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Origem do Realismo
O Realismo começou na França em 1857, com a 
publicação  do  romance  Madame  Bovary,  de  Gustave
Flaubert.  Abandonando  o  idealismo  romântico,  os 
escritores  realistas  propõem  uma  representação  mais 
objetiva  e  fiel  da  vida  social.  Negam‐se  a  encarar  a 
literatura apenas como uma forma de entretenimento 
e fazem dela um instrumento de denúncia dos vícios e 
da corrupção da sociedade burguesa.
Denunciam  as  péssimas  condições  de  vida  do 
povo,  a  exploração  dos  operários,  a  influência  da 
religião e das práticas supersticiosas que ela apóia, e a 
hipocrisia  do  relacionamento  humano  no  casamento 
burguês.
A angústia de um operário em greve é
o  tema  de  On Strike (Em  Greve),  1891,  óleo 
sobre  tela,  famoso  quadro  de  Hubert von
Herkomer,  um  dos  maiores  nomes  da  arte 
realista.
Características do Realismo
• Engajamento social – compromisso com a sociedade.
• Retrato  da  sociedade  e  das  suas  relações  sem 
idealização. Exclui‐se da obra tudo o que vier da sorte, do 
acaso, do milagre. Tudo é regido por leis naturais.
• Cientificismo  – uso  de  teorias  científicas  e  filosóficas, 
como  o  determinismo,  o  evolucionismo,  a  psicologia,  o 
positivismo.
• Linguagem simples e direta.
• Tempo da narrativa – preferencialmente o presente, o 
que  faz  com  que  a  literatura  sirva  de  denúncia  dos 
aspectos sociais e políticos.
• Espaço urbano.
• Personagens caricaturados das pessoas do dia‐a‐dia, 
retratando‐se  ou o  aspecto  psicológico  ou  o  biológico 
desses.
• Preferência pela individualidade dos personagens.
• Romance documental.
• Observação  direta  e  interpretação  crítica  da 
realidade.
• Objetividade.
• Análise psicológicas dos personagens.
• Materialismo.
• Crítica  às  instituições  burguesas,  à monarquia,  a 
religiosidade, às crendices populares.
Comparação com o Romantismo
ROMANTISMO REALISMO
Subjetividade Objetividade
Imaginação Realidade circundante
Sentimento, emoção Inteligência , razão
Verdade individual Verdade universal
Fantasia  Fatos observáveis
Mulher  idealizada, anjo de pureza e 
perfeição
Mulher mostrada com seus defeitos e 
qualidades
Linguagem culta, em estilo metafórico 
e poético
Linguagem culta e direta
Narrativa lenta, acompanhando o 
tempo psicológico
Narrativa de ação e de aventura
O Realismo em Portugal
Na  segunda  metade  do  século  XIX  Portugal 
passava a conhecer um período de estabilidade política, 
de progresso material e de intercâmbio com o resto da 
Europa.  Coimbra,  importante  centro  cultural  e 
universitário da época, ligara‐se em 1864 à comunidade  
européia por meio da estrada de Ferro.
Apesar  dessas  novidades  no  cenário  político‐
cultural,  a  literatura  portuguêsa ainda  se  encontrava 
impregnada das velhas idéias românticas, situação que 
só veio a se alterar em 1965, com a Questão Coimbrã, 
que deu início ao Realismo em Portugal.
Esse  episódio  foi  uma  polêmica  ocorrida  em 
Coimbra  e  que  opôs,  de  um  lado,  Antônio  Feliciano 
Castilho,  conhecido  poeta  romântico  e  professor 
universitário  que  criticava  as  novas  idéias  literárias,  e 
do  outro,  Teófilo  Braga  e  Antero  de  Quental,  jovens 
estudantes e escritores que defendiam a liberdade de 
pensamento e a independência dos novos escritores.
Os  principais  representantes  do  Realismo 
português  na  Literatura  são  Antero  de  Quental  na 
poesia e Eça de Queirós na prosa.
