3. Estudos de Letramento
• Parte de um movimento maior
“Social Turn” (ou
“Virada Social”):
indivíduo e seus processos mentais
X
interação e a prática social
“os estudos já não mais pressupunham efeitos universais
do letramento, mas pressupunham que os efeitos
estariam correlacionados às práticas sociais e culturais
dos diversos grupos que usavam a escrita”
(Kleiman, 1995, p.16).
4. Mudança de enfoque
supostos efeitos universais
do letramento
usos da escrita em
diferentes contextos.
desvincular os estudos da língua escrita de
usos escolares;
distinguir as múltiplas práticas de
letramento da prática de alfabetização
(Kleiman, 2007, p. 1-2).
5. Letramento
• Não é um método de ensino: reinterpretação de
pesquisas das ciências sociais para a escola.
• Não é alfabetização: mas a inclui. Alfabetização é
uma prática de letramento dentre outras. É
possível participar de práticas letradas sem ser
alfabetizado.
• Não é uma habilidade: envolve um conjunto de
habilidades e competências.
6. O que é letramento
• Engloba processos de desenvolvimento, impacto e o uso dos
sistema da escrita nas sociedades.
“conjunto de práticas de uso da escrita que vinham modificando
profundamente a sociedade, mais amplo do que as práticas
escolares de uso da escrita, incluindo-as, porém”.
(Kleiman, 2005, p.21)
• Práticas sociais de uso da escrita: ler e escrever só fazem
sentido quando estudados e compreendidos no contexto das
práticas sociais e culturais dos quais são uma parte e
extrapolam o conhecimento do código da escrita.
7.
8. “Atividades analíticas que estavam conosco
há muito tempo têm de ser, na sociedade de
hoje, complementadas com outras atividades
porque o mundo mudou, as crianças mudaram,
as experiências das crianças mudaram, e a
escola não faz sentido tal como era naquela
época”. (entrevista Angela Kleiman).
9.
10. Estudos de letramento
“O letramento envolve a imersão da criança, do jovem
ou do adulto no mundo da escrita [...] está relacionado
com os usos da escrita em sociedade e com o impacto da
língua escrita na vida moderna [...] o termo refere-se a
um conjunto de práticas de uso da escrita que vinham
modificando profundamente a sociedade, mais amplo do
que as práticas escolares de uso da escrita, incluindo-as,
porém.” (Kleiman, 2005, p.9-21)
11. O conceito de letramento em
sala de aula
Vivemos em uma sociedade que tem a escrita
muito presente (uma sociedade letrada)
• pelas ruas (placas, outdoors, cartazes, etc);
• em casa (revistas, jornais, livros – há os rótulos, papéis de
propaganda, correspondências, manuais de instrução,
caixas de remédios, etc.);
• nos diferentes grupos sociais de que cada um pode fazer
parte (igreja – bíblia, folhetos da igreja; grupos
comunitários – teatro, música, reuniões;
hospital/consultório médico – fichas, receitas, carteiras de
vacinação; etc.).
12. A escola
• É também uma dessas esferas cujas práticas
giram em torno da escrita e, mais
especificamente, em torno do “conjunto de
saberes e conhecimentos requeridos em práticas
sociais letradas, tais como medição, cálculos de
volumes, elaboração de maquetes, mapas e
plantas (conteúdos matemáticos), e àqueles
necessários para a participação em práticas
discursivas de leitura e produção de textos de
diversos gêneros” (Kleiman, 2007) .
13. O trabalho com textos
• Leitura com crianças que ainda não leem
alfabeticamente
• Quem é o meu aluno? Com quais textos convive fora
da escola?
17. Tia Maria tinha 25 melancias,
comeu 18.
Com quantas melancias tia Maria
ficou?
18. A criança respondeu:
“Não importa! Acudam tia Maria!
Ela morreu ou está passando mal.”
(Exemplo retirado da Coleção Explorando o Ensino - Matemática /Ensino
Fundamental, MEC, 2011, vol. 17)
19. Se por um lado, houve um descuido de quem elaborou a questão - por não
fazer corresponder os valores reais do contexto e os valores tomados no
problema -, por outro, tal descuido permitiu a esse aluno utilizar o senso
crítico da realidade para dar sentido à resposta desse problema.
Muitas vezes, quando a criança utiliza o senso crítico ela é considerada
indisciplinada.
É preciso evitar contextualizações artificiais ou aquelas que não cumprem
uma função significativa na melhoria do ensino e aprendizagem.
É esse tipo de aluno que queremos formar.
20. • A unidade mais relevante de
ensino é o texto, que não se deve
dar como pretexto para outras
atividades de ensino sobre a
língua ou sobre a escrita, mas
que se constitui em objeto de
estudo, por si mesmo.
21. O Texto na sala de aula
PCNs
Função Social:
Tema, Modo
Composicional
e Estilo
TEXTO
Objeto de estudo,
não pretexto.
