nas cidades do que nos campos; nas classes abastadas do que nas classes humildes. Tem-se verificado, quanto ao nosso país, que no Algarve o aparecimento da menarca é mais precoce que na Guarda. Na rapariga, em relação ao rapaz, a laringe é menos desenvolvida e apresenta em geral uma voz mais aguda. Menarca Voz Fontes: Tanner(1962) e Katchadourian (1977).
  • 49. 49Treino Desportivo com Crianças e Jovens A aceleração do crescimento do pénis, em média, começa por volta dos 13 anos, mas pode ocorrer mais cedo, aos 11 anos, ou, por vezes, mais tarde, aos 14 ½ anos. O aumento do pénis em comprimento pode começar dos 10 ½ anos aos 14 ½ anos e acabar dos 12 ½ aos 16 ½ anos. O pico de crescimento do pénis começa cerca de 1 ano depois da aceleração do crescimento dos testículos. O desenvolvimento do pénis pode estar concluído, em média, aos 15 anos, mas, algumas vezes, ocorre mais cedo, aos 13 ½, ou mais tarde, aos 17 anos. Durante a puberdade, verifica-se também o aumento do escroto, cuja pele se torna cada vez mais escura. Os testículos pesam cada entre 10 e 20 g. Mantêm-se pequenos, com cerca de 1g, desde o nascimento até por volta dos dez anos de idade, mas crescem rapidamente nos cinco anos seguintes. No adulto, atinge 4 a 4,5 cm no seu maior diâmetro, mas o esquerdo é mais volumoso. O seu volume passa de 5 cm3, na infância, para um volume que varia entre os 12 e os 25 cm3, na idade adulta. O aumento do volume dos testículos pode ocorrer dos 9 ½ aos 13 ½ anos, e estar concluído dos 13 ½ aos 17 anos. Com a puberdade, inicia-se a espermatogênese (ou formação de espermatozoides) e a produção das hormonas sexuais, sob a influência de hormonas produzidas na hipófise ou glândula pituitária. Durante a infância, a próstata é diminuta. Inicia o seu desenvolvimento com a puberdade e alcança o seu tamanho definitivo por volta dos 20 anos. O seu aparecimento corresponde a um sinal precoce da puberdade, mas pode ocorrer entre os 10 e os 15 anos. Mesmo depois da puberdade, os pêlos púbicos continuam a espalhar-se pelo centro do abdómen até à idade dos 25 anos. Genitais Externos Genitais Internos Pilosidade Púbica 6.8.2 - Maturação sexual no rapaz
  • 50. Fernando Melo50 Os pêlos axiais aparecem dois anos depois da pilosidade púbica. Os primeiros pêlos corporais aparecem na mesma altura dos pêlos axiais, mas continuam a espalhar-se mesmo depois da puberdade. Tal como os pêlos axiais, geralmente, aparecem dois anos depois dos pêlos púbicos. Os primeiros pêlos faciais crescem nos cantos, por cima do lábio, espalhando-se de seguida, formando o bigode por cima de todo o lábio. Seguidamente, começam a aparecer pêlos na parte superior da bochecha, e na zona inferior do lábio, espalhando-se eventualmente para os lados e para a região inferior de face. O desenvolvimento das mamas no rapaz não se compara ao da rapariga. O diâmetro da auréola, que é igual nos dois sexos antes da puberdade, aumenta consideravelmente, embora numa extensão menor do que na rapariga. A pele da auréola torna-se escura. Em alguns rapazes, verifica-se um aumento visível das mamas (o pico de incidência dá-se entre os 14 e os 14 ½ anos), mas, na maior parte dos casos, desaparece dentro de 1,2 ou 3 anos. Os rapazes obesos podem apresentar mamas desenvolvidas devido ao excesso de gordura. Devido a um aumento da laringe, as cordas vocais alongam-se, produzindo profundas alterações na voz, mais marcadamente no rapaz do que na rapariga. As alterações na voz dão-se duma forma progressiva e geralmente acabam no final da adolescência. Geralmente ocorre cerca de 1 ano depois do início do crescimento dos testículos, mas a sua ocorrência é altamente variável com a idade. Cerca de 90% dos rapazes, têm esta experiência entre os 11 e os 15 anos. Pilosidade Axial e Corporal Pilosidade Facial Desenvolvimento das Mamas Voz Primeira Ejaculação Fontes: Tanner (1962) e Katchadourian (1977).