O Realismo é uma reação contra o 
Romantismo:  
O Romantismo era a apoteose do 
sentimento; ‐ o Realismo é a anatomia do 
caráter. É a crítica do homem. É a arte 
que nos pinta a nossos próprios olhos ‐
para condenar o que houve de mau na 
nossa sociedade.
(Eça de Queirós) 
Na pintura realista, as obras retratavam cenas do 
cotidiano  das  camadas  mais  pobres  da  sociedade.  O 
sentimento de tristeza expressa‐se claramente através 
das cores fortes. 
Um dos principais pintores foi o francês Gustave
Coubert que  destacou‐se  com  as  seguintes  telas  :  Os 
Quebradores de Pedras e Enterro em Ornans.
Na  arquitetura,  arquitetos  e  engenheiros  procuram 
responder adequadamente às novas necessidades urbanas, 
criadas  pela  industrialização.  As  cidades  não  exigem  mais 
ricos palácios e templos. 
Elas  precisam  de  fábricas,  estações,  ferroviárias, 
armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias, 
tanto para os operários quanto para a nova burguesia. 
Em 1889 
Gustavo Eiffel 
levanta, em Paris 
a Torre Eiffel, 
hoje logotipo da 
“Cidade Luz”.
Na  escultura,  os  escultores  preferiam  os  temas 
contemporâneos,  assumindo  muitas  vezes  uma 
intenção  política  em  suas  obras.  Sua  característica 
principal é a fixação do  momento  significativo  de  um 
gesto humano.
Obras  destacadas:  Os  Burgueses  de  Calais,  O 
Beijo e O Pensador.
Realismo no Brasil
Seguindo de perto as tendências do Realismo na 
França e em Portugal, os escritores brasileiros fizeram 
da  literatura  uma  forma  de  análise  da  realidade 
brasileira. 
Na  década  de  1881,  diferentemente  do  que 
acontecia na Europa, o Brasil não vivia o processo do 
desenvolvimento  industrial.  Éramos  ainda  um  país 
essencialmente  agrário,  além  de  monarquista  e 
escravocrata.  Apesar  dos  crescentes  movimentos 
liberais,só nos últimos anos dessa década ocorreriam o 
fim da escravidão e a proclamação da república.
No  Brasil,  o  marco  inicial  do  Realismo  é a 
publicação, em 1881, de dois romances: O mulato de 
Aluísio Azevedo, e Memórias póstumas de Brás Cubas, 
de Machado de Assis.
Principais Autores e Obras
Machado de Assis: A Cartomante, O Alienista, Memórias 
Póstumas de Brás Cubas
Raul Pompéia: O Ateneu
Aluísio Azevedo: O cortiço, O Mulato, Casa de pensão
Inglês de Souza: O missionário
Adolfo Caminha:  A normalista, Bom‐Crioulo
Honoré de Balzac: Comédia Humana
Gustave Flaubert: Madame Bovary
Eça de Queiroz: O Crime do padre Amaro,  Primo Basílio
Antero de Quental: Odes Modernas, Sonetos
Guerra Junqueiro: Os Simples
Análise de uma obra Realista
CAPÍTULO 31 ‐ A Borboleta Preta
No  dia  seguinte,  como  eu  estivesse  a  preparar‐me  para  descer, 
entrou  no  meu  quarto  uma  borboleta,  tão  negra  como  a  outra,  e  muito 
maior  do  que  ela.  Lembrou‐me  o  caso  da  véspera,  e  ri‐me;  entrei  logo  a 
pensar na filha de Dona Eusébia, no susto que tivera e na dignidade que, 
apesar dele, soube conservar.  A  borboleta,  depois  de  esvoaçar  muito  em 
torno de mim, pousou‐me na testa. Sacudi‐a, ela foi pousar na vidraça; e, 
porque eu sacudisse de novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho 
retrato de meu pai. Era negra como a noite; e o gesto brando com que, uma 
vez  posta,  começou  a  mover  as  asas,  tinha  um  certo  ar  escarninho,  uma 
espécie de ironia mefistofélica, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí
do quarto; mas tornando lá, minutos depois, e achando‐a ainda no mesmo 
lugar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati‐lhe e ela 
caiu.