Saeb: Prova Brasil IDEB
Simave; PISA
Abordagem:
Competências e
Habilidades
23. Competências e habilidades no
contexto escolar
• Competências podem ser trabalhadas a partir das práticas
sociais: sujeitos engajados que mobilizam recursos e estratégias
para atingir determinado objetivo;
• Importância de que haja de fato necessidade para a leitura e a
produção de textos;
• Projetos: textos com função social, leitura e produção
significativas.
24. “O desenvolvimento das capacidades linguísticas de ler e
escrever, falar e ouvir com compreensão, em situações
diferentes
das
familiares,
não
acontece
espontaneamente. Elas precisam ser ensinadas
sistematicamente e isso ocorre, principalmente, nos
anos iniciais da Educação Fundamental.”
Pró-Letramento. Brasília: MEC/SEB, 2007. p. 14.
25. Gêneros orais
• Conversa telefônica
• Discussão em grupo
• Exposição oral
• Debate regrado
• Parlendas
• Notícia falada
• Conto maravilhoso
26. Exercício da cidadania
• Importância de conhecer os mais diversos gêneros;
• Segurança e autonomia em relação à escrita – permitirá que se
conheçam e se aprendam outros gêneros, ainda que não tenham
sido produzidos anteriormente;
• Importância de considerar a leitura e produção de textos como
práticas discursivas, que não podem ser separadas dos contextos em
que se desenvolvem – é o que acontece nas situações de
comunicação da vida social.
• Prática social /desenvolvimento de projetos como ponto de partida.
27. É um texto?
leite condensado
creme de leite
leite de coco
chocolate
Qual texto?
28. Ingredientes:
- leite condensado (2 latas)
- creme de leite (1 lata)
- leite de coco (1 lata)
- chocolate (2 barras)
Modo de preparo:
1- Numa panela coloque 2 latas de leite condensado, as barras de chocolate
derretidas, leve ao fogo médio e cozinhe até dar ponto de brigadeiro
consistente (10 minutos). Reserve.
2- Num liquidificador coloque 1 lata de creme de leite com soro, 1 vidro de leite
de coco (200 ml) e bata bem. Acrescente o brigadeiro (reservado acima) e bata
por + 5 minutos.
3- Em taças coloque o creme (feito acima) e leve à geladeira por +/- 3 horas.
Decore e sirva em seguida.
30. Aspectos básicos para caracterizar um gênero:
● Tema (sentido concreto do enunciado)
● Modo composicional (estrutura)
● Estilo (uso da linguagem)
- Interlocução
- Meio de circulação ou suporte
31. Agrupamento de gêneros segundo o Grupo de Genebra
Domínios sociais de
comunicação
Cultura literária ficcional
Documentação e
memorização das ações
humanas
Discussão de problemas
sociais controversos
Transmissão e
construção de saberes
Instruções e prescrições
Aspectos
Tipológicos
Capacidades de linguagens
dominantes
NARRAR
Mimesis de ação através da
criação da intriga no domínio
verossímil
RELATAR
Representação pelo discurso de
experiências vividas, situadas no
tempo
ARGUMENTAR
Sustentação, refutação e
negociação de tomadas de posição
EXPOR
Apresentação textual de diferentes
formas dos saberes
DESCREVER
AÇÕES
Regulação mútua de
comportamentos
Na perspectiva dos gêneros, trabalha-se também os tipos textuais tradicionais como a
narração, descrição e a dissertação.
32. EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS
NARRAR
RELATAR
ARGUMENTAR
EXPOR
DESCREVER
Conto
maravilhoso
Conto de
fadas
Fábulas
Lenda
Narrativa de
aventura
Romance
Novela
Piada
paródia
Conto
Narrativa de
ficção
científica
Narrativa
mítica
Relatos de
experiência
vivida
Relatos de
viagem
Diário íntimo
Testemunho
Anedota
Autobiografia
Notícia
Reportagem
Curriculum
vitae
Crônica
mundana
Crônica
esportiva
Biografia
Textos de opinião
Diálogo
argumentativo
Carta de leitor
Carta de
reclamação
Carta de
solicitação
Deliberação
informal
Debate regrado
Editorial
Discurso de
defesa
Requerimento
Ensaio
Resenhas críticas
Texto expositivo
conferência
Artigo
enciclopédico
Entrevista de
especialista
Texto explicativo
Tomada de notas
Resumos de
textos expositivos
e explicativos
Resenhas
Relatório científico
Relato de
experiências
científicas
Instruções de uso
Instruções de
montagem
Receita
Regulamento
Regras de jogo
consignas
diversas
Textos prescritivos
33. Gênero e cidadania
As ações linguísticas do cotidiano são
sempre orientadas por um conjunto de
fatores que atuam no contexto situacional:
– Qual é a finalidade do texto?
– Que gênero pode ser utilizado?
34. A democratização do texto
O espaço da sala de aula é transformado em uma oficina de textos
de ação social, o que é viabilizado e concretizado pela realização de
projetos e pela adoção de algumas estratégias inovadoras.
Projetos
Colocar em prática as habilidades desenvolvidas em
cada tipologia : narrar, relatar, argumentar, expor e
descrever ações.