  • 51. 51Treino Desportivo com Crianças e Jovens Pré-adolescente. Testículos, escroto e pénis têm aproximadamente as mesmas dimensões e proporções que se encontram na infância. Aumento do volume do escroto e dos testículos. A pele do escroto é avermelhada e muda de textura. Ligeiro ou nenhum aumento do pénis. Aumento das dimensões do pénis, primeiro em comprimento. Ulterior crescimento dos testículos e do escroto. Aumento do pénis, que cresce em sentido transversal e desenvolvimento da glande. Ulterior aumento do volume dos testículos e da glande; pigmentação aumentada da pele do escroto. Genitais do tipo adulto em dimensões e aspecto. Não se verifica nenhum outro crescimento depois deste estádio. 1 2 3 4 5 Estádio Características 6.8.3 - Estádios do desenvolvimento genital masculino Fig. 6 - Estádios do desenvolvimento genital masculino. Fonte: Tanner (1962).
  • 52. Fernando Melo52 6.8.4 - Estádios do desenvolvimento das mamas Pré-adolescente. Elevação apenas do bico do peito. Leve turgor das mamas no conjunto e do bico do peito. Aumento do diâmetro da auréola. Ulterior engrandecimento e elevação das mamas e da auréola, sem separação dos respectivos contornos. Elevação da auréola e do bico do peito, os quais formam um pequeno bojo que sobressai acima do nível da mama, sendo claros os contornos entre a auréola e a mama. Estádio de maturidade. Projecção apenas do bico do peito, devido ao desaparecimento da distinção entre o contorno da auréola e o contorno da mama 1 2 3 4 5 Estádio Características Fig. 7 - Estádios do desenvolvimento das mamas nas raparigas. Fonte: Tanner (1962).
  • 53. 53Treino Desportivo com Crianças e Jovens Pré-adolescente. A penugem sobre o púbis não é mais desenvolvida do que aquela que se encontra sobre a parede abdominal, verificando-se uma ausência de pêlos púbicos. Crescimento disperso de pêlos longos, pouco pigmentados, direitos ou ligeiramente ondulados que aparecem sobretudo na base do pénis ou ao longo dos lábios. São necessários apetrechamentos especiais para fotografar os pêlos neste estádio. Pêlos muito mais escuros, mais consistentes e mais encaracolados. Os pêlos espalham-se, dispersos pelo púbis. É neste estádio que os pêlos púbicos se tornam visíveis, pela primeira vez, nas habituais fotografias a preto e branco, do corpo inteiro. A pilosidade é semelhante à do adulto, mas a área coberta é ainda mais pequena do que a do adulto. Não há difusão dos pêlos na superfície interior das coxas. Pilosidade semelhante à do adulto, em quantidade e com a distribuição de tipo horizontal. Verifica-se, ainda, uma difusão dos pêlos na superfície interior das coxas. 1 2 3 4 5 Estádio Características 6.8.5 - Estádios do desenvolvimento da pilosidade púbica (Fem. e Masc.) Fonte: Tanner (1962).
  • 54. Fernando Melo54 Fig.8 - Estádios do desenvolvimento da Pilosidade Púbica nas raparigas. Fonte: Tanner (1962). Fig.9 - Estádios do desenvolvimento da Pilosidade Púbica nos rapazes. Fonte: Tanner (1962).
  • 55. 7 - FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES BIO-MOTORAS NO PROCESSO DE TREINO A motricidade é uma característica de todo o ser vivo. Na realização de qualquer acção motora terá de existir um determinado número de capacidades que não são mais do que pressupostos do movimento. Daqui se pode concluir que o desenvolvimento do rendimento desportivo está intimamente relacionado com o desenvolvimento das diferentes capacidades motoras. Segundo Carvalho (1987), a expressão capacidades motoras foi utilizada pela primeira vez por Grundlach na RDA em 1972. Esta expressão foi introduzida, progressivamente, na terminologia das Ciências do Desporto na maior parte dos países europeus, substituindo outras expressões até então utilizadas, nomeadamente a expressão qualidades físicas. O termo qualidade “indica já um valor elevado em qualquer âmbito do rendimento e é usado com mais propriedade no âmbito psíquico. Assim, em desporto, parece mais apropriado usar o termo capacidade, que indica uma medida de potencial e que por isso é de valor amplamente modelável ou treinável” - Carvalho (1987). Para Manno (1994), as capacidades motoras “são as condições motoras de tipo endógeno que permitem a formação de habilidades motoras; são um conjunto de predisposições ou potencialidades motoras fundamentais no homem que tornam possível o desenvolvimento das habilidades aprendidas”. O mesmo autor adianta que “um nível suficiente ou óptimo de desenvolvimento das capacidades motoras, permite a formação de numerosas e sofisticadas habilidades”. Grundlach propôs, em 1968, uma classificação que foi amplamente aceite em toda a Europa, ao considerar dois grandes grupos na classificação das capacidades motoras: capacidades condicionais e capacidades coordenativas Para Manno (1994), as capacidades coordenativas têm um desenvolvimento muito marcado, quase exclusivamente, na fase pré-puberal, em particular entre os 6 e os 11-12 anos, pelo que podem ser bastante treináveis até essas idades. Pelo contrário, as capacidades condicionais têm um desenvolvimento acentuado no princípio da puberdade e, em particular, entre os 12 e os 17/18 anos, registam uma treinabilidade superior às coordenativas.