Não  caiu  morta;  ainda  torcia  o  corpo  e  movia  as  farpinhas  da 
cabeça. Apiedei‐me; tomei‐a na palma da mão e fui depô‐la no peitoril da 
janela.  Era  tarde;  a  infeliz  expirou  dentro  de  alguns  segundos.  Fiquei  um 
pouco aborrecido, incomodado.
‐ Também por que diabo não era ela azul? disse eu comigo.
E esta reflexão, ‐ uma das mais profundas que se 
tem feito desde a invenção das borboletas, ‐ me consolou 
do malefício, e me reconciliou comigo mesmo. Deixei‐me 
estar  a  contemplar  o  cadáver,  com  alguma  simpatia, 
confesso.  Imaginei  que  ela  saíra  do  mato,  almoçada  e 
feliz.  A  manhã  era  linda.  Veio  por  ali  fora,  modesta  e 
negra,  espairecendo  as  suas  borboletices,  sob  a  vasta 
cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as 
asas.  Passa  pela  minha  janela,  entra  e  dá comigo. 
Suponho  que  nunca  teria  visto  um  homem;  não  sabia, 
portanto, o que era o homem; descreveu infinitas voltas 
em torno do meu corpo, e viu que me movia, que tinha 
olhos,  braços,  pernas,  um  ar  divino,  uma  estatura 
colossal.  Então  disse  consigo:  "Este  é provavelmente  o 
inventor das  borboletas.“ A  idéia  subjugou‐a,  aterrou‐a; 
mas o medo, que é também sugestivo, insinuou‐lhe que o 
melhor  modo  de  agradar  ao  seu  criador  era  beijá‐lo  na 
testa, e ela beijou‐me na testa.
Quando enxotada por mim, foi pousar na vidraça, viu dali o 
retrato de meu pai, e não é impossível que descobrisse meia 
verdade,  a  saber,  que  estava  ali  o  pai  do  inventor  das 
borboletas, e voou a pedir‐lhe misericórdia.
Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe 
valeu  a  imensidade  azul,  nem  a  alegria  das  flores,  nem  a 
pompa das folhas verdes, contra uma toalha de rosto, dois 
palmos  de  linho  cru.  Vejam  como  é bom  ser  superior  às 
borboletas! Porque, é justo dizê‐lo, se ela fosse azul, ou cor 
de laranja, não teria mais segura a vida; não era impossível 
que  eu  a  atravessasse  com  um  alfinete,  para  recreio  dos 
olhos.
Não era. Esta última idéia restituiu‐me a consolação; uni o 
dedo  grande  ao  polegar,  despedi  um  piparote  e  o  cadáver 
caiu  no  jardim.  Era  tempo;  aí vinham  já as  providas 
formigas...
Não, volto à primeira idéia; creio que para ela era melhor ter 
nascido azul.
Análise
No capitulo “A Borboleta Preta”, Machado de Assis desloca o foco 
de  interesse  do  romance.  Não  trata  diretamente  da  vida  social  ou da 
descrição  das  paisagens,  mas  da  forma  como  seus  personagens  vêem  as 
circunstancias em que vivem. O escritor concentra sua narrativa na visão 
de mundo de seus personagens, expondo suas contradições. Fica claro o 
medo à superstição. Depois de ser espantada duas vezes, a borboleta “foi 
parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a noite.”
Percebe‐se que a cor preta influência a vida da personagem (pelo 
fato de simbolizar luto, morte, escuridão) o que leva o narrador a matar o 
inseto. Mais tarde, arrepende‐se, pois reconhece que ela existe, ainda que 
expresse sua preferência pela cor azul. Chega a afirmar que esta reflexão é
uma das mais profundas que se tem feito desde a invenção das borboletas. 
Eis então a chave para compreender a obra: as reflexões da personagem e 
os momentos que ela vive.
Com  o  transcorrer  da  história,  o  narrador  preocupa‐se  em  detalhar  as 
características físicas e psicológicas, porém sem fugir do seu mundo real. 
Há valorização da forma com uma linguagem clara, de fácil compreensão, 
sem vulgarizar‐se, facilitando o entendimento do leitor.
