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ANÁLISE E CRÍTICA DO LIVRO “EU SOU CAMILLE DESMOULINS”,
              de Hermínio C. Miranda e Luciano dos Anjos.

                               por Moizés Montalvão

Observação1: os grifados, sublinhados, negritos, nas citações de textos de outros
autores, são de nossa autoria. Textos [entre colchetes] são inserções explicativas, de
nossa autoria.

Observação2: algumas citações ilustrativas são relativamente longas. A intenção é
mostrar claramente o pensamento do autor, evitando distorções, o que é comum
ocorrer com referências curtas.

Observação3: alusões à reencarnação e mediunidade são inevitáveis na presente
análise. Conseqüentemente, referências ao espiritismo também serão inevitáveis. Não
há qualquer intento em agredir crenças, as quais respeitamos com muita seriedade.
Discutimos, sim, idéias, proposições, teorias.

OBJETIVO: analisar a alegação de que as recordações experienciadas por Luciano dos
Anjos, sob a condução de Hermínio Miranda, demonstram um autêntico caso de
reencarnação.

                            COMENTÁRIOS INICIAIS

Os protagonistas da obra sob apreciação são Hermínio Correa de Miranda e Luciano dos
Anjos. O evento teria ocorrido durante alguns meses, no ano de 1967 e, segundo os
autores, foi gravado em fita e das gravações produziu-se o livro.

Hermínio e Luciano são pessoas dotadas de elevada cultura. Hermínio domina quatro ou
cinco idiomas, escreveu muitos livros, nos quais mostra familiaridade com variados
assuntos. Luciano atuou como jornalista por longo tempo e também escreveu diversas
obras. Portanto, estamos lidando com pessoas do mais alto gabarito, cuja formação
intelectual é inatacável e, ao que tudo indica, são figuras ilibadas, não dadas a
dissimulações ou fraudes conscientes.

Desse modo, as apreciações que faremos não têm por objetivo denegrir a imagem dos
autores, sim avaliar a experiência de regressão que, segundo defendem, atestaria
indubitavelmente um evento reencarnacionista. O objetivo deste trabalho é verificar se
tal declaração é suficientemente firme para ser acatada sem receios.

Antes de falarmos da experiência propriamente dita, necessário se faz conhecer a
metodologia utilizada, bem como a base teórica que ampara a prática regressionista, nos
moldes praticados por Hermínio Miranda. Estas estão detalhadas na obra “A Memória e
o Tempo”, de autoria de Hermínio, na qual, logo no início, se lê:

Regressão da memória é o processo espontâneo ou provocado, por meio do qual, o
espírito encarnado ou desencarnado fica em condições de retornar ao passado, na
vida atual ou em existências anteriores, próximas ou remotas. Estou bem certo de
que a definição proposta pressupõe aceitação de alguns dos preceitos básicos da
doutrina espírita, organizada por Allan Kardec na segunda metade do século XIX,
na França. (p. 13, 14)

Aqui deparamos um dificultador: para se aceitar a definição proposta por Hermínio
necessário se faz aceitar pressupostos da doutrina espírita. O que constitui um
problema e uma limitação. Hermínio Miranda assevera que a melhor maneira (e talvez a
única aceitável) de explicar o fenômeno seja por meio da teoria espírita. Como se pode
ver no trecho a seguir:

“Os pressupostos implícitos na definição oferecida não são...invenção do
espiritismo nem surgiram de revelações transcendentais revestidas de caráter
místico ou dogmático, a exigir sustentação da fé cega. São princípios
eminentemente lógicos que podemos aceitar sem nenhuma forma de violência à
razão e que têm sido exaustivamente pesquisados e confirmados por inúmeros
investigadores qualificados. (...)

Sugerimos, portanto, aos mais renitentes e obstinados negadores que os aceitem,
provisoriamente, como hipóteses de trabalho e os submetam aos testes e aplicações
que julgarem necessários. Ainda que não os aceitem, porém, não há como negar
que eles estão implicitamente contidos na visão integrada do fenômeno da
regressão da memória. Estão, assim, embutidos na estrutura do fenômeno os
seguintes conceitos fundamentais que aqui alinhamos como premissas básicas:

– existência do espírito, ser consciente em evolução.
– existência de um corpo energético, organizador biológico, a que chamamos de
perispírito.
– preexistência do espírito à sua vida na carne.
– sobrevivência do espírito à morte do corpo físico.
– sua permanência por algum tempo numa dimensão que escapa aos nossos
sentidos habituais.
– seu retorno em novo corpo físico para nova existência na carne.
– sua responsabilidade pessoal pelos atos praticados, no bem ou no mal. (p. 14)

Essas “exigências” dificultariam ao investigador não-espírita a averiguação do caso,
pelo menos dentro da abordagem realizada pelo autor. Praticantes do regressionismo,
não adeptos da doutrina espírita, teriam dificuldades em acatar alguns dos quesitos
especificados, notadamente a existência do perispírito. De certo modo, o que Hermínio
Miranda determina é mais ou menos o seguinte: analisem a experiência de Luciano dos
Anjos e constatem a evidência demonstrada da reencarnação, isso desde que o façam
segundo as suposições seguidas pela doutrina espírita.

A afirmação de que os itens relacionados acima integram o fenômeno regressionista
seria, em parte, aceitável se fosse acatada aprioristicamente a idéia de que as lembranças
são autênticas reminiscências. A investigação que se pretenda ampla deve levar em
conta outras hipóteses. Uma delas seria a de que as recordações sejam elaborações
mentais do paciente, extraídas de seus próprios conhecimentos, (conhecimentos obtidos
na existência atual).

Como forma de melhor compreender o assunto, consideramos conveniente distinguir
três modalidades de regressão:
1. Regressão de memória (que recuperaria lembranças da existência atual);
2. Regressão ao útero materno (supostas recordações da vida intra-uterina);
3. Regressão a vidas passadas (alegadas lembranças de outras vidas).

Contudo, Hermínio Miranda utiliza a expressão “regressão da memória”
indistintamente, isto é, sem diferenciar dentre as modalidades aqui referidas. No
presente estudo, estaremos, pois, investigando um episódio de regressão a vidas
passadas.

                                     O MÉTODO

A técnica hipnótica de Hermínio, aplicada para obter lembranças de vidas passadas,
conjuga passes “magnéticos” com sugestões verbais.

A sugestão, por meio de comandos imperativos, na hipnose é prática consagrada. Há
técnicas de indução sem a utilização de instruções verbais – uma das principais,
conhecida por letargia −, contudo, o processo hipnótico global não prescinde dos
comandos ou induções por meio da voz. E é fácil compreender porque tal se dá: o
objetivo de uma sessão de hipnose é obter determinada reação, seja agir de certo modo,
ou avivar a memória, ou despertar emoções. Tais objetivos se realizam direcionando a
mente hipnotizada com palavras adequadas.

O passe, dito magnético, tem uma função específica. No espiritismo é utilizado como
forma de transmitir energia terapêutica de uma pessoa para outra. Alguns teóricos
espíritas asseveram que, em realidade, o passe não transfere energia vital do agente ao
paciente; em vez disso, promove o reequilíbrio da circulação energética. O processo se
daria pela interseção dos campos magnéticos dos envolvidos, conforme se vê na
declaração de Paulo Henrique de Figueiredo, na revista Universo Espírita:

“Está equivocado quem imagina a técnica do Magnetismo Animal como sendo a
emissão de um fluido das mãos do médico com o poder de curar o doente e
envolvê-lo. Não é essa a teoria de Mesmer. Por conseqüência, não é a teoria
espírita.” (Universo Espírita, nº 49, p. 37) [Obs. No original consta efetivamente a
palavra “médico”, porém temos a impressão de que o autor pretendia grafar
“médium”]

Nada obstante, a maioria dos que fazem uso do magnetismo, conforme o molde espírita,
o entendem como transferência de energia. Alguns dos escritos de Kardec transmitem a
idéia de cessão de energia. E este parece ser, igualmente, o pensamento de Hermínio
Miranda, conforme se vê no seguinte trecho de sua autoria.

Magnetismo, a nosso ver, é a técnica de desdobramento provocado por meio de
passes e/ou toques, enquanto a hipnose ficaria adstrita aos métodos da sugestão
verbal, transmitindo-se as instruções ordenadamente, em cadência e tom de voz
adequados. Ainda mais: os dois métodos podem ser combinados, simultâneos,
cabendo ao operador transmitir as instruções para o relaxamento ao mesmo tempo
em que satura de energias o sensitivo, com passes apropriados.” (A Memória e o
Tempo. P. 81)
Diversas escolas advogam que passes manuais podem promover benefícios variados.
Sem pensar muito podemos lembrar o johrei, utilizado na Igreja Messiânica; a prática
Reiki; a imposição de mãos em algumas igrejas protestantes; certos exercícios de magia,
que atribuem poderes a gestos manuais, etc. Ainda que variem as explicações sobre o
que seja o passe, dependendo do grupo religioso que o pratica, todos admitem que o
procedimento acarreta benefícios. A Bíblia fala da imposição de mãos, aplicada
concomitantemente à oração, como se vê no livro bíblico de Tiago, capítulo 5:

“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele,
ungido-o com óleo em nome do Senhor;”

Também, no livro de Hebreus, capítulo 6, encontramos:

“Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a
perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas
e de fé em Deus, e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre
ressurreição de mortos e juízo eterno.”

A realidade, contudo, não mostra que os passes sejam dotados de poderes
extraordinários, quase mágicos, como alguns supõem. Os adeptos afirmam que a técnica
de passes magnéticos é praticada desde o primórdio da civilização, entre egípcios,
caldeus, gregos. Contudo, a imposição de mãos na antiguidade não estava atrelada à
teoria do “magnetismo animal”. O passe pode ser benéfico em diversas situações, mas
os efeitos salutares, inclusive terapêuticos, são resultado da sugestão positiva que o
procedimento induz.

As concepções sobre o passe magnético, no caso espírita, constituem herança do médico
austríaco Franz Anton Mesmer. Esta figura tem uma história singular. Mesmer
contribuiu para erigir um dos pilares do pensamento kardecista, uma vez que a teoria do
“magnetismo animal” foi inteiramente acatada por Kardec, na qual baseou expressiva
parcela de seus ensinamentos.

Hermínio Miranda, no livro “A Memória e o Tempo”, apresenta ilustrativa exposição
sobre o magnetismo e sobre a hipnose, desde Mesmer até a atualidade. A explanação de
Hermínio é longa para ser reproduzida nesta apreciação. À medida que nosso
comentário evoluir, faremos referências a ela, principalmente dos pontos que
consideramos discutíveis. Em linhas gerais, o que Hermínio apresentou está coerente
com os melhores estudos do assunto; discordamos do tratamento privilegiado − a nosso
ver excessivo e com pouca base −, que dá à teoria do passe magnético. Recomenda-se
aos interessados em acompanhar o presente estudo, a leitura dos livros citados (A
Memória e o Tempo e Eu sou Camille Desmoulins).

A hipótese do “magnetismo animal” não foi comprovada experimentalmente. Inexistem
evidências de que haja, nos corpos vivos, algo como uma “circulação magnética”.
Apesar disso, tal conjectura é cultivada por diversos segmentos religiosos. Para o
kardecismo, por exemplo, o magnetismo seria a canalização produtiva do “fluido
universal”. Fluido este que permanece no campo das conjecturas, uma vez que não foi
detectado por experimentos científicos. Hermínio Miranda, por outro lado, tem opinião
peculiar a respeito:
“Embora para muitos autores de renome, como Lewis Spence, magnetismo e
hipnose sejam a mesma coisa com nomes diferentes, preferimos aqui manter a
distinção para fins didáticos, embora os resultados práticos de ambos sejam
idênticos ou muito semelhantes. Magnetismo, a nosso ver, é a técnica de
desdobramento provocado por meio de passes e/ou toques, enquanto a hipnose
ficaria adstrita aos métodos da sugestão verbal, transmitindo-se as instruções
ordenadamente, em cadência e tom de voz adequados. Ainda mais: os dois métodos
podem ser combinados, simultâneos, cabendo ao operador transmitir as instruções
para o relaxamento ao mesmo tempo em que satura de energias o sensitivo, com
passes apropriados.” (A Memória e o Tempo. P. 81)

Para Hermínio Miranda, os passes permitem ao espírito “desdobrar-se”, o que significa
isso? Segundo certa teoria, em algumas circunstâncias a alma (juntamente com o
perispírito) consegue descolar do “invólucro carnal” e realizar peripécias que
normalmente não lhe estariam acessíveis.

Allan Kardec apresentou amplas considerações a respeito do fluido magnético em várias
de suas obras, o tema tinha para ele importância capital, ilustramos com a seguinte
declaração, extraída de “A Gênese”.

32. – São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de
acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento
prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como uma
corrente elétrica. ... Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e
só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo:
o fluido, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha
subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais.

33. – A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou
magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade
do fluido;
2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um
encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono
sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física
ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta
das qualidades do Espírito;
3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de
veículo para esse derramamento...

34. – É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode
desenvolver-se por meio do exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela
imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar
excepcional...

Em “O Livro dos Médiuns” encontramos outra informação ilustrativa:

131. Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo,
mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da
vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro
Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como
atrás dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou
elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas
propriedades da água, pode também produzir um fenômeno análogo com os
fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética,
convenientemente dirigida.

Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do
magnetismo. Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A
vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade
da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto
é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria
elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas
propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.

Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito
encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta
da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria
elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos
limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das
mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado...

Para Kardec e, parece-nos, para a maioria dos praticantes do espiritismo, o passe
magnético teria efetiva aplicação terapêutica. Hermínio Miranda acrescenta-lhe outra
qualidade, conforme dito, o passe teria a peculiaridade de promover o “desdobramento”
do perispírito. À página 70 de “A Memória e o Tempo” Hermínio explica sua
concepção de desdobramento:

(...)separação temporária e controlada entre o perispírito e o corpo físico, no ser
encarnado(...)

Também, à página 92, lemos:

“Seja pelo passe magnético, pela fixação do olhar, pela sugestão verbal ou pelos
outros processos de indução, tanto quanto pela anestesia química, o fenômeno
psicossomático é o mesmo, ou seja, o desdobramento do ser em seus componentes
básicos – desprende-se o espírito com o seu corpo energético, perispiritual ou que
outro nome lhe tenha sido aplicado, enquanto o corpo físico permanece em
repouso. Como a sensibilidade está no perispírito, e não no corpo físico, este se
torna insensível à dor, se o sono magnético for suficientemente profundo para
produzir a separação adequada.”

Quem conheça um pouquinho das teorias sobre a hipnose notará que a suposição
apresentada por Hermínio Miranda é particularíssima e traz alegações de difícil defesa.
A afirmação de que a sensibilidade do corpo está no perispírito é deveras complicada.
Seria intrincado obterem-se bons argumentos para amparar tal idéia. Parece que, para
Hermínio Miranda, a insensibilidade tátil é conseqüência obrigatória da indução
hipnótica e seria demonstração do desdobramento. Nada menos veraz: dependendo da
forma como for sugestionado, o paciente pode apresentar sensibilidade exacerbada, em
vez de analgesia.

Outra idéia confusa é a do “desacoplamento” do espírito, durante a hipnose. Tal
suposição é fruto de antigas conjeturas. No passado era comum a crença de que, durante
o sono, a alma se desprendia do corpo. Os sonhos seriam a confirmação de que o
fenômeno ocorria. Kardec incorporou essa primitiva idéia à doutrina que elaborou. No
entanto, os estudos sobre o sonho passam longe de tal opinião. É certo que existem
agremiações propondo a capacidade de se viajar no “universo astral”. E parece que
essas viagens são gratificantes, porque não poucas pessoas se dedicam a excursões da
espécie. Entretanto, é fácil demonstrar que o processo se passa inteiramente na mente do
praticante. Alguns testes, relativamente simples, deixam claro o fato. No caso de
regressão de Luciano dos Anjos, o desligamento do perispírito foi apresentado por
Hermínio como um fato inconteste. Em momento algum ele se propôs a verificar se o
espírito do regredido se encontraria efetivamente fora de sua morada carnal. Adiante,
quando examinarmos as regressões, falaremos mais do assunto.

A nosso ver, não obstante o brilhante trabalho que o livro “A Memória e o Tempo”
representa, encontramos alguns equívocos sérios no pensamento de Hermínio Miranda.
À frente resumiremos os pontos principais, no título “ALGUNS PONTOS
CONTROVERSOS NO PENSAMENTO DE HERMÍNIO MIRANDA.”

Falemos um pouco a respeito de Franz Anton Mesmer, pois este nome está ligado ao
conceito kardecista de magnetismo (conceito este que, conforme foi dito, é mantido
ainda na atualidade).

                               MESMER (1733-1815)

O austríaco Franz Anton Mesmer desde tenra idade revelou pendores intelectuais
incomuns. A família esforçou-se para que ele tivesse a melhor educação possível. O
resultado do investimento certamente não frustrou os familiares, Mesmer formou-se em
filosofia, medicina e direito. Também estudou música e era versado em astrologia.
Afora essas especializações, que lhe garantiriam a classificação de sábio segundo os
padrões de sua época, Mesmer estava inclinado a descobrir novas formas de praticar a
medicina. Ele se interessara pela teoria de Paracelso (1493-1541), e sucessores, que
postulara a existência de um fluido universal, por meio do qual seria possível um
homem exercer influência sobre outros homens e sobre objetos inanimados. Paracelso
conquistara grande respeito em sua época e, após sua morte, diversos pesquisadores
deram continuidade às suas idéias.

Também a teoria hipocrática de que a doença era resultante do desequilíbrio dos fluidos
orgânicos era simpática ao médico austríaco. Por outro turno, Mesmer acompanhou o
trabalho de certo sacerdote exorcista, chamado Gassner. Desse contato resultou a
aceleração das cogitações do austríaco e fixou o rumo dos estudos que conduziria a
partir de então. Johann Josef Gassner era um clérigo, contemporâneo de Mesmer,
famoso pelas curas que obtinha por meio da expulsão de demônios dos corpos doentes.
O sacerdote, durante os rituais, trajava-se escalafobeticamente e carregava um enorme
crucifixo de metal. Diante de um suposto possesso, Gassner arremetia-se em direção ao
infeliz, vociferando palavras em latim e brandindo o crucifixo, como se fora uma espada
preste a desferir um golpe. Os pacientes ficavam alucinados, a maioria caía
desacordada, outros entravam em convulsão.

Alguns estudiosos da história do hipnotismo creditam a Gassner, e não a Mesmer, o
pioneirismo da prática hipnótica, uma vez que conseguia com muita freqüência deixar
seus pacientes num estado típico dos hipnotizados.

Mesmer analisou o trabalho de Gassner e concluiu que os resultados que obtinham
devia-se à influência do crucifixo metálico. Este conduziria o fluido universal e
provocaria as curas, que, no entender de Mesmer, seriam erroneamente atribuídas ao
ritual de exorcismo.

 Contudo, nem todos os pesquisadores concordam que tenha havido um encontro entre
Mesmer e Gassner. Há quem diga que Mesmer conhecia o trabalho do sacerdote e dele
fizera apreciação positiva, ressalvando a ingenuidade do religioso em atribuir ao
sobrenatural o que seria meramente fenômeno magnético. Segundo se conta, ao
desmerecer a possibilidade de atuação de forças demoníacas, Mesmer favoreceu a
decretação, pelo papa, da censura sobre suas obras.

Seja como for, o que interessa destacar é que a proposta terapêutica formulada pelo
médico austríaco foi um sucesso. Diversas curas incontestes se relataram e a fama do
médico cresceu admiravelmente. Esse fato despertou a curiosidade e uns e a inveja de
outros. Mesmer enfrentou reações contrárias na Austria, onde iniciara os trabalhos de
cura e mudou-se para Paris. Nesta cidade a popularidade da cura magnética foi
acentuada, levando o médico a criar forma de atender aos pacientes em grupos.

Em síntese, a teoria de Mesmer, conforme foi dito, baseava-se na existência do fluido
universal, que seria parte constituinte de todas as coisas existentes no universo. Nos
seres vivos, notadamente no homem, a perfeita saúde devia-se ao equilíbrio harmonioso
desse fluido. Quando isso não acontecia, instalava-se alguma doença. Era óbvio,
portanto, que para voltar ao estado saudável, necessário se fazia rearmonizar a corrente
fluídica. Inicialmente, Mesmer trabalhou com imãs, acreditando que esse material
conduziria melhor o fluido universal. Depois, concluiu que algumas pessoas
privilegiadas, que chamou magnetizadores, teria o dom de obter os resultados almejados
e dispensou o uso de instrumentos auxiliares. A doutrina proposta por Mesmer foi
explanada em 27 aforismos, publicados em 1779. Vejamos alguns deles:

1. Existe uma influência mútua entre os corpos celestes, a Terra e os corpos
animados.

2. O meio desta influência é um fluido universalmente distribuído e contínuo, sem
nenhum vazio e de natureza incomparavelmente sutil, e por cuja natureza é capaz
de receber, propagar e transmitir todas as impressões de movimento.

3. Esta ação recíproca é subordinada a leis mecânicas que são desconhecidas até
agora.

4. Esta ação resulta em efeitos alternados que podem ser considerados como fluxo
e refluxo.
5. Este fluxo e refluxo é mais um menos geral, mais ou menos particular, mais ou
menos composto, de acordo com a natureza das causas que o determinam.

6. É por esta operação (a mais universal daquelas apresentadas pela Natureza) que
as proporções de atividade são estabelecidas entre os corpos celestes, a terra e as
partes eu os compõem.

7. As propriedades da Matéria e dos Corpos Orgânicos dependem desta operação.

8. O corpo animal experimenta os efeitos alternativos desse agente, e é
imediatamente afetado pela penetração da substância nos nervos.

9. É particularmente manifesto no corpo humano que o agente tem propriedades
similares às do imã; pólos diferentes e opostos podem igualmente ser distinguidos e
podem ser mudados, comunicados, anulados e reforçados; até mesmo o fenômeno
de oscilação é observado.

