1. Aula: 04
Temática: As interfaces da didática com a filosofia
Na aula anterior apresentamos a Didática como matéria síntese, ou seja, como uma matéria que apresenta interfaces
com a Filosofia da Educação, a Psicologia da Educação, a
Sociologia da Educação, a Política Educacional, dentre outras. Sinalizamos
que a ação docente depende tanto da noção de Educação que o professor
construiu, quanto da noção de sujeito que o professor propõe-se a educar,
da sua “visão de homem”, da forma como o professor compreende que o
sujeito aprende, por que aprende, para que aprende, quando aprende.
Vamos refletir sobre algumas noções de Educação, lembrando sempre que
essas noções pertencem a um determinado período histórico. Por exemplo:
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda
preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar
e desenvolver, na criança, certo número de estados
físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial
a que a criança, particularmente, se destine. Emile
Durkheim (1858-1917)
“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.”
John Dewey (1859 - 1952)
No campo educacional, encontramos abordagens que oscilam entre dois
grandes pólos: o essencialista e o existencialista. Vamos tratar de expor
essas abordagens considerando que a realidade humana é sempre muito
mais complexa do que qualquer modelo explicativo que possamos apresentar. Tomamos essas duas grandes correntes do pensamento filosófico
para conduzir nossa exposição. Lembre-se de que em qualquer polarização há um amplo espaço de transição entre os pólos, isso quer dizer que
nossas práticas podem, talvez, apresentar características mais ou menos
evidentes de ambas as abordagens.
Para a abordagem essencialista em Educação, o ser humano porta uma
essência que o caracteriza como humano. Essa essência é o pensamento.
Na visão essencialista, o ser humano já nasce com suas capacidades,
apenas necessita desenvolver as potencialidades inerentes à sua natureUNIMES VIRTUAL
DIDÁTICA E PRÁTICA
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2. za. Então as capacidades de pensamento, como a análise, síntese e julgamento são inatas e dependem, do amadurecimento biológico do indivíduo
e dos exercícios a realizar com essas capacidades. Nessa concepção, o
mundo é externo ao indivíduo, sendo transmitido através da Educação e
das instituições sociais. A noção de conhecimento é apresentada como
sendo algo pronto e acabado.
Para a abordagem essencialista da Educação, supostamente, se oferecem
a todas as pessoas, por igual, as mesmas condições para aprender. De um
modo homogeneizante, agrupam-se indivíduos da mesma faixa etária, ou
etapa de aprendizagem, realizando atividades em uníssono. Desse modo,
todos os educandos fazem as mesmas coisas da mesma maneira e ao
mesmo tempo. Caso o indivíduo não aprenda, as causas desse não aprendizado se encontram no próprio indivíduo, na sua falta de capacidade para
aprender e não nas condições que lhe foram oferecidas para aprender.
Com base nesses fundamentos, a ênfase do processo educativo recai na
transmissão do conteúdo produzido e acumulado historicamente pela humanidade, pela ação do professor. Ao educando cabe assimilar esse conteúdo por meio de exercícios repetitivos.
Distante da abordagem essencialista, a abordagem existencialista compreende a natureza humana como sendo mutável, interdependente das
condições de existência, de suas relações sociais. Nessa abordagem, o
ser humano é um sistema aberto, em evolução contínua, que se desenvolve em estágios em busca de um estado final nunca alcançado. O ser
humano é ativo e o mundo, um meio a ser descoberto.
Nessa perspectiva, compreende-se a Educação como condição para o
desenvolvimento do ser humano e a escola caracteriza-se como um laboratório de vivências preparatórias para a vida. Compreende-se a aprendizagem como um processo social que desloca a ênfase da transmissão do
conteúdo, da abordagem essencialista, para a descoberta e a construção
do conhecimento.
O sujeito da aprendizagem aprende em suas relações com os outros no
mundo e com o mundo, por meio da reflexão e da ação. Ser humano e
mundo são históricos e culturais, na medida em que “ambos inacabados se
encontram numa relação permanente, na qual o homem, transformando o
mundo, sofre os efeitos de sua própria transformação” (FREIRE, 1976:76).
O ser humano produz o seu modo de viver e ao fazer isso, ele se produz e
se transforma. Deste modo, o homem é fruto do seu meio, da história, da
cultura, do seu espaço e tempo. A aprendizagem está sujeita a uma série
de fatores que condicionam o modo de aprender, como as condições psicológicas, sociais e econômicas dos educandos.
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