  • 56. Fernando Melo56 Capacidades Condicionais   Capacidades Coordenativas são essencialmente determinadas pelos processos que conduzem à obtenção e transformação da energia, isto é, nelas predominam os processos metabólicos nos músculos e sistemas orgânicos   são essencialmente determinadas pelas componentes onde predominam os processos de condução do sistema nervoso central Manno (1994) refere que a divisão entre capacidades coordenativas e condicionais é fundamentalmente uma divisão didáctica, não existindo uma separação nítida entre umas e outras, mas sim um predomínio de um grupo sobre o outro, em função do trabalho realizado. Refere, ainda, o mesmo autor que há capacidades motoras que estão entre um grupo e outro, considerando-as intermédias, nomeadamente a flexibilidade e a velocidade de reacção simples. Porém, e como refere Monge da Silva (1985), “quando observamos qualquer actividade desportiva, não vemos força, velocidade ou resistência; o que nós vemos são movimentos que se desenvolvem no espaço e no tempo”. Esta atitude traduz uma preocupação em envolver o treino desportivo numa visão abrangente, que seja capaz de englobar todas as dimensões do rendimento desportivo numa perspectiva integradora. 7.1 - Haverá uma dimensão espiritual do treino desportivo? No treino desportivo é comum falar-se nas suas várias dimensões: física, técnico-táctica e psicológica. Acrescentamos mais uma: a dimensão espiritual. O treino desportivo abarca o homem como uma entidade bio-psico-social e isto significa que o Homem é uma realidade extremamente complexa. Não devemos esquecer que o atleta, antes de mais, é um Homem e, por esta razão, as grandes interrogações acerca da sua existência também poderão ser consideradas: Donde vimos? O que fazemos aqui? Para onde vamos? A dimensão espiritual trata, no fundo, de todas as questões que envolvem o desportista e a sua relação com a totalidade, ou melhor, enquadra a acção do Homem, enquanto desportista, no mais complexo sistema que é o universo. Como já foi referido, o treino desportivo é um sistema que é dirigido e orientado para a obtenção dos mais altos rendimentos desportivos. Paralelamente, todo o Homem, independentemente de ser ou não desportista, tem (ou deveria ter) um objectivo – o aperfeiçoamento da natureza humana, não no sentido de atingir a perfeição, mas sim de estar mais próximo do absoluto.
  • 57. 57Treino Desportivo com Crianças e Jovens No caso do desportista, ele só alcançará o mais alto rendimento se um número alargado de factores o condicionar a isso, ou seja, o desportista de alto nível precisa de todo um envolvimento que lhe seja favorável. Até que ponto a preparação espiritual poderá contribuir para a obtenção dos objectivos definidos? O que é a preparação espiritual? Desde quando a preparação espiritual deve começar a fazer parte do processo de treino? Quem deverá ser responsável pela preparação espiritual dos atletas? Será que se pode falar nos factores de preparação espiritual? Se sim, quais são? Como integrar a preparação espiritual no processo de preparação do treino desportivo? Ou será que todas estas questões não terão razão de existir? 7.2 - O treino da força com crianças e jovens A Força é definida, por Platonov e Bulatova (1993), como “a capacidade para vencer uma resistência ou a ela nos opormos, mediante a actividade muscular”. Habitualmente, são consideradas na literatura especializada três capacidades de força: força máxima, força rápida e força resistência. F. Máxima É o valor mais alto da força, atingido pelo sistema neuro-muscular, numa contracção voluntária máxima, contra uma resistência insuperável. (Schmidtbleicher, 1985) F. Rápida Exprime-se na capacidade de um atleta vencer uma oposição (resistências constituidas por instrumentos acessórios ou pelo peso do próprio corpo), com uma velocidade de movimento elevada. (Harre e Lotz, 1989) F. Resistência É a capacidade do sistema neuro-muscular manter índices de força medianamente elevados, durante o maior tempo possível. Traduz a capacidade do desportista para vencer a fadiga, realizando um número elevado de repetições, ou desenvolver uma força em condições de oposição. (Platonov e Bulatova, 1993) Segundo Marques (1993), “a força é uma das capacidades motoras mais controversas e questionadas na perspectiva das consequências para a saúde da criança, designadamente sobre os aparelhos de suporte e locomotor”. Há que ter em atenção que o desenvolvimento da força num organismo em crescimento exige determinados cuidados a fim de evitar lesões principalmente a nível do esqueleto. Para Weineck (1994), um treino demasiado intenso em idades pré e pubertárias, para além de poder provocar lesões no sistema esquelético, pode influir negativamente no desenvolvimento