Instituto Federal de Educação, Ciência 
e Tecnologia de Santa Catarina
Professora: Marinice
Disciplina: Português
Alunos: Mariane Lopes, Rodrigo, Tiago, William 
Rodrigues, Iago, Alcydes, Claudir
Turma: 9020511

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Ppt realismo (1)

  • 1.
  • 2. Origem do Realismo O Realismo começou na França em 1857, com a  publicação  do  romance  Madame  Bovary,  de  Gustave Flaubert.  Abandonando  o  idealismo  romântico,  os  escritores  realistas  propõem  uma  representação  mais  objetiva  e  fiel  da  vida  social.  Negam‐se  a  encarar  a  literatura apenas como uma forma de entretenimento  e fazem dela um instrumento de denúncia dos vícios e  da corrupção da sociedade burguesa. Denunciam  as  péssimas  condições  de  vida  do  povo,  a  exploração  dos  operários,  a  influência  da  religião e das práticas supersticiosas que ela apóia, e a  hipocrisia  do  relacionamento  humano  no  casamento  burguês.
  • 3. A angústia de um operário em greve é o  tema  de  On Strike (Em  Greve),  1891,  óleo  sobre  tela,  famoso  quadro  de  Hubert von Herkomer,  um  dos  maiores  nomes  da  arte  realista.
  • 4. Características do Realismo • Engajamento social – compromisso com a sociedade. • Retrato  da  sociedade  e  das  suas  relações  sem  idealização. Exclui‐se da obra tudo o que vier da sorte, do  acaso, do milagre. Tudo é regido por leis naturais. • Cientificismo  – uso  de  teorias  científicas  e  filosóficas,  como  o  determinismo,  o  evolucionismo,  a  psicologia,  o  positivismo. • Linguagem simples e direta. • Tempo da narrativa – preferencialmente o presente, o  que  faz  com  que  a  literatura  sirva  de  denúncia  dos  aspectos sociais e políticos. • Espaço urbano.
  • 5. • Personagens caricaturados das pessoas do dia‐a‐dia,  retratando‐se  ou o  aspecto  psicológico  ou  o  biológico  desses. • Preferência pela individualidade dos personagens. • Romance documental. • Observação  direta  e  interpretação  crítica  da  realidade. • Objetividade. • Análise psicológicas dos personagens. • Materialismo. • Crítica  às  instituições  burguesas,  à monarquia,  a  religiosidade, às crendices populares.
  • 6. Comparação com o Romantismo ROMANTISMO REALISMO Subjetividade Objetividade Imaginação Realidade circundante Sentimento, emoção Inteligência , razão Verdade individual Verdade universal Fantasia  Fatos observáveis Mulher  idealizada, anjo de pureza e  perfeição Mulher mostrada com seus defeitos e  qualidades Linguagem culta, em estilo metafórico  e poético Linguagem culta e direta Narrativa lenta, acompanhando o  tempo psicológico Narrativa de ação e de aventura
  • 7. O Realismo em Portugal Na  segunda  metade  do  século  XIX  Portugal  passava a conhecer um período de estabilidade política,  de progresso material e de intercâmbio com o resto da  Europa.  Coimbra,  importante  centro  cultural  e  universitário da época, ligara‐se em 1864 à comunidade   européia por meio da estrada de Ferro. Apesar  dessas  novidades  no  cenário  político‐ cultural,  a  literatura  portuguêsa ainda  se  encontrava  impregnada das velhas idéias românticas, situação que  só veio a se alterar em 1965, com a Questão Coimbrã,  que deu início ao Realismo em Portugal.
  • 8. Esse  episódio  foi  uma  polêmica  ocorrida  em  Coimbra  e  que  opôs,  de  um  lado,  Antônio  Feliciano  Castilho,  conhecido  poeta  romântico  e  professor  universitário  que  criticava  as  novas  idéias  literárias,  e  do  outro,  Teófilo  Braga  e  Antero  de  Quental,  jovens  estudantes e escritores que defendiam a liberdade de  pensamento e a independência dos novos escritores. Os  principais  representantes  do  Realismo  português  na  Literatura  são  Antero  de  Quental  na  poesia e Eça de Queirós na prosa.