10. Esta propriedade do corpo animal, que o deixa sob a influência dos corpos
celestes e das ações recíprocas daqueles que o rodeiam, como demonstrado pela
sua analogia com o imã, levou-me a denominá-la MAGNETISMO ANIMAL.(...)

23. Se verá a partir dos efeitos, de acordo com as regras práticas que se há de
documentar, que este princípio pode curar desordens nervosas diretamente e
outras desordens indiretamente.

24. Com essa ajuda, orienta-se o médico no uso de medicamentos; ele aperfeiçoa
sua ação, provoca e controla as crises benéficas e tal maneira que as sujeita.

25. Dando a conhecer meu método, demonstrarei, por meio de uma nova teoria das
enfermidades, a utilidade universal do princípio que aplico a elas.

26. Com este conhecimento, o médico determinará confiantemente a origem, a
natureza e o progresso das doenças, mesmo as mais complexas. Evitará que
ganhem força e terá sucesso em curá-las, sem jamais expor o paciente a efeitos
perigosos ou conseqüências desastrosas, independentemente da idade, do
temperamente e sexo. Até mulheres em trabalho de parto gozarão desses
benefícios.

27. Conclusão, esta doutrina permitirá ao médico determinar o estado de saúde de
cada indivíduo e salvaguardá-lo de males a que estaria sujeito. A arte curativa
alcançará, assim, seu estádio final de perfeição.
Fontes:
http://www.levir.com.br/inst-022.php
http://web.archive.org/web/20040710162753/http://www.unbf.ca/psychology/likely/readings/mesmer.htm

Mesmer tinha grande estima pela teoria que elaborou. Para ele, o caminho que
conduziria a medicina à excelência estava descortinado com o advento do magnetismo
animal. Lamentavelmente, passados mais de duzentos anos de promulgada a hipótese do
fluido universal, este permanece tão sutil e evasivo às investigações quanto na época de
Mesmer. O médico afirmava que as leis que regiam o fluido universal eram, até então,
desconhecidas. Tal afirmação pressupunha que, pelo trabalho contínuo de pesquisa,
essas leis se tornariam futuramente conhecidas. Contudo, a existência de tais leis
permanece nebulosamente hipotética desde que foi elaborada.

Boa parte dos pacientes de Mesmer, durante a aplicação do magnetismo, entrava em
convulsão. Esse efeito era desejado e incentivado, pois, segundo o pensamento do
médico, a crise acelerava a cura. Contudo, outros não convulsionavam, em vez disso,
apresentavam-se como que sonolentos. Mesmer registrou essa reação, para ele diversa
da esperada, mas entendeu que a lassidão constituía falha do tratamento, visto que era
necessário haver crise para que a doença fosse extirpada. Tempos mais tarde, um
discípulo de Mesmer, atuando por conta própria, passou a dar valor ao efeito
sonambúlico das magnetizações. Podemos dizer que Mesmer roçou a ponta do que seria
futuramente a prática hipnótica, mas não lhe deu a devida atenção.

Franz Mesmer é figura polêmica até os dias de hoje, alguns o qualificam como santo,
outros, charlatão. Buscando um meio-termo, entendemos que foi um homem de seu
tempo. Tinha uma teoria e buscou pô-la em prática, intentando demonstrar a veracidade
do que postulava. Foi um pioneiro e, como tal, cometeu erros e acertos.

Na atualidade, a teoria magnética é defendida em setores mais ligados à religiosidade,
que à ciência. A hipótese do fluido universal foi perdendo força, uma vez que nenhum
experimento de cunho científico logrou confirmá-la. As teorias modernas que procuram
explicar o processo hipnótico – que é o sucedâneo do magnetismo – dispensam, por
desnecessária, a conjectura de uma força universal, pretensamente responsável pela
ocorrência do fenômeno.

                                  As Experiências

Até o capítulo 5 de “A Memória e o Tempo” Hermínio Miranda discorre sobre o
método, a teoria e considerações complementares, que embasam a prática
regressionista, conforme as concepções por ele defendidas. No capítulo 6 são
apresentadas experiências objetivas de regressão.

Ao falar das experiências que administrou, Hermínio tem o cuidado de esclarecer que o
“esquecimento” de outras vidas é a regra. Lembranças somente as que estivessem
“autorizadas”. Autorizadas por quem? Caberia a pergunta. A resposta não é dada
diretamente, podemos supor que seriam entidades espirituais, das quais se diz que
acompanham atentamente o trabalho de regressão, as responsáveis por controlar o que
pode ser lembrado ou não. Em outros trechos acena-se com a hipótese de que algum
mecanismo interno, de origem desconhecida, libere o permitido e bloqueie o proibido.
Leiamos alguns trechos do livro:

“Este livro começou com uma experiência de regressão na qual tivemos o relato de
um processo de iniciação no antigo Egito – [a regredida afirmou ter sido sacerdotisa
no tempo de Ramsés II e narra o processo de iniciação de um sacerdote, cuja fase final
consistia em passar a noite numa tumba, onde conheceria suas vidas passadas]. Como
o procedimento normal do mecanismo da memória é esquecer para reduzir a faixa
de atrito do ser com a sua realidade íntima... por que então, provocar lembranças
que aparentemente estariam mais seguras nos porões da memória, no que
chamamos de arquivo morto?
De fato, a regra geral é essa, sempre respeitada pelos iniciados que manipulavam
tais conhecimentos e operavam os delicados controles psíquicos do ser encarnado.
Note-se, porém, que a finalidade da pesquisa na memória integral não se propunha
à mera satisfação de curiosidade inconseqüente ou malsã. (...)

Isso explica por que a regressão da memória era a última etapa no vestibular da
iniciação. Somente aquele que houvesse demonstrado, sem a menor hesitação ou
dúvida, que reunia em si as condições mínimas para o aprendizado, era então
submetido às técnicas adequadas, a fim de ‘saber tudo o que já fora’. (...)

O conhecimento das vidas anteriores é, pois, um privilégio, por certo, mas uma
responsabilidade muito grave e não deve ser buscado senão por motivos relevantes,
por operadores competentes e equilibrados, por pessoas que tenham demonstrado
inequivocamente as condições mínimas exigidas para suportar os impactos que
usualmente causam certas revelações. Do contrário, poderão sobrevir crises
emocionais de vulto, capazes de desencadear processos de desequilíbrio mental e
desajustes graves de personalidade. Aliás, não poucas perturbações emocionais são
provocadas por interferências de memórias anteriores no fluxo das vivências
atuais. Disfunções psíquicas de certa gravidade podem resultar de regressões
espontâneas a memórias de outras vidas, nas quais o doente se imagina, por
exemplo, um general de Napoleão ou uma condessa medieval. Seus gestos e sua
postura externa podem, ao olhar desatento e cruel, parecer cômicos, mas e se ele
for mesmo um general napoleônico reencarnado ou ela uma condessa poderosa
que voltou para resgatar?” (A Memória e o Tempo. P. 59,60)

“Aliás, essa foi sempre uma das tônicas do nosso trabalho: nada forçar, para não
provocar roturas, cujas conseqüências poderiam ser imprevisíveis. Se a regra geral
em questões atinentes à memória é esquecer; é porque há razões bastante sólidas
para isso, como já discutimos alhures, neste livro. Já em outros casos, revelações
dessa natureza são recebidas com serenidade e até contribuem para explicar certas
incongruências íntimas, mediante nova arrumação de conceitos.” (A Memória e o
Tempo. P. 255)

Hermínio exibe prudência e seriedade na prática regressionista. No entanto, uma
questão preocupante daqui se depreende: supondo-se que tenha sido descoberto método
que permita vasculhar a mente, em busca de memórias de outras vidas, quem
controlará o uso da técnica, visto que está disponível para quem queira usá-la? A idéia
de que existam entes espirituais monitorando o processo, pode ser satisfatória para
alguns, porém, muitos regressionistas induzem recordações em seus pacientes, sem
qualquer cogitações relativas a tais entidades, ou referências a restrições espirituais.

Se Hermínio Miranda e outros são criteriosos ao induzir regressões, pode-se supor que
existam os que tão-somente a pratiquem por curiosidade ou por motivos menos nobres.
Ninguém poderá impedir que essa utilização, digamos, espúria, seja buscada. Alegar
que a prática desautorizada acarreta prejuízos é muito vago, uma vez que os
regressionistas que não seguem os ditames referidos por Hermínio também afirmam
obter resultado positivos.

                             Lembrar ou não lembrar?
Esta questão permanece polêmica, principalmente, no meio espírita. Mesmo sem
adentrarmos, por enquanto, na questão de serem ou não as lembranças autênticas
recordações, existe bastante discussão sobre a liberdade de lembrar.

Quem levar ao pé da letra as recomendações de Kardec, fatalmente terá de afastar-se da
prática regressionista. O codificador foi taxativo ao declarar que as lembranças estão
vedadas, sendo possível conhecê-las somente em circunstâncias muito especiais e, quase
sempre, de forma espontânea.

Na época de Kardec, uma das objeções mais incisivas à doutrina da reencarnação era a
não-reminiscência das vidas pretéritas. Os oposicionistas argumentavam: se vivemos
outras vidas, então deveríamos recordá-las. Esta objeção não foi plenamente resolvida,
mas Kardec elaborou esclarecimento logicamente aceitável, afirmava ele: se as
lembranças fossem franqueadas, problemas muito graves e de toda a espécie
surgiriam, oriundos dessas recordações.

Em termos objetivos, a proposição de Kardec é coerente. Imaginemos a esposa
descobrindo que o marido é reencarnação de quem a assassinara em outra existência? E
a mãe informada que o filho a estuprara noutra vida? E o pai sabendo que filha fora
esposa anteriormente? Enfim, toda a sorte de encrencas afloraria na hipótese de haver
liberação geral das lembranças. Assim, o codificador fechou as portas às recordações, só
admitidas em situações especialíssimas.

“Esquecimento do passado

11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa
aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar
um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria
gravíssimos inconvenientes. (...) Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável
perturbação nas relações sociais. Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo
meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a
fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara,
quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo... Para nos melhorarmos,
outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da
consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial. Ao
nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência,
tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê
punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a
corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção,
porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais
conservará.

Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida
espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto,
do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre
durante o sono, a qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que
tenhamos feito na véspera e nos dias precedentes.
E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado.
Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra,
mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o
Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre
com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida
de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e
prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de
emancipação da alma, se os sabe aproveitar.” (O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO)
___________________________
“(...) Gravíssimos inconvenientes teria o nos lembrarmos das nossas
individualidades anteriores. (...)

395. Podemos ter algumas revelações a respeito de nossas vidas anteriores?

Nem sempre. Contudo, muitos sabem o que foram e o que faziam. Se se lhes
permitisse dizê-lo abertamente, extraordinárias revelações fariam sobre o passado.
396. Algumas pessoas julgam ter vaga recordação de um passado desconhecido,
que se lhes apresenta como a imagem fugitiva de um sonho, que em vão se tenta
reter. Não há nisso simples ilusão?

Algumas vezes, é uma impressão real; mas também, freqüentemente, não passa de
mera ilusão, contra a qual precisa o homem por-se em guarda, porquanto pode ser
efeito de superexcitada imaginação.” (O LIVRO DOS ESPÍRITOS)
 ___________________________
“290. Perguntas sobre as existências passadas e futuras

15ª Podem os Espíritos dar-nos a conhecer as nossas existências passadas?

Deus algumas vezes permite que elas vos sejam reveladas, conforme o objetivo. Se
for para vossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e, nesse caso,
feitas quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Ele,
porém, não o permite nunca para satisfação de vã curiosidade.

a) Por que é que alguns Espíritos nunca se recusam a fazer esta espécie de
revelações?

São Espíritos brincalhões, que se divertem à vossa custa. Em geral, deveis
considerar falsas, ou, pelo menos, suspeitas, todas as revelações desta natureza que
não tenham um fim eminentemente sério e útil.

b) Assim como não podemos conhecer a nossa individualidade anterior, segue-se
que também nada podemos saber do gênero de existência que tivemos, da posição
social que ocupamos, das virtudes e dos defeitos que em nós predominaram?

“Não, isso pode ser revelado, porque dessas revelações podeis tirar proveito para
vos melhorardes. Aliás, estudando o vosso presente, podeis vós mesmos deduzir o
vosso passado.” (O LIVRO DOS MÉDIUNS)

Outros autores também se pronunciam contrários às lembranças, um exemplo:
“Se reencarnamos para ressarcir dívidas, não seria interessante guardar a
lembrança delas? Não haveria maior facilidade em aceitar sofrimentos e
dissabores que ensejam o resgate?

O objetivo primordial da existência humana é a evolução. O resgate de dívidas é
apenas parte do processo. Quanto ao esquecimento, funciona em nosso benefício.
Seria impossível incorporar, sem perturbador embaralhamento, o rico, o pobre, o
negro, o índio, o branco, o amarelo, o analfabeto, o letrado e tudo mais que já
fomos, em múltiplas encarnações. É ilustrativo que muita gente vai parar em
hospitais psiquiátricos simplesmente por sofrer a pressão de pálidas lembranças,
envolvendo acontecimentos pretéritos. (Reencarnação: Tudo o que você precisa Saber –
Richard Simonetti)

Curiosamente, Kardec afirma que as lembranças “em todas as circunstâncias,
acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais”; no entanto, para Hermínio,
o esquecimento tem a finalidade de “reduzir a faixa de atrito do ser com a sua
realidade íntima...”. Parece-nos que são visões distintas e, talvez, difíceis de conciliar.

  ALGUNS PONTOS CONTROVERSOS NO PENSAMENTO DE HERMÍNIO
                        MIRANDA

A fim de não nos alongarmos nesta exposição inicial, uma vez que o objetivo principal
é a avaliação da experiência regressionista de Luciano dos Anjos, apresentaremos a lista
de alguns dos pontos controvertidos no discurso de Hermínio. Em seguida iniciaremos o
trabalho principal, que é a avaliação da suposta reencarnação de Luciano.

1. O conceito de memória defendido por Hermínio Miranda não está de acordo com as
boas pesquisas sobre o assunto. Para ele, a memória é “extracerebral”, uma vez que
estaria localizada não na estrutura do cérebro, sim no perispírito. Acontece que as
investigações atuais sobre essa questão, encaminham-se mais e mais no sentido de
comprovar taxativamente que a memória é resultado de complexas interações das
conexões neuronais, ou seja, fenômeno indubitavelmente cerebral. Na página 40 de “A
Memória e o Tempo” é apresentada a forma esquemática do que Hermínio entende seja
o funcionamento da memória. Ele trabalha com a concepção freudiana de inconsciente,
a qual amplia ao seu arbítrio, para que agasalhe a suposição de que memórias de vidas
passadas estejam armazenadas nesse hipotético segmento da mente. A discussão sobre o
pensamento de Hermínio a esse respeito ensejaria trabalho específico. De momento,
deixamos registrado que o que ele entende por memória não encontra respaldo seja na
psicologia, seja na neurologia.

2. A idéia de instinto apresentada por Hermínio carece de reparos. O escritor segue a
definição apresentada em “A Gênese”: “o instinto é a força oculta que solicita os seres
orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles” e
acrescenta, “todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação,
deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é”. (A Memória e o Tempo, p. 42).
Essas declarações contêm vários equívocos. Primeiro, o instinto não tem nada de “força
oculta”, instinto é um impulso automatizado, que varia de espécie para espécie, cuja
principal função é preservar o espécime contra ameaças inesperadas. Também são
instintivos os incitamentos biológicos que induzem à perpetuação da espécie. Outra
questão é que as declarações, tanto de Kardec, quanto de Hermínio, classificaria como
instinto coisas que não o são, por exemplo, o hábito é um ato maquinal, mas não é
instinto.

3. A possibilidade de conhecer o futuro. Logo ao início do livro “A Memória e o
Tempo”, Hermínio defende que seria possível “recordar” o futuro, do mesmo modo que
é possível rememorar o passado. Na página 26, encontramos: “Só nos resta uma
inevitável conclusão, por mais que ela se choque com os nossos conceitos e
preconceitos: se podemos ver hoje algo que acontece mesmo daqui a dois dias, seis
meses ou trezentos anos, então é porque esses eventos já existem hoje, lá no
futuro...”. Acontece que essa convicção de Hermínio Miranda, além das discussões que
pode ensejar, tanto no campo filosófico, quanto científico, entra em conflito com o que
declarou Kardec a respeito:

“Alguma coisa nos pode ser revelada sobre as nossas existências futuras?”.

“Não; tudo o que a tal respeito vos disserem alguns Espíritos não passará de
gracejo e isso se compreende: a vossa existência futura não pode ser de antemão
determinada, pois que será conforme a preparardes pelo vosso proceder na Terra
e pelas resoluções que tomardes quando fordes Espíritos. Quanto menos tiverdes
que expiar tanto mais ditosa será ela. Saber, porém, onde e como transcorrerá essa
existência, repetimo-lo, é impossível(...)”

7ª Podem os Espíritos dar-nos a conhecer o futuro?

Se o homem conhecesse o futuro, descuidar-se-ia do presente. É esse ainda um
ponto sobre o qual insistis sempre, no desejo de obter uma resposta precisa.
Grande erro há nisso, porquanto a manifestação dos Espíritos não é um meio de
adivinhação. Se fizerdes questão absoluta de uma resposta, recebê-la-eis de um
Espírito doidivanas, temo-lo dito a todo momento.

8ª Não é certo, entretanto, que, às vezes, alguns acontecimentos futuros são
anunciados espontaneamente e com verdade pelos Espíritos?

Pode dar-se que o Espírito preveja coisas que julgue conveniente revelar, ou que
ele tem por missão tornar conhecidas; porém, nesse terreno, ainda são mais de
temer os Espíritos enganadores, que se divertem em fazer previsões. Só o conjunto
das circunstâncias permite se verifique o grau de confiança que elas merecem.

9ª De que gênero são as previsões de que mais se deve desconfiar?

Todas as que não tiverem um fim de utilidade geral. As predições pessoais podem
quase sempre ser consideradas apócrifas. (O LIVRO DOS MÉDIUNS)

4. Hermínio Miranda confunde memória com inteligência. Na página 47, lemos: “E,
logicamente, quanto maior o volume de dados no banco de memória, mais vasta e
brilhante a inteligência”, e, na página 45: “Creio, pois, que se pode admitir,
tranqüilamente, que inteligência é informação armazenada, ou, examinando-a sob
outro aspecto, a medida do seu vigor é a amplitude da memória integral... Assim
como Platão ampliou o conceito de aprendizado, considerando-o função da
recordação, a doutrina dos espíritos amplia o conceito bergsoniano da função da
inteligência, ou seja da memória”. A memória, sem dúvida, é suporte da inteligência,
contudo uma não se confunde com a outra. Há casos de pessoas dotadas de excelente
memória e de parca inteligência. Um conceito tradicional sobre a inteligência estabelece
que seja a interação de três aspectos: memória, imaginação e juízo, portanto, a memória,
isoladamente não pode ser tomada pela inteligência.

No que tange à Platão, quando o filósofo afirmou que “aprender é recordar”, não estava
ampliando o conceito de aprendizado, conforme declara Hermínio, sim atrelando-o a
concepção reducionista. Na fase madura de seu pensamento Platão substituiu o
“aprender é recordar” pela “ciência dialética”. Agora o filósofo advogava que aprender
não mais significaria recordação do que fora visto, sim, o trabalho de esmiuçar as
hipóteses, desbastando-as daquilo que teriam de falso, ou desnecessário, num processo
contínuo, até que se atingisse o ponto de certeza, ou pelo menos, de convicção mais
firme que a existente ao início do debate.

 Fiquemos por ora com as presentes objeções. Nos comentários seguintes faremos
referências a idéias de Hermínio que nos pareçam passíveis de crítica.

             LUCIANO DOS ANJOS ou CAMILLE DESMOULINS?
                         Considerações iniciais

Na primeira parte da obra “Eu Sou Camille Desmoulins” encontra-se a narrativa da
experiência, acompanhadas de considerações de Hermínio Miranda. A partir da página
301 estão as explanações de Luciano dos Anjos sobre o que vivenciou. (Trabalhamos
com a 1ª edição do livro, em outras impressões a numeração de páginas poderá ser
diferente)

 Do que nos foi dado conhecer da produção escrita de Hermínio Miranda, concluímos
que o autor aprecia defender opiniões controversas. Logo ao início do livro ele afirma:
(lembramos que os destaques são de nossa autoria)

“...o que temos nos compêndios de história...é uma espécie de imitação da vida,
uma interpretação pessoal dos fatos e não os fatos em si mesmos. Vemos múmias
humanas, figuras empalhadas e cobertas pela venerável poeira histórica, e ficamos
a nos perguntar como seriam realmente aquelas pessoas...Em suma, vemos cópias
de cópias de retratos e não temos meios pra checar os originais, conferir e
questionar, avaliar para concluir. Ou temos?

A resposta é sim, temos.

A literatura espírita vem apresentando, pelo menos no decorrer do último século,
respeitável acervo de depoimentos de personalidades históricas, basicamente por
via mediúnica.(...)

Tanto faz a gente crer como não, o fato é que muitos espíritos têm tido a
oportunidade de trazer depoimentos póstumos da maior importância. São
inúmeros os exemplos e podemos tomar qualquer um deles entre os de indubitável
credibilidade, como o famoso caso de Patience Worth... A Sra. Henry H. Rogers,
médium americana...manteve, durante vinte e cinco anos, equilibrado e proveitoso
intercâmbio com uma entidade desencarnada que se assinava Patience Worth. Este
espírito, que se identificava com uma jovem puritana que vivera no século XVI,
escreveu através da Sra. Curran obra literária de inquestionável valor...

O relacionamento Sra. Curran/Patience Worth manteve-se como verdadeiro
mistério para certos cientistas e pesquisadores que estudaram o fenômeno.
Contudo, para os que se acham informados da realidade espiritual, e a aceitam, a
verdade é simples e clara, como sempre: um espírito desencarnado que veio trazer
a contribuição do seu depoimento pessoal. (...)