35. Objetivos pedagógicos
• Leitor/ interlocutor real, que exige um texto coerente, coeso e interessante;
• Por ter em vista o leitor/ interlocutor, o aluno se conscientiza da
necessidade de revisar com cuidado o seu texto, de fazê-lo
legível e compreensível e de adequá-lo a certa variedade
linguística, ao gênero e à situação.
Interdisciplinaridade
• Diferentes áreas são envolvidas na atividade, seja quanto à
intersecção de conteúdos, seja quanto à busca de novos
recursos de expressão.
36. Foi aí que nasci: Nasci na sala do 3º ano,
sendo professora D. Emerenciana Barbosa, que Deus tenha.
Até então, era analfabeto e despretensioso. Lembro-me:
nesse dia de julho, o sol que descia da serra era bravo e parado.
A aula era de Geografia, e a professora traçava no quadro-negro nomes
de países distantes. As cidades vinham surgindo na ponte dos
nomes, e Paris era uma torre ao lado de uma ponte e de um rio,
a Inglaterra não se enxergava bem no nevoeiro, um esquimó,
um condor surgiam misteriosamente, trazendo países inteiros. Então,
nasci. De repente nasci, isto é, senti vontade de escrever. Nunca pensara
no que podia sair do papel e do lápis, a não ser bonecos sem pescoço,
com cinco riscos representando as mãos. Nesse momento, porém,
minha mão avançou para a carteira à procura de um objeto, achou-o,
apertou-o irresistivelmente, escreveu alguma coisa parecida com a narração
de uma viagem de Turmalinas ao Pólo Norte.
Carlos Drumonnd de Andrade
37. Projetos de Letramento
“O projeto de letramento se origina de um interesse real na vida dos alunos
e sua realização envolve o uso da escrita, isto é, envolve a leitura de textos
que, de fato, circulam na sociedade e a produção de textos que serão lidos, em
um trabalho coletivo de alunos e professor, cada um segundo sua capacidade.
Assim, o projeto de letramento pode ser considerado como uma prática social
em que a escrita é utilizada para atingir algum outro fim, que vai além da mera
aprendizagem formal da escrita, transformando objetivos circulares como
‘escrever para aprender a escrever’ e ‘ler para aprender a ler’ [...]”. (Kleiman,
2009, p.4)
38. Escola
Alfabetização
Aquisição e domínio do código;
ler/escrever para aprender a
ler/escrever
Outras esferas
Letramento
Situações comunicativas, sociohistóricas, culturalmente determinadas,
com finalidades específicas
Capacidade individual, competitiva
Coletiva, cada um segundo sua
capacidadedivisão do trabalho
Homogênea, segundo uma instituição
dominante
Diversificada, segundo instituições,
identidade dos participantes
Textos de instrituições de prestígio
científico, literário, jornalístico
Todas as esferas: cotidiano, burocracia,
comércio, jornalístico, publicitário, etc.
Texto como objeto de análise:
atividades eminentemente analíticas
Texto como objeto cultural visando a
construção de sentido
Preparo para transferência a outras
atividades e contextos
Realização da tarefa específica: relação
entre prática e instituição
Separação oral - escrito
Oral-escrito integrados, nos textos
multimodais produzidos na prática social
40. Uma proposta: projetos de Letramento
“um conjunto de atividades que se
origina de um interesse real na vida dos
alunos e cuja realização envolve o uso da
escrita, isto é, a leitura de textos que, de
fato, circulam na sociedade e a produção de
textos que serão realmente lidos, em um
trabalho coletivo de alunos e professor, cada
um segundo sua capacidade
(KLEIMAN, 2000, p. 238).
42. De aorcdo com uma peqsiusa de uma
uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul
odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia
csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia
Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser
uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler
sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos
cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um
tdoo.
44. Projetos de Letramento
“O projeto de letramento se origina de um interesse real na
vida dos alunos e sua realização envolve o uso da escrita, isto é,
envolve a leitura de textos que, de fato, circulam na sociedade e
a produção de textos que serão lidos, em um trabalho coletivo
de alunos e professor, cada um segundo sua capacidade. Assim,
o projeto de letramento pode ser considerado como uma prática
social em que a escrita é utilizada para atingir algum outro fim,
que vai além da mera aprendizagem formal da escrita,
transformando objetivos circulares como ‘escrever para
aprender a escrever’ e ‘ler para aprender a ler’ [...]”.
(Kleiman, 2009, p.4)
45. O modo como organizamos o trabalho pedagógico está ligado ao
sentido que atribuímos à escola e à sua função social; aos modos
como entendemos a criança; aos sentidos que damos à infância e à
adolescência e aos processos de ensino-aprendizagem..
Em síntese, está ligado à nossa concepção de educação:
Educar para quê?
Como?
Liga-se em consequência à construção de sujeitos cidadãos que cada
vez mais adentram os espaços sociais.
48. Assunto? Remetente? Destinatário? Local e
data? Linguagem? Vocativo? Despedida?
Assinatura? P.S. (post scriptum)? Formatação
do texto? Pontuação, ortografia e sintaxe?
Carta é diferente de e-mail?
CARTA PESSOAL