  • 9. O Realismo é uma reação contra o  Romantismo:   O Romantismo era a apoteose do  sentimento; ‐ o Realismo é a anatomia do  caráter. É a crítica do homem. É a arte  que nos pinta a nossos próprios olhos ‐ para condenar o que houve de mau na  nossa sociedade. (Eça de Queirós) 
  • 10. Na pintura realista, as obras retratavam cenas do  cotidiano  das  camadas  mais  pobres  da  sociedade.  O  sentimento de tristeza expressa‐se claramente através  das cores fortes.  Um dos principais pintores foi o francês Gustave Coubert que  destacou‐se  com  as  seguintes  telas  :  Os  Quebradores de Pedras e Enterro em Ornans.
  • 11. Na  arquitetura,  arquitetos  e  engenheiros  procuram  responder adequadamente às novas necessidades urbanas,  criadas  pela  industrialização.  As  cidades  não  exigem  mais  ricos palácios e templos.  Elas  precisam  de  fábricas,  estações,  ferroviárias,  armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias,  tanto para os operários quanto para a nova burguesia.  Em 1889  Gustavo Eiffel  levanta, em Paris  a Torre Eiffel,  hoje logotipo da  “Cidade Luz”.
  • 12. Na  escultura,  os  escultores  preferiam  os  temas  contemporâneos,  assumindo  muitas  vezes  uma  intenção  política  em  suas  obras.  Sua  característica  principal é a fixação do  momento  significativo  de  um  gesto humano. Obras  destacadas:  Os  Burgueses  de  Calais,  O  Beijo e O Pensador.
  • 13. Realismo no Brasil Seguindo de perto as tendências do Realismo na  França e em Portugal, os escritores brasileiros fizeram  da  literatura  uma  forma  de  análise  da  realidade  brasileira.  Na  década  de  1881,  diferentemente  do  que  acontecia na Europa, o Brasil não vivia o processo do  desenvolvimento  industrial.  Éramos  ainda  um  país  essencialmente  agrário,  além  de  monarquista  e  escravocrata.  Apesar  dos  crescentes  movimentos  liberais,só nos últimos anos dessa década ocorreriam o  fim da escravidão e a proclamação da república.
  • 14. No  Brasil,  o  marco  inicial  do  Realismo  é a  publicação, em 1881, de dois romances: O mulato de  Aluísio Azevedo, e Memórias póstumas de Brás Cubas,  de Machado de Assis.
  • 15. Principais Autores e Obras Machado de Assis: A Cartomante, O Alienista, Memórias  Póstumas de Brás Cubas Raul Pompéia: O Ateneu Aluísio Azevedo: O cortiço, O Mulato, Casa de pensão Inglês de Souza: O missionário Adolfo Caminha:  A normalista, Bom‐Crioulo Honoré de Balzac: Comédia Humana Gustave Flaubert: Madame Bovary Eça de Queiroz: O Crime do padre Amaro,  Primo Basílio Antero de Quental: Odes Modernas, Sonetos Guerra Junqueiro: Os Simples
  • 16. Análise de uma obra Realista CAPÍTULO 31 ‐ A Borboleta Preta
  • 17. No  dia  seguinte,  como  eu  estivesse  a  preparar‐me  para  descer,  entrou  no  meu  quarto  uma  borboleta,  tão  negra  como  a  outra,  e  muito  maior  do  que  ela.  Lembrou‐me  o  caso  da  véspera,  e  ri‐me;  entrei  logo  a  pensar na filha de Dona Eusébia, no susto que tivera e na dignidade que,  apesar dele, soube conservar.  A  borboleta,  depois  de  esvoaçar  muito  em  torno de mim, pousou‐me na testa. Sacudi‐a, ela foi pousar na vidraça; e,  porque eu sacudisse de novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho  retrato de meu pai. Era negra como a noite; e o gesto brando com que, uma  vez  posta,  começou  a  mover  as  asas,  tinha  um  certo  ar  escarninho,  uma  espécie de ironia mefistofélica, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tornando lá, minutos depois, e achando‐a ainda no mesmo  lugar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati‐lhe e ela  caiu. Não  caiu  morta;  ainda  torcia  o  corpo  e  movia  as  farpinhas  da  cabeça. Apiedei‐me; tomei‐a na palma da mão e fui depô‐la no peitoril da  janela.  Era  tarde;  a  infeliz  expirou  dentro  de  alguns  segundos.  Fiquei  um  pouco aborrecido, incomodado. ‐ Também por que diabo não era ela azul? disse eu comigo.