É possível, portanto, obter dos próprios espíritos depoimentos de suas experiências
pessoais e retificar a História...” (Eu Sou Camille Desmoulins – p. 11,12,13)

Admiramos a firmeza com que Hermínio defende tal idéia, entretanto a suposição de
que a mediunidade seja capaz de “corrigir” a pesquisa histórica não se confirma. Ainda
que alguns médiuns, aquinhoados com talentos incomuns, tragam informações de boa
qualidade, as quais atribuem à comunicação interespiritual, estas não substituem,
tampouco complementam, a investigação convencional. Se o que Hermínio afirma fosse
fato, as questões históricas de difícil elucidação estariam plenamente esclarecidas. Cabe
indagar, qual a contribuição da mediunidade no conhecimento da origem e da cultura de
povos antigos, de cuja existência se encontraram parcos indícios? Investigadores se
esforçam por conhecer civilizações que podem ter sido brilhantes em realizações, das
quais pouca coisa restou que possibilite averiguação adequada. Trabalho árduo, que
exige dedicação, grande dose de energia e, muitas vezes, miúdos resultados.
Lamentavelmente não aparece qualquer mensagem mediúnica que auxilie os sábios nas
penosas tarefas a que se dedicam. E o que dizer das línguas faladas por povos passados,
das quais existem boa quantidade de escritos, mas que não puderam ser traduzidas, por
mais que lingüistas se empenhem? Por que os espíritos não dão uma mãozinha? A
mediunidade poderia prestar grande apoio não só à História, também a outras ciências,
se possuísse a imaginada capacidade revelativa que lhe atribui Hermínio Miranda.
Durante muitos anos, eruditos de diversas nacionalidades se desgastaram na decifração
da escrita egípcia antiga, sempre com resultados frustrantes. Não fosse o sacrifício e o
grande talento de Champollion em dominar línguas antigas, o qual empenhou-se por
inteiro na desafiadora missão, provavelmente, até hoje estaríamos tentando imaginar o
que os egípcios haviam registrado nos hieroglifos. A mediunidade se manteve
completamente ausente dessa empreitada.

Consideremos o médium tido como o melhor do Brasil, talvez do mundo. Chico Xavier
psicografou centenas de livros, a maioria narrativas romanceadas e poéticas, mas,
alguns trazem abordagens históricas, outros discorrem sobre temas científicos. Pois
nessas produções não se encontram conteúdos que enriqueçam o conhecimento nos
campos desses saberes. É indiscutível que Chico possuía singular talento para a escrita,
sendo que o aspecto mais forte de sua criatividade seria a poesia. Nas obras de cunho
científico a qualidade da produção cai a olhos vistos. Vejamos, como exemplo, o livro
“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, onde o suposto espírito de Humberto
Campos apresenta piegas narrativa da história do Brasil. Provavelmente, em vida
Humberto Campos jamais assinaria produção tão ingênua, porém, no outro lado se viu
constrangido a emprestar seu nome a tal trabalho. Em linhas gerais, “Coração do
Mundo” constitui a visão Xicochaveriana do que teria sido a caminhada histórica de
nosso país, a qual teria sido realizada por meio de eventos coloridos, realizações
dulcíssimas, plena harmonia de propósitos, planos celestiais infalíveis, com direito a
hostes angelicas passeando pelo cosmo, sucessão de luzes, sorrisos, alegrias infindas...
tudo no intuito de defender a tese de que a nação fora vocacionada pelo Alto para
propagar a doutrina espiritista. Não se vê nas linhas do livro análise madura dos
acontecimentos passados. O melhor médium do mundo, apenas produziu um relato doce
do processo histórico nacional; em termos de cooperação efetiva à compreensão dos
eventos, nada...

A obra atribuída a Patience Worth − o espírito que supostamente visitava Pearl Curran
−, surpreende pela riqueza e qualidade do material originado. Pode-se dizer que é um
dos pouquíssimos casos em que o resultado seja rico o suficiente para ensejar pesquisas
de maior vulto. Se fosse inconteste ocorrência mediúnica, dada as singularidades e
qualidade dos escritos, seria circunstância única, não comparável às multiplas
mensagens que pululuam pelo mundo, todas, quase sem exceção, aquém daquilo que
seria esperado de contatos espirituais. Como não conhecemos estudo aprofundado a
respeito de Pearl Curran, nada de mais significativo podemos dizer. Seja como for, a
pessoa de Patience Worth jamais foi identificada, o que leva à suspeita de que tenha
sido criação da própria mente de Curran.

Pelo sim, pelo não, o campo está aberto: os espíritos podem ainda se redimir das
inumeráveis comunicações pobres de conteúdo e enviar elaborações que façam jus à
procedência. Isso, além de prover de fortes argumentos a tese da comunicação entre
vivos e mortos, também ajudaria no trabalho de cientistas e pesquisadores. Esperamos
que aconteça...

                              LUCIANO DOS ANJOS

Ao início deste estudo declaramos que votamos tanto a Hermínio Miranda, quanto a
Luciano dos Anjos, o maior respeito. Ainda que discordemos das conclusões que
apresentam, relativamente às regressões, isso em nada modifica o fato de os termos em
alta estima, visto que são pessoas que conduzem com muita seriedade os trabalhos aos
quais se dedicam.

No livro, Luciano dos Anjos se encarrega de descrever as qualidades que o habilitaram
como figura ideal para uma regressão coalhada de detalhes curiosos. No início da parte
que lhe coube escrever Luciano traça sua trajetória profissional, narra peripécias
variadas, algumas jocosas, outras arriscadas, redigidas em estilo agradável, temperadas
com fino humor e entremeadas com doses de vaidade. Em meio ao relato, identifica
reencarnações, não só dele próprio, como de várias pessoas conhecidas. Nessas
apreciações, Luciano deixa claro que, mesmo antes do encontro com Hermínio, trazia
consigo a convicção de já ter vivido na França, conforme ilustram os trechos a seguir:

“Sempre acreditei, sendo espírita, que houvesse vivido na França, tanto pelo amor
que lhe sentia, como, mais tarde, por uma oblíqua insinuação do querido médium
Francisco Cândido Xavier. (...)

Quando, cerca de dois anos depois, eu mesmo estive com o Chico aqui no Rio e em
São Paulo, durante a célebre campanha jornalística em defesa das memoráveis
materializações de Uberaba, através da médium Otília Diogo, discretamente tentei
obter dele o nome da personagem. Ele apenas confirmou, sorrindo, que estive lá −
[na França], naquela época...
...o confrade Ismael Nunes Tavares...me trouxera convite da D. Chiquita...espírita
encantadora, médium de muitos recursos... vi-me pela primeira vez frente com D.
Chiquita... ela me olhava espantada, denotando violentíssimo impacto. (...)

− Eu conheço o senhor. Estivemos juntos, na época da Revolução Francesa. Assim
que o senhor entrou eu o vi, senti isso... (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 341, 342)

 Diante desse quadro, uma coisa é patente: Luciano possuía a bagagem necessária para
revivenciar existência na França, no período da Revolução. A dúvida, neste ponto, é se
a idéia de que fora Camille Desmoulins, mesmo antes de iniciar as regressões com
Hermínio Miranda, já estaria em sua mente, ainda que de forma semi-consciente.
Deixemos que o próprio Luciano diga o que pensa sobre isso:

“Jamais, jamais me passou pela cabeça ser Camille Desmoulins. Mas,
curiosamente, eu sentia inexplicável sabor (o termo é esse mesmo: sabor) nas
raríssimas vezes em que pronunciava esse nome. Afora isso, pouco me preocupava,
como já disse, com a personalidade passada que eu tinha vivido. Nunca parei para
pensar muito nisso.” (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 369)

 Sem querer pôr em xeque o testemunho de Luciano, é possível supor que, ao menos no
subconsciente, sua ligação com Desmoulins estivesse rascunhada. Ele declara que não
pensava muito no assunto, ou seja, não manifestava maior interesse em descobrir qual
teria sido sua personalidade passada, entretanto, a própria narrativa que nos apresenta
mostra que havia nele viva curiosidade por identificar tal personagem. No trecho que
citamos anteriormente, vimos que pedira a Chico Xavier que o informasse, entretanto, o
médium fugiu ao assunto. Mais tarde, D. Chiquita revela tê-lo conhecido durante a
Revolução. Luciano também relata encontro que teve com o médium Homero Lopes
Fogaça, o qual garantiu que o jornalista vivera na corte francesa e autorizara a “morte de
algumas pessoas”. E Luciano arremata: “Tudo isso me intrigou sobremaneira”. Ora,
como jornalista − por vocação inquiridor e curioso −, era de esperar que partisse para a
pesquisa meticulosa de sua identidade pregressa. Luciano dos Anjos, hábil
reconhecedor de personalidades pretéritas – mais adiante falaremos desse talento do
jornalista −, que descobriu a identidade de André Luiz (conforme declara com muita
firmeza), ao se ver perante a notícia de que fora figura ativa na época da Revolução,
quedou-se despreocupado em descobrir quem seria esse alguém... assertiva que nos soa
dúbia, por isso, acreditamos ser factível desconfiar que estivesse presente na mente do
homem de imprensa, ainda que de forma não clarificada, sua identificação com Camille
Desmoulins.

Não vamos, porém, exaurir a dúvida a ponto de desqualificar a declaração de Luciano
de que não sabia, anteriormente ao encontro com Hermínio, de sua suposta identidade
pregressa. Vamos lhe conceder voto de confiança sobre o que declarou, ou seja, que até
realizar a experiência com Hermínio não sabia ter sido Camille Desmoulins.

O que nos interessa deixar claro, por ora, é que Luciano dos Anjos estava previamente
preparado, e bem preparado, para lucubrar criativa recordação de vivência no período da
Revolução Francesa.
É importante destacar que o vivenciado pelo jornalista pode ser qualificado como
“regressão” de boa qualidade. Mesmo se comparadas com as melhores de que temos
conhecimento. Se a cotejássemos com o “caso Bridey Murphy” diríamos que as
lembranças de Luciano “dão de dez a zero” nas obtidas por Virginia Tighe, a
protagonista do caso. Apesar de Bridey Murphy ter obtido repercussão muito mais
ampla que o caso Camille Desmoulins, em tudo é inferior a este.

Morey Bernstein, que conduziu as sessões hipnóticas com Virgínia, antes desse feito,
costumava praticar a hipnose para divertir-se com os amigos, como atividade efetiva
dedicava-se ao comércio na cidade de Pueblo, nos Estados Unidos. Gradativamente,
porém, conforme relata, passou a buscar mais conhecimentos. Chegou a entrevistar
Joseph Rhine e acompanhar o trabalho que o pesquisador conduzia, na Universidade de
Duke. Rhine lhe passou diversas sugestões, as quais impressionaram o curioso homem
de comércio. No entanto, parece que o professor não mitigou o anseio místico que
Bernstein trazia consigo e que o fez enveredar por outro rumo, até topar com a herança
ocultista de Edgar Cayce.

Cayce, por quem Hermínio demonstra grande admiração − dele faz diversas referências
alvissareiras em “A Memória e o Tempo” −, era um sujeito meio esquisito,
especializado em “leituras mediúnicas”, por meio das quais revelava vidas passadas, os
talentos e, ainda, falava da saúde dos interessados. Caía em sono dito profético e falava
muitas coisas. Após o despertamente garantia nada recordar do que dissera durante o
transe. Obviamente, alguém tinha de anotar as declarações do profeta. Uma das tônicas
dos vaticínios de Cayce, alcunhado “profeta dorminhoco”, era desvelar experiências de
seus consulentes na lendária Atlântida. Praticamente todos os que o buscavam recebiam
informes de existências passadas no continente perdido. Escusado dizer que o discurso
de Cayce não casava com o explanado por Platão sobre a Atlântida; tampouco
harmonizava com afirmações de outros alegados “conhecedores” dos imaginados
segredos da ilha-continente.

Na atualidade, os seguidores de Edgar Cayce dão prosseguimento ao seu trabalho,
realizando o que chamam “astrologia cármica”, que conjuga a configuração astral do
consulente na data do nascimento, com perfis anteriormente estabelecidos pelo profeta.
Essa “fórmula”, afirmam, mostra as potencialidades do interessado e lhe revelam
aspectos de existências anteriores. Por curiosidade, encomendei um desses estudos, ao
preço de R$48,00. Então, descobri muitas coisas a respeito de minhas “vidas passadas”
e também sobre minhas capacidades atuais.

Neste trabalho, “Cayce”, além de revelações genéricas, aplicáveis indistintamente a
quem quer que seja, tipo: “você demonstra ser um indivíduo dotado de mente elevada”,
assegurou que me darei bem como escritor, que tenho facilidades com idiomas e, devido
à minha existência mercuriana, possuo pendores para exercer cargos de autoridade. Diz,
ainda, que minha mente é clarividente, mas não informa se se trata de capacidade
paranormal, ou de clarividência no sentido comum de “ver com clareza”. Assevera que
tenho dificuldade em distinguir o que é fato e o que é ficção e muito mais.

O caso é que se eu possuísse tais qualidades (e algumas ele parece ter acertado, mas não
se animem, quem atira em todas as direções acaba atingindo alguma coisa), pois então,
se eu possuísse os dons que Cayce me atribuiu de pouco me valeria a “revelação”, uma
vez que as qualidade já seriam de meu conhecimento. Desse modo, o “trabalho” que
poderia ser reputado profícuo realizado pelo “profeta” é o que tange às vidas passadas.
Nesse segmento descobri coisas muito interessantes.

Conforme informou Cayce, vivi no planeta Mercúrio. Também estive no planeta
Saturno. Em minhas entrevidas morei em Urano. E, não poderia faltar, tive uma
existência como atlante, na qual fiquei em meio às disputas dos adeptos de Belial contra
os asseclas da Lei do Um. Apesar de não ter informação a respeito dessas agremiações,
suponho que deva considerar a experiência de alta relevância, para o quê não sei...

Pensam que acabou? Nada. Acompanhei Alexandre, o grande, em suas conquistas (logo
eu que detesto guerras). Também devo ter sido um viking (ele não deu certeza quanto a
isso), participei da construção da pirâmide inca, vivi no Egito antigo e provavelmente
habitei nas terras que hoje constituem a Austrália. Ufa, isso é que é excursão cármica!

Eram coisas semelhantes a essas que Edgar Cayce transmitia aos incautos que o
procuravam! E este foi um dos gurus que levou Morey Bernstein ao mundo mágico das
vidas passadas. Ressaltamos, Hermínio Miranda considera Cayce um grande médium...

Outro caso de regressão, este mais recente, cujo relato em livro vendeu milhões de
exemplares, é o apresentado por Brian Weiss, intitulado “Muitas Vidas, Muitos
Mestres”. Semelhantemente à Bridey Murphy, as regressões feitas por Brian Weiss em
Catherine, são em muito inferiores à aventura de Luciano dos Anjos.

Brian Weiss era conceituado psiquiatra quando vivenciou inusitada experiência com
paciente refratária ao tratamento convencional. Segundo assevera o médico, o encontro
com Catherine o levou a descobrir autêntica panacéia. O Dr. Brian foi muito criticado
por ter deixado de lado esmerada formação, a fim de abraçar teorias de fraca
fundamentação. Ele deve ter tido motivo$$ para isso, o que respeitamos. Mas, não se
pode deixar de constatar que no regressionismo Brian Weiss tem proferidos discursos
que beiram o ridículo. Conforme se depreende da afirmação seguinte:

“Avaliei o propósito terapêutico da exploração das vidas passadas de Catherine...
Há nesse campo algum poder curativo muito forte, um poder que parece muito
mais eficiente do que a terapia convencional ou a medicina moderna...” (Muitas
Vidas, Muitos Mestres)

Qualificar a terapia de vidas passadas como terapeuticamente superior à medicina
moderna só mesmo na cabeça de Brian Weiss: será que se o Dr. Brian sofresse um
infarto agudo do miocárdio buscaria socorro na TVP?

Podemos afirmar que a avaliação da experiência de Luciano dos Anjos significa aferir
um dentre os melhores relatos regressionistas. O aspecto mais destacado na história
dessa regressão é a proclamada fidedignidade dos relatos históricos, notadamente a
citação de detalhes da vida de Desmoulins, que nem mesmo estudiosos versados
conheciam. Desse assunto, Hermínio dá sua apreciação.

“Fui bom aluno de história nos bancos escolares e continuei a ler história por
prazer e curiosidade, nas quatro ou cinco línguas em que posso fazê-lo. No entanto,
naquela primeira sessão de 19 de maio de 1967, se alguém me perguntasse minutos
antes de seu início qual o nome completo de Camille Desmoulins, onde ele nascera
e em que dia, eu só poderia responder com um honesto e bem sonante Não sei...

...conferimos os informes principais logo após a primeira sessão-surpresa.
Realmente, tal como dissera Luciano, o homem chamava-se Lucie Simplice Benoist
Camille Desmoulins, nascera em Guise, no Aisne, em 2 de março de 1760.

...mesmo César Burnier, autoridade em história – especialmente a da Revolução −,
confessou posteriormente que também ele ignorava que Camille tivesse aqueles
outros nomes...”

(Curiosa a declaração de Hermínio, “nas quatro ou cinco línguas em que posso fazê-
lo”. Será que ele não sabe ao certo em quantas línguas é capaz de ler?)

Grande destaque é dado à capacidade mnemônica de Luciano, que recordava
minudências da vida de Desmoulins, as quais talvez a maioria dos estudiosos não
lembrasse, conforme sucedeu com a citação do nome completo de Camille Desmoulins.
O próprio César Burnier, apresentado como especialista na Revolução, confessou que
desconhecia o informe. Entretanto, saber do nome inteiro de Desmoulins não tem
grande significado. Certo que é de estranhar que Burnier não o soubesse, visto que se
apresentava como perito na matéria. Ainda que não recordasse, deveria ao menos saber
que Desmoulins tinha vários nomes. Podemos comparar isso ao caso de estudioso da
história do Brasil que não lembre todos os nomes pelos quais D. Pedro II foi registrado,
de qualquer modo, deverá saber que o imperador possuía outros epítetos além de Pedro
de Alcântara. (Para quem se interessar, a titulação completa do imperador era, Pedro de
Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula
Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga – ganha um doce quem o disser de um
fôlego só).

Modernamente, o conhecimento de minúcias das vidas de personagens históricos é tido
por secundário no aprendizado. Este tipo de informação, quando muito, demonstra a
capacidade memorativa do estudioso. O mais importante é a compreensão das
circunstâncias que envolvem os fatos históricos. Por exemplo, em vez de simplesmente
decorar as datas de nascimento e o nome completo de todos os personagens da
Revolução, o bom estudante esforçar-se-á por entender o porquê dos acontecimentos
que ocasionaram o levante e as decorrências deles advindas.

Entretanto, a dúvida permanece: a citação do nome completo de Desmoulins, bem como
da data de aniversário e o local de nascimento, podem ser consideradas relevantes para
classificar a lembrança como autêntica recordação de vida passada?

Para alguns, a resposta seria sim, e o raciocínio que ampara tal suposição pode ser dessa
forma: se uma pessoa, que não é especializada em história, de repente passa a revelar
muitos detalhes da vida de algum personagem do passado, sem tê-los pesquisado, e se,
além das lembranças, essa pessoa demonstrar emoções que mostram laços indeléveis
com a tal figura, então temos indícios seguros de que se trata de legítimo caso de
reencarnação!

Não é preciso refletir muito para perceber que esse pensamento, em termos de
investigação científica, é de frágil sustentabilidade. Ele pode ser válido para uso em
âmbito religioso, pois a fé acrescenta força aos pontos débeis da inferência, mas seria
muito difícil levar adiante pesquisa baseada em ditames científicos partindo de tal
proposta. Por isso, é preciso saber se além das boas lembranças existe algo mais a ser
oferecido.

Contudo, é necessário considerar que as lembranças de Luciano dos Anjos não se
restringiram a acertos relativos à idade, nome, endereço e questões correlatas. O
jornalista também se referiu, e corretamente, a assuntos específicos daquela época: sabia
o preço de jornais; como a moeda estava dividida (neste caso, sabia mais ou menos, pois
cometeu erros); o salário do trabalhador e outros. Como, então, explicar isso, sem
considerar a hipótese de legítima lembrança de vida passada? Pois é o que tentaremos
apreciar nas linhas seguintes. Começaremos a analisar as reuniões, que aconteceram
durante o ano de 1967, buscando nelas elementos que nos auxiliem a entender melhor o
caso.

         A EXPERIÊNCIA DE LUCIANO: NOSSA INTERPRETAÇÃO

A fim de facilitar o entendimento do que será exposto no decorrer deste estudo,
anteciparemos nosso entendimento do que foi a experiência regressionista do jornalista.
A presente apreciação, acreditamos, ficará demonstrada pelos comentários que seguirão.
De antemão, é importante que os leitores conheçam a linha argumentativa que
seguiremos.

Entre Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos foi firmado acordo tácito, no sentido de
garimparem personalidade da qual muitos detalhes historicamente corretos pudessem
ser revelados. Não dizemos que tenham articulado ostensivamente o plano, se assim
fosse não seria acordo tácito; afirmamos, sim, que ambos buscavam experiência cujos
resultados fossem superiores ao que normalmente se obtêm nos exercícios
regressionistas. Em outras palavras, nas cogitações de cada um estava patente que
poderiam explorar criativamente as perspectivas alvissareiras que o trabalho conjunto
prometia.

Explicando, ainda, de outro modo: Hermínio Miranda intuía que Luciano dos Anjos
fosse capaz de recuperar lembranças comparáveis às melhores já formuladas. Ambos
estavam igualmente motivados nessa busca, as perspectivas eram em tudo promissoras.
Por outro turno, Luciano precisava de alguém com quem pudesse atuar em plena
harmonia, a fim de descobrir o personagem que acreditava ter sido, de cuja identidade
talvez ainda não tivesse clara consciência. A convicção, presente em cada um, de que
haviam encontrado a “pessoa certa” deve ter tomado forma após o primeiro encontro
− apesar de não ser possível estabelecer com certeza quando de fato ocorreu esse
primeiro encontro, conforme veremos adiante.

Em suma, Luciano estava intimamente persuadido de ter vivido na França
revolucionária; Hermínio, certo de que era possível recuperar tais recordações. Em
momento algum, qualquer dos dois aventou a hipótese de que lembranças da espécie
pudessem ser explicadas por outros mecanismos, em outras palavras: partiu-se do
pressuposto de que lembrança de vidas passadas é fato. O intento da dupla, assim nos
parece, era obter demonstração cabal da reencarnação, pelo reconhecimento inequívoco
de um vivo de identidade que assumira em existência pregressa. Por isso, neste
comentário não abordaremos em profundidade as inconsistências da hipótese de que
existam legítimas lembranças de outras existências.

A suposição que ora apresentamos não significa que enquadremos como fraudulenta a
aventura de Luciano, nada disso, a aventura, cremos, foi real. A interpretação é que
pede reparo. Nosso intento é deixar antevisto ao leitor o panorama que a história
descortina. No decorrer dos comentários esse quadro ficará clarificado e devidamente
ilustrado com declarações dos próprios envolvidos constantes do livro.

As sessões conduzidas por Hermínio Miranda com Luciano foram em número de dez,
incluído aí o primeiro encontro, que pode ser reputado como reunião preliminar. As
estas se somam mais duas, havidas após o término dos trabalhos, as quais intitularemos
“especiais”. No total, foram doze encontros. Comentaremos os acontecimentos por nós
julgados de maior interesse.

       REUNIÃO PRIMEIRA e as dúvidas dela decorrentes
                     UMA NOITE DE MAIO DE 1967 (p. 19-22)

Deste encontro não há muito o que dizer. Teria sido a primeira vez que Luciano dos
Anjos se submetia a uma sessão de hipnose com Hermínio Miranda. O resultado deixou
Hermínio positivamente surpreso, pois o paciente se revelou facilmente hipnotizável.
Rapidamente, atingiu transe profundo, o que, na visão de Hermínio, favorece boas
regressões. Destacamos a expressão “na visão de Hermínio” em virtude de haver
regressionistas afirmando dispensar o transe hipnótico, estes tão-somente induziriam os
candidados ao estado de relaxamento, − o que poderia ser classificado de “pré-hipnose”
−, o que é por eles considerado mais adequado para que as lembranças fluam.

 O registro curioso desse evento aconteceu após o despertamento. Vejamos o que
sucedeu, de acordo com relato de Hermínio Miranda.

“Despertou faminto, devorou rapidamente uma generosa porção de bolo e pediu
mais, sem a mínima cerimônia. Em seguida levantou-se, deu um passo incerto e
desabou no tapete macio, como se não tivesse pernas. Na excitação do momento,
havíamos sido imprudentes e precipitados – era necessário esperar alguns minutos
em repouso até que seu espírito reassumisse totalmente os controles do corpo físico
antes de empreender qualquer movimentação maior. Assim como o
desprendimento se realiza por etapas, também a reintegração no corpo tem seu
ritmo próprio e suas fases bem definidas...” (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 21, 22)

Registrem, por favor, a seqüência dos eventos: 1º) despertou; 2º) devorou porção de
bolo; 3º) levantou-se; 4º) desmoronou no tapete. Mais adiante destacaremos
incompatibilidade entre esta narrativa e o que Luciano fala sobre tal encontro.

A explicação dada por Hermínio para o episódio está concorde com a idéia que defende,
de acoplamento e desacoplamento do perispírito como conseqüência do processo
hipnótico, e que nos parece concepção muito vaga para ser admitida; mesmo levando-se
em conta as parcas explicações dadas por Hermínio, a conjetura nos parece incerta.
Outros praticantes do hipnotismo não teorizam nada parecido com tal suposição. No
entanto, o motivo do tombo tem elucidação trivial e passa distante da suposição de que
a hipnose promova o desgrudamento do espírito: tendo em conta que Luciano atingiu o
relaxamento profundo e assim esteve por bom tempo, a musculatura ficou
completamente descontraída. É compreensível, portanto, que as pernas não reagissem
de pronto. Era necessário que aguardasse alguns minutos, não para que o “espírito
reassumisse o comando”, sim para que os músculos recuperassem a tonicidade. Por
que buscar explicação complicada, quando se pode esclarecer o caso de forma simples e
satisfatória?

Conforme foi dito, o livro “Eu Sou Camille Desmoulins” foi escrito conjuntamente por
Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos. Parece-nos claro que cada qual teve a
liberdade de narrar os fatos da forma como entendeu e sentiu. Isso, a princípio, mostra
que não houve “acerto”, para que contassem exatamente a mesma história. Em tese,
trata-se de aspecto positivo, pois demonstra que o trabalho foi executado de forma
espontânea, sem arranjos destinados a elidir pontos que jogassem dúvidas sobre a
interpretação que os autores apresentam. O que dissemos a respeito de um “acordo
tácito” entre Hermínio e Luciano, linhas atrás, não se aplica aqui.

Pois bem, Hermínio declara que a primeira experiência hipnótica a que Luciano se
submeteu, sob seu auspício, ocorreu nesta reunião de maio de 1967, na qual pouca
informação útil se obteve. Neste encontro, Hermínio Miranda informa que Luciano
mostrava-se cético quanto à possibilidade de ser hipnotizado. Isso porque tentara outras
vezes, com diversos operadores, sem resultados produtivos. Estava quase convicto de
que não era candidato adequado para se submeter a investigações por esse processo,
mas decidiu realizar nova tentativa. Qual não foi a surpresa de ambos, Luciano
rapidamente entrou num sono hipnótico de excelente qualidade, conforme narra
Hermínio Miranda (adiante veremos que Luciano diz coisa diferente a respeito desse
estado hipnótico). Entretanto, a “facilidade” que Luciano encontrou para ser
hipnotizado por Hermínio nos leva à seguinte indagação: por que Luciano, que
mostrava-se resistente à hipnose, em diversas experiências, sob a direção de técnicos
variados, com Hermínio obteve sucesso?

A resposta que nos parece mais adequada, reforça a suposição que apresentamos
anteriormente, sobre Hermínio e Luciano terem encontrado um no outro a condição de
levar à frente o projeto reencarnacionista que acalentavam. Luciano dos Anjos não se
deu bem com os demais operadores porque na ocasião inexistia motivo que o
estimulasse a cooperar. Os praticantes da hipnose, em geral, informam que toda
hipnose, em verdade é uma auto-hipnose, ou seja, se o indivíduo não se sujeitar ao
processo dificilmente poderá ser hipnotizado. Diante de Hermínio Miranda, Luciano
dos Anjos se entregou à indução, tendo em vista o forte clima de confiança entre os dois
e o interesse mútuo pelas regressões.

Precisamos, agora, nos atermos aos pontos controversos nos relatos. Em primeira
leitura, esses pontos tendem a passar despercebidos, mas se cotejamos os testemunhos
elaborados pelos protagonistas, logo as divergências saltam à vista. Comecemos pelo
discurso de Hermínio Miranda.

“Um grupo do qual eu participava empenhava-se em algumas experiências
exploratórias nos abismos da memória integral. Naquela noite de maio de 1967
estávamos reunidos num apartamento amplo e confortável em Copacabana. (...)
À reunião daquela noite compareceu Luciano dos Anjos, desejoso que estava de
observar nossas experiências e debater nossos “achados”. Estávamos já habituados
a receber, seletivamente, alguns amigos que manifestavam interesse em observar
nossos trabalhos. A certa altura Luciano aquiesceu em submeter-se aos testes de
suscetibilidade...

Luciano, que contava então 34 anos de idade, acomodou-se confortavelmente num
sofá... sem ser negativa, sua atitude era de moderado ceticismo, não ante o
fenômeno em si da regressão ou, mais amplamente, quanto à reencarnação... Sua
dúvida era quanto à sua própria suscetibilidade às induções hipnóticas ou
magnéticas. Em várias tentativas anteriores, com diferentes operadores, não
conseguira atingir nem mesmo os estados superficiais do transe anímico. Não
custava, porém, tentar mais uma vez...

Após as instruções preparatórias e os esclarecimentos de praxe, ele fechou os olhos,
relaxou o corpo... enquanto os passes eram aplicados lentamente, sem tocá-lo.
Diria que a indução foi fulminante. Em escassos minutos percebia-se que ele
mergulhara fundo no transe. (...)

Despertou faminto, devorou rapidamente uma generosa porção de bolo e pediu
mais, sem a mínima cerimônia. Em seguida levantou-se, deu um passo incerto e
desabou no tapete macio, como se não tivesse pernas. Na excitação do momento,
havíamos sido imprudentes e precipitados – era necessário esperar alguns minutos
em repouso até que seu espírito reassumisse totalmente os controles do corpo físico
antes de empreender qualquer movimentação maior. Assim como o
desprendimento se realiza por etapas, também a reintegração no corpo tem seu
ritmo próprio e suas fases bem definidas, embora variáveis de pessoa para pessoa.
Usualmente os primeiros músculos a se movimentarem são os das pálpebras; em
seguida, os dedos das mãos ou dos pés, braços, pernas, até que todo o corpo esteja
novamente sob controle da vontade. É freqüente observar nos sensitivos em
despertamento a concentração da consciência na área específica da cabeça –
nenhuma outra sensação física, nem mesmo senso de orientação quanto ao
posicionamento do corpo. É como se todo o ser estivesse na cabeça, fosse apenas a
cabeça. (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 19-22)

Neste trecho, quem relata é Hermínio Miranda. Nota-se que o autor privilegia o passe,
chamado “magnético”, como principal ferramenta indutora do transe, referência alguma
faz a comandos verbais, os quais constituem o procedimento comum em hipnose.
Agora, vejamos o que Luciano dos Anjos tem a nos dizer de seu primeiro encontro
hipnótico com Hermínio.

“Quando começamos, eu e Hermínio, nossas sessões, em casa de E.V., em
Copacabana, não me passara jamais pela cabeça que pudesse chegar a conclusões
tão surpreendentes... Ouvindo-o falar, rapidamente, desse trabalho, sobre o qual
me refiro com mais detalhes no Capítulo 3 da Segunda Parte deste livro, é que me
entusiasmei e resolvi vê-lo de perto. O Hermínio contou-me as muitas pesquisas já
realizadas nesse setor, algumas surpresas, diversos casos especiais, as variadas
manifestações e os excelentes benefícios muitas vezes conseguidos. Disse-me, por
alto, que empregava o método do Coronel De Rochas... Falamos dos métodos
clássicos de regressão de memória e das diferentes hipóteses que inclusive no
espiritismo são levantadas para explicar a fenomenologia do processo.

Recordamos o que nossos mentores espirituais nos têm ensinado nesse matéria e,
por fim, marcamos o início das sessões. Confessei-lhe, com absoluta consciência da
razão por que o confessava, que, lamentavelmente, não haveríamos a meu respeito,
de chegar a nenhum resultado positivo, pois outras vezes eu tentara ser
hipnotizado e nada conseguira. Cerca de dez anos antes, em casa do Dr. Aloísio
Gonçalves, no Jardim Botânico, eu me entregara a várias sessões e não cheguei a
ser hipnotizado. O máximo que se conseguiu foram alguns movimentos
automáticos de braço, mas muito pouco significativos. O Dr. Aloísio Gonçalves,
meu velho amigo, é autoridade indiscutível na matéria, capaz de conduzir seus
clientes, em frações de segundo, ao mais profundo sono hipnótico. Mas comigo nem
bastaram a água açucarada, a música, o disco visual... E o Dr. Aloísio me explicava
esperançoso, que ás vezes são precisas até setecentas (!) tentativas para se
conseguir inibir o córtex de uma pessoa. (...)

Uma tarde, eu e o Hermínio conversávamos em seu gabinete de trabalho... Dizia-
me estar fazendo interessantes sessões de regressão da memória e me contava os
casos mais significativos. Também eu lhe dizia dos meus sucessos e fracassos,
narrando-lhe exemplos maravilhosos de materializações ou fraudes
grosseiríssimas, que eu flagrava através do aparelho ótico, emissor de raios
infravermelhos, de propriedade do cientista norte-americano Dr. Andrija
Puharich... Ficou devendo o Hermínio uma visita, à minha sessão, e ele, em
retribuição, estudaria uma oportunidade de eu também conhecer a dele. Mas o
tempo corria e nunca cumpríamos nossos compromissos recíprocos. (...)

Assim... resolvi efetivar, afinal, nosso encontro. Estávamos em setembro ou
outubro do ano de 1966. Marcamos a primeira sessão para uma segunda-feira,
quando Hermínio me apresentaria à Sra. E.V., em cuja casa se realizariam os
trabalhos... Quando os trabalhos com uma sensitiva terminaram, o Hermínio
perguntou se eu não queria ser testado. Concordei e me deitei no sofá. Deixamos o
ambiente em penumbra, e o Hermínio iniciou seu trabalho... ligava o gravador,
sentava-se ao lado do paciente, na poltrona, e procurava induzir-nos ao sono,
enquanto fazia a imposição das mãos, segundo o método de De Rochas. Eu −
conforme já disse − não tinha nenhuma esperança e me mantinha estirado, de
músculos completamente relaxados, menos por conhecimento prático do exercício
do que por total descrédito quanto aos efeitos. Ouvia-lhe a voz monótona... Tudo
conforme a boa técnica, mas já tão usado antes comigo sem qualquer resultado
positivo. Foi nessas cogitações interiores − ou quem sabe, por causa delas! − que,
depois de muitos minutos (a paciência de Hermínio é chinesa), aconteceu o
inesperado: perdi a consciência! O Hermínio conseguira! (...)

Assim, ao lado da alegria, uma espécie de decepção me tocou: e eu? Contudo, pelo
menos alguma coisa nova acabava de acontecer comigo. Restava prosseguir para
vermos até onde chegaríamos. Aguardei mais uma semana e, na segunda-feira
seguinte, voltamos ao apartamento da Sra. E.V. (Eu Sou Camille Desmoulins. P.
305, 306 e 352-354)
O relato de Hermínio começa com o encontro propriamente dito; Luciano faz referência
a contatos preliminares. Luciano estava curioso quanto ao trabalho que seu amigo
conduzia e decidira acompanhar uma dessas reuniões. Só que as narrativas contêm
discordâncias graves. Se fosse apenas questão de estilo redativo, ou mesmo a
observação de certos acontecimentos sob óticas diversas, nada de sério poderíamos
objetar. No entanto, as discrepâncias vão muito além. Primeiramente, as datas não
batem: vários meses separam a primeira reunião informada por Luciano, do que seria o
mesmo encontro, relatado por Hermínio (Luciano fala em outubro de 1966; Hermínio
em maio de 1967). Segundo declara Hermínio Miranda, Luciano entrou em estado
hipnótico quase automaticamente; entretanto Luciano afirma que Hermínio necessitou
de muita paciência, até obter resultado. Luciano não faz menção ao cômico tombo que
sofreu. A queda é comentada em outro encontro, o qual não coincide com o que
Hermínio dele descreve. Ou ocorreram reuniões não noticiadas no texto de Hermínio,
ou os autores estão falando de coisas diferentes.Vamos tabelar as informações, para
facilitar a compreensão.

OS FATOSr           Por            HERMÍNIO Por LUCIANO DOS ANJOS OBSERVAÇÃO
                    MIRANDA
Data do 1º encontro Maio        de         1967,Setembro, ou outubro, deDivergência. As datas
                    [provavelmente sexta-feira] 1966, em uma segunda-feiranão conferem
                    (p.19)                      (p.353)

Local do encontro      Amplo      e     confortávelImenso apartamento, da Sra.Parece ser o mesmo
                       apartamento,              emE.V., no 6º andar do prédio,endereço
                       Cobacabana, (não informa ode frente para o mar, (não
                       nome do proprietário) (p.19) informa o bairro) (p. 353)

Dificuldade     ou Realizara várias tentativasIdem (p. 354)                    Relatos coincidentes
facilidade    pré- sem sucesso (p.20)
existente     para
vivenciar o transe
hipnótico

Método     utilizado Passe magnético. SomentePasse               magnético,Divergência. Hermínio
por Hermínio para depois do transe atingido éconcomitantemente          comprivilegia
obter o transe       que aplicou comando de vozcomandos verbais (p. 354)   excessivamente o passe.
                     (p. 20)                                               Luciano noticia o uso
                                                                           concomitante do passe
                                                                           e do comando verbal

Resultado         da   Os       passes  obtiveramSomente       após     muitaDivergência.          Na
tentativa inicial de   resultado         imediato,insistência, por meio deopinião de um, a
atingir o estado       classificado pelo operadorcomandos verbais, finalmenteindução foi rápida; o
hipnótico              como “indução fulminante”atingiu-se o estado hipnóticooutro     afiança    que
                       (p.20)                     (p. 354)                   demorou         bastante.
                                                                             Hermínio atribui aos
                                                                             passes o resultado
                                                                             positivo;        Luciano
                                                                             parece conferir maior
                                                                             valor ao comando de
                                                                             voz

Atitude          do Mostrava-se em pânico.Muita agitação e poucaDivergência. O relato
hipnotizado         Respondia                   informação. Citou um nomeperde a coerência ante
durante o processo monossilabicamente. Citoufrancês, que não ficou claroa não referência ao
                    Necker, ministro de finançasna gravação (p. 354)     nome de Necker por
                    de Luiz XVI (p.21)                                   Luciano, que teria sido
a única informação
                                                                               consistente  conforme
                                                                               afirma Hermínio

Após despertar       Sentiu-se faminto, comeuO tombo no tapete, paraDivergência.
                     bolo, tentou levantar-se eLuciano, ocorreu em outra
                     desabou no tapete.        reunião.

 Pode ser que os autores estejam a falar de eventos diversos. Talvez cada qual tenha
classificado como “primeiro encontro” acontecimentos não coincidentes. Seria
discrepância muito grande as variações de datas, caso estivessem falando dos mesmos
episódios. Se entendermos que se tratam de casos distintos, outro problema surge:
significa que ocorreram encontros entre Luciano e Hermínio, que este não relatou.
Nesta hipótese, fica prejudicada toda a narrativa concernente à inexperiência de Luciano
no que tange às regressões e, em decorrência, toda sorte de suposições podem ser
levantadas. Outro ponto que deve estar bem destacado é o resultado da indução: desde a
sessão inicial que Hermínio garante ter Luciano entrado em estado hipnótico quase
que imediatamente. Por outro turno, Luciano assegura de resistiu bastante até ceder.
Não só nesta reunião ocorreu dificuldade para atingir o estado hipnótico, na que seria
a segunda sessão, conforme o cronograma de Luciano − que não bate com o de
Hermínio −, ele diz que levou entre “dez e quinze minutos” para ser vencido.

Mais adiante, apresentaremos os relatos por inteiro, para que possam ser comparados.

RESUMO DAS REUNIÕES, NAS NARRATIVAS DE HERMÍNIO E DE LUCIANO

A fim de tentarmos entender como foi que cada protagonista vislumbrou os episódios
regressionistas, faremos nova tabulação, especificando as datas de todos os encontros, e
as coincidências e discrepâncias. Talvez assim tenhamos possibilidade de compreender
os motivos que ocasionaram os desacordos narrativos. Hermínio nomeou o primeiro
encontro como reunião de testes e começou a numerar as sessões a partir da 2ª, quando
os encontros passaram a ser realizados na residência do autor. No quadro, numeramos
linearmente, nominando “1ª sessão” a acontecida em maio de 1967 (no cronograma
herminiano), portanto, o que está na tabela a seguir, registrado sob o título “1ª sessão”
corresponde à “sessão de testes”; a 2ª sessão corresponde à primeira de Hermínio.
Assim foi feito como tentativa de parametrizar os relatos, dada a não convergências das
informações fornecidas por um e por outro.

EVENTOS PRINCIPAIS                                    Data e local
SESSÕES Conforme                 Conforme             Conforme              Conforme LUCIANO
        HERMÍNIO                 LUCIANO              HERMÍNIO
1ª sessão É            hipnotizadoDemora       a    serMaio/1967 – (sexta-Setembro/outubro/1966 -
          rapidamente.       Poucahipnotizado.   Poucafeira) (3) – apart. em(segunda-feira)(3) – apart.
          informação útil; citouinformação útil; falouCopacabana (p.19)     da Sra. E.V. (p.353)
          o nome de Necker (2);nome francês não
          sente muita fome eidentificado; não fala
          come       bolo,        emda queda. Presença
          seguida, tenta erguer-do Edson.(4)
          se e cai no tapete. (1)
          Nenhuma referência
          ao Edson (4)
EVENTOS PRINCIPAIS                                       Data e local
SESSÕES Conforme                   Conforme              Conforme               Conforme LUCIANO
        HERMÍNIO                   LUCIANO               HERMÍNIO
2ª sessão Foi rapidamente aoEntra em transe após19/5/1967 (sexta-feira)Segunda-feira seguinte à
          transe (P. 23). Revela10 ou 15 minutos– apart. de Hermínioreunião acima – apart. da
          que seu nome é Lucie(p.355). Ao despertar(p.23)              Sra. E.V. (p.354)
          Simplice       Benoisttenta ficar de pé e cai
          Camille Desmoulins. no tapete, depois
          Nenhuma referênciasente muita fome e
          ao Edson (4)          come bolo. (p.360) (1)
                                Presença do Edson (4)

3ª sessão Revela que a esposa deAfirma que Necker26/5/1967 (sexta-feira)Segunda-feira seguinte à
                                                      (2)
          Desmoulins            éfará     besteira       –       não     informareunião acima – não fala
          atualmente sua filha!(p.362)                   mudança no local dade mudança no local da
          (p. 47)                                        reunião, supõe-se quereunião, supõe-se que
                                                         continuasse no apart.continuasse no apart. da
                                                         de Hermínio.             Sra. E.V. (p. 361)
4ª sessão Não faz referência àA gravação desse9/6/1967 (sexta-feira)Ocorreu                    na    “semana
          perda da gravação,evento se perdeu–                    não     informaseguinte”       (p.365),  na
          narrada por Luciano,(Hermínio          gravoumudança no local dasegunda-feira (p.367) –
          ao contrário, afirmaoutra sessão por cima)reunião, supõe-se quenão fala de mudança no
          que o “tape” existe (p.(p.365).     Trabalhoscontinuasse no apart.local da reunião, teria
          65).     Não     relatasuspensos (p.367). (5)de Hermínio.               continuado no apart. da
          suspensão          dosPara Luciano, esta                                Sra. E.V.
          trabalhos. (5)         seria a penúltima
                                 reunião, depois fala
                                 do último encontro
                                 em 1/9/1967, o qual,
                                 pelo cronograma de
                                 Hermínio,       é     o
                                 penúltimo.
5ª sessão Só existe relato deSem registro.               16/6/1967         (sexta-Sem registro.
          Hermínio         desse                         feira).     Apart.    de
          encontro                                       Hermínio.
6ª sessão Só existe relato deSem registro.               23/6/1967 (sexta-feira)Sem registro.
          Hermínio         desse                         Apart. de Hermínio.
          encontro
7ª sessão Só existe relato deSem registro.               7/7/1967 (sexta-feira)Sem registro.
          Hermínio         desse                         Apart. de Hermínio.
          encontro
8ª sessão Só existe relato deSem registro.               14/7/1967 (sexta-feira)Sem registro.
          Hermínio         desse                         Apart. de Hermínio.
          encontro
9ª sessão Só existe relato deSem registro                21/7/1967 (sexta-feira)Sem registro.
          Hermínio         desse                         Apart. de Hermínio.
          encontro
10ª       Final das sessões deSem registro               4/8/1967 (sexta-feira)Sem registro.
sessão    regressão                                      Apart. de Hermínio.
11ª       1ª Sessão “especial”Último           encontro1/9/1967 (sexta-feira)1/9/1967
sessão    (p.248)                (Hermínio informa terApart. de Hermínio. Apart. de Hermínio.
                                 havido mais outra
                                 reunião).
12ª       2ª Sessão “especial”Sem registro               8/9/1967 (sexta-feira)Sem registro.
sessão    (p.233)                                        Apart. de Hermínio.
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Análise e crítica do livro eu sou camille desmoulins

  • 1. ANÁLISE E CRÍTICA DO LIVRO “EU SOU CAMILLE DESMOULINS”, de Hermínio C. Miranda e Luciano dos Anjos. por Moizés Montalvão Observação1: os grifados, sublinhados, negritos, nas citações de textos de outros autores, são de nossa autoria. Textos [entre colchetes] são inserções explicativas, de nossa autoria. Observação2: algumas citações ilustrativas são relativamente longas. A intenção é mostrar claramente o pensamento do autor, evitando distorções, o que é comum ocorrer com referências curtas. Observação3: alusões à reencarnação e mediunidade são inevitáveis na presente análise. Conseqüentemente, referências ao espiritismo também serão inevitáveis. Não há qualquer intento em agredir crenças, as quais respeitamos com muita seriedade. Discutimos, sim, idéias, proposições, teorias. OBJETIVO: analisar a alegação de que as recordações experienciadas por Luciano dos Anjos, sob a condução de Hermínio Miranda, demonstram um autêntico caso de reencarnação. COMENTÁRIOS INICIAIS Os protagonistas da obra sob apreciação são Hermínio Correa de Miranda e Luciano dos Anjos. O evento teria ocorrido durante alguns meses, no ano de 1967 e, segundo os autores, foi gravado em fita e das gravações produziu-se o livro. Hermínio e Luciano são pessoas dotadas de elevada cultura. Hermínio domina quatro ou cinco idiomas, escreveu muitos livros, nos quais mostra familiaridade com variados assuntos. Luciano atuou como jornalista por longo tempo e também escreveu diversas obras. Portanto, estamos lidando com pessoas do mais alto gabarito, cuja formação intelectual é inatacável e, ao que tudo indica, são figuras ilibadas, não dadas a dissimulações ou fraudes conscientes. Desse modo, as apreciações que faremos não têm por objetivo denegrir a imagem dos autores, sim avaliar a experiência de regressão que, segundo defendem, atestaria indubitavelmente um evento reencarnacionista. O objetivo deste trabalho é verificar se tal declaração é suficientemente firme para ser acatada sem receios. Antes de falarmos da experiência propriamente dita, necessário se faz conhecer a metodologia utilizada, bem como a base teórica que ampara a prática regressionista, nos moldes praticados por Hermínio Miranda. Estas estão detalhadas na obra “A Memória e o Tempo”, de autoria de Hermínio, na qual, logo no início, se lê: Regressão da memória é o processo espontâneo ou provocado, por meio do qual, o espírito encarnado ou desencarnado fica em condições de retornar ao passado, na vida atual ou em existências anteriores, próximas ou remotas. Estou bem certo de que a definição proposta pressupõe aceitação de alguns dos preceitos básicos da
  • 2. doutrina espírita, organizada por Allan Kardec na segunda metade do século XIX, na França. (p. 13, 14) Aqui deparamos um dificultador: para se aceitar a definição proposta por Hermínio necessário se faz aceitar pressupostos da doutrina espírita. O que constitui um problema e uma limitação. Hermínio Miranda assevera que a melhor maneira (e talvez a única aceitável) de explicar o fenômeno seja por meio da teoria espírita. Como se pode ver no trecho a seguir: “Os pressupostos implícitos na definição oferecida não são...invenção do espiritismo nem surgiram de revelações transcendentais revestidas de caráter místico ou dogmático, a exigir sustentação da fé cega. São princípios eminentemente lógicos que podemos aceitar sem nenhuma forma de violência à razão e que têm sido exaustivamente pesquisados e confirmados por inúmeros investigadores qualificados. (...) Sugerimos, portanto, aos mais renitentes e obstinados negadores que os aceitem, provisoriamente, como hipóteses de trabalho e os submetam aos testes e aplicações que julgarem necessários. Ainda que não os aceitem, porém, não há como negar que eles estão implicitamente contidos na visão integrada do fenômeno da regressão da memória. Estão, assim, embutidos na estrutura do fenômeno os seguintes conceitos fundamentais que aqui alinhamos como premissas básicas: – existência do espírito, ser consciente em evolução. – existência de um corpo energético, organizador biológico, a que chamamos de perispírito. – preexistência do espírito à sua vida na carne. – sobrevivência do espírito à morte do corpo físico. – sua permanência por algum tempo numa dimensão que escapa aos nossos sentidos habituais. – seu retorno em novo corpo físico para nova existência na carne. – sua responsabilidade pessoal pelos atos praticados, no bem ou no mal. (p. 14) Essas “exigências” dificultariam ao investigador não-espírita a averiguação do caso, pelo menos dentro da abordagem realizada pelo autor. Praticantes do regressionismo, não adeptos da doutrina espírita, teriam dificuldades em acatar alguns dos quesitos especificados, notadamente a existência do perispírito. De certo modo, o que Hermínio Miranda determina é mais ou menos o seguinte: analisem a experiência de Luciano dos Anjos e constatem a evidência demonstrada da reencarnação, isso desde que o façam segundo as suposições seguidas pela doutrina espírita. A afirmação de que os itens relacionados acima integram o fenômeno regressionista seria, em parte, aceitável se fosse acatada aprioristicamente a idéia de que as lembranças são autênticas reminiscências. A investigação que se pretenda ampla deve levar em conta outras hipóteses. Uma delas seria a de que as recordações sejam elaborações mentais do paciente, extraídas de seus próprios conhecimentos, (conhecimentos obtidos na existência atual). Como forma de melhor compreender o assunto, consideramos conveniente distinguir três modalidades de regressão:
  • 3. 1. Regressão de memória (que recuperaria lembranças da existência atual); 2. Regressão ao útero materno (supostas recordações da vida intra-uterina); 3. Regressão a vidas passadas (alegadas lembranças de outras vidas). Contudo, Hermínio Miranda utiliza a expressão “regressão da memória” indistintamente, isto é, sem diferenciar dentre as modalidades aqui referidas. No presente estudo, estaremos, pois, investigando um episódio de regressão a vidas passadas. O MÉTODO A técnica hipnótica de Hermínio, aplicada para obter lembranças de vidas passadas, conjuga passes “magnéticos” com sugestões verbais. A sugestão, por meio de comandos imperativos, na hipnose é prática consagrada. Há técnicas de indução sem a utilização de instruções verbais – uma das principais, conhecida por letargia −, contudo, o processo hipnótico global não prescinde dos comandos ou induções por meio da voz. E é fácil compreender porque tal se dá: o objetivo de uma sessão de hipnose é obter determinada reação, seja agir de certo modo, ou avivar a memória, ou despertar emoções. Tais objetivos se realizam direcionando a mente hipnotizada com palavras adequadas. O passe, dito magnético, tem uma função específica. No espiritismo é utilizado como forma de transmitir energia terapêutica de uma pessoa para outra. Alguns teóricos espíritas asseveram que, em realidade, o passe não transfere energia vital do agente ao paciente; em vez disso, promove o reequilíbrio da circulação energética. O processo se daria pela interseção dos campos magnéticos dos envolvidos, conforme se vê na declaração de Paulo Henrique de Figueiredo, na revista Universo Espírita: “Está equivocado quem imagina a técnica do Magnetismo Animal como sendo a emissão de um fluido das mãos do médico com o poder de curar o doente e envolvê-lo. Não é essa a teoria de Mesmer. Por conseqüência, não é a teoria espírita.” (Universo Espírita, nº 49, p. 37) [Obs. No original consta efetivamente a palavra “médico”, porém temos a impressão de que o autor pretendia grafar “médium”] Nada obstante, a maioria dos que fazem uso do magnetismo, conforme o molde espírita, o entendem como transferência de energia. Alguns dos escritos de Kardec transmitem a idéia de cessão de energia. E este parece ser, igualmente, o pensamento de Hermínio Miranda, conforme se vê no seguinte trecho de sua autoria. Magnetismo, a nosso ver, é a técnica de desdobramento provocado por meio de passes e/ou toques, enquanto a hipnose ficaria adstrita aos métodos da sugestão verbal, transmitindo-se as instruções ordenadamente, em cadência e tom de voz adequados. Ainda mais: os dois métodos podem ser combinados, simultâneos, cabendo ao operador transmitir as instruções para o relaxamento ao mesmo tempo em que satura de energias o sensitivo, com passes apropriados.” (A Memória e o Tempo. P. 81)
  • 4. Diversas escolas advogam que passes manuais podem promover benefícios variados. Sem pensar muito podemos lembrar o johrei, utilizado na Igreja Messiânica; a prática Reiki; a imposição de mãos em algumas igrejas protestantes; certos exercícios de magia, que atribuem poderes a gestos manuais, etc. Ainda que variem as explicações sobre o que seja o passe, dependendo do grupo religioso que o pratica, todos admitem que o procedimento acarreta benefícios. A Bíblia fala da imposição de mãos, aplicada concomitantemente à oração, como se vê no livro bíblico de Tiago, capítulo 5: “Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor;” Também, no livro de Hebreus, capítulo 6, encontramos: “Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno.” A realidade, contudo, não mostra que os passes sejam dotados de poderes extraordinários, quase mágicos, como alguns supõem. Os adeptos afirmam que a técnica de passes magnéticos é praticada desde o primórdio da civilização, entre egípcios, caldeus, gregos. Contudo, a imposição de mãos na antiguidade não estava atrelada à teoria do “magnetismo animal”. O passe pode ser benéfico em diversas situações, mas os efeitos salutares, inclusive terapêuticos, são resultado da sugestão positiva que o procedimento induz. As concepções sobre o passe magnético, no caso espírita, constituem herança do médico austríaco Franz Anton Mesmer. Esta figura tem uma história singular. Mesmer contribuiu para erigir um dos pilares do pensamento kardecista, uma vez que a teoria do “magnetismo animal” foi inteiramente acatada por Kardec, na qual baseou expressiva parcela de seus ensinamentos. Hermínio Miranda, no livro “A Memória e o Tempo”, apresenta ilustrativa exposição sobre o magnetismo e sobre a hipnose, desde Mesmer até a atualidade. A explanação de Hermínio é longa para ser reproduzida nesta apreciação. À medida que nosso comentário evoluir, faremos referências a ela, principalmente dos pontos que consideramos discutíveis. Em linhas gerais, o que Hermínio apresentou está coerente com os melhores estudos do assunto; discordamos do tratamento privilegiado − a nosso ver excessivo e com pouca base −, que dá à teoria do passe magnético. Recomenda-se aos interessados em acompanhar o presente estudo, a leitura dos livros citados (A Memória e o Tempo e Eu sou Camille Desmoulins). A hipótese do “magnetismo animal” não foi comprovada experimentalmente. Inexistem evidências de que haja, nos corpos vivos, algo como uma “circulação magnética”. Apesar disso, tal conjectura é cultivada por diversos segmentos religiosos. Para o kardecismo, por exemplo, o magnetismo seria a canalização produtiva do “fluido universal”. Fluido este que permanece no campo das conjecturas, uma vez que não foi detectado por experimentos científicos. Hermínio Miranda, por outro lado, tem opinião peculiar a respeito:
  • 5. “Embora para muitos autores de renome, como Lewis Spence, magnetismo e hipnose sejam a mesma coisa com nomes diferentes, preferimos aqui manter a distinção para fins didáticos, embora os resultados práticos de ambos sejam idênticos ou muito semelhantes. Magnetismo, a nosso ver, é a técnica de desdobramento provocado por meio de passes e/ou toques, enquanto a hipnose ficaria adstrita aos métodos da sugestão verbal, transmitindo-se as instruções ordenadamente, em cadência e tom de voz adequados. Ainda mais: os dois métodos podem ser combinados, simultâneos, cabendo ao operador transmitir as instruções para o relaxamento ao mesmo tempo em que satura de energias o sensitivo, com passes apropriados.” (A Memória e o Tempo. P. 81) Para Hermínio Miranda, os passes permitem ao espírito “desdobrar-se”, o que significa isso? Segundo certa teoria, em algumas circunstâncias a alma (juntamente com o perispírito) consegue descolar do “invólucro carnal” e realizar peripécias que normalmente não lhe estariam acessíveis. Allan Kardec apresentou amplas considerações a respeito do fluido magnético em várias de suas obras, o tema tinha para ele importância capital, ilustramos com a seguinte declaração, extraída de “A Gênese”. 32. – São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. ... Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais. 33. – A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras: 1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido; 2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito; 3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento... 34. – É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar excepcional... Em “O Livro dos Médiuns” encontramos outra informação ilustrativa: 131. Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da
  • 6. vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida. Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo. Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas. Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado... Para Kardec e, parece-nos, para a maioria dos praticantes do espiritismo, o passe magnético teria efetiva aplicação terapêutica. Hermínio Miranda acrescenta-lhe outra qualidade, conforme dito, o passe teria a peculiaridade de promover o “desdobramento” do perispírito. À página 70 de “A Memória e o Tempo” Hermínio explica sua concepção de desdobramento: (...)separação temporária e controlada entre o perispírito e o corpo físico, no ser encarnado(...) Também, à página 92, lemos: “Seja pelo passe magnético, pela fixação do olhar, pela sugestão verbal ou pelos outros processos de indução, tanto quanto pela anestesia química, o fenômeno psicossomático é o mesmo, ou seja, o desdobramento do ser em seus componentes básicos – desprende-se o espírito com o seu corpo energético, perispiritual ou que outro nome lhe tenha sido aplicado, enquanto o corpo físico permanece em repouso. Como a sensibilidade está no perispírito, e não no corpo físico, este se torna insensível à dor, se o sono magnético for suficientemente profundo para produzir a separação adequada.” Quem conheça um pouquinho das teorias sobre a hipnose notará que a suposição apresentada por Hermínio Miranda é particularíssima e traz alegações de difícil defesa. A afirmação de que a sensibilidade do corpo está no perispírito é deveras complicada. Seria intrincado obterem-se bons argumentos para amparar tal idéia. Parece que, para Hermínio Miranda, a insensibilidade tátil é conseqüência obrigatória da indução hipnótica e seria demonstração do desdobramento. Nada menos veraz: dependendo da
  • 7. forma como for sugestionado, o paciente pode apresentar sensibilidade exacerbada, em vez de analgesia. Outra idéia confusa é a do “desacoplamento” do espírito, durante a hipnose. Tal suposição é fruto de antigas conjeturas. No passado era comum a crença de que, durante o sono, a alma se desprendia do corpo. Os sonhos seriam a confirmação de que o fenômeno ocorria. Kardec incorporou essa primitiva idéia à doutrina que elaborou. No entanto, os estudos sobre o sonho passam longe de tal opinião. É certo que existem agremiações propondo a capacidade de se viajar no “universo astral”. E parece que essas viagens são gratificantes, porque não poucas pessoas se dedicam a excursões da espécie. Entretanto, é fácil demonstrar que o processo se passa inteiramente na mente do praticante. Alguns testes, relativamente simples, deixam claro o fato. No caso de regressão de Luciano dos Anjos, o desligamento do perispírito foi apresentado por Hermínio como um fato inconteste. Em momento algum ele se propôs a verificar se o espírito do regredido se encontraria efetivamente fora de sua morada carnal. Adiante, quando examinarmos as regressões, falaremos mais do assunto. A nosso ver, não obstante o brilhante trabalho que o livro “A Memória e o Tempo” representa, encontramos alguns equívocos sérios no pensamento de Hermínio Miranda. À frente resumiremos os pontos principais, no título “ALGUNS PONTOS CONTROVERSOS NO PENSAMENTO DE HERMÍNIO MIRANDA.” Falemos um pouco a respeito de Franz Anton Mesmer, pois este nome está ligado ao conceito kardecista de magnetismo (conceito este que, conforme foi dito, é mantido ainda na atualidade). MESMER (1733-1815) O austríaco Franz Anton Mesmer desde tenra idade revelou pendores intelectuais incomuns. A família esforçou-se para que ele tivesse a melhor educação possível. O resultado do investimento certamente não frustrou os familiares, Mesmer formou-se em filosofia, medicina e direito. Também estudou música e era versado em astrologia. Afora essas especializações, que lhe garantiriam a classificação de sábio segundo os padrões de sua época, Mesmer estava inclinado a descobrir novas formas de praticar a medicina. Ele se interessara pela teoria de Paracelso (1493-1541), e sucessores, que postulara a existência de um fluido universal, por meio do qual seria possível um homem exercer influência sobre outros homens e sobre objetos inanimados. Paracelso conquistara grande respeito em sua época e, após sua morte, diversos pesquisadores deram continuidade às suas idéias. Também a teoria hipocrática de que a doença era resultante do desequilíbrio dos fluidos orgânicos era simpática ao médico austríaco. Por outro turno, Mesmer acompanhou o trabalho de certo sacerdote exorcista, chamado Gassner. Desse contato resultou a aceleração das cogitações do austríaco e fixou o rumo dos estudos que conduziria a partir de então. Johann Josef Gassner era um clérigo, contemporâneo de Mesmer, famoso pelas curas que obtinha por meio da expulsão de demônios dos corpos doentes. O sacerdote, durante os rituais, trajava-se escalafobeticamente e carregava um enorme crucifixo de metal. Diante de um suposto possesso, Gassner arremetia-se em direção ao infeliz, vociferando palavras em latim e brandindo o crucifixo, como se fora uma espada
  • 8. preste a desferir um golpe. Os pacientes ficavam alucinados, a maioria caía desacordada, outros entravam em convulsão. Alguns estudiosos da história do hipnotismo creditam a Gassner, e não a Mesmer, o pioneirismo da prática hipnótica, uma vez que conseguia com muita freqüência deixar seus pacientes num estado típico dos hipnotizados. Mesmer analisou o trabalho de Gassner e concluiu que os resultados que obtinham devia-se à influência do crucifixo metálico. Este conduziria o fluido universal e provocaria as curas, que, no entender de Mesmer, seriam erroneamente atribuídas ao ritual de exorcismo. Contudo, nem todos os pesquisadores concordam que tenha havido um encontro entre Mesmer e Gassner. Há quem diga que Mesmer conhecia o trabalho do sacerdote e dele fizera apreciação positiva, ressalvando a ingenuidade do religioso em atribuir ao sobrenatural o que seria meramente fenômeno magnético. Segundo se conta, ao desmerecer a possibilidade de atuação de forças demoníacas, Mesmer favoreceu a decretação, pelo papa, da censura sobre suas obras. Seja como for, o que interessa destacar é que a proposta terapêutica formulada pelo médico austríaco foi um sucesso. Diversas curas incontestes se relataram e a fama do médico cresceu admiravelmente. Esse fato despertou a curiosidade e uns e a inveja de outros. Mesmer enfrentou reações contrárias na Austria, onde iniciara os trabalhos de cura e mudou-se para Paris. Nesta cidade a popularidade da cura magnética foi acentuada, levando o médico a criar forma de atender aos pacientes em grupos. Em síntese, a teoria de Mesmer, conforme foi dito, baseava-se na existência do fluido universal, que seria parte constituinte de todas as coisas existentes no universo. Nos seres vivos, notadamente no homem, a perfeita saúde devia-se ao equilíbrio harmonioso desse fluido. Quando isso não acontecia, instalava-se alguma doença. Era óbvio, portanto, que para voltar ao estado saudável, necessário se fazia rearmonizar a corrente fluídica. Inicialmente, Mesmer trabalhou com imãs, acreditando que esse material conduziria melhor o fluido universal. Depois, concluiu que algumas pessoas privilegiadas, que chamou magnetizadores, teria o dom de obter os resultados almejados e dispensou o uso de instrumentos auxiliares. A doutrina proposta por Mesmer foi explanada em 27 aforismos, publicados em 1779. Vejamos alguns deles: 1. Existe uma influência mútua entre os corpos celestes, a Terra e os corpos animados. 2. O meio desta influência é um fluido universalmente distribuído e contínuo, sem nenhum vazio e de natureza incomparavelmente sutil, e por cuja natureza é capaz de receber, propagar e transmitir todas as impressões de movimento. 3. Esta ação recíproca é subordinada a leis mecânicas que são desconhecidas até agora. 4. Esta ação resulta em efeitos alternados que podem ser considerados como fluxo e refluxo.
  • 9. 5. Este fluxo e refluxo é mais um menos geral, mais ou menos particular, mais ou menos composto, de acordo com a natureza das causas que o determinam. 6. É por esta operação (a mais universal daquelas apresentadas pela Natureza) que as proporções de atividade são estabelecidas entre os corpos celestes, a terra e as partes eu os compõem. 7. As propriedades da Matéria e dos Corpos Orgânicos dependem desta operação. 8. O corpo animal experimenta os efeitos alternativos desse agente, e é imediatamente afetado pela penetração da substância nos nervos. 9. É particularmente manifesto no corpo humano que o agente tem propriedades similares às do imã; pólos diferentes e opostos podem igualmente ser distinguidos e podem ser mudados, comunicados, anulados e reforçados; até mesmo o fenômeno de oscilação é observado. 10. Esta propriedade do corpo animal, que o deixa sob a influência dos corpos celestes e das ações recíprocas daqueles que o rodeiam, como demonstrado pela sua analogia com o imã, levou-me a denominá-la MAGNETISMO ANIMAL.(...) 23. Se verá a partir dos efeitos, de acordo com as regras práticas que se há de documentar, que este princípio pode curar desordens nervosas diretamente e outras desordens indiretamente. 24. Com essa ajuda, orienta-se o médico no uso de medicamentos; ele aperfeiçoa sua ação, provoca e controla as crises benéficas e tal maneira que as sujeita. 25. Dando a conhecer meu método, demonstrarei, por meio de uma nova teoria das enfermidades, a utilidade universal do princípio que aplico a elas. 26. Com este conhecimento, o médico determinará confiantemente a origem, a natureza e o progresso das doenças, mesmo as mais complexas. Evitará que ganhem força e terá sucesso em curá-las, sem jamais expor o paciente a efeitos perigosos ou conseqüências desastrosas, independentemente da idade, do temperamente e sexo. Até mulheres em trabalho de parto gozarão desses benefícios. 27. Conclusão, esta doutrina permitirá ao médico determinar o estado de saúde de cada indivíduo e salvaguardá-lo de males a que estaria sujeito. A arte curativa alcançará, assim, seu estádio final de perfeição. Fontes: http://www.levir.com.br/inst-022.php http://web.archive.org/web/20040710162753/http://www.unbf.ca/psychology/likely/readings/mesmer.htm Mesmer tinha grande estima pela teoria que elaborou. Para ele, o caminho que conduziria a medicina à excelência estava descortinado com o advento do magnetismo animal. Lamentavelmente, passados mais de duzentos anos de promulgada a hipótese do fluido universal, este permanece tão sutil e evasivo às investigações quanto na época de Mesmer. O médico afirmava que as leis que regiam o fluido universal eram, até então,
  • 10. desconhecidas. Tal afirmação pressupunha que, pelo trabalho contínuo de pesquisa, essas leis se tornariam futuramente conhecidas. Contudo, a existência de tais leis permanece nebulosamente hipotética desde que foi elaborada. Boa parte dos pacientes de Mesmer, durante a aplicação do magnetismo, entrava em convulsão. Esse efeito era desejado e incentivado, pois, segundo o pensamento do médico, a crise acelerava a cura. Contudo, outros não convulsionavam, em vez disso, apresentavam-se como que sonolentos. Mesmer registrou essa reação, para ele diversa da esperada, mas entendeu que a lassidão constituía falha do tratamento, visto que era necessário haver crise para que a doença fosse extirpada. Tempos mais tarde, um discípulo de Mesmer, atuando por conta própria, passou a dar valor ao efeito sonambúlico das magnetizações. Podemos dizer que Mesmer roçou a ponta do que seria futuramente a prática hipnótica, mas não lhe deu a devida atenção. Franz Mesmer é figura polêmica até os dias de hoje, alguns o qualificam como santo, outros, charlatão. Buscando um meio-termo, entendemos que foi um homem de seu tempo. Tinha uma teoria e buscou pô-la em prática, intentando demonstrar a veracidade do que postulava. Foi um pioneiro e, como tal, cometeu erros e acertos. Na atualidade, a teoria magnética é defendida em setores mais ligados à religiosidade, que à ciência. A hipótese do fluido universal foi perdendo força, uma vez que nenhum experimento de cunho científico logrou confirmá-la. As teorias modernas que procuram explicar o processo hipnótico – que é o sucedâneo do magnetismo – dispensam, por desnecessária, a conjectura de uma força universal, pretensamente responsável pela ocorrência do fenômeno. As Experiências Até o capítulo 5 de “A Memória e o Tempo” Hermínio Miranda discorre sobre o método, a teoria e considerações complementares, que embasam a prática regressionista, conforme as concepções por ele defendidas. No capítulo 6 são apresentadas experiências objetivas de regressão. Ao falar das experiências que administrou, Hermínio tem o cuidado de esclarecer que o “esquecimento” de outras vidas é a regra. Lembranças somente as que estivessem “autorizadas”. Autorizadas por quem? Caberia a pergunta. A resposta não é dada diretamente, podemos supor que seriam entidades espirituais, das quais se diz que acompanham atentamente o trabalho de regressão, as responsáveis por controlar o que pode ser lembrado ou não. Em outros trechos acena-se com a hipótese de que algum mecanismo interno, de origem desconhecida, libere o permitido e bloqueie o proibido. Leiamos alguns trechos do livro: “Este livro começou com uma experiência de regressão na qual tivemos o relato de um processo de iniciação no antigo Egito – [a regredida afirmou ter sido sacerdotisa no tempo de Ramsés II e narra o processo de iniciação de um sacerdote, cuja fase final consistia em passar a noite numa tumba, onde conheceria suas vidas passadas]. Como o procedimento normal do mecanismo da memória é esquecer para reduzir a faixa de atrito do ser com a sua realidade íntima... por que então, provocar lembranças que aparentemente estariam mais seguras nos porões da memória, no que chamamos de arquivo morto?
  • 11. De fato, a regra geral é essa, sempre respeitada pelos iniciados que manipulavam tais conhecimentos e operavam os delicados controles psíquicos do ser encarnado. Note-se, porém, que a finalidade da pesquisa na memória integral não se propunha à mera satisfação de curiosidade inconseqüente ou malsã. (...) Isso explica por que a regressão da memória era a última etapa no vestibular da iniciação. Somente aquele que houvesse demonstrado, sem a menor hesitação ou dúvida, que reunia em si as condições mínimas para o aprendizado, era então submetido às técnicas adequadas, a fim de ‘saber tudo o que já fora’. (...) O conhecimento das vidas anteriores é, pois, um privilégio, por certo, mas uma responsabilidade muito grave e não deve ser buscado senão por motivos relevantes, por operadores competentes e equilibrados, por pessoas que tenham demonstrado inequivocamente as condições mínimas exigidas para suportar os impactos que usualmente causam certas revelações. Do contrário, poderão sobrevir crises emocionais de vulto, capazes de desencadear processos de desequilíbrio mental e desajustes graves de personalidade. Aliás, não poucas perturbações emocionais são provocadas por interferências de memórias anteriores no fluxo das vivências atuais. Disfunções psíquicas de certa gravidade podem resultar de regressões espontâneas a memórias de outras vidas, nas quais o doente se imagina, por exemplo, um general de Napoleão ou uma condessa medieval. Seus gestos e sua postura externa podem, ao olhar desatento e cruel, parecer cômicos, mas e se ele for mesmo um general napoleônico reencarnado ou ela uma condessa poderosa que voltou para resgatar?” (A Memória e o Tempo. P. 59,60) “Aliás, essa foi sempre uma das tônicas do nosso trabalho: nada forçar, para não provocar roturas, cujas conseqüências poderiam ser imprevisíveis. Se a regra geral em questões atinentes à memória é esquecer; é porque há razões bastante sólidas para isso, como já discutimos alhures, neste livro. Já em outros casos, revelações dessa natureza são recebidas com serenidade e até contribuem para explicar certas incongruências íntimas, mediante nova arrumação de conceitos.” (A Memória e o Tempo. P. 255) Hermínio exibe prudência e seriedade na prática regressionista. No entanto, uma questão preocupante daqui se depreende: supondo-se que tenha sido descoberto método que permita vasculhar a mente, em busca de memórias de outras vidas, quem controlará o uso da técnica, visto que está disponível para quem queira usá-la? A idéia de que existam entes espirituais monitorando o processo, pode ser satisfatória para alguns, porém, muitos regressionistas induzem recordações em seus pacientes, sem qualquer cogitações relativas a tais entidades, ou referências a restrições espirituais. Se Hermínio Miranda e outros são criteriosos ao induzir regressões, pode-se supor que existam os que tão-somente a pratiquem por curiosidade ou por motivos menos nobres. Ninguém poderá impedir que essa utilização, digamos, espúria, seja buscada. Alegar que a prática desautorizada acarreta prejuízos é muito vago, uma vez que os regressionistas que não seguem os ditames referidos por Hermínio também afirmam obter resultado positivos. Lembrar ou não lembrar?
  • 12. Esta questão permanece polêmica, principalmente, no meio espírita. Mesmo sem adentrarmos, por enquanto, na questão de serem ou não as lembranças autênticas recordações, existe bastante discussão sobre a liberdade de lembrar. Quem levar ao pé da letra as recomendações de Kardec, fatalmente terá de afastar-se da prática regressionista. O codificador foi taxativo ao declarar que as lembranças estão vedadas, sendo possível conhecê-las somente em circunstâncias muito especiais e, quase sempre, de forma espontânea. Na época de Kardec, uma das objeções mais incisivas à doutrina da reencarnação era a não-reminiscência das vidas pretéritas. Os oposicionistas argumentavam: se vivemos outras vidas, então deveríamos recordá-las. Esta objeção não foi plenamente resolvida, mas Kardec elaborou esclarecimento logicamente aceitável, afirmava ele: se as lembranças fossem franqueadas, problemas muito graves e de toda a espécie surgiriam, oriundos dessas recordações. Em termos objetivos, a proposição de Kardec é coerente. Imaginemos a esposa descobrindo que o marido é reencarnação de quem a assassinara em outra existência? E a mãe informada que o filho a estuprara noutra vida? E o pai sabendo que filha fora esposa anteriormente? Enfim, toda a sorte de encrencas afloraria na hipótese de haver liberação geral das lembranças. Assim, o codificador fechou as portas às recordações, só admitidas em situações especialíssimas. “Esquecimento do passado 11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. (...) Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais. Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo... Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial. Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias precedentes.
  • 13. E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar.” (O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO) ___________________________ “(...) Gravíssimos inconvenientes teria o nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores. (...) 395. Podemos ter algumas revelações a respeito de nossas vidas anteriores? Nem sempre. Contudo, muitos sabem o que foram e o que faziam. Se se lhes permitisse dizê-lo abertamente, extraordinárias revelações fariam sobre o passado. 396. Algumas pessoas julgam ter vaga recordação de um passado desconhecido, que se lhes apresenta como a imagem fugitiva de um sonho, que em vão se tenta reter. Não há nisso simples ilusão? Algumas vezes, é uma impressão real; mas também, freqüentemente, não passa de mera ilusão, contra a qual precisa o homem por-se em guarda, porquanto pode ser efeito de superexcitada imaginação.” (O LIVRO DOS ESPÍRITOS) ___________________________ “290. Perguntas sobre as existências passadas e futuras 15ª Podem os Espíritos dar-nos a conhecer as nossas existências passadas? Deus algumas vezes permite que elas vos sejam reveladas, conforme o objetivo. Se for para vossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e, nesse caso, feitas quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Ele, porém, não o permite nunca para satisfação de vã curiosidade. a) Por que é que alguns Espíritos nunca se recusam a fazer esta espécie de revelações? São Espíritos brincalhões, que se divertem à vossa custa. Em geral, deveis considerar falsas, ou, pelo menos, suspeitas, todas as revelações desta natureza que não tenham um fim eminentemente sério e útil. b) Assim como não podemos conhecer a nossa individualidade anterior, segue-se que também nada podemos saber do gênero de existência que tivemos, da posição social que ocupamos, das virtudes e dos defeitos que em nós predominaram? “Não, isso pode ser revelado, porque dessas revelações podeis tirar proveito para vos melhorardes. Aliás, estudando o vosso presente, podeis vós mesmos deduzir o vosso passado.” (O LIVRO DOS MÉDIUNS) Outros autores também se pronunciam contrários às lembranças, um exemplo:
  • 14. “Se reencarnamos para ressarcir dívidas, não seria interessante guardar a lembrança delas? Não haveria maior facilidade em aceitar sofrimentos e dissabores que ensejam o resgate? O objetivo primordial da existência humana é a evolução. O resgate de dívidas é apenas parte do processo. Quanto ao esquecimento, funciona em nosso benefício. Seria impossível incorporar, sem perturbador embaralhamento, o rico, o pobre, o negro, o índio, o branco, o amarelo, o analfabeto, o letrado e tudo mais que já fomos, em múltiplas encarnações. É ilustrativo que muita gente vai parar em hospitais psiquiátricos simplesmente por sofrer a pressão de pálidas lembranças, envolvendo acontecimentos pretéritos. (Reencarnação: Tudo o que você precisa Saber – Richard Simonetti) Curiosamente, Kardec afirma que as lembranças “em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais”; no entanto, para Hermínio, o esquecimento tem a finalidade de “reduzir a faixa de atrito do ser com a sua realidade íntima...”. Parece-nos que são visões distintas e, talvez, difíceis de conciliar. ALGUNS PONTOS CONTROVERSOS NO PENSAMENTO DE HERMÍNIO MIRANDA A fim de não nos alongarmos nesta exposição inicial, uma vez que o objetivo principal é a avaliação da experiência regressionista de Luciano dos Anjos, apresentaremos a lista de alguns dos pontos controvertidos no discurso de Hermínio. Em seguida iniciaremos o trabalho principal, que é a avaliação da suposta reencarnação de Luciano. 1. O conceito de memória defendido por Hermínio Miranda não está de acordo com as boas pesquisas sobre o assunto. Para ele, a memória é “extracerebral”, uma vez que estaria localizada não na estrutura do cérebro, sim no perispírito. Acontece que as investigações atuais sobre essa questão, encaminham-se mais e mais no sentido de comprovar taxativamente que a memória é resultado de complexas interações das conexões neuronais, ou seja, fenômeno indubitavelmente cerebral. Na página 40 de “A Memória e o Tempo” é apresentada a forma esquemática do que Hermínio entende seja o funcionamento da memória. Ele trabalha com a concepção freudiana de inconsciente, a qual amplia ao seu arbítrio, para que agasalhe a suposição de que memórias de vidas passadas estejam armazenadas nesse hipotético segmento da mente. A discussão sobre o pensamento de Hermínio a esse respeito ensejaria trabalho específico. De momento, deixamos registrado que o que ele entende por memória não encontra respaldo seja na psicologia, seja na neurologia. 2. A idéia de instinto apresentada por Hermínio carece de reparos. O escritor segue a definição apresentada em “A Gênese”: “o instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles” e acrescenta, “todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação, deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é”. (A Memória e o Tempo, p. 42). Essas declarações contêm vários equívocos. Primeiro, o instinto não tem nada de “força oculta”, instinto é um impulso automatizado, que varia de espécie para espécie, cuja principal função é preservar o espécime contra ameaças inesperadas. Também são instintivos os incitamentos biológicos que induzem à perpetuação da espécie. Outra questão é que as declarações, tanto de Kardec, quanto de Hermínio, classificaria como
  • 15. instinto coisas que não o são, por exemplo, o hábito é um ato maquinal, mas não é instinto. 3. A possibilidade de conhecer o futuro. Logo ao início do livro “A Memória e o Tempo”, Hermínio defende que seria possível “recordar” o futuro, do mesmo modo que é possível rememorar o passado. Na página 26, encontramos: “Só nos resta uma inevitável conclusão, por mais que ela se choque com os nossos conceitos e preconceitos: se podemos ver hoje algo que acontece mesmo daqui a dois dias, seis meses ou trezentos anos, então é porque esses eventos já existem hoje, lá no futuro...”. Acontece que essa convicção de Hermínio Miranda, além das discussões que pode ensejar, tanto no campo filosófico, quanto científico, entra em conflito com o que declarou Kardec a respeito: “Alguma coisa nos pode ser revelada sobre as nossas existências futuras?”. “Não; tudo o que a tal respeito vos disserem alguns Espíritos não passará de gracejo e isso se compreende: a vossa existência futura não pode ser de antemão determinada, pois que será conforme a preparardes pelo vosso proceder na Terra e pelas resoluções que tomardes quando fordes Espíritos. Quanto menos tiverdes que expiar tanto mais ditosa será ela. Saber, porém, onde e como transcorrerá essa existência, repetimo-lo, é impossível(...)” 7ª Podem os Espíritos dar-nos a conhecer o futuro? Se o homem conhecesse o futuro, descuidar-se-ia do presente. É esse ainda um ponto sobre o qual insistis sempre, no desejo de obter uma resposta precisa. Grande erro há nisso, porquanto a manifestação dos Espíritos não é um meio de adivinhação. Se fizerdes questão absoluta de uma resposta, recebê-la-eis de um Espírito doidivanas, temo-lo dito a todo momento. 8ª Não é certo, entretanto, que, às vezes, alguns acontecimentos futuros são anunciados espontaneamente e com verdade pelos Espíritos? Pode dar-se que o Espírito preveja coisas que julgue conveniente revelar, ou que ele tem por missão tornar conhecidas; porém, nesse terreno, ainda são mais de temer os Espíritos enganadores, que se divertem em fazer previsões. Só o conjunto das circunstâncias permite se verifique o grau de confiança que elas merecem. 9ª De que gênero são as previsões de que mais se deve desconfiar? Todas as que não tiverem um fim de utilidade geral. As predições pessoais podem quase sempre ser consideradas apócrifas. (O LIVRO DOS MÉDIUNS) 4. Hermínio Miranda confunde memória com inteligência. Na página 47, lemos: “E, logicamente, quanto maior o volume de dados no banco de memória, mais vasta e brilhante a inteligência”, e, na página 45: “Creio, pois, que se pode admitir, tranqüilamente, que inteligência é informação armazenada, ou, examinando-a sob outro aspecto, a medida do seu vigor é a amplitude da memória integral... Assim como Platão ampliou o conceito de aprendizado, considerando-o função da recordação, a doutrina dos espíritos amplia o conceito bergsoniano da função da
  • 16. inteligência, ou seja da memória”. A memória, sem dúvida, é suporte da inteligência, contudo uma não se confunde com a outra. Há casos de pessoas dotadas de excelente memória e de parca inteligência. Um conceito tradicional sobre a inteligência estabelece que seja a interação de três aspectos: memória, imaginação e juízo, portanto, a memória, isoladamente não pode ser tomada pela inteligência. No que tange à Platão, quando o filósofo afirmou que “aprender é recordar”, não estava ampliando o conceito de aprendizado, conforme declara Hermínio, sim atrelando-o a concepção reducionista. Na fase madura de seu pensamento Platão substituiu o “aprender é recordar” pela “ciência dialética”. Agora o filósofo advogava que aprender não mais significaria recordação do que fora visto, sim, o trabalho de esmiuçar as hipóteses, desbastando-as daquilo que teriam de falso, ou desnecessário, num processo contínuo, até que se atingisse o ponto de certeza, ou pelo menos, de convicção mais firme que a existente ao início do debate. Fiquemos por ora com as presentes objeções. Nos comentários seguintes faremos referências a idéias de Hermínio que nos pareçam passíveis de crítica. LUCIANO DOS ANJOS ou CAMILLE DESMOULINS? Considerações iniciais Na primeira parte da obra “Eu Sou Camille Desmoulins” encontra-se a narrativa da experiência, acompanhadas de considerações de Hermínio Miranda. A partir da página 301 estão as explanações de Luciano dos Anjos sobre o que vivenciou. (Trabalhamos com a 1ª edição do livro, em outras impressões a numeração de páginas poderá ser diferente) Do que nos foi dado conhecer da produção escrita de Hermínio Miranda, concluímos que o autor aprecia defender opiniões controversas. Logo ao início do livro ele afirma: (lembramos que os destaques são de nossa autoria) “...o que temos nos compêndios de história...é uma espécie de imitação da vida, uma interpretação pessoal dos fatos e não os fatos em si mesmos. Vemos múmias humanas, figuras empalhadas e cobertas pela venerável poeira histórica, e ficamos a nos perguntar como seriam realmente aquelas pessoas...Em suma, vemos cópias de cópias de retratos e não temos meios pra checar os originais, conferir e questionar, avaliar para concluir. Ou temos? A resposta é sim, temos. A literatura espírita vem apresentando, pelo menos no decorrer do último século, respeitável acervo de depoimentos de personalidades históricas, basicamente por via mediúnica.(...) Tanto faz a gente crer como não, o fato é que muitos espíritos têm tido a oportunidade de trazer depoimentos póstumos da maior importância. São inúmeros os exemplos e podemos tomar qualquer um deles entre os de indubitável credibilidade, como o famoso caso de Patience Worth... A Sra. Henry H. Rogers, médium americana...manteve, durante vinte e cinco anos, equilibrado e proveitoso intercâmbio com uma entidade desencarnada que se assinava Patience Worth. Este
  • 17. espírito, que se identificava com uma jovem puritana que vivera no século XVI, escreveu através da Sra. Curran obra literária de inquestionável valor... O relacionamento Sra. Curran/Patience Worth manteve-se como verdadeiro mistério para certos cientistas e pesquisadores que estudaram o fenômeno. Contudo, para os que se acham informados da realidade espiritual, e a aceitam, a verdade é simples e clara, como sempre: um espírito desencarnado que veio trazer a contribuição do seu depoimento pessoal. (...) É possível, portanto, obter dos próprios espíritos depoimentos de suas experiências pessoais e retificar a História...” (Eu Sou Camille Desmoulins – p. 11,12,13) Admiramos a firmeza com que Hermínio defende tal idéia, entretanto a suposição de que a mediunidade seja capaz de “corrigir” a pesquisa histórica não se confirma. Ainda que alguns médiuns, aquinhoados com talentos incomuns, tragam informações de boa qualidade, as quais atribuem à comunicação interespiritual, estas não substituem, tampouco complementam, a investigação convencional. Se o que Hermínio afirma fosse fato, as questões históricas de difícil elucidação estariam plenamente esclarecidas. Cabe indagar, qual a contribuição da mediunidade no conhecimento da origem e da cultura de povos antigos, de cuja existência se encontraram parcos indícios? Investigadores se esforçam por conhecer civilizações que podem ter sido brilhantes em realizações, das quais pouca coisa restou que possibilite averiguação adequada. Trabalho árduo, que exige dedicação, grande dose de energia e, muitas vezes, miúdos resultados. Lamentavelmente não aparece qualquer mensagem mediúnica que auxilie os sábios nas penosas tarefas a que se dedicam. E o que dizer das línguas faladas por povos passados, das quais existem boa quantidade de escritos, mas que não puderam ser traduzidas, por mais que lingüistas se empenhem? Por que os espíritos não dão uma mãozinha? A mediunidade poderia prestar grande apoio não só à História, também a outras ciências, se possuísse a imaginada capacidade revelativa que lhe atribui Hermínio Miranda. Durante muitos anos, eruditos de diversas nacionalidades se desgastaram na decifração da escrita egípcia antiga, sempre com resultados frustrantes. Não fosse o sacrifício e o grande talento de Champollion em dominar línguas antigas, o qual empenhou-se por inteiro na desafiadora missão, provavelmente, até hoje estaríamos tentando imaginar o que os egípcios haviam registrado nos hieroglifos. A mediunidade se manteve completamente ausente dessa empreitada. Consideremos o médium tido como o melhor do Brasil, talvez do mundo. Chico Xavier psicografou centenas de livros, a maioria narrativas romanceadas e poéticas, mas, alguns trazem abordagens históricas, outros discorrem sobre temas científicos. Pois nessas produções não se encontram conteúdos que enriqueçam o conhecimento nos campos desses saberes. É indiscutível que Chico possuía singular talento para a escrita, sendo que o aspecto mais forte de sua criatividade seria a poesia. Nas obras de cunho científico a qualidade da produção cai a olhos vistos. Vejamos, como exemplo, o livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, onde o suposto espírito de Humberto Campos apresenta piegas narrativa da história do Brasil. Provavelmente, em vida Humberto Campos jamais assinaria produção tão ingênua, porém, no outro lado se viu constrangido a emprestar seu nome a tal trabalho. Em linhas gerais, “Coração do Mundo” constitui a visão Xicochaveriana do que teria sido a caminhada histórica de nosso país, a qual teria sido realizada por meio de eventos coloridos, realizações dulcíssimas, plena harmonia de propósitos, planos celestiais infalíveis, com direito a
  • 18. hostes angelicas passeando pelo cosmo, sucessão de luzes, sorrisos, alegrias infindas... tudo no intuito de defender a tese de que a nação fora vocacionada pelo Alto para propagar a doutrina espiritista. Não se vê nas linhas do livro análise madura dos acontecimentos passados. O melhor médium do mundo, apenas produziu um relato doce do processo histórico nacional; em termos de cooperação efetiva à compreensão dos eventos, nada... A obra atribuída a Patience Worth − o espírito que supostamente visitava Pearl Curran −, surpreende pela riqueza e qualidade do material originado. Pode-se dizer que é um dos pouquíssimos casos em que o resultado seja rico o suficiente para ensejar pesquisas de maior vulto. Se fosse inconteste ocorrência mediúnica, dada as singularidades e qualidade dos escritos, seria circunstância única, não comparável às multiplas mensagens que pululuam pelo mundo, todas, quase sem exceção, aquém daquilo que seria esperado de contatos espirituais. Como não conhecemos estudo aprofundado a respeito de Pearl Curran, nada de mais significativo podemos dizer. Seja como for, a pessoa de Patience Worth jamais foi identificada, o que leva à suspeita de que tenha sido criação da própria mente de Curran. Pelo sim, pelo não, o campo está aberto: os espíritos podem ainda se redimir das inumeráveis comunicações pobres de conteúdo e enviar elaborações que façam jus à procedência. Isso, além de prover de fortes argumentos a tese da comunicação entre vivos e mortos, também ajudaria no trabalho de cientistas e pesquisadores. Esperamos que aconteça... LUCIANO DOS ANJOS Ao início deste estudo declaramos que votamos tanto a Hermínio Miranda, quanto a Luciano dos Anjos, o maior respeito. Ainda que discordemos das conclusões que apresentam, relativamente às regressões, isso em nada modifica o fato de os termos em alta estima, visto que são pessoas que conduzem com muita seriedade os trabalhos aos quais se dedicam. No livro, Luciano dos Anjos se encarrega de descrever as qualidades que o habilitaram como figura ideal para uma regressão coalhada de detalhes curiosos. No início da parte que lhe coube escrever Luciano traça sua trajetória profissional, narra peripécias variadas, algumas jocosas, outras arriscadas, redigidas em estilo agradável, temperadas com fino humor e entremeadas com doses de vaidade. Em meio ao relato, identifica reencarnações, não só dele próprio, como de várias pessoas conhecidas. Nessas apreciações, Luciano deixa claro que, mesmo antes do encontro com Hermínio, trazia consigo a convicção de já ter vivido na França, conforme ilustram os trechos a seguir: “Sempre acreditei, sendo espírita, que houvesse vivido na França, tanto pelo amor que lhe sentia, como, mais tarde, por uma oblíqua insinuação do querido médium Francisco Cândido Xavier. (...) Quando, cerca de dois anos depois, eu mesmo estive com o Chico aqui no Rio e em São Paulo, durante a célebre campanha jornalística em defesa das memoráveis materializações de Uberaba, através da médium Otília Diogo, discretamente tentei obter dele o nome da personagem. Ele apenas confirmou, sorrindo, que estive lá − [na França], naquela época...
  • 19. ...o confrade Ismael Nunes Tavares...me trouxera convite da D. Chiquita...espírita encantadora, médium de muitos recursos... vi-me pela primeira vez frente com D. Chiquita... ela me olhava espantada, denotando violentíssimo impacto. (...) − Eu conheço o senhor. Estivemos juntos, na época da Revolução Francesa. Assim que o senhor entrou eu o vi, senti isso... (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 341, 342) Diante desse quadro, uma coisa é patente: Luciano possuía a bagagem necessária para revivenciar existência na França, no período da Revolução. A dúvida, neste ponto, é se a idéia de que fora Camille Desmoulins, mesmo antes de iniciar as regressões com Hermínio Miranda, já estaria em sua mente, ainda que de forma semi-consciente. Deixemos que o próprio Luciano diga o que pensa sobre isso: “Jamais, jamais me passou pela cabeça ser Camille Desmoulins. Mas, curiosamente, eu sentia inexplicável sabor (o termo é esse mesmo: sabor) nas raríssimas vezes em que pronunciava esse nome. Afora isso, pouco me preocupava, como já disse, com a personalidade passada que eu tinha vivido. Nunca parei para pensar muito nisso.” (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 369) Sem querer pôr em xeque o testemunho de Luciano, é possível supor que, ao menos no subconsciente, sua ligação com Desmoulins estivesse rascunhada. Ele declara que não pensava muito no assunto, ou seja, não manifestava maior interesse em descobrir qual teria sido sua personalidade passada, entretanto, a própria narrativa que nos apresenta mostra que havia nele viva curiosidade por identificar tal personagem. No trecho que citamos anteriormente, vimos que pedira a Chico Xavier que o informasse, entretanto, o médium fugiu ao assunto. Mais tarde, D. Chiquita revela tê-lo conhecido durante a Revolução. Luciano também relata encontro que teve com o médium Homero Lopes Fogaça, o qual garantiu que o jornalista vivera na corte francesa e autorizara a “morte de algumas pessoas”. E Luciano arremata: “Tudo isso me intrigou sobremaneira”. Ora, como jornalista − por vocação inquiridor e curioso −, era de esperar que partisse para a pesquisa meticulosa de sua identidade pregressa. Luciano dos Anjos, hábil reconhecedor de personalidades pretéritas – mais adiante falaremos desse talento do jornalista −, que descobriu a identidade de André Luiz (conforme declara com muita firmeza), ao se ver perante a notícia de que fora figura ativa na época da Revolução, quedou-se despreocupado em descobrir quem seria esse alguém... assertiva que nos soa dúbia, por isso, acreditamos ser factível desconfiar que estivesse presente na mente do homem de imprensa, ainda que de forma não clarificada, sua identificação com Camille Desmoulins. Não vamos, porém, exaurir a dúvida a ponto de desqualificar a declaração de Luciano de que não sabia, anteriormente ao encontro com Hermínio, de sua suposta identidade pregressa. Vamos lhe conceder voto de confiança sobre o que declarou, ou seja, que até realizar a experiência com Hermínio não sabia ter sido Camille Desmoulins. O que nos interessa deixar claro, por ora, é que Luciano dos Anjos estava previamente preparado, e bem preparado, para lucubrar criativa recordação de vivência no período da Revolução Francesa.
  • 20. É importante destacar que o vivenciado pelo jornalista pode ser qualificado como “regressão” de boa qualidade. Mesmo se comparadas com as melhores de que temos conhecimento. Se a cotejássemos com o “caso Bridey Murphy” diríamos que as lembranças de Luciano “dão de dez a zero” nas obtidas por Virginia Tighe, a protagonista do caso. Apesar de Bridey Murphy ter obtido repercussão muito mais ampla que o caso Camille Desmoulins, em tudo é inferior a este. Morey Bernstein, que conduziu as sessões hipnóticas com Virgínia, antes desse feito, costumava praticar a hipnose para divertir-se com os amigos, como atividade efetiva dedicava-se ao comércio na cidade de Pueblo, nos Estados Unidos. Gradativamente, porém, conforme relata, passou a buscar mais conhecimentos. Chegou a entrevistar Joseph Rhine e acompanhar o trabalho que o pesquisador conduzia, na Universidade de Duke. Rhine lhe passou diversas sugestões, as quais impressionaram o curioso homem de comércio. No entanto, parece que o professor não mitigou o anseio místico que Bernstein trazia consigo e que o fez enveredar por outro rumo, até topar com a herança ocultista de Edgar Cayce. Cayce, por quem Hermínio demonstra grande admiração − dele faz diversas referências alvissareiras em “A Memória e o Tempo” −, era um sujeito meio esquisito, especializado em “leituras mediúnicas”, por meio das quais revelava vidas passadas, os talentos e, ainda, falava da saúde dos interessados. Caía em sono dito profético e falava muitas coisas. Após o despertamente garantia nada recordar do que dissera durante o transe. Obviamente, alguém tinha de anotar as declarações do profeta. Uma das tônicas dos vaticínios de Cayce, alcunhado “profeta dorminhoco”, era desvelar experiências de seus consulentes na lendária Atlântida. Praticamente todos os que o buscavam recebiam informes de existências passadas no continente perdido. Escusado dizer que o discurso de Cayce não casava com o explanado por Platão sobre a Atlântida; tampouco harmonizava com afirmações de outros alegados “conhecedores” dos imaginados segredos da ilha-continente. Na atualidade, os seguidores de Edgar Cayce dão prosseguimento ao seu trabalho, realizando o que chamam “astrologia cármica”, que conjuga a configuração astral do consulente na data do nascimento, com perfis anteriormente estabelecidos pelo profeta. Essa “fórmula”, afirmam, mostra as potencialidades do interessado e lhe revelam aspectos de existências anteriores. Por curiosidade, encomendei um desses estudos, ao preço de R$48,00. Então, descobri muitas coisas a respeito de minhas “vidas passadas” e também sobre minhas capacidades atuais. Neste trabalho, “Cayce”, além de revelações genéricas, aplicáveis indistintamente a quem quer que seja, tipo: “você demonstra ser um indivíduo dotado de mente elevada”, assegurou que me darei bem como escritor, que tenho facilidades com idiomas e, devido à minha existência mercuriana, possuo pendores para exercer cargos de autoridade. Diz, ainda, que minha mente é clarividente, mas não informa se se trata de capacidade paranormal, ou de clarividência no sentido comum de “ver com clareza”. Assevera que tenho dificuldade em distinguir o que é fato e o que é ficção e muito mais. O caso é que se eu possuísse tais qualidades (e algumas ele parece ter acertado, mas não se animem, quem atira em todas as direções acaba atingindo alguma coisa), pois então, se eu possuísse os dons que Cayce me atribuiu de pouco me valeria a “revelação”, uma vez que as qualidade já seriam de meu conhecimento. Desse modo, o “trabalho” que
  • 21. poderia ser reputado profícuo realizado pelo “profeta” é o que tange às vidas passadas. Nesse segmento descobri coisas muito interessantes. Conforme informou Cayce, vivi no planeta Mercúrio. Também estive no planeta Saturno. Em minhas entrevidas morei em Urano. E, não poderia faltar, tive uma existência como atlante, na qual fiquei em meio às disputas dos adeptos de Belial contra os asseclas da Lei do Um. Apesar de não ter informação a respeito dessas agremiações, suponho que deva considerar a experiência de alta relevância, para o quê não sei... Pensam que acabou? Nada. Acompanhei Alexandre, o grande, em suas conquistas (logo eu que detesto guerras). Também devo ter sido um viking (ele não deu certeza quanto a isso), participei da construção da pirâmide inca, vivi no Egito antigo e provavelmente habitei nas terras que hoje constituem a Austrália. Ufa, isso é que é excursão cármica! Eram coisas semelhantes a essas que Edgar Cayce transmitia aos incautos que o procuravam! E este foi um dos gurus que levou Morey Bernstein ao mundo mágico das vidas passadas. Ressaltamos, Hermínio Miranda considera Cayce um grande médium... Outro caso de regressão, este mais recente, cujo relato em livro vendeu milhões de exemplares, é o apresentado por Brian Weiss, intitulado “Muitas Vidas, Muitos Mestres”. Semelhantemente à Bridey Murphy, as regressões feitas por Brian Weiss em Catherine, são em muito inferiores à aventura de Luciano dos Anjos. Brian Weiss era conceituado psiquiatra quando vivenciou inusitada experiência com paciente refratária ao tratamento convencional. Segundo assevera o médico, o encontro com Catherine o levou a descobrir autêntica panacéia. O Dr. Brian foi muito criticado por ter deixado de lado esmerada formação, a fim de abraçar teorias de fraca fundamentação. Ele deve ter tido motivo$$ para isso, o que respeitamos. Mas, não se pode deixar de constatar que no regressionismo Brian Weiss tem proferidos discursos que beiram o ridículo. Conforme se depreende da afirmação seguinte: “Avaliei o propósito terapêutico da exploração das vidas passadas de Catherine... Há nesse campo algum poder curativo muito forte, um poder que parece muito mais eficiente do que a terapia convencional ou a medicina moderna...” (Muitas Vidas, Muitos Mestres) Qualificar a terapia de vidas passadas como terapeuticamente superior à medicina moderna só mesmo na cabeça de Brian Weiss: será que se o Dr. Brian sofresse um infarto agudo do miocárdio buscaria socorro na TVP? Podemos afirmar que a avaliação da experiência de Luciano dos Anjos significa aferir um dentre os melhores relatos regressionistas. O aspecto mais destacado na história dessa regressão é a proclamada fidedignidade dos relatos históricos, notadamente a citação de detalhes da vida de Desmoulins, que nem mesmo estudiosos versados conheciam. Desse assunto, Hermínio dá sua apreciação. “Fui bom aluno de história nos bancos escolares e continuei a ler história por prazer e curiosidade, nas quatro ou cinco línguas em que posso fazê-lo. No entanto, naquela primeira sessão de 19 de maio de 1967, se alguém me perguntasse minutos
  • 22. antes de seu início qual o nome completo de Camille Desmoulins, onde ele nascera e em que dia, eu só poderia responder com um honesto e bem sonante Não sei... ...conferimos os informes principais logo após a primeira sessão-surpresa. Realmente, tal como dissera Luciano, o homem chamava-se Lucie Simplice Benoist Camille Desmoulins, nascera em Guise, no Aisne, em 2 de março de 1760. ...mesmo César Burnier, autoridade em história – especialmente a da Revolução −, confessou posteriormente que também ele ignorava que Camille tivesse aqueles outros nomes...” (Curiosa a declaração de Hermínio, “nas quatro ou cinco línguas em que posso fazê- lo”. Será que ele não sabe ao certo em quantas línguas é capaz de ler?) Grande destaque é dado à capacidade mnemônica de Luciano, que recordava minudências da vida de Desmoulins, as quais talvez a maioria dos estudiosos não lembrasse, conforme sucedeu com a citação do nome completo de Camille Desmoulins. O próprio César Burnier, apresentado como especialista na Revolução, confessou que desconhecia o informe. Entretanto, saber do nome inteiro de Desmoulins não tem grande significado. Certo que é de estranhar que Burnier não o soubesse, visto que se apresentava como perito na matéria. Ainda que não recordasse, deveria ao menos saber que Desmoulins tinha vários nomes. Podemos comparar isso ao caso de estudioso da história do Brasil que não lembre todos os nomes pelos quais D. Pedro II foi registrado, de qualquer modo, deverá saber que o imperador possuía outros epítetos além de Pedro de Alcântara. (Para quem se interessar, a titulação completa do imperador era, Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga – ganha um doce quem o disser de um fôlego só). Modernamente, o conhecimento de minúcias das vidas de personagens históricos é tido por secundário no aprendizado. Este tipo de informação, quando muito, demonstra a capacidade memorativa do estudioso. O mais importante é a compreensão das circunstâncias que envolvem os fatos históricos. Por exemplo, em vez de simplesmente decorar as datas de nascimento e o nome completo de todos os personagens da Revolução, o bom estudante esforçar-se-á por entender o porquê dos acontecimentos que ocasionaram o levante e as decorrências deles advindas. Entretanto, a dúvida permanece: a citação do nome completo de Desmoulins, bem como da data de aniversário e o local de nascimento, podem ser consideradas relevantes para classificar a lembrança como autêntica recordação de vida passada? Para alguns, a resposta seria sim, e o raciocínio que ampara tal suposição pode ser dessa forma: se uma pessoa, que não é especializada em história, de repente passa a revelar muitos detalhes da vida de algum personagem do passado, sem tê-los pesquisado, e se, além das lembranças, essa pessoa demonstrar emoções que mostram laços indeléveis com a tal figura, então temos indícios seguros de que se trata de legítimo caso de reencarnação! Não é preciso refletir muito para perceber que esse pensamento, em termos de investigação científica, é de frágil sustentabilidade. Ele pode ser válido para uso em
  • 23. âmbito religioso, pois a fé acrescenta força aos pontos débeis da inferência, mas seria muito difícil levar adiante pesquisa baseada em ditames científicos partindo de tal proposta. Por isso, é preciso saber se além das boas lembranças existe algo mais a ser oferecido. Contudo, é necessário considerar que as lembranças de Luciano dos Anjos não se restringiram a acertos relativos à idade, nome, endereço e questões correlatas. O jornalista também se referiu, e corretamente, a assuntos específicos daquela época: sabia o preço de jornais; como a moeda estava dividida (neste caso, sabia mais ou menos, pois cometeu erros); o salário do trabalhador e outros. Como, então, explicar isso, sem considerar a hipótese de legítima lembrança de vida passada? Pois é o que tentaremos apreciar nas linhas seguintes. Começaremos a analisar as reuniões, que aconteceram durante o ano de 1967, buscando nelas elementos que nos auxiliem a entender melhor o caso. A EXPERIÊNCIA DE LUCIANO: NOSSA INTERPRETAÇÃO A fim de facilitar o entendimento do que será exposto no decorrer deste estudo, anteciparemos nosso entendimento do que foi a experiência regressionista do jornalista. A presente apreciação, acreditamos, ficará demonstrada pelos comentários que seguirão. De antemão, é importante que os leitores conheçam a linha argumentativa que seguiremos. Entre Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos foi firmado acordo tácito, no sentido de garimparem personalidade da qual muitos detalhes historicamente corretos pudessem ser revelados. Não dizemos que tenham articulado ostensivamente o plano, se assim fosse não seria acordo tácito; afirmamos, sim, que ambos buscavam experiência cujos resultados fossem superiores ao que normalmente se obtêm nos exercícios regressionistas. Em outras palavras, nas cogitações de cada um estava patente que poderiam explorar criativamente as perspectivas alvissareiras que o trabalho conjunto prometia. Explicando, ainda, de outro modo: Hermínio Miranda intuía que Luciano dos Anjos fosse capaz de recuperar lembranças comparáveis às melhores já formuladas. Ambos estavam igualmente motivados nessa busca, as perspectivas eram em tudo promissoras. Por outro turno, Luciano precisava de alguém com quem pudesse atuar em plena harmonia, a fim de descobrir o personagem que acreditava ter sido, de cuja identidade talvez ainda não tivesse clara consciência. A convicção, presente em cada um, de que haviam encontrado a “pessoa certa” deve ter tomado forma após o primeiro encontro − apesar de não ser possível estabelecer com certeza quando de fato ocorreu esse primeiro encontro, conforme veremos adiante. Em suma, Luciano estava intimamente persuadido de ter vivido na França revolucionária; Hermínio, certo de que era possível recuperar tais recordações. Em momento algum, qualquer dos dois aventou a hipótese de que lembranças da espécie pudessem ser explicadas por outros mecanismos, em outras palavras: partiu-se do pressuposto de que lembrança de vidas passadas é fato. O intento da dupla, assim nos parece, era obter demonstração cabal da reencarnação, pelo reconhecimento inequívoco de um vivo de identidade que assumira em existência pregressa. Por isso, neste
  • 24. comentário não abordaremos em profundidade as inconsistências da hipótese de que existam legítimas lembranças de outras existências. A suposição que ora apresentamos não significa que enquadremos como fraudulenta a aventura de Luciano, nada disso, a aventura, cremos, foi real. A interpretação é que pede reparo. Nosso intento é deixar antevisto ao leitor o panorama que a história descortina. No decorrer dos comentários esse quadro ficará clarificado e devidamente ilustrado com declarações dos próprios envolvidos constantes do livro. As sessões conduzidas por Hermínio Miranda com Luciano foram em número de dez, incluído aí o primeiro encontro, que pode ser reputado como reunião preliminar. As estas se somam mais duas, havidas após o término dos trabalhos, as quais intitularemos “especiais”. No total, foram doze encontros. Comentaremos os acontecimentos por nós julgados de maior interesse. REUNIÃO PRIMEIRA e as dúvidas dela decorrentes UMA NOITE DE MAIO DE 1967 (p. 19-22) Deste encontro não há muito o que dizer. Teria sido a primeira vez que Luciano dos Anjos se submetia a uma sessão de hipnose com Hermínio Miranda. O resultado deixou Hermínio positivamente surpreso, pois o paciente se revelou facilmente hipnotizável. Rapidamente, atingiu transe profundo, o que, na visão de Hermínio, favorece boas regressões. Destacamos a expressão “na visão de Hermínio” em virtude de haver regressionistas afirmando dispensar o transe hipnótico, estes tão-somente induziriam os candidados ao estado de relaxamento, − o que poderia ser classificado de “pré-hipnose” −, o que é por eles considerado mais adequado para que as lembranças fluam. O registro curioso desse evento aconteceu após o despertamento. Vejamos o que sucedeu, de acordo com relato de Hermínio Miranda. “Despertou faminto, devorou rapidamente uma generosa porção de bolo e pediu mais, sem a mínima cerimônia. Em seguida levantou-se, deu um passo incerto e desabou no tapete macio, como se não tivesse pernas. Na excitação do momento, havíamos sido imprudentes e precipitados – era necessário esperar alguns minutos em repouso até que seu espírito reassumisse totalmente os controles do corpo físico antes de empreender qualquer movimentação maior. Assim como o desprendimento se realiza por etapas, também a reintegração no corpo tem seu ritmo próprio e suas fases bem definidas...” (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 21, 22) Registrem, por favor, a seqüência dos eventos: 1º) despertou; 2º) devorou porção de bolo; 3º) levantou-se; 4º) desmoronou no tapete. Mais adiante destacaremos incompatibilidade entre esta narrativa e o que Luciano fala sobre tal encontro. A explicação dada por Hermínio para o episódio está concorde com a idéia que defende, de acoplamento e desacoplamento do perispírito como conseqüência do processo hipnótico, e que nos parece concepção muito vaga para ser admitida; mesmo levando-se em conta as parcas explicações dadas por Hermínio, a conjetura nos parece incerta. Outros praticantes do hipnotismo não teorizam nada parecido com tal suposição. No entanto, o motivo do tombo tem elucidação trivial e passa distante da suposição de que
  • 25. a hipnose promova o desgrudamento do espírito: tendo em conta que Luciano atingiu o relaxamento profundo e assim esteve por bom tempo, a musculatura ficou completamente descontraída. É compreensível, portanto, que as pernas não reagissem de pronto. Era necessário que aguardasse alguns minutos, não para que o “espírito reassumisse o comando”, sim para que os músculos recuperassem a tonicidade. Por que buscar explicação complicada, quando se pode esclarecer o caso de forma simples e satisfatória? Conforme foi dito, o livro “Eu Sou Camille Desmoulins” foi escrito conjuntamente por Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos. Parece-nos claro que cada qual teve a liberdade de narrar os fatos da forma como entendeu e sentiu. Isso, a princípio, mostra que não houve “acerto”, para que contassem exatamente a mesma história. Em tese, trata-se de aspecto positivo, pois demonstra que o trabalho foi executado de forma espontânea, sem arranjos destinados a elidir pontos que jogassem dúvidas sobre a interpretação que os autores apresentam. O que dissemos a respeito de um “acordo tácito” entre Hermínio e Luciano, linhas atrás, não se aplica aqui. Pois bem, Hermínio declara que a primeira experiência hipnótica a que Luciano se submeteu, sob seu auspício, ocorreu nesta reunião de maio de 1967, na qual pouca informação útil se obteve. Neste encontro, Hermínio Miranda informa que Luciano mostrava-se cético quanto à possibilidade de ser hipnotizado. Isso porque tentara outras vezes, com diversos operadores, sem resultados produtivos. Estava quase convicto de que não era candidato adequado para se submeter a investigações por esse processo, mas decidiu realizar nova tentativa. Qual não foi a surpresa de ambos, Luciano rapidamente entrou num sono hipnótico de excelente qualidade, conforme narra Hermínio Miranda (adiante veremos que Luciano diz coisa diferente a respeito desse estado hipnótico). Entretanto, a “facilidade” que Luciano encontrou para ser hipnotizado por Hermínio nos leva à seguinte indagação: por que Luciano, que mostrava-se resistente à hipnose, em diversas experiências, sob a direção de técnicos variados, com Hermínio obteve sucesso? A resposta que nos parece mais adequada, reforça a suposição que apresentamos anteriormente, sobre Hermínio e Luciano terem encontrado um no outro a condição de levar à frente o projeto reencarnacionista que acalentavam. Luciano dos Anjos não se deu bem com os demais operadores porque na ocasião inexistia motivo que o estimulasse a cooperar. Os praticantes da hipnose, em geral, informam que toda hipnose, em verdade é uma auto-hipnose, ou seja, se o indivíduo não se sujeitar ao processo dificilmente poderá ser hipnotizado. Diante de Hermínio Miranda, Luciano dos Anjos se entregou à indução, tendo em vista o forte clima de confiança entre os dois e o interesse mútuo pelas regressões. Precisamos, agora, nos atermos aos pontos controversos nos relatos. Em primeira leitura, esses pontos tendem a passar despercebidos, mas se cotejamos os testemunhos elaborados pelos protagonistas, logo as divergências saltam à vista. Comecemos pelo discurso de Hermínio Miranda. “Um grupo do qual eu participava empenhava-se em algumas experiências exploratórias nos abismos da memória integral. Naquela noite de maio de 1967 estávamos reunidos num apartamento amplo e confortável em Copacabana. (...)
  • 26. À reunião daquela noite compareceu Luciano dos Anjos, desejoso que estava de observar nossas experiências e debater nossos “achados”. Estávamos já habituados a receber, seletivamente, alguns amigos que manifestavam interesse em observar nossos trabalhos. A certa altura Luciano aquiesceu em submeter-se aos testes de suscetibilidade... Luciano, que contava então 34 anos de idade, acomodou-se confortavelmente num sofá... sem ser negativa, sua atitude era de moderado ceticismo, não ante o fenômeno em si da regressão ou, mais amplamente, quanto à reencarnação... Sua dúvida era quanto à sua própria suscetibilidade às induções hipnóticas ou magnéticas. Em várias tentativas anteriores, com diferentes operadores, não conseguira atingir nem mesmo os estados superficiais do transe anímico. Não custava, porém, tentar mais uma vez... Após as instruções preparatórias e os esclarecimentos de praxe, ele fechou os olhos, relaxou o corpo... enquanto os passes eram aplicados lentamente, sem tocá-lo. Diria que a indução foi fulminante. Em escassos minutos percebia-se que ele mergulhara fundo no transe. (...) Despertou faminto, devorou rapidamente uma generosa porção de bolo e pediu mais, sem a mínima cerimônia. Em seguida levantou-se, deu um passo incerto e desabou no tapete macio, como se não tivesse pernas. Na excitação do momento, havíamos sido imprudentes e precipitados – era necessário esperar alguns minutos em repouso até que seu espírito reassumisse totalmente os controles do corpo físico antes de empreender qualquer movimentação maior. Assim como o desprendimento se realiza por etapas, também a reintegração no corpo tem seu ritmo próprio e suas fases bem definidas, embora variáveis de pessoa para pessoa. Usualmente os primeiros músculos a se movimentarem são os das pálpebras; em seguida, os dedos das mãos ou dos pés, braços, pernas, até que todo o corpo esteja novamente sob controle da vontade. É freqüente observar nos sensitivos em despertamento a concentração da consciência na área específica da cabeça – nenhuma outra sensação física, nem mesmo senso de orientação quanto ao posicionamento do corpo. É como se todo o ser estivesse na cabeça, fosse apenas a cabeça. (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 19-22) Neste trecho, quem relata é Hermínio Miranda. Nota-se que o autor privilegia o passe, chamado “magnético”, como principal ferramenta indutora do transe, referência alguma faz a comandos verbais, os quais constituem o procedimento comum em hipnose. Agora, vejamos o que Luciano dos Anjos tem a nos dizer de seu primeiro encontro hipnótico com Hermínio. “Quando começamos, eu e Hermínio, nossas sessões, em casa de E.V., em Copacabana, não me passara jamais pela cabeça que pudesse chegar a conclusões tão surpreendentes... Ouvindo-o falar, rapidamente, desse trabalho, sobre o qual me refiro com mais detalhes no Capítulo 3 da Segunda Parte deste livro, é que me entusiasmei e resolvi vê-lo de perto. O Hermínio contou-me as muitas pesquisas já realizadas nesse setor, algumas surpresas, diversos casos especiais, as variadas manifestações e os excelentes benefícios muitas vezes conseguidos. Disse-me, por alto, que empregava o método do Coronel De Rochas... Falamos dos métodos
  • 27. clássicos de regressão de memória e das diferentes hipóteses que inclusive no espiritismo são levantadas para explicar a fenomenologia do processo. Recordamos o que nossos mentores espirituais nos têm ensinado nesse matéria e, por fim, marcamos o início das sessões. Confessei-lhe, com absoluta consciência da razão por que o confessava, que, lamentavelmente, não haveríamos a meu respeito, de chegar a nenhum resultado positivo, pois outras vezes eu tentara ser hipnotizado e nada conseguira. Cerca de dez anos antes, em casa do Dr. Aloísio Gonçalves, no Jardim Botânico, eu me entregara a várias sessões e não cheguei a ser hipnotizado. O máximo que se conseguiu foram alguns movimentos automáticos de braço, mas muito pouco significativos. O Dr. Aloísio Gonçalves, meu velho amigo, é autoridade indiscutível na matéria, capaz de conduzir seus clientes, em frações de segundo, ao mais profundo sono hipnótico. Mas comigo nem bastaram a água açucarada, a música, o disco visual... E o Dr. Aloísio me explicava esperançoso, que ás vezes são precisas até setecentas (!) tentativas para se conseguir inibir o córtex de uma pessoa. (...) Uma tarde, eu e o Hermínio conversávamos em seu gabinete de trabalho... Dizia- me estar fazendo interessantes sessões de regressão da memória e me contava os casos mais significativos. Também eu lhe dizia dos meus sucessos e fracassos, narrando-lhe exemplos maravilhosos de materializações ou fraudes grosseiríssimas, que eu flagrava através do aparelho ótico, emissor de raios infravermelhos, de propriedade do cientista norte-americano Dr. Andrija Puharich... Ficou devendo o Hermínio uma visita, à minha sessão, e ele, em retribuição, estudaria uma oportunidade de eu também conhecer a dele. Mas o tempo corria e nunca cumpríamos nossos compromissos recíprocos. (...) Assim... resolvi efetivar, afinal, nosso encontro. Estávamos em setembro ou outubro do ano de 1966. Marcamos a primeira sessão para uma segunda-feira, quando Hermínio me apresentaria à Sra. E.V., em cuja casa se realizariam os trabalhos... Quando os trabalhos com uma sensitiva terminaram, o Hermínio perguntou se eu não queria ser testado. Concordei e me deitei no sofá. Deixamos o ambiente em penumbra, e o Hermínio iniciou seu trabalho... ligava o gravador, sentava-se ao lado do paciente, na poltrona, e procurava induzir-nos ao sono, enquanto fazia a imposição das mãos, segundo o método de De Rochas. Eu − conforme já disse − não tinha nenhuma esperança e me mantinha estirado, de músculos completamente relaxados, menos por conhecimento prático do exercício do que por total descrédito quanto aos efeitos. Ouvia-lhe a voz monótona... Tudo conforme a boa técnica, mas já tão usado antes comigo sem qualquer resultado positivo. Foi nessas cogitações interiores − ou quem sabe, por causa delas! − que, depois de muitos minutos (a paciência de Hermínio é chinesa), aconteceu o inesperado: perdi a consciência! O Hermínio conseguira! (...) Assim, ao lado da alegria, uma espécie de decepção me tocou: e eu? Contudo, pelo menos alguma coisa nova acabava de acontecer comigo. Restava prosseguir para vermos até onde chegaríamos. Aguardei mais uma semana e, na segunda-feira seguinte, voltamos ao apartamento da Sra. E.V. (Eu Sou Camille Desmoulins. P. 305, 306 e 352-354)
  • 28. O relato de Hermínio começa com o encontro propriamente dito; Luciano faz referência a contatos preliminares. Luciano estava curioso quanto ao trabalho que seu amigo conduzia e decidira acompanhar uma dessas reuniões. Só que as narrativas contêm discordâncias graves. Se fosse apenas questão de estilo redativo, ou mesmo a observação de certos acontecimentos sob óticas diversas, nada de sério poderíamos objetar. No entanto, as discrepâncias vão muito além. Primeiramente, as datas não batem: vários meses separam a primeira reunião informada por Luciano, do que seria o mesmo encontro, relatado por Hermínio (Luciano fala em outubro de 1966; Hermínio em maio de 1967). Segundo declara Hermínio Miranda, Luciano entrou em estado hipnótico quase automaticamente; entretanto Luciano afirma que Hermínio necessitou de muita paciência, até obter resultado. Luciano não faz menção ao cômico tombo que sofreu. A queda é comentada em outro encontro, o qual não coincide com o que Hermínio dele descreve. Ou ocorreram reuniões não noticiadas no texto de Hermínio, ou os autores estão falando de coisas diferentes.Vamos tabelar as informações, para facilitar a compreensão. OS FATOSr Por HERMÍNIO Por LUCIANO DOS ANJOS OBSERVAÇÃO MIRANDA Data do 1º encontro Maio de 1967,Setembro, ou outubro, deDivergência. As datas [provavelmente sexta-feira] 1966, em uma segunda-feiranão conferem (p.19) (p.353) Local do encontro Amplo e confortávelImenso apartamento, da Sra.Parece ser o mesmo apartamento, emE.V., no 6º andar do prédio,endereço Cobacabana, (não informa ode frente para o mar, (não nome do proprietário) (p.19) informa o bairro) (p. 353) Dificuldade ou Realizara várias tentativasIdem (p. 354) Relatos coincidentes facilidade pré- sem sucesso (p.20) existente para vivenciar o transe hipnótico Método utilizado Passe magnético. SomentePasse magnético,Divergência. Hermínio por Hermínio para depois do transe atingido éconcomitantemente comprivilegia obter o transe que aplicou comando de vozcomandos verbais (p. 354) excessivamente o passe. (p. 20) Luciano noticia o uso concomitante do passe e do comando verbal Resultado da Os passes obtiveramSomente após muitaDivergência. Na tentativa inicial de resultado imediato,insistência, por meio deopinião de um, a atingir o estado classificado pelo operadorcomandos verbais, finalmenteindução foi rápida; o hipnótico como “indução fulminante”atingiu-se o estado hipnóticooutro afiança que (p.20) (p. 354) demorou bastante. Hermínio atribui aos passes o resultado positivo; Luciano parece conferir maior valor ao comando de voz Atitude do Mostrava-se em pânico.Muita agitação e poucaDivergência. O relato hipnotizado Respondia informação. Citou um nomeperde a coerência ante durante o processo monossilabicamente. Citoufrancês, que não ficou claroa não referência ao Necker, ministro de finançasna gravação (p. 354) nome de Necker por de Luiz XVI (p.21) Luciano, que teria sido
  • 29. a única informação consistente conforme afirma Hermínio Após despertar Sentiu-se faminto, comeuO tombo no tapete, paraDivergência. bolo, tentou levantar-se eLuciano, ocorreu em outra desabou no tapete. reunião. Pode ser que os autores estejam a falar de eventos diversos. Talvez cada qual tenha classificado como “primeiro encontro” acontecimentos não coincidentes. Seria discrepância muito grande as variações de datas, caso estivessem falando dos mesmos episódios. Se entendermos que se tratam de casos distintos, outro problema surge: significa que ocorreram encontros entre Luciano e Hermínio, que este não relatou. Nesta hipótese, fica prejudicada toda a narrativa concernente à inexperiência de Luciano no que tange às regressões e, em decorrência, toda sorte de suposições podem ser levantadas. Outro ponto que deve estar bem destacado é o resultado da indução: desde a sessão inicial que Hermínio garante ter Luciano entrado em estado hipnótico quase que imediatamente. Por outro turno, Luciano assegura de resistiu bastante até ceder. Não só nesta reunião ocorreu dificuldade para atingir o estado hipnótico, na que seria a segunda sessão, conforme o cronograma de Luciano − que não bate com o de Hermínio −, ele diz que levou entre “dez e quinze minutos” para ser vencido. Mais adiante, apresentaremos os relatos por inteiro, para que possam ser comparados. RESUMO DAS REUNIÕES, NAS NARRATIVAS DE HERMÍNIO E DE LUCIANO A fim de tentarmos entender como foi que cada protagonista vislumbrou os episódios regressionistas, faremos nova tabulação, especificando as datas de todos os encontros, e as coincidências e discrepâncias. Talvez assim tenhamos possibilidade de compreender os motivos que ocasionaram os desacordos narrativos. Hermínio nomeou o primeiro encontro como reunião de testes e começou a numerar as sessões a partir da 2ª, quando os encontros passaram a ser realizados na residência do autor. No quadro, numeramos linearmente, nominando “1ª sessão” a acontecida em maio de 1967 (no cronograma herminiano), portanto, o que está na tabela a seguir, registrado sob o título “1ª sessão” corresponde à “sessão de testes”; a 2ª sessão corresponde à primeira de Hermínio. Assim foi feito como tentativa de parametrizar os relatos, dada a não convergências das informações fornecidas por um e por outro. EVENTOS PRINCIPAIS Data e local SESSÕES Conforme Conforme Conforme Conforme LUCIANO HERMÍNIO LUCIANO HERMÍNIO 1ª sessão É hipnotizadoDemora a serMaio/1967 – (sexta-Setembro/outubro/1966 - rapidamente. Poucahipnotizado. Poucafeira) (3) – apart. em(segunda-feira)(3) – apart. informação útil; citouinformação útil; falouCopacabana (p.19) da Sra. E.V. (p.353) o nome de Necker (2);nome francês não sente muita fome eidentificado; não fala come bolo, emda queda. Presença seguida, tenta erguer-do Edson.(4) se e cai no tapete. (1) Nenhuma referência ao Edson (4)
  • 30. EVENTOS PRINCIPAIS Data e local SESSÕES Conforme Conforme Conforme Conforme LUCIANO HERMÍNIO LUCIANO HERMÍNIO 2ª sessão Foi rapidamente aoEntra em transe após19/5/1967 (sexta-feira)Segunda-feira seguinte à transe (P. 23). Revela10 ou 15 minutos– apart. de Hermínioreunião acima – apart. da que seu nome é Lucie(p.355). Ao despertar(p.23) Sra. E.V. (p.354) Simplice Benoisttenta ficar de pé e cai Camille Desmoulins. no tapete, depois Nenhuma referênciasente muita fome e ao Edson (4) come bolo. (p.360) (1) Presença do Edson (4) 3ª sessão Revela que a esposa deAfirma que Necker26/5/1967 (sexta-feira)Segunda-feira seguinte à (2) Desmoulins éfará besteira – não informareunião acima – não fala atualmente sua filha!(p.362) mudança no local dade mudança no local da (p. 47) reunião, supõe-se quereunião, supõe-se que continuasse no apart.continuasse no apart. da de Hermínio. Sra. E.V. (p. 361) 4ª sessão Não faz referência àA gravação desse9/6/1967 (sexta-feira)Ocorreu na “semana perda da gravação,evento se perdeu– não informaseguinte” (p.365), na narrada por Luciano,(Hermínio gravoumudança no local dasegunda-feira (p.367) – ao contrário, afirmaoutra sessão por cima)reunião, supõe-se quenão fala de mudança no que o “tape” existe (p.(p.365). Trabalhoscontinuasse no apart.local da reunião, teria 65). Não relatasuspensos (p.367). (5)de Hermínio. continuado no apart. da suspensão dosPara Luciano, esta Sra. E.V. trabalhos. (5) seria a penúltima reunião, depois fala do último encontro em 1/9/1967, o qual, pelo cronograma de Hermínio, é o penúltimo. 5ª sessão Só existe relato deSem registro. 16/6/1967 (sexta-Sem registro. Hermínio desse feira). Apart. de encontro Hermínio. 6ª sessão Só existe relato deSem registro. 23/6/1967 (sexta-feira)Sem registro. Hermínio desse Apart. de Hermínio. encontro 7ª sessão Só existe relato deSem registro. 7/7/1967 (sexta-feira)Sem registro. Hermínio desse Apart. de Hermínio. encontro 8ª sessão Só existe relato deSem registro. 14/7/1967 (sexta-feira)Sem registro. Hermínio desse Apart. de Hermínio. encontro 9ª sessão Só existe relato deSem registro 21/7/1967 (sexta-feira)Sem registro. Hermínio desse Apart. de Hermínio. encontro 10ª Final das sessões deSem registro 4/8/1967 (sexta-feira)Sem registro. sessão regressão Apart. de Hermínio. 11ª 1ª Sessão “especial”Último encontro1/9/1967 (sexta-feira)1/9/1967 sessão (p.248) (Hermínio informa terApart. de Hermínio. Apart. de Hermínio. havido mais outra reunião). 12ª 2ª Sessão “especial”Sem registro 8/9/1967 (sexta-feira)Sem registro. sessão (p.233) Apart. de Hermínio.