  • 18. E esta reflexão, ‐ uma das mais profundas que se  tem feito desde a invenção das borboletas, ‐ me consolou  do malefício, e me reconciliou comigo mesmo. Deixei‐me  estar  a  contemplar  o  cadáver,  com  alguma  simpatia,  confesso.  Imaginei  que  ela  saíra  do  mato,  almoçada  e  feliz.  A  manhã  era  linda.  Veio  por  ali  fora,  modesta  e  negra,  espairecendo  as  suas  borboletices,  sob  a  vasta  cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as  asas.  Passa  pela  minha  janela,  entra  e  dá comigo.  Suponho  que  nunca  teria  visto  um  homem;  não  sabia,  portanto, o que era o homem; descreveu infinitas voltas  em torno do meu corpo, e viu que me movia, que tinha  olhos,  braços,  pernas,  um  ar  divino,  uma  estatura  colossal.  Então  disse  consigo:  "Este  é provavelmente  o  inventor das  borboletas.“ A  idéia  subjugou‐a,  aterrou‐a;  mas o medo, que é também sugestivo, insinuou‐lhe que o  melhor  modo  de  agradar  ao  seu  criador  era  beijá‐lo  na  testa, e ela beijou‐me na testa.
  • 19. Quando enxotada por mim, foi pousar na vidraça, viu dali o  retrato de meu pai, e não é impossível que descobrisse meia  verdade,  a  saber,  que  estava  ali  o  pai  do  inventor  das  borboletas, e voou a pedir‐lhe misericórdia. Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe  valeu  a  imensidade  azul,  nem  a  alegria  das  flores,  nem  a  pompa das folhas verdes, contra uma toalha de rosto, dois  palmos  de  linho  cru.  Vejam  como  é bom  ser  superior  às  borboletas! Porque, é justo dizê‐lo, se ela fosse azul, ou cor  de laranja, não teria mais segura a vida; não era impossível  que  eu  a  atravessasse  com  um  alfinete,  para  recreio  dos  olhos. Não era. Esta última idéia restituiu‐me a consolação; uni o  dedo  grande  ao  polegar,  despedi  um  piparote  e  o  cadáver  caiu  no  jardim.  Era  tempo;  aí vinham  já as  providas  formigas... Não, volto à primeira idéia; creio que para ela era melhor ter  nascido azul.
  • 20. Análise No capitulo “A Borboleta Preta”, Machado de Assis desloca o foco  de  interesse  do  romance.  Não  trata  diretamente  da  vida  social  ou da  descrição  das  paisagens,  mas  da  forma  como  seus  personagens  vêem  as  circunstancias em que vivem. O escritor concentra sua narrativa na visão  de mundo de seus personagens, expondo suas contradições. Fica claro o  medo à superstição. Depois de ser espantada duas vezes, a borboleta “foi  parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a noite.” Percebe‐se que a cor preta influência a vida da personagem (pelo  fato de simbolizar luto, morte, escuridão) o que leva o narrador a matar o  inseto. Mais tarde, arrepende‐se, pois reconhece que ela existe, ainda que  expresse sua preferência pela cor azul. Chega a afirmar que esta reflexão é uma das mais profundas que se tem feito desde a invenção das borboletas.  Eis então a chave para compreender a obra: as reflexões da personagem e  os momentos que ela vive. Com  o  transcorrer  da  história,  o  narrador  preocupa‐se  em  detalhar  as  características físicas e psicológicas, porém sem fugir do seu mundo real.  Há valorização da forma com uma linguagem clara, de fácil compreensão,  sem vulgarizar‐se, facilitando o entendimento do